Cooperativa de Artesanato do Trançado Tupinambá - COPARTT Associações de Artesãs de Diogo, Areal e Santo Antônio, Curralinho, Vila Sauípe, Estiva, Canoas e Águas Compridas, Porto de Sauípe, Massarandupió e Subaúma. Cartografia Social Artesãs da Palha de Piaçava do Litoral Norte da Bahia Cooperativa de Artesanato do Trançado Tupinambá - COPARTT Associações de Artesãs de Diogo, Areal e Santo Antônio, Curralinho, Vila Sauípe, Estiva, Canoas e Águas Compridas, Porto de Sauípe, Massarandupió e Subaúma. Cartografia Social Artesãs da Palha de Piaçava do Litoral Norte da Bahia Introdução Fruto de um trabalho de diversas entrevistas, saídas a campo, oficinas, tomadas de imagem, esse caderno de Cartografia Social das Artesãs é principalmente resultado da participação ativa de inúmeras artesãs que vivem e trabalham com a piaçava na região do Litoral Norte do Estado da Bahia, desde as localidades do Diogo até Subaúma, envolvendo aí três municípios – Mata de São João, Entre Rios e Itanagra. A equipe técnica realizadora desse projeto buscou atuar fundamentando-se nos conceitos do Projeto Nova Cartografia Social – PNCS. O objetivo da proposta de Cartografia Social é mapear grupos e esforços mobilizatórios, descrevendo-os e georeferenciando-os, com base no que é considerado relevante pelo próprio grupo estudado. Dessa forma, lideranças e agentes das comunidades foram os sujeitos na seleção do que constou no mapa produzido por elas, assim como no registro desses pontos sugeridos, gerando seu automapeamento. Acreditamos que a visualização espacial de contextos da comunidade cartografada, a reportagem de suas falas e imagens, e o registro em um documento no formato do fascículo encaminham para a expressão da voz desse grupo e, assim, um passo adiante nos seus processos coletivos. Na finalização dessa etapa do trabalho, nos percebemos diante de um grupo com seus desafios, sim, mas coeso, que vivencia seu trabalho com sentido, e almeja dias melhores, baseando-se em trabalho diário e muita luta. Artesãs e artesão presentes em oficinas e entrevistas coletivas e individuais para o mapeamento: Adelinis Mota de Oliveira, Adeval Cerqueira das Neves, Alana Jesus dos Santos, Angela Alves de Oliveira, Antonieta Cerqueira (D. Lorinha), Cleonice de Oliveira Santos, Cremilda Jesus dos Santos, Cristiane dos Santos Bispo, Domingas Fogaça dos Santos, Edlene Barbosa dos Santos, Edleusa Cerqueira Lima, Elaine Borges De Jesus, Eloína Soares dos Santos, Evanira Gonçalves dos Santos, Fátima Oliveira Fogaça, Geisa dos Santos Borges, Geisa Soares dos Santos, Genilsa Artesãs na 1a oficina de mapeamento (set. 2012) Batista de Andrade Santos, Idalina de Jesus dos Santos,Iaranildes Conceição Lima, Ivailde Conceição Lima, Ivone Gonçalves Soares, Jeruza Santos Mendes, Joaide Laudano, Joicielen Laudano, Judite Oliveira Rodrigues, Laura Ferreira de Cerqueira (D. Lalu), Laurice Santana dos Santos, Libeni Carvalho Silva, Lidigionavia Conceição, Lucimeire Pereira dos Santos Santana, Maria Cristina Melo da Silva, Maria de Lourdes Brandão (Nene), Maria Elisabete dos Santos, Maria Joelma Bispo Silva, Maria José Santos Paixão, Maria Lúcia Santos, Maria Luiza Alves Soares, Marinalva Mendes Silva, Marivalda Santos de Santana, Marinalva O. Fogaça, Marizete Ferreira dos Santos, Matildes Conceição, Meirice Alves de Oliveira, Neli Silva de Oliveira, Nilza Cerqueira Santos, Renata dos Santos Bispo de Souza, Rita Rodrigues de Jesus, Rute dos Santos Bispo, Sileide de Oliveira Fogaça, Simone Márcia Santana dos Santos, Suely Nascimento De Jesus, Telma Santos Mendes, Ubaldina Gomes dos Santos, Val, Valda Madalena de Jesus, Valdilene Alves dos Santos Silva, Valéria Cristina Cordeiro Silva dos Santos, Valda Madalena de Jesus, Vera Brandão, Zilda da Luz Santos. Comunidades participantes: Equipe de Pesquisa / Mapeamento Sauípe, Estiva, Canoas, Águas Compridas, Porto de Sauípe, Patrícia Felix Diogo, Santo Antonio, Curralinho, Mucugê, Vila Margarida, Vila Massarandupió e Subaúma. Este caderno foi concebido e realizado de acordo com os fundamentos do Projeto Nova Cartografia Social de Povos e Comunidades do Brasil. Esta é uma publicação independente. Mata de São João BA, dezembro de 2012. Realização COPARTT - Cooperativa de Artesanato do Trançado Tupinambá Rafael Carvalho Coordenação Renata Zambonim Mapas Rafael Carvalho Edição de texto Patricia Felix Renata Zambonim Associação das artesãs de Curralinho Patricia Felix Sauípe (MN) Associação de produtoras de artesanato de Vila Sauípe, Estiva, Canoas e Águas Compridas (APAS) Associação das artesãs de Porto de Sauípe (AAPS) Associação das artesãs de Massarandupió (ADAM) Associação das artesãs de Subaúma - (ASAS) Instituto Berimbau Educambiente - Treinamentos e Serviços em Turismo e Meio Ambiente “Sou artesã, com muito prazer!” Renata Zambonim Fotos Associação de artesanato Mão Nativas de Vila “Sou artesã, com muito prazer! Sou artesã de piaçava. Somos extrativistas. Artesã é aquela que vive do seu artesanato.” Maria Joelma Bispo Silva “Ser artesã é ser dona de sua vida. Você faz pra você mesmo, você decide seu próprio dia: acorda, vai tirar a palha no mato, fica perto da natureza. Então cozinha a palha, vai riscar, pintar... Aí faz sua comida, olha seu filho, que tá ali e aprende junto, quer fazer a trança.” Edilene Barbosa dos Santos Maria Joelma Bispo Silva “É uma terapia, uma ajuda, fonte de renda e a continuação do trabalho dos avós, dos antepassados, das antigas. Renata dos Santos de Souza “Ser artesã pra nós é uma honra. As pessoas nos vêm como numa boa profissão. A cada dia aprendemos mais. Somos valorizadas.” Rita Rodrigues de Jesus “Escutamos que nosso trabalho é bom e bonito. Nunca achei ninguém que botasse a gente pra baixo. Toda a família apoia.” Evanira Gonçalves dos Santos “É uma herança, e também diversão, família. A gente ri, brinca, viaja, cresce!” Genilsa Batista de Andrade Santos Claudia Zanette Associação das artesãs do Diogo, Areal e Santo Antonio (AADAS) SER ARTESÃ Acervo Educambiente Renata Zambonim Editoração [email protected] Apoio Bambu Editora Tauassu Ambiental Associação de Moradores de Porto de Sauípe Costa do Sauípe Artesã de Vila Sauípe Artesãs de Porto de Sauípe Artesã de Massarandupió “É um orgulho para mim ser artesã, porque é uma empresa que nós somos os patrões. Nós é que estamos à frente!” Simone Márcia Santana dos Santos “E é uma arte! Somos artistas, fazemos de tudo: suplá, jogo americano, bolsas variadas, carteiras, chaveiros, tapete, porta guardanapo.” Valéria Cristina Cordeiro Silva dos Santos “Minha neta levou um catálogo nosso para sua escola e falou: minha avó é uma artista! É o que sou.” Eloína Soares dos Santos “Minha trança não é trabalho, é descanso. O dia que eu não posso fazer, fico triste.” Edleusa Cerqueira Lima “Mas nem sempre foi assim. Antes não era como hoje, nosso trabalho era morto, ninguém sabia.” Maria José Santos Paixão “A gente só vendia nas feiras de Mata de São João, mas não era pros turistas, era mesmo pros trabalhadores, ou pra quem ia revender em Salvador. Tinha de trançar o ano todo pra comprar um a roupa de fim de ano.” Genilsa Batista de Andrade Santos “Porque antes era só esteira pra usar em casa, chapéu pro trabalho no sol. Para vender na feira de Alagoinhas, íamos de cavalo e demorava em média 3 dias para chegar!” Edileuza Golçalves Pinheiro. “Não tinha essa diversidade e essas associações todas. O turismo traz aqueles que admiram nosso trabalho e que compram. Por isso cresceu o artesanato, porque aqui o que não falta hoje em dia é turista.” Marinalva Mendes Silva “Ser artesã é um orgulho, pois sei que estou valorizando minha cultura!” “Mas tem essa coisa: o desenvolvimento, e o turismo junto, trazem coisas boas e coisas ruins. Nós aqui estamos vivendo bem esses dois lados na nossa pele.” Simone Márcia Santana dos Santos Geisa Soares dos Santos “Eu faço com amor, Eu faço com todo o gosto!” Maria Joelma Bispo Silva “A coisa que eu mais gosto de fazer na vida é ir para o mato tirar palha!” Eloína Soares dos Santos TRADIÇÃO E CRIAÇÃO “Os fundadores dessa arte foram os índios.” Ivone Gonçalves Soares “Começou com os índios, que são nossos antepassados. Então tá no nosso sangue: é filho daqui? Sabe fazer artesanato! Antes aqui era terra dos Tupinambá, por isso o nome do nosso trançado, em homenagem.” Maria Joelma Bispo Silva “O Trançado tupinambá é o 17 pares, é de antigamente, foi o primeiro trançado.” Valéria Cristina Cordeiro Silva dos Santos “Eu aprendi desde quando estava na barriga de minha mãe. Era palha por todo canto da casa.” Rita Rodrigues de Jesus “É trabalho que valoriza a tradição. Vai passando pra quem chega. Quem vai chegando na comunidade vai aprendendo. Aqui tem um monte de sergipana, pernambucana, chega e vai se unindo, se fortalecendo mais.” Valéria Cristina Cordeiro Silva dos Santos “Fomos criando outros trançados– trançado de laçada, tapeti, bicão, Artesã caracol...” Idalina de J. dos Santos “Os desenhos a gente cria, a mente vai abrindo para a criatividade.” Maria de Lourdes “São ideias que vem da natureza, a gente vai observando, temos inspiração nas flores: “angelim” – na época dá uma florzinha roxa, “espinhadeira” – inspirado na bromélia, tem a trança do mar. A maioria das peças são nossas, os designers só incrementam.” Maria Joelma Bispo Silva “Nós caprichamos muito, nas cores, no desenho. Tem produtos comum a todos, mas cada Eloína Soares dos Santos comunidade tem a sua característica. Temos a bolsa bicão, a bolsa Jurema, a bolsa Bahia. Teve estilista em um curso rigoroso. Temos encomendas para o Instituto Mauá, Talentos do Brasil, para muitos outros estados e para o exterior.” Genilza Batista de Andrade “Minha mãe aprendeu com a mãe dela, que aprendeu com a dela, e assim até muito antigamente. Porque é trabalho de geração para geração. Não só fazer a trança, mas tirar direito do mato e tratar a palha.” ASSUNTOS DE MULHER “No artesanato tem homem sim, mas tem mais mulher. A gente pode ficar mais perto das outras mulheres, dos assuntos de mulher.” Rita Rodrigues de Jesus “Hoje as mulheres da cidade não tem tanto tempo pra se encontrar. Aqui graças a deus somos unidas, somos todas amigas.” Maria Cristina Melo da Silva “Pra ir pro mato, pra tratar a palha, pra trançar, em tudo dá pra ficar junto. Estar no meio das meninas é muito bom, distrai. A gente se perde, se esquece, vai conversando, vê as palhas lindas, quanto mais você tira, mais quer tirar.” Ângela Alves de Oliveira Artesãs do Diogo “Junta um grupo, vai pro mato, deita na sombra, faz sapeca na cachoeira, entra num canto, sai em outro.” Renata dos Santos de Souza “Fora que posso trabalhar cuidando do que é meu. Fico por perto, com meu filho sob meus olhos. cuidando e educando. Lá fora você não sabe o que vai encontrar, que gerente vai ficar te mandando.” Edilene Barbosa dos Santos “Ir pro mato é uma maneira das mulheres se encontrarem, de conversar, de dar risada. Isso é importante pra nos manter unidas. Pode falar coisas só de mulher... quem precisa terapia aí?” Genilza Batista de Andrade Santos FONTE DE RENDA “O pessoal percebe que o artesanato da palha gera renda pra muitas famílias, não só pras associadas. Esse trabalho atende pelo menos 80% da comunidade, porque de um jeito ou de outro tá ajudando, direto ou indiretamente – vende a matéria prima, ajuda a revender o produto final, entra no mato pra ajudar a tirar palha, carrega os produtos pra feira, e assim vai... Muita gente se alimenta disso aí.” Genilza Batista de Andrade Santos “As coisas que eu tenho é tudo do artesanato, sobrevivo disso.” Maria Cristina Melo da Silva “O pessoal vê como uma renda, não de um ou de outro, mas renda da comunidade toda. Precisa de uma vez por todas perceber que as artesãs estão aqui cuidando de muitas famílias, botando dinheiro pra dentro de casa e pra dentro da sua comunidade. Não pode achar que nessas terras aqui não tem a gente, e cercar nossa piaçava.” Simone Márcia Santana dos Santos Ponto de venda Tranças Bolsas Cestos e suplás “Aqui foi todo mundo criado na trança da palha.” Edilene Barbosa dos Santos CONHECENDO O MUNDO “Por causa desse trabalho conheci tantos outros lugares!” Evanira Gonçalves dos Santos “Tem gente que pergunta se eu não tenho vergonha de passar por aí com esse saco de palha pelo meio da rua. Nem imaginam que meu artesanato me leva para onde eu nunca pensei em ir. Antes para ir pra Salvador, logo ali, eu precisava de alguém pra ir junto. Hoje pego muito vôo, pra dar curso, reunião. Rodo a Bahia toda, ensinando de acordo com a comunidade. E outros lugares do Brasil também. O artesanato me deu asa. Me orgulho e muito!” Maria Joelma Bispo Silva Eu digo: vocês não sabem o prestígio que essas palhinhas têm lá fora. Já fizemos exposição no Instituto Tomie Ohtake, no Anhembi, em São Paulo, Rio-Centro, Marina da Glória (RJ), sem falar das grifes que vão conhecer nosso trabalho, gente da Califórnia, El Salvador, até ministro veio ver! Imagina nossa piaçava aqui nesse cantinho longe, fim de mundo, e eu esquecida, sozinha aqui, perdida, me acabando. A CIÊNCIA DA NATUREZA “A palha a gente vai no mato tirar. É mato fechado mesmo, tem de ir protegido, calçado, tem cobra e outros bichos. Quem entra no mato tem que ter atenção e respeito.” Valéria Cristina Cordeiro Silva dos Santos “Junto nesse mato fechado tem biriba, miroró, embaúba, cabatã (faz cabo de vassoura, de varrer terreiro, mas hoje ninguém liga pra isso não).” D. Lalu “É bom ir em dia de sol, tem de sair cedinho, 6, 7 da manhã. Não dá pra ir sozinha, tem de ir em grupo, à vezes os maridos vão junto. Costumo ir uma vez no mês, às vezes vou uma vez em 15 dias.” Ubaldina Gomes dos Santos “Pra gente, tem piaçava tudo por volta, mas pra outras comunidades tem de andar muito mesmo até chegar na piaçava.” Edilene Barbosa dos Santos “A planta tem dois olhos: um menor, verdinho, outro maior, maduro. Esse maduro é o que a gente puxa, e tira a palha “Nem todo mundo tem aquela experiência de tirar, tem gente que puxa de qualquer jeito. Às vezes não é por má intenção, é porque não sabe mesmo. Aí a gente tá sempre avisando porque mais tarde pode precisar de novo e não achar.” Idalina de Jesus dos Santos “Tem gente que não sabe tirar, tira errado, deixa encugado, deixa a planta que nem menino raquítico. Pessoas com usura de ganhar muito dinheiro voltam pra buscar palha no mesmo lugar depois de só 15 dias. O artesão é diferente, sabe que vai precisar amanhã, depois, daqui a 1, 2 anos.” Maria Joelma Bispo Silva Preparando a palha “Tem palha dura, palha macia, a gente escolhe o tipo de palha dependendo do traçado que quer fazer: mais delicado, ou mais largo. Por isso que gosto eu mesmo de ir tirar minha própria palha. Tira a palha, faz o monte ali no mato, depois faz o feixo, amarra com cipó, ou com palha do licuri que a gente pega no caminho, emenda uma na outra e põe na cabeça e traz pra casa. É pesado viu? Tem muitas que trazem uns 30 ou mais quilos de vez. Outras trazem 15, 20 quilos. Também no animal, quem tem carro traz no carro, ou na moto. Em casa, junta a lenha, enrola as palhas pra caber aí na panela, enche de água, e põe no fogo para cozinhar. E os nomes? Piaçava, piaçaba, licuri, ouricuri, não tem nome errado, cada um sabe como chama.” Maria Joelma Bispo Silva Depois põe para esfriar, na esteira, num canto da casa, depois abre a palha, enrola a roda e faz o par. Amarra o par e pendura para secar no vento. A secagem depende do sol, tem de ter sol bom, senão pode até pintar, manchar a palha. Quando tá seca, aí a gente risca a palha. Riscar é lascar. Depois tinge. Pode tingir com coisas da natureza, ou então com anilina. A natureza dá o urucum, as folhas de cipó de rego (ou arariba), capianga, lama do rio, que é uma lama preta, para tingir a palha. Depois de tingir, tá na hora de trançar. Faz a tira primeiro, depois costura com o linho do licuri. Aí faz o modelo que quer. Às vezes a gente compra palha de pessoas que vem de outros lugares vender, eles vem até a pé, Piaçava “Não pode tirar palha direto do mesmo lugar nesse tempo, porque tem de dar tempo pra crescer, se não acaba. Se tirar direito, continua tirando toda a vida. Eu ainda tiro de onde minha mãe tirava.” Maria Joelma Bispo Silva de dentro. Puxa no sentido contrário, para não matar o menor. Mais ou menos 3 meses depois ele cresceu o suficiente para tirar novamente, e já vem vindo o outro novo.” Geisa dos Santos Borges “Não pode tirar palha direto do mesmo lugar nesse tempo, porque tem de dar tempo pra crescer, se não acaba. Se tirar direito, continua tirando toda a vida. Eu ainda tiro de onde minha mãe tirava.” Maria Joelma Bispo Silva Retirando a palha Enrolando a palha Cozinhando a palha Palha seca Riscando a palha com as palhas no jeguinho. Também vem de moto. Eles vendem crua, par gente cozinhar e fazer todo o processo. Ou vende seca já, pra risca e pintar, e fazer o trançado. Tem lugar aí que não tá conseguindo piaçava e tem de comprar.” Valéria Cristina Cordeiro Silva dos Santos “A gente mesmo, de Santo Antônio, compra tudo de fora.” Jeruza Santos Mendes “Também do mato a gente tira a palha do licuri para fazer o linho que a gente costura. Às vezes o licuri tá no caminho pra ir pra piaçava, porque dentro da piaçava não tem licuri. Também tira ingá, cambuí, muji, massaranduba, caju, mangaba, murici, licuri.” Lucimeire Pereira dos Santos Santana “Vamos todos pro cambuí, é uma festa, tá nas dunas todas.” D. Lalu “A lenha pra cozinhar a gente vai andando e catando galho seco. Também tem o junco, que tira da lagoa. Se tiver raso, dá entrar na lagoa descalça mesmo. Do mato a gente tira também mucunã, olho de boi, mas parou de usar, porque não tem tratamento certo, pode dar bicho, saí um pozinho.” Edilene Barbosa dos Santos “Eu também tiro cipó do mato, cipó timborama ou cipó cara de cavalo. Faço cofo, caxixi. Também tiro biriba, mas não vou falar agora não, que a ciência que eu tenho sobre a biriba é muito preciosa.” Adeval Cerqueira da Neves “Mas tudo acaba se não sabe tirar com cuidado, igual à piaçava. Cada comunidade tem seu lugar certo de tirar, mas às vezes a gente vai lá na terra delas tirar, e elas vêm na nossa. A gente vai, cata, e vai embora, que é de Deus, não tem o que falar. O mato é pra todo mundo. Só agora que não é mais assim, colocaram cerca, porque as terras estão sendo todas vendidas para os empreendimentos. E os nomes? Piaçava, piaçaba, licuri, ouricuri, não tem nome errado, cada um sabe como chama.” Maria Joelma Bispo Silva Fazer com as mãos... “Não tem satisfação maior que produzir sua peça do começo ao fim. Nem todo mundo dá o valor merecido. Tem turista que chega aí, olha a bolsa, vê que é de palha, e diz: “você faz essa bolsa de coisa que você mesma tira do mato, e quer me cobrar tudo isso?”. Pois ele não vê o trabalho que dá. É muito complexo todo o processo. Se usar pigmento natural então!” Simone Marcia Santana dos Santos Tecendo a palha “Nosso trabalho é fazer tudo com a mão, no dia que usarmos máquinas, não serei mais uma artesã.” Zilda da Luz dos Santos “Nosso trabalho é fazer tudo com a mão, no dia que usarmos máquinas, não serei mais uma artesã.” Zilda da Luz dos Santos “E esse fazer tem a ver com cada um de nós, de dentro. Cada artesão tem algo que é só seu, que veio de sua criatividade, só dele. Quem vê isso dá valor pra trabalho das nossas mãos.” Simone Marcia Santana dos Santos AS ASSOCIAÇÕES DE ARTESANATO A COOPERATIVA “Antes já tinha artesanato, mas não era essa “Sozinha eu não faço nada.” revolução.” Valéria Cristina Cordeiro Silva dos Valéria Cristina Cordeiro Silva dos Santos Santos “Aí vieram os institutos, o Berimbau, o Mauá, Hospitalidade e SEBRAE que ajudaram na organização das associações de artesanato. Hoje somos sete associações. Com a associação melhorou, as Vila Sauípe Diogo Subaúma atitudes são mais conscientes, ajuda a valorizar o trabalho. Trouxeram oportunidade de mais conhecimento pra gente crescer, se desenvolver, sair pro mundo pra mostrar nosso trabalho. A Associação apresenta todos os requisitos – tem sede, compromisso de levar a encomenda, com qualidade. Todas são artesãs, mas as associadas tem mais consciência de suas responsabilidades, com data, com pagamento, com porcentagem, com qualidade... tudo com mesmo direito.” Maria Joelma Bispo da Silva “Acho que a COPARTT ajuda a não deixar morrer quando tem alguém que desanima.” Edilene Barbosa dos Santos “Em Santo Antônio não temos associação. Cada um vende o seu, que é tudo mesma família mesmo.” Telma Santos Mendes “A Cooperativa nasceu de uma ideia para melhorar as vendas, para participar de eventos para vender muitas peças. Cooperativa tem fins lucrativos, além de procurar muita coisa para se fortalecer. A gente faz parte, se a cooperativa deslancha, a gente deslancha junto. A COPARTT também está dentro da COPERUNICA, cooperativa nacional que une 12 estados, e tem roupas e bordados, artesanato de palha, lã, taboa, fibras e roupas. A COPARTT tem 4 anos, mas precisa amadurecer muito. O umbigo de cada artesã ainda está na associação, nossa maior ligação é na associação, não na Cooperativa. A Cooperativa recebe muita crítica, mas eu, como presidente, também estou aprendendo.” Maria Joelma Bispo Silva “Um benefício que a gente vê é a loja na Costa do Sauípe, que vende bem, e é uma loja pro coletivo. Ainda tem de organizar muitas coisas ali.” Sileide de Oliveira Fogaça “Acho a cooperativa algo positivo, ficou no centro. A cooperativa responde por todas. Ela despacha, produz mais. A gente aqui no Diogo não tem tanto cliente, e a cooperativa distribui os pedidos.” Simone Marcia Santana dos Santos “Quanto vida Deus me der, vou brigar com essas curicas aí por nossa piaçava.” Maria Joelma Bispo Silva NOSSO TERRITÓRIO “Teve um caso de um extrativista que foi tirar palha pra mãe, e encontrou no mato uns homens de fora. Eram seguranças. Os homens mandaram ele sair dali, que ali não era lugar dele. Se o mato não é lugar de extrativista, qual é o lugar dele, me diga?” Neli Silva de Oliveira “Quanto ao turismo a gente pensa assim: muita coisa melhorou, mas trouxe também coisas ruins. Quando o desenvolvimento chega, vêm os dois lados.” Genilza Batista de Andrade Santos “Somos extrativistas, vivemos do mato, usamos a vida da piaçava.” Ivone Gonçalves Soares “Por um lado turismo faz vender. Depois que eles entraram mudou pra melhor as visitas por aqui, aí o pessoal compra o artesanato, vem nas barracas, nos restaurantes, e tem mais trabalho para as pessoas. Falo dos empreendimentos que tem por aqui: Costa do Sauípe, IberoStar, Reserva Imbassaí, Palladium, Praia do Forte, e mais os condomínios deles, por exemplo, o Quintas de Sauípe.” Simone Marcia Santana dos Santos “De outra parte o turismo não ficou muito bom. Tirou nossa privacidade, porque a gente andava por isso aí tudo, com liberdade, pegava palha, mangaba, cambuí...” Rita Rodrigues de Jesus “Se você me pergunta qual é minha terra, eu digo que é todo esse mato aí ao redor, que eu uso para viver. É meu e de outras artesãs, é de Deus.” Genilza Batista de Andrade Santos “Os hotéis, quando chegam, o primeiro que fazem é colocar umas telas do tamanho desse poste, para não deixar ninguém entrar.” Adeval Cerqueira das Neves “E também temos de andar por aquela estradinha certa, é o único lugar que tem e acabou! Torcendo para gente não empatar os donos, os vigilantes.” Rita Rodrigues de Jesus Plantação de pinus e eucalipto A caminho da piaçava “Pelo acesso da praia não pode ir de carro. Aí temos de entrar pelo cemitério, a pé tem de andar 40 minutos se andar ligeiro.” Valéria Cristina Cordeiro Silva dos Santos “O lado ruim pro artesanato desse crescimento do turismo é que, apesar do artesanato ter mais vendas, ao mesmo tempo a piaçaba vai diminuindo.” Renata dos Santos Bispo de Souza “Não é que tem escassez de piaçava, mas a gente vê que se continuar hotel fechando área da gente tirar, aí vai acabar. É que é muito hotel mesmo previsto por aqui. Área de hotel é fechada mesmo, não pode entrar pra tirar palha. E a gente fica olhando de longe, tanta palha boa, dá água na boca.” Maria Joelma Bispo Silva “Tem as mulheres mangabeiras. Nos condomínios derrubaram as mangabas, mas mesmo assim, elas não podem mais catar ali, porque virou quintal de barão. Esse ano também teve uma safra de cambuí que agente nunca tinha visto, mas tudo dentro do condomínio.” Valéria Cristina Cordeiro Silva dos Santos “Se você me pergunta qual é minha terra, eu digo que é todo esse mato aí ao redor, que eu uso para viver. É meu e de outras artesãs, é de Deus.” Genilza Batista de Andrade Santos Santo Antônio Cerca nas dunas “Tão botando outras coisas no nosso lugar de tirar palha. Tem hotel, condomínio, tem alojamento, lavanderia de hotel. É muita construção! Tudo enorme, com não sei quantas piscinas.” Maria Joelma Bispo Silva “E também construção de casas do povo que vem pra trabalhar nos hotéis e não ficam nos alojamentos, porque fazem família, trazem família. Porque a gente sabe que aumentou o poder aquisitivo - não vou dizer que isso é mal, mas saem construindo por tudo, invadindo, sem planejar nada.” Maria Joelma Bispo Silva “As invasões são fruto já da vinda dos hotéis. Fica crescendo as coisas em volta, mas desordenado. E aí tem há vários problemas com esgoto, com segurança...” Adeval Cerqueira das Neves “Abriu um monte de estrada, fica cheio de gente estranha, cheio de homem que a gente não conhece entrando no mato sei lá pra que. Eles estão trabalhando, sabemos disso, mas a comunidade fica vulnerável.” Simone Marcia Santana dos Santos “A gente mesmo evita ir pegar palha perto de áreas de construção.” Simone Marcia Santana dos Santos “Não vamos mais perto da pista tirar palha. E não vamos mais sozinhas, só em mulheres para o mato. É bom sempre ter homem junto. Os tempos são outros.” Lucimeire Pereira dos Santos Santana “Aqui tá tendo muita plantação de pinus e eucalipto. Pra plantar reviram toda a terra, tiram todo o mato. Aí foi-se a piaçava. No pinus, com o tempo, até que dá palha, mas no eucalipto não dá é mais nada. E essas terras também tem de ficar negociando pra entrar.” Edilene Barbosa dos Santos “Aí tem mais fazenda de coco, outras fazendas... O pessoal chega, compra, coloca corrente, põe vigia e segurança. Não pode mais tirar palha ali. Tem lugar que não fala nada, mas a gente tira assustado, porque eles botam empregado.” Marizete Ferreira dos Santos “Eu vou tirar palha, ando calada e qualquer coisa saio correndo.” D Lorinha “Teve um caso que mandaram a gente escolher uma área pra gente tirar a palha. A área que falaram “Eles fecham e dizem que é área de preservação. Preservação de piaçava? Piaçava depois que é usada direito fica feliz de dar palha, ela vem maior e até mais forte!” Simone Marcia Santana dos Santos pra gente escolher não tem palha, Combinou deles darem acesso pela frente da terra deles, mas aí a gente foi ver era brejo, não dava pra passar!” Lucimeire Pereira dos Santos Santana “Em outro caso, deixaram umas reservas pra gente entrar, mas é muito pouco.” Maria de Lourdes Brandão (Nene) “Tem região que a artesã não tem mais como tirar! Porque o segurança fica falando que não pode de jeito nenhum entrar. Aí tem de ir muito longe pra tirar palha, tem de conseguir um carro. Então acabaram tendo de comprar a palha tirada já. O rapaz traz a palha crua. Não sei dizer de onde nem como tira.” Valéria Cristina Cordeiro Silva dos Santos “Pra gente de Massarandupió, não ligam da gente entrar pra tirar não. Pessoal entra e tira, tudo bem.” Edileuza Gonçalves Pinheiro “Outra coisa que acontece é que as pessoas sem conhecimento venderam baratinho suas terras pra quem tava chegando, pra turista, pra empresa, pensando no dinheiro rápido, que nem era muito, achando que era bom negócio. E agora tem as consequências, ficaram sem terra... e sem dinheiro... “Eu nasci e me criei aqui, eu adoro aqui, e olha que eu conheço lugar, viu? Ainda posso dormir em paz aqui. Não troco aqui por nada, mesmo com esses problemas todos. Aqui somos uma comunidade.” Outros desafios “O primeiro desafio mesmo é garantir nossa tirada de palha. E garantir esses cuidados todos dos empreendimentos.” Simone Marcia Santana dos Santos “Também tem o pessoal que tira errado o olho, estragando a planta. Precisa mesmo dar uma normativa pra isso.” Suely Nascimento De Jesus “Depois tem o desafio de melhorar a comercialização aqui em Subaúma e Massarandupió, porque a gente fica mais escondida, a Linha Verde passa só lá em cima.” Maria de Lourdes (Nene) “Tem gente que faz artesanato de baixa qualidade e vende mais barato. Aí fica chato, mesmo porque depois vem o comprador aqui pra eu arrumar alça que estourou. Se faz certo dura anos!” Maria Elisabete dos Santos (Betinha) “A gente tá se prejudicando com os atravessadores, que vendem na praia mais baratinho, de pior qualidade. Não tem união.” Valéria Cristina Cordeiro Silva dos Santos “Aqui em Porto de Sauípe, nosso gargalo é o envio de mercadoria.” Maria Luiza Alves Soares “Se comunidade fosse mais unida vencia. É que tão cansados, já chegou muita gente por aqui, cheia de promessa, e não deu em nada. Outra coisa ruim do desenvolvimento é que muitas vezes tem um monte de planos pra onde a gente vive, que a gente nem sabe. O pessoal daqui não tá preparado pra receber grandes projetos, se colocar nas reuniões. Trazem essas mudanças repentinas e a gente aceita, porque não sabe como fazer ouvir nossa voz. Temos que dizer que se querem colocar tanta estrutura aqui, tem antes de falar com a comunidade, que é quem cuidou disso até hoje.” Genilza Batista de Andrade “Só deveria poder construir depois de ter levado a constituição em conta, com levantamento, em cada região, do que cada comunidade quer, o que precisa de verdade pra se desenvolver.” Simone Marcia Santana dos Santos NOSSOS JOVENS, NOSSAS FAMÍLIAS “Eu criei meus filhos na palha, mas se eu te falar que eu quero que eles vivam disso, é mentira. Eu quero que eles estudem, mas não queria que eles esquecessem essa arte.” Maria Joelma Bispo Silva Edilene Barbosa dos Santos Também acontece que os animais desse mato todo tirado não tem mais lugar de se esconder, e muitos morrem atropelados na estrada, que os carros passam rápido mesmo. Tem gente que caça por aí: tatu peba, tatu verdadeiro, pra comer, cotia também. Antes tinha muita caça, hoje não tem mais.” Edilene Barbosa dos Santos “Eu que não quero ficar perdida também! Queremos ficar é garantidas.” Maria Joelma Bispo Silva “Precisamos do plano de manejo, ou acordos melhores, pra resolver a área que a gente tira palha.” Renata dos Santos Bispo de Souza “Enquanto a gente não tem a nossa área de manejo, a gente não fica tranquila, porque sabe que pode ficar sem.” Sueli Nascimento De Jesus Menina na Escola de Produção da Vila Sauípe Futuro “Para a juventude por aqui tem muito pouco incentivo. Não tem jovem no artesanato não. Quem completou 18 anos não quer tecer, prefere trabalhar. Muitos trabalham na lavanderia do Costa.” Ubaldina Gomes dos Santos “Muitas meninas sabem trançar, mas não querem vir pro artesanato. Elas têm de estudar também. Tem o ENEM, elas estudam muito tantas coisas de fora pra passar na prova, e vão acabar sem saber das coisas da sua própria comunidade. Mas eles não tão ligando muito, tem internet, celular... A Associação se preocupa muito com os jovens, que estão só querendo ir trabalhar nos hotéis, pois consideramos que na maioria das vezes no hotel não é um trabalho que faz o jovem crescer. A maioria é só na faxina, serviços gerais, camareira.” Simone Marcia Santana dos Santos “E muitas vezes, no hotel, é por contrato – eles precisam naquela hora só, depois de 45 dias mandam embora. Acontece também deles precisarem na alta temporada, aí chamam os meninos que nem terminaram o ano na escola. Muitos largam mesmo as aulas, por aquela oportunidade.” Edilene Barbosa dos Santos “O que eu acho é que eles deviam entender o que a gente precisa de verdade.” Genilza Batista de Andrade “Mas é bom também porque na baixa estação, quando a gente vende menos, dá pra fazer esses extras, de diarista, ajudante de cozinha.” Maria Luiza Alves Soares “Meus meninos também aprenderam a trançar, mas homem mesmo não quer, eles querem trabalhar nos hotéis, nas casas dos condomínios. Aí são ajudantes de pintura, limpeza dos condomínios. Antes do hotel viviam de pescaria. Mas tinha de fazer bico por aí pra completar. Os meninos novos não querem ir pra pescaria, jamais! Porque aprendem que pescar é coisa de matuto, de quem não tem capacidade de ir pra frente. Mal sabem que pra isso tem que ter muita ciência. Aí foi todo mundo atrás de carteira assinada.” Rita Rodrigues de Jesus “Mas os jovens acabam seguindo os passos dos pais. Muitos foram trabalhar nos hotéis, nas casas e nos condomínios - na cozinha, limpeza, jardim.” Maria Luiza Alves Soares “Tem comunidade que tem muito pedreiro, é a profissão que hoje tem mais trabalho ali, porque é casa demais pra construir nesses empreendimentos todos.” Valéria Cristina Cordeiro Silva dos Santos “Os homens tão na construção e em serviços gerais, tipo de serviço de quem não estudou. É isso que o complexo hoteleiro aqui oferece. Da nossa gente, diretor mesmo não tem nenhum. Supervisão quando muito.” Maria Joelma Bispo Silva “Quando querem implantar esses hotéis, eles dizem: vamos implantar e vai ter trabalho pra todo mundo da região. Mas o trabalho que oferecem é trabalho grosso, pesado.” Genilza Batista de Andrade “O mundo hoje é outro. O pessoal da região não tá preparado, não tem certificado nenhum, para ser um gerente, por exemplo. O povo critica muito esse hotel, mas tenho outra visão. Os órgãos competentes é que não cuidaram do meio ambiente nem do social. Deixaram vir aqui e fazerem o O turista também vai gostar de vir prum hotel que cuida do social, do ambiente, das crianças da região. O lugar fica mais rico, mais bonito. Valoriza muito mais a comunidade em volta. Deveriam fazer sempre coisa para o social. Tudo que chega nos lugares, tem de ter algo pro social. Genilza Batista de Andrade que querem. E se você quiser um cargo melhor dentro de um hotel tem de ter muito esforço. Tem de ter muita cara e coragem pra trabalhar o dia todo pra pagar seus estudos até tarde da noite, e longe de casa. Tem iniciativas boas, boas mesmo, vindo do hotel. Tem cursos já que a juventude está fazendo. Mas ainda é pouco. Eles têm de investir e cuidar de verdade. E a política pública devia ficar de olho bem grande em cima disso, cuidando pra que eles tivessem fazendo direitinho. “O que eles dão em troca na condicionante é muito pouco, não representa benefício de verdade, pro tamanho do que eles usam nossa terra, nossa gente.” Simone Marcia Santana dos Santos “O que eu acho é que eles deviam entender o que a gente precisa de verdade.” Genilza Batista de Andrade “Se eles vão aproveitar tanto do nosso lugar, tem de combinar direito o que vão fazer em troca. Por exemplo, tem de oferecer empregos de qualidade, e pra isso tem de antes botar escola de qualidade mesmo aqui. Pra que trazer gente de longe, se o nosso pessoal aqui tá aqui perto, querendo crescer, estudar e trabalhar? Então bota escola boa aqui, e fica bom pra todo mundo. Se o hotel investe na comunidade, também depois o seu custo é menor, não precisa de tanto alojamento para funcionário. E todo mundo sai ganhando. A gente que cuidou daqui até agora, vamos cuidar juntos.” Genilza Batista de Andrade COISAS DA TERRA, MAR E RIO “Algumas artesãs trabalham em outras coisas. Eu faço o artesanato e sou professora, outra trabalha na Linha Verde (linha de ônibus), outra tem barraca na praia, serve bebida, tira-gosto para as pessoas que vêm de fora passear. Outra vende acarajé. No verão, na alta, e feriado, tem muita gente. A roça sempre foi pro básico aqui: mandioca, feijão, milho, abóbora. Eu gostava de roça. Hoje eu faço beiju, farinha. Tem duas casas de farinha, uma tem dono, outra é da comunidade. Depois as roças se acabaram porque saíram vendendo as terras para quem vinha, veranistas, turistas de Salvador. Muitos venderam tudo e agora ficam trabalhando na firma, sendo mandado. O artesanato segura isso, a gente que cria como quer fazer.” Genilza Batista de Andrade “Na pesca na nossa comunidade tem muitos maridos. O meu é pedreiro e mergulhador, é pescador. Pega lagosta, polvo, peixe, no mar e no rio. Ele vende o peixe na comunidade.” Valéria Cristina Cordeiro Silva dos Santos “Roça tem só de D Lalu, tem hortaliça boa ali.” Simone Marcia Santana dos Santos “Meus 2 irmãos ainda pescam muito e vivem disso! Saem de barco toda a semana. Eu mesma marisco muito camarão e siri.” Maria de Lourdes Brandão (Nene) “Eu sou filha de pescador, uma vez meu pai pegou um agulhão de 4 metros, pegou de linha num 7 pau de jangada. Pega olho de boi, badejo, bagre, pampo, canapum, muita cavala, vermelho,... eu fui criada com peixe bom. Hoje come peixe quem vem de fora. Os pescadores vendem peixe pra peixaria. Sou marisqueira: uso imboré, pego siri, caranguejo, camarão, pego lambreta. O covo faz de piaçava também e cipó.” Maria Elisabete dos Santos “Agora o camarão parece que tá ruim, acho que é por causa da poluição do Rio Imbassaí. No Areal, a quantidade de casas próximas ao rio é grande, jogam o esgoto todo lá. Ainda bem que tem o Poção, que é um filtro natural, que dá uma limpada nessa água.” Adeval Cerqueira das Neves “Eu adoro mariscar!” D. Ivone “Fui criada no puro dessas coisas. Eu comia lagosta, cozida na água e sal, pra comer com café e farinha. Que delícia. Hoje o tempo é outro.” Maria Joelma Bispo Silva AGORA SÃO OUTROS TEMPOS... ESSE MAPEAMENTO “Esse mapa é importante para divulgar o nosso trabalho, onde a gente pode entrar para tirar palha ou não pode, pra mais tarde não sofrer. Isso tem de crescer, não diminuir.” Valéria Cristina Cordeiro Silva dos Santos “Vai ser nossa forma de mostrar o que a gente tem, de outras pessoas conhecerem nossa comunidade, saber que a gente existe.” Simone Marcia Santana dos Santos “Este trabalho é a nossa identidade, pode abrir e nos localizar, saber da nossa vida, da nossa luta, sem nos conhecer pessoalmente.” Suely Nascimento de Jesus “Com esse mapa quem sabe a gente chama atenção pra uma unidade de conservação para o extrativismo?” Adeval Cerqueira das Neves “Esse mapeamento é bom porque pode chegar alguém, ver nosso mapa, se sensibilizar e ver o que a gente passa, é nosso sustento da comunidade. Fica registrado aí. Eles vão pensar: “a gente vai construir ali, mas vai deixar outra área para elas ali, com senso, com critérios”. Simone Marcia Santana dos Santos “No começo, não tinha ponto de venda certo. O pessoal sofria, sem parada, no frio, no sol, andando. Aí conseguimos com a Prefeitura um ponto na Praia do Forte, na Praça de Música. E ali vende mais, porque tem mais turista. Fomos a primeira associação que conseguiu isso, e então abrimos para “Acho que dá pra fazer a política da boa vizinhança, ficar bom pra todo mundo.” Edilene Barbosa dos Santos outras associações.” Valéria Cristina Cordeiro Silva dos Santos “Temos outros pontos de venda: IberoStar, Palladium, Costa do Sauípe. Não tem problema, graças a Deus, na nossa divisão de pagamento. Nós mesmas que juntas pensamos nesse esquema.” Valéria Cristina Cordeiro Silva dos Santos “Agora estamos investindo e arrumando aqui, a Escola de Produção, pra quem vier ver todo o processo, ver como é que faz, cozinhando, riscando, tudo. Aí vai dar valor.” Valéria Cristina Cordeiro Silva dos Santos “Eu sonho com reconhecimento, valorização.” Maria de Lourdes “Mas uma grande conquista é dar vida a esse artesanato todo, que vai pra tanto lugar do mundo. É como se cada uma de nós fosse um pouquinho junto.” Maria Joelma Bispo Silva “Sonho em fazer um desfile dessas bolsas, arrumar tudo o que temos, fazer catálogo e tocar pra frente, crescer.. “ Suely Nascimento de Jesus “Sonho que as artesãs possam viver só do artesanato.” Zilda da Luz dos Santos “Agora são outros tempos, eu acredito que a gente chega lá.” Valéria Cristina Cordeiro Silva dos Santos “Agora são outros tempos, eu acredito que a gente chega lá.” Valéria Cristina Cordeiro Silva dos Santos Oficina de mapeamento CONTATOS COPARTT - Cooperativa de Artesanato do Trançado Tupinambá Presidente: Maria Joelma Bispo Silva Vice- presidente: Andrea de Cerqueira Lima Tel. 71-99146837 Associação das artesãs de Porto de Sauípe (AAPS) Presidente: Eunice Bispo Silva Vice- presidente: Eloína Soares dos Santos Tel. 75-34751172 Associação das artesãs do Diogo, Areal e Santo Antonio (AADAS) Presidente: Marizete Ferreira dos Santos Vice- presidente: Edileuza Cerqueira Lima Tel. 71-96594006 Email: [email protected] Associação das artesãs de Massarandupió (ADAM) Presidente: Geisa Soares dos Santos Tel. 71-99227885 Email: [email protected] Associação das artesãs de Curralinho Associação de artesanato Mão Nativas de Vila Sauípe (MN) Presidente: Vera Lúcia Conceição Brandão Vice-presidente: Valéria Cristina Cordeiro Silva dos Santos Tel. 71-99256749 Associação de produtoras de artesanato de Vila Sauípe, Estiva, Canoas e Águas Compridas (APAS) Presidente: Evanira Gonçalves dos Santos Tel. 71-99324022 Instituto Berimbau Tel. 71-21048949 Email: [email protected] Coordenador Geral: Beraldo Boaventura Educambiente - Treinamentos e Serviço em Turismo e Meio Ambiente Tel.71-99548364 Email: [email protected] www.educambiente.com.br Realização Cooperativa de Artesanato do Trançado Tupinambá - COPARTT Associação das artesãs do Diogo, Areal e Santo Antonio (AADAS) Associação das artesãs de Curralinho Associação de artesanato Mão Nativas de Vila Sauípe (MN) Associação de produtoras de artesanato de Vila Sauípe, Estiva, Canoas e Águas Compridas (APAS) Associação das artesãs de Porto de Sauípe (AAPS) Associação das artesãs de Massarandupió (ADAM) Associação das artesãs de Subaúma - (ASAS) APOIO