Artigo - Sustentabilidade 1 Quando a empresa deve assumir seus erros Cristiano Cecatto (*) Usando a verdade para manter a confiança dos clientes Uma das práticas mais comuns entre as empresas brasileiras, independente do seu tamanho e importância no mercado, é negar acusações de erros em seus produtos, o mau atendimento ou sua responsabilidade em danos causados para clientes ou para terceiros. Por mais notório e óbvio que seja o erro – de um derramamento de produtos químicos, passando pelo peso diferente do que alega a embalagem ou pelo produto fora do prazo de validade – a primeira reação é negar tudo, é pedir uma contraprova. Obviamente, existem casos que não são assim, mas grande parte do empresariado ainda pensa que o melhor é tentar abafar o escândalo, deixar o tempo passar para ver se o público esquece ou usar de meios ilícitos para escapar do julgamento da clientela e da Lei. Um erro sério e que só aumenta os prejuízos. Se calculados com rígida atenção, os custos com as tentativas de se esquivar de um erro logo se provam muito maiores do que assumir o problema e oferecer uma solução imediata. Optando por tentar abafar uma situação constrangedora, a empresa vai ter gastos altos, certamente precisando recorrer à ajuda de pessoas desonestas, que eventualmente, podem vir a trazer mais problemas no futuro de forma direta ou indireta. Além disso, mais cedo ou mais tarde a verdade acaba vindo à tona, ainda mais se levarmos em conta o trabalho que a Imprensa vem realizando nos últimos tempos. E aí, o velho ditado que garante que “emenda é pior que o soneto” será mais do que nunca muito válido. Afinal, as desconfianças passarão a ser realidade e a confiança do cliente se extingue. Parte do público, mesmo que pequena, certamente irá trocar os produtos e/ou serviços da empresa pelos do concorrente. Nada pior que um cliente traído. Além de abandonar a marca/empresa, ele ainda vai fazer campanha contrária a esta. Raros são os empresários que conhecem os desejos de seus clientes. Até porquê todo sistema dinâmico da gestão de Qualidade é movido pelas necessidades e expectativas do cliente. Com certeza, a maior parte das empresas sabe que o cliente preza sim pelo preço baixo, mas preza muito mais pelo bom atendimento e pela honestidade. Quem compra produtos e/ou serviços quer ter certeza que a empresa tem qualidade e oferece total confiança, mesmo quando erros acontecem. Nenhuma empresa que prejudicou o seu cliente de algum modo, reconheceu o fato e tratou de resolvê-lo, se arrependeu. Casos assim existem em grande quantidade país afora. Pelo contrário, aquelas que tentaram se esquivar amargaram prejuízos com processos judiciais, desmoralização pública e a perda do cliente. Mesmo em casos gravíssimos, como o da tradicional distribuidora de alimentos Coselli, de Ribeirão Preto (SP), o simples fato de se oferecer para esclarecer uma situação delicada mostrou-se uma boa saída. No primeiro semestre de 2000, o Ministério Público de Cravinhos (município vizinho a Ribeirão Preto) acusou a Coselli, por meio da imprensa, de comercializar produtos com prazos de validade adulterados, entre outros crimes contra o Código de Defesa do Consumidor. A empresa não reconheceu as acusações, mas se pôs de prontidão para responder quaisquer acusações oficiais. Em princípio, as vendas poderiam ter caído mas, como a acusação oficial acabou não vindo, a reputação da empresa não se abalou, tudo voltou ao normal e os clientes permaneceram Artigo - Sustentabilidade 2 São Paulo e a TV Bandeirantes. Mesmo que houvessem erros nos produtos, a coragem da empresa em responder às acusações pesou a seu favor. É claro que, sendo inocente, a empresa deve recorrer às instâncias possíveis e fazer valer seus direitos. Mas, tendo cometido qualquer tipo de erro, o procedimento adequado e mais lucrativo é vir à público e reconhecer a falha, oferecendo imediatamente soluções possíveis para acabar com a situação. O cliente não é burro e sabe quando está sendo enganado. A saída é oferecer uma compensação que tenha real efeito, quer seja trocando o produto, ressarcindo os prejudicados ou oferecendo um serviço/produto de qualidade realmente boa para o mercado. (*) Consultor especialista em logística e desenvolvimento organizacional da Qualilog. e-mail : [email protected] - www.qualilog.com / Tel.(11) 3772-3194. Fonte: Artigo Sugerido por Alessandro Bonassoli - Acessado em 22/8/2002