Rede Social como ferramenta de ensino-aprendizagem em sala de aula
Autoria: Maurício Reinert, Fernanda Gabriela de Andrade Coutinho, Marcelo Filippin,
Elisangela Domingues M. Natt, Bruna Fernanda da Costa Barbosa, Thiago Melo
Resumo
As oportunidades proporcionadas pela internet para o ensino são diversas. As discussões
sobre como elas podem ser aproveitadas estão apenas começando, mas o que já está claro é
que a internet veio para ficar e é uma ferramenta que não pode mais ser ignorada por
pesquisadores, professores e educadores (LEVY, 1999; COSTA, 1995). Dentro da internet as
redes sociais têm ganhado destaque (COSTA, 2005: RECUERO, 2009c). Elas deixaram de
ser apenas um espaço de lazer para se tornarem ferramentas profissionais (COMPETE, 2010;
CONEXÃO PROFESSOR, 2010). É a partir dessa realidade que nasce esse artigo. O objetivo
é descrever como uma ferramenta de redes sociais pode ser utilizada no ensino-aprendizagem
em Administração. Não se deseja propor um modelo didático-pedagógico para a utilização
das redes sociais na Universidade, mas apenas descrever uma experiência que vem sendo
realizada a mais de um ano e levantar reflexões a partir desse exemplo concreto. A pesquisa
foi realizada em uma universidade pública estadual no estado do Paraná durante o ano de
2009. Participaram da pesquisada duas turmas de Mestrado, uma no primeiro semestre e outra
no segundo, e duas de Graduação no segundo semestre. Foram coletados dados por meio de
observação participante e a partir da própria ferramenta de rede social utilizada e do Google
Analytics. Foi criada uma rede social utilizando a ferramenta NING, para a qual foram
convidados a ingressar os alunos das respectivas turmas. No decorrer de cada semestre os
alunos participaram de atividades em sala de aula, sendo essas complementadas por atividades
na rede social. A experiência é descrita e analisada. O artigo traz três principais contribuições
para a área de conhecimento. A primeira é apresentar um caso concreto de utilização de redes
sociais no ensino em Administração. Apesar de muitas discussões sobre as redes sociais,
ainda poucos são os casos apresentados sobre a sua utilização no dia-a-dia da universidade. A
segunda é apontar benefícios e problemas dessa utilização. Um dos benefícios identificados é
a interação entre os alunos, especialmente a possibilidade de que eles leiam os trabalhos uns
dos outros. A dificuldade dos alunos em utilizar a rede foi um dos problemas que não era
esperado. A literatura propaga que os jovens, por vivenciarem as redes sociais diariamente,
navegam com facilidade por ela. O que se identificou é que uma parte considerável dos alunos
precisou de explicações sobre a rede, ou seja, nem todos têm a mesma facilidade e vontade de
utilizar redes sociais. Por fim algumas reflexões são apresentadas. A utilização das redes
sociais precisa ser mais pesquisada. As redes não são panacéia, cuja utilização traz resultados
positivos só com a sua introdução na sala de aula. São ferramentas úteis, mas que, como
qualquer ferramenta, precisam ser utilizadas de maneira adequada. O seu uso nas disciplinas
depende muito do professor atuar como indutor do processo. Só assim é possível obter
resultados satisfatórios que venham a atender as expectativas de alunos.
1
Introdução
A internet traz para o ensino uma série de oportunidades, mas também muitos desafios
(MORAN, 2000; COSTA, 2005). As possibilidades de interatividade geradas pela internet
trazem a tona uma relação ensino-aprendizagem a muito desejada por professores e
pedagogos (FRÓES; PIRES, 2008). Levy (1999) levanta as possibilidades de mudança da
educação institucionalizada para uma de educação a partir da troca generalizada de saberes.
As Redes Sociais têm sido consideradas como uma das ferramentas que melhor desempenham
esse papel (COSTA, 2005: RECUERO, 2009c). Elas deixaram de ser apenas instrumentos de
lazer, para se tornarem ferramentas na área empresarial e acadêmica (COMPETE, 2010;
CONEXÃO PROFESSOR, 2010). Todavia essas oportunidades trazem consigo uma série de
desafios para professores e alunos, entre eles a necessidade de novas habilidades técnicas e
adaptação a essa nova linguagem para ambos, e a construção de uma nova forma de
relacionamento. É a partir da visão dessas oportunidades e desafios que surge o problema de
pesquisa que orientou esse trabalho: de que maneira uma ferramenta de redes sociais pode
ser utilizada no ensino-aprendizagem de administração?
Para responder ao problema proposto foi realizada uma pesquisa com duas turmas de
Mestrado e duas de Graduação em Administração. Nelas foi utilizada uma ferramenta para
criação de redes sociais, NING, como um Ambiente Virtual de Aprendizagem, no qual os
alunos realizavam atividades e acessavam material de aula. A pesquisa durou um semestre
para cada turma, sendo que no total foram pesquisados os dois semestres de 2009, no primeiro
uma turma de Mestrado e no segundo uma de Mestrado e duas de Graduação. O objetivo do
artigo é descrever como uma ferramenta de redes sociais pode ser utilizada no ensinoaprendizagem em Administração.
Este artigo faz três principais contribuições para as pesquisas e a prática na área de ensino em
Administração. Primeiro descreve a utilização de uma ferramenta de Redes Sociais em sala de
aula em disciplinas de Mestrado e Graduação em Administração. Segundo destaca pontos
positivos e negativos da utilização de Redes Sociais no ensino presencial. Por fim, são
levantadas algumas reflexões a partir de alguns achados da pesquisa. Ao apresentar um caso
concreto, alguns mitos, tais como, o da facilidade de interação do jovem na internet, começam
a ser postos em dúvida.
O artigo apresenta inicialmente um referencial teórico discutindo a relação internet, redes
sociais e ensino. Depois são descritos os procedimentos metodológicos. Por fim apresenta-se
a pesquisa empírica realizada com as decorrentes discussões e reflexões.
Ensino e Internet
Por muito tempo, o professor foi o principal responsável pelo ensino e ao aluno cabia apenas
aprender ou não os conteúdos ensinados. Desta forma, o aluno tinha uma posição passiva,
pois ele apenas recebia informações sem participar totalmente do processo (MORAN, 2000).
Este cenário, no entanto, vem sofrendo alterações relevantes que estão modificando as formas
de ensino-aprendizado. Para Moran (2000) as ferramentas utilizadas no aprendizado também
se multiplicaram e uma das alterações relevantes é a utilização da Internet como um novo
espaço para o desenvolvimento do ensino.
Segundo Masseto (2000), no ensino superior há uma concepção de valorizar a transmissão de
informações, experiências, técnicas para a formação de novos profissionais, mantendo um
método tradicional de ensino, onde os alunos demonstrem um comportamento esperado. No
entanto, é preciso repensar novas formas de mediar o processo de ensino e aprendizado, já que
2
a sociedade passa por diversas transformações e o ensino superior não pode estar alheio a
essas mudanças e precisa também passar por algumas modificações.
A mudança na educação ocorre por meio de uma transformação em um processo de
comunicação autêntica e aberta (MORAN, 2000), onde a relação professor-aluno se alterou,
proporcionando um trabalho mais participativo no sistema de ensino-aprendizado. “Ensinar e
aprender exigem hoje muito mais flexibilidade espaço-temporal, pessoal e de grupo, menos
conteúdos fixos e processos mais abertos de pesquisa e de comunicação” (MORAN, 2000,
p.29).
Nos estudos de educação, Piaget (1973) afirma que o conhecimento é construído pelo
indivíduo, e este se constitui sujeito do processo de aprendizagem. Já Vygotsky (REGO,
2008) considera que o desenvolvimento cognitivo ocorre dentro de um determinado contexto
social e que o indivíduo constrói conhecimento com a colaboração e interação com o
ambiente e com os seus pares. Vygotsky é conhecido como precursor da perspectiva
construtivista da aprendizagem, pois foi o primeiro a colocar a dimensão social como
elemento central no desenvolvimento (REGO, 2008). Dentro dessas abordagens pode-se dizer
que ambas contribuem para os estudos que envolvem ensino e informática, pois elas
enfatizam a construção do conhecimento numa visão que é individual e também social, mas
sempre vinculada a um contexto histórico e cultural.
A prática de uma pedagogia flexível busca fortalecer a autonomia do estudante em relação à
construção de conhecimento e incentiva o trabalho em grupo, a participação dos estudantes
nas decisões sobre os processos de aprendizagem e também, a diversificação das atividades de
ensino (FRÓES; PIRES, 2008). A mudança no processo de ensino-aprendizado depende de
diversos fatores, mudança da posição do professor, do aluno, das instituições e também das
ferramentas utilizadas nesse processo.
Moran (2000) defende a forma multimídica no processo de ensino-aprendizado, pois a
construção do conhecimento fica menos rígida, com conexões mais abertas, passando pelo
sensorial, emocional e racional e assim, cria-se uma organização provisória, que se modifica
com facilidade e que precisa de processamento múltiplo instantâneo e de respostas imediatas.
Para ele:
Aprendemos melhor quando vivenciamos, experimentamos, sentimos.
Aprendemos quando relacionamos, estabelecendo vínculos, laços, entre o
que estava solto, caótico, disperso, integrando-o em um novo contexto,
dando lhes significado, encontrando um novo sentido (MORAN, 2000,
p.23).
Na sociedade da informação a construção do conhecimento é diferente, já que o
processamento das informações ocorre de forma hipertextual, contando histórias e revelando
situações que se interconectam, são ampliadas e levam a novos significados relevantes, que
são inesperadas ou que podem ser diluídas em ramificações de significados secundários.
Assim, a construção é lógica e coerente e não segue uma trilha previsível e sequencial, mas
pode se ramificar em diferentes trilhas possíveis (MORAN, 2000). Concordando com essa
afirmação, Lévy (1993) afirma que a utilização da multimídia proporciona aos alunos uma
atitude exploratória que é possibilitada pela especificidade do hipertexto, a velocidade.
A grande questão da cibercultura (...) é a transição de uma educação e uma
formação estritamente institucionalizadas (a escola, a universidade) para
uma situação de troca generalizada dos saberes, o ensino da sociedade por
ela mesma, do reconhecimento autogerenciado, móvel e contextual das
competências (LÉVY, 1999, p. 172).
3
A utilização dos computadores para o ensino tem atingido diferentes aspectos da vida social,
tanto em casa, como na escola e na formação profissional. Mas é importante ressaltar,
segundo o autor, que a informática é apenas uma ferramenta utilizada para transmissão e
gestão da informação (LEVY, 1998). Kenski (2007) afirma que a utilização das tecnologias
na educação pode proporcionar a socialização da inovação, proporcionando novas mediações
entre o ensino do professor, o aprendizado dos alunos e os conteúdos abordados.
A mudança no processo de ensino-aprendizado sofre grande influência das novas Tecnologias
de Informação e Comunicação (TICs), que estão sendo incorporadas nas práticas pedagógicas
e contribuindo para a construção do saber. A utilização das TICs como apoio ao ensino
aumenta a motivação dos alunos para os estudos; para o interesse pela pesquisa e trabalhos em
grupos; e também aumenta a rede de contatos pessoais e profissionais (MORAN, 1997).
Segundo Järvelä (2006), as TICs podem aumentar a autenticidade e o interesse; podem
construir comunidades entre diferentes escolas, professores e grupos colaborativos; podem
ajudar a compartilhar perspectivas entre os estudantes com conhecimentos diferentes; podem
ainda, facilitar a utilização de modelos orientados de investigação e resolução de problemas
com suporte a tecnologia para melhorar a aprender a aprender; e por fim, podem oferecer
maneiras que possibilitam a interação em diferentes contextos de aprendizagem.
A interatividade possibilitada pelas novas TICs, e em particular pela Internet, pode despertar o
interesse do aluno em buscar suas próprias respostas, passando de uma postura passiva, de um
simples receptor de informações a uma postura ativa, em que participa da construção do
conhecimento e da decisão sobre seus itinerários formativos (FRÓES; PIRES, 2008). A
Internet trouxe um item fundamental para o processo de ensino-aprendizado que é a
interatividade. Deste modo, a utilização da Internet cria um ambiente de interação entre o
professor e o aluno, estabelecendo uma nova relação e possibilitando uma construção coletiva
de conhecimento.
Assim, a Internet favorece a construção cooperativa, o trabalho conjunto entre professores e
alunos, que estão próximos de forma física ou virtual (MORAN, 2000). Além disso, segundo
o autor, a Internet é uma mídia que facilita a motivação dos alunos, pela novidade e pelas
possibilidades inesgotáveis de pesquisa que oferece; possibilita a pesquisa individual, em que
cada aluno trabalhe no seu próprio ritmo, a pesquisa em grupo, em que se desenvolve a
aprendizagem colaborativa. “Outro resultado comum à maior parte dos projetos na Internet
confirma a riqueza de interações que surgem, os contatos virtuais, as amizades, as trocas
constantes com outros colegas, tanto por parte de professores como de alunos” (MORAN,
2000, p.54). Desta forma, a comunicação virtual permite interações espaço-temporais mais
livres com a adaptação em ritmos diferentes dos alunos; permite ainda novos contatos com
pessoas semelhantes, fisicamente distantes; e maior liberdade de expressão a distância
(MORAN, 2000).
A Internet ganhou força no universo acadêmico nos anos 1990, com a Educação à Distância
(EAD) que passou a utilizá-la como ferramenta que possibilitou maior rapidez e interação no
processo de ensino-aprendizado. A EAD é uma modalidade de ensino-aprendizagem,
caracterizada pela separação física entre professores e alunos e a existência de algum tipo de
tecnologia (como a Internet) possibilitando uma interação entre eles (TESTA; FREITAS,
2002). Mas não é apenas a EAD que se utiliza desse espaço virtual. Existem outras formas de
interação no processo de ensino-aprendizado que estão sendo utilizados pelo meio acadêmico
como e-mail, fóruns de debate, chat (MORAN, 2000) e mais recentemente redes sociais
(RECUERO, 2009), como orkut, facebook, blog, twitter, ning, entre outros. Esses novos
espaços possibilitam essa mudança na educação aqui discutida, pois abre novos caminhos
para o processo de ensino-aprendizado.
4
Redes Sociais na Internet
Segundo Cardozo (2008) e Recuero (2009c), redes sociais são representações de um conjunto
de participantes, já redes sociais virtuais são as relações entre os indivíduos mediadas por
computadores, ou seja, o computador é o veículo para a comunicação. Com isso, tais sistemas
de redes se limitam por meio das interações sociais, com o objetivo de conectar as pessoas,
propiciando sua comunicação e tecendo laços sociais.
A partir disso, vale destacar que em meio à evolução de novas tecnologias, bem como dos
novos agrupamentos sociais, das novas formas de conversação, de identificação e construção
do conteúdo individual, surgiram nos últimos anos às ferramentas sociais online. Conforme
afirma Recuero (2009b), o surgimento de tais ferramentas está focado no exercício da
sociabilidade, nas redes sociais e nos sites que suportam redes sociais. Os sistemas envolvidos
na evolução e crescimento das redes sociais virtuais compreendem desde processos
interacionais até as redes expressas através desses processos. Por meio dos processos
interacionais são construídas as redes sociais, que se moldam através das conversações
estabelecidas. Conforme a autora, esses sistemas possibilitam a identificação dos atores
sociais e suas conexões, que podem ser compreendidas como os laços estabelecidos e o
capital social.
De acordo com Aguiar (2007), os primeiros sites de relacionamento foram desenvolvidos por
volta da década de 1990, nos EUA. A referência para a construção desses sites estava
relacionada aos vínculos diretos que existiam entre colegas de classe e colégio e também em
vínculos indiretos, que ligavam os amigos de amigos e os conhecidos mais distantes. Segundo
afirma a autora, duas pesquisas inspiraram a criação desses sites: o experimento sobre o
mundo pequeno, de Stanley Milgram, realizada em 1967, que foi responsável pela idéia dos
seis graus de separação; e a pesquisa de Granovetter, sobre a força dos vínculos fracos.
A segunda geração dos sites de relacionamento surgiu a partir do ano de 2002, com o
Friendster, retratando um modelo baseado no círculo de amigos. Neste site os usuários
constroem seu perfil, que pode ser público ou semi-público, a partir de dados estruturados em
um formulário. Esses dados são associados ao perfil de amigos, amigos de amigos e
conhecidos que possuem algum tipo de proximidade ou identidade na vida real. O processo
ocorre mediante uma rede de hiperlinks que conectam cada uma das páginas individuais
(AGUIAR, 2007; RECUERO, 2009b).
O que se observa em relação à primeira e segunda geração dos sites de relacionamento é o
fato de que a segunda geração, em consequência da emergência de alguns movimentos sociais
e do maior acesso das pessoas à rede mundial de computadores, alcançou uma audiência de
massa. A propaganda espontânea, entre Técnicos do Vale do Silício e também das tribos
urbanas de Nova York, resultou em números como três milhões e trezentos mil usuários em
menos de um ano. Toda essa movimentação possibilitou o surgimentos de serviços
semelhantes e mais populares como MySpace, Facebook e Orkut (AGUIAR, 2007).
Esses sites, além de permitir a criação de um ator virtual, por meio da criação de um perfil ou
página pessoal, possibilitam a interação através de comentários, e postagens de diferentes
conteúdos, bem como a exposição pública da rede social de cada ator. Conforme Recuero
(2009b), esses sites refletem as estruturas sociais que foram construídas e modificadas pelos
atores através das ferramentas de comunicação que são disponibilizadas pelos sistemas, como
é o caso das próprias redes sociais.
Segundo Recuero (2009a), os sites e redes online estão aumentando o acesso aos recursos,
gerando e recriando novas formas de agregá-los. Tais redes proporcionam a seus atores acesso
5
a diferentes tipos de capital social que não lhes seria possível alcançar sob outras formas, pois
a facilidade de manutenção das conexões possibilitada pelas redes na internet proporciona a
seus usuários novas formas de apropriação do capital social. Aguiar (2007) afirma ainda que,
o ambiente comunicacional e informacional da Internet propiciam a emergência de novas
formas de relações interpessoais e interorganizacionais.
Essas ferramentas sociais compreendem processos interacionais que possibilitam a construção
de um perfil por meio de uma página pessoal, a interação por meio de comentários e a
exposição pública da rede social de cada autor (RECUERO, 2009a). Pelo fato de existir esse
espaço em que é possível observar a interação de pessoas e de grupos, nota-se, conforme
Ribas e Ziviani (2008), que a intensidade do fluxo de informação, na sociedade da
informação, provém em sua maior parte do surgimento das TICs no processo de produção e
desenvolvimento. Com isso, as mesmas autoras afirmam que as práticas sociais e culturais
foram modificadas em conseqüência de tal processo, promovendo, assim, novos desafios para
a sociedade. A partir dessa situação, se torna aceitável discutir que, essas novas relações
sociais junto a experiências virtuais emergentes possibilitam a aplicação de uma prática
interdisciplinar, ampliando, desta forma, o escopo de atuação das TCIs, em particular a
Internet.
A partir disso, é interessante observar que o conhecimento pode ser transferido pelas redes
sociais por meios virtuais, ou seja, estas redes funcionam como um instrumento na Internet,
uma vez que este veículo de comunicação utiliza as redes sociais como sendo uma das
principais formas de representação dos relacionamentos interpessoais e interorganizacionais
para transferência de conhecimento. Contudo, vale destacar que as interações virtuais são
mais complexas pelo fato da ausência física dos atores, o que torna importante a presença de
prudência no momento da utilização da ferramenta de análise de redes sociais na Internet,
principalmente quando for discutida a Internet como ambiente gerador de conhecimento.
Redes Sociais e Ensino em Administração
Em consequência da utilização da internet como ambiente gerador de conhecimento,
a utilização das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), fomentaram uma nova
modalidade de ensino denominada Educação a Distância (EAD). Nessa modalidade, a internet
é papel essencial na integração do aluno com os recursos disponíveis para o aprendizado.
Além disso, a Internet trouxe consigo um item fundamental para o processo de ensino e
aprendizagem a distância: a interação entre estudantes e instrutores ou professores (MORAN,
2000).
No que tange o ensino em Administração, a Educação à Distância ocorre por meio de recursos
tecnológicos (webmail, chat, fórum, pesquisa pela internet) e plataformas específicas
vinculadas a internet como o Moodle, por exemplo, onde o professor escolhe a melhor
maneira de dispor suas aulas e atividades acadêmicas. A sistemática do compartilhamento de
informações varia de acordo com a estratégia adotada pelo professor que pode disponibilizar o
material para o aluno na forma tradicional impressa ou arquivos digitais (páginas HTML,
PDF, Word, Power Ponint, Excel), além das vídeoaulas, teleconferência, videoconferência e
webconferência.
A partir do desenvolvimento dos meios de comunicação, principalmente com a utilização da
Internet, as relações sociais prescindem do espaço físico e do geográfico, já que elas ocorrem
independentes do tempo e/ou do espaço, onde as relações em uma rede refletem a realidade ao
seu redor e a influencia (TOMAÉL, et.al., 2005). Assim, segundo os autores, ocorre uma
interação constante que ocasiona mudanças estruturais com relação às interações em que a
6
troca é a informação, a mudança estrutural que pode ser percebida é a do conhecimento, ou
seja, quanto mais informações são trocadas com o ambiente e com os atores da nossa rede,
maior conhecimento pode ser adquirido e maior será o estoque de informação acumulada, e é
nesse poliedro de significados que estão inseridas as redes sociais (TOMAÉL, et.al., 2005).
Além da forma tradicional de Educação à Distância, as redes de aprendizado podem ser
consideradas ferramentas de apoio ao aprendizado via internet. As Redes de Aprendizado são
grupos de pessoas que usam a internet para comunicar e colaborar em vistas a construir e
compartilhar conhecimento. O maior avanço proporcionado pelas redes deve-se à
possibilidade que elas abrem para o aprendizado em rede - o que já acontece há mais tempo, e
com sucesso, em países como Japão e Inglaterra (REVISTA VEJA, 2010). No ambiente
virtual, os alunos podem debater, sob a supervisão de um professor, temas apresentados na
sala de aula e ainda, de casa, podem tirar dúvidas sobre por meio da discussão em fóruns e
chats.
As redes sociais possuem uma característica importante na relação ensino-aprendizado: a
colaboração entre os seus participantes. A maneira como os usuários trocam informações
acontece dentro de um ambiente virtual interativo, logo, essas novas tecnologias podem
contribuir significativamente para o ensino. O espaço em que as redes sociais se constituem e
se proliferam são inerentes à informação e ao conhecimento, já que são eles que movimentam
as redes, assim, a ideia de redes nas ciências sociais é aplicada à sociedade como um conjunto
de relações e funções desempenhado pelas pessoas umas em relação às outras (TOMAÉL,
et.al., 2005). No ambiente acadêmico, as redes estão sendo utilizadas como ferramenta
colaborativa no processo de ensino-aprendizagem, independentemente da área de
conhecimento, utilizando diferentes ferrramentas, como fóruns, chats, entre outros, para
facilitar a transmissão de novos conhecimentos.
A criação de comunidades virtuais para utilização no ambiente acadêmico vem crescendo e
uma das redes que tem aumentado sua participação nesse processo é o Ning. Esta rede pode
ser comparado a um AVA (Ambiente Virtual de Aprendizagem), devido às inúmeras
ferramentas que oferece, desde o tradicional fórum até a criação de blogs, postagem de
vídeos, fotos, áudio, etc (CONEXÃO PROFESSOR, 2010). O Ning merece destaque porque
possui determinadas funções e pode ser comparado às grandes redes de relacionamento. Sua
funcionalidade é apropriada para redes de relacionamento direcionadas, como por exemplo,
escolas, universidades, empresas, grupo de amigos, dentre outras nas quais as pessoas
frequentam ou fazem parte. Neste caso as pessoas podem ter uma rede social específica, com
interesses e relações próprias (NING, 2010).
Uma pesquisa recente realizada pela Competence (2010) apresenta o Ning entre as 25 redes
sociais mais acessadas conforme pode ser observado na Tabela 1 na próxima página. O
crescimento do Ning pode ser um reflexo do crescente número de internautas que vem
criando suas próprias redes sociais objetivando uma maior interatividade. Isso é possível
porque o Ning funciona como um banco de dados on-line além de proporcionar intercâmbio
de experiências audiovisuais, por meio de textos, chats, fotos, vídeos dentre outros. Esse
ambiente permite troca de conhecimento por meio de discussões que podem ser realizadas nos
fóruns e chats, permite o compartilhamento de materiais e ainda, uma interação entre
diferentes pessoas de diversas áreas de conhecimento, que podem ser convidadas a
participarem da rede.
7
Posição Atual
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
Rede Social
facebook.com
myspace.com
twitter.com
fixter.com
linkedin.com
tagged.com
classmates.com
myyearbook.com
livejournal.com
imeem.com
reunion.com
ning.com
blackplanet.com
bebo.com
hi5.com
yuku.com
cafemom.com
friendster.com
xanga.com
360.yahoo.com
orkut.com
urbanchat.com
fubar.com
asiantown.net
tickle.com
Visita/Usuário
68.557.534
58.555.800
5.979.052
7.645.423
11.274.160
4.448.915
17.296.524
3.312.898
4.720.720
9.047.491
13.704.990
5.673.549
1.530.329
2.997.929
2.398.323
1.317.551
1.647.336
1.568.439
1.831.376
1.499.057
494.464
329.041
452.090
81.245
96.155
Total Visitas/Mês
1.191.373.339
810.153.536
54.218.731
53.389.974
42.744.438
39.630.927
35.219.210
33.121.821
25.221.354
22.993.608
20.278.100
19.511.682
10.173.342
9.849.137
9.416.265
9.358.966
8.586.261
7.279.050
7.009.577
5.199.702
5.081.235
2.961.250
2.170.315
1.118.245
109.492
Posição anterior
2
1
22
16
9
10
3
4
6
13
11
23
7
5
8
21
19
14
20
12
15
24
17
25
18
Tabela 1: Redes Sociais mais acessadas
Fonte: Compete (2010)
Procedimentos Metodológicos
Serão apresentados agora os procedimentos metodológicos utilizados nessa pesquisa. A
pesquisa foi realizada durante o ano de 2009, primeiro e segundo semestres, em uma
Universidade Pública Estadual, com os alunos de Mestrado e Graduação do curso de
Administração. O pesquisador que coordenou a pesquisa era o professor das turmas objeto do
estudo. Foi criada uma rede com o seu nome, cujo principal objetivo era servir de ferramenta
de contato entre ele e seus alunos. Foram pesquisadas duas turmas de mestrado, entre as
quais uma era um tópico especial em que estavam matriculados 5 alunos, mas participavam
das aulas 8 alunos, a outra era uma disciplina regular do programa em que estavam
matriculados 9 alunos e participavam das aulas 14 . As outras duas turmas eram de graduação,
de uma mesma disciplina do último ano do curso, na qual estavam matriculados 43 alunos na
turma matutino, e 34 alunos na turma 31, noturno. Cada uma das disciplinas possuia um
grupo dentro da rede. O grupo funciona como a comunidade do Orkut, ou seja, é como um
subgrupo da rede. É por intermédio do grupo que são passadas informações e material da
disciplina.
Foram coletados dados primários e secundários. Os dados primários foram coletados por meio
de observação participante, pois o professor e alguns alunos, de Mestrado e Graduação, eram
alunos das disciplinas, e dados gerados a partir da análise da própria ferramenta, tais como, o
tempo de intervalo entre o convite e a entrada na rede e o grau de socialização dos
participantes. Além disso, foram coletados dados secundários por meio da ferramenta Google
Analytics que analisa a navegação de sites de internet. Foram analisadas as variáveis tempo
8
para a entrada, atualização de perfil (colocar foto e personalizar página), socialização
(convidar outros para ser amigo), bem como, variáveis que medem a navegação dos membros
na rede, tais como, taxa de rejeição (desinteresse pala página acessada) e tempo médio gasto
por página.
Resultados e Discussão
A presente pesquisa teve como foco de estudo o período das atividades letivas do primeiro
semestre de 2009, alunos de Mestrado, e segundo semestre de 2009, alunos do Mestrado e da
Graduação de uma Universidade Pública Estadual. Inicialmente é apresentado um histórico
da rede e feita uma descrição de todo o processo de utilização da ferramenta nas disciplinas.
São então apresentados os resultados dos alunos de Mestrado e dos de Graduação.
De maneira geral a internet já é utilizada pelos professores para o contato com seus alunos em
sala de aula, principalmente o e-mail. É comum que as turmas tenham um endereço eletrônico
da turma ou um aluno responsável para receber e-mails dos professores e repassar para os
demais alunos. Alguns professores utilizam ainda os grupos na internet, por exemplo, Yahoo
Groups, para fazer esse contato sem ser via e-mail. A idéia da utilização de uma rede social
como ferramenta para relacionamento com os alunos surgiu da conversa com outros
professores que também utilizavam algum tipo de ferramenta para contato com os alunos. Um
desses professores comentou que havia uma ferramenta que criava redes sociais, o NING.
Essas redes criadas poderiam ser fechadas, acessíveis apenas por convite, ou abertas, qualquer
pessoa poderia ter acesso a elas.
O professor já havia utilizado duas ferramentas criadas para ensino a distância em atividades
presenciais, TELEDUC e MODDLE, mas ambas são ferramentas que não são gerenciadas
pelos professores. Elas são utilizadas pelos professores, mas gerenciadas pelos outras pessoas,
o que limita a atuação, pois sempre existe um intermediário que precisa ser consultado ou
avisado de modificações necessárias. Além disso, essas plataformas dependem de
equipamentos e softwares, que apesar de serem livres, como por exemplo, o MODDLE,
precisam de habilidades específicas e conhecimento de informática para a sua utilização. Seria
necessário uma ferramenta mais amigável para facilitar a vida de professor, e que lhe desse
autonomia em relação a terceiros, possibilitando assim que ele, mesmo com poucos
conhecimentos específicos pudesse gerenciar a ferramenta. Outra preocupação é que a
ferramenta fosse amigável para os alunos, ou seja, que fosse algo mais próximo daquilo que
os alunos utilizam no dia-a-dia na internet. O NING pareceu atender essas demandas.
NING é uma plataforma online que permite a criação de redes sociais individualizadas. Cada
usuário pode criar a sua própria rede social e aderir a redes de usuários que partilhem os
mesmos interesses. Como todas as outras redes sociais na internet, qualquer rede que é criada
no NING permite criar perfis, trocar mensagens, vídeos, fotos, deixar mensagens nos perfis
dos amigos, entre outros. Estas funcionalidades são utilizadas pelos membros com o propósito
de personalizar seu perfil e possibilitando a eles a ampla socialização com os demais
membros da rede. Além disso, o NING oferece uma série de ferramentas para comunicação,
publicação de conteúdos e hospedagem de arquivos. Este conjunto de ferramentas é o que
permite aos professores e educadores realizarem suas atividades de maneira satisfatória
sempre mantendo o foco nos objetivos a que se propõe a criação da rede. A seguir, estão
descritas as principais funcionalidades da rede que foram utilizadas para execução das
atividades solicitadas no curso de Mestrado e da Graduação.
O Bate-papo permite que os membros visualizem quem está online no momento e conversem
em tempo real por meio do bate-papo que é exibido de forma persistente na parte inferior da
9
rede social ou abri-lo em uma nova janela. Esta ferramenta permite a conversação em tempo
real entre os membros no momento em que estivessem realizando as atividades. O Grupo
permite a criação de grupos para agrupar membros em determinados assuntos específicos para
o compartilhamento e troca de informações. O controle desta funcionalidade é realizado
apenas pelos administradores da rede e, portanto, o ingresso dos membros em cada grupo
criado depende exclusivamente do convite do administrador da rede ou da aceitação dos
convites solicitados por membros.O Fórum é uma das principais ferramentas da rede, pois
permite aos membros abrir tópicos acerca de um assunto de sua própria escolha. As
mensagens ficam ordenadas decrescentemente por data, da mesma forma que os tópicos ficam
ordenados pela data da última postagem. O membro possui liberdade para publicar mensagens
em tópicos abertos ao debate e respondê-los independentemente de quem os publicou. Como
os fóruns armazenam as mensagens, os participantes que acessam um tópico pela primeira vez
podem acompanhar mais facilmente a discussão assim evitando redundâncias e torna mais
eficientes as retomadas ao tema, tornando uma discussão com pausas como se fosse
ininterrupta. O Blog é outra ferramenta da rede que possibilita que cada participante
acrescente textos. As postagens são organizadas em ordem cronológica inversa, de forma que
as informações mais atualizadas aparecem primeiro. Diferente do Fórum que é um para todos
os membros, o Blog é individual por membro, ou seja, cada membro possui um Blog que
aparece na sua página pessoal. Existe uma página que mostra um resumo de todos os Blogs,
mas para ler o blog completo é o internauta é direcionado para a página pessoal do membro
que postou o texto. As postagens têm opção de comentários, podendo outros membros
comentarem a qualquer momento sobre os textos postados. É uma ferramenta de fundamental
importância para os propósitos da rede, pois permite a interação entre os membros,
respondendo ou opinando em relação aos artigos postados. Outra ferramenta é o Eventos, na
qual podem ser colocadas informações sobre eventos futuros. É uma boa ferramenta para
divulgação. Além disso, o administrador da rede pode modificar os nomes das guias ou
acrescentar novas guias caso queira. As novas guias permitem caixas de textos e comentários,
mas principalmente permitem o upload de arquivos. Cada membro tem também a opção de
colocar vídeos e fotos na sua página pessoal.
Como todas as redes sociais, o NING está em constante atualização. Novas ferramentas estão
disponíveis a cada momento. Ele é oferecido de graça, mas possui certas limitações e
comerciais aparecem o tempo inteiro na tela. É possível pagar pelos serviços e com isso ficar
livre dos comerciais e ainda ter mais autonomia de uso e espaço para armazenamento. É uma
ferramenta simples para se utilizar, mas com certos limites a flexibilidade da internet.
Visto que o objetivo da rede é o relacionamento com o aluno, algumas das ferramentas são
mais utilizadas que outras. Três delas se demonstraram bastante úteis, na perspectiva do
professor: a) Grupos; b) Blog; e c) Forúm. A formação dos grupos possibilita que para cada
turma ou disciplina sejam formados grupos fechados, aos quais somente têm acesso seus
respectivos alunos. Isso permite que o professor disponibilize materiais apenas para um grupo
determinado de alunos, e que outros membros da rede não tenham acesso a esse conteúdo.
Além disso, a ferramenta Grupos permite o envio de mensagens apenas para os membros do
grupo, o que facilita a comunicação com uma parte determinada da rede.
O Blog foi utilizado de duas maneiras. A primeira como um blog tradicional, no qual o
professor, e alguns poucos alunos, colocam textos e discussões que querem divulgar. Os
textos vão desde notícias de jornal até quadrinhos. A outra forma de utilização foi a postagem
de trabalhos, os quais em vez de serem entregues ao professor eram postados no blog de cada
um dos alunos, e ficam abertos para a leitura de todos. Dessa forma qualquer aluno pode ler o
trabalho dos outros alunos, o que possibilita um maior compartilhamento. Os alunos podem
também comentar os trabalhos dos colegas se quiserem.
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O Fórum também foi utilizado para a realização de trabalhos, especialmente quando esse
exigia uma discussão sobre um tema específico, e o que se queria era uma maior interação dos
alunos. Dois tipos de atividades utilizadas eram as respostas a perguntas sobre um
determinado tópico e a discussão de textos, nas quais eram pedidas as opiniões e o
posicionamento do aluno. Como o Fórum possibilita o upload de arquivos, ele foi utilizado
para disponibilizar material para os alunos, tais como textos, leituras e os arquivos das aulas.
As ferramentas Eventos e Bate-Papo não foram utilizadas. A primeira por ser mais específicas
para a divulgação de eventos e a segunda por demandar muito tempo, e já que as aulas eram
presenciais, o bate-papo ao vivo pareceu ser mais interessante. Não que essas ferramentas não
possam ser utilizadas, só que por escolha do professor, ele optou por não utilizá-las, e nenhum
dos alunos acabou fazendo uso delas também, apesar delas serem abertas a todos. Faz-se
agora a apresentação das análises realizadas em cada uma das turmas nas quais foram
realizadas as pesquisas.
Disciplinas do Mestrado
As atividades do Mestrado foram realizadas por meio da rede Ning nos dois semestres do ano
de 2009. Para cada disciplina foi aberto um grupo, no qual só participavam alunos das
referentes disciplinas por meio de convites feito pelo professor administrador da rede. No
primeiro semestre ocorreu a disciplina de Tópico Especial entre os dias de 24 de março de
2009 e 07 de julho de 2009. Já no segundo semestre entre os dias 11 de agosto de 2010 e 22
de dezembro de 2010 aconteceu uma disciplina Optativa. Os alunos deveriam interagir nos
fóruns onde eram postados textos e perguntas para serem respondidas nos blogs e
posteriormente discutidas em aula.
Esta pesquisa analisou as atividades realizadas nas duas disciplinas a partir do momento da
aceitação do convite feito pelo professor administrador da rede. Na disciplina de Tópico
Especial, o convite foi feito no dia 13 de março e na disciplina Optativa, no dia 28 de julho.
O grupo de Tópico Especial era composto por cinco alunos e a aceitação do convite para
participação na rede foi praticamente imediata por mais da metade grupo. Apenas dois alunos
aderiram ao grupo após cinco dias do convite. Todo o grupo atualizou seu perfil na rede, mas
um aluno não colocou foto.
Sobre a participação das atividades propostas pelo professor administrador, foram realizados
12 fóruns, porém não houve muitas contribuições, apenas dois alunos apresentaram
discussões, interagindo com o professor e demais participantes. Os dois alunos também
abriram discussões no fórum, mas não houve resposta. Com relação às respostas das
atividades, os alunos deveriam responder às perguntas do fórum, postando as respostas no
blog, com base nos textos das aulas. Das nove atividades solicitadas, as respostas nos blogs
apresentaram o seguinte resultado: um aluno teve 8 participações; dois alunos tiveram 7
participações e dois alunos 4 participações.
Com relação à socialização os alunos tiveram pouca comunicação com os demais
participantes, sendo que cada um obteve em média 7 amigos. Apenas dois alunos do grupo
tinham como amigos todos os participantes, os demais tinham amigos, mas relativos a outros
participantes da rede. Outra questão observada foi com relação às mensagens trocadas entre
os membros do grupo. Não houve quase interação, pois não trocaram muitas mensagens.
Tratando da frequência de participação, foi possível observar que a maioria das participações
na rede acontecia nos períodos próximos às aulas, quando os alunos deveriam realizar as
atividades solicitadas. Como a aula acontecia na terça-feira, uma maior participação ocorria
11
nos finais de semana. O tempo médio por página aumentava de 49 segundos durante a semana
para 4 minutos e 42 nos finais de semana.
O grupo da disciplina Optativa era composto por nove alunos e a aceitação dos convites para
participar da rede aconteceu de forma gradual, dois alunos aceitaram no mesmo dia, um
aderiu um dia depois do convite, outro dois dias depois, um sexto aluno após 5 dias, três
alunos aderiram após 14 dias e por fim o último após 27 dias. Este último caso ocorreu por
problemas do aluno com a operacionalização da rede. Todo o grupo atualizou seu perfil na
rede, e apenas um aluno não colocou foto. Com relação à participação nas atividades, foram
realizados 13 fóruns, mas também não houve muitas contribuições, apenas três alunos
apresentaram discussões, interagindo com o professor e todos os demais participantes, um dos
alunos também abriu discussão no fórum, mas quase não houve resposta dos participantes do
grupo.
Sobre as respostas das atividades, os alunos deveriam responder às perguntas do fórum,
postando as respostas no blog, com base nos textos enviados também pelo fórum. Das cinco
atividades solicitadas, as respostas nos blogs apresentaram o seguinte resultado: quatro alunos
tiverem 5 participações; um aluno teve 4 participações; dois alunos tiveram 3 participações e
apenas um aluno postou apenas uma participação.
Com relação à socialização, esse grupo apresentou maior interação entre os membros por
meio das mensagens trocada. No entanto, a média de amigos permaneceu em 7. Apenas um
aluno tinha todos os participantes do grupo como amigos.
Tratando da frequência de participação, foi possível observar que a maioria das participações
na rede também acontecia nos períodos próximos às aulas, nas quais os alunos deveriam
postar as atividades. Como a aula acontecia na terça-feira, o prazo para a postagem era até o
domingo interior a aula. Assim, verificou-se 50% do grupo fazia as postagens na data
determinada, sendo que o tempo médio que os participantes ficavam conectados na página era
de 44 segundos durante a semana, chegando à 5 minutos e 52 segundos final de semana.
Com o grupo de Tópico Especial foi possível notar que por ser a primeira disciplina a utilizar
o Ning, a adesão foi adequada, já que os participantes não conheciam o funcionamento da
rede e tiveram que se adaptar a essa nova modalidade de interação. Dessa forma, a
participação pode ser considerada satisfatória. Com relação ao grupo da disciplina Optativa
observou-se maior interação entre os membros, mais alterações de perfis, mais mensagens
trocadas, assim como maior adesão as atividades solicitadas. A participação também pode ser
considerada satisfatória, pois os alunos aderiram à rede e utilizaram mais as ferramentas
disponibilizadas pela mesma. Esse maior aproveitamento deve-se a experiência, visto que
pelo menos uma aluna que participou da primeira disciplina participou também da segunda.
Com a observação feita nos dois grupos foi possível avaliar que a interação proporcionada
pela rede possibilitou uma nova forma de comunicação e um novo espaço de aprendizado
para os alunos. Conforme Moran (1997) afirma, a utilização das TICs apoiando o ensino
aumenta a motivação dos alunos para os estudos; para a pesquisa e os trabalhos em grupos; e
também aumenta a rede de contatos pessoais e profissionais; como pode ser constato pela
adesão dos participantes ao aceitarem o convite e utilizarem as ferramentas da rede, como a
alteração do perfil; pelos novos contatos obtidos por meio da rede, assim como pela troca de
conhecimento por meio das discussões postadas nos blogs. Desta forma, percebe-se que por
meio desta rede ocorre uma interação constante que ocasiona mudanças estruturais com
relação às interações em que a troca é a informação, já que quanto mais informações são
trocadas com o ambiente e com os atores da rede, maior conhecimento pode ser adquirido e
maior será o estoque de informação acumulada (TOMAÉL, et.al., 2005).
12
Disciplina da graduação
As atividades da graduação foram realizadas no segundo semestre do ano de 2009. Os alunos
das duas turmas de uma mesma disciplina foram convidados e deveriam efetuar seu registro
na rede. Tais atividades seriam realizadas apenas utilizando as ferramentas da rede.
Para o início das análises referentes às atividades desenvolvidas, primeiramente avaliou-se
como ocorreu à entrada dos alunos na rede. Para que se possa ingressar na rede, é necessário o
recebimento de um convite enviado pelo administrador da rede. Neste caso, cada aluno
preencheu com seu endereço de e-mail uma lista contendo seu nome e um espaço para o
preenchimento do e-mail autorizando o envio do convite. Ao todo, foram enviados 79
convites para as duas turmas, 70 aceitaram o convite e ingressaram na rede. Os demais alunos
que não aceitaram o convite não participaram das atividades.
A frequência dos alunos que efetivaram seu registro na rede foi maior na primeira semana,
87% efetivaram seu registro entre o primeiro e o oitavo dia após receberem os convites, do
décimo ao vigésimo terceiro dia, 11% dos alunos efetivaram seu registro, e ao longo dos 18
(dezoito) dias restantes 2% realizaram seu registro. A novidade do uso da rede como um
instrumento de atividades externas à sala de aula gerou curiosidade entre os alunos, o que
explica a expressiva entrada da maioria dos alunos nos primeiros oito dias. Além disso, o
início das atividades na rede fez com que os alunos precisassem ingressar na rede.
Após a efetivação do registro de cada aluno na rede, foi solicitado que atualizar seu perfil,
mas que no mínimo, colocasse uma foto para que fosse possível a identificação de cada aluno
pelos demais membros. Atualizaram seu perfil conforme solicitado 77% dos alunos.
A socializacão dos alunos ocorreu voluntariamente. Eles foram adicionando amigos conforme
suas relações pessoais. Segundo Levy (1999), ainda que a rede tenha objetivos claros no que
diz respeito ao desenvolvimento de atividades fora das estruturas físicas da universidade, não
omite a essência que tornou as redes sociais um fenômeno na internet, que é a de
relacionamento social e troca entre seus membros. “Uma comunidade virtual é construída
sobre as afinidades de interesses, de conhecimentos, sobre projetos mútuos, em um processo
de cooperação ou de troca, tudo isso independentemente das proximidades geográficas e das
filiações institucionais” (LEVY, 1999, p127).
Pelo significado e sua importância nas redes, esta simples análise de socialização entre os
membros da rede foi considerada para este estudo a fim de identificar, mesmo que não
aprofundadamente, o nível de relações sociais desenvolvidos entre eles. O percentual de
membros da rede que voluntariamente adicionaram outros membros como amigos foi
significante, 80% dos membros identificaram e adicionaram amigos. Muitos dos membros
que não se socializaram, também não atualizaram seus perfis, indicando que praticamente não
participaram na rede, seja para com as atividades desenvolvidas, seja para com o
relacionamento e troca de conhecimento com demais membros. Cruzaram-se os dados
referente à atualização de perfil de todos os membros com a socialização. Verificou-se que
50% dos membros que não se socializaram também não atualizaram seu perfil. Os membros
que não se socializaram e não atualizaram seu perfil são apenas 10% do total de membros na
rede. Esses resultados indicam que a rede cumpriu com a característica essencial de uma rede
social, que segundo Levy (1999) é a de se socializar os membros e criar uma identidade para
cada um. A partir deste ponto, será analisado o desenvolvimento das atividades realizadas
pelos membros e o seu aproveitamento.
A primeira atividade desempenhada pelos alunos foi a elaboração de uma redação sobre um
tema específico. Foram estabelecidas datas limites de início e término para que a redação
fosse postada no blog da rede: a) início - 28 de agosto; e b) término - 07 de setembro. Como
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complemento, foi solicitado que cada aluno comentasse as redações dos outros alunos. A
maioria dos alunos, 79%, não comentou as outras redações.
Na segunda atividade, foi solicitado que os alunos que postassem uma notícia relacionada ao
tema da disciplina no seu blog e utilizassem a ferramenta de comentários para opinarem sobre
a notícia postada. Cada aluno tinha uma data específica para realizar a atividade. A maioria,
81%, dos alunos realizou a atividade solicitada. Como complemento à segunda atividade, foi
solicitado aos alunos que comentassem as notícias postadas por outros alunos da rede. Apenas
4% dos alunos realizaram a atividade complementar.
Foram analisadas variáveis sobre a navegação na rede. No período de 28 de agosto de 2009 a
09 de novembro de 2009, foram contabilizados 2.169 visitas a rede, totalizando uma média de
172,55 visitas semanais. Diariamente, foram contabilizadas 24,65 visitas. As visitas
compreendidas neste período não significam visitas únicas, ou seja, considera que diversos
alunos podem ter acessado a rede mais de uma vez no dia. Importa destacar que na primeira
semana ocorreu o maior volume de visitas de todo o período analisado. Acredita-se que este
pico foi causado pela novidade que a rede representou para os alunos, bem como, o tempo em
que os alunos levaram para se habituar às funcionalidades da rede. Certamente, a novidade da
realização da atividade utilizando uma rede social contribuiu consideravelmente para o
elevado número de visitas neste período.
A taxa de rejeição, que demonstra o desinteresse do visitante pela página atual, mostra que
nos períodos em que há atividades para serem desenvolvidas na rede, o nível de rejeição é
abaixo da média dos períodos em que não há atividades.
Existe uma característica positiva em relação as páginas que os alunos acessam em cada
visita. Em média, cada aluno acessa 9 páginas quando realiza uma visita, com picos de até
14 páginas por visita. Isto demonstra o interesse em se descobrir novos conteúdos e agregar
maior conhecimento em face ao que se está sendo discutido. Estes picos, que coincidem com
as datas limite de realização das tarefas, também refletem a busca por informações em outras
páginas a fim de se completá-las corretamente.
O tempo despendido nas páginas em cada visita é outra importante
medida de análise
de engajamento e preocupação com a participação nas atividades. O elevado tempo de 8
minutos em média que cada aluno permanece em uma determinada página, mostra o
interesse no que se está sendo visualizado e que, acompanhado da visualização de mais
páginas, permite-se chegar a outra análise. Considerando o tempo médio despendido de
8 minutos e o número médio de 9 páginas acessadas por visita na rede, pode-se compreender
que um aluno se mantém conectado em cada página da rede em média, 1 minuto e 7
segundos.
Com relação aos picos de visitação no grupo da disciplina que serve basicamente como
repositório de conteúdo ministrado em sala pelo professor, percebe-se grandes picos de
visitação
em
determinados
períodos,
qual
sejam,
período
de
avaliação em sala da aula. Compreende-se que o repositório de material do grupo serviu
justamente como um local em que os alunos acessaram para estudarem para as provas.
Por mais que se tenha a sensação de que o grupo foi utilizado apenas para esta finalidade, é
importante lembrar que com o uso da rede pelos alunos criou-se a ideia de
que ele servira como um local em que se centralizariam todos os materiais utilizados em sala
de aula, devidamente identificados e organizados, tornando-se uma fonte precisa de
informação na rede.
14
Considerações Finais
A experiência que foi descrita na pesquisa possibilita algumas reflexões a respeito do uso das
redes sociais como ferramenta para a sala de aula. A primeira reflexão é que existe uma
disponibilidade dos alunos em participar da rede, mesmo quando esses alunos inicialmente
encontram algumas dificuldades na sua utilização. Todas as turmas analisadas pediram algum
tipo de explicação de como deveriam utilizar a rede, chegando ao extremo de, em uma das
turmas de graduação, o professor utilizar parte de uma aula para entrar on-line na rede e
mostrar como se usa. Isso ocorreu mesmo com a utilização de uma ferramenta que tem uma
interface semelhante às redes sociais que praticamente todos os alunos utilizam, tais como
Orkut e Facebook.
Uma segunda reflexão refere-se à maior utilização da rede nos períodos de realização de
alguma atividade obrigatória ou perto das datas das provas. A rede não é uma panacéia que
por si só vai levar os alunos a se motivarem a estudar ou que vai fazer de professores
medíocres ótimos mestres. A rede é só mais uma ferramenta que pode trazer benefícios
dependendo da sua utilização. O professor precisa atuar como indutor do processo de geração
de conhecimento na rede.
Alguns benefícios da utilização da rede puderam ser percebidos nessa pesquisa. Um deles é a
possibilidade que os alunos têm de ler e interagir nas atividades dos outros alunos. Isso deixa
as atividades mais transparentes, e possibilita o aluno aprender com seus pares. Dentro de sala
era comum ouvir alguns comentários do tipo, “foi legal aquilo que você escreveu”. Lendo o
outro, o aluno aprende e aprimora o conhecimento a partir da interação.
Um benefício que não é imediato, mas é importante, é a possibilidade de guardar a história
das disciplinas e dos alunos na rede. Enquanto normalmente perde-se o contato com a maioria
dos alunos, na rede esse contato fica armazenado, e é possível retomá-lo no futuro. Essa
memória não é só do professor, mas dos alunos também.
Um dos maiores problemas da utilização da rede é o tempo que precisa ser destinado pelo
professor para o desenvolvimento das atividades. A rede só evolui se existirem incentivos a
sua utilização. Em uma rede social qualquer na internet, os temas e as afinidades fazem com
que a rede evolua. No caso da rede utilizada como ambiente de aprendizagem, faz-se
necessário um catalisador que mova a rede pra frente, e esse papel deve ser do professor.
Colocar textos, perguntar em sala sobre o que está na rede e comentar sobre o que os alunos
postaram são formas de incentivos, sem as quais a rede morre.
Por fim, mesmo que o nível de utilização pelos alunos não tenha se mostrado alto nessa
pesquisa, só a possibilidade de se criar mais um espaço de interação do professor com os
alunos e dos alunos entre si já é um benefícios que por si só vale a pena. Esses espaços geram
novas possibilidades de atividades e interação, as quais não podem ser desperdiçadas.
Futuras pesquisas poderiam investigar como os mecanismos de incentivos as participações
nas atividades funcionam e como eles podem ajudar na relação ensino-aprendizagem. Além
disso, tentar compreender quais as expectativas e percepções dos alunos em relação à rede,
tentando compreender a formação do significado para eles a partir da participação na rede.
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1 Rede Social como ferramenta de ensino-aprendizagem