WENY LARA DOS SANTOS OLIVEIRA PRÁTICAS DESPORTIVAS ESCOLARES: UMA PROPOSTA DO ENSINO DE VOLEIBOL PARA ALUNOS SURDOS Artigo apresentado ao Programa de Pós Graduação Lato Sensu em Língua Brasileira de Sinais - Libras da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do certificado de Especialista em Libras. Orientador: MSc. Olga Cristina Rocha de Freitas Brasília 2014 Artigo de autoria de Weny Lara dos Santos Oliveira, intitulada “PRÁTICAS DESPORTIVAS ESCOLARES: UMA PROPOSTA DO ENSINO DE VOLEIBOL PARA ALUNOS SURDOS”, apresentada como requisito parcial para obtenção do certificado de Especialista em Língua Brasileira de Sinais - Libras da Universidade Católica de Brasília em 27 de novembro de 2014 defendida e aprovada pela banca examinadora abaixo assinada: Profª. MSc. Olga Cristina Rocha de Freitas Orientador Libras – UCB Profª. Esp. Valícia Ferreira Gomes Examinador Libras – UCB Brasília 2014 WENY LARA DOS SANTOS OLIVEIRA PRÁTICAS DESPORTIVAS ESCOLARES: UMA PROPOSTA DO ENSINO DE VOLEIBOL PARA ALUNOS SURDOS Resumo Considera-se pessoa surda o indivíduo que tem perda auditiva, que percebe e entende o mundo através das experiências visuais e que possui sua própria cultura, principalmente pelo modo que se comunica, já que possui sua própria língua, a Língua Brasileira de Sinais Libras. A partir disto, é necessário que sejam desenvolvidas propostas no contexto educacional, considerando suas experiências visuais, que atendam suas especificidades e que sejam adaptadas da maneira mais adequada à aprendizagem, a partir de metodologias de ensino. Sendo assim, a presente pesquisa é um experimento longitudinal qualitativo que analisou uma amostra de 27 alunos do Ensino Médio que estão na faixa etária de 17 a 22 anos pertencentes a uma escola pública de Taguatinga - DF, sendo 14 alunos expostos as adaptações e recursos visuais, momentos antes de uma aula de voleibol e 13 alunos que não sofreram adaptações para que realizassem essa aula. Com o objetivo de desenvolver uma metodologia dentro do esporte citado, com adaptações que atendam as especificidades de alunos surdos para melhor aprendizado deste esporte. Ao término do presente estudo pode-se afirmar que a metodologia de ensino sugerida e desenvolvida feita a partir de recursos visuais dentro do esporte voleibol atendeu de forma satisfatória o objetivo, pois foram recursos que facilitaram a aprendizagem e organização do jogo nitidamente em relação ao grupo que não sofreu adaptações visuais. Palavras Chaves: Práticas desportivas. Alunos surdos. Voleibol. Recursos visuais. INTRODUÇÃO Este estudo realizou-se pois existem poucas pesquisas que ligam a Educação Física com a Cultura surda, considerando as percepções visuais dos surdos quando ao ensino desta disciplina. De acordo com o Decreto n° 5.626/05, artigo 2°, considera-se pessoa surda o indivíduo que tem perda auditiva, que percebe e entende o mundo através das experiências visuais e que possui sua própria cultura, principalmente pelo modo que se comunica, já que possui sua própria língua, a Língua Brasileira de Sinais - Libras. Pessoas surdas encaram algumas limitações iniciais por conta de sua deficiência, a princípio, quando criança, a aquisição da língua oral é a mais complicada delas, já que a audição é essencial para a fala. Diante disto é possível imaginar, então, a dificuldade de comunicação que os surdos têm, a primeiro momento com a mãe e família e a partir daí aparecem dificuldades para a inclusão e integração dos surdos, fazendo com que suas experiências psicológicas e sociais sejam defasadas. A surdez, então, atinge apenas o aparelho auditivo, não afetando a parte motora da criança, a não ser que tenham outros comprometimentos. (FILHA, s/d) Pensando em trabalhos de desenvolvimento motor dentro de um ambiente educacional, é importante que a proposta de projetos façam sentido tanto para alunos ouvintes como para alunos surdos, desta maneira as aulas de Educação Física se tornam interessantes e estimuladoras, explorando o pensar dos alunos e suas capacidades em todos os sentidos. Com a presença de profissionais adequados que entendam e atendam a especificidade destes alunos surdos e principalmente suas percepções visuais é possível que a atividade física escolar seja prazerosa proporcionando o desenvolvimento motor e aptidão física para a qualidade de vida para qualquer cidadão. (COSTA et al, 2013) Mas não são aspectos só motores, os aspectos afetivos, cognitivos, sociais e psicomotores são pontos que a Educação Física escolar também procura desenvolver. Mas para que esses objetivos sejam alcançados por todos é necessário que os alunos sejam inclusos nas aulas de forma igualitária com os demais alunos, sem que haja discriminação. Porém, para ter êxito em uma tarefa não significa que os alunos deverão cumprir da maneira imposta pelo professor e sim que desenvolvam da maneira mais adequada à sua aprendizagem e ao desenvolvimento individual, a partir de metodologias de ensino que atendam as especificidades do aluno surdo. (CASAROTTO, 2012) Martins (s/d), completa afirmando que, o esporte alcança seus objetivos e benefícios se a metodologia for adequada aos deficientes com recursos e adaptações necessárias para um aprendizado de qualidade, caso contrário poderá acarretar ao isolamento desde indivíduo, podendo dar mais espaço para a discriminação. A prática desportiva dentro das escolas para alunos surdos é um modo de caminhar para a igualdade social e assim, também, alcançar objetivos ligados a ela. (SOUZA, s/d). Este estudo foi desenvolvido, pois alunos surdos são inclusos em turmas de alunos ouvintes e são ensinados da mesma forma, por professores ouvintes que não são qualificados para atender alunos surdos com suas especificidades. Portanto, o objetivo deste estudo foi desenvolver uma metodologia dentro do esporte voleibol com adaptações que atendam as especificidades de alunos surdos para melhor aprendizado deste esporte. REFERENCIAL TEÓRICO O Decreto 5.626/05 artigo 2º, a pessoa surda tem perda auditiva, compreende e interage com o mundo por meio de experiências visuais, manifestando sua cultura, principalmente pelo modo de se comunicar, que é feita através da Língua Brasileira de Sinais – Libras. De acordo com a Lei 10.436/02 parágrafo único a Libras é, “a forma de comunicação e expressão, um sistema linguístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, constituem um sistema linguístico de transmissão de ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil”. O Decreto 5.626/05 que regulamenta a Lei 10.436/02 afirma ainda que, uma pessoa com deficiência auditiva é aquela que tem perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais. Ramos (s/d) citando Feneis afirma que a Libras, que é a língua materna dos surdos, é uma língua de característica gestual-visual, pois sua comunicação é entendida através de movimentos gestuais e expressões faciais e corporais que são percebidos pela visão. Além disso, a gramática da Libras também é diferente da língua portuguesa, língua esta que é a segunda língua dos surdos, utilizada de maneira escrita, por este motivo os surdos são classificados como bilíngues. Sabendo disso e pensando em um surdo na fase escolar pode-se refletir sobre algumas dificuldades que são enfrentadas por eles no contexto escolar, primeiramente porque a Libras é sua primeira língua e poucos profissionais da educação tem conhecimento, a partir disso já são desencadeados diversos outros fatores que podem prejudicar o desenvolvimento do aluno surdo. A atividade ou exercício físico é qualquer ação que consequentemente provoque gasto de energia e que coloque em movimento o corpo, o emocional e o psíquico cada um a sua maneira, podendo ser realizada de forma planejada e organizada ou espontânea e involuntária e sendo trabalhada de forma adaptada para os surdos pode ser um fator que ajudará no desenvolvimento escolar e social. Santos (2011) afirma que a Educação Física quando praticado pelos alunos surdos os possibilitam trabalhar a consciência corporal e a desenvolver suas habilidades motoras, benefícios estes que também são proporcionados aos indivíduos ditos “normais”, já que o desenvolvimento motor de ambos são equiparados, uma vez que, a surdez de uma forma isolada não interfere na parte motora do indivíduo. Caso o professor não trabalhe com esses dois tipos de aluno de forma satisfatória e igualitária os surdos podem sofrer atrasos nas habilidades motoras. Santos citando Bueno e Resa (1995) completa afirmando que as atividades, no âmbito da Educação Física, com esses dois públicos de alunos devem ser voltadas para a corporeidade, equilíbrio, lateralidade, coordenação motora, espaço-temporal, organização, qualidades físicas básicas e socialização, estimulando ainda a autoestima. Entrando mais no tema específico deste artigo, sobre o voleibol na Educação Física escolar, Tworkowski e Loureiro (s/d) afirmam que além da saúde e qualidade de vida que a atividade física proporciona aos alunos e indivíduos que a praticam, o esporte voleibol possui enormes características e benefícios, tais como, interação e sociabilização dos indivíduos por ser um esporte coletivo, aquisição de habilidades motoras, desenvolvimento da aptidão física e das potencialidades físicas, contribui para o desenvolvimento afetivo, social e cognitivo, estimula a alegria, motivação e satisfação, através da aprendizagem pelo movimento, além de melhorar as capacidades perceptivo-motora. Os autores destacam ainda que, além destes benefícios já citados, o voleibol aprimora a concentração dos alunos, o que pode contribuir para as outras disciplinas estudadas em sala de aula, reconhecendo assim o voleibol como um fator importante no processo de ensinoaprendizagem. Diante das reflexões desses autores, pode-se observar que através da atividade física em geral e especificamente através do voleibol na Educação Física escolar é possível proporcionar diversos benefícios em um só jogo, trabalhando também a inclusão, neste caso, de alunos surdos, que poderão jogar de forma igualitária com os demais alunos, sendo necessário apenas que algumas adaptações na mediação sejam feitas para melhor atender suas especificidades, como professor bilíngue para ministrar a aula de uma forma mais completa, utilizando os recursos visuais necessários, inclusive demonstrando e explicando as posturas corporais para que os fundamentos do voleibol sejam realizados mais corretamente. O esporte adaptado para deficientes teve origem no começo do século XX, a partir daí começou a ser usado como uma ferramenta importante para a promoção da inclusão social, desenvolvendo as habilidades físicas e motoras das pessoas que possuem algum tipo de deficiência, tornando-as mais independentes para realizarem tarefas diárias e aumentando a autoestima. (BENITES, 2012) Além de proporcionar todos os benefícios para o bem estar e qualidade de vida como qualquer esporte proporciona, a prática de atividades desportivas para pessoas com deficiência também é aberta para que seus próprios limites e potencialidades sejam alcançados. (CARDOSO, 2011) Mas, para que a inclusão seja feita de modo satisfatório é de extrema necessidade que o professor conduza suas aulas de forma correta, pois possuem um papel importante e decisivo no processo de aprendizagem dos alunos, e dependendo de sua atuação podem construir um auxílio ou um obstáculo diante de seus alunos com relação à inclusão. (CARVALHO, 2011) Sendo assim, para que o papel do professor seja satisfatório, o professor de Educação Física pode trabalhar práticas que desenvolvam a aprendizagem cognitiva, social e cultural dos alunos. Para tanto é interessante que as aulas sejam planejadas de forma que sejam variadas e diversificadas aproveitando quaisquer esporte coletivo dentro das aulas de educação Física, como também lutas, dança, ginástica, dentre outros; proporcionando assim a inclusão de todos os alunos. (GÓES [et al] 2012) Vidal (2010) apud (1994) afirma que a deficiência auditiva de nada interfere no desenvolvimento dos aspectos físicos e motores da pessoa surda. Vidal (2010) completa afirmando que um programa de atividade para pessoa surda basicamente não difere de um programa para pessoas ouvintes, por esse motivo então o desenvolvimento motor de uma criança surda normalmente segue os padrões comuns. Portanto, não há nenhuma restrição a prática de atividades físicas para pessoas surdas. Para a prática de esportes não são necessárias muitas adaptações na forma de ensinar, conduzir a aula ou arbitrar assim como também não há necessidade de fazer adaptações nas regras de qualquer modalidade. Mas para que as especificidades das pessoas surdas sejam atendidas, alguns pontos devem ser tratados com atenção e essas estratégias são basicamente substituir os sinais sonoros por sinais visuais (bandeiras e luzes), utilizar figuras que podem indicar o movimento a ser feito ou até mesmo um código indicando algo relacionado a aula, o professor também pode demonstrar o movimento e ação ou até mesmo os próprios alunos, se necessário for. Na ausência de um sentido, as pessoas com deficiência, involuntariamente, desenvolvem de forma mais intensa outros sentidos, para que possam suprir, de certa forma, a sua deficiência. Sendo assim, os surdos possuem a visão bem aguçada. Por este motivo, todos os recursos auditivos são adaptados para visuais quando se tem os surdos como público, é o caso, por exemplo, da campainha, pois seu sinal sonoro pode ser substituído por sinais luminosos, desta maneira o mesmo objetivo é alcançado. Bataglin (2012) apud Stroblel (2008) diz que é possível que o sujeito surdo entenda e modifique tudo o que existe a sua volta tornando acessível e habitável, ajustando-o com suas percepções visuais. Bataglin completa afirmando que através dessas percepções visuais os sujeitos surdos conseguem expressar seus valores, suas crenças e seus modos de entender as coisas. E, pertencentes a esta cultura os surdos se sentem mais independentes, entendem-se como sujeitos diferentes que possuem língua, costumes, bens culturais e maneiras expressivas diferentes e tudo isso se dá através dos artefatos que os ensinam e que os causam experiência, ajudando no processo de sua identidade surda. Sendo assim, os surdos compreendem que são sujeitos que veem o mundo e o entende através da visão, que é algo fundamental, pois é o meio pelo qual se comunicam e se expressam, conseguindo significar o mundo em que vivem, entendendo-o através da visão. (Bataglin, 2012) Pensando na característica das percepções visuais que os surdos possuem e no voleibol como prática na Educação Física Escolar para alunos surdos, os sinais sonoros do apito emitidos pelo professor indicando algo sobre o jogo podem ser adaptados para os recursos visuais, no caso serão utilizadas bandeiras que ao serem levantadas indicará que o jogo precisa ser interrompido, alcançando os mesmos objetivos caso os sinais fossem sonoros. MATERIAIS E MÉTODOS População Alunos regularmente matriculados nas escolas pertencentes à rede pública de ensino da cidade satélite de Taguatinga-DF. Amostra Trata-se de um experimento longitudinal qualitativo no primeiro e segundo semestre de 2014, com 27 alunos de ambos os sexos, com idade entre 17 e 22 anos, estudantes do 1°, 2° e 3° anos do Ensino Médio da Escola Bilíngue de Taguatinga, cidade satélite do Distrito Federal. Metodologia Foram aplicadas adaptações com recursos visuais no ensino do voleibol, nas aulas de Educação Física como proposta de ensino desta atividade para indivíduos pertencentes à cultura surda, para tanto foram utilizadas placas ilustrativas e demonstrações corporais para o ensino das posições do voleibol e bandeira colorida que substituiu os sinais sonoros utilizados pelo professor. Ao final da aula foram aplicados questionários com perguntas específicas sobre a importância dos recursos utilizados na atividade desenvolvida. O critério usado para seleção dos estudantes para a execução dessas atividades é que todos fossem surdos. Procedimentos Os experiências foram realizados mediante apresentação do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE, assinado pelos pais e/ou responsáveis. Os alunos durante a execução das atividades foram também acompanhados pelo professor responsável pela turma, a não apresentação do TCLE foi utilizado como critério de exclusão das amostras. Para a realização da pesquisa a amostra foi dividida em dois grupos: Grupo 1 - ao iniciar a aula foi feito uma revisão para retomada de tudo o que os alunos aprenderam referente ao voleibol em suas aulas de Educação Física ou fora delas, para que as regras fossem relembradas e melhor compreendidas. Para isso foi usado placas ilustrativas para relembrar as infrações, e demonstrações corporais para relembrar os fundamentos do voleibol. Também foi utilizada uma bandeira da cor vermelha que substituiu os sinais sonoros e que foi levantada nos momentos que a partida foi autorizada a algum ato ou interrompida por alguma infração, a utilização da bandeira se deu por motivos diferentes que foram arbitrados ao decorrer da partida, que puderam ser para a autorização do início da partida, que é feita através do saque sem tocar os pés na linha de fundo, toque na rede, dois toques seguidos na bola, toque da bola ao solo, erro de rodízio, quatro toques seguidos pela mesma equipe e qualquer outra ação que era de conhecimento básico da turma em relação ao voleibol. Momentos antes da partida foi aberto um espaço para que as equipes se organizassem e montassem estratégias de jogo que julgaram necessárias. Grupo 2 – para esse grupo de alunos não foram feitas demonstrações, adaptações visuais, revisão e utilização da bandeira, e, mesmo assim o jogo foi arbitrado de acordo com as regras julgadas no grupo 1. Foram organizadas 4 (quatro) equipes com 6 (seis) componentes, assim como no jogo de voleibol oficial, de acordo com o número de alunos presentes - 14 e 13 alunos nos grupos 1 e 2 respectivamente - fazendo substituições ao longo dos jogos, que aconteceram até o 15° ponto. Cada equipe possuiu apenas alunos surdos. Sendo assim, o jogo foi arbitrado apenas com os recursos visuais para o grupo 1 e sem recursos para o grupo 2. Ao término das duas aulas foram aplicados questionários para os dois grupos, com perguntas específicas sobre a importância e a falta de recursos visuais para os surdos na aula de voleibol. RESULTADOS E DISCUSSÕES Para o Grupo 1 (n=14) formado por alunos do 3º ano, a parte teórica dada em sala de aula com explicações e recursos visuais fez com que a aula fosse mais dinâmica, onde os alunos participaram mais, pois estavam sendo instigados através dos recursos utilizados e das perguntas feitas a partir do material exposto. Já tomados conhecimento sobre como o jogo seria conduzido a partir do material feito, o jogo aconteceu de forma organizada e clara, onde os próprios alunos já sabiam o que deveria ser feito em determinado momento ou a infração que teria acontecido. Porém, os fundamentos devem ser mais bem trabalhados para que o jogo em si possa ser desenvolvido mais satisfatoriamente. De acordo com o questionário aplicado e com as opiniões dadas após a atividade, os alunos relataram que as adaptações visuais feitas são importantes para melhor compreensão do jogo, pois facilitam o conteúdo da forma que atendem suas especificidades como sujeito surdo. Para o Grupo 2 (n=13) formado por alunos do 1° e 2° anos, onde os alunos não tiveram nenhuma explicação no momento que antecedeu a atividade, o jogo foi desorganizado, com desconhecimento nítido de algumas regras, resultado que foi inferior ao do grupo 1. Porém, pareciam ter mais conhecimentos sobre os fundamentos e isso fazia com que o jogo em si fosse mais movimentado, nesse quesito o desempenho do grupo 2 foi mais satisfatório em relação do desempenho do grupo 1. Após essa aula também foi aplicado um questionário onde a maioria dos alunos acharam a organização do jogo complicada, já que não foi utilizado nenhum recurso que pudessem chamá-los a atenção. Posteriormente foi apresentado a eles todos os materiais de recursos visuais que havia sido explicado no grupo 1 e foi aberta uma discussão em sala para que todos pudessem interagir juntos. A opção da utilização dos recursos visuais, demonstrações corporais e explicações diversas foram aprovadas por todos os alunos deste grupo, afirmando que os ajudariam a se organizarem melhor entre si, a compreenderem melhor as regras e que a bandeira seria um facilitador entre a comunicação do árbitro e dos jogadores surdos. A partir do estudo realizado, pôde-se concluir que a utilização dos recursos visuais implica diretamente e positivamente no aprendizado dos alunos quanto as regras, facilitando a compreensão e organização de tal atividade. O que não aconteceu na turma dos alunos que não tiveram a utilização dos recursos utilizados, de forma que o rendimento foi inferior quando comparado ao primeiro grupo. Porém, o grupo sem recursos saiu melhor quanto aos fundamentos do jogo em si, o que não era o foco deste estudo, mas que podem ser pesquisados posteriormente. CONSIDERAÇÕES FINAIS Pôde-se concluir, ao término desta pesquisa, que a metodologia de ensino sugerida e desenvolvida dentro do esporte voleibol com as adaptações feitas a partir das especificidades dos sujeitos surdos atendeu de forma satisfatória o objetivo inicial, pois foram recursos que facilitaram a aprendizagem e organização do jogo nitidamente em relação ao grupo que não sofreu adaptações visuais. Diante do sujeito surdo como pertencente a uma cultura com experiências visuais é de grande importância que adaptações sejam feitas para o processo de ensino/aprendizagem desses alunos, não sendo uma estratégia restrita apenas a disciplina de Educação Física, mas como proposta para todo o contexto educacional durante toda a vida acadêmica. Esta pesquisa, como outras semelhantes, abrem janelas para que propostas de metodologia de ensino sejam revistas quanto as experiências visuais dos surdos, pois devem ser levadas em consideração, e que, a partir disto, trabalhos pedagógicos possam ser adaptados e organizados de modo que atendam esta especificidade. REFERÊNCIAS BATAGLIN, M. Experiência visual e arte: Elementos constituidores de subjetividades surdas. Rio Grande do Sul: Universidade Federal de Santa Maria, 2012. BRASIL, Decreto nº 5.626 de 2005. BRASIL, Lei n° 10.426/02, Lei de Libras. BENITES, M. O desafio da inclusão social. Jornal 106, 2012. CARDOSO, V. D. A reabilitação de pessoas com deficiência através do desporto adaptado. Portugal: Universidade do Porto, 2011. CARVALHO, M. S. F. As atitudes dos professores face à inclusão de alunos com deficiência – O contato com a deficiência. Lisboa: Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia, 2011. CASAROTTO, V. J. [et al]. Educação Física e o aluno surdo. 2012. COSTA, H. L. [et al]. A Inclusão de Deficientes Auditivos nas Aulas de Educação Física. Ceará: Universidade Federal do Cariri, 2013. FILHA, D. A. S. Atividades físicas para surdos. Instituto Nacional de Educação de Surdos (s/d). GÓES, F. T. [et al]. Os deficientes auditivos nas aulas de Educação Física: Repensando as possibilidades de atividades pedagógicas inclusivas. 2012. MARTINS, D. F. [et al]. O esporte como papel de uma reunião social (s/d). RAMOS, C.R. LIBRAS: A Língua de Sinais dos Surdos Brasileiros. Petrópolis: Arara Azul (s/d). SANTOS, E. C. G. Surdez e atividade física. 2011. SOUZA, J. C. P. Educação Integral do surdo através do esporte (s/d). TWORKOWSKI, C. [et al]. Voleibol e sua importância pedagógica nas aulas de Educação Física (s/d). VIDAL, M. H. C. Atividade física, deficiência e inclusão escolar. Niterói: 2010.