PORTO ALEGRE | 19 DE AGOSTO DE 2008
Chocolate
Não poderia haver vingança melhor. sa pela jogada desleal. Enquanto isso, a goleira AnDepois de perder o título da Copa do gerer realizava boas defesas – até a partida contra o
Mundo de 2007 para a Alemanha, o Brasil, foram 223 minutos sem levar gol. A redenBrasil aplicou 4 a 1 nas rivais euro- ção veio aos 43 do primeiro tempo, após jogada gepéias, na manhã de segunda-feira, nial de Cristiane: ela passou a bola entre as pernas
em Xangai. A goleada histórica, em plena semifinal de Stegemann e cruzou para a área. Marta furou,
olímpica, ainda contou com lances de genialidade mas Formiga não perdoou: 1 a 1.
das brasileiras Marta e Cristiane e muitos gritos de
No segundo tempo, a seleção deu um show e
“olé”. Na quinta-feira, às 10h (horário de Brasí- acabou de vez com a sina de nunca ter vencido a
lia), a seleção repete a final de Atenas-2004 con- Alemanha (e foram sete jogos oficiais). Logo aos três
tra os Estados Unidos, que venceram o Japão por minutos, Marta arrancou pela direita e, à frente de
4 a 2. A decisão será realizada no Estádio dos Tra- duas alemãs, esperou o instante exato de passar
balhadores, em Pequim.
para a colega: Cristiane tocou rasteiro e marcou 2 a
O jogo histórico para as brasileiras começou 1. Ainda atordoada com o gol, a equipe alemã foi ao
com pressão da Alemanha. Até os quatro minutos ataque. E o Brasil aproveitou o contra-ataque. Aos
de partida, a seleção verde-amarela praticamente sete minutos, Marta recebeu novamente em velocinão encostou na bola. Com pouco sucesso nas fi- dade pela direita, driblou Hingst e deu um toque
nalizações, as alemãs não chegaram a ameaçar o suave no canto da goleira, fazendo 3 a 1.
gol de Bárbara até os nove minutos. Mas bastou
uma bobeada da defesa brasileira, no caso, da Brasil 4 x 1 Alemanha
zagueira Érika, para Prinz ficar com a bola e arrancar livre. A atacante, eleita melhor jogadora ■ Brasil: Bárbara; Érika, Renata Costa e Tânia Maranhão; Simodo mundo por três vezes, ainda teve calma para ne Jatobá, Daniela Alves (Francielle), Formiga, Ester e Maycon;
driblar a goleira do Brasil e fazer justamente o Marta e Cristiane (Fabiana). Técnico: Jorge Barcellos.
seu primeiro gol nos Jogos de Pequim (e décimo ■ Alemanha: Angerer; Stegemann, Kranh, Peter, Hingst; Bena história das Olimpíadas).
hringer (Bajramaj), Lingor, Laudehr, Garefrekes; Prinz e Mittag
Ainda assombradas com a derrota para as (Mbabi). Técnico: Silvia Neid.
alemãs no ano passado, as brasileiras sentiram o ■ Arbitragem: Eun Ah Hong (COR).
gol e ficaram nervosas. Até Marta parecia des- ■ Gols: Prinz, Formiga, Cristiane (2) e Marta.
controlada. A melhor do mundo deu uma entra- ■ Estádio: Estádio de Xangai, na China.
da dura em Stegemann e poderia ter sido expulDON EMMERT / AFP / CP
A gaúcha Fernanda
Oliveira e a carioca
Isabel Swan
treinaram durante
três anos em
Porto Alegre
Formiga empatou o
jogo para o Brasil
e abriu caminho
para a classificação
à final olímpica
Com a vantagem, a
seleção passou a administrar a partida. Fez o tempo passar
e soube explorar os espaços proporcionados. Aos 30 minutos, o time da
experiente Silvia Neid (considerada
uma das melhores técnicas do mundo
em uma eleição conjunta com equipes
masculinas) levou mais um baque: Cristiane arrancou pelo meio,
driblou quatro rivais,
entrou na área e tocou,
devagar, no canto de Angerer. O quarto gol do
Brasil também foi o décimo da artilheira brasileira, em duas participações olímpicas.
PEDRO UGARTE / AFP / CP
O bronze que passou
pelas águas do Guaíba
A primeira medalha olímpica da vela feminina brasileira foi
forjada nas águas do Guaíba. Foi lá que a gaúcha Fernanda
Oliveira e a carioca Isabel Swan treinaram durante três anos
para a Olimpíada. Na madrugada dessa segunda-feira, a
dupla venceu a “regata da medalha” (prova final de valor dobrado) e ficou com o bronze da classe 470 na Baía de Qingdao – atrás de
Austrália e Holanda. “Foi emocionante. Era meia hora para darmos tudo o
que tínhamos. Partimos sem medo”, contou Isabel, de 24 anos.
Quarta colocada no Mundial da China, em 2006, a dupla do Clube dos
Jangadeiros não teve bom início. Até a quinta regata, elas não tinham passado das dez primeiras colocações. Já recuperadas, chegaram à etapa final
na terceira colocação geral e, por pouco, não levaram a prata. “É difícil de
dizer o que eu sinto. Fico muito feliz. É um início de um processo. A vela
feminina tinha uma lacuna no Brasil. E graças a Deus, hoje, junto com a
Bel, conquistamos a medalha de uma forma muito bonita”, emocionou-se
a gaúcha de 27 anos que, formada em Administração, montou projeto
olímpico com equipe, patrocinadores, treinador e até psicólogo. O barco
usado nos Jogos também recebeu tratamento especial: “Vai no Upa”, como
é chamado, foi batizado com chá chinês com gás em vez de champanha.
Em sua terceira Olimpíada, a incansável Fernandinha (de 1,62 metro e
52 quilos) também marcou a história da vela gaúcha. Ela é a primeira velejadora a conquistar medalha olímpica em um estado com 15 títulos
mundiais. “É nosso melhor resultado olímpico e, em termos de Brasil, um
trabalho realmente formidável”, parabenizou o bicampeão mundial Marco
Aurélio Paradeda.
“Foi uma coisa lindíssima, um ouro”, Vela x Judô
comemorou a avó da velejadora, Zilah
Marques. Aos 87 anos, ela passou a noite ■ Com o inédito resultado da dupla feminina, a vela alcançou novamente o juem claro para assistir à vitória da neta jun- dô como esporte mais bem-sucedido do Brasil em Olimpíadas. Agora, cada um
to da filha Rachel (mãe de Isabel), em Nite- soma 15 medalhas, mas a vela ainda tem chances de passar à frente com os verói. Até as 13h de segunda-feira, ela nem lejadores Robert Scheidt e Bruno Prada (na Star) e Bimba (na Prancha).
sequer tinha dormido.
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O bronze que passou pelas águas do Guaíba