Seminário URBFAVELAS 2014 São Bernardo do Campo - SP - Brasil URBANIZAÇÃO DE ASSENTAMENTOS PRECÁRIOS E INTEGRAÇÃO DE INVESTIMENTOS MUNICIPAIS COM O PAC E O PMCMV – O CASO DE SÃO BERNARDO Nilza Aparecida de Oliveira (Sec. Orçam. e Planej. Particip. SBC) - [email protected] Secretária de Orçamento e Planejamento Participativo de São Bernardo do Campo. Pedagoga, MsC Tássia de Menezes Regino (Secretaria de Habitação de São Bernardo ) - [email protected] Secretária de Habitação de São Bernardo do Campo. Assistente social URBANIZAÇÃO DE ASSENTAMENTOS PRECÁRIOS E INTEGRAÇÃO DE INVESTIMENTOS MUNICIPAIS COM O PAC E O PMCMV – O CASO DE SÃO BERNARDO Nilza Aparecida de Oliveira1 Tássia de Menezes Regino2 RESUMO A viabilização de soluções de moradia adequada para os assentamentos precários é componente fundamental do enfrentamento dos problemas habitacionais das cidades brasileiras e exige a ação integrada de todos os entes da federação. Desde 2009 a Prefeitura de São Bernardo do Campo estabeleceu a habitação como prioridade e se organizou institucionalmente para desenvolver uma política abrangente que prioriza a intervenção nos assentamentos precários. A experiência de São Bernardo mostra um contexto institucional nacional favorável a este enfrentamento, dado pela combinação de uma política aderente à problemática predominante no país - especialmente quanto às cidades metropolitanas - com volumes de investimentos inéditos, tanto na urbanização, quanto na produção habitacional. Entretanto, mostra também que há limitações que precisam ser enfrentadas na atual modelagem de combinação de recursos para urbanização de assentamentos precários, por meio do PAC e para a produção habitacional associada, por meio do PMCMV. Fazer estes aprimoramentos e manter os investimentos em urbanização é fundamental para que se possa manter a dimensão inovadora que a política nacional de habitação passou a ter no momento em que finalmente passou a tratar a forma de moradia de grandes parcelas da população brasileira como elemento de política de Estado. Palavras-chave: Política Habitacional, Urbanização de Assentamentos Precários, PAC - Favelas, Programa Minha Casa Minha Vida - PMCMV ABSTRACT The feasibility of adequate housing solutions for slums is critical component of addressing the housing problems of Brazilian cities and requires integrated action of all the federal entities. Since 2009, with the Participatory PPA, Sao Bernardo do Campo established housing as a priority and institutionally organized to develop a comprehensive policy that prioritizes intervention in slums. The experience of Sao Bernardo shows a national institutional framework conducive to this confrontation, given by the combination of an adherent to the prevailing political problems in the country especially in metropolitan cities - with unprecedented volumes of investment, both in urbanization, as in housing production. However, it also shows that there are limitations that need to be addressed in the current modeling combining resources for slum urbanization through PAC and the associated housing production through the PMCMV. Make these improvements and maintain investments in development is critical to maintain innovative dimension that national housing policy acquired when finally came to discuss the form of housing for large portions of the population as an element of state policy. Key Words: Housing Policy, Slums Urbanisation, PAC - Slums, Minha Casa Minha Vida Program - PMCMV 1 Secretária de Orçamento e Planejamento Participativo de São Bernardo do Campo. Pedagoga, MsC. 2 Secretária de Habitação de São Bernardo do Campo. Assistente social. 1 INTRODUÇÃO Este artigo busca discutir possibilidades e desafios do enfrentamento do problema dos assentamentos precários a partir da integração da política nacional de habitação com as políticas municipais. Em especial, trata dos desafios dados pelo contexto institucional atual que combina uma política aderente à problemática predominante no país em relação ao tema, com volumes de investimentos inéditos, tanto na urbanização, quanto na produção habitacional, mas que tem limitações na modelagem adotada para a produção de novas unidades associadas a este processo de urbanização. Para compreender as especificidades do contexto atual, é importante recuperar como o tema urbanização de assentamentos precários foi tratado no âmbito dos governos nacionais. No início do século XX, e antes da institucionalização do BNH, os governos passaram do “desconhecimento” da favela (neste artigo denominada como assentamento precário) às políticas pautadas no controle e repressão ou clientelismo. Os programas oficiais de governo não atenderam os moradores de favela e a erradicação delas foi a solução apontada (DENALDI, 2004). A partir da década de 70, quando o Estado intervém, admitindo a urbanização das favelas, ele faz com “programas alternativos” de pequena abrangência e desligados do eixo estrutural da política habitacional e das estruturas institucionais. No período do BNH, quando se estrutura o SFH para uma política habitacional nacional, a favela é tratada como déficit de construção de novas moradias, mas o SFH não permitia a produção habitacional subsidiada e a população favelada não conseguia moradia do sistema (DENALDI, 2004). No Governo Itamar Franco, inicia-se uma inflexão nesta lógica de abordagem com a criação do Programa Habitar Brasil, que destina recursos do OGU ao desenvolvimento de ações de urbanização, porém em escala muito pequena. Esta inflexão tem continuidade no Governo Fernando Henrique Cardoso, quando o Programa Habitar Brasil é mantido com recursos do OGU, e novos programas são desenvolvidos, o programa Habitar Brasil – BID e PROMORADIA, com recursos do FGTS. Entretanto, o volume de recursos investidos nesses programas foi pequeno e o impacto pontual. A partir de 2003, esta lógica começa a ser alterada de forma integrada à nova institucionalização do Planejamento Urbano no Brasil. Destaca-se neste contexto a criação do Ministério das Cidades, ao qual foram incorporadas as áreas de Transporte e Mobilidade Urbana, Saneamento Ambiental e Programas Urbanos, buscando pensar de forma integrada políticas que historicamente estavam desarticuladas (FERREIRA, 2003). Na área de habitação, a nova institucionalidade se expressa na formulação da Política Nacional de Habitação, do Plano Nacional de Habitação – PlanHab, na criação do Sistema na Nacional de Habitação de Interesse Social – SNHIS e no Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social – FNHIS. Junto com esta nova institucionalidade, o fortalecimento da questão habitacional se dá com o expressivo crescimento dos investimentos em habitação no país, revertendo a estagnação presente no setor desde a extinção do Banco Nacional de Habitação - BNH, em 1986. Com a elaboração do Plano Nacional de Habitação, tem-se a retomada do planejamento habitacional, por meio de uma estratégia de longo prazo até 2023, buscando universalizar o acesso à moradia, em especial para a população de baixa renda que vive em assentamentos precários. Porém, foi a partir de 2007, com a criação do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC, uma medida anticíclica à crise econômica, que o volume de investimentos públicos para urbanização de assentamentos precários ganhou escala muito significativa (MAGALHÃES, 2013). Em 2009, após a finalização do PlanHab, foi lançado o Programa Minha Casa Minha Vida - PMCMV. Focado na produção habitacional, tem uma meta ousada e traz possibilidades reais de enfrentamento do déficit quantitativo de forma inédita. Do ponto de vista da gestão, tem como diferencial específico na área de HIS a promoção pelos entes privados (CARDOSO, 2013). Após o lançamento do PMCMV, os projetos de urbanização de favelas adotaram este Programa como instrumento de execução da produção habitacional associada aos processos de urbanização, e este é o foco deste artigo. Este tema é tratado a partir da experiência de organização institucional do município de São Bernardo do Campo para desenvolvimento de política habitacional que prioriza a intervenção em assentamentos precários. Aprofunda-se em caso específico cuja contratação se deu integrando o PAC e o PMCMV, no caso, o Projeto de Urbanização Integrada do Complexo de Assentamentos Precários Silvina/ Audi, objeto de contrato com o PAC – Fase 2 e da sua área de reassentamento, o empreendimento Residencial Ponto Alto, em contratação com o PMCMV. O caso de São Bernardo demonstra que em termos de Política, programas e volumes de investimento, tem-se um momento com enormes possibilidades de fortalecimento da ação integrada da política nacional de habitação com as políticas municipais para o enfrentamento do problema dos assentamentos precários em larga escala. Mas, também, que há limitações específicas a serem superadas quanto à modelagem atual de participação do município no PMCMV, especialmente para a integração da intervenção de urbanização por meio do PAC e a produção habitacional por meio do PMCMV. A intervenção nos assentamentos precários e em áreas mais complexas exige intervenções de interesse público que muitas vezes não possíveis serem equacionadas no tempo e na forma adequado com a modelagem atual do PMCMV, especialmente quando a lógica da ação de maior interesse público não é compatível com os parâmetros de ação do setor privado. 2 SÃO BERNARDO DO CAMPO: DIMENSÃO DO PROBLEMA HABITACIONAL E ESTRATÉGIA DE INTERVENÇÃO O município de São Bernardo do Campo está localizado a sudeste da Região Metropolitana de São Paulo, conhecida como ABC Paulista, privilegiadamente situado entre o Porto de Santos e a capital do Estado. A região do ABC, composta por sete municípios - Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Diadema, Ribeirão Pires, Rio Grande da Serra e Mauá - tinha em 2010 aproximadamente 2,5 milhões de habitantes (OLIVEIRA, 2014). 2.1 Características Gerais da Cidade São Bernardo do Campo, com população de 765.463 habitantes, é o maior município da Região do ABC, estendendo-se por 408,4 Km², dos quais 70% inseridos em área de Proteção Ambiental (apenas 30% em zona urbana). A expansão urbana de São Bernardo do Campo reflete as características de outras cidades brasileiras, cuja urbanização está diretamente ligada ao processo de industrialização. O Município foi fortemente marcado pela industrialização pesada a partir de meados da década de 1950, do que decorreu a implantação dos eixos rodoviários, com destaque para a Via Anchieta. O crescimento, marcado por forte segregação e fragmentação do espaço urbano, potencializou o processo de construção de grandes periferias e gerou uma cidade de grandes contrastes. De um lado, uma imagem de dinamismo e poder econômico, “a montadora Volkswagen”; do outro, a imagem da absoluta pobreza (OLIVEIRA, 2014). Atualmente, o município goza de posição privilegiada do ponto de vista econômico, estando entre os de maior arrecadação do País. Segundo dados da Secretaria do Tesouro Nacional (STN, 2012), é o décimo maior orçamento do País na ótica da Receita Orçamentária, e na ótica dos investimentos, o Município aparece em quarto lugar (OLIVEIRA, 2014). Apesar de ter capacidade de investimento para enfrentar esse expressivo déficit, o histórico de investimentos realizados em períodos anteriores a 2009 apontam a falta de prioridade dada à política habitacional. Os investimentos aportados na função habitação disponibilizados pelo Ministério da Fazenda demonstram que o município ficou abaixo da média nacional entre 1998 e 2009 (STN/FINBRA, 2011). Apesar dessa condição de investimento e da dimensão do problema, quando o Prefeito Luiz Marinho assumiu em 2009, encontrou o município despreparado institucionalmente para desenvolver ações voltadas à redução da pobreza e o déficit habitacional. O município não dispunha de política específica para habitação, ou mesmo de plano habitacional para as demandas mais urgentes. Não existiam dados atualizados e sistematizados sobre a questão nem ações consistentes para enfrentar os problemas evidentes. A partir de 2009, foi definida uma estratégia de intervenção na área habitacional, inserida no planejamento global de governo. Esta estratégia assentou-se em três elementos essenciais: criação da Secretaria Municipal de Habitação (SEHAB); realização de um diagnóstico situacional para conhecimento das necessidades habitacionais do município; e a estruturação do planejamento habitacional inserido na lógica de planejamento local de governo, nas diretrizes da política nacional de habitação, mas também nas características das necessidades habitacionais mapeadas e numa leitura de suas prioridades. A política habitacional foi definida como prioridade de governo, as diretrizes e metas estabelecidas no PPA Participativo e os recursos assegurados para a função habitação somaram R$ 1,2 bilhão, o que corresponde a 8,3% de investimento na área de habitação. Este volume de investimento assegurado nos PPAs considera recursos próprios em montante muito superior às médias nacionais, mas também considera a captação continuada de recursos federais, para assegurar o atendimento compatível com a dimensão do problema. O conjunto de intervenções em andamento no município atualmente é resultado de uma ação estruturada, mas também deste volume de investimentos, que é inédito na história da cidade, conforme a Tabela 1. Tabela 1 – Participação da Habitação no orçamento de gestões municipais em São Bernardo do Campo (1998-2014). PPA 1998-2001 2002-2005 2006-2009 2010-2013 (Recursos previstos no PPA) 2010-2013 (Recursos captados e em captação no PPA)(1) 2014-2017 (Recursos previstos no PPA) % 0,6% 0,5% 0,03% 6,7% 8,3% 6,0% % em R$ 64,4 Mi 53,7 Mi 3,2 Mi 718 Mi 1,014 bi (2) 991,1 Mi Valor Global do PPA 2010 – 2013: R$ 10,7 bi (1) Quase 10 vezes mais que a média de investimento de municípios na Habitação, que é 0,7% (2) % referente aos recursos viabilizados em 2010 e a executar em 2011-2013. Nesta porcentagem desconsiderou-se os investimentos que não passam pelo orçamento municipal; os recursos em captação elevariam o total de 8,3% para 8,9% 2.2 Dimensão do Problema Habitacional - Déficit e precariedade Em São Bernardo, o problema habitacional é agravado pelas características ambientais do território: mais da metade do município é caracterizada como Área de Proteção Ambiental (APA), em função da Reserva Florestal do Parque Estadual da Serra do Mar e da Área de Proteção aos Mananciais da Bacia Hidrográfica do Reservatório Billings - APRM -B conforme Legislação Estadual. Para conhecimento da situação habitacional, dois estudos realizados entre 2009 e 2010 foram fundamentais: o Mapeamento de Assentamentos Precários e/ou Irregulares (SÃO BERNARDO DO CAMPO, 2010a) e o Plano Municipal de Redução de Riscos – PMRR (SÃO BERNARDO DO CAMPO, 2010b). Por meio do Mapeamento identificou-se que em 2010 o município tinha 261 assentamentos precários e/ou irregulares, que abrangem um terço dos domicílios do município. Entre os assentamentos mapeados, 155 estão implantados na APRM –B e destes, 55% são loteamentos irregulares, enquanto 45% são favelas. Entre os 110 núcleos fora de APRM, 79% se caracterizam como favela e 21% como loteamentos irregulares – o que denota predominância de loteamentos irregulares nas áreas de proteção ambiental. O PMRR, por sua vez, mapeou áreas em 95 assentamentos precários com indícios de risco e em 63 delas identificou e propôs alternativas de intervenção para setores de risco identificados de escorregamento, solapamento de margens de córrego, inundação e alagamento, que somados resultavam à época em 203 setores, com 2.910 edificações. A análise dos dados obtidos no Mapeamento e no PMRR demonstrou a existência de características similares entre assentamentos quando se considerava combinadamente a infraestrutura implantada, padrão de edificações e nível de consolidação do parcelamento. Assim, a Prefeitura definiu tipologias de problemas urbano-habitacionais para classificar os assentamentos mapeados e organizar as intervenções exigidas em cada tipologia de problema. Este trabalho permitiu fazer o cálculo do déficit acumulado nos assentamentos precários (Tabela 2). Tabela 2 - Déficit acumulado nos assentamentos precários segundo as tipologias de problemas urbano-habitacionais. Tipologia de problema Tipologia 1 Tipologia 2 Tipologia 3 Tipologia 4 Total de UHs Tipos de soluções mapeadas 12.675 100% regularização fundiária 100% regularização fundiária + urbanização 21.977 pontual 93% ou 95% - regularização fundiária + urbanização pontual 9.834 7 % ou 5% - reassentamento/ relocação (dentro ou fora da APRM) 60% urbanização complexa 33.119 40% reassentamento/relocação 2.028 100% reassentamento/relocação Tipologia 5 Tipologia 6 3.429 Conjuntos C/projeto SEHAB PAC 1 7.187 – Em 2009 Alojamentos 188 TOTAL 90.437 Fonte: PMSBC/SEHAB, 2011. 100% regularização fundiária 34% urbanização complexa + regularização fundiária 66% reassentamento/relocação 100% reassentamento/relocação Déficit Déficit qualitativo quantitativo 12.675 21.977 - 9.243 591 19.871 13.248 - 2.028 3.429 - 2.429 4.758 69.624 188 20.813 O Plano Local de Habitação de Interesse Social (PLHIS) completou os estudos para apurar o Déficit Priorizado para a política habitacional de HIS no município. Este estudo apontou um Déficit Habitacional Acumulado Priorizado que resulta em ações abrangendo 107.641 unidades habitacionais. Ele é composto por um déficit quantitativo de 38.017 novas unidades habitacionais a construir para famílias de baixa renda (26.377 vinculado a assentamentos precários e 11.640 na Cidade Regular) e um déficit qualitativo de 69.624 unidades, exclusivamente vinculado aos assentamentos precários e/ou irregulares, que demandam ações de urbanização e/ou regularização fundiária. 2.3 Estratégia de Intervenção, Prioridade para a Urbanização de Favelas – Ações e Investimentos Os estudos mencionados anteriormente consolidaram o entendimento de que uma intervenção ampla e diversificada nos assentamentos precários e irregulares é estratégica para a consolidação de uma política habitacional capaz de enfrentar as características da problemática habitacional do município. Para tanto, estruturou-se no PPA e no PLHIS duas linhas programáticas e quatro programas em consonância com a Política Nacional e o PLANHAB: LPA 1 Integração Urbana de Assentamentos Precários e Informais, com três Programas de intervenção: Urbanização Integrada e Regularização de Assentamentos Precários, Regularização Fundiária de Assentamentos Consolidados e Redução de Risco e Ações Emergenciais; e a LPA 2 - Produção da Habitação, com o programa correspondente. Considerando as características do conjunto das áreas e suas tipologias de intervenção a estratégia de implementação destes programas priorizou a combinação de ações de urbanização, com a produção habitacional a ela associada para os assentamentos precários, tendo o risco à vida como critério de maior peso na hierarquização; a regularização fundiária como ação prioritária para os assentamentos consolidados; e as ações emergenciais voltadas ao risco para os assentamentos em que esta medida foi recomendada pelo PMRR. Com esta estratégia, somados os 4 programas, desde 2009 até o momento, a intervenção nos assentamentos precários do município abrange 162 assentamentos com intervenções com diferentes objetos e estágios. Em parceria com o Governo Federal, nos Programas de Urbanização Integrada e Produção Habitacional, tema deste artigo, são hoje 22 contratos e/ou seleções no âmbito do PAC e PMCMV, que abrangem 49 áreas com obras asseguradas, em estágios diversos de implementação, que beneficiam 23.233 famílias, uma escala de intervenção inédita para o município. A parceria com o Governo Federal nestes projetos resulta em investimentos da ordem de R$ 1,5 bilhão, sendo R$ 721.022.874,04 do Governo Federal, por meio do PAC; R$ 355.242.592,16 também do Governo Federal, por meio do PMCMV; e R$ 438.699.096,99 de contrapartida, sendo R$ 304.786.211,81 aportado pelo município e R$ 133.912.885,18 pelo Estado. A articulação dos investimentos do PAC/ Urbanização de Assentamentos Precários com o Programa Minha Casa, Minha Vida, implementada pelo Governo Federal a partir de 2010, é o objeto das reflexões que se busca fazer por meio do estudo de caso tratado nos próximos tópicos. O estudo em questão refere-se ao Projeto de Urbanização Integrada do Complexo de Assentamentos Precários do Silvina- Audi, com obras em andamento pelo PAC e de sua área de reassentamento, o Residencial Ponto Alto, com obras em contratação pelo PMCMV. A intervenção nesta área foi priorizada por duas razões centrais: o complexo Silvina/ Audi era em 2010 a área com maior concentração de setores de riscos mapeados pelo PMRR, que ainda não tinha ações estruturantes em planejamento: e pela sua integração com ações em desenvolvimento no âmbito da política habitacional na região. Trata-se de uma obra que beneficia não apenas as famílias que residem nos assentamentos precários cadastrados, mas a toda região, na medida em que viabiliza uma grande melhoria da condição urbana do bairro como um todo. 3 O PROJETO DE URBANIZAÇÃO INTEGRADA DOS ASSENTAMENTOS PRECÁRIOS SILVINA/ AUDI, SUA ÁREA DE REASSENTAMENTO E OS DESAFIOS DA INTEGRAÇÃO DO PAC COM O PMCMV O Projeto de Urbanização Integrada do Complexo de Assentamentos Precários do Silvina- Audi foi desenvolvido com o objetivo geral de assegurar o direito à moradia adequada e a eliminação de riscos à vida para as famílias residentes nos assentamentos precários do Jardim Silvina. O projeto foi concebido de forma articulada com a melhoria da qualidade de vida da região, especialmente em termos de mobilidade urbana, redução dos riscos e melhoria na qualidade ambiental. Dadas as características dos assentamentos e da região, após o desenvolvimento dos projetos, evidenciou-se a necessidade de remoções da ordem de quase 30% dos domicílios cadastrados e a impossibilidade de relocar todas estas famílias nos próprios assentamentos. Assim, para a plena implantação do projeto, foi concebida em terreno lindeiro aos assentamentos precários, empreendimento habitacional de reassentamento posteriormente denominado Residencial Ponto Alto (Figura 1). Figura 1 – Área de Intervenção e Área de Reassentamento O Projeto de Urbanização Integrada foi objeto da seleção realizada em 2010 pelo PAC e, dentro da nova regra, teve a intervenção de urbanização contratada com o PAC 2 (Contrato nº 0352.792-10/2011), parte das unidades a serem construídas no interior dos assentamentos serão objeto de contrato com o PMCMV e a Área de Reassentamento, é objeto de contrato com o PMCMV. Para melhor compreensão do projeto e seu processo de contratação, estão apresentados as seguir a caracterização das áreas de intervenção, a síntese dos projetos, o processo de contratação e os desafios da integração do PAC com o PMCMV para intervenção em assentamentos precários. 3.1 Caracterização das áreas de intervenção A área de intervenção está localizada a 4,8 km do centro da cidade, paralela à Via Anchieta e é composta por Assentamentos Precários antigos do Bairro Jardim Silvina e abrange também parte do Loteamento Jardim Silvina, que apesar de regular tem inadequações importantes de infraestrutura (Figura 1). 3.1.1 Características Gerais do Complexo de Assentamentos Precários Silvina/ Audi Implantada em área de morros situada na sub-bacia do Ribeirão dos Meninos, afluente do Alto Tamanduateí, Bacia do Alto Tietê, a área dos assentamentos é definida pelas encostas de uma formação montanhosa, que conforma terreno acidentado, com amplitudes da ordem de 100 m e declividades predominantes variando entre 15 e 45%, recortado por linhas de drenagem natural encaixadas. É caracterizada pela presença de riscos diversos, desde escorregamentos e alagamentos até riscos tecnológicos decorrentes da presença da Adutora de Água da SABESP e o de oleoduto da PETROBRÁS. No total, a poligonal de intervenção abrange 348.000m² e 3.265 imóveis cadastrados, nos quais residem cerca de 6,6 mil habitantes (Tabela 3). Tabela 3 - Unidades Cadastradas na Poligonal de Intervenção ÁREA Silvina Audi Rua Washington Luís Gaspar de Souza Bananal Loteamento HIS Jardim Silvina TOTAL Fonte: SÃO BERNARDO DO CAMPO, 2010c Nº DE UNIDADES CADASTRADAS 1.938 419 120 103 685 3.265 As sub-áreas que compõem o complexo podem ser agrupadas em três grandes porções, quando às suas características urbano-habitacionais: assentamentos precários com presença de setores de risco e grande precariedade de infra-estrutura e de moradias; assentamentos parcialmente urbanizado, resultante de intervenção pública anterior, com inadequações diversas de infra-estrutura, setores de risco pontuais e parcela minoritária de moradias não consolidáveis; e o loteamento regular de HIS Jardim Silvina com inadequações de infra-estrutura Do ponto de vista fundiário, a maior parte da poligonal configura-se como ocupação de área privada, sobre a qual não foi movida ação de reintegração de posse, cabendo demarcação urbanística sobre a mesma; a menor parte é composta por Áreas públicas municipais. Todas as áreas de intervenção estão gravadas como Zona Especial de Interesse Social – ZEIS. A população residente tem perfil sócio-econômico típico dos assentamentos precários do município, apresentando uma média de 3,6 moradores por domicílio, com famílias conviventes em apenas 2,7% destes. A maioria dos domicílios é chefiada por mulheres (51,9%) e em 33,9% das famílias não há segundo responsável. A renda domiciliar está concentrada na faixa de até 3 salários mínimos (73,0%) e a população com ocupação remunerada atinge 41,8%. 45,1% dos entrevistados afirmam morar na área há mais de 10 anos e apenas 14,4% tem até 1 ano de moradia na área. 3.1.2 Características Gerais da Área Selecionada para Reassentamento Para implantação do Conjunto Habitacional de Reassentamento, foi selecionada área contígua ao complexo de assentamentos precários, também gravada como ZEIS no Plano Diretor Municipal. Trata-se de terreno vazio com 177.979,700 m2 de área total, que faz divisa com o Assentamento Rua Washington Luiz. Grande parcela da área apresenta declividades acentuadas e é coberta por mata secundária e reflorestamento de eucaliptos. Embora com condições topográficas desfavoráveis, a área foi selecionada por permitir manter as famílias na mesma região em que moram, mantendo-se o uso dos atuais equipamentos públicos que as atendem e as relações sociais e de vizinhança já constituídas ao longo dos anos de ocupação. Além disso, a sua ocupação adequada contribui no esforço de qualificação da região e impede a expansão de novas ocupações inadequadas. Originariamente pertencente à empresa BRASERVICE, foi desapropriada pela Prefeitura para implantação do empreendimento. 3.2 Proposta de Intervenção Desenvolvida Para cumprir seus objetivos o projeto foi organizado em quatro ações estratégicas integradas a seguir sintetizadas3. a) Obras e ações de natureza urbano-habitacionais e ambientais, que são distintas nos assentamentos precários e na área de reassentamento e abrangem: Urbanismo e paisagismo do parcelamento; implantação de toda infraestrutura; e execução das obras habitacionais, assim como, de unidades comerciais de reposição; b) Obras e ações de infraestrutura pública para o bairro, voltadas para a melhoria na mobilidade urbana, redução dos riscos geotécnicos e tecnológicos e melhoria na qualidade ambiental; c) Regularização urbanística e fundiária, abrangendo atividades para as áreas de urbanização, consolidação e regularização fundiária (preconizando a demarcação urbanística como instrumento de regularização da ocupação nas áreas particulares) e atividades relacionadas à produção habitacional, segundo regras do Programa Minha Casa Minha Vida. d) Trabalho social e participação das comunidades, estruturado em torno de cinco eixos: Mobilização e Organização Comunitária; Trabalho Social de Apoio às Obras e Reassentamentos; Educação Sanitária e Ambiental; Ações de Apoio à Geração de Trabalho e Renda e Articulação Institucional para Inclusão Social; e Avaliação e Acompanhamento Pós-Ocupação Dado o foco do artigo, tem-se a seguir a síntese das obras e ações de natureza urbano habitacional nos assentamentos precários e na área de reassentamento 3 Para maior detalhamento ver São Bernardo do Campo / Secretaria de Habitação (2013) 3.2.1 Obras e ações de natureza urbano-habitacionais nos Assentamentos Precários O processo de desenvolvimento do projeto iniciou no final de 2009 e ao final do processo a condição encontrada, apresentada a seguir na Figura 2, resultava nos seguintes elementos estruturantes para atender aos objetivos do projeto: • A consolidação da maioria das unidades habitacionais cadastradas é possível, por meio de obras de urbanização e melhoria de infra-estrutura, mas para isto remoções são necessárias; • A eliminação de condições de riscos à vida para as famílias residentes e cadastradas exige a remoção de parcela importante de moradias que não são consolidáveis • A manutenção da maioria das famílias na região recomenda a remoção de moradias eventualmente em bom estado, mas situadas em bolsões de precariedade que geram áreas de produção habitacional; e • A melhoria das condições de infra-estrutura e mobilidade do bairro é possível, porem exige alto investimento, dada a interferência de diversas situações de risco tecnológico. Figura 2 - Mapa síntese do Diagnóstico dos Assentamentos Precários Diante de tais condições, nos termos apresentados na Figura 3, a seguir, ao final do processo de elaboração do projeto e do diálogo com as comunidades, o Projeto de Urbanização Integrada foi consolidado contemplando uma ampla melhoria da região e soluções habitacionais diversificadas que abrangem 2.781 famílias atendidas nas próprias áreas de urbanização, sendo: 2.344 famílias com unidades consolidadas por urbanização e regularização; e 437 famílias atendidas em novas unidades construídas nas próprias áreas. Figura 3 - Urbanismo Proposto para as Áreas de Urbanização O atendimento ao total de cadastrados se completa com o reassentamento externo das famílias remanescentes no Residencial Ponto Alto, tratado a seguir. 3.2.2 Obras e ações de natureza urbano-habitacionais na Área de Reassentamento/ MCMV Ponto Alto O Conjunto Habitacional de reassentamento abrange a construção de 560 unidades habitacionais. São dois condomínios com 24 blocos de edifícios de apartamento (Figura 4), alguns com entrada intermediária sem uso de elevador, sendo: 13 blocos com cinco pavimentos (térreo + 4), 5 blocos com seis pavimentos (térreo + 5), 3 blocos com sete pavimentos (térreo + 6), 3 blocos com oito pavimentos (térreo + 7). Todos os apartamentos têm dois dormitórios, sala com dois ambientes (estar e jantar), cozinha e lavanderia, totalizando uma área privativa média de 47,27 m2. Figura 4 - Urbanismo Proposto para a Área de Reassentamento Por meio do Programa Minha Casa Minha Vida, além da construção das unidades habitacionais serão executadas as obras relativas à infraestrutura interna ao parcelamento, com sistema viário, drenagem, redes de água, esgoto, bem como, implantação de paisagismo e áreas verdes e de lazer. No parcelamento, tem-se duas áreas destinadas a equipamentos públicos, que serão implantados pelas políticas específicas, de Educação e de Saúde. 3.3 O processo de contratação dos projetos e o investimento combinado entre PAC e PMCMV Na composição do investimento a plena implantação do projeto ficou dividida em três contratos: sendo um contrato com o PAC e dois contratos com o PMCMV. 3.3.1 Metas Físicas e Financeiras do investimento combinado entre PAC e PMCMV Com a soma de soluções geradas nas áreas de urbanização e reassentamento, tem-se uma meta de atendimento de 3.341famílias, conforme Tabela 4. Tabela 4 – Metas Físicas do Projeto Integrado por Soluções habitacionais ÁREA Silvina Audi SOLUÇÃO HABITACIONAL Novas Unidades Para Relocação na Área de Nº de Total de Urbanização Unidades UHs a a UHs a Famílias Lotes Cadastra- Remover consoli- Conjuntos Conjuntos Lote Uso Atendidas das dar Incluídos Incluídos no Unifamiliar / Misto / no MCMV PAC PAC PAC 1.938 * 554 * 1.384 27 192 39 4 1.646 419 347 72 167 0 0 0 239 Gaspar de Souza 120 14 106 0 0 5 1 112 Bananal 103 6 97 0 0 2 0 99 Loteamento HIS Jardim Silvina 685 0 685 0 0 0 0 685 Sub-total Área de urbanização 3.265* 921 * 2.344 194 192 46 5 Rua Luís Washington MCMV – Area de Reassentamento 2.781 437 560 560 TOTAL 3.265* 921 ** 2.344 997 ** 3.341 *172 Famílias já foram removidas por risco muito alto e estão atendidas por auxílio aluguel ** A reserva técnica de 76 Unidades é destinada a: erros de cadastro constatado, novas remoções que se façam necessárias e atendimento de famílias em situação de co-habitação excessiva e involuntária, para as quais um apartamento não é solução adequada. Conforme Tabela 5 abaixo, com a soma dos investimentos, tem-se uma meta financeira de aporte de R$ 180,2 milhões, divididos nos três contratos citados: um Contrato com o PAC, que abrange as obras de urbanização e requalificação de bairro, parte de produção habitacional (51 Unidades em lotes dispersos e 192 unidades implantadas em edifícios cujo andar térreo tem unidades comerciais para reposição, o que é contrário às normas do PMCMV) e as ações de trabalho social e regularização para toda a população beneficiária; um contrato com o PMCMV para construção de parte das unidades no interior dos assentamentos (3 condomínios que somam 194 unidades, em contrato a ser firmado quando da liberação das áreas a partir das obras do PAC); e o contrato com o PMCMV para construção das 560 unidades na área de reassentamento externo. Tabela 5 – Metas Financeiras do Projeto Integrado por Contrato Contrato PAC MCMV/ Assentamentos Precários MCMV/ Área de Reassentamento TOTAL Valor total (R$) Governo federal (R$) Governo Estadual/ Casa Paulista (R$) Município (R$) 104.526.596,99 63.895.000,00 40.631.596,99 16.396.793,41 12.028.000,00 4.368.793,41 59.359.904,80 42.560.000,00 16.799.904,80 180.283.295,20 118.483.000,00 16.799.904,80 (1) 45.000.390,40 Cabe destacar que no contrato do PAC a parcela relativa à execução da obra é de R$ 95.039.434,31 (o restante abrange Terreno, Projetos, Gerenciamento, Regularização Fundiária e Trabalho Social) e que no Contrato com o PMCMV da Área de Reassentamento, o valor aportado pela Prefeitura relativo à desapropriação da área, não é incidente no contrato. 3.3.2 O processo de contratação e as dificuldades do investimento combinado entre PAC e PMCMV nos assentamentos precários A elaboração do Projeto de Urbanização Integrada do Complexo de Assentamentos Precários teve início em 2010 com investimento de recursos próprios da Prefeitura, com a expectativa de captação de recursos para sua realização por meio do PAC. Neste sentido, ele foi apresentado e selecionado no processo de seleção realizado em 2010. Dentro da nova regra, a seleção definiu que a produção habitacional é objeto de contrato com o PMCMV. O Contrato de Repasse do PAC foi assinado em dezembro de 2010, tendo cláusulas resolutivas, entre as quais a viabilização definitiva da Área de Reassentamento. A plena implantação do empreendimento implica em firmar mais dois contratos no âmbito do PMCMV. A Prefeitura dedicou parte do ano de 2011 a buscar empresas interessadas em produzir as unidades habitacionais na área proposta para reassentamento, por ser urbana e socialmente adequada. Na falta de empresas interessadas, especialmente pelo argumento que não “fechava a conta”, em Junho de 2011 foi publicado o DUP e em janeiro de 2012 a Prefeitura efetivou a desapropriação do terreno, de modo a doá-lo ao FAR e contribuir com a viabilização financeira do empreendimento. Com esta medida e o atendimento de outras pendências, foi emitido o SPA – Síntese de Projeto Aprovado do Contrato do PAC/ Urbanização. Em paralelo, a Prefeitura contratou os estudos necessários à definição das diretrizes de disponibilização da área para o FAR cujo resultado apontou a possibilidade de implantação de 800 unidades. Com esta diretriz, em junho de 2012 fez a Seleção Pública de empresas para a execução do PMCMV no terreno de sua propriedade a ser doado ao FAR. Apesar da ampla divulgação, e mesmo com o convenio firmado entre o Governo Federal e o Governo do Estado de São Paulo, por meio da Agencia Casa Paulista, para aporte complementar de recursos aos empreendimentos do PMCMV, apenas uma empresa apresentou Manifestação de Interesse. Passado o prazo dado para detalhamento de projeto, a empresa apresentou proposta com 880 unidades habitacionais em edifícios com elevadores e com edifícios garagens, que além de socialmente polêmica para famílias de baixa renda tinha seus custos de implantação superiores aos limites do programa. A partir daí teve-se quase um ano de apresentações e análise de propostas sem viabilidade de implantação dentro dos limites do Programa e sem que a Prefeitura tivesse meios legais de contratar de outra forma. As questões apresentadas pela empresa – pertinentes - diziam sempre respeito aos custos de implantação do empreendimento no terreno em questão, bem como, aos eventuais imprevistos que poderiam surgir no curso das obras e que são de inteira responsabilidade do empreendedor no PMCMV. Durante este período o Contrato relativo à Urbanização de Assentamentos Precários ficou em suspenso, seja pela regra do Programa (pertinente) que exige simultaneidade na execução das duas intervenções, seja porque na estratégia concebida para a intervenção, era mais adequado que a obra iniciasse pela Área de Reassentamento, para reduzir as remoções provisórias e os custos sociais e financeiros para a implantação. Somente em maio de 2013 chegou-se à proposta considerada viável para a Área de Reassentamento. Nesta proposta, para não haver novos atrasos nos licenciamentos, a área foi desmembrada em duas e o empreendimento foi reduzido para as áreas com melhores condições de implantação, chegando a 560 Unidades (compatível com a demanda do Projeto de Urbanização). A partir daí mais um ano foi necessário para a conclusão da elaboração dos projetos, aprovação dos mesmos nos órgãos municipais e estaduais competentes; aprovação na CAIXA e negociação com a Agencia Casa Paulista, já que o valor por unidade é maior que o limite e o aporte complementar necessário era superior à média estabelecida. Este aporte foi aprovado num Convenio maior, onde o valor médio por unidade aportado pelo Estado continua sendo o mesmo. Neste empreendimento ele será maior e em outros dois empreendimentos do município, para compensar, ele será menor que a média. Em paralelo, tendo segurança da viabilidade da área de reassentamento, em junho de 2013 a Prefeitura publicou a licitação das obras de urbanização e, com solicitação de excepcionalização para iniciar as obras de urbanização antes do PMCMV, em outubro de 2013, emitiu a Ordem de Início dos Serviços para a área de urbanização. Em Junho de 2014, dois anos e meio após a efetivação da desapropriação da área pelo município, a operação para a Área de Reassentamento ficou em condições de ser contratada com o PMCMV. A operação com o PMCMV para os condomínios a serem implantados nos Assentamentos Precários, por sua vez, ainda tem muitos passos pela frente. Como o FAR não aceita terrenos objeto de demarcação urbanística, a Prefeitura está desenvolvendo o processo de exclusão destas áreas da demarcação urbanística para efetivar a desapropriação. Após a desapropriação e a liberação das áreas (atualmente ocupadas) no âmbito das obras do PAC Urbanização, que também implanta a infra-estrutura externa, será realizada a seleção pública para execução dos empreendimentos. 3.3.3 Os desafios e adequações necessárias para a utilização do PMCMV articulado com o PAC, apontadas pela experiência de São Bernardo O MCMV traz uma grande inovação e um elemento positivo para a produção habitacional de interesse social, que é a experiência e a capacidade de trabalho do setor privado para se somar em um segmento de produção que estava quase restrito ao setor público ou as iniciativas de movimentos sociais. Isto é muito positivo, já que a capacidade instalada no setor público é insuficiente para fazer frente à dimensão do déficit brasileiro. Entretanto, o outro lado disto está dado pela característica deste agente: o mercado se interessa pelos negócios que atendem aos parâmetros de ganhos e riscos com os quais o mercado trabalha. Logo, a existência única e quase exclusiva desta via para a produção habitacional de interesse social é um elemento dificultador para a viabilização da produção habitacional em situações mais complexas, especialmente aquelas associadas às soluções integradas de assentamentos precários, onde o interesse público não necessariamente é compatível com os parâmetros de empreendimento pelo mercado. Este dificultador existe tanto nos empreendimentos associados aos assentamentos precários, quanto naqueles que devem se dar dentro dos próprios assentamentos. As dificuldades que vem se dando na experiência de São Bernardo podem indicam elementos a serem abordados nestas adequações que se fazem necessárias. a) Dificuldades Específicas da produção habitacional pelo MCMV no interior da favela Quatro aspectos se destacam quanto à incompatibilidade entre o formato exclusivo do PMCMV e a produção habitacional no interior da favela, no caso de São Bernardo: • O primeiro diz respeitos às condições fundiárias do assentamento precário (área particular irregularmente ocupada que cumpre todos os requisitos de demarcação urbanística, ação na qual não são demandados recursos do poder público para desapropriação) que resulta em grandes dificuldades para se atingir o estágio de disponibilização de área exigidos pelo MCMV. O melhor caminho aqui está dado na produção pelo PAC: adota-se a estratégia de regularização por meio da demarcação urbanística, desenvolve-se a produção para atender aos beneficiários da demarcação e faz-se a transferência das unidades pelos instrumentos previstos na demarcação; • O segundo refere-se à execução por duas empresas diferentes de uma obra completamente dependente de outra (é o PAC quem executa as obras das quais o MCMV depende para começar a trabalhar: remove as moradias que ocupam os futuros trechos de produção, retira o entulho, provê a infra-estrutura externa, não incidente). O melhor caminho é a produção pelo mesmo responsável pela obras de infra-estrutura, ainda que a fonte de recursos possa ser o PMCMV; • O terceiro diz respeito aos limites financeiros do MCMV frente às características exigidas de projetos em áreas ocupadas (neste caso, a tipologia habitacional possível de ser implantada resulta em mais área construída do que a média que “fecha a conta” no MCMV, por conta de circulação etc); e, • Por fim, um problema ainda não testado neste caso, pode ser dar pelo baixo interesse das empresas em trabalhar em áreas como esta em função da dependência de obras de terceiros, da característica de imprevisibilidade de obras realizadas em terrenos ocupados, incompatível com a condição de gestão financeira dos contratos do MCMV. b) Dificuldades Específicas da produção habitacional de reassentamento externo associada à urbanização pelo PMCMV Não há contradição em princípio de se usar o PMCMV para a produção habitacional de reassentamento externo. A questão é ter-se apenas este caminho para os casos de projetos que são interdependentes. No caso de São Bernardo a impossibilidade da produção pública resultou: • Incompatibilidade das premissas de análise do empreendimento entre a visão do setor público e o do setor privado; • Interesse público de produção habitacional em área complexa que, apesar de ser socialmente mais adequada, não se enquadra no formato convencional do PMCMV; • Retardamento do início da obra de urbanização, em função da demora prazo do processo de contratação do PMCMV muito mais demorada do que o previsto e do que se teria numa contratação convencional, dada a necessidade de se chegar a uma equação financeira do empreendimento viável para todos nas regras do Programa. 5- CONCLUSÕES O primeiro elemento importante a destacar a título de conclusão se refere à importante ruptura que o momento atual da política nacional de habitação representa frente a um histórico de ausência do tema ou de tratamento em escala incompatível com a dimensão do problema nos períodos anteriores. A política municipal de São Bernardo mostra que o PLANHAB formulado pelo Governo Lula é coerente com a diversidade dos problemas habitacionais encontrados nas cidades metropolitanas brasileiras, especialmente se incluídos dois programas que estão inseridos não Planhab, mas nas ações da SNPU, o Programa de Regularização Fundiária e o de Redução de Riscos. Mas para isto, é fundamental que o município faça sua parte em termos de se estruturar, fazer o planejamento de curto, médio e longo prazo (nos termos do que propõe o conceito do PLHIS), definir investimentos próprios e estratégia de contratação de recursos externos para fazer frente aos problemas. Analisando os contratos firmados pelo município de São Bernardo com o PAC fica evidente que o volume atual de investimento na política habitacional nacional é muito importante para que se tenham condições de fazer frente ao volume do déficit habitacional. Como se viu no caso de São Bernardo, apesar de investimentos locais muito superiores às médias nacionais e da integração destes investimentos com o Governo Federal, o percentual de assentamentos precários ainda sem intervenção é muito significativo. De outro lado, também é um elemento positivo o atual volume de investimentos para a produção habitacional por meio do Programa Minha Casa, Minha Vida, programa eleito como prioritário no Governo atual. Mesmo a alteração trazida com a inclusão do mercado na produção habitacional de baixa renda é positiva, na medida em que as estruturas públicas atuais tem dificuldades objetivas de responder na escala do problema. A questão analisada aqui, entretanto, trata de um aspecto específico do Programa, que é a modelagem atual de intervenção nos assentamentos precários, que combina a intervenção de urbanização por meio do PAC e a produção habitacional por meio do Programa Minha Casa, Minha Vida. Esta modelagem tem contradições que precisam ser enfrentadas e adequadas à realidade destas áreas. O elemento mais problemático diz respeito à redução drástica do papel e das possibilidades de ação do setor público no PMCMV (que deixa de ter a possibilidade de produção direta, quando tem-se intervenções em que há interesse público, mas não há interesse privado). Diante desta redução tem-se a dependência do setor privado para desenvolver ações que são necessárias dentro da lógica do interesse público, mas que muitas vezes não são coerentes com os parâmetros de ação do mercado. Neste sentido, o processo de contratação da área de reassentamento do Projeto de Urbanização Integrada do Complexo Silvina Audi: dois anos e meio entre a desapropriação da área que era urbana e socialmente adequada para atender as famílias e a finalização do processo de contratação da operação PMCMV, porque as dificuldades objetivas da área não se “enquadravam” na lógica de contratação e aporte de recursos do programa frente à lógica da iniciativa privada de não querer correr risco em um programa com margens estreitas. Apesar de ser um elemento positivo contar com o setor privado, não é possível se estruturar uma política nacional de habitação de interesse social em que se exclui completamente a possibilidade de produção por iniciativa do setor público, que tem outros trâmites legais a seguir, como licitações, entre outros. Objetivamente, há situações que o setor público tem obrigação de fazer em que não há interesse do setor privado, se os riscos ficarem por sua conta. O outro aspecto problemático diz respeito à produção habitacional no interior dos assentamentos precários por meio do PMCMV. Este aspecto abrange duas questões: a contradição frente à condição fundiária destes assentamento, a base legal atual incidente sobre o tema e às exigências do PMCMV quanto ao padrão de disponibilização de área para contratação de empreendimento (propriedade da terra transferida ao FAR – Fundo de Arrendamento Residencial) e as características das obras nos assentamentos precários e a interdependência das obras do PMCMV com o PAC em um território complexo. Com relação a questão fundiária, no caso do Projeto de Urbanização Integrada do Complexo Silvina Audi os três condomínios propostos no interior da favela que foram definidos como PMCMV (apesar do pleito da Prefeitura de que todos fossem contratados por meio do PAC) estão localizados na área da favela que não é pública e cuja estratégia de regularização, com base na legislação atual, é a demarcação urbanística,estratégia que não exige investimentos em desapropriação por parte da Prefeitura. Para atender às exigências do PMCMV a Prefeitura terá que desapropriar a área e, ainda que por compensação de dívida, fazer um aporte que não seria necessário se a produção habitacional fosse de promoção pública, já que, como ela se destina a atender quem ocupa a área, ela se insere nas ações possíveis de serem realizadas em áreas de demarcação urbanística. As limitações para utilização do PMCMV para produzir novas unidades no interior dos assentamentos precários abrangem aspectos diversos: inicialmente a dificuldade de compatibilizar os parâmetros de projeto e de investimento do PMCMV (compatíveis para obras de pouca complexidade) com as características exigidas de projetos em áreas ocupadas, que precisam se adaptar a área disponível e em geral tem custos complementares de contenções e etc. A solução de aporte complementar de recursos pelo município exige mais do que os recursos (menores do que as contrapartidas das fases anteriores), exige a formulação de mecanismos de seleção pública distintas do que está pensado para o PMCMV. O outro aspecto diz respeito à execução da obra do PMCMV, a ser contratada com o empreendedor que vencer a seleção pública/ chamamento. Esta obras será necessariamente dependente e integrada às obras executadas por outra empresa, vencedora da licitação para as obras do PAC, e isto pode exigir mais do que o planejamento integrado das frentes de obras, já que em geral vai abranger responsabilidades técnicas compartilhadas de obras que se complementam, tema em que há pouco conhecimento acumulado. Estes dois aspectos são totalmente conflitantes com a lógica que tem norteado a avaliação de viabilidade de empreendimentos do PMCMV pelos empreendedores privados, que optam por áreas em que: possa ser utilizado projeto arquitetônico padrão, em relação ao qual a empresa conhece os custos; as condições de terreno imponham baixo nível de dificuldade, para “caber” no valor passível de ser destinado a infra-estrutura; e não hajam condições imponderáveis (como é comum nas áreas ocupadas) que possam resultar em uma situação não prevista, cujo custo de solução, na regra do PMCMV deve ser assumido integralmente pela empresa proponente do empreendimento. Não obstante a avaliação positiva do PMCMV como estratégia de enfrentamento do déficit quantitativo brasileiro, que está explícita neste artigo, a experiência de São Bernardo aponta para a necessidade de aprimorar aspectos da integração do PMCMV e o PAC, de modo a assegurar que a produção habitacional que é item indispensável à solução integral e integrada dos assentamentos precários, possa se dar de forma coerente com as características das áreas sob intervenção e do próprio perfil de um programa concebido para ser operado por meio da iniciativa privada (o PMCMV). Para além da questão que é o foco deste artigo, é indispensável registrar ainda que, considerando as características do déficit acumulado no Brasil, a atual concentração dos investimentos no Programa Minha Casa, Minha Vida – em certa medida em detrimento ao PAC, que deixou de ter seleções anuais regulares – pode vir a romper com a lógica de investir de forma coerente ao conjunto dos problemas. O PMCMV é uma modalidade de intervenção - produção habitacional, que enfrenta um tipo de déficit - o déficit quantitativo. Neste sentido, uma ação consistente com o que está formulado na Política e no Plano Nacional de Habitação em vigor, exige equilíbrio entre investimentos e problemas. A redução e a descontinuidade dos investimentos em urbanização de favelas, problema numericamente tão ou mais significativo quanto o déficit quantitativo nas grandes cidades, precisa ser corrigido. Investir apenas na produção habitacional é uma estratégia que já foi adotada, como mostrado no histórico apresentado neste artigo, e o resultado contribuiu para o padrão atual de ocupação das cidades brasileiras, predominantemente excludente e com grandes parcelas de precariedade. A prioridade política e o nível de investimento atual em habitação, inédito em nível nacional, faz deste um momento rico e desafiador para fazer da política habitacional um instrumento de inclusão social em todas as suas dimensões, mas há ajustes a serem feitos. E é necessário que se trate deles. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Secretaria do Tesouro Nacional – Bancos de dados do FINBRA. 2012. CARDOSO, Adauto Lúcio (org.). O Programa Minha Casa Minha Vida e seus efeitos territoriais. Habitação e Cidade – IPPUR/UFRJ. Rio de Janeiro: Letra capital, 2013. DENALDI, Rosana. Estado, política habitacional de favelas no Brasil.IN: Leopoldianum, Revista de Estudos e Comunicações da Universidade Católica de Santos, Ano 30, nº 81/82, p. 65-90: maio/dezembro, 2004. FERREIRA, João Sete Whitaker. Gestão democrática e participativa: um caminho para cidades socialmente justas? Artigo publicado na Revista Democracia Viva, Ibase, nº 18, setembro/outubro,2003. MAGALHÃES, Inês. Planos Locais de Habitação na estratégia da Política Nacional. IN. Planejamento Habitacional notas sobre a precariedade e terra nos planos locais de habitação. DENALDI, Rosana (org.). São Paulo: Annablume, 2013. OLIVEIRA, Nilza Aparecida. Dissertação (Mestrado) Universidade Federal do Grande ABC. Área de Concentração Planejamento e Urbanismo. O Plano Plurianual Participativo (PPA Participativo) e as Estratégias de Pensar o Futuro – O Caso de São Bernardo do Campo, 2010-2013. Santo André, SP, 2014, p.4346. Orientador: Sidney Jard da Silva. SÃO BERNARDO DO CAMPO, Prefeitura do Município / FUNDAÇÃO DE APOIO A PESQUISA, ENSINO E EXTENSÃO - FUNEP. Mapeamento e Caracterização dos Assentamentos Precários e/ou irregulares do Município de São Bernardo do Campo. 2010a. SÃO BERNARDO DO CAMPO, Prefeitura do Município / FUNDAÇÃO DE APOIO A PESQUISA, ENSINO E EXTENSÃO - FUNEP. Plano Municipal de Redução de Riscos de São Bernardo do Campo. 2010b. SÃO BERNARDO DO CAMPO, Prefeitura do Município / Instituto Corda Rede de Projetos e Pesquisas. Relatório da Pesquisa de Caracterização Socioeconômica e Informações Cadastrais – Projeto de Urbanização Silvina Audi. 2010c. SÃO BERNARDO DO CAMPO, Prefeitura do Município / SECRETARIA DE HABITAÇÃO – SEHAB. Projeto de Urbanização Integrada dos Assentamentos Precários do Jardim Silvina Audi – Plano de Trabalho. 2013.