5/30/2014
O Mirante Semanário online - 15-05-2014 - Três Dimensões - “Hoje em dia sabemos que os animais têm sentimentos”
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Edição de 29-05-2014
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Três Dimensões
Gonçalo Clode Silva, 49 anos, médico veterinário, Clínica Veterinária da Quinta da Piedade,
Póvoa de Santa Iria “Hoje em dia sabemos que os animais
têm sentimentos” Cultura e Lazer
Desporto
Opinião
Cavaleiro Andante
Guarda Rios
O Cartoon da Notícia
Gonçalo Clode Silva é médico veterinário. Era a
profissão que queria ter quando era criança e
por isso a exerce com tanto prazer. Diz que é
sensível ao sofrimento dos animais e confessa
que chorou quando perdeu uma cadela devido a
um tumor. Lembra que a ideia antiga de que os
animais só tinham instinto está completamente
ultrapassada e que por isso lida diariamente
com sentimentos, tanto dos donos como dos
animais.
Edição de 2014­05­15
Não custava nada
E­mails do outro mundo
O Mirante dos Leitores
Agora falo eu
Se eu fosse jornalista
Entrevista
Três Dimensões
Primeiro Plano
Foto Revista
Segundo Plano
Parabéns a você!
Galeria
Num Só Clique
Se levarmos uma dentada de um cão ou a arranhadela de um gato a culpa é sempre nossa.
Todos os animais são especiais. E em relação aos que são difíceis de tratar cabe­nos a nós
saber dar a volta. A primeira vez que um animal vem à clínica não deve ser para ser vacinado. A
primeira vez deve vir para conhecer as instalações, receber mimos, comer um doce e ir embora.
Fizemos um pequeno inquérito e concluímos que cerca de 70 por cento dos animais que
tratamos dormem com os donos. Não vejo mal nisso desde que o animal esteja clinicamente
saudável e acompanhado clinicamente. Não é por o animal dormir com o dono que vamos ter
problemas de saúde pública. Em alguns casos até pode ser melhor, porque está provado que
as famílias que têm animais em casa estão mais protegidas das alergias que as outras.
Tive uma infância feliz e desde muito novo que queria ser veterinário. Na Madeira a minha
família sempre teve muitos animais e o meu gosto nasceu aí. Passei pelas aventuras de querer
ser polícia, comandante de aviação e dentista, mas o amor aos animais falou mais alto. O meu
pai é médico e o meu avô também já tinha sido. O meu pai esperava que eu fosse médico mas
não ficou desiludido quando escolhi esta profissão. Sempre a viu como uma profissão muito
nobre e apoiou­me.
Fui motoqueiro quando era novo e agora voltei a ser. Ando muitas vezes de mota de um lado
para o outro. Também gosto muito de mar e quando posso vou fazer mergulho, andar à vela e
windsurf. Sempre que posso tento sair do país e ir para Cuba ou para as Caraíbas, é a única
forma de desligar completamente do trabalho. Sou um viciado no trabalho, um “workaholic” e
tenho essa noção.
Os desonestos que estão na área da veterinária não estão aqui a fazer nada. Temos de ser
humanistas no nosso trabalho. Aqueles que querem ter uma clínica veterinária como meio de
ganhar dinheiro devem esquecer isso. Esta actividade é rentável mas é um negócio muito
específico onde o principal valor é o bem­estar dos animais e dos donos. A veterinária é uma
paixão. Já tenho duas clínicas e uma empresa que distribui produtos veterinários. Gerir a
empresa é gerir números, mas na clínica não. Na clínica lidamos com sentimentos e emoções.
É um mercado em que o valor do animal não tem preço.
Hoje em dia conseguimos fazer em veterinária tudo o que se faz em medicina humana. Mas há
um campo em que ainda estamos a dar os primeiros passos, que é em comportamento animal.
Há 30 anos dizia­se que os animais só tinham instintos. Hoje em dia sabemos que têm
sentimentos, se deprimem e fazem associações de ideias. É uma área muito complexa que me
fascina.
No final de um dia de trabalho, que nunca sei quando é, necessito de silêncio. Passo o dia
todo a ouvir e a resolver problemas de pessoas e animais e a ser obrigado a ter uma rápida
capacidade de resposta e daí essa necessidade. Não preciso de dormir muito, bastam­me
poucas horas para voltar a estar em forma. Nos momentos descontraídos também gosto de ler,
ouvir música e até ver um pouco de televisão. Normalmente vejo os programas mais ridículos
que estiverem a passar, só para descontrair.
Todos nós choramos quando perdemos um animal. Em tempos tive uma cadela que fui
obrigado a “adormecer” por causa de uma questão tumural. Tive de estar com ela até ao fim.
Custou­me imenso perdê­la. Soube o que era estar de ambos os lados. Hoje em dia tenho dois
cães e dois gatos. Abri a clínica da Póvoa quando vivia em Loures e trabalhava no Cartaxo. Fiz
uma pesquisa de mercado e na altura não havia nenhuma clínica aqui na cidade. Arrisquei e
fomos sempre crescendo.
Temos de ter capacidade de arriscar, embora com alguma prudência. Somos hoje,
praticamente, um hospital veterinário. Temos consultas de especialidade e um conjunto de
serviços que abrange toda a área da veterinária, como consultas, tosquias, vacinação,
laboratório próprio em que fazemos as análises, raio­x, ecografia, bloco operatório com
anestesia volátil, oxigénio e monitor multiparamédico, hotel de gatos e secção de internamento
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O Mirante Semanário online - 15-05-2014 - Três Dimensões - “Hoje em dia sabemos que os animais têm sentimentos”
para 30 animais.
Nasci em Lisboa mas considero­me natural da Madeira. Os meus pais são do Funchal e tenho
imensas memórias de infância da ilha. Estive lá até aos 18 anos até vir para o continente. Ainda
tenho um bocadinho de sotaque e orgulho­me dele. Não me custou dar o pulo da ilha para a
capital. Vim para cá viver e estudar sozinho. Na Madeira estava muito ligado à actividade
náutica, andava de barco e fazia windsurf, que são actividades solitárias, por isso não me
custou muito enfrentar as coisas sozinho. Nunca usei mapa em Lisboa. Saí da faculdade em
1989.
Filipe Matias
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