ENSINO MÉDIO Prova oficial: Gramática Professor: Leandro S. Megna 3º ano Ensino Médio 1ª Unidade Letiva / 2014 NOTA Valor: 2,5 Aluno (a): Nº Turma: 3C INSTRUÇÕES - esta prova é composta por 5 (cinco) questões; - a duração desta prova é de duas aulas, com tempo mínimo de 50 minutos. Havendo necessidade, utilize o sanitário antes do início da prova; - deixe sobre sua carteira apenas lápis, borracha, caneta e cartão de identificação da escola ou seu documento de identidade. Todo o restante do material ser deixado sobre o tablado ou próximo do quadro negro; não é permitido nenhum tipo de consulta; - utilize caneta azul ou preta. É proibido o uso do corretivo; respostas rasuradas não terão direito a revisão; - todo e qualquer aparelho eletrônico deve ser guardado junto com o seu material. O aluno que portar qualquer aparelho eletrônico durante o período de aplicação desta prova (independente de seu uso ou não) terá sua avaliação cancelada e, consequentemente, receberá nota zero na mesma. - havendo necessidade, utilize o sanitário antes do início da prova. - o não cumprimento das normas acima pode acarretar prejuízo na nota do aluno, a critério do professor. Leia o texto abaixo para responder as questões 1 a 5. Falta avaliar o impacto humano da era das Guerras Mundiais, e seus custos humanos. O simples volume de baixas, a que já nos referimos, é apenas parte destes. Muito curiosamente, a não ser, por motivos compreensíveis, na URSS, os números muito menores da Primeira Guerra Mundial iriam causar impacto muito maior que as imensas quantidades da Segunda, como testemunham a maior predominância de monumentos e o culto aos mortos da Primeira Guerra. A Segunda não produziu equivalentes dos monumentos ao “soldado desconhecido”, e depois dela a comemoração do “Dia do Armistício” (aniversário de 11 de novembro de 1918) foi perdendo aos poucos sua solenidade de entreguerras. Talvez 10 milhões de mortos parecessem um número mais brutal para os que jamais haviam esperado tal sacrifício do que 54 milhões para os que já haviam experimentado a guerra como um massacre antes. Sem dúvida, tanto a totalidade dos esforços de guerra quanto a determinação de ambos os lados de travá-la sem limites e a qualquer custo deixaram a sua marca. Sem isso, é difícil explicar a crescente brutalidade e desumanização do século XX. Sobre essa curva ascendente de barbarismo após 1914 não há, infelizmente, dúvida séria. No início do século XX, a tortura fora oficialmente encerrada em toda a Europa Ocidental. Depois de 1945, voltamos a acostumar-nos, sem grande repulsa, a seu uso em pelo menos um terço dos Estados membros das Nações Unidas, incluindo alguns dos mais velhos e civilizados. O aumento da brutalidade deveu-se não tanto à liberação do potencial latente de crueldade e violência no ser humano, que a guerra naturalmente legitima, embora isso certamente surgisse após a Primeira Guerra Mundial entre um certo tipo de ex-soldados (veteranos), sobretudo nos esquadrões da morte ou arruaceiros da ultradireita nacionalista. Por que homens que tinham matado e visto matar e estropiar seus amigos iriam hesitar em matar e brutalizar os inimigos de uma boa causa? Um motivo importante foi a estranha democratização da guerra. Os conflitos totais viraram “guerras populares”, tanto porque os civis e a vida civil se tornaram os alvos estratégicos certos, e às vezes principais, quanto porque em guerras democráticas, os adversários são naturalmente demonizados para fazê-los devidamente odiosos ou pelo menos desprezíveis. As guerras conduzidas de ambos os lados por profissionais, ou especialistas, sobretudo os de posição social semelhante, não excluem o respeito mútuo e a aceitação de regras, ou mesmo cavalheirismo. A violência tem suas leis. [...] Os profissionais da política e da diplomacia, quando desimpedidos pelas exigências dos votos ou jornais, podem declarar guerra ou negociar a paz sem ressentimentos contra o outro lado, como boxeadores que se apertam as mãos antes de começarem a luta, e bebem uns com os outros. Mas as guerras totais estavam muito distantes desse padrão do século XVIII. Nenhuma guerra em que se mobilizam os sentimentos nacionais de massa pode ser tão limitada quanto as guerras aristocráticas. [...] Outro motivo, porém, era a nova impessoalidade da guerra, que tornava o matar e o estropiar uma consequência remota de apertar um botão ou virar uma alavanca. A tecnologia tornava suas vítimas invisíveis, como não podiam fazer as pessoas evisceradas por baionetas ou vistas pelas miras de armas de fogo. Diante dos canhões permanentemente fixos da Frente Ocidental estavam não homens, mas estatísticas — nem mesmo estatísticas reais, mas hipotéticas, como mostraram as “contagens de corpos” de baixas inimigas durante a guerra do Vietnã. Lá embaixo dos bombardeios aéreos estavam não as pessoas que iam ser queimadas e evisceradas, mas somente alvos. Rapazes delicados, que certamente não teriam desejado enfiar uma baioneta na barriga de uma jovem aldeã grávida, podiam com muito mais facilidade jogar altos explosivos sobre Londres ou Berlim, ou bombas nucleares sobre Nagasaki. Diligentes burocratas alemães, que certamente teriam achado repugnante tanger eles próprios judeus mortos de fome para abatedouros, podiam organizar os horários de trem para o abastecimento regular de comboios da morte para os campos de extermínio poloneses, com menos senso de envolvimento pessoal. As maiores crueldades do nosso século foram as crueldades impessoais decididas à distância, de sistema e rotina, sobretudo quando podiam ser justificadas como “lamentáveis necessidades operacionais”. HOBSBAWN, Eric. Era dos extremos: o breve século XX. São Paulo: Companhia das Letras, 2005, pp. 55-7. 1. [0,3] Segundo o texto, o número de mortos na Primeira Guerra Mundial, ainda que menor, foi mais impactante do que na Segunda. Explique, com base no texto, por que isso ocorreu. Segundo o autor, os 10 milhões de mortos da 1ª GM causaram um impacto muito maior do que os 54 milhões da 2ª GM porque o mundo jamais havia presenciado tamanho massacre em um conflito armado antes. 2. [0,3] Eric Hobsbawn afirma que no século XX houve a “democratização da guerra”. Essa expressão utilizada pelo autor aponta para um aspecto positivo ou negativo a respeito dos conflitos armados do século passado? Explique. Aponta para um aspecto negativo. O termo “democrático” aponta que as “guerras populares” do século XX usaram a população civil tanto como alvo estratégico de ataques quanto como agentes de “demonização” do inimigo, aumentando o número de mortos. 3. [0,3] Para o autor, um dos sentimentos mais marcantes de todo o século XX foi a “desumanização”. Explique o que Hobsbawn quer dizer com “desumanização” da guerra. Acrescente, em sua resposta, dois exemplos ilustrativos (contidos no texto) desse processo. Justifique esses exemplos. A demonização ou impessoalidade constitui uma consequência do uso da tecnologia. As decisões são tomadas à distância e os homens envolvidos passam a ser vistos como meros alvos. São exemplos a facilidade com que pessoas eram mortas em bombardeios e a condução, à distância, de judeus para campos de concentração. Essas ações foram, muitas vezes, comandadas por pessoas que teriam repulsa em encarar a morte de frente. Não se tratou, portanto, de uma guerra que opôs homens frente a frente. 4. [0,3] Explique, segundo o contexto, com que intenção se usaram as aspas no trecho “lamentáveis necessidades operacionais”. Aas aspas foram usadas para reproduzir o discurso geralmente empregado pelos condutores da guerra para justificarem as mortes de inocentes. 5. [0,3] Releia: Diligentes burocratas alemães, que certamente teriam achado repugnante tanger eles próprios judeus mortos de fome para abatedouros, podiam organizar os horários de trem para o abastecimento regular de comboios da morte para os campos de extermínio poloneses, com menos senso de envolvimento pessoal. Nesse trecho, de maneira conotativa, o autor se vale de expressões que indicam a maneira como os judeus eram conduzidos para os campos de extermínio. Explique que tipo de analogia o trecho pretende criar (considerando, em especial, as três palavras grifadas) para ilustrar esse episódio da guerra. O autor cria uma clara analogia entre a maneira como judeus eram conduzidos para os campos de concentração e a maneira como animais, notadamente o gado, são conduzidos para abatedouros. A notícia abaixo serve de base para responder à próxima questão. No primeiro protesto em São Paulo depois da morte do cinegrafista Santiago Andrade, cerca de 120 manifestantes foram detidos no segundo protesto contra a Copa do Mundo deste ano em São Paulo. A Polícia Militar cercou a praça da República antes do protesto com um grande efetivo. No caminho para a estação Anhangabaú, a PM reprimiu quem protestava com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha. Os manifestantes foram levados a diferentes distritos policiais. Carta Capital, 22/02/2014 6. [0,4] Existe um trecho da notícia acima que, devido a sua posição, cria uma ambiguidade no texto. Explicite de que trecho se trata e explique a ambiguidade. O trecho em que ocorreu ambiguidade foi “a PM reprimiu quem protestava com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha”. Nesse trecho, é possível entender que a PM utilizou gás lacrimogêneo e balas de borracha para conter os manifestantes ou que a PM conteve manifestantes que usavam gás lacrimogêneo e balas de borracha. 7. (UNICAMP/2013) Leia a propaganda (adaptada) da Fundação SOS Mata Atlântica reproduzida abaixo e responda à questão proposta. Vai lavar as mãos para o abandono da Mata Atlântica? Há no texto uma expressão de duplo sentido sobre a qual o apelo da propaganda é construído. Transcreva tal expressão e explique os dois sentidos que ela pode ter. [0,3] A expressão é “lavar as mãos”. Ela pode ser entendida no sentido denotativo, como o ato de higienizar as mãos, ou no sentido conotativo, com a noção de não se importar com as consequências de algo. 8. (FUVEST/2013) Leia o texto. DITADURA / DEMOCRACIA A diferença entre uma democracia e um país totalitário é que numa democracia todo mundo reclama, ninguém vive satisfeito. Mas se você perguntar a qualquer cidadão de uma ditadura o que ele acha do seu país, ele responde sem hesitação: “Não posso me queixar”. Millôr Fernandes. Millôr definitivo: a bíblia do caos. Para produzir o efeito que o caracteriza, esse tipo de texto emprega o recurso da ambiguidade? Justifique sua resposta. [0,3] Sim, a ambiguidade é empregada intencionalmente no trecho “não posso me queixar”. A frase pode significar que o indivíduo não está autorizado a se queixar (seria punido se o fizesse) ou que ele não tem de que se queixar, pois não há pontos negativos em seu país.