“Recebi mensagens de pais que também perderam seus filhos” JOSÉ RUY GANDRA Desde que, subitamente, despenquei no abismo emocional que é a perda de um filho, muita gente (muita mesmo) passou a me indagar onde encontro forças para suportar a morte de Paulo, meu primogênito, aos 28 anos de idade. Tentarei responder respeitando os limites de minha atual fragilidade. Eu me defendo da dor com uma combinação muito pessoal de espiritualidade, perseverança e exemplos. Ainda em Londres, onde Paulo morreu, pouco antes de voltar ao Brasil, postei em minha página no Facebook a seguinte mensagem, que se alastrou por conta das mais das 2 mil pessoas que a compartilharam nessa rede social. "Queridas amigas e amigos. Como muitos de vocês já sabem, sábado passado perdi meu amado filho Paulo Gandra, um de meus dois pedacinhos do céu. A dor é mesmo devastadora. Mas prefiro pensar nos 28 anos repletos de felicidade que sua existência me proporcionou. Poderia não ter sido um dia sequer. Devo muito a Paulo. Ele fez de mim um pai e, recentemente, um avô. Além disso, quem sou eu para achar que passaria pela vida imune a uma perda como essa, quando tantos se defrontam com ela pelo caminho? Submeto-me, portanto, à vontade de Deus, que decerto acolherá Paulo entre os seus e, no devido tempo, enxugará todas as lágrimas que hoje derramamos. (...) Adeus, meu filho querido. Prometo que a câmera das minhas saudades registrará apenas a alegria e o orgulho de ter sido o seu pai." Recebi, nos dias seguintes, centenas de mensagens de pais que também haviam perdido seus filhos. Além disso, meus amigos no "Face" foram doces e extremamente solidários à minha dor. Criaram um enorme círculo de apoio que me confortou e fortaleceu a cada dia. Trecho de novo capítulo de "Coração de Pai" (Livros de Safra, 176 págs.), de José Ruy Gandra, que foi modificado após a morte de seu filho, no começo deste ano; a nova edição sai no final deste mês FONTE: Folha de São Paulo – 17.07.12