FUNDAÇÃO DOM CABRAL CENTRO DE REFERÊNCIA EM INOVAÇÃO – MINAS 26/05/2011 O dia a dia das grandes empresas é pautado pela incessante busca por resul-tados. No entanto, algumas empresas – entre as maiores do estado já desco-briram o valor essencial de dar uma parada na correria cotidiana e focar numa outra busca, que trará um novo tipo de resultado: a busca pela inovação. Mais uma vez, o CRI Minas reúne-se em torno da pauta estabelecida no início do ano para os grandes desafios da inovação nos negócios e nas organizações. Desta vez, o encontro foi sobre a Cultura da Inovação – como criar um ambiente inter-no que valorize a inovação, tema gerado em dinâmica no último encontro após os representantes das empresas participan-tes do CRI serem questionados sobre os principais desafios da inovação no seu dia a dia e o tópico “Cultura” ser o principal abordado nas respostas. O encontro teve presença maciça das empresas participantes e ainda convi-dados especiais, advindos do CRI Nacio-nal e professores associados. No primeiro momento do dia, o Prof. Carlos Arruda, coordenador do Núcleo de Inovação da Fundação Dom Cabral, apresentou a metodologia Culture Value Framework (CVF). A partir desta importante apresentação, os participantes se reuniram por empresa para um debate sobre a cultura interna de cada organização. Desta dinâmica inicial surgiram conclusões que serviram de indução para o intercâmbio de práticas sobre a cultura da inovação entre as empresas associadas. A troca de experiências é um dos princípios básicos do CRI, fundamentado no conceito de comunidade de prática, o que faz valer a participação na rede de relacionamentos que se está criando em encontros como este. Outro importante momento do dia foi a palestra do Eng. Fábio Carvalho, da FaberCastell, integrante do CRI Nacional, sobre como criar a cultura da inovação nas empresas brasileiras. O dia terminou com a apresentação do caso Samarco, feita pelo diretor de P&D, Carlos Magno, que nos mostra como a empresa mantém sua essência e seu jeito de trabalhar em projetos e na gestão, especialmente na área de desenvolvimento tecnológico e inovação. A cultura da inovação como prática Abrindo o dia e dando início às discussões sobre o tema do encontro, a cultura da inovação dentro das empresas, o pro-fessor Carlos Arruda trouxe um estudo realizado pela IBM em 2006 junto aos CEOs do grupo IBM. O resultado desta pesquisa mostra que a cultura é a principal barreira da inovação dentro das grandes organizações em todo o mundo. Isso porque as empresas estão estruturadas para gerar resultados de curto e médio prazo, ocupando todo o seu tempo nesta busca, sem espaço para soluções novas, ou seja, inovação. As empresas não foram feitas para inovar, esta não é uma situação natural para elas. A análise que a IBM fez em seu estudo coincide com as análises e experiências que vêm sendo feitas aqui, pela FDC. As empresas normalmente nascem de uma ideia inovadora, de uma quebra de paradigmas, de uma solução encontrada onde antes não havia resposta. À medida que conseguem sobreviver à fase empreendedora, elas começam um ciclo de organização e busca pela excelência. É neste momento que começam a surgir os resultados, o crescimento e a estruturação, enquanto o espaço para inovar vai desaparecendo. A grande questão, neste momento de empresa consolidada, é como, dentro da atuação específica de cada uma, voltar a ter uma fase inovadora. A resposta existe e cabe a cada empresa buscar o seu perfil para encaixar a inovação em seus processos. Segundo os pesquisadores Kim Cameroon e Robert Quinn, autores do instrumento CVF (veja figura acima), as empresas podem ser divididas em perfis seguindo linhas gerais de seu comportamento empresarial (e uma cor é denominada para cada perfil). Empresas podem ser orientadas para dentro, para suas estruturas internas, ou para fora, para o mercado e as parcerias contratuais. Outro fator é o da flexibilidade. Algumas podem agir com mais flexibilidade e espaço para novas ideias e outras são mais rígidas e seus processos marcados e delimitados. Sendo assim, o primeiro perfil de empresas, demarcado pela cor “azul” é uma empresa voltada para o mercado, com estabilidade e controle, com indicadores, metas e criação de valores para os acionistas. O segundo perfil, demarcado pelo “vermelho”, tem seu foco em controle mas está voltada para o público interno. É uma empresa de hierarquia. O terceiro perfil, “verde”, olha para fora, para o mercado, mas com flexibilidade, está mais propensa a criatividade e inovação, voltada para o futuro. O último perfil, “amarelo” – considerado o mais raro no Brasil – tem foco interno e flexibilidade, ou seja, é mais colaborativa e procura preservar a cultura e valorizar as pessoas. A inovação no perfil amarelo passa pela ideia da “Caixinha de Sugestões”. Elas dão aos funcionários e equipes a chance de trazer novas soluções. O perfil azul inova sempre de olho no mercado, corre atrás do que seus parceiros e concorrentes estão fazendo, não como solução interna, mas como competição de mercado, voltada sempre para fora, para o público externo. Inovação na empresa de perfil vermelho é talvez das mais complexas, mas acontece, sim, voltada para os procedimentos internos, buscando a excelência nos processos e constantes ações incrementais. Já a inovação mais clássica é a que acontece nas empresas de perfil verde, que tem sempre produtos inovadores no seu quórum de negócios sendo criados todo o tempo. Mas é importante destacar também que dentro de uma mesma empresa é possível existir setores bem distintos, cada um com um perfil específico. Outro fator que pode determinar o perfil de uma empresa é o momento do ciclo de vida em que ela se encontra. Conforme já foi dito, num primeiro momento, a fase empreendedora, o foco está no verde, na criação. Na fase da consolidação, o foco passa a estar entre o verde e o amarelo. No estágio três, de empresa já estável, de capital aberto, o perfil fica entre o azul e o vermelho. Carlos Arruda termina sua apresentação falando sobre algumas ideias para tornar as empresas mais inovadoras: 1. Se definir como uma empresa inovadora, através da autoafirmação; 2. Inovação depende fundamentalmente das pessoas, trazendo os colaboradores certos para a equipe; 3. Garantir o comprometimento da alta liderança; 4. Criar um ambiente que facilite a comunicação e a informalidade, para promover a colaboração interna e externa; 5. Criar mecanismos de reconhecimento; 6. Processos adequados para a gestão da inovação, com instrumentos eficazes; 7. Comunicar e ser reconhecido como inovador. O resultado da pesquisa feita com os membros da comunidade (conforme figura abaixo), mostrou que a maioria das empresas mineiras ainda são muito “vermelhas”, ou seja, muito controle. voltadas para processos de Faber-Castell e as cores da inovação O executivo Fábio Carvalho trouxe para o encontro a sua experiência em inovação na Faber Castell, empresa familiar que começou de uma pequena ideia inovadora – a invenção do lápis – cresceu, solidificou-se, conquistou mercado nos cinco continentes. Recentemente completou 250 anos e, certamente, ao longo de toda essa história, teve seus momentos de percalços que a fizeram tanto recuar como também inovar. O início do terceiro milênio trouxe um desses momentos. Os objetos considerados mais inovadores da atualidade são tecnologias que modificam a nossa forma de escrever e, consequentemente, alteram a relação dos consumidores com os produtos da Faber Castell. Por isso, a empresa precisa saber “inovar em diferentes cores e circunstâncias” – frase usada como título da apresentação. Mas, qual seria o principal inibidor de uma nova fase de inovação na empresa? Exatamente o tema sobre o qual o seminário do CRI vem tratando: a cultura. Segundo Fábio Carvalho, isso acontece porque a cultura da inovação não está institucionalizada nas organizações. Para que isso de fato aconteça, ele sugere 4 passos: 1. Se definir como empresa inovadora; 2. Criar ambientes e programas que “promovam” a inovação; 3. Comunicar os passos; 4. Ser reconhecido como inovador, interna e externamente. Além disso, todos e cada um na empresa precisam ser considerados inovadores, as pessoas precisam ser “contaminadas” pela cultura da inovação, passando a pensar de forma inovadora como rotina. Hoje, a Faber-Castell tenta lidar com um prognóstico de futuro desafiador para seus produtos. Para isso, desde 2007 a empresa investe num conjunto de ações de P&D e interfaces para adaptar os processos e produtos e estar apta a inovar e modificar a sua cartela de produtos num futuro muito próximo. As ações passam pela participação no CRI da Fundação Dom Cabral e também por um diagnóstico e profunda revisão do Processo de Desenvolvimento de Produtos – PDP: a Faber-Castell precisa saber o que o seu cliente precisará antes mesmo dele saber que precisa. No entanto, a empresa reconhece que cometeu um erro ao enxergar que inovação é somente feita nos produtos. Ela também precisa ser feita nos processos e relacionamentos com o mercado. Isso porque, no diagnóstico do PDP foi verificado uma falha na cultura apropriada para PDP. Mas, ao observar mais atentamente, descobriu-se que esta falha era só a ponta do iceberg. A raiz de tudo estava na falta de cultura da inovação como um todo na empresa. Para demonstrar isso para a alta liderança da organização, foi realizado um Innovation Workshop. No entanto, o projeto proposto na conclusão do workshop foi cancelado. Sem desânimo, a equipe que buscava criar a cultura da inovação na empresa optou por fazer um programa de ações para “contagiar” as outras áreas da empresa, em especial a diretoria. Para Carvalho, se a cultura não pôde ser modificada top-down, a empresa buscou modificá-la utilizando medidas bottom-up. Palestras de empresas inovadoras para mostrar e discutir os seus cases, participação no CRI, parcerias com entidades, universidades e institutos de pesquisa para identificar novas tecnologias, parcerias com empresas fornecedoras para discutir problemas similares, laboratórios de criatividade, participação na Inovatec – Feira de Ciência, Tecnologia e Inovação, concursos de design para estudantes universitários, prospecção de ferramentas de TI para gestão do conhecimento, capacitação de funcionários para o conhecimento e utilização da Lei do Bem – incentivo fiscal à inovação – e o Seminário “Cooperar para Inovar” são as 10 ações do Programa “Top Ten da Inovação”. Importante nesse processo todo, especialmente para o convencimento de todas as demais áreas da empresa, é mostrar que alguns resultados já começam a aparecer, os chamados “Quick Wins”. São pequenas vitórias da área de P&D, e também da FaberCastell como um todo, que demonstram que o caminho está no começo, mas está certo. O caso Samarco A apresentação do caso Samarco finalizou o dia com uma verdadeira aula sobre a estratégia diferenciada em desenvolvimento tecnológico da mineradora, baseada em três temas principais: o crescimento sustentável, a excelência operacional e a excelência em gestão. Uma série de projetos e ações são desenvolvidas na empresa visando às perspectivas de pessoas e conhecimento e a de resultados, buscando ampliar a receita da empresa, maximizar a rentabilidade do negócio e assegurar uma reputação positiva. Todo o processo é tratado na Samarco em três níveis: uma visão de longo prazo, mais estratégico, já que o negócio da mineração é trabalhado sempre com ciclos de longa duração; a nível tático, com o prazo médio de cinco anos, uma visão mais próxima, com orçamentos e controles mais apurados e justos; e no curto prazo, cerca de um ano, há uma avaliação estilo “pente fino” de toda a cadeia de operações. Existe, no entanto, uma dificuldade grande no processo de expandir o modelo estratégico para a empresa como um todo. Para acertar as falhas, foram criados Comitês Temáticos para fazer o link entre a alta direção da empresa e as áreas de operação. Dentre esses Comitês, um é o de Desenvolvimento Tecnólogico. O caso da Samarco apresentado neste encontro será mais detalhado e discutido em uma publicação especialmente desenvolvida para que os participantes do CRI possam trocar as experiências de gestão de suas empresas. A publicação está prevista para ser entregue aos participantes no próximo encontro, marcado para 17 de Agosto deste ano, com o tema central: Gestão de Projetos de Inovação. Até a Próxima! Equipe CRI-MG Empresas associadas: