Carta de
Santa Maria
A foto da capa mostra o atual quarto do Pai na casa provincial das Irmãs de
Maria de Schoenstatt em Santa Maria, Brasil. O Pai Fundador escreveu nesta
mesa a “Carta de Santa Maria” em 15 de abril de 1948.
15.4.1948
Introdução histórica
Na festa de Nossa Senhora do Monte Carmelo, dia 16 de julho de 1942, o Padre
Kentenich fundou no campo de concentração de Dachau junto ao Dr. Fritz Kühr
a “Obra das Famílias” (Familienwerk), como Instituto Secular de Famílias.
Ao regressar de Dachau o Fundador encarrega o Padre Johannes Tick da tarefa
de continuar construindo toda a Obra das Famílias. Dentro do marco desta tarefa e numa carta de 27 de março de 1948 o Padre Tick informa o Fundador,
que nesse momento se encontrava no Brasil, sobre a sua intenção de realizar um
encontro fundacional da Obra das Famílias durante a festa de Pentecostes.
O Pai Fundador respondeu do Brasil com a conhecida
“Carta de Santa Maria” de 15 de abril de 1948
dirigida ao Padre Tick para a Obra das Famílias.
Na biografia do Dr. Fritz Kühr escrita por Norbert Martin se informa que
“o Padre Kentenich expressou numa oportunidade posterior que sua carta deSanta Maria do dia 15 de abril de 1948, que escreveu ao Padre Tick por ocasião do primeiro grande encontro de Pentecostes da Obra das Famílias, e que
apartir de então é considerada como o documento de fundação da Obra das
Famílias, reproduz essencialmente o ânimo fundamental da preparação e realização do ato de fundação do dia 16 de julho de 1942 em Dachau, e deixa ver
o que teria querido dizer de forma mais ampla ao Dr. Kühr se a situação tivesse lhe permitido dizer algo mais que umas poucas palavras.”
No dia 16 de julho de 1967 a Obra das Famílias celebrou com o Pai Fundador
em Dachau o jubileu dos seus 25 anos. Numa das suas conferências disse o Pai
comentando o desenvolvimento da história posterior:
“Valeria a pena que nos contassem e pudéssemos escutar o que aconteceu
desde então. Mas agora não devo tocar isso. Para terminar com esta linha de
pensamentos, devo ler uma carta que enviei de Santa Maria ao Padre Tick, no
dia 15 de abril de 1948. Posteriormente entrou na história como o documento
de fundação da Obra das Famílias.”
Institut der Schönstattfamilien
Haus Nazareth
D-56179 Vallendar/Schönstatt
Manresa = cidade espanhola (província de Barcelona); nos seus alredores
escreveu Santo Inácio de Loyola os Exercícios Espirituais. O Padre Kentenich utilizou este nome durante o tempo de perseguição como substituição (camuflagem) da palavra Schönstatt.
A carta original de Santa Maria se reproduz aquí com uns 40% de redução fotográfica.
Caritas Christi urget nos!
Santa Maria, 15 de abril de 1948
Ao P. Tick para a Obra das Famílias
É bom que o senhor tenha reservado para si os dias de Pentecostes. Assim corresponde ao significado e à dignidade da Obra para a qual o senhor é utilizado como
instrumento.
Se já é dificil a uma pessoa só, deixar que a graça reine sobre si, parece ser quase
impossível, representar uma família segundo a imagen da Santissima Trinidade ou
da Sagrada Família de Nazaré. Sempre foi assim. Em toda a parte, no entanto, o
tempo actual impele ao desenraizamento universal de todas as relações vitais e
mos¬tra os seus efeitos devastadores no santuário da família. Se através de Schoenstatt, Nossa Senhora quer modelar e aperfeiçoar uma nova sociedade humana e
um novo tipo de homem, Ela tem que concentrar necessariamente todo o seu poder
de graças na criação e multiplicação de fortes famílias de Schoenstatt. Por isso o
nosso oficio de Schoenstatt reza assim:
O teu Santuário é para nos Nazaré,
onde o Sol de Cristo irradia calor.
Com a sua luz clara e transparente
forma a história santa da Família,
desperta uma silenciosa e forte
santidade da vida diária,
em feliz união familiar.
Em Nazaré para tempos de desenraizamento,
Deus quer preparar salvação às famílias
e bondadosamente conceder
santidade da vida diária
aos que se consagram a Schoenstatt.
Mãe faz que Cristo brilhe em nós com maior claridade,
une-nos em santa comunidade,
sempre prontos para cada sacrificio,
como o exige
a nossa santa missão.
O universo inteiro, com alegria,
louve o Pai na sua imensa glória
e lhe tribute honra
por Cristo com Maria
no Espirito Santo,
agora e sempre. Amen.
Quem conhece a vida actual, quem sabe como o mundo e a Igreja se encaminham
para tremendas catástrofes, está profundamente convencido de que toda a Família
de Schoenstatt, tanto na sua totalidade como também nas suas partes, não pode
cumprir a sua tarefa, se todas as correntes e forças, por fim não se canalizarem e desembocarem em ilhas santas de famílias de Schoenstatt, que sempre mais e mais se
unam umas com as outras numa Obra comum de famílias.
Ás vezes, ao reflectirmos mais calmamente, parece um enigma indecifrável porquê
o Salvador permaneceu trinta anos na solidão de uma família, enquanto o mundo
à sua volta caminhava para o declínio. Espontaneamente perguntamo-nos também
nós, o que não teria Ele conseguido fazer, se desde mais cedo tivesse oferecido e colocado ao serviço do mundo as suas forças divinas. A solução deste enigma só tem
uma única resposta: “Eu sempre faço o que é do Seu agrado”, “as palavras que Eu
vos digo, não as digo de Mim mesmo, mas o Pai que está em mim, é que faz as
obras”. Com isto a pergunta é desviada imediatamente e dirigida ao Pai do Céu. A
resposta não nos é desconhecida. O Pai queria de forma inequívoca assegurar a benção incomensurável que parte de autênticas famílias cristãs.
Assim queira Nossa Senhora implorar em seu Cenáculo para todos vós o Espírito
Santo, para que comprendam correctamente o grande significado da nova tarefa de
vida, oferecida por Deus, livremente escolhida e livremente desejada; mas recebam
também força para cumprir a moral familiar que os Papas nas encíclicas definiram,
e elaborem uma ascese e pedagogia familiares próprias para vós mesmos, para perpetuarem costumes familiares provados e animados; e assim se tornem reservatórios dos quais todos os ramos da totalidade do Movimento sejam alimentados e
renovados permanentemente.
Todos nós sem excepção estamos interessados neste novo milagre de Pentecostes.
Por isso nos reunimos para pedir e mendigar com grande fervor um eficaz e novo
milagre de transformação. Levem a imagem de Nossa Senhora e dêem-lhe um lugar
de honra nas vossas casas. Assim elas se tornarão em pequenos Santuários, nos
quais a imagem de graças se manifestará com o seu poder de graças, e criará uma
terra santa de famílias e formará famílias com membros santos.
Se no documento de fundação Nossa Senhora prometeu cuidar para que a nossa Pátria volte a ocupar novamente a vanguarda do velho mundo, também podemos afirmar que o caminho para cumprir a sua promessa passa somente através de ilhas
santas de famílias de Schoenstatt. A MTA cumpre a sua promessa, quando nós cumprimos as condições alí propostas.
Com cordiais saudações e bênçãos para todos os presentes e os que eles representam.
J.K.
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