Seminário Internacional Parceria Publico Privada (PPP) na Prestação de Serviços de Infra-Estrutura – MRE – BID - BNDES Data: 13-11-2003 Enrique Iglesias – Presidente do BID − ÍNTEGRA − Muito obrigado, senhor ministro Furlan, senhor presidente Lessa, senhores representantes dos ministros, representantes dos ministérios ligados a esses problemas, também nossos amigos ministros da América Latina, setor privado, amigos todos. Eu gostaria de começar dizendo que estou muito feliz por estar aqui nessa casa amiga. O BNDES é o nosso primeiro parceiro aqui no Brasil, e com o amigo Lessa temos uma amizade que devemos medir em décadas, não? Na verdade estamos felizes em compartilhar esta experiência com os amigos brasileiros e particularmente com o BNDES, porque estamos diante de uma oportunidade muito grande para estudar a potencialidade, a criatividade que tem esta iniciativa das Parcerias Público-Privadas. − Por que este seminário, por que este encontro? Primeiro por alguma coisa que já mencionava Enrique García, que são as dificuldades fiscais que temos na América Latina. Depois dos últimos anos os ofícios ficaram vazios, e a capacidade de fazer investimentos em infra-estrutura muito limitada. Além disso, as políticas de estabilização criam óbices à expansão que podemos ter no endividamento. Então estamos um pouco atrapalhados em situações muito ruins para os países da América Latina. − Em segundo lugar, do ponto de vista internacional a percepção do maior risco criou uma perda de apetite dos investidores internacionais: vimos que o investimento direto em 2000 foi de 65 bilhões de dólares e estamos passando por cerca de 31 bilhões em 2003, a metade do que foi no ano 2000. Além disso, no ano 2002 os fluxos líquidos de capital foram altamente negativos, representando mais que 1% do produto interno bruto no caso das seis maiores economias da região. − Temos um problema interno e também um internacional. E frente a tudo isso temos que as necessidades das nossas populações e das nossas economias, em matéria de investimentos, são enormes. Há muitas necessidades insatisfeitas e muitas demandas para a dinamização da nossa economia, incluindo atividades contra-cíclicas, fundamentais para dinamizar a situação da nossa América Latina. Outro elemento adicional: estamos com competição internacional, a infra-estrutura é fundamental para isso. Então temos que ter infra-estrutura da melhor qualidade para poder competir melhor nos fóruns internacionais. Por isso estamos aqui, para ver quais são as possibilidades de utilização criativa desse instrumento de parceria público-privada. − Não partimos de zero, porque os países já começaram a fazer isso. No Reino Unido estão países dos mais avançados no tema, por isso estamos felizes em contar hoje com a presença do Ministro da Indústria da Grã-Bretanha, que tem muito pra contar, com mais de 20 anos de experiência nesta área. Também os países da Europa têm assumido isso como um desafio importante: Espanha, Itália, França -2têm muita coisa para compartilhar conosco. E também lá o tratado de Madri, introduziu limitações que levaram a viabilizar e a priorizar esse instrumento para procurar de alguma forma cumprir com essas limitações. − Na América Latina sabemos que vários governos estão tomando iniciativa, e acontece que o Brasil, agora, neste mesmo dia, está terminando uma lei fundamental. Vai ser muito importante para todos nossos amigos da América Latina conhecer quais são os elementos da lei do Brasil, pioneira, no sentido de que vai iniciar um processo que se estenderá a outros países. Por isso que este Seminário é fundamental. Sabemos que essas leis têm 3 pilares: ter um quadro jurídico adequado, ter um suporte contratual sólido e equilibrado, e além disso ter um desenho de fluxos financeiros suficientes que lhe dêem suporte. Sobre isso vamos construir experiências - que já têm começado, não estão partindo do zero. Temos que procurar alimentá-las e dinamizá-las. − Gostaria de dizer uma palavrinha a propósito da mobilização de recursos financeiros locais. As experiências dos últimos anos deixaram muito claro que assumir altos endividamentos em moeda estrangeira tem riscos grandes. Risco para os Estados e riscos para as empresas, particularmente o derivado da variabilidade das taxas de câmbio. Da necessidade de desenvolvimento de mercados de capitais locais e incorporação de novos instrumentos financeiros fica hoje na América Latina um elemento fundamental para pelo menos balancear essa altíssima dependência que temos nós dos recursos internacionais. Isso também está dentro desta mecânica de PPP em que estamos trabalhando. Fundamental essa nova dinâmica de desenvolvimento de que falava Vilalva, creio que é muito importante acentuar que esse é um instrumento precisamente para administrar esta dependência. Nesta área temos que priorizar o papel dos investidores institucionais. − A acumulação de recursos no mercado de investimentos institucionais oferece uma oportunidade tanto para o setor público, quanto para o setor privado. Temos que explorá-la, e o BID está trabalhando muito analisando as possibilidades de criação de fundos de infra-estrutura locais que permitam promover a captação de recursos e contar, para isso, com a participação dos organismos internacionais, da CAF, do BID, do Banco Mundial. Isso permitirá identificar projetos selecionados com critérios adequados e desenhos financeiros com bons sistemas de distribuição de riscos. Dessa forma, os bancos nacionais de desenvolvimento, como o BNDES, poderão participar também dessas experiências. − Estamos discutindo agora com o BNDES um iniciativa nesse sentido. As parcerias são fundamentais. O Banco tem alguns instrumentos interessantes que estamos utilizando, não só financeiros, por exemplo: através do Fundo Mundial de Investimentos, nosso FUMIN, apoiamos a criação de quadros normativos institucionais, inclusive apoiamos a preparação da lei de PPP no Brasil. Estamos apoiando agora, por exemplo, o estado de Minas Gerais nessa área também. Esse fundo é um fundo muito inovador, embora esta iniciativa que já tenha 10 anos. − Temos que procurar trabalhar nas melhores práticas, aumentar os diálogos e aprender todos juntos. Na verdade esse encontro aqui é fundamentalmente isso: uma iniciativa para compartilhar experiências e, especialmente diante da opinião pública, salientar mais uma vez que precisamos dessa parceria com o setor privado, de uma parceria inteligente com os bancos de desenvolvimento e com bancos -3internacionais para fazer frente aos desafios que temos pela frente na América Latina, que são enormes. Desafios de maior crescimento fundamental, desafio de sair ao encontro dos grandes problemas sociais que estão nas ruas da América Latina... Dessa maneira acho que temos que olhar o futuro com otimismo porque temos capacidade, criatividade. Criatividade e imaginação na América Latina não faltam. Vamos continuar. Obrigado.