PROGRAMA DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO ROSANGELA DA SILVA PARDO EFEITOS FINANCEIROS DO PROGRAMA UNIVERSIDADE PARA TODOS (PROUNI) EM UMA INSTITUIÇÃO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR PRIVADA SÃO PAULO 2013 PROGRAMA DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO ROSANGELA DA SILVA PARDO EFEITOS FINANCEIROS DO PROGRAMA UNIVERSIDADE PARA TODOS (PROUNI) EM UMA INSTITUIÇÃO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR PRIVADA Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Educação da Universidade Cidade de São Paulo, como requisito exigido para a obtenção do título de Mestre em Educação, sob orientação da Profª. Drª. Celia Maria Haas. SÃO PAULO 2013 Ficha Elaborada pela Biblioteca Prof. Lúcio de Souza. UNICID P226e Pardo, Rosangela da Silva Efeitos financeiros do Programa Universidade para Todos (PROUNI) em uma instituição de educação superior privada / Rosangela da Silva Pardo. São Paulo, 2013. 140 f.; e anexos. Bibliografia Dissertação (Mestrado) – Universidade Cidade de São Paulo. Orientador: Profª. Drª. Celia Maria Haas. 1. Políticas públicas. 2. Educação superior. 3. PROUNI 4. Acesso è educação superior l. Haas, Celia Maria. II. Título. CDD. 378 Dissertação (Mestrado em Educa ROSANGELA DA SILVA PARDO EFEITOS FINANCEIROS DO PROGRAMA UNIVERSIDADE PARA TODOS (PROUNI) EM UMA INSTITUIÇÃO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR PRIVADA Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Educação da Universidade Cidade de São Paulo, como requisito exigido para a obtenção do título de Mestre em Educação, sob orientação da Profª. Drª. Celia Maria Haas. Área de Concentração: Política Educacional Data da Defesa: 13 / 12 / 2013 BANCA EXAMINADORA: Prof. Dr. José Rubens Lima Jardilino _____________________________ Universidade Federal de Ouro Preto Profª. Drª. Angela Maria Martins _____________________________ Universidade Cidade de São Paulo Profª. Drª. Celia Maria Haas Universidade Cidade de São Paulo _____________________________ Em memória, ao meu pai, Vicente Pardo; À minha querida mãe, Aparecida; Tudo que sou devo aos meus pais que me ensinaram os valores mais importantes desta vida: amor e respeito; Ao meu marido, Davis, pelo amor e companheirismo; À Sophia, minha fiel companheira. AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, pela oportunidade desta encarnação e pela minha família maravilhosa; Em especial, aos meus pais, Vicente e Aparecida, pelo exemplo de vida e pela educação que me proporcionaram; Ao meu marido, Davis, que me acompanhou nessa trajetória - o curso de mestrado e soube compreender os meus momentos de silêncio e ansiedade; À minha querida Sophia, que, mesmo sem entender minha falta de tempo para os passeios diários, se fez presente todos os dias, deitada ao meu lado, em todo o período de dedicação a este trabalho; À minha orientadora, Professora Doutora Celia Maria Haas, pela pessoa maravilhosa que é, por ter acreditado em mim e nesta pesquisa, pelo estímulo, e, sobretudo, pela paciência. Obrigada por dividir comigo sua amizade e seus preciosos conhecimentos; Aos Professores Doutores Sandra Maria Zakia Lian Sousa e José Rubens Lima Jardilino, membros da Banca Examinadora, pelas importantes contribuições a este trabalho no Exame de Qualificação. À minha amiga Fernanda Pimenta, pelo apoio durante esta caminhada e pela valiosa ajuda na coleta de dados junto à Instituição. Sei o que devo ser e ainda não sou, mas rendo graças a Deus por estar trabalhando, embora lentamente, por dentro de mim próprio, para chegar, um dia, a ser o que devo ser. Francisco Cândido Xavier RESUMO PARDO, Rosangela da Silva. Efeitos financeiros do Programa Universidade para Todos (PROUNI) em uma instituição de educação superior privada. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade da Cidade de São Paulo (UNICID), São Paulo, 2013. A presente pesquisa teve por objetivo verificar os efeitos financeiros do Programa Universidade para Todos (PROUNI) em uma Instituição de Educação Superior Privada, com fins lucrativos. Buscou ainda identificar se a isenção fiscal alcançada, após adesão ao Prouni, superou os investimentos em bolsas de estudos ofertadas pelo programa assegurando a continuidade e uma possível expansão desta instituição no mercado educacional. A investigação, desenvolvida em duas etapas, teve na primeira um estudo dos documentos contábeis e dos termos de adesão da IES ao Prouni. A entrevista com o mantenedor da instituição, na segunda etapa, foi realizada para qualificar as informações obtidas na análise dos documentos. A interpretação dos dados foi realizada com apoio de autores que discutem a temática sob a ótica das finanças públicas relacionando-a com outras áreas do conhecimento, principalmente a ciência econômica e contábil. Os resultados demonstraram que o ganho fiscal alcançado por esta instituição, após sua adesão ao programa, contribuiu financeiramente para a estabilização, manutenção e crescimento institucional nos últimos anos. Como apontam alguns autores, pôde-se apreender, com a pesquisa, que a redução fiscal foi o principal resultado positivo da adesão da IES ao programa. Palavras-chave: Políticas públicas. Educação superior. PROUNI. Acesso à educação superior. ABSTRACT PARDO, Rosangela da Silva The financial effects of the program Universidade para Todos (PROUNI) in a private university. Dissertation (Master of Education) University of São Paulo City, São Paulo, 2013. This research aimed at verifying the financial effects of the program Universidade para Todos (PROUNI) in a profit-seeking private university. Furthermore, it investigated to what extent the university’s exemption from taxation after taking part of PROUNI outnumbered the investments in scholarships offered by the program as well as the permanence and a potential expansion of the institution in the market. The research was developed in two stages. Firstly, it was done a study of the accounting documents and the rules for enrollment in the program PROUNI. Secondly, an interview with the maintainer of the private institution aimed at qualifying the information obtained during the analysis of the documents. The interpretation of data was carried out with the support of the authors who discuss the theme in the light of public finances and also making connections with other major areas, especially Economics and Accounting Sciences. The outcomes demonstrated that the profits made by the institution after enrolling in the program contributed to its stabilization, maintenance and expansion in the last few years. As some authors point out, we can apprehend with this research that the fiscal reduction was the main positive result of enrolling in the program. Keywords: Public policies. Higher education. PROUNI. Access to higher education. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABMES Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior ANDIFES Associação Nacional dos Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior ANUP Associação Nacional das Universidades Particulares CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CEP Comitê de Ética e Pesquisa CMN Conselho Monetário Nacional COFINS Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social COPOM Conselho de Política Monetária CSLL Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido ENEM Exame Nacional do Ensino Médio ENADE Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes FIES Programa de Financiamento Estudantil FMI Fundo Monetário Internacional IES Instituição de Ensino Superior IFES Instituição Federal de Ensino Superior GTI Grupo de Trabalho Interministerial IRPJ Imposto de Renda da Pessoa Jurídica LDBEN Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional MARE Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado do Brasil PDE Plano de Desenvolvimento da Educação PDI Plano de Desenvolvimento Institucional PIB Produto Interno Bruto PIS Programa de Integração Social PPP Parcerias Público-Privadas PSDB Partido da Social Democracia Brasileira PROUNI Programa Universidade para Todos REUNI Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais SEMESP Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo SINAES Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior SISPROUNI Sistema Informatizado do Programa Universidade para Todos SESU Secretaria de Educação Superior LISTA DE GRÁFICOS Pág. Evolução do número de vagas ociosas na graduação presencial segundo a categoria administrativa das IES (20002008) ........................................................................................... 29 Gráfico 2 - Total estimado de alunos ingressantes (2008-2011) ................... 81 Gráfico 3 - Alunos ingressantes em relação aos bolsistas PROUNI integrais (100%) e parciais (50%) ................................................ 83 Gráfico 4 - Bolsas integrais (2008-2011) ....................................................... 85 Gráfico 5 - Bolsas parciais - (50%) (2008-2011) ........................................... 86 Gráfico 1 - LISTA DE TABELAS Pág. Tabela 1 - Evolução das Instituições de Ensino Superior (IES) públicas e privadas, por organização acadêmica, no Brasil (1996-2005)..... 27 Tabela 2 - Alíquotas e base de cálculo dos tributos federais por categoria de IES .......................................................................... 46 Tabela 3 - Receita semestral da instituição (2007-2010) ............................. 65 Tabela 4 - Alunos matriculados ingressantes que pagam mensalidades (2008 - 2011) ............................................................................... 69 Tabela 5 - Bolsistas integrais (2008-2011) ................................................... 70 Tabela 6 - Bolsas parciais (50%) obrigatórias (2008-2011) .......................... 70 Tabela 7 - Bolsas parciais (50%) adicionais (2008-2011) ............................ 72 Tabela 8 - Demonstrativo da isenção fiscal em função da adesão da IES ao PROUNI (2008-2010) ............................................................. 75 Tabela 9 - Investimentos realizados pela IES em bolsas de estudo ofertadas pela IES (2008-2010)................................................... 77 Tabela 10 - Isenção fiscal x Investimentos em bolsas de estudo (20082010) ........................................................................................... 78 LISTA DE QUADROS Pág. Quadro 1 - Cursos de graduação oferecidos pela instituição em 2010 ....... 63 Quadro 2 - Cursos oferecidos pela instituição em 2011, de acordo com turno, regime de exigência, duração, mensalidade bruta, desconto e mensalidade média.................................................. 66 Quadro 3 - Pesquisas sobre FIES de acordo com a instituição, autor, nível, ano de publicação (2006 - 2011) ............................................... 111 Quadro 4 - Pesquisas sobre o REUNI, De acordo com a instituição, autor, ano de publicação (2007 – 2011)................................................ 112 Quadro 5 - Pesquisas sobre PROUNI, de acordo com a instituição, autor, ano de publicação (2006 - 2011) - parte 1 ................................. Quadro 6 - Pesquisas sobre PROUNI, de acordo com a instituição, autor, ano de publicação (2006 - 2011) - parte 2 ................................. 115 118 SUMÁRIO Pág. INTRODUÇÃO ................................................................................................ 14 1 FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL ................................................................................... 19 1.1 Finanças públicas e renúncia fiscal no Brasil (19601980) ....................................................................................... 19 1.2 Política econômica e reforma estatal no Governo Fernando Henrique Cardoso ............................................................... 20 1.3 O contexto das reformas no Governo Luis Inácio Lula da Silva (2003- 2006) ............................................................... 30 PROGRAMAS DE FINANCIAMENTO PARA A EDUCAÇÃO SUPERIOR NO GOVERNO LUIS INÁCIO LULA DA SILVA ..................................................................... 36 2.1 Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI)..................... 36 2.2 Programa de Financiamento Estudantil (FIES) ....................... 38 2.3 Programa Universidade para Todos (PROUNI) ...................... 41 2.4 Principais alterações promovidas no Projeto de Lei do PROUNI .................................................................................. 50 3 O CENÁRIO DA PESQUISA: UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR PRIVADA COM FINS LUCRATIVOS ... 58 3.1 Procedimentos metodológicos e caracterização da pesquisa .................................................................................. 58 3.2 A Instituição de Educação Superior (IES) ............................... 60 3.3 Apresentação dos Termos de Adesão ao PROUNI ............. 64 4 PROGRAMA UNIVERSIDADE PARA TODOS (PROUNI) EM UMA INSTITUIÇÃO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR PRIVADA: RESULTADOS DA ADESÃO ............................... 74 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 91 REFERÊNCIAS .................................................................................................. 97 2 APÊNDICE “A” - Termo de consentimento livre e esclarecido........................... 108 APÊNDICE “B” - Questionário elaborado para entrevista com o mantenedor da instituição ................................................................................................ 110 Pág. APÊNDICE “C” - Levantamento das pesquisas realizadas sobre os programas de financiamento no Banco de dados da 111 CAPES: FIES; REUNI; e PROUNI .......................................... APÊNCIDE “D” - Referências das pesquisas realizadas sobre os programas de financiamento na CAPES: FIES, REUNI; e PROUNI...... 122 ANEXO “A” - Respostas do mantenedor antecedente à entrevista 127 pessoal ................................................................................... ANEXO “B” - Transcrição da entrevista pessoal ......................................... 129 14 INTRODUÇÃO Em 2004, no Governo de Luis Inácio Lula da Silva, foi criado o Programa Universidade Para Todos (PROUNI), por meio da Medida Provisória nº. 213, de 10 de setembro daquele ano, efetivamente implementado com a edição da Lei Federal nº. 11.096, de 13 de janeiro de 2005, tendo como finalidade a concessão de bolsas de estudos, integrais e parciais, a estudantes brasileiros e sem diploma de nível superior, em cursos de graduação de instituições privadas de educação superior (BRASIL, 2004b; 2005). O programa foi criado para favorecer o acesso à educação superior privada por estudantes de baixa renda, mediante concessão de bolsas de estudos pelas Instituições de Ensino Superior (IES) privadas. Em contrapartida, o Governo Federal concede isenção dos tributos federais às instituições que aderem ao Programa, como Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ); Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido (CSLL); Programa de Integração Social (PIS); e Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS). A Lei Federal nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), em seu artigo 19, classifica as instituições de ensino dos diferentes níveis em públicas, mantidas e administradas pelo poder público, e privadas, mantidas e administradas por pessoas físicas ou jurídicas de direito privado (BRASIL, 1996). A mencionada norma orienta, no artigo 20, sobre a diferença entre as instituições que são classificadas em privadas particulares em sentido estrito assim entendidas as que são instituídas e mantidas por uma ou mais pessoas físicas ou jurídicas de direito privado e as comunitárias; confessionais; e filantrópicas. São consideradas comunitárias as IES instituídas por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais pessoas jurídicas, inclusive cooperativas educacionais, sem fins lucrativos, que incluam na sua entidade mantenedora representantes da comunidade. Às confessionais exige-se, além da presença de representantes da comunidade, aqueles que tenham orientação confessional e ideologia específicas. A partir da nova LDBEN o que distingue o sistema de instituições confessionais, comunitárias e filantrópicas são as isenções fiscais das quais 15 usufruem, por se caracterizarem instituições sem fins lucrativos. Isto significa que os resultados positivos de suas atividades devem ser reinvestidos nelas mesmas, não podendo haver distribuição de lucros. A partir da Lei Federal nº. 9.732, de 11 de dezembro de 1998, as IES sem fins lucrativos são consideradas imunes das contribuições sociais e devem destinar 20% da receita em gratuidade e as IES privadas em sentido estrito que têm como finalidade a obtenção de lucros passaram a recolher todos os tributos federais, elevando seus custos operacionais (BRASIL, 1998). Após a edição da Nova LDBEN , as IES privadas, que não pagavam Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ), Imposto sobre Serviços (ISS) e Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), foram divididas em instituições com fins lucrativos e sem fins lucrativos, deixando, aquelas, de se beneficiarem com obtenção de recursos públicos, ao passo que as demais permaneceram imunes ou isentas à incidência tributária. Com a criação do PROUNI, pela Lei Federal nº. 11.096/2005, as IES privadas que mais se beneficiam são aquelas com fins lucrativos, que, ao aderirem ao programa tornam-se isentas do recolhimento dos tributos federais (BRASIL, 2005). A renúncia fiscal proporcionada às IES que aderem ao programa reduz a arrecadação pública e, de certa forma, pode configurar transferência de recursos públicos para o setor privado na forma de isenção fiscal. Matéria publicada na Folha de São Paulo indica que a isenção fiscal proporcionada pelo PROUNI, em 2010, atingiu seu auge representando naquele ano ao governo federal uma renúncia fiscal de R$ 676,4 milhões (FOREQUE, 2013). O PROUNI, vincula-se ao projeto de democratização do acesso à educação superior no Governo de Luis Inácio Lula da Silva. O programa contempla alunos carentes, mas exige que se obedeçam alguns critérios, como baixa renda familiar, bem como destina um percentual de bolsas para alunos autodeclarados negros, indígenas e portadores de deficiência, e beneficia a formação de professores de ensino básico da rede pública. De acordo com a lei 11.096/05 em seu artigo 14 prevê que os alunos que possuem bolsas parciais de 50% do PROUNI e não conseguem custear a metade faltante, têm prioridade na aquisição do novo Programa de Financiamento Estudantil (FIES), podendo pleitear este financiamento sem a necessidade de apresentação de 16 um fiador. Até o primeiro semestre de 2013, mais de 1,2 milhão de estudantes foram beneficiados pelo PROUNI (FOREQUE, 2013). Embora a posição dos alunos1 e das IES privadas seja favorável à implantação do PROUNI, este também recebe críticas, principalmente de pesquisadores ligados ao setor público, ao indicarem que o programa incentiva a oferta privada de educação e favorece o crescimento do setor privado a partir das isenções fiscais. Para verificar o encaminhamento das pesquisas em relação ao programa foi realizado um levantamento junto ao Banco de Teses da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)2 No que se refere ao REUNI e o FIES as pesquisas apresentadas no apêndice “C” deste estudo indicou que estas se dividem em duas abordagens, a primeira aponta que os programas não são uma política de democratização da educação superior, bem como aprofunda o seu grau de privatização, alinhando-se com os organismos internacionais, a segunda, mostra resultados que apontam o REUNI e o FIES como uma medida política que assegura acesso ao nível superior a partir da sua expansão por meio do financiamento público. O levantamento, realizado no banco de Teses e dissertações da Fundação Capes indicou que existem duas principais abordagens sobre o PROUNI, que constitui o objeto deste estudo. A primeira, que discute eventuais contribuições do programa para ampliação do acesso à educação superior, bem como a democratização dessa modalidade de ensino e a outra abordagem que congrega argumentos críticos e busca evidenciar o movimento de privatização e mercantilização da educação superior no Brasil, induzida por programas governamentais. Entretanto, o estudo do cenário das pesquisas no Banco de Dados da Capes 1 FOREQUE, Flávia. PROUNI rende isenção fiscal de R$ 4 bi a faculdades privadas. Folha de São Paulo, São Paulo, 4 ago. 2013. OLIVEIRA, Cristiane Pereira Melo de. Programa Universidade Para Todos: a percepção dos estudantes de uma universidade privada de São Paulo. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Cidade de São Paulo, São Paulo, 2012. 2 O levantamento realizado junto ao banco de dados da fundação CAPES se encontra no apêndice “C” desta pesquisa. 17 sobre financiamento da educação superior no Brasil, em especial, sobre o PROUNI trouxe estudos que apontam novos dados sobre o programa e que contribuirão para a reflexão ao longo desta pesquisa os principais resultados destes estudos estão apresentados a seguir, Oliveira (2007), aponta que o PROUNI possui aspectos tanto públicos quanto privados o que revela sua complexidade ao analisá-lo. Oliveira (2012), por sua vez, lembra a posição dos alunos beneficiados pelo programa, na qual, a maioria dos entrevistados mostra-se favorável ao programa. O estudo realizado na CAPES mostrou que não existem pesquisas sobre o PROUNI que tenham analisado o programa na perspectiva do benefício fiscal alcançado por uma instituição privada e sugere a necessidade de explorar o assunto e de verificar se o benefício fiscal concedido a uma Instituição de Educação Superior (IES) particular supera os investimentos em bolsas de estudos ofertadas pelo PROUNI. O presente estudo pretendeu identificar quais seriam os efeitos financeiros provocados pelo PROUNI em uma Instituição de Educação Superior privada que tenha aderido ao programa, com objetivo de verificar se a isenção fiscal auferida após adesão desta IES ao programa supera os investimentos em bolsas de estudos do programa. Quanto à abordagem metodológica, este trabalho consiste em uma pesquisa documental e os dados que a subsidiaram foram coletados, com autorização do seu mantenedor em uma IES Privada localizada no município de Cotia no Estado de São Paulo que aderiu ao Programa Universidade para Todos em 2008. Os dois principais documentos utilizados foram os Termos de Adesão e os Balanços Patrimoniais dessa IES. Como a pesquisa envolveu uma entrevista com um membro da instituição, o projeto de pesquisa foi encaminhado para a análise e recebeu a aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da Universidade Cidade de São Paulo (UNICID), no mês de maio de 2012, A apresentação dos resultados da pesquisa foi organizada em quatro capítulos visando assegurar melhor clareza e entendimento. a) Capítulo 1 - O Financiamento da Educação Superior no Brasil apresenta as políticas econômicas que orientaram as finanças públicas e a 18 questão da renúncia fiscal no Brasil desde a década de 1960 até o primeiro mandato do Presidente Luis Inácio Lula da Silva, em especial, da reforma estatal proposta pelo Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado do Brasil (MARE), nos anos 1990, e suas implicações na educação superior; b) Capítulo 2 - Programas de Financiamento para Educação Superior no Governo Luis Inácio da Silva - apresenta os programas de financiamento implantados pelo governo Lula, quais sejam, Novo FIES, REUNI e PROUNI, e como este programa se consolida a partir das diversas alterações propostas no Projeto de Lei que dele trata; c) Capítulo 3 - O Cenário da Pesquisa: uma IES privada com fins lucrativos - refere-se à descrição do processo de desenvolvimento da pesquisa, apresenta a instituição e mapeia os dados dos termos de adesão; e d) Capítulo 4, Programa Universidade Para Todos (PROUNI) em uma Instituição de Educação Superior Privada: resultados da adesão - traz os resultados da pesquisa realizada na IES. Nesse capítulo, busca-se uma reflexão relativa aos dados coletados nos termos de adesão e nos balanços patrimoniais, em comparação com as respostas obtidas em entrevista com o mantenedor, procurando identificar os efeitos financeiros do PROUNI na instituição. 19 1 FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL Para que se possa entender o contexto em que foi instituído o Programa Universidade para Todos (PROUNI), convém conhecer o cenário econômico no qual este programa está inserido. Assim, apresentam-se, inicialmente, as medidas de política econômica que orientaram as finanças públicas e a questão da renúncia fiscal no Brasil, desde a década de 1960, e como esta isenção fiscal beneficiou a criação, o financiamento e a expansão das instituições privadas de educação superior, até os anos mais recentes. 1.1 Finanças públicas e renúncia fiscal no Brasil (1960-1980) A partir dos anos 60, o Governo Militar utilizou-se de incentivos e isenções fiscais para apoiar a atuação privada na educação superior e impulsionar o projeto de desenvolvimento nacional, conforme explica Carvalho (2005, p. 3), O mecanismo de renúncia fiscal tornou-se fator central no financiamento do segmento privado. A Lei n. 5.172/66, que instituiu o Código Tributário Nacional, em concordância com a CF/67, determinava a não incidência de impostos sobre a renda, o patrimônio e os serviços dos estabelecimentos de ensino de qualquer natureza. Em outras palavras, as organizações privadas de ensino superior gozaram do privilégio, desde a sua criação, de imunidade fiscal, não recolhendo aos cofres públicos a receita tributária devida. Esse instrumento de financiamento indireto a partir da renúncia fiscal foi fundamental para o financiamento e o crescimento das instituições de educação superior privadas. Neste aspecto, a autora analisa no mesmo trabalho os efeitos da renúncia fiscal no processo de expansão das instituições privadas de educação superior a partir dos anos 1970, ao mostrar que: A imunidade do ISSQN e a isenção da COFINS estimularam o aumento de matrículas, já que não há ônus tributário sobre a ampliação da prestação de serviços. A imunidade do Imposto de Renda e a isenção da CSLL possibilitaram a continuidade da atividade educacional e evidenciaram a saúde financeira da instituição. O resultado positivo viabilizava o financiamento bancário, o auxílio externo e a obtenção de recursos de agências de fomento (CARVALHO, 2005, p. 3). 20 De um modo geral, nas décadas de 60 e 70, a política baseada na renúncia fiscal desempenhou um papel central no financiamento da educação superior privada. O incentivo fiscal foi essencial para o crescimento das IES privadas nos períodos de prosperidade econômica, como, também, garantiu a continuidade da atividade das instituições em momentos de crise, por meio da redução dos efeitos sobre custos referentes à prestação de serviços educacionais. Entretanto, a renúncia fiscal implicou na redução da arrecadação tributária, o que, de certa forma, na visão de Lopreato (2004), pode ser considerada uma transferência de recursos financeiros públicos às instituições privadas de educação superior, já que as IES deixam de recolher alguns tributos. A década de 80 foi marcada por uma crise econômica decorrente do aumento das taxas de juros internacionais ocasionado pelas crises do petróleo em 1973 e 1979, que reverteram o fluxo de divisas para os países centrais, e o ajuste promovido pela política econômica do período provocou aumento da inflação, estagnação econômica e a queda dos salários reais. Para Carvalho (2005, p. 4): A renúncia fiscal amenizou os impactos da inadimplência, do desemprego e da queda dos salários reais sobre os estabelecimentos particulares, permitindo a continuidade da atividade educacional e evitando muitas falências no setor. Assim, a renúncia fiscal na década de 80 beneficiou as IES privadas amenizando naquele período os efeitos da crise econômica e permitindo a continuidade de suas atividades. 1.2 Política econômica e reforma estatal no Governo Fernando Henrique Cardoso No início década de 90, o Brasil ainda enfrentava uma crise econômica que se refletia em processos inflacionários crescentes e um Estado devedor, incapaz de manter políticas econômicas autônomas, o que o colocou à mercê de diagnósticos e conselhos oriundos de organismos internacionais, especialmente o Fundo Monetário 21 Internacional (FMI) e o Banco Mundial, que orientavam para a adoção de uma política de estabilidade monetária, ajuste fiscal, políticas anti-inflacionárias e liberalização da economia por meio de aberturas comerciais e privatizações. As propostas oriundas desses órgãos, privilegiavam a soberania do mercado autorregulável e reduziam o tamanho e o papel do Estado. O FMI e o Banco Mundial defendiam corte nos gastos públicos como medida de ajustamento e o controle do déficit público ocupava lugar central nessa política macroeconômica juntamente com o controle inflacionário, assim, o equilíbrio dessas variáveis, de acordo com o FMI, era importante para o controle da economia. Para Lopreato (2005, p. 95): O controle do déficit público ocupava lugar central na política macroeconômica do período. Não é por outra razão que os organismos multilaterais sempre defendiam seu corte como medida inicial da política de ajustamento. Destaque-se que a abertura dos mercados financeiros provocou inversões no fluxo de capitais especulativos, o controle do déficit deixou de ser a referência principal e o novo indicador passou a ser de sustentabilidade da dívida brasileira. A este respeito, assim manifestou-se Carvalho (2006, p. 982): O indicador de sustentabilidade da dívida permitiu incorporar o problema da avaliação do comportamento esperado das finanças públicas em cenários prováveis. A partir do momento em que essa ideia tornou-se dominante, deixou de ser suficiente o País demonstrar que goza de boa situação fiscal. É preciso que o mercado acredite que, no cenário esperado para um determinado tempo no futuro, não haverá risco de calote na dívida. Após acordo com o FMI, em 1998, o órgão exigiu do segundo governo de Fernando Henrique um superávit primário3 capaz de assegurar a sustentabilidade da dívida brasileira qualquer que fosse a taxa de juros incidente sobre a dívida pública, amenizando os riscos do capital financeiro especulativo. Neste contexto, a questão fiscal ganhou lugar central na política macroeconômica brasileira, em meados dos anos 1990, assim, a dívida pública tornou-se um dos ativos usados na valorização do capital financeiro, pois os 3 Superávit primário, de acordo com Lopreato (2005, p. 95) é o resultado do total da receita tributária auferida, menos os gastos do governo, sem considerar o valor dos juros incidentes. 22 investidores precisavam ter confiança no sentido de que a dívida fosse sustentável e a elevação do superávit primário ocorreu com um aumento da carga tributária brasileira, como, também, com cortes nos gastos públicos. No Brasil, durante o Governo Fernando Henrique Cardoso, observa-se a adoção de uma política econômica baseada no ajuste fiscal e na implantação da reforma do Estado. A crítica ao Estado Intervencionista e a busca da minimização de sua atuação no que se refere às políticas sociais são prescritas como solução para a retomada do crescimento econômico por meio de sua reforma. Logo, essa reforma foi implementada pelo discurso de sua modernização e racionalização, defendida como saída para a crise dos anos 90, e o objetivo era a superação dos problemas do mundo contemporâneo, como o desemprego, altas taxas de inflação e a redução do crescimento econômico. A reforma ocorreu a partir de 1995, aliada aos objetivos de modernização e racionalização. Luiz Carlos Bresser Pereira, então Ministro da Administração Federal e Reforma do Estado (MARE), no Governo Fernando Henrique, propôs uma reforma estatal e apresentou um Plano Diretor, sugerindo mudanças nas formas de organização e gestão do Estado brasileiro. No documento base para a reforma de Estado, intitulado “A reforma do Estado dos anos 90 crise e reforma”, Bresser Pereira (1997) afirmou que a crise fiscal do Estado constituía a causa principal da crise pela qual passava a economia brasileira. Uma vez que esse Estado deficitário era incapaz de promover as mesmas estratégias de desenvolvimento que lograram sucesso na década anterior e acabou por se tornar um obstáculo ao desenvolvimento. Para Bresser Pereira (1997 p. 321) havia um esgotamento do modelo desenvolvimentista fomentado pelo Estado interventor. O diagnóstico feito pelo MARE, no ano de 1995, mostrava que, para uma reforma consistente do Estado, convinha a superação de suas formas de atuação o que implicava na descentralização e redesenho das suas estruturas, dotando-as de inteligência e flexibilidade (BRASIL, 1995a). De modo geral, para Bresser Pereira a reforma do Estado deveria superar, mediante a implantação do gerencial, o modelo burocrático. Nesse novo modelo gerencial “o Estado reduziria seu papel de prestador direto de serviços, mas 23 manteria o papel de regulador e promotor desses serviços, entre os quais destacase os de educação e saúde” (SGUISSARDI; SILVA JÚNIOR, 2001, p. 40). No novo modelo, de acordo com o Plano Diretor de 1995, o Estado passou a ter quatro setores: a) núcleo estratégico - a ele cabe definir as leis, as políticas públicas, cobrando seu cumprimento; b) atividades exclusivas - o setor em que são prestados os serviços que só o Estado pode realizar; c) serviços não exclusivos - correspondem ao setor no qual o Estado atua simultaneamente com outras organizações públicas não estatais e privadas. As instituições desse setor não possuem o poder do Estado. São exemplos desse setor as universidades, os hospitais, os centros de pesquisa e os museus; e d) produção de bens e serviços para o mercado - corresponde à área de atuação das empresas e é caracterizado pelas atividades econômicas voltadas para o lucro que ainda permanecem no aparelho do Estado como, por exemplo, as do setor de infraestrutura (BRASIL, 1995). Além das características acima mencionadas, o Plano Diretor de 1995 também sugere uma distinção importante no que se refere às formas de propriedade, ainda que se considerem apenas duas delas, a propriedade estatal e a propriedade privada (BRASIL, 1995). Destaque-se, ao lado das formas tradicionais, a propriedade pública não estatal. Para Bresser Pereira (1997, p. 43) “existe no capitalismo contemporâneo uma terceira forma, intermediária, extremamente relevante: a propriedade pública não estatal”. Com o conceito de público não estatal consolida-se uma das principais medidas das reformas educacionais nos anos 90, a transferência de atividades realizadas pelo Estado ao setor privado. À luz do conceito do público não estatal, o Estado é um ente burocrático, ineficiente e ineficaz na execução de serviços públicos, como a educação, em especial, a educação superior, e deve deixar, portanto, o setor privado encarregado de oferecer estes serviços, para os quais recebe recursos estatais. 24 Dourado (2002, p. 236) observa que: Essa lógica propõe o enxugamento da máquina estatal e a reforma do Estado é entendida como superação de visões do passado de um Estado assistencialista e paternalista por meio da transferência da produção de bens e serviços à sociedade, à iniciativa privada. Nos anos 90, especialmente, na gestão de Fernando Henrique as políticas públicas são orientadas pela reforma de Estado que alteram os padrões de intervenção estatal redirecionando as suas formas de gestão e atuação. As diretrizes da reforma proposta pelo MARE efetiva-se pela reconfiguração do papel desempenhado pelo Estado, que é tido como ineficiente. A reforma foi implementada pelo discurso de modernização do Estado. Nesta ótica, a reforma estatal buscou a minimização da atuação estatal no tocante às políticas sociais, prescrita como o caminho para a retomada do crescimento econômico. No que diz respeito à reforma estatal, Mancebo (2004, p. 848), ao analisar o contexto das políticas públicas e o papel do Estado no governo de Fernando Henrique, destaca a transferência de atividades públicas para o setor privado, ao afirmar que: A privatização e a constituição do setor público não-estatal [sic] seriam os grandes instrumentos de execução dos serviços, que assim não demandariam o exercício do poder do Estado, mas apenas o seu subsídio. Como consequência imediata, obteve-se a diminuição dos investimentos públicos em saúde e cultura, bem como em educação, incluindo a educação superior e todo o campo de produção de ciência e tecnologia. O Estado deveria, pois, deixar de ser o responsável direto pelo desenvolvimento econômico e social por meio da produção de bens e serviços e deveria fortalecer seu papel de regulador desse desenvolvimento. Para tanto, faziase necessária a transferência, para o setor privado, das atividades que pudessem ser controladas pelo mercado. A privatização e a constituição do setor público, não estatal, seriam os grandes instrumentos de execução desses serviços. Considerando a classificação da educação superior, proposta pelo MARE, como atividade não exclusiva do Estado, a ela seria aplicada essa forma de 25 propriedade. Por este modo, as universidades públicas não foram poupadas, passando, então, por uma reforma que as submeteram a políticas de austeridade, com salários arrochados e diminuição do repasse de recursos para manutenção e investimento, o quadro geral das instituições de educação superior no período era de crise. Sguissardi e Silva Júnior (1999, p. 41) observam que as reformas propostas nos anos 90 no Brasil podem ser caracterizadas pela categoria privatização do público. O saber mercantilizado, bem individual antes que direito coletivo e condição de cidadania, e a educação superior, como prestação de serviços por empresas competitivas exigiriam a máxima diferenciação institucional e flexibilização curricular. O modelo humboldtiano de universidade que alia ensino e pesquisa deve ser substituído por outro que possibilite a máxima expansão das chances de quantos queiram alcançar o ‘olimpo meritocrático’ de um curso ‘pós-médio’, sequencial que seja com as mil combinações de saberes/mercadorias garantidoras dos títulos/menus nos ‘self-services’ acadêmicos oferecidos à milionária demanda reprimida de candidatos ao terceiro grau. Trata-se dos modelos das universidades de ensino, já largamente hegemônicas a fiar-se no insuspeito testemunho da opinião pública. Para os autores, a educação superior foi reduzida à condição de mercadoria e diagnosticada como espaço a ser assumido pelo mercado, capaz de dotar-lhe de competitividade, gerindo-a de modo mais eficiente que o Estado. As concepções subjacentes ao atual processo de reforma não possuem autonomia em relação às políticas macroeconômicas atinentes à reestruturação da produção e à reforma do Estado. A reforma em curso revela uma clara subsunção da educação superior a uma política de gastos, de redução do déficit público, de destinação do Fundo Público para quase exclusivo benefício do capital, em detrimento do trabalho e dos serviços sociais do Estado, isto é, subsunção do educacional ao econômico e às regras do mercado. Assim submetida a uma política de gastos, ao mercado e ao estritamente econômico. Trata-se, não mais de uma política educacional, mas de uma política genuinamente econômica, nos moldes dos diagnósticos e recomendações dos organismos financeiros transnacionais (SGUISSARDI e SILVA JUNIOR, 2000, p. 43). Para Sguissardi e Silva Júnior (2000), o Brasil seguiu, à risca, a cartilha com as recomendações dos organismos multilaterais resultando na perda de espaços importantes na soberania nacional e, no caso específico da educação superior, esta passou a ser considerada um serviço a ser oferecido no mercado. 26 No caso específico da educação superior, Dourado (2002) observa que as recomendações do Banco Mundial para este nível de ensino estavam centradas. A privatização desse nível de ensino, sobretudo em países como o Brasil que não conseguiram estabelecer políticas de expansão das oportunidades educacionais pautadas pela garantia de acesso e equidade ao ensino fundamental, bem como, pela garantia de um padrão de qualidade a esse nível de ensino; estímulo à implementação de novas formas de regulação e gestão das instituições estatais, que permitam alterações e arranjos jurídicoinstitucionais, visando à busca de novas fontes de recursos junto à iniciativa privada sob o argumento da necessária diversificação das fontes de recursos; aplicação de recursos públicos nas instituições privadas; eliminação de gastos com políticas compensatórias (moradia, alimentação); diversificação do ensino superior, por meio do incremento à expansão do número de instituições não universitárias; entre outras (DOURADO, 2002, p. 240). O autor argumenta que o modelo de privatização dirigido às áreas de proteção social concentrou-se na estratégia de desqualificação da gestão pública e da atuação do Estado. No caso específico da educação superior as diretrizes do Banco Mundial eram a diversificação das fontes de financiamento, via setor privado, e o fortalecimento de sua própria expansão, por meio da liberalização dos serviços educacionais. É importante ressaltar que a diversificação das Instituições de Ensino Superior seguiu as orientações do Banco Mundial para a educação superior na América Latina, que foram sistematizadas no documento La enseñanza superior: las lecciones derivadas de la experiencia, de 1994, que recomenda: A introdução de uma maior diversificação no ensino superior, ou seja, a criação de instituições não universitárias e o aumento de instituições privadas, podem contribuir para satisfazer a demanda cada vez maior de educação superior e fazer com que os sistemas de ensino melhor se adéqüem [sic] às necessidades do mercado de trabalho (BANCO MUNDIAL, 1994, p. 31). As recomendações do Banco Mundial para educação superior contidas, no documento acima mencionado, cujas prescrições apontam a implementação de novas formas de regulação e gestão das instituições, visa à busca de novas fontes de recursos junto ao setor privado e a diversificação desse nível de ensino por meio da expansão do número de instituições não universitárias. Ao final do segundo mandato de Fernando Henrique foi instituído o Decreto Federal nº 3.860, de 09 de 27 junho de 20014, que alterou as regras de organização do ensino superior e da avaliação de cursos e instituições. Foi estabelecido em seu artigo 7º novas formas de organização acadêmica: I - Universidades; II – Centros Universitários; III Faculdades Integradas; Faculdades; Institutos Superiores e/ou Escolas Superiores. Estudo realizado por Oliveira et al. ([S.d.], p. 02) mostra que: Nos anos de 1990 foram significativas as alterações no âmbito da educação superior. Dentre outras, as mudanças na organização acadêmica, nos processos de avaliação, nas diretrizes curriculares dos cursos de graduação, principalmente a partir de 1995, tiveram o objetivo de promover a diversificação, e a rápida aceleração da oferta de educação superior - o que veio a ocorrer, em especial, através do crescimento significativo do setor privado. De modo geral, verifica-se que essa política de diversificação institucional expressa-se por meio dos dados do Censo do Ensino Superior, os quais mostram que no Brasil havia, em 1996 um total de 922 instituições de Educação Superior em 2005 estas instituições somavam 2.169, sendo 176 Universidades, 114 Centros Universitários, 117 Faculdades Integradas, 1.574 Faculdades/Escolas/Institutos e 184 Centros Federais de Educação Tecnológica e Faculdades de Tecnologia. Tabela 1 - Evolução das Instituições de Ensino Superior (IES) públicas e privadas, por organização acadêmica, no Brasil (1996 - 2005) Universidades Ano Centros Universitários Faculdades Integradas Centros de Educação Tecnológica e Fac Tecnologia Pública Privada Pública Privada Pública Privada Pública Privada Pública Privada 1996 72 64 0 0 11 132 128 515 0 0 1997 77 73 0 13 1 77 133 526 0 0 1998 77 76 0 18 0 75 132 595 0 0 1999 72 83 0 39 2 72 102 711 16 0 2000 71 85 1 49 2 88 83 782 19 0 2001 71 85 2 64 2 97 82 954 26 8 2002 78 84 3 74 3 102 80 1160 31 22 2003 79 84 3 78 4 115 82 1321 39 54 2004 83 86 3 104 3 116 86 1388 49 95 2005 90 86 3 111 4 117 81 1493 53 131 Fonte: MEC/INEP. 4 Faculdades, Escolas e Institutos Hoje modificado pelo Decreto nº. 5.773, de 09 de maio de 2006 28 Os dados da Tabela 1 indicam a expansão do setor privado entre 1996 e 2005. As Universidades Privadas apresentaram um crescimento de 34%, no período, enquanto que as Faculdades Escolas e Institutos Privados variaram 189%. Em contrapartida, em se observando as instituições públicas é possível verificar variações de 25%, no caso das Universidades, já as Faculdades, Escolas e Institutos Públicos tiveram variação negativa, com decréscimo de 36%. Esses dados apontam que as medidas direcionadas à educação superior favoreceram a expansão do setor privado. Esse crescimento das IES privadas, sobretudo a partir da segunda metade dos anos 1990, proporcionou um aumento progressivo da oferta de vagas por este setor. Conforme evidencia estudo realizado pela Carvalho (2006, p. 5): O crescimento da oferta de vagas foi mais acelerado que a evolução na procura pelas instituições particulares, reduzindo a relação candidato/vaga de 2,2 em 1998 para 1,6 em 2002. O esgotamento da expansão pela via privada fica ainda mais evidente quando se observa o percentual de vagas não preenchidas pelo vestibular nestas instituições. Enquanto em 1998 a proporção já era de 20%, em 2002, as vagas não preenchidas saltam para 37%. Essa ampliação da oferta de vagas pelas IES privadas desencadeou o problema das vagas ociosas no setor, que se traduz na diferença entre a quantidade de vagas a serem ofertadas em cada IES e o número efetivo de ingressantes nessas instituições, em cada ano. O Gráfico 1 mostra que, no ano 2000, existiam 328.730 vagas ociosas na graduação presencial, das quais 306.181 (93.1%) estavam no setor privado. Em 2002, o sistema registrou 567.947 vagas ociosas, das quais 553.084 (99.1%) estavam nas instituições privadas. Em 2004, antes da criação do PROUNI, o censo da educação superior registrou um total de 1.017.311vagas ociosas, dentre as quais, 996.061 (97.9%) estavam nas IES privadas. 29 Gráfico 1 - Evolução do número de vagas ociosas na graduação presencial segundo a categoria administrativa das IES (2000- 2008) Fonte: MEC/ INEP. Estudo elaborado por Lopreato (2005, p. 102) sobre a expansão das instituições de educação superior privada nos últimos anos mostra que: Esta situação colocou as instituições particulares diante de um quadro de incerteza. O fato ganha maior relevância, quando se leva em conta a queda nos rendimentos reais e o nível elevado de desemprego que dificultam a sustentação dos gastos com as mensalidades pelos assalariados. Assim, os dados do censo do MEC/INEP mostravam que, em 2002, o Brasil apresentava 1.637 instituições de educação superior das quais 1.442 eram privadas e 195 públicas, totalizando uma oferta de vagas de 1.773.087, sendo que 37,5% das vagas estavam nas IES privadas, o que correspondia a, aproximadamente, meio milhão de vagas ociosas. No que diz respeito as instituições públicas existiam 14.863 vagas não preenchidas, o que correspondia a 5%. No que se refere as vagas não preenchidas e a expansão das matrículas na educação superior pela iniciativa privada ensaio elaborado por Castro (2004), integrante da ABMES, mostra que: É muito grande o número de alunos que cursariam uma faculdade se as mensalidades fossem mais baixas. Para reduzir o desembolso dos alunos, há duas soluções clássicas, as bolsas de estudo e o crédito educativo. Nenhuma das duas alternativas é desconhecida no ensino superior 30 brasileiro. O valor elevado das mensalidades parece ser o grande obstáculo à expansão de matrícula no ensino superior privado. Portanto, se for possível uma redução neste montante, isso poderia induzir uma grande expansão na matrícula, já que existe hoje ampla capacidade ociosa na rede privada (CASTRO, 2004, p. 56). Para Castro (2004), o valor elevado das mensalidades é um obstáculo à expansão do setor privado de educação superior e uma redução no valor destas a partir da ampliação de bolsas de estudos e créditos educativos aos alunos carentes seria uma solução para este problema. Para o então Ministro da Educação, Paulo Renato Souza em entrevista concedida a Augusto Guzzo, da Revista Acadêmica, é certo que o investimento na educação é o caminho efetivo para uma melhor distribuição de renda. A grande preocupação foi criar condições para a expansão da oferta do ensino superior, pois há uma demanda grande decorrente da melhoria do fluxo nos níveis fundamental e médio. Em sete anos, mais de um milhão de pessoas entraram no ensino superior. Em 1994, eram 1,6 milhão de estudantes; hoje, são 2,6 milhões [...] o tamanho do nosso sistema de ensino superior é extremamente modesto para as dimensões e necessidades do país (GUZZO, 2002, p. 10-11). Nessa mesma oportunidade o Ministro assegurou que o grande desafio na área da educação era democratizar o acesso à educação superior. 1.3 O contexto das reformas no Governo Luis Inácio Lula da Silva (20032006) As expectativas em torno da eleição de Luiz Inácio Lula da Silva foram significativas, em particular, dos segmentos populares que vislumbravam em sua eleição a inauguração de uma nova fase no cenário político nacional, que apresentasse alterações no quadro da política econômica do governo antecessor. As primeiras medidas no campo econômico, contudo, apontaram outra realidade, demonstrando que a política econômica deveria seguir a mesma orientação do governo anterior. Lula nomeou, como Presidente do Banco Central, o Sr Henrique Meireles, um economista com experiência na área de serviços do sistema bancário nacional e internacional e eleito Deputado Federal pelo Partido da 31 Social Democracia Brasileira (PSDB). Desta maneira, em fevereiro de 2003, as reformas começaram a ser implantadas na reunião do Conselho de Política Monetária (COPOM) que aumentou a taxa de juros em um ponto percentual, com a taxa Selic 5 atingindo 26,5% ao ano. Ainda, na mesma reunião, foi elevada a alíquota de recolhimento compulsório6 dos depósitos à vista, passando de 45% para 60% (BANCO CENTRAL, 2013a; 2013b). Assim, o aumento da taxa de juros tende a reduzir os investimentos na produção e o aumento da alíquota da taxa de compulsório dos depósitos bancários diminui a moeda em circulação na economia indicando a adoção de uma política econômica austera baseada em um ajuste econômico e na contenção da inflação. Em 2003 ainda se verificou a elevação do superávit primário que deu-se por meio de duas medidas, como aponta Carvalho (2006, p. 986) “em primeiro lugar, houve o aumento da carga tributária de 30% do PIB, em 1998, para 35%, em 2003. Em segundo lugar, ocorreram importantes cortes nos gastos públicos”. Por este modo, com aumento da carga tributária pretendia-se aumentar a arrecadação do governo, bem como reduzir o seu déficit a partir de cortes nos gastos públicos. Destaca-se que os cortes nos gastos públicos foram feitos em áreas prioritárias como saúde e educação. Desta forma, ao final do primeiro ano de mandato de Lula, o superávit primário foi maior do que o acordado com o FMI 7, atingindo 4,3% do Produto Interno Bruto (PIB) (BANCO CENTRAL, 2013b). Por sua vez, esta elevação do superávit primário, acima da meta estabelecida com o FMI foi uma maneira de ganhar a confiança dos mercados indicando que o governo de Lula priorizava o pagamento da dívida brasileira, considerando ainda que este superávit reduzia a relação dívida versus PIB e garantia o pagamento dos 5 Selic - é a taxa básica utilizada como referência pela política monetária no Brasil. 6 Depósito Compulsório - é uma das formas que o Banco Central tem para controlar a quantidade de dinheiro na economia. O compulsório obriga os bancos a depositar parte dos recursos captados dos clientes, via depósitos à vista numa conta no Banco Central.(Grifos nossos). 7 A dívida líquida chegou a 64% do PIB, em setembro de 2002, reacendendo o temor de uma possível moratória. Nesse contexto, o governo de FHC negociou, com o apoio dos principais candidatos a presidência, uma extensão do programa com o FMI para 2003, com o compromisso de geração de um superávit primário consolidado de 3,75% do PIB no primeiro ano do futuro governo (GIAMBIAGI, 2004, p. 9). 32 credores. Mancebo (2004) faz uma análise dos primeiros 19 meses do Governo Lula indicando que: [...] Não se registram iniciativas significativas, nem de ordem política nem de ordem legal, que visem à modificação de acordos e contratos feitos no período anterior; os ajustes fiscais continuam impondo-se como prioridade governamental e os projetos sociais permanecem relegados a um plano secundário, o que vem impedindo a tão desejada e necessária reversão do quadro de disparidades e injustiças sociais no país (MANCEBO, 2004, p. 848). De modo geral, as medidas de política econômica adotadas por Luis Inácio Lula da Silva no início de seu primeiro mandato indicavam uma continuidade do que vinha sendo implementado pelo governo de Fernando Henrique uma política que priorizava o ajuste fiscal e o pagamento da dívida brasileira. No primeiro mandato do Governo Lula (2003-2006), a educação superior passou a ser debatida a partir da criação do Grupo de Trabalho Interministerial (GTI), que, dentre seus objetivos, tinha a intenção de regulamentar a relação entre o Estado e as Instituições de Educação Superior, tanto públicas quanto privadas. O GTI era composto por integrantes dos Ministérios da Educação, Planejamento, Ciência e Tecnologia, Fazenda, Casa Civil e Secretaria Geral da Presidência da República. O relatório final do GTI, divulgado em dezembro de 2003, intitulado ‘Bases para o enfretamento da crise emergencial da universidade brasileira’, é composto de quatro partes, enfocando: ações emergenciais; autonomia universitária; complementação de recursos [financiamento] e as etapas para a implementação da reforma universitária (ALMEIDA, 2006, p. 61). O relatório final do GTI reconhece que a educação superior encontrava-se em crise e apontava soluções com base em um programa emergencial de apoio à educação superior, especialmente às universidades federais, bem como fazia referência à problemática de acesso à educação superior, tendo como encaminhamento uma proposta de “criação de (100 mil) vagas em universidades privadas” (LIMA, 2004, p. 40). No que diz respeito às universidades públicas, a reforma proposta pelo GTI 33 caracterizava-se pela reposição do quadro docente, ampliação de vagas para estudantes, educação à distância, autonomia universitária e financiamento. Dentre as medidas propostas pelo GTI pode-se destacar o SINAES, a Lei de Inovação Tecnológica, as Parcerias Público-Privadas e o PROUNI (OTRANTO, 2007, p. 8). O Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES) foi instituído pela Lei Federal nº. 10.861, de 14 de abril de 2004, com o objetivo de conduzir o processo de avaliação da educação superior. Foi estabelecida a avaliação das instituições de educação superior, dos cursos de graduação e do desempenho dos estudantes (BRASIL, 2004a). O SINAES é um instrumento de fiscalização, cuja centralidade está fixada no desempenho do aluno, dos cursos e das instituições. O que se propõe é a garantia de padrões mínimos de qualidade e estimula-se um clima de competição entre as instituições para o alcance do melhor posicionamento no ranking das avaliações. A implantação do SINAES reforçou o papel assumido pelo Estado brasileiro no contexto das reformas dos anos 90, passando de provedor para avaliador e regulador não ofertando diretamente os serviços educacionais, mas controlando as instituições de educação superior com constantes avaliações tanto de alunos quanto das próprias IES. Por sua vez, a Lei nº. 10.973, de 2 de dezembro de 2004, dispõe sobre incentivos à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo e dá outras providências. Segundo esta lei, o montante principal das verbas de pesquisa será repassado às universidades (BRASIL, 2004c). Por este modo, a Lei de Inovação Tecnológica consolida-se na educação superior a partir da transferência de tecnologia das universidades e centros de pesquisa para as empresas, com o pagamento de incentivos adicionais a pesquisadores/docentes dedicados a projetos de inovação em parceria com empresas, a transferência de tecnologia das universidades e centros de pesquisa para as empresas e o aporte de recursos orçamentários diretamente à empresa, no âmbito de um projeto de inovação (MANCEBO, 2007). 34 No âmbito das políticas da educação superior, a Lei de Inovação Tecnológica reafirma a conformação da universidade ao modelo de adequação demandada pelo mercado. Nesses moldes, a produção de conhecimento passou a ser orientada e financiada, predominantemente, para a realização de pesquisa aplicada 8. Ademais, a lei estimulou um quadro de clara ingerência no princípio constitucional de autonomia didático-científica, ocorrendo a transferência de tecnologia para as empresas, o uso do espaço e equipamentos das universidades no desenvolvimento de pesquisas encomendadas por essas empresas, e ainda, a dedicação do trabalho de pesquisadores que, recorrentemente, não podem exercer a propriedade intelectual dos resultados obtidos nas pesquisas (MANCEBO, 2007). As Parcerias Público-Privadas (PPP) foram implementadas pela Lei nº. 11.079, de 30 de dezembro de 2004, que institui normas gerais para licitação e contratação de parceria público-privada no âmbito da administração pública (BRASIL, 2004d). Para Mancebo (2007) a justificativa para a edição desta Lei foi que, diante da falta de recursos para investimentos, da dívida pública herdada de governos anteriores, da necessidade de retomar o crescimento econômico e de gerar empregos, o governo necessita de investimentos privados e, portanto, das parcerias público-privadas. Mancebo (2007, p. 107) argumenta que: Todavia, o texto da Lei é demasiado abrangente, delegando atribuições do Estado à iniciativa privada para todos os tipos de empreendimentos e gestão, inclusive para os serviços públicos sociais, incluindo, portanto, saúde e educação. No que diz respeito à educação superior essas PPP’s instalam-se a partir da isenção de impostos, contribuições e com a ampliação de recursos do Estado para as IES privadas como forma de expansão da educação superior. Por sua vez, a renúncia fiscal em troca de vagas, conforme estabelece o PROUNI, constitui-se em mecanismo que se aproxima da lógica das parcerias público-privadas na educação 8 Utiliza o conhecimento da pesquisa básica para resolver problemas relacionados a aplicações concretas. Neste caso objetiva gerar conhecimentos para aplicação prática atendendo as necessidades empresariais (UNICAMP, 2013). 35 superior (MANCEBO, 2007). No caso das políticas direcionadas à educação superior no governo Lula, as Parcerias Público-Privada e a Lei de Inovação Tecnológica deram materialidade à reconfiguração deste nível educacional, com a diluição das fronteiras entre o público e o privado, em que instituições privadas com a implantação do Prouni a partir de Lei 11.096/05 deixam de pagar tributos federais e as instituições públicas a partir Lei 10.973/04 de Inovação Tecnológica passaram a ser induzidas na busca de financiamento na iniciativa privada, consolidam a premissa defendida por esse Governo de que a educação é um bem público, mas não necessariamente estatal. Logo, ela não perde sua essência de atendimento ao interesse público se for ofertada pela iniciativa privada (MANCEBO, 2007). Na questão das reformas promovidas, Luis Inácio Lula da Silva lançou, pois, os programas de financiamento para a educação superior, instituindo o PROUNI, ainda em seu primeiro mandato, no ano de 2004, com a edição da Medida Provisória nº. 213; o REUNI, com o Decreto Federal nº. 6.096, em 2007; e disciplinou o Novo FIES, com as Portarias Normativas nos. 10 e 18, no ano de 2010, ao final do seu segundo mandato, com o objetivo de ampliar o acesso a este nível educacional. Apresenta-se, a seguir, os três programas acima mencionados, implantados por Luis Inácio Lula da Silva, cuja centralidade está na expansão do acesso à educação superior. 36 2 PROGRAMAS DE FINANCIAMENTO PARA EDUCAÇÃO SUPERIOR NO GOVERNO LUIS INÁCIO LULA DA SILVA Este capítulo mostra programas de financiamento para Educação Superior adotados no Governo Luis Inácio Lula da Silva. O REUNI instituído pelo Decreto Federal nº. 6.096, de 24 de abril de 2007, o novo FIES regulamentado pela Portaria Normativa nº. 1, de 22 de janeiro de 2010, Portaria Normativa nº. 10, de 30 de abril de 2010, Portaria Normativa nº. 18, de 28 de julho de 2010, e o PROUNI, criado a partir da medida provisória nº. 213, de 10 de setembro de 2004, posteriormente transformada em Lei Federal, sob o nº. 11.096, em 13 de janeiro de 2005. 2.1 Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI) Embora o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI) não seja o foco desta pesquisa, mas, por se tratar de um programa de financiamento direcionado ao acesso à educação superior pelo aumento de vagas nas instituições públicas já existentes ou por meio de criação de novas Universidades e Institutos Federais, serão apresentadas apenas as principais características que regem o programa a partir de sua instituição pelo Decreto Federal nº. 6.096/2007 (BRASIL, 2007). O Programa foi objeto de ação conjunta para atingir a meta estabelecida pelo Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) 9, lançado pelo Presidente da República, em 24 de abril de 2007 (BRASIL, 2007), que no artigo segundo, prevê as diretrizes norteadoras das condições para adesão das universidades públicas federais. o Art. 2 O Programa terá as seguintes diretrizes: I - redução das taxas de evasão, ocupação de vagas ociosas e aumento de vagas de ingresso, especialmente no período noturno; II - ampliação da mobilidade estudantil, com a implantação de regimes curriculares e sistemas de títulos que possibilitem a construção de 9 O PDE constitui-se num conjunto de programas e ações governamentais que institui diversas reformas, abrangendo todos os níveis e modalidades do sistema educacional brasileiro. Na educação superior se materializa a partir da instituição Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI) e no Programa Universidade para Todos (PROUNI). 37 itinerários formativos, mediante o aproveitamento de créditos e a circulação de estudantes entre instituições, cursos e programas de educação superior; III - revisão da estrutura acadêmica, com reorganização dos cursos de graduação e atualização de metodologias de ensino-aprendizagem, buscando a constante elevação da qualidade; IV - diversificação das modalidades de graduação, preferencialmente não voltadas à profissionalização precoce e especializada; V - ampliação de políticas de inclusão e assistência estudantil; VI - articulação da graduação com a pós-graduação e da educação superior com a educação básica (BRASIL, 2007). As ações do programa contemplam o aumento de vagas nos cursos de graduação, a ampliação da oferta de cursos noturnos, combate a evasão, reestruturação acadêmico-curricular, a promoção de inovações pedagógicas da educação superior (BRASIL, 2007). As metas globais do programa são as de alcançar, gradualmente, ao final de cinco anos a taxa de conclusão média de 90% nos cursos de graduação e a relação de 18 alunos de graduação por professor nestes cursos. A expectativa de elevação dessa taxa deve resultar de uma administração eficiente das vagas ociosas, facilitada pela flexibilidade curricular. A proposta do programa reforça a ampliação do acesso com o melhor aproveitamento da estrutura física e do aumento do contingente de recursos humanos nas universidades federais. O objetivo principal do programa é, portanto, criar condições para ampliação do acesso e permanência na educação superior, em nível de graduação, oferecidos pelas universidades federais. Ao longo de 2008, 54 universidades federais do país aderiram ao REUNI. O instrumento de adesão utilizado foi o contrato de gestão, com definição de metas assumidas pelas universidades. A contrapartida do MEC foi o acréscimo de 20% nos recursos destinados às instituições, liberado gradativamente e condicionado, de um lado, ao cumprimento dos objetivos estabelecidos e, de outro, à capacidade orçamentária do Ministério. No final do segundo mandato do Governo Lula, divulgou-se a criação de 14 novas universidades. Entretanto, matéria publicada pela Revista Época mostrou que: O Governo [Lula] anunciou a maior expansão das universidades federais da história. Mas os novos cursos estão funcionando em laboratórios sem equipamento, em lugares improvisados e com professores voluntários, a falta de planejamento aliada à pressa eleitoral em expandir o ensino superior está prejudicando a formação de milhares de alunos. [...] A 38 improvisação se transformou [sic] na regra das novas universidades porque o motor da expansão parece ter seguido mais o ritmo da política que o da educação. Das 88 mil vagas criadas ao longo dos oito anos de governo, 46 mil foram abertas em 2009 - um ano antes das eleições presidenciais. Mas das 14 novas universidades anunciadas na campanha eleitoral, apenas quatro são realmente novas. As outras dez eram pólos de universidades já existentes que ganharam reitoria própria (ARANHA, 2011). O estudo de Araújo (2011) indica que das 14 novas universidades anunciadas pelo governo de Lula, seis delas foram criadas a partir de campi, faculdade e escola que já existiam e que se transformaram em Universidades. A adoção pelas universidades federais de instrumentos eficientes de planejamento, execução, acompanhamento e gestão das ações necessárias à aplicação desses recursos configura-se importante condicionante para viabilidade do programa. É importante destacar que o levantamento das pesquisas da CAPES relativas ao REUNI, que alicerçam este estudo, indicam que existem estudos elaborados por Costa (2010), Camargo (2011), Andrade (2011), Silva (2011) e Arruda (2011), favoráveis ao programa, mostrando que o programa contribui para o acesso e expansão da educação superior pública. Em contrapartida, pesquisas, como as de Paula (2009), Santos (2010), Cislaghi (2010) e Araujo (2011), tentam evidenciar como o programa se assemelha às diretrizes dos organismos internacionais em torno de um modelo flexível de educação superior, bem como indicam que o financiamento condicionado ao cumprimento de metas quantitativas e com prazo determinado é uma forma de privatização interna das universidades públicas. Em continuidade à política de ampliação do acesso à educação superior, o Governo Federal instituiu em 2010 o Novo Programa de Financiamento Estudantil (FIES), cujo modelo inicial fora criado em 1999. 2.2 Programa de Financiamento Estudantil (FIES) O Programa de Financiamento Estudantil (FIES) foi criado em 1999, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, a partir da Medida Provisória nº. 1.827, de 27 de maio de 1999, das Portarias Ministeriais nos. 860, também de 27 de maio de 39 1999, 1.386, de 15 de setembro de 1999 e da Resolução CMN nº. 2.647, de 22 de setembro de 1999. O objetivo do FIES é financiar, total ou parcialmente, o curso dos estudantes que estejam matriculados regularmente em instituições privadas e que comprovem, através de documentos, sua renda familiar. O programa é direcionado aos alunos que não tenham condições de arcar com os custos inerentes às mensalidades do curso de graduação. Em 2005, o Governo Lula propôs uma mudança na operacionalização do FIES e o integrou ao PROUNI, instituído em 2004. Considerando que os alunos do PROUNI já possuíam bolsas de 50%, estes tem prioridade na aquisição das bolsas parciais de 50% do FIES. Em 2010, o governo propôs mudanças que foram implementadas com o objetivo de ampliar o acesso à educação superior. As principais portarias que regulamentaram o Novo programa FIES foram: Portaria Normativa nº. 10, de 30 de abril de 2010, Portaria Normativa nº. 18 de 28 de julho de 2010 e Portaria Normativa nº. 1 de 22 de janeiro de 2010, todas promovendo mudanças no FIES . Na implantação do programa, em 1999, o financiamento só poderia ser obtido pelo estudante no momento da matrícula e sempre considerando o valor total da mensalidade, portanto, os alunos só poderiam pleitear bolsas no valor de 100% da mensalidade. Com a implementação do Novo FIES, a partir da portaria normativa nº 1 de janeiro de 2010, as regras do programa foram alteradas e os estudantes puderam solicitar financiamento a qualquer tempo, durante o desenvolvimento do curso de graduação e não somente no ato da matrícula. Desta maneira, as novas determinações ampliaram os interessados no programa e não apenas os ingressantes, mas também os alunos já matriculados em cursos de graduação em instituições privadas puderam usufruir do financiamento. O programa desobrigou a exigência de fiador para quem cursa uma licenciatura e para quem apresenta renda familiar bruta per capita de até 1½ salário mínimo, bem como ficam dispensados da exigência de fiador os alunos parciais do PROUNI. De acordo com o Portal do MEC/FIES, o financiamento é concedido aos 40 estudantes matriculados em cursos presenciais com resultados positivos nas avaliações do Ministério da Educação. Podem solicitar o financiamento os estudantes de cursos presenciais de graduação, não gratuitos, com avaliação positiva no Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES), oferecidos por instituições de ensino superior participantes do programa, que atendam as demais exigências estabelecidas nas normas do FIES para essa finalidade (FIES, 2013). Desta forma, são considerados cursos com avaliação positiva os cursos de graduação que obtiverem conceito maior ou igual a três no SINAES, instituído pela lei nº. 10.861, de 14 de abril de 2004 (BRASIL, 2004a). A Portaria Normativa nº. 10, em seu artigo 6º, estabelece que o percentual mínimo de financiamento pelo FIES no momento da inscrição é de 50% do valor dos encargos educacionais cobrados do estudante por parte da IES. No inciso I, prescreve que o financiamento de até 100% dos encargos educacionais cobrados do estudante por parte da IES será concedido quando o percentual de comprometimento da renda familiar mensal bruta per capita for igual ou superior a 60%. Em 2010, a taxa de juros para adesão ao programa foi reduzida de 9% para 3,4% ao ano, e aprovada a ampliação do prazo de carência para pagamento do financiamento de seis para dezoito meses. Assim, o aluno, depois de formado, passou a ter maior prazo para começar a pagar as parcelas do empréstimo (CALDAS, 2012). O programa contava, em 2012, com cerca de 500 mil contratos assinados. Mais de 140 mil estudantes contrataram o fundo de financiamento. Um dos grandes impulsionadores para esse recorde no FIES e o avanço das matrículas na educação superior privada diz respeito, entre outras coisas, à reformulação pela qual passou o programa de financiamento (CALDAS, 2012). Sanchez (2004) e Almagro (2007), por sua vez, indicam que o FIES não assegura o direito de acesso à educação superior, pois o problema da democratização da educação superior está relacionado com questões econômicas e sociais que não são solucionadas somente pela adoção do programa de 41 financiamento. Outro programa de financiamento e estímulo ao acesso à educação superior, já mencionado anteriormente, foi o PROUNI, instituído pelo Governo Federal, em 2005, pela Lei 11.096/2005, que prevê a isenção de impostos para as IES privadas que a ele aderem. 2.3 Programa Universidade para Todos (PROUNI) Em 10 de setembro de 2004, foi criado o Programa Universidade Para Todos (PROUNI) por meio da Medida Provisória nº. 213, consolidado no Governo Lula, em 13 de janeiro de 2005, pela Lei Federal nº. 11.096. Este programa tem como objetivo favorecer o acesso de estudantes de baixa renda à educação superior privada, mediante concessão de bolsas de estudos por essas IES, que passam a ter, em contrapartida, a isenção de tributos, como Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ), a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), o Programa de Integração Social (PIS) e a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS). O Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ), uma das isenções asseguradas para as IES que aderem ao PROUNI, está previsto no artigo 153 da Constituição Federal de 1988. No Código Tributário Nacional, o imposto de renda é tratado nos artigos 43, 44 e 45 e no âmbito da legislação ordinária existem inúmeras leis, decretos-lei e medidas provisórias que disciplinam este imposto. Tais legislações estão consolidadas no Regulamento do Imposto de Renda . As pessoas jurídicas têm seus lucros tributados pelo (IRPJ) à alíquota de 15%, que pode ser acrescida de um adicional de 10% sobre a parcela do lucro mensal que exceder a vinte mil reais, conforme disposto no artigo 3º, da Lei Federal nº. 9.249/1995. As instituições tributadas pelo lucro real poderão apurar o imposto de renda tomando-se como base de cálculo o lucro anual (BRASIL, 1995). Segundo Machado (2000 p. 39): Atribuiu-se a criação e a cobrança de tal imposto à União por duas razões. Primeiramente, porque por meio dele, a União tem condições de redistribuir a renda entre diversas regiões do País, aplicando ao Nordeste, por exemplo, recursos oriundos do imposto arrecadado nas regiões Sul e Sudeste. Segundo, porque a distribuição das riquezas dos contribuintes por 42 todo o Território Nacional poderia dificultar bastante ou até mesmo inviabilizar a cobrança desse imposto por estados e municípios, criando inúmeros conflitos de competência. As IES que fizeram adesão ao PROUNI estão obrigadas a adotar o regime de tributação do Lucro Real10. A Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) é uma fonte de recursos prevista no artigo 195, Inciso I, da Constituição Federal, estabelecido para atender ao programa de seguridade social. As instituições sem fins lucrativos e entidades beneficentes são isentas da cobrança do tributo. A base de cálculo da contribuição para IES com fins lucrativos é o valor obtido do resultado do exercício (lucro), antes da provisão para o imposto de renda. A alíquota é de 9% para estas instituições. A isenção também abrange a contribuição para o Programa de Integração Social (PIS) que foi instituída pela Lei Complementar n.º 7, de 7 de setembro de 1970, e recepcionada pelo art. 239 da Constituição Federal em vigor (BRASIL, 1988). O PIS é destinado ao custeio do seguro-desemprego e ao abono de um salário mínimo anual aos empregados que recebem até dois salários mínimos, desde que sejam participantes do programa. Trata-se de uma contribuição social calculada sobre a receita bruta. Para as instituições com fins lucrativos a alíquota do PIS é de 1,65%. A contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS) foi instituída pela Lei Complementar n.º 70, de 30 de dezembro de 1991 (BRASIL, 1991). Seus recursos são destinados para as áreas da saúde, previdência e assistência social. Para IES com fins lucrativos, sua alíquota é de 7,6% e incide sobre a receita mensal. Em conformidade com a Lei Federal nº. 11.096/2005, as IES que aderem ao programa ficam isentas dos impostos acima mencionados e devem conceder bolsas integrais (100%) e parciais de 50% e 25% para estudantes de cursos de graduação 10 O lucro real é o lucro contábil líquido apurado na escrituração contábil, ajustado por adições e exclusões ou compensações autorizadas pela legislação fiscal, conforme dispõe o artigo 247 do Decreto 3.000/1996. 43 e sequenciais11 de formação. A bolsa de estudo integral será concedida a brasileiros que não possuem diploma de curso superior, cuja renda familiar mensal per capita não exceda o valor de até um salário mínimo e meio. As bolsas parciais de 50% e 25% são destinadas para estudantes cuja renda familiar mensal per capita não ultrapasse três saláriosmínimos. Conforme Art. 2º, as bolsas destinam-se a: Art 2º - [...] I) estudante que tenha cursado o ensino médio completo em escola da rede pública ou em instituições privadas na condição de bolsista integral; II) a estudante portador de deficiência, nos termos da lei; III) o professor da rede pública de ensino, para os cursos de licenciatura, normal superior e pedagogia, destinados à formação do magistério da educação básica, independentemente da renda (BRASIL, 2005). Desde 2007, o candidato contemplado com a bolsa parcial de 50% que não puder custear os outros 50% da mensalidade poderá utilizar o Fundo de Financiamento Estudantil sem a necessidade de apresentação de fiador na contratação do financiamento. Desde que a instituição na qual estude o candidato, ou pretenda ele estudar, tenha firmado Termo de Adesão ao FIES. O PROUNI prevê, ainda, vagas a cidadãos autodeclarados indígenas, pardos ou pretos, conforme o artigo 7º, § 1º, da Lei Federal nº. 11.096/2005, instituidora do PROUNI: Art. 7º. - As obrigações a serem cumpridas pela instituição de ensino superior serão previstas no termo de adesão ao PROUNI, no qual deverão constar as seguintes cláusulas necessárias: I - proporção de bolsas de estudo oferecidas por curso, turno e unidade, respeitados os parâmetros estabelecidos no art. 5º desta Lei; II - percentual de bolsas de estudos destinado à implementação de políticas afirmativas de acesso ao ensino superior de portadores de deficiência ou de autodeclarados indígenas e negros (BRASIL, 2005). 11 Os cursos sequenciais são cursos de nível superior, mas não têm o caráter de graduação. O que se busca ao definir-se um curso sequencial é uma formação específica em um dado ”campo do saber" e não em uma "área de conhecimento e suas habilitações". Por exemplo, na área de computação, pode-se ter um curso sequencial em Redes de Computadores, cujo objetivo é claro e pode ser atingido em um prazo relativamente curto. Os cursos seqüenciais são considerados, assim, uma modalidade de curso superior onde os alunos podem, após concluírem o ensino médio, obter uma qualificação superior, ampliando seus conhecimentos em um dado campo do saber, sem a necessidade de ingressar em um curso de graduação (MEC, 2013). 44 A reserva de vagas a cidadãos autodeclarados indígenas, pardos ou pretos constitui obrigação que deve ser cumprida pelas instituições privadas. Estas vagas devem ser, no mínimo, igual ao percentual do último censo, de acordo com cada Unidade Federativa. De acordo com a última Síntese de Indicadores Sociais 2010, publicada pelo IBGE, no Estado de São Paulo, a população dos que se declaram pretos, pardos e indígenas é de 29,1%. A manutenção da bolsa pelo beneficiário, observado o prazo máximo para a conclusão do curso dependerá do cumprimento de requisitos de desempenho acadêmico, estabelecidos em normas expedidas pelo Ministério da Educação. O processo seletivo dá-se conforme prescreve o artigo 3º, da norma ora apreciada: Art. 3º - O estudante a ser beneficiado pelo PROUNI será pré-selecionado pelos resultados e pelo perfil socioeconômico do Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM ou outros critérios a serem definidos pelo Ministério da Educação, e, na etapa final, selecionado pela instituição de ensino superior, segundo seus próprios critérios, à qual competirá, também, aferir as informações prestadas pelo candidato (BRASIL, 2005). Podem se candidatar ao processo seletivo PROUNI apenas os estudantes que tenham realizado o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), cujo resultado seja, no mínimo, 450 pontos na média das cinco provas, o que equivale a 40% de acertos em Redação, Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, Matemática e suas Tecnologias, Ciências Humanas e suas Tecnologias e Ciências da Natureza e suas Tecnologias. Os candidatos devem ainda ter obtido nota superior a zero na Redação. Os resultados do ENEM são utilizados como critério para a distribuição das bolsas de estudos. Se uma instituição de educação superior oferece uma bolsa integral para determinado curso e há dois alunos concorrendo a essa vaga, será contemplado o aluno que contar com a maior nota no ENEM. A adesão ao programa para as IES privadas com fins lucrativos é voluntária e o Termo de Adesão terá prazo de vigência de dez anos, contado da data de sua assinatura, renovável por iguais períodos, observado o disposto em lei. As IES privadas com fins lucrativos ou sem fins lucrativos não beneficente devem oferecer, no mínimo, uma bolsa integral a cada 10,7 estudantes regularmente pagantes e devidamente matriculados ao final do correspondente período letivo 45 anterior. Conforme Art. 5º. da norma em questão, as instituições podem optar por oferecer uma bolsa integral a cada 22 estudantes regularmente pagantes e devidamente matriculados em cursos em efetivo funcionamento, desde que oferte bolsas parciais de 50% e 25% na proporção necessária para que se atinja o equivalente a 8,5% da receita anual. Art. 5º- [...] § 4º - [...] na proporção necessária para que a soma dos benefícios concedidos na forma desta Lei atinja o equivalente a 8,5% (oito inteiros e cinco décimos por cento) da receita anual dos períodos letivos que já têm bolsistas do PROUNI, efetivamente recebida nos termos da Lei no 9.870, de 23 de novembro de 1999, em cursos de graduação ou sequencial de formação específica (BRASIL, 2005). A ausência de resultados satisfatórios nos processos de avaliação realizados pelo MEC pode acarretar a perda de concessão na participação do programa. Os critérios de desempenho são dados segundo o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES)12, por meio de duas avaliações consecutivas, consoante art. 7º, § 4º. As IES Privadas que aderirem ao programa ficam isentas dos impostos e contribuições ao longo do período de vigência do Termo de Adesão. Aquelas com fins lucrativos deixam de recolher todos os impostos descritos no art. 8º da Lei 11.096/2005, enquanto que as IES sem fins lucrativos deixam de recolher a COFINS e o PIS já que não recolhem o IRPJ e a CSLL, incidentes sobre o lucro. No contexto de renúncia fiscal, a instituição do PROUNI destaca-se no estudo realizado por Carvalho (2006), cabendo demonstrar na Tabela 2 os benefícios fiscais obtidos pelas instituições de educação superior privadas que aderissem ao programa comparando os dados das entidades com fins lucrativos, daquelas sem fins lucrativos confessionais, das comunitárias e das filantrópicas, antes e depois de sua adesão ao programa. 12 Sistema Nacional de Avaliação da Educação – SINAES foi criado pela lei 10.861/2004 é formado por três componentes principais: avaliação das instituições, dos cursos e do desempenho dos estudantes. O SINAES avalia todos os aspectos que giram em torno desses três eixos: o ensino, a pesquisa, a extensão, a responsabilidade social, os desempenhos dos alunos, a gestão da instituição, o corpo docente, as instalações e vários outros aspectos (Lei 10.861/2004). 46 Tabela 2 - Alíquotas e base de cálculo dos tributos federais por categoria de IES Tributos Com fins lucrativos Atual PROUNI IRPJ 25% lucro CSLL Sem fins lucrativos Confessional/Comunitária Atual Filantrópica PROUNI Atual PROUNI - - - - 9% lucro - - - - COFINS 7,6% receita - 3% receita - - - PIS 1,65% receita - 1% folha - 1% folha - INSS (patronal) 20% folha 20% folha 20% folha 20% folha - - Fonte: CARVALHO (2006). A renúncia fiscal no PROUNI na visão de Carvalho e Lopreato (2005) tornouse um mecanismo viável para amenizar o problema das IES privadas com relação ao preenchimento de vagas ociosas. Os dados da Tabela 2 indicam que as instituições mais beneficiadas são aquelas com fins lucrativos que ficam isentas, a partir da adesão ao PROUNI, de praticamente todos os tributos federais que recolhiam. As instituições sem fins lucrativos deixam de recolher a COFINS e o PIS, Neste sentido, na visão de Carvalho e Lopreato (2005, p. 102), o impacto sobre a rentabilidade deve ser importante, uma vez que a isenção da COFINS estimula o aumento das matrículas e, consequentemente, o crescimento da receita operacional bruta, já que não há ônus tributário sobre a ampliação da prestação de serviços. A isenção do PIS para as confessionais/comunitárias tem impacto muito pequeno sobre a folha salarial. Já as beneficentes apenas são favorecidas com a isenção do PIS, cujo ônus fiscal é pouco representativo. Tal contexto leva a compreender as alegações das filantrópicas em se tornar lucrativas. A troca de imunidade fiscal por dez anos renováveis por iguais períodos não traz grandes consequências. No que tange às finanças públicas, o impacto principal do PROUNI é a redução potencial da receita tributária (CARVALHO; LOPREATO, 2005, p. 102). O não recolhimento da COFINS e do PIS estimula o aumento das matrículas nessas instituições, considerando que o aumento da receita não ocasiona aumento de impostos. Entretanto, os critérios adotados pelo PROUNI em relação à adesão das instituições privadas geraram críticas de alguns autores por entenderem que o 47 programa beneficia o setor privado em detrimento do público. De acordo com Catani, Hey e Gilioli (2006, p. 137), as verbas destinadas ao PROUNI poderiam ser direcionadas para melhoria e aumento de vagas nas universidades públicas, ao afirmarem que: ”Ao invés de privilegiar as IES privadas, o governo poderia investir no setor público, capaz de democratizar a educação superior”. Sguissardi (2006) argumenta que o programa fortalece as IES Privadas configurando-se transferência de recursos públicos para o setor privado na forma de isenção fiscal, sendo mais beneficiadas com o programa as instituições privadas com fins lucrativos. Destaca-se ainda o fato de que essas instituições foram as que mais exerceram pressão quando da tramitação do Projeto de Lei no Congresso para que fossem atendidas suas exigências. O programa, pretextando a publicização do privado, na forma como foi aprovado e está sendo implementado, fortalece as instituições privadas comerciais de ensino. Pode-se entendê-la como forma de aplicação lato sensu do espírito das PPPs no campo do ensino superior. Em troca da isenção de um conjunto de impostos pelas IES privadas - o programa é muito mais interessante para as instituições com fins lucrativos - aprovou-se a possibilidade de troca de cerca de 10% das vagas ou 8,5% da receita bruta, na forma de bolsas para alunos egressos de escolas públicas (SGUISSARDI, 2006, p. 1043). Corroborando a afirmação de Sguissardi podem-se apontar os dados do MEC/PROUNI de que as instituições mais beneficiadas foram as com fins lucrativos, pois, de acordo com informações do site do Ministério da Educação/PROUNI, essas instituições contabilizam 56% de bolsistas. Seguem as entidades beneficentes de assistência social, com 27% de bolsistas; e as instituições sem fins lucrativos não beneficentes, com 17% de bolsistas (PROUNI, 2012). Para Catani, Hey e Gilioli (2006, p. 137), O que o PROUNI faz é aumentar as isenções fiscais para IES privadas que, com poucas exceções, não prestam contas de como as usam, remuneram de forma ilegal seus sócios, não têm transparência na concessão de bolsas e maquiam balanços. É, assim, uma medida de impacto popular, privatista e de baixo custo orçamentário. O PROUNI privilegia as IES privadas pela isenção fiscal e contribui para a 48 oferta privada de educação superior. Em contrapartida, o Estado não fiscaliza de forma adequada essas instituições, segundo Catani, Hey e Gilioli (2006). Os autores destacam que o programa é uma medida de baixo custo orçamentário e de impacto popular, garante o acesso a este nível de ensino, entretanto, não possui medidas para assegurar a permanência do estudante até a conclusão do curso. Mancebo (2004) informa que o aproveitamento de parte das vagas ociosas das instituições de educação superior privadas para o PROUNI, com bolsas de estudo, possibilitará a elevação do volume de matrícula viabilizando o ingresso de 300 mil novos alunos. A autora ainda ressalta que os incentivos fiscais concedidos pelo Governo Federal às instituições privadas de educação superior, seriam suficientes para dobrar o número de alunos nas Universidades federais. A autora lembra, ainda, que Caso implementado, o PROUNI não implicará, propriamente, uma redução dos recursos estatais destinados à educação superior pública, todavia colocará em curso um mecanismo de realocação de verbas públicas para a iniciativa privada, aquelas até então auferidas com a cobrança fiscal e que deixarão de sê-lo para a compra das vagas no setor educacional privado. Assim, o que está em jogo com esse Programa não é o ‘afastamento’ da ação estatal, senão sua reconfiguração quanto à oferta do ensino superior (MANCEBO, 2004, p. 852). Argumenta ela, ainda, que ocorre uma reconfiguração quanto à oferta da educação superior no Brasil, na qual o PROUNI é um esforço no sentido de criar uma nova relação entre o setor público e o privado. Para (MANCEBO, 2004, p. 5) o PROUNI “promove um embaralhamento das barreiras entre o público e o privado”. Mancebo (2004, p. 853) acrescenta: Com relação a esse Programa, deve-se insistir no seu aspecto privatizante, também, porque ele delega responsabilidades públicas para entidades privadas e, mesmo que os alunos não paguem mensalidades, contribui para o aumento da oferta privada nesse campo. Corroboram a afirmação de Mancebo, os dados estatísticos do Censo 2010 do MEC/INEP, quando evidenciam que a expansão das instituições privadas de educação superior nos últimos anos resultou na criação de um número excessivo de vagas, posto que o número de matrículas, nos cursos de graduação aumentou 49 110,1%, na última década. De um total de 2.377 instituições de educação superior no país, 2.099 são privadas, o que permite contabilizar 4.736.001 de alunos matriculados, enquanto que 278 são instituições públicas e totalizam 1.643.029 de matrículas. Como incentivo para a permanência dos estudantes até a conclusão do curso, em 2006, foi instituída pelo MEC a bolsa-permanência, vinculada ao PROUNI. Assim, o aluno que comprovar a falta de condições financeiras de se manter na educação superior e for beneficiário do programa com bolsa integral, matriculado em um curso que tenha carga horária igual ou superior a 6 horas de aula por dia, recebe um valor mensal de R$ 300,00. Todavia, a assinatura do termo de concessão de bolsa-permanência assegurará apenas a expectativa de direito ao recebimento mensal da bolsa, ficando seu efetivo pagamento condicionado à disponibilidade orçamentária e financeira do MEC. A bolsa-permanência é solicitada diretamente pelo aluno beneficiário do programa que, para a obtenção, deve se cadastrar na Secretaria de Educação e estar matriculado em um curso que atenda as exigências do MEC, comprovando documentalmente a renda familiar e a sua incapacidade financeira (PROUNI, 2012). Os dados estatísticos de bolsistas por turno em cursos presenciais apresentados no site MEC/PROUNI, no 2º semestre de 2012, mostraram que a maioria dos bolsistas, 710.694 alunos, estavam matriculados em cursos presenciais no período noturno, seguido de 180.620, em cursos matutinos, 30.710, no período vespertino, com carga horária de quatro horas/aula/dia, enquanto que somente 36.025 estavam matriculados em cursos presenciais com seis horas/aula/dia, o que representa 4% do total (PROUNI, 2012). Portanto, como a bolsa-permanência é concedida somente para bolsistas que possuem bolsa integral e que tenha carga horária igual ou superior a 06 horas aula por dia, o percentual de alunos que podem usufruir deste benefício representa no máximo 4% (PROUNI, 2012). Catani, Hey e Gilioli (2006, p. 126) observam que: 50 O PROUNI promove uma política pública de acesso à educação superior, pouco se preocupando com a permanência do estudante, elemento fundamental para sua democratização. Orienta-se pela concepção de assistência social, oferecendo benefícios e não direitos aos bolsistas. A crítica dos autores é de que o PROUNI promove uma política de acesso à educação superior, mas não garante a permanência do estudante argumentam que o programa oferece benefícios, mas não direitos. De acordo com os dados divulgados pelo site MEC/ PROUNI (2012), no que se refere à bolsa-permanência, a maioria dos alunos beneficiários do PROUNI, que representa 78%, estão matriculados em cursos presenciais no período noturno com carga horária de quatro horas de aula por dia, o que não dá o direito ao benefício da bolsa-permanência. 2.4 Principais alterações promovidas no projeto de lei do PROUNI O Programa Universidade Para Todos, no Governo Lula, teve origem legal a partir do Projeto de Lei nº. 3.582/2004 e, antes mesmo da votação no congresso, diversas instituições privadas de educação superior comprometeram-se em assinar o termo de adesão ao programa e ceder bolsas de estudos aos alunos de baixa renda em troca de isenções fiscais. Quando o Projeto de Lei foi encaminhado, em regime de urgência, para análise e discussão no Congresso Nacional, as Mantenedoras representadas pela Associação Nacional das Universidades Particulares (ANUP), pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) e pelo Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (SEMESP), reivindicaram a desobrigação das instituições filantrópicas em destinarem 20% da gratuidade em bolsas integrais, porém com a pretensão de incluir bolsas parciais, ampliar a faixa de renda familiar per capita de um para três salários mínimos, como, também, exigiam processos seletivos nas instituições além do ENEM, a participação de estudantes oriundos do ensino médio privado como bolsistas integrais e inclusão de uma regra de transição tributária para as IES “sem fins lucrativos” se transformarem em “instituições com fins lucrativos”. No que se refere à transição tributária mencionada, o benefício fiscal 51 decorrente da adesão ao PROUNI e incide apenas sobre as instituições com fins lucrativos, uma vez que aquelas sem fins lucrativos, não beneficentes, e de assistência social, possuem tratamento próprio e favorecido (BRASIL, 2009). Baleeiro (2012 apud OLIVEIRA, 2012, p. 25) aborda esse assunto em sua pesquisa e mostra que: As instituições sem fins lucrativos possuem tratamento favorecido na medida em que usufruem de imunidade tributária prevista na Constituição Federal, no artigo 150, inciso VI, alínea c. Baleeiro (2005) explica que a imunidade é a vedação absoluta ao poder de tributar certas pessoas ou certos bens, prevista na Constituição Federal. Não se confundem com isenções, derivadas da lei ordinária ou da lei complementar, que, decretando o tributo, exclui expressamente certos casos, pessoas ou bens, por motivos de política fiscal. De acordo com Cássia Andrade (2009), a imunidade tributária conferida às instituições sem fins lucrativos prevista na Constituição Federal revela uma preocupação do legislador constituinte, no sentido de preservar essas entidades de cobrança de impostos incidentes sobre o patrimônio, a renda e os serviços, com o objetivo de assegurar-lhes condições mínimas para o seu pleno desenvolvimento e, assim, o cumprimento das nobres finalidades a que estão voltadas. A imunidade é uma limitação constitucional do poder de tributar, de alcance restrito aos impostos, mas não se estende às taxas, às contribuições de melhoria, aos empréstimos compulsórios e às contribuições especiais. Por tais motivos, as instituições sem fins lucrativos permanecem sujeitas ao pagamento do PIS sobre a folha de salários, em virtude de o programa ser considerado contribuição social, que incidirá sobre a folha de salários, a uma alíquota de 1% (OLIVEIRA, 2012). Desta forma, o artigo 8º, da Lei Federal nº. 11.096/2005, que instituiu o PROUNI, utiliza o termo “isenção de impostos e contribuições” quando se refere ao benefício concedido às instituições de ensino com fins lucrativos que aderem ao referido programa. Como já mencionado nesta pesquisa, as IES com fins lucrativos são as maiores beneficiadas com o programa e ficam isentas do recolhimento de todos o tributos e contribuições federais após assinar o respectivo Termo de Adesão. Porém, ainda ficam responsáveis por recolherem o imposto devido ao Instituto Nacional de Seguro Social (INSS patronal), que corresponde a 20% e incide sobre a folha de 52 salários, e o Imposto sobre Serviços (ISS), que corresponde a 5% e incide sobre a receita. No que se refere às IES sem fins lucrativos, a Lei que instituiu o PROUNI prevê que suas mantenedoras, ao adotarem as regras de seleção de estudantes bolsistas, poderão optar por transformar sua natureza jurídica em sociedade de fins econômicos, passando a pagar a quota patronal para a previdência social de forma gradual, durante o prazo de 5 (cinco) anos, na razão de 20% (vinte por cento) do valor devido a cada ano, cumulativamente, até atingir o valor integral das contribuições devidas. De modo geral, as IES com fins lucrativos pretendiam reservar apenas 5% de suas vagas aos alunos carentes, sem oferecer bolsas integrais e conceder bolsas parciais de 20% a 80%. Antes mesmo da votação no Congresso, o governo fechou um acordo com as IES privadas que se comprometeram a participar do programa para que os bolsistas fossem contemplados já no primeiro semestre de 2005. Segundo a própria ABMES (2004, p. 8), “paralelamente às emendas apresentadas pelos parlamentares, dava-se continuidade ao processo de negociação com o Ministério da Educação, com o escopo da melhoria ao projeto de lei”. No parlamento, essas entidades encontraram parlamentares que atuaram representando seus interesses. Segundo levantamento feito pela Folha de São Paulo: A Comissão de Educação da Câmara possuía quatro membros que são proprietários de IES privadas: Átila Lira (PSDB/PI), Bonifácio de Andrada (PMDB/MG), Clóvis Fecury e Murilo Zauith (PFL-MS) (GUERRA; FERNANDES, 2009). O Deputado Átila Lira (PSDB/PI) foi o parlamentar que mais sugeriu alterações no Projeto de Lei. Na emenda 151, o deputado propôs que mesmo as IES com débitos junto à Secretaria da Receita Federal, com vencimento até 30 de abril de 2004, poderiam aderir ao PROUNI, e, em troca, ofereceriam bolsas nos mesmos percentuais e condições previstas na lei. 53 Na emenda 175, Átila Lira propôs uma alteração no artigo 1º do Projeto de Lei, o qual previa somente a concessão de bolsa de estudo integral para cursos de graduação e sequenciais de formação específica, em instituições privadas de educação superior, com ou sem fins lucrativos. Desta forma, a emenda 175 estabeleceu a seguinte alteração: bolsa integral para estudantes cuja renda per capita não exceda o valor de até um salário mínimo e meio e bolsas parciais de 50% e 25% são destinadas para estudantes cuja renda familiar mensal per capita não ultrapasse três salários mínimos (GUERRA; FERNANDES, 2009). A alteração da concessão de bolsas foi uma vitória no Congresso das IES privadas em relação ao Projeto de Lei inicial. Com essa alteração, as IES aumentaram o número de beneficiados pelo PROUNI, contribuindo para diminuir o problema das instituições privadas com o alto número de vagas ociosas. Segundo Guerra e Fernandes (2009, p. 10), Em um cálculo bastante simplista, se o número de alunos beneficiados com bolsas integrais em uma determinada IES fosse de 300, a mesma IES poderia oferecer 100 bolsas integrais, 200 bolsas de 50% e mais 400 bolsas de 25%. O número inicial de bolsistas passa de 300 para 700, mais que o dobro. As reivindicações das mantenedoras foram atendidas em grande parte na Medida Provisória modificando o texto original do Projeto de Lei do PROUNI. Sguissardi (2005, p. 172) argumenta que: “o conjunto das ações de interesse privado que permearam todo o processo de negociação do programa revelou que o governo cedeu às exigências do setor privado”. A análise da proposta inicial do PROUNI, no período de abril de 2004 a janeiro de 2005, demonstrou que o setor privado foi o maior beneficiado com o programa, já que teve, praticamente, todas as suas reivindicações atendidas na Medida Provisória e na Lei 11.096/2005. Estudo realizado por Carvalho e Lopreato (2005) traz um paralelo entre os três documentos: Projeto de Lei (PL), Medida Provisória (MP) e a Lei nº. 11.096/05, mostrando o processo de formulação da política pública sob a qual se materializou o PROUNI e a disputa de interesses que permeou a implantação do programa. Entre as principais mudanças ocorridas, os 54 autores destacam os seguintes aspectos: No PL somente seriam concedidas bolsas integrais para alunos, cuja renda per capita não ultrapassasse um salário mínimo. Na MP, além do aumento no limite de renda para um salário mínimo e meio, passou a vigorar a concessão, também, de bolsas parciais de 50% para alunos com renda per capita que não ultrapassasse três salários mínimos. Com base na lei, foram estabelecidas ainda bolsas de estudos parciais de 25% para os bolsistas com as mesmas condições sociais daqueles com direito à metade de gratuidade. A possibilidade de bolsas parciais permite aos estabelecimentos particulares maior flexibilidade para compor a receita comprometida com o programa (CARVALHO; LOPREATO, 2005, p. 96-99). No Projeto de Lei, o programa concederia bolsas de estudo integrais a alunos cuja renda familiar per capita fosse até um salário mínimo. Na Medida Provisória, o limite se expandiu para um salário mínimo e meio per capita, e foram criadas bolsas parciais de 50% e 25% do valor da mensalidade, para alunos cuja renda fosse até três salários mínimos. A alteração na quantidade de bolsas representou, portanto, uma vitória para o setor privado que poderia aumentar a quantidade de alunos beneficiados pelo programa e solucionar seus problemas em relação a vagas ociosas. Entretanto, a se considerar a faixa de renda familiar per capita de até três salários mínimos, a probabilidade de evasão dos bolsistas parciais aumenta. O SEMESP ainda sugeriu uma importante mudança no Projeto de Lei em relação ao público alvo. Outra modificação da Medida Provisória em relação ao Projeto de Lei é o aumento do público alvo do programa, inicialmente destinado a estudantes que cursaram as três séries do ensino médio em escolas públicas. A MP abre vagas no programa para estudantes de escolas particulares que receberam bolsa integral. No Projeto de lei, bolsas de estudos seriam destinadas apenas aos estudantes que cursaram o ensino médio completo em escola da rede pública e a professores da rede pública de educação básica. Na Medida Provisória, ampliaram-se os benefícios para egressos das instituições privadas na condição de bolsistas integrais e estudantes portadores de necessidades especiais (CARVALHO; LOPREATO, 2005, p. 96-99). Esta modificação, como a anterior, contribuiu para o aumento de beneficiários do programa, pois ampliou o público alvo das instituições privadas que enfrentavam problemas para preenchimento das vagas ociosas devido à grande expansão ocorrida no setor privado, a partir de meados dos anos 1990, em decorrência das 55 políticas adotadas no período que propiciou a expansão. De acordo com o Censo da Educação Superior (2005), das 922 IES existentes no Brasil em 1996, 211 eram públicas (22,9%) e 711 eram privadas (77,1%). Em 2005, passaram a 2.165 IES no país, sendo 231 (10,7%) públicas e 1.934 (89,3%) privadas. O crescimento das IES no período foi de 134,8%, sendo que as públicas cresceram 9,5% e as privadas 172%. No que diz respeito ao critério de seleção dos bolsistas, conforme Projeto de Lei, a seleção era feita exclusivamente pelo desempenho do estudante no ENEM. Já, na Medida Provisória, as IES poderiam adotar outro processo seletivo, tornando, na prática, o desempenho do aluno no ENEM uma das etapas da seleção dos estudantes, oferecendo-se maior autonomia às instituições no processo seletivo dos bolsistas. No Projeto de lei, a seleção de candidatos ao PROUNI restringia-se ao desempenho no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e perfil socioeconômico, sendo que o texto previa, até mesmo, a dispensa de processo seletivo específico. A Medida Provisória (consolidada em lei) previu um segundo processo seletivo, com critérios a serem determinados pela instituição de educação superior, ao passo que o resultado do ENEM tornou-se apenas uma pré-seleção de seus estudantes (CARVALHO; LOPREATO, 2005, p. 96-99). A alteração conferiu maior autonomia às IES privadas para selecionar os candidatos e direcioná-los aos cursos com menor procura dentro da instituição, já que o candidato faz até cinco opções de curso. Outra modificação importante da Medida Provisória em relação ao Projeto de Lei refere-se ao critério de desempenho institucional baseado no SINAES. Carvalho e Lopreato (2005) argumentam que houve flexibilização deste critério na medida em que: No PL previa-se a desvinculação da instituição que apresentasse resultado insatisfatório por dois anos consecutivos ou três intercalados, no período de cinco anos. Na MP ratificada pela lei, desvincula-se o curso mal avaliado por três avaliações consecutivas, cujas bolsas passam a ser redistribuídas pelos demais cursos da mesma escola (CARVALHO; LOPREATO, 2005, p. 98). 56 Nesta perspectiva, cabe ressaltar que, na Câmara Federal, o Projeto de Lei que instituiu o PROUNI (PL nº. 3.582/04), recebeu 292 emendas e, antes mesmo de sua votação, diversas instituições13 comprometeram-se em assinar o Termo de Adesão ao programa e ceder bolsas de estudos a alunos de baixa renda em troca de isenções fiscais (PARAGUASSU, 2004). A Associação Nacional dos Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior (ANDIFES), grupo que congrega os reitores das universidades públicas, divulgou um manifesto sobre a criação de vagas públicas nas universidades particulares, dentro o Programa Universidade Para Todos. Na visão da ANDIFES: O que garante a inclusão social duradoura não é a simples (e absolutamente necessária) expansão da oferta de vagas, mas a qualidade e a pertinência da formação. O poder público não pode patrocinar a oferta de oportunidades desiguais de acesso à educação superior. Aos pobres, negros, pardos, índios e a tantos outros setores excluídos da educação superior, deve-se oferecer oportunidade igual de formação qualificada, o que se faz através do fortalecimento da educação pública e da ampliação da oportunidade de acesso republicano - ‘pela porta da frente’ - à formação superior (ANDIFES, 2004). Para a Associação, a expansão do acesso à educação superior pelo setor privado provoca outras formas de desigualdade por não oferecer, às camadas mais pobres da sociedade, oportunidades iguais de formação qualificada. Isto ocorreria somente pelo fortalecimento e acesso à educação pública. Para Covac e Carbonari (2004 apud ABMES, 2004, p. 8), respectivamente, consultor jurídico e vice-presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior, “várias emendas foram elaboradas pelas instituições representativas de ensino superior e contaram com o apoio de diversos parlamentares”. De modo geral, verifica-se durante o período de tramitação do Projeto de Lei 13 Universidade Metodista de SP, Centro de Educação Tecnológica das Américas (SP), Centro de Educação Tecnológica Internacional (PR), Centro de Educação Tecnológica Prof. Luiz Rosa (SP),Centro de Educação Tecnológica Flamingo (SP), Centro Universitário Carioca (RJ), Faculdade dos Imigrantes (RS), Faculdade Drummond (SP) , Faculdade Michelangelo (DF), Faculdade Pitágoras (BH), Faculdade Politécnica de Campinas (SP), Instituto de Ensino Superior Camões (PR), Instituto de Ensino Superior Presidente Prudente (SP), Instituto Metodista Bennet (RJ), Faculdade Internacional de Curitiba (PR), Faculdade São Lucas (RO), Universidade do Grande ABC (SP), Faculdade Tuiuti do Paraná (PR), Centro de Ensino Superior Birigui (SP), Ibegen (RS), entre outras. Correio Braziliense disponível em http://www.correiobraziliense.com.br. Acesso em julho 2012. 57 no Congresso Nacional, a atuação das Mantenedoras com o objetivo de propor alterações no documento original em benefício do setor privado. É importante, aqui, destacar a posição dos pesquisadores, principalmente aqueles ligados ao setor público, por se mostrarem contrários ao programa e evidenciam argumentos críticos em relação à sua implantação, bem como à visão e os argumentos favoráveis defendidos pelas mantenedoras do setor privado, quais sejam, SEMESP, ABMES e ANUP. Da mesma forma, o levantamento das pesquisas no Banco de Teses e Dissertações da CAPES, sobre o PROUNI, indicaram esta mesma oposição em relação ao programa. Foi possível verificar que existem duas principais abordagens sobre o PROUNI, que constitui o objeto deste estudo. Uma que discute eventuais contribuições do programa para ampliação do acesso à educação superior, bem como a democratização dessa modalidade de ensino. Outra abordagem é a que congrega argumentos críticos e busca evidenciar o movimento de privatização e mercantilização da educação superior no Brasil, induzida por programas governamentais. Além destas duas abordagens, existem pesquisas, como a de Oliveira (2012), que trazem a posição dos alunos beneficiários do PROUNI que também se mostraram a favor do programa. Diante dos dados apresentados neste capítulo e para verificar se a adesão de uma IES Privada ao PROUNI lhe propicia benefícios financeiros, no próximo capítulo será apresentada a abordagem metodológica, bem como a Faculdade pesquisada e a descrição dos Termos de Adesão. 58 3 O CENÁRIO DA PESQUISA: UMA IES PRIVADA COM FINS LUCRATIVOS Este capítulo tem como objetivo apresentar o processo de desenvolvimento da pesquisa, bem como o histórico da instituição, sua missão, visão, valores e a descrição dos Termos de Adesão ao PROUNI. 3.1 Procedimentos metodológicos e caracterização da pesquisa A instituição pesquisada é uma faculdade privada com fins lucrativos, localizada no município de Cotia, Estado de São Paulo, e aderiu ao PROUNI em 2008, cuja entidade colaborou, disponibilizando as informações necessárias para este estudo. De acordo com Gil (1999) “a pesquisa documental têm como objetivo primordial a descrição de características de determinada população, fenômeno ou de uma experiência” e pode contribuir, ainda segundo o autor, proporcionando novas visões sobre uma realidade já conhecida. Na pesquisa documental, os materiais utilizados geralmente não receberam ainda um tratamento analítico, por exemplo, documentos conservados em arquivos de órgãos públicos e privados: cartas pessoais, fotografias, filmes, gravações, diários, memorandos, ofícios, atas de reunião, relatórios financeiros e contábeis. Para Fonseca: A pesquisa documental recorre a fontes mais diversificadas e dispersas, sem tratamento analítico, tais como: tabelas estatísticas, jornais, revistas, relatórios, documentos oficiais, cartas, filmes, fotografias, pinturas, tapeçarias, relatórios de empresas, vídeos de programas de televisão, etc (FONSECA, 2002, p. 32). Como já mencionado anteriormente, o propósito desta pesquisa consiste em avaliar se uma instituição privada com fins lucrativos beneficia-se financeiramente da isenção fiscal após sua adesão ao PROUNI. Para tanto, procedeu-se um estudo dos termos de adesão que são os documentos gerados a partir das informações prestadas pelas IES que aderem ao PROUNI pelo Sistema Informatizado do Programa Universidade para Todos (SISPROUNI) no site do Ministério da 59 Educação. Os Termos de Adesão estudados foram entregues impressos ao pesquisador, uma vez que não há como fazer a consulta diretamente no sistema do SISPROUNI, posto que o sistema exige identificação e senha de acesso que é liberada somente para as IES participantes do programa. Para verificar os valores financeiros da receita e do lucro foi realizado levantamento de dados nos balanços patrimoniais da instituição. As instituições de educação superior privadas que aderem ao PROUNI ficam isentas do pagamento de tributos federais o Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ); a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL); Programa de Integração Social (PIS); e Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS). O Imposto de Renda da Pessoa Jurídica e a Contribuição Sobre o Lucro Líquido incidem sobre o lucro, o Programa de Integração Social (PIS) e Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS), sobre a receita. Para identificar se a isenção desses tributos supera os investimentos em bolsas de estudos ofertadas pela instituição, foi realizado um levantamento de dados a partir dos balanços patrimoniais cedidos pela instituição no período 2008-2010, os quais serviram para coletar os valores da receita e do lucro para o cálculo da isenção tributária. A coleta de dados teve início na coordenação do PROUNI junto à IES investigada, departamento este responsável pelo envio das informações obrigatórias exigidas pelo MEC via sistema informatizado o SISPROUNI14. O preenchimento e envio semestral das informações obrigatórias exigidas pelo MEC no SISPROUNI produz um documento gerado eletronicamente denominado Termo de Adesão, no qual constam os dados cadastrais da instituição, bem como o valor da sua receita semestral para fins de cálculo das bolsas ofertadas, cursos oferecidos, alunos matriculados, tipos de bolsas oferecidas pelo programa e o valor das mensalidades aplicadas em todos os cursos de graduação. As características do Termo de Adesão faz desse documento uma das principais fontes para o levantamento de informações relacionadas ao PROUNI na instituição. Considerando que um dos objetivos desta pesquisa é analisar os efeitos financeiros na IES a partir da isenção dos tributos relacionados ao programa, foi necessária a 14 SISPROUNI - Sistema Informatizado do Programa Universidade para Todos, onde são armazenadas todas as informações referentes às instituições de educação superior participantes do programa, assim como dos estudantes nele cadastrados. 60 solicitação dos balanços patrimoniais no departamento de contabilidade para identificar os valores da receita e do lucro da instituição. Para esclarecimento sobre a adesão da IES ao PROUNI e também com o propósito de conhecer a opinião do administrador da instituição em relação ao programa, foi realizada uma entrevista semi-estruturada com o mantenedor. Para Bogdan e Biklen (1994, p. 134), Uma entrevista consiste numa conversa intencional, geralmente entre duas pessoas, embora por vezes possa envolver mais pessoas, com o objetivo de obter informações sobre a outra. [...] As entrevistas podem ser utilizadas de duas formas. Podem constituir a estratégia dominante para recolha de dados ou podem ser utilizadas em conjunto com a observação participante, análise de documentos e outras técnicas. Em todas estas situações, a entrevista é utilizada para recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito, permitindo ao investigador desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os sujeitos interpretam aspectos do mundo. Para o agendamento do contato pessoal com mantenedor foi, por ele, solicitado o envio prévio do roteiro da entrevista. A agenda foi cumprida em 27 de março de 2013, na própria instituição. No decorrer do processo de estudo dos Termos de Adesão surgiram dúvidas em alguns pontos desse documento, mas que foram esclarecidas em entrevistas com a coordenadora do PROUNI junto à instituição. 3.2 A instituição de educação superior A faculdade objeto deste estudo, uma instituição privada com fins lucrativos, está localizada no Estado de São Paulo, mais precisamente na Granja Viana, município de Cotia, próximo aos municípios de Osasco, Barueri, Embu, Carapicuíba e Vargem Grande. A cidade de Cotia foi fundada em 1580, na oportunidade da concessão de sesmaria aos índios de Pinheiros, de acordo com os registros existentes no arquivo do Estado de São Paulo. O município foi participante ativo das Entradas e Bandeiras no Brasil. Vários bandeirantes, entre os quais Fernão Dias, Manuel Esteves, Pero Dias e Antonio Bicudo, entre outros capitães do mato são citados na história deste município paulista. 61 Cotia recebeu sua emancipação político-administrativa em 2 de abril de 1856. Pelo censo demográfico de 1980, a cidade contava com mais de 62 mil habitantes, número este que, em 2010, subiu para 201 mil. Cotia possui grande destaque na atividade econômica do Estado, pois é uma região que conta com um parque industrial diversificado, com indústrias químicas, de cerâmicas, de brinquedos, explosivos, alimentos e máquinas agrícolas. A Faculdade pesquisada foi credenciada pelo MEC em 2006. É um estabelecimento de educação superior que está integrado a um grupo português, com estabelecimentos de ensino instalados em Lisboa (sede), Porto, Portimão, Marinha Grande, Torres Vedras, Rio de Janeiro, Guiné Bissau, Cabo Verde e Moçambique, além do Brasil. O projeto educativo da Universidade Portuguesa é uma iniciativa de ensino e formação surgida da sociedade civil de Portugal. Atualmente, mais de 25.000 alunos freqüentam, em diversos países, as vinte e duas instituições de ensino que integram o grupo em Portugal e nos diversos países de expressão portuguesa. O grupo iniciou sua atuação no Brasil em 2007, a partir da aquisição de uma da instituição que, naquele ano, foi credenciada no MEC como faculdade, tendo por missão promover um ensino superior em todas as áreas do saber, que seja de qualidade e excelência, e garantir a necessária adequação dos seus alunos às exigências profissionais determinantes no espaço nacional e internacional. A instituição de acordo com o seu Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) concebe a sua organização didático-pedagógica, a compreensão da realidade e reconhece, assim, que todo o conhecimento é igualmente importante. Neste sentido, procura a integração do ensino com a pesquisa e estimula a extensão por meio de ações factíveis e razoáveis ao seu universo de aplicação. Esta instituição de educação superior privada tem como objetivo investir em um processo de ensino e aprendizagem que capacite os seus egressos a atenderem às necessidades e expectativas do mercado de trabalho e da sociedade, com competência para formular, sistematizar e socializar conhecimentos em suas áreas de atuação. Para alcançar este objetivo, a Instituição promove a educação superior integrando a pesquisa e a extensão, visando à formação de profissionais comprometidos com o autoconhecimento, a transformação social, cultural, política e 62 econômica da região, do Estado, nacional e internacionalmente (PLANO DE DESENVOLVIMENTO INSTITUICIONAL, 2011, p. 13). De acordo com o (PDI), a faculdade iniciou suas atividades no primeiro semestre de 2007, com a implantação dos cursos de Direito no período noturno e Fisioterapia nos períodos diurno e noturno. No segundo semestre de 2007, seguiuse a criação dos cursos de Administração,período noturno,e Biomedicina períodos diurno e noturno. Os cursos de Gastronomia e de Pedagogia passaram a ser oferecidos a partir do primeiro semestre de 2008, ambos com turmas no período noturno. O curso de Marketing foi autorizado e iniciou a primeira turma no primeiro semestre de 2009, com aulas ministradas no período noturno. Para conhecer o histórico da instituição e a trajetória profissional de seu mantenedor, na entrevista foram abordadas questões referentes à instituição e carreira profissional de seu administrador/mantenedor. Desta forma, na entrevista, a primeira questão abordou sua trajetória profissional, visando conhecer um pouco mais do perfil do entrevistado: Quando o senhor se interessou pela educação e como chegou a mantenedor? Praticamente desde o final de meu curso de graduação em Direito, por ter sido imediatamente convidado para o cargo de professor-assistente-estagiário (começo da carreira acadêmica antigamente em Portugal) e para o exercício de funções de administração numa Universidade Privada. A partir daí, toda a minha vida profissional girou em torno da educação. A vinda para o Brasil foi um passo na internacionalização do grupo educacional, onde atualmente trabalho - o Grupo - procura outros mercados, para além de Portugal, onde se fale a língua portuguesa. A Questão 2 aborda a educação de modo generalizado e busca levantar informações sobre o cenário encontrado pelo mantenedor tanto na IES quanto na educação, ao assumir o cargo. Qual foi o contexto que o senhor encontrou nesta IES e na educação quando assumiu este cargo? Esta IES não tinha ainda existência material, em 2007, quando a compramos. 63 Tinha obtido seus primeiros alvarás de funcionamento, mas não estava ainda funcionando. Em termos da educação no Brasil, pareceu-nos estar perante um mercado muito promissor, visto o crescimento econômico exponencial do país e a necessidade de formação de profissionais qualificados para acompanharem esse crescimento. Esta resposta confirma que a IES iniciou suas atividades em 2007, bem como o interesse do Grupo em explorar o mercado educacional brasileiro que se mostra com perspectivas promissoras. Em 2008, a instituição solicitou junto ao MEC autorização para o funcionamento do curso de bacharelado em Arquitetura e Urbanismo. O pedido foi indeferido, em julho de 2009, pela Secretaria de Educação Superior (Sesu)15 considerando que o número de vagas solicitado era superior à capacidade de suporte da infraestrutura existente. Entretanto, desde 2008, a faculdade recebeu autorização para o curso de Engenharia Civil. Quadro 1 - Cursos de graduação oferecidos pela instituição (2010) Turno Regime Letivo Duração Regular do Curso Administração NOT Semestral 8 53 R$ 648,00 Biomedicina MAT Semestral 8 50 R$ 764,00 Biomedicina NOT Semestral 8 50 R$ 764,00 Direito MAT Semestral 10 50 R$ 728,00 Direito NOT Semestral 10 50 R$ 728,00 Educação Física MAT Semestral 8 50 R$ 576,00 Curso 15 Quantidade de Valor da Ingressantes 2010 mensalidade Média Secretaria de Educação Superior (Sesu) - Unidade do Ministério da Educação responsável por planejar, orientar, coordenar e supervisionar o processo de formulação e implementação da Política Nacional de Educação Superior. A manutenção, supervisão e desenvolvimento das Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) e a supervisão das instituições privadas de educação superior, conforme a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), também são de responsabilidade da SESU. 64 Educação Física NOT Semestral 8 50 R$ 576,00 Enfermagem MAT Semestral 8 50 R$ 698,00 Enfermagem NOT Semestral 8 50 R$ 698,00 Engenharia Civil NOT Semestral 10 50 R$ 716,00 Fisioterapia MAT Semestral 8 50 R$ 764,00 Fisioterapia NOT Semestral 8 50 R$ 764,00 Gastronomia NOT Semestral 4 50 R$ 1.016,00 Marketing NOT Semestral 4 50 R$ 400,00 Pedagogia NOT Semestral 7 50 R$ 400,00 Fonte: Termo de Adesão (2010). É importante destacar que a instituição aderiu aos programas de financiamento estudantil, FIES e PROUNI, logo após aprovação de seu credenciamento junto ao MEC, em 2007. No que diz respeito ao PROUNI, os primeiros beneficiários ingressaram na Faculdade no primeiro semestre de 2008. 3.3 Apresentação dos Termos de Adesão ao PROUNI O termo de adesão ao programa é composto por dez itens. O primeiro referese aos dados cadastrais da mantenedora no qual se destacam: razão social: CNPJ; código da mantenedora no INEP; categoria na qual a instituição pesquisada se enquadra em sociedade simples e com fins lucrativos; nome completo do responsável legal da mantenedora; CPF; cargo; telefone; e e-mail. No item dois são registrados os dados cadastrais da instituição, razão social, código do INEP, CNPJ, organização acadêmica, na qual a IES se enquadra como faculdade, situação de funcionamento: ativa, categoria administrativa em que, da mesma forma que a mantenedora, a faculdade é considerada entidade com fins lucrativos. 65 Destaca-se, no item 2.1.10, o fato de a instituição assumir que não realizará processo seletivo próprio para estudantes pré-selecionados pelo MEC, bem como utilizará, para cálculo das bolsas, a regra de uma bolsa para cada 22 alunos matriculados pagantes e bolsas parciais de 50% ao equivalente de 8,5% da receita anual. Verifica-se que a instituição reserva 2% de bolsas aos seus funcionários e dependentes. Os itens três e quatro apresentam as informações cadastrais da unidade administrativa e do campus, bem como os dados do coordenador e o representante do PROUNI na instituição. Ressalte-se que, no item 3.1.13 do Termo de Adesão, a instituição divulga o valor de sua a receita. Esta informação é utilizada para fins de cálculo das bolsas de estudo parciais a serem cedidas pela instituição. Os dados são apresentados na Tabela 3. Tabela 3 - Receita semestral da instituição (2007-2010) 1º semestre 2007 2º semestre 2007 1º semestre 2008 2º semestre 2008 1º semestre 2009 2º semestre 2009 1º semestre 2010 0,00 150.291,48 784.489,38 859.283,87 1.694.127,45 2.473.735,70 3.004.347,39 2º semestre 2010 Lucro Receita 4.025.000,61 Fonte: Termo de Adesão / Elaboração própria. Nota: Valores expressos em reais. Consta na Tabela 3 que a receita semestral referente ao primeiro semestre de 2007 foi zero. Esse número levantou uma dúvida sobre o motivo que teria levado a receita a apresentar esse valor naquele ano, que foi esclarecida pela coordenadora do PROUNI na instituição. Isso teria ocorrido devido ao fato de a IES ter iniciado suas atividades no segundo semestre de 2007 e, portanto, no primeiro semestre não teve receita declarada proveniente dos cursos de graduação. Ainda em relação à Tabela 3, percebe-se o movimento ascendente da receita semestral, que passou de R$ 150.291,48, no 2º semestre de 2007, para R$ 4.025.000,61, no 2º semestre de 2010, o que representa uma variação percentual 16 16 Variação Percentual - expressa a diferença percentual entre dois valores genéricos. 66 da receita no período de 2,578%. Ainda no que se refere ao item 3 do Termo de Adesão, o número 3.1.14 define um percentual17 27,4% de bolsas destinadas à política de cotas para negros, indígenas e pardos, percentual que não se altera no decorrer do período 2007-2010. De acordo com a Lei Federal nº 11.096/2005, em seu artigo sétimo, o percentual de bolsas destinadas às políticas afirmativas deve ser, no mínimo, igual ao percentual de cidadãos autodeclarados indígenas, pardos ou pretos, na respectiva unidade da Federação, segundo o último censo do IBGE (BRASIL, 2005). Em continuidade à descrição do Termo de Adesão, o item 4 indica os dados do coordenador do PROUNI na instituição, como nome completo, CPF, e-mail, cargo e telefone. O item 5 do Termo expõe a oferta de cursos de graduação pela instituição em 2011, conforme Quadro 2, foram oferecidos naquele ano 15 cursos de graduação nos períodos noturno e matutino, sendo dois cursos de licenciatura, três cursos na área da saúde, três na área de humanas e somente um na área de exatas. Os cursos apresentam duração regular de oito semestres, exceto os cursos de direito, engenharia civil e marketing, gastronomia que têm duração de dez e quatro semestres, respectivamente. Quadro 2 -Cursos oferecidos pela instituição em 2011, de acordo com turno, regime de exigência, duração, mensalidade bruta, desconto e mensalidade média. LicenCurso Turno Regime letivo ciatura educação básica Mensalida- Mensalida- Mensalida- de bruta de estimada de Regular do curso estimada 2011 (com estimada em sem. 2011 desconto) 2011 Duração Duração máxima média Administração NOT S Não 16 8 R$ 809,00 R$ 606,00 R$ 606,00 Biomedicina MAT S Não 16 8 R$ 955,00 R$ 764,00 R$ 764,00 Biomedicina NOT S Não 16 8 R$ 955,00 R$ 764,00 R$ 764,00 17 A IES utiliza o percentual de 27,4% de cidadãos autodeclarados indígenas, pardos ou pretos publicados no censo de 2000. Este percentual se altera para 29,1% no Censo 2010 que de acordo com o site do IBGE só foi divulgado a partir de abril de 2011. 67 Direito MAT S Não 20 10 R$ 911,00 R$ 682,00 R$ 682,00 Direito NOT S Não 20 10 R$ 911,00 R$ 682,00 R$ 682,00 Educação Física MAT S Sim 16 8 R$ 676,00 R$ 540,00 R$ 540,00 Educação Física NOT S Sim 16 8 R$ 676,00 R$ 540,00 R$ 540,00 Enfermagem MAT S Não 16 8 R$ 819,00 R$ 654,00 R$ 654,00 Enfermagem NOT S Não 16 8 R$ 819,00 R$ 654,00 R$ 654,00 Engenharia Civil NOT S Não 20 10 R$ 893,00 R$ 670,00 R$ 670,00 Fisioterapia MAT S Não 16 8 R$ 955,00 R$ 764,00 R$ 764,00 Fisioterapia NOT S Não 16 8 R$ 955,00 R$ 764,00 R$ 764,00 Gastronomia NOT S Não 8 4 R$ 1.069,00 R$ 1.016,00 R$ 1.016,00 Marketing NOT S Não 8 4 R$ 500,00 R$ 374,00 R$ 374,00 Pedagogia NOT S Sim 14 7 R$ 500,00 R$ 374,00 R$ 374,00 Fonte: Termo de Adesão (2011). Considerando os dados apresentados no Quadro 2, verifica-se que a instituição oferece um desconto entre 20 e 25%, em média, em todos os cursos oferecidos. A única exceção está no curso tecnológico de Gastronomia, em que o desconto é de apenas 5% e sua mensalidade é de R$ 1.016,00, uma das mais altas da instituição, ultrapassando o valor dos cursos de Engenharia, Direito e Biomedicina. Para esclarecer o motivo do desconto inferior aplicado ao curso de Gastronomia, foi elaborada a seguinte questão: Examinando os termos de adesão ao PROUNI, verifiquei que a instituição oferece desconto em média entre 20% e 25% em todos os cursos de graduação, exceto para o curso de Gastronomia, cujo desconto é inferior, na faixa de 5%. Por que somente este curso tem desconto diferenciado em relação aos demais? Tem um desconto maior que de 5%. Depois [da matrícula] nós damos, em termos reais, um desconto semelhante aos outros cursos. [...] No momento da 68 candidatura o aluno requer um desconto maior. Este curso é um dos mais caros porque utiliza muitos consumíveis. Você não dá uma aula de gastronomia sem utilizar consumíveis... E consumíveis caros. Por outro lado, é um curso mais breve de 2 anos e pode ser um investimento maior para os alunos. Mas é um investimento maior em menos tempo e por outro lado é um curso que é caro. [...] Tem uma infraestrutura maior, tem um laboratório, uma cozinha, mas também tem turmas pequenas, você não pode por numa cozinha uma turma com 40 alunos e também os alunos a cada aula que fazem estão consumindo bens alimentares, vinho, azeite, manteiga, carnes, frutas. [...] O desconto acaba sendo maior do que 5%, acaba por ser parecido com os dos outros cursos. Agora o preço absoluto é maior que os outros. Como o mantenedor esclarece que após a matrícula na instituição o aluno solicita na secretaria um desconto superior a 5% e recebe um desconto similar ao aplicado nos demais cursos da instituição. O mantenedor explica que este curso tem uma mensalidade superior aos demais, pois o mesmo necessita de infraestrutura diferenciada, bem como nas aulas práticas há o consumo de alimentos, as turmas são menores, bem como é um curso tecnológico com duração de apenas 4 semestres. Entretanto, apesar especificidades deste curso o desconto deste é maior que 5%. No que se refere ao Termo de Adesão, o item 6 apresenta o quadro de composição de bolsas. Destaque-se que, para examinar este quadro, antes, é preciso compreender sua legenda que possui 23 itens, no qual estão descritas todas as suas características. A Tabela 4 foi organizada a partir das informações do item 6 do Termo de Adesão que trata do número de alunos ingressantes18 na instituição no período 2008-2011. Constatou-se que mesmo após a abertura dos novos cursos de engenharia civil e enfermagem no segundo semestre de 2010, isto não proporcionou um aumento no número total de ingressantes a partir daquele ano na IES. 18 No Termo de Adesão, alunos ingressantes são aqueles matriculados no primeiro semestre das turmas iniciais. 69 Tabela 4 - Alunos matriculados Ingressantes que pagam mensalidades (2008-2011) 1º Sem 2008 2º Sem 2008 1º Sem 2009 2º Sem 2009 1º Sem 2010 2º Sem 2010 1º Sem 2011 2º Sem 2011 Pedagogia 50 33 48 48 48 48 48 48 Administração 50 29 0 48 48 48 53 48 Direito 100 33 95 48 95 48 95 48 Biomedicina 100 33 95 95 48 51 48 48 Curso Enfermagem 0 0 0 0 0 48 48 48 Fisioterapia 100 29 95 48 48 51 48 48 Gastronomia 0 33 95 48 48 48 48 48 Marketing 0 29 95 48 48 48 48 48 Ed Física 0 0 0 48 48 48 48 48 Eng. Civil Total 0 0 0 0 0 48 95 48 400 219 523 431 431 486 579 480 Fonte: Termo de Adesão / Elaboração própria. Um dos principais desafios para esta instituição, que atua no mercado de educação superior há apenas seis anos, é aumentar a sua demanda nos cursos de graduação. Neste sentido, o PROUNI favorece esta IES, pois, a partir de sua adesão ao programa, a instituição tem seu nome divulgado no site do MEC/PROUNI. Em continuidade a descrição do Termo o item 7 apresenta o quadro de bolsas do PROUNI. No que se refere às bolsas oferecidas de acordo com a Lei Federal nº. 11.096/2005, a IES optou por ofertar uma bolsa para cada 22 alunos pagantes e bolsas complementares de 50%, até que se atinja o percentual equivalente de 8,5% de sua receita. No que diz respeito às bolsas PROUNI a tabela 5 apresenta a quantidade de bolsistas integrais por curso na instituição entre 2008 e 2011. Em relação às bolsas oferecidas pelas IES privadas o Projeto de Lei do PROUNI previa a oferta de uma bolsa integral para cada 9 alunos sem a opção de oferecer bolsas parciais. Contudo, isto foi modificado na Medida Provisória 213/04 e na Lei 11.096/05. As bolsas de estudos integrais no Projeto de Lei deveriam ser destinadas a alunos, cuja renda familiar per capita não fosse superior a um salário mínimo. Entretanto, na Medida Provisória essa oferta abrange alunos, cuja renda seja de um salário mínimo e meio e ainda há a possibilidade bolsas parciais de 50% e 25% para bolsistas com renda de até três salários mínimos. 70 A alteração acima mencionada, na quantidade de bolsas oferecidas pelas IES Privadas representou uma vitória para o setor privado que poderia, por conta da alteração na Lei 11.096/2005, aumentar a quantidade de alunos beneficiados pelo programa a partir da oferta das bolsas parciais de 50% e 25%. Tabela 5 - Bolsistas integrais (2008 -2011) 1º Sem 2008 2º Sem 2008 1º Sem 2009 2º Sem 2009 1º Sem 2010 2º Sem 2010 1º Sem 2011 2º Sem 2011 Pedagogia 2 2 3 0 1 0 0 2 Administração 2 1 1 2 3 3 2 1 Direito 4 2 6 1 3 2 2 1 Biomedicina 4 2 5 1 0 0 0 0 Enfermagem 0 0 0 0 2 2 1 2 Fisioterapia 4 1 4 2 0 0 0 1 Gastronomia 2 2 4 0 0 2 2 1 Marketing 0 1 4 1 0 1 0 0 Ed Física 0 0 0 2 2 2 3 1 Eng. Civil 0 0 0 0 2 2 5 3 Total 18 11 27 9 13 14 15 12 Curso Fonte: Termo de Adesão / Elaboração própria. A Tabela 6 apresenta a quantidade de bolsas parciais ofertadas pela instituição com sua adesão ao PROUNI. Considerando a oferta dessas a instituição deve de acordo com a Lei 11.096 oferecer bolsas parciais até 8,5% de sua receita auferida com base nos números do ano anterior. Tabela 6 -Bolsas parciais (50%) obrigatórias (2008-2011) 1º Sem 2008 2º Sem 2008 1º Sem 2009 2º Sem 2009 1º Sem 2010 2º Sem 2010 1º Sem 2011 2º Sem 2011 Pedagogia 30 2 7 4 4 0 0 2 Administração 30 3 0 4 0 3 2 1 Direito 26 2 11 4 6 3 8 3 Biomedicina 26 2 9 3 0 3 4 3 Enfermagem 0 0 0 0 4 4 3 3 Fisioterapia 26 3 4 3 0 4 3 1 Gastronomia 13 2 7 4 4 4 8 0 Marketing 0 3 8 4 4 3 1 2 Ed Física 0 0 0 4 4 4 3 0 Eng. Civil 0 0 0 0 4 4 9 4 151 17 46 30 30 32 41 19 Curso Total Fonte: Termo de Adesão / Elaboração própria. 71 Os Termos de Adesão mostraram que a receita da instituição apresentou crescimento no período 2007-2010, entretanto, o número de bolsas parciais não cresceu na mesma proporção da receita, pelo contrário, a quantidade ofertada de bolsas parciais se reduziram no decorrer do estudo. A Lei Federal nº. 11.096/2005 prevê que a instituição que adere ao PROUNI poderá optar por oferecer uma bolsa integral para cada 22 estudantes pagantes e regularmente matriculados em seus cursos, desde que ofereça, adicionalmente, quantidade de bolsas parciais de 50 ou 25%, na proporção necessária para que a soma dos benefícios concedidos atinja o equivalente a 8,5% da receita anual. Para entender o motivo que levou ao decréscimo de bolsas parciais enquanto a receita da instituição aumentou, foi apresentada ao mantenedor a seguinte questão: A instituição tem de oferecer bolsas obrigatórias até que se atinja o equivalente de 8,5% da receita. Se a receita estava aumentando, por que a quantidade de bolsas parciais diminuiu? Esse é o limite. Um limite máximo não tem que ser atingido. [...] o governo federal / o Estado limita o valor máximo, mas não o valor mínimo. Se forem bolsas integrais, todas elas são preenchidas, mas as bolsas de 50% nem todas são preenchidas, portanto, o que você pode ter visto é uma quebra em alguns cursos com menos demanda de bolsas PROUNI do que em anos anteriores. Bolsas PROUNI de 50%. [...] Eu não posso obrigar o pessoal a entrar aqui. Há um entendimento por parte do mantenedor de que a IES deve ofertar, de acordo com a Lei Federal nº. 11.096/2005, um limite máximo de até 8,5% da receita auferida em bolsas parciais. Entretanto, segundo ele se não há demanda para preencher todas as bolsas parciais que são oferecidas semestralmente, estas não precisam ser totalmente ocupadas, somente as bolsas integrais são totalmente preenchidas. Afirma, ainda, que houve queda da demanda por bolsas parciais em alguns cursos oferecidos pela instituição. A Tabela 6 mostra o decréscimo na quantidade de bolsas parciais no período 2008-2011, principalmente nos cursos de Administração, Pedagogia, Direito, 72 Biomedicina e Fisioterapia. Esses dados evidenciaram essa redução da demanda por bolsas parciais na instituição. Os Termos de adesão ainda mostraram que, em 2008 a instituição ofereceu bolsas parciais em quantidades acima do previsto na Lei 11.096, foi constado que a IES ofertou 585 bolsas parciais adicionais. Para compreender a sistemática de oferta dessas bolsas adicionais, já que não está prevista na Lei 11.096/05 esta possibilidade, questionou-se a coordenadora do PROUNI sobre a oferta dessas bolsas pela IES, em 2008. Esta esclareceu que o MEC pelo SISPROUNI, a cada semestre, concede a opção à IES de ofertar bolsas integrais e parciais adicionais. A coordenadora ainda explicou que a IES nunca ofertou bolsas adicionais integrais, todavia optou por oferecer as bolsas adicionais parciais em 2008, pois havia naquele ano demanda para preenchimento destas bolsas na instituição. A Tabela 7 apresenta as bolsas parciais (50%) adicionais oferecidas pela instituição no período 2008-2011. Tabela 7 - Bolsas parciais (50%) adicionais (2008-2011) 1º Sem 2008 2º Sem 2008 1º Sem 2009 2º Sem 2009 1º Sem 2010 2º Sem 2010 1º Sem 2011 2º Sem 2011 Pedagogia 100 10 0 0 0 0 0 0 Administração 60 15 0 0 0 0 0 0 Direito 100 10 0 0 0 0 0 0 Biomedicina 100 10 0 0 0 0 0 0 Enfermagem 0 0 0 0 0 0 0 0 Fisioterapia 100 15 0 0 0 0 0 0 Gastronomia 40 10 0 0 0 0 0 0 Marketing 0 15 0 0 0 0 0 0 Ed Física 0 0 0 0 0 0 0 0 Eng. Civil 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Curso Total 500 85 Fonte: Termo de Adesão / Elaboração própria. Os dados apresentados na Tabela 7, mostram que a IES somente ofertou as bolsas adicionais de (50%) no ano de sua adesão ao programa, pois ocorreu uma queda na demanda por bolsas parciais na IES a partir de 2009, não havendo demanda suficiente para preencher as bolsas parciais obrigatórias a partir daquele 73 ano o que justifica a IES não ter mais ofertado este tipo de bolsa até o final do período estudado. Prosseguindo com a descrição do Termo o item 8 deste documento mostra o cadastro de cursos inativos na IES, que corresponde aos cursos que foram encerrados na instituição, o que não ocorreu em todo período estudado. Por sua vez, o item 9 do Termo trata dos critérios de seleção e classificação processo seletivo da IES e estabelece as condições essenciais deste que são divulgadas, no site da instituição, em cronogramas com prazos de inscrições, convocações e listas de espera para efetivar matrículas. O item 9, ainda prevê a obrigatoriedade das instituições divulgarem as condições para adesão dos alunos ao PROUNI. A instituição em seu site apresenta um link que direciona os alunos ao site do PROUNI na página do MEC na internet, onde são divulgadas todas as portarias e editais que regem o programa, bem como esclarece as principais dúvidas em relação ao seu funcionamento, tipos de bolsas oferecidas e documentação necessária para comprovação de renda. Para concluir, o item 10 finaliza o Termo de Adesão com a data de processamento do documento no SISPROUNI, bem como a assinatura do responsável legal da Mantenedora, seu CPF e sua assinatura digital com a chave de segurança e acesso da IES ao sistema. No capítulo a seguir, são expostos os dados da receita e do Lucro da IES, bem como são apontados os resultados obtidos a partir das informações coletadas nos Termos de Adesão e nos Balanços Patrimoniais. 74 4 PROGRAMA UNIVERSIDADE PARA TODOS (PROUNI) EM UMA INSTITUIÇÃO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR PRIVADA: RESULTADOS DA ADESÃO Este capítulo tem como finalidade verificar se a adesão da IES ao PROUNI resultou em um benefício fiscal que possa ter superado os investimentos em bolsas de estudos ofertados pela instituição contribuindo para sua manutenção expansão no mercado. Os valores da receita e do lucro são essenciais para este estudo e foram coletados nos Balanços Patrimoniais disponibilizados pelo departamento de contabilidade da instituição, após autorização do mantenedor. Assim, foi necessário determinar se a isenção fiscal alcançada pela instituição de educação superior privada supera os investimentos em bolsas de estudos oferecidas pela mesma após sua adesão ao PROUNI. Para esta avaliação foi preciso calcular os tributos relacionados ao programa que a instituição deixa de recolher para a devida comparação com os valores correspondentes ao investimento em bolsas de estudo feitas pela IES. Este cálculo foi elaborado com base nos resultados globais consolidados, que consistem nos valores da receita e do lucro anual divulgados pela instituição em seus balanços patrimoniais, que servem de base para verificação da carga tributária da instituição. Os valores despendidos19 em bolsas de estudos integrais e parciais de 50% do PROUNI foram calculados a partir do valor da mensalidade média, aplicada anualmente, em todos os cursos da IES. Estes valores foram coletados dos termos de adesão. A IES em estudo é uma instituição com fins lucrativos, portanto, após sua adesão ao PROUNI ela deixou de recolher os tributos federais: Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ), Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), Programa de Integração Social (PIS) e da Contribuição Social para Financiamento da Seguridade Social (COFINS). 19 Ao oferecer bolsas de estudos do PROUNI, a Instituição deixou de receber as matrículas e mensalidades correspondentes, para se beneficiar da isenção fiscal. 75 Como já apresentado neste estudo a IES pesquisada é uma instituição com fins lucrativos, portanto, a mesma fica isenta do pagamento dos tributos federais, após sua adesão ao PROUNI. Para fins de cálculo da isenção a contribuição para o Programa de Integração Social (PIS) das instituições com fins lucrativos prestadoras de serviços calcula-se, atualmente, sobre a receita bruta da instituição, com alíquota de 1,65%. A Lei Complementar N° 70/91, instituiu a Contribuição Social para Financiamento da Seguridade Social (COFINS), a contribuição é, atualmente, de 7,6% e incide, sobre a receita bruta. O Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) incide sobre o lucro, a alíquota atual é de 15%. A Lei nº 7.689/88 instituiu a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) a base de cálculo desta contribuição é o Lucro, a alíquota atual é de 9%. A Tabela 8 apresenta o cálculo anual da isenção fiscal alcançada pela Instituição no período 2008-2010. Tabela 8 - Demonstrativo da isenção fiscal em função da adesão da IES ao PROUNI (2008-2010) Período Receita 2008 1.643.774 2009 4.167.863 2010 7.029.348 Total 12.999.121 Lucro 110.562 110.562 Isenção PIS COFINS IRPJ CSLL 27.122 124.926 0,00 0,00 152.048 68.770 316.757 16.584 9.950 412.061 115.984 534.230 0,00 0,00 650.214 214.485 987.931 16.584 9.950 1.214.323 Fiscal Fonte: Balanços patrimoniais / Elaboração própria. Notas: a) Valores expressos em reais; e b) A instituição não apurou lucro nos anos de 2008 e 2010. Os dados da Tabela 8 mostram a isenção fiscal alcançada pela IES desde 2008 até o final do período analisado, em 2010, o valor total da isenção neste período é de R$ 1.214.323 (um milhão, duzentos e quatorze mil, trezentos e vinte e três reais). A partir do estudo dos balanços patrimoniais, verificou-se que a isenção fiscal em relação aos tributos COFINS e PIS, cuja base de cálculo é a receita anual, ocorreu em todo período analisado. Entretanto, como a IES não apresentou lucro nos anos de 2008 e 2010, não 76 fez o recolhimento do Imposto de Renda e da Contribuição sobre o Lucro Líquido nesses anos. Embora sem apresentar lucro em todo o período estudado e sem realizar o recolhimento dos tributos incidente sobre o lucro nos anos de 2008 e 2010, a instituição beneficiou-se da isenção fiscal deixando de recolher aos cofres públicos o valor total de R$ 1.214.323,00, este ganho de mais de hum milhão de reais referese aos tributos que deveriam incidir sobre a sua receita de 2008 a 2010, bem como sobre o lucro no ano de 2009 que a IES deixou de pagar. Pode-se considerar que o valor desta isenção é relevante para esta instituição que está há pouco tempo atuando no mercado educacional e que pode utilizar o valor correspondente aos impostos para ampliar suas instalações físicas, bem como o benefício fiscal ainda contribui para a sua atuação competitiva no mercado. A receita que compôs a base de cálculo dos tributos foi a efetivamente recebida, pois foram descartadas para o cálculo, as mensalidades em atraso, consideradas inadimplências. A Tabela 9 apresenta dados relativos ao investimento20 da IES em bolsas de estudos relacionados ao PROUNI, as bolsas são integrais de 100% e parciais de 50% e estes valores serão utilizados para verificar se o ganho fiscal supera os valores das bolsas PROUNI ofertadas pela instituição. Os valores das bolsas relacionadas ao programa foram calculados21 considerando o valor da mensalidade média anual aplicada pela instituição em todos os cursos ofertados no período 2008-2010. 20 Investimento em bolsas de estudo significa, neste trabalho, o valor de matrículas e mensalidades que correspondem às bolsas do PROUNI que a IES deixou de receber. Estes valores foram coletados nos termos de adesão. 21 Média Aritmética Simples - Corresponde à soma do valor total das mensalidades de todos os cursos da instituição a cada ano no período de 2008 a 2010 dividido pela quantidade de cursos oferecidos no mesmo período. 77 Tabela 9 - Investimentos realizados pela IES em bolsas de estudos (2008-2010) Valor da Quantidade de Quantidade de Valor total mensalidade bolsas integrais bolsas parciais investido em média (*) ofertadas (50%) ofertadas bolsas (*) 2008 501,91 29 753 203.524,51 2009 615,43 36 76 45.541,82 2010 644,77 27 62 37.396,66 92 891 286.462,99 Período Total Fonte: Termo de Adesão / Elaboração própria. Notas: (*) Valores expressos em reais. A tabela 9 demonstra o investimento feito pela IES em bolsas de estudos do PROUNI, (2008-2010) os dados mostram que a instituição ofereceu o total de 92 bolsas integrais e 891 bolsas parciais em todo período estudado. O valor total investido em bolsas de estudos do PROUNI pela instituição foi de R$ 286.462,99 valor este que a IES deixou de receber com pagamento de mensalidades dos alunos beneficiados do programa no período 2008-2010. Os dados apresentados na tabela 8 e 9 mostram que mesmo sem obter lucro em 2008 e 2010 a IES beneficiou-se da isenção fiscal deixando de recolher aos cofres públicos o valor de R$ 1.214.323. Em contrapartida, a IES investiu em bolsas de estudos relacionadas ao PROUNI o valor de R$ 286.462,99, representando um ganho de R$ 927.860,00. Contudo, a economia fiscal alcançada a partir da isenção dos tributos relacionados ao PROUNI, apresentados na tabela 10, supera em 424% os investimentos em bolsas de estudos ofertadas pela Instituição no mesmo período. Como indica Carvalho (2006), se, por um lado, a renúncia fiscal representou a redução nos custos das instituições, por outro lado, este tipo de incentivo implicou na redução da arrecadação tributária, o que poderia ser considerado como uma forma de transferência indireta de recursos financeiros às instituições de ensino privado. Neste sentido, a transferência de recursos públicos concretizou-se na IES, apesar de só ter apresentado lucro no ano de 2009 da seguinte forma conforme apresentado na Tabela 8 a instituição beneficiou-se da isenção fiscal sobre os 78 tributos que incide sobre sua receita deixando de recolher, entre 2008 e 2010, um montante22 de R$ 1.202.416, relativo somente ao PIS e ao COFINS. No ano de 2009, a instituição auferiu lucro. Portanto, beneficiou-se ainda mais da isenção fiscal, deixando de recolher nesse ano todos os tributos federais que incidem sobre a receita e o Lucro, os valores da isenção fiscal alcançados em 2009 e que estão apresentados na Tabela 8 mostram que a IES deixou de recolher um montante de R$ 412.061,00 referente aos tributos do PROUNI naquele ano. Por sua vez, as instituições privadas com fins lucrativos são as mais beneficiadas com o programa, pois deixam de recolher todos os tributos federais a partir da sua adesão ao programa (CARVALHO, 2006). Tabela 10 - Isenção fiscal x investimentos em bolsas de estudos (2008-2010) Período Isenção fiscal Investimento em Valor recuperado bolsas (R$) (R$) % Recuperado 2008 152.048 203.524 -51.476 75% 2009 412.061 45.541 366.520 905% 2010 650.214 37.396 612.818 1739% Total 1.214.323 286.461 927.862 424% Fonte:: Termo de Adesão e Balanços patrimoniais / Elaboração própria. A Tabela 10 demonstra que a IES investiu, no ano de 2008, em bolsas de estudos integrais e parciais, o valor de R$ 203.524,00, obtendo isenção fiscal de R$ 152.048,00, com recuperação de 75% do valor investido em bolsas de estudos PROUNI, índice considerável, lembrando que em 2008 a IES apresentou uma receita de apenas 152.048,00 e não apresentou lucro, pois iniciou suas atividades no segundo semestre do ano anterior. A IES apurou lucro, em 2009, de R$ 110.562,00 e sua receita, conforme Tabela 3, aumentou consideravelmente, atingindo R$ 4.176.863,00, isto proporcionou uma recuperação de 905% do valor investido, o que representa um ganho de R$ 366.520,00, somente nesse ano. Este dado demonstrou que a IES se 22 Tabela 8 - Valor total do (PIS) 214.485,00 + Valor total da (COFINS) 987.931,00 = 1.202.416,00 79 beneficiou do não pagamento dos tributos relacionados ao PROUNI e que esta isenção fiscal superou os investimentos em bolsas de estudo em quase mil por cento no período estudado. Considerando que em 2010 a instituição investiu R$ 37.396,00 em bolsas de estudos, representou um ganho real, somente nesse ano, de R$ 612.818,00. Em termos percentuais, a Tabela 10 mostra que esse ganho equivale a 1.739% do valor efetivamente recuperado sobre os investimentos em bolsas de estudo. Os valores mencionados, relativos ao benefício fiscal obtido pela IES, são representativos e atendem as necessidades dessa instituição de pequeno porte que atua no mercado há apenas 6 anos e que possui, como público alvo, alunos de classes populares com baixo poder aquisitivo. No avançar da entrevista, perguntado ao mantenedor se ele acredita que a adesão ao PROUNI favoreceu ganhos financeiros ou se o programa contribuiu para a expansão financeira da instituição, ele afirmou que desde o início das atividades da IES, em agosto de 2007, esta tem recebido centenas de alunos do PROUNI, o que trouxe dois resultados importantes para a instituição, quais sejam, o primeiro foi o aumento da quantidade de alunos e o segundo, a redução fiscal e tributária resultante da adesão. Afirma ele, na entrevista: Sim, contribuiu para uma estabilização financeira da instituição, porque quando a instituição é nova, como no caso desta, tem vantagem em poder amortizar impostos que pagaria e que, de outra forma, não viria para cá e em uma região destas com uma instituição em crescimento, uma instituição ainda pequena acaba por ser conveniente nesta fase inicial de instalação, agora, se você pergunta se do PROUNI vieram diretamente recursos financeiros é lógico que não, pois você sabe que nem é a lógica do programa. A resposta do mantenedor a esta questão confirma os dados coletados, os quais demonstraram o benefício da isenção fiscal no período 2008-2010, que, segundo o próprio mantenedor, contribui para a estabilização financeira da instituição. Neste sentido, verifica-se que o benefício fiscal alcançado por esta instituição contribuiu para sua manutenção com possibilidade de expansão no 80 mercado. A se considerarem os valores mencionados, bem como a fala do mantenedor, apreende-se que a isenção fiscal foi o principal motivo que levou a instituição à adesão ao PROUNI. Pode-se, então, aferir que a possibilidade de isentar-se do pagamento de impostos a partir da adesão ao PROUNI pela IES em estudo, de pequeno porte, atuante há pouco no mercado, com público alvo formado de alunos com baixo poder aquisitivo, considerando o aspecto financeiro esta foi uma ação estratégica, pela relevância do valor que deixa de recolher aos cofres do Tesouro com os impostos, cujo montante pode, perfeitamente, ser empregado em investimento nas suas instalações e na sua expansão competitiva. Neste sentido, os dados do censo da educação superior 2010 mostram que o número de matrículas no setor privado aumentou consideravelmente. Este número em 2001 representava 2.091.529, em termos percentuais 68%. Em 2010, o total de matrículas passou para 4.736.001, anunciando que 74% do total das matrículas estavam no setor privado. Estes dados do censo indicam que as políticas direcionadas para educação superior nos últimos anos favoreceu a expansão da oferta pela via privada, contribuindo para expansão do setor privado como um todo. Oliveira (2007) argumenta que o programa traduz conquistas sociais, enfatizando sua dimensão pública, e, de outro lado, ganhos para o mercado, enfatizando sua dimensão privada. No que se refere, à dimensão do público no programa esta se concretiza nos seguintes aspectos como a transparência de procedimentos e critérios eletrônicos, estes critérios são pré-estabelecidos e envolvem aspectos meritórios e de necessidade social, bem como destaca a quase totalidade de bolsistas terem origem na rede estatal e a duplicação de negros e pardos na educação superior. Para Oliveira (2007) à dimensão privada, do PROUNI se materializa a partir dos benefícios que o programa proporciona para as IES privadas com fins lucrativos a partir da isenção fiscal promovendo a expansão deste setor. Para confirmar se os efeitos da isenção tributária contribuem para o crescimento e a expansão da instituição, perguntou-se ao mantenedor se ele acreditava que o benefício fiscal tivesse alavancado o crescimento da instituição. 81 Afirmou, ele: Não é uma fonte de recursos. É uma forma de você não pagar determinados impostos, mas, deste ponto de vista, com certeza traduz-se no lucro líquido, que impacta no resultado final. Ao afirmar que “o não pagamento de determinados impostos impacta diretamente no resultado final da instituição”, observa-se que há entendimento por parte do mantenedor de que o não pagamento dos impostos relacionados ao programa converge positivamente para o lucro da instituição e para o resultado final. Por sua vez o Gráfico 2 mostra os dados totalizados de alunos ingressantes em todos os cursos oferecidos pela IES no período 2008-2011, cujas informações revelam um pico de alunos no primeiro semestre de 2008, ano de adesão da IES ao PROUNI, este movimento ascendente teve uma queda no segundo semestre de 2008 e voltou a apresentar trajetória estável a partir do primeiro semestre de 2009, até o final do período estudado. Gráfico 2 - Total estimado de alunos ingressantes (2008-2011) Fonte: Termo de Adesão / Elaboração própria. A IES pesquisada iniciou suas primeiras turmas no segundo semestre de 2007 e aderiu ao PROUNI em 2008. Portanto, não se pode afirmar que a vinda de mais alunos para esta instituição foi somente ocasionada pela adesão, já que a instituição iniciou suas atividades, praticamente, junto com sua adesão ao PROUNI. 82 Entretanto, o mantenedor, ao ser questionado, admitiu que a adesão da IES ao programa contribuiu para o aumento da demanda, pois afirma: De agosto de 2007, quando iniciamos nossas atividades, até hoje, já recebemos centenas de alunos PROUNI. Numa região pobre, como a que estamos inseridos, isso é, certamente, um benefício enorme para a comunidade e nossa região. Essa questão foi novamente abordada. A vinda de mais alunos pelo PROUNI contribuiu para a expansão financeira da instituição? Teve dois impactos importantes. Teve um impacto de ter mais alunos, os alunos do PROUNI que recebem bolsa de 50% e que pagam os outros 50%, depois tem o impacto positivo na redução fiscal e tributária. A declaração do mantenedor para esse questionamento indica o que os dados já haviam sinalizado. Que o programa ocasionou dois resultados importantes na IES, sendo um destes o aumento na quantidade de alunos e o segundo a redução tributária. Saliente-se que, ao aderir ao PROUNI, a IES tem seu nome divulgado no site do MEC como instituição participante do programa, o que, de certa forma, contribui de maneira positiva para sua divulgação no mercado e consequetemente, para vinda de mais alunos. No que se refere à expansão financeira da instituição em relação a sua adesão ao PROUNI. Estudo realizado pela Carvalho (2006) sobre a isenção fiscal das instituições privadas sugere que o não recolhimento da COFINS e do PIS permite uma expansão de receita bruta. Isto ocorre, nesta instituição da seguinte forma o crescimento das matrículas aumenta a receita bruta desta instituição, em contrapartida, como a IES se beneficia de sua adesão ao PROUNI e não paga os tributos que incide sobre a sua receita. No final do exercício esta receita apresenta um crescimento real. Neste sentido, os resultados desta pesquisa mostraram que a receita da IES aumentou, consideravelmente, no período analisado e contribuiu para o aumento do 83 ganho fiscal pelo não recolhimento da COFINS e do PIS, pois, conforme os dados da Tabela 3, em 2010, a receita da instituição foi de R$ 7.029.348,00 e o benefício fiscal alcançado pelo não pagamento da COFINS e do PIS apresentados na Tabela 8, naquele ano, foi de R$ 650.214,00. Este valor foi auferido pela instituição e não foi repassado ao governo federal. Assim, os valores mencionados na Tabela 8 mostram que, mesmo sem apresentar lucro nos anos de 2008 e 2010, a isenção da COFINS e do PIS incidentes somente sobre a receita da IES, garantiu um ganho fiscal que em todo período estudado atingiu R$ 1.202.486,0023 contribuindo para a sua estabilidade financeira. No que se refere a relação dos ingressantes e bolsistas PROUNI o gráfico 3 faz um comparativo entre o número total estimado de alunos ingressantes e o de bolsistas integrais e parciais do PROUNI na IES, este gráfico mostra que a quantidade de bolsistas do programa em relação ao total de alunos ingressantes é pouco representativa, principalmente, em relação aos bolsistas integrais. Gráfico 3 - Alunos ingressantes em relação aos bolsistas PROUNI - integrais (100%) e parciais (50%) Fonte: Termo de Adesão / Elaboração própria. 23 Conforme tabela 8 este valor refere-se ao valor total da (COFINS) R$ 987.931,00 + total (PIS) 214.485,00 = 1.202.416,00 . 84 Vê-se ainda no gráfico 3 que, no primeiro semestre de 2008, existiam 18 bolsistas integrais o que representava apenas 5% relativamente ao total de alunos ingressantes, enquanto que os beneficiários do programa que possuíam bolsas parciais eram em número de 651, o que representava 163% do total. Considerando todos os alunos bolsistas do PROUNI com bolsas integrais e parciais este percentual aumenta para 167% do total de ingressantes naquele ano. O número de bolsistas integrais, no decorrer de todo período analisado, mostrou-se estável, representando 3% do total de alunos pagantes em 2011. Entretanto, a quantidade de bolsistas parciais apresentou uma queda e, em 2011, representavam apenas 4% do total, indicando que a demanda por bolsas parciais de 50% reduziram, consideravelmente, no período analisado. Não foi possível evidenciar o motivo dessa queda na procura por bolsas parciais na instituição, a mensalidade média aplicada na IES, entre 2008 e 2011, estava em torno de R$ 586,0024, indicando, talvez, que para a região onde a instituição está localizada, com público alvo constituído de alunos de classes populares e com baixo poder aquisitivo, cinqüenta por cento desse valor pode ser considerado alto para dispêndio somente com pagamento da mensalidade, já que os alunos têm outros gastos para sua manutenção e conclusão do curso, como as despesas com material didático, transporte e alimentação. Os dados acima indicam o que Oliveira (2012) apontou em seu estudo que as dificuldades financeiras de alunos do PROUNI, foram apresentadas por estes, em entrevistas, como a principal causa para desistência do curso, os mesmos indicam problemas financeiros como a principal motivo para evasão. Assim, cabe destacar que uma tentativa do governo federal para solucionar essa questão da desistência dos bolsistas parciais, ocorreram alterações na política de financiamento estudantil de modo a estabelecer relação de complementaridade entre PROUNI e FIES, considerando que a partir do momento que os alunos recebem bolsas de 50% PROUNI os mesmos têm prioridade no financiamento pelo FIES e não precisam apresentar fiador. O Gráfico 4 permite visualizar que a IES pesquisada optou por oferecer uma 24 Dado calculado a partir de informações dos Termos de Adesão, considerando todos os cursos da instituição. 85 bolsa integral a cada 22 alunos pagantes e bolsas parciais de 50% até que se atinja o percentual de 8,5% da receita. No que diz respeito às bolsas oferecidas pelas IES que aderem ao PROUNI, essa proporção foi alterada na pela Lei Federal nº. 11.096/2005, para atender as reivindicações das instituições privadas. Gráfico 4 - Bolsas integrais (2008-2011) Fonte: Termo de Adesão / Elaboração própria. No Projeto de Lei 3.582 de maio de 2004, as IES privadas com fins lucrativos deveriam oferecer uma bolsa integral para cada nove alunos regularmente matriculados em seus cursos de graduação, sem a opção de oferecer bolsas parciais. Após aprovação da Lei 11.096/05, as IES privadas com ou sem fins lucrativos, devem oferecer, no mínimo, uma bolsa integral a cada 10,7 estudantes pagantes regularmente matriculados ao final do período letivo anterior e, conforme Inciso IV da referida Lei, as instituições podem optar por oferecer uma bolsa integral a cada 22 estudantes em cursos efetivamente nela instalados, desde que oferte bolsas parciais de 50% e 25% na proporção necessária para que se atinja o equivalente a 8,5% da receita anual. Um cálculo matemático (regra de três) mostra que antes da alteração do texto legal, a IES, com 400 alunos pagantes no primeiro semestre de 2008 deveria oferecer 44 bolsas integrais sem a opção de oferecer bolsas parciais. A partir da alteração, a IES opta por oferecer uma bolsa integral a cada 22 alunos pagantes e 86 bolsas parciais de 50% equivalente a 8,5% da sua receita. Desta maneira, conforme demonstrado nos Gráficos 4 e 5, no primeiro semestre de 2008 a IES ofereceu 18 bolsas integrais e 651parciais. Totalizando 669 alunos do PROUNI. Gráfico 5 - Bolsas parciais – obrigatórias e adicionais (50%) (2008-2011) Fonte: Termo de Adesão / Elaboração própria. Os dados do gráfico 5 mostram que esta instituição beneficiou-se da mudança ocorrida no Projeto de Lei, aumentando o número de bolsistas do programa. Isso representa uma redução das vagas não preenchidas desta IES, contribuindo para sua expansão, bem como refletiu em um aumento de sua receita nos semestres posteriores. O cálculo das bolsas foi feito por uma regra de três simples para chegar ao total de bolsistas integrais. Para se chegar à quantidade de bolsistas parciais, verificou-se 8,5% relativamente ao valor da receita auferida no primeiro semestre de 2008. O resultado foi dividido pelo valor equivalente a 50% da mensalidade média aplicada pela instituição naquele ano. Para conhecer sua posição em relação ao programa, o mantenedor foi questionado: O PROUNI é uma política pública de sucesso? É uma política público-privada de sucesso, não apenas pública, visto que sem a adesão das IES privadas ao programa ela não existiria. Mas, sim, é uma política bem-sucedida. 87 Considerou, ele, que o PROUNI é uma política pública de sucesso, entretanto, sua resposta sugere tratar-se de uma política pública e privada, pois sem a adesão das IES privadas o programa não seria consolidado, logo, ineficaz. Esta pesquisa mostra, portanto, que as IES aderiram ao programa após ter, praticamente, todas as suas reivindicações atendidas na Lei Federal nº. 11.096/2005. Ainda em relação ao PROUNI, afirma o mantenedor: De todos os programas que conheço aqui do Brasil, é, hoje, um dos melhores. É um programa, como eu dizia, há pouco, uma espécie de cheque educação negativo. Isto existe nos Estados Unidos, Europa e Suécia. Ao invés de dar dinheiro para as instituições, dão cheque para as pessoas credenciadas e elas vão diretamente e pagam. O PROUNI é similar a isso, pois é como se fosse um cheque passado às pessoas que não têm poder aquisitivo suficiente para pagar uma faculdade e o governo não repassa o dinheiro diretamente para as faculdades, mas, por sua vez, as faculdades amortizam os impostos, portanto, é um cheque negativo onde não há dinheiro em cima da mesa, mas há dinheiro que não é pago pelas instituições, por isso é um programa interessante de todos os programas federais hoje o PROUNI é o melhor. O mantenedor entende que o PROUNI é interessante para todos e um dos melhores programas federais. Ele equipara o programa ao cheque educação 25, adotado em alguns países da Europa e nos Estados Unidos. Compreende que o PROUNI não é uma transferência direta de recursos para as faculdades, contudo, estas se beneficiam a partir da isenção de tributos. Na questão que abordou o contexto encontrado pelo mantenedor na IES e na educação quando assumiu o cargo. Ele afirmou que: [...] Em termos da educação, no Brasil, pareceu-nos estar perante um mercado muito promissor, visto o crescimento econômico exponencial do país e 25 a necessidade de formação de profissionais qualificados para Cheque Educação – é uma solução proposta pelo economista Milton Friedman em seu livro Capitalismo e Liberdade, onde propôs que o dinheiro atribuído pelo Estado às escolas passasse a ser distribuído equitativamente por todos os alunos sob a forma de um vale. O vale poderia ser usado para pagar serviços de ensino em escolas previamente certificadas públicas ou privadas. 88 acompanharem esse crescimento, embora prejudicado por um crescente intervencionismo do MEC, que quase sempre surte efeitos contrários aos teoricamente pretendidos. Esta última tendência tem sido agravada com os anos e poderá ser muito prejudicial ao crescimento de uma educação com qualidade no Brasil. Para compreender os efeitos da intervenção do MEC no crescimento e na qualidade da educação no Brasil, o mantenedor foi questionado sobre essa repercussão na IES. Há uma frase que eu costumo utilizar muito, de um economista americano chamado Milton Friedman26, que costumava dizer que a educação é um assunto muito sério que não deveria estar na mão do Estado. Há entendimento do mantenedor de que o Estado não deve interferir na educação e esta ingerência por parte do MEC com a implantação de exames de avaliação, tanto para alunos como para as instituições privadas de educação superior, não implica na melhora de sua qualidade, mas gera fraudes por parte de algumas instituições que burlam a lei. Continua, ele: [...] as instituições fraudam a lei, contornam a lei e subvertem completamente o sentido daquilo. Portanto, o que eu digo com isso? Digo uma coisa muito simples. É o que está acontecendo no Brasil, por exemplo, o que aconteceu em Portugal e acontece na maior parte dos países, cuja tradição política é uma tradição de influência francesa de tradição ‘estatista’. Se você for ver, por exemplo, o que fazem os países de influência anglo-saxônica. Tanto inglesa... Quanto os Estados Unidos da América... vão verificar qual é a consequência disso. O Estado leva a educação como um instrumento e, portanto, está permanentemente intervindo. É o que está acontecendo no Brasil, um intervencionismo que se centra no Ministério da Educação, impondo 26 Economista do século XX influente teórico do neoliberalismo e defensor do livre mercado. Em seu livro Capitalismo e Liberdade Friedman aborda questões como a relação entre liberdade econômica e liberdade política, o papel do Estado numa sociedade livre, política fiscal, educação, monopólio, distribuição de renda e bem-estar social. Na educação, ele aborda a falência da educação pública com péssima qualidade e altos custos e propõe um esquema simples e de enorme repercussão social tirar o Estado desta atividade. Segundo Friedman, o dinheiro que é mal gasto nos estabelecimentos públicos de educação deveriam ser convertidos em "vouchers" ou cheques para cada aluno, de tal forma que, com esses recursos, seria possível pagar a mensalidade de uma escola privada. 89 exigências, impondo critérios que depois, na prática, seus objetivos não são a melhoria de seus alunos, mas a corrupção. Esta resposta remete à discussão abordada no decorrer deste estudo sobre as reformas implantadas no Brasil, a partir dos anos 90, com o MARE, na qual o Estado “deixa de ser o responsável direto pelo desenvolvimento econômico e social pela via da produção de bens e serviços, para fortalecer-se na função de promotor e regulador desse desenvolvimento” (BRASIL, 1995a, p. 17). Essas ações promoveram o processo de reforma do Estado, alterando sua forma de atuação. O mantenedor entende que a educação superior deve ser orientada pela livre concorrência de mercado e a constante regulamentação do Estado, a partir de instrumentos de avaliação, permite que algumas instituições burlem os exames, como acontece com o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE), criando formas de indicar somente os melhores alunos para fazê-lo, e isto gera um ranking, no qual as instituições que normalmente contornam a lei é que são definidas como as melhores do mercado. [...] o melhor critério para as coisas avançarem é o critério do mercado, uma instituição de ensino superior que está em concorrência com outras. [..] O exame do ENADE, por exemplo, aqui no Brasil, é uma coisa escandalosa. Você teve ainda há um ano, um ano e pouco, uma Universidade Privada que condicionava o acesso dos alunos que eles entendiam que eram alunos com baixa qualidade ao último semestre para que eles não fizessem o exame do ENADE, o que eles faziam quando o aluno passava para o último semestre, eles retinham os alunos e não os inscreviam para o exame, só inscreviam excelentes alunos. De turmas com cinquenta alunos, só passavam para último semestre seis ou sete. Somente estes prestavam o ENADE. [...] qual é o objetivo do governo com o ENADE? É selecionar as instituições fazendo um ranking. E qual é conseqüência? As instituições fraudam a lei, contornam a lei e subvertem completamente o sentido. É o que está acontecendo no Brasil, cada vez mais um intervencionismo que se centra no Ministério da Educação, impondo exigências, impondo critérios que, depois, na prática, seus objetivos não são a melhoria de seus alunos, mas a corrupção. 90 Respondendo ainda a questão que se referia ao intervencionismo do MEC na educação superior, ele continua: [...] no Brasil, de uns seis anos para cá, a política do Ministério da Educação é aquela que aconteceu em Portugal, uma política cada vez mais intervencionista e exigente. Se pegarmos o exemplo do ENEM, do ENADE, você vai ver que quase todas as instituições bem conceituadas são aquelas instituições maiores que fraudam a concorrência e são grandes instituições que têm a capacidade de cumprir determinados tipos de requisitos que o Ministério da Educação impõe e, na prática, isso é uma forma de criar oligopólios, ou seja, deixar que o mercado fique na mão de seis ou sete grandes grupos. [Os grandes grupos educacionais] capitalizam os preços que passam a ser definidos em cartel e não mais pelo [livre concorrência] mercado. Basta sentar ao redor de uma mesa, seis ou sete pessoas, para definir os preços para o Brasil inteiro e o mercado tem de ir atrás disso. Há um entendimento por parte do mantenedor de que essa constante intervenção por parte do MEC contribui para a formação de oligopólios, bem como colabora para a concentração da oferta da educação superior em seis ou sete grupos de grande porte que definem os preços praticados, prejudicando o mercado educacional como um todo. Este capítulo mostrou os valores referentes ao benefício fiscal alcançado pela IES e o investimento realizado em bolsas de estudos do PROUNI, bem como a relação destas duas variáveis, identificando que a IES se beneficiou financeiramente de sua adesão ao programa, pois o ganho fiscal superou os investimentos em bolsas de estudos. Foram ainda apresentadas a quantidade de alunos ingressantes na instituição em relação aos bolsistas integrais e parciais do programa, este dado mostrou que os bolsistas integrais mantiveram a mesma proporção enquanto que os bolsistas parciais reduziram, consideravelmente, a partir de 2009. 91 CONSIDERAÇÕES FINAIS Esta pesquisa examinou o Programa Universidade para Todos (PROUNI), proposto pelo Governo de Luis Inácio Lula da Silva como um programa que favorece o acesso à educação superior privada por estudantes de baixa renda, mediante concessão de bolsas de estudos pelas Instituições de Ensino Superior (IES) privadas, as quais se isentam do pagamento de tributos federais, como o Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ), Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido (CSLL), Programa de Integração Social (PIS) e Contribuição Para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS). O Programa recebeu críticas de alguns pesquisadores por conta da renúncia fiscal direcionada ao setor privado, que se configura transferência de recursos públicos para o setor privado pelo não pagamento de tributos federais. Em contrapartida, o programa recebeu o apoio das mantenedoras do setor privado e de alunos beneficiados pelo programa. O levantamento no Banco de Dissertações e Teses da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) confirmou essa tendência e mostrou que as pesquisas desenvolvidas sobre o PROUNI estão divididas em duas principais abordagens, uma que congrega argumentos críticos e busca evidenciar o movimento de mercantilização da educação superior no Brasil e outra que discute, com base em levantamento de percepções de professores, alunos e coordenadores, eventuais contribuições do programa para o estímulo ao acesso e a democratização do ensino em nível superior. Este levantamento permitiu identificar que não existiam estudos com foco na abordagem dos resultados financeiros do PROUNI em uma instituição de educação superior privada. Assim, o que se buscou nesta pesquisa foi estudar os resultados do PROUNI em uma instituição de educação superior privada, buscando verificar financeiramente se a isenção fiscal do PROUNI superou os valores investidos em bolsas de estudo, bem como verificou se a adesão dessa instituição contribuiu de alguma forma para sua manutenção e expansão no mercado nos últimos anos. O estudo evidenciou que, desde o início da tramitação do Projeto de Lei até a 92 sanção da Lei 11.096/2005, as mantenedoras sugeriram mudanças que beneficiaram o setor privado, contando com o apoio de parlamentares para sua aprovação e, após ter a maioria de suas reivindicações atendidas na Lei Federal nº. 11.096/2005, a maioria das IES privadas aderiu ao programa. A alteração na oferta de bolsas integrais, é considerada uma importante conquista do setor privado, já que o Projeto de Lei previa a oferta de uma bolsa integral para cada nove alunos pagantes sem a opção de oferta de bolsas parciais. O Projeto original foi alterado, passando para uma bolsa integral para o equivalente a 10,7 estudantes pagantes, regularmente matriculados, ou, ainda, a opção de oferecer uma bolsa integral para cada 22 pagantes e bolsas parciais de 50% e 25% até o percentual 8,5% da receita. Esta alteração propiciou que as IES aumentassem a quantidade de beneficiados pelo programa, contribuindo para redução das vagas não preenchidas no setor. O estudo realizado demonstrou que a alteração na oferta de bolsas beneficiou a IES estudada no ano de sua adesão ao programa. Constatou-se que no primeiro semestre de 2008, a instituição aumentou o número de bolsas PROUNI de 44 bolsas integrais para 18 bolsas integrais e 651 bolsas parciais, representando 167% de alunos PROUNI com bolsas integrais e parciais em relação ao total de ingressantes naquele ano. Contudo, na IES estudada a proporção de bolsistas parciais do programa não se manteve em todo período analisado e, a partir de 2009, apresentou uma queda de 71%. Desta forma, o total de bolsistas parciais reduziu-se, consideravelmente, e, em 2011, representavam apenas 4% do total de alunos ingressantes na instituição. A mensalidade média calculada, considerando todos os cursos da instituição no período 2008-2010, era R$ 586,00, por sua vez a Lei Federal nº. 11.096/2005 prevê que as bolsas de estudos parciais devem ser direcionadas a estudantes, cuja renda per capita não exceda a três salários mínimos27, pressupondo que os bolsistas atingissem essa renda, cinqüenta por cento da mensalidade representava 21% do salário per capita no período. 27 Considerando (2008-2010) o valor médio do salário mínimo neste período foi de R$ 463,00, admitindo que o aluno tivesse uma renda per capita de três salários mínimos. Os R$ 463,00 foram multiplicados por três, resultando um valor médio da renda per capita, no período, de R$ 1.389,00. 93 O índice de 21% é considerado um percentual satisfatório de comprometimento da renda per capita para o pagamento de mensalidades, mas se considerarmos, além da mensalidade, outras despesas de custeio para se manter no curso e admitindo que os alunos terão gastos com transporte, alimentação e material didático, este percentual aumenta e pode representar mais do que 21%, vindo a comprometer a renda do aluno como um todo. Este dado indica que os alunos apresentam dificuldades em se manter no curso com bolsas parciais, tendo em conta, ainda, que esta instituição possui, como público alvo, alunos de classes populares e, portanto, com baixo poder aquisitivo. No que se refere ao ganho fiscal apesar de a quantidade de bolsistas parciais ter reduzido consideravelmente, a partir de 2009, a IES continuou se valendo do benefício da desobrigação do pagamento de impostos. Em 2009, a receita da instituição apresentou uma variação28 de 153%, auferindo lucro de R$110.562,00. O aumento da receita e do lucro, em 2009, permitiu que a IES se beneficiasse isenção de todos os tributos federais29 que incidem sobre a receita e o lucro. O não recolhimento dos tributos representou, naquele ano, a manutenção em caixa de R$ 412.061,00, em contrapartida, a IES investiu em bolsas de estudo PROUNI no ano de 2009 o valor de R$ 45.541,00, o que representou um ganho, pelo não pagamento de impostos em relação ao investimento em bolsas PROUNI, na ordem de R$ 366.520,00. Este dado demonstrou que o ganho fiscal da IES superou, em mais de 900%, o valor do investimento feito em bolsas de estudo relacionadas ao PROUNI, somente em 2009. Contudo, para demonstrar o quanto uma instituição privada beneficia-se com a dispensa de pagamento de tributos relacionados ao PROUNI, esta pesquisa propiciou o cálculo da isenção fiscal alcançada por esta IES privada com fins lucrativos no período 2008-2010. Constatou-se que a instituição deixou de recolher aos cofres públicos o montante de R$ 1.214.323,00 referente aos tributos federais no período 2008-2010. Este dado demonstrou que se a IES não tivesse aderido ao programa recolheria em impostos mais de hum milhão de reais entre 2008 e 2010. 28 Receita de 2008 (1.643.774) Δ% Receita de 2009 (4.167.863) = 153%. 29 IRPJ e CSLL incidem sobre o lucro - PIS e COFINS incidem sobre a receita. 94 Para verificar se o benefício fiscal de R$ 1.214.323,00 é superior ao valor que a instituição investiu em bolsas de estudo do PROUNI, foi apresentado o valor do investimento total realizado pela IES em bolsas de estudos do programa. O investimento referiu-se às matrículas e mensalidades que a IES deixou de receber por ter aderido ao programa em 2008, porém, disponibilizando bolsas de estudos integrais e parciais. O valor total dessas bolsas representou para IES entre 2008 e 2010 um investimento de R$ 286.462,00. Este dado evidenciou que o não pagamento de tributos superou o investimento da IES em bolsas do PROUNI, o que representou um ganho30 de R$ 927.862,00, que, em termos percentuais31 representa 424% do valor efetivamente recuperado sobre as bolsas de estudos direcionadas ao programa. Este dado demonstrou que a IES beneficiou-se financeiramente da sua adesão ao programa deixando de pagar tributos federais enquanto que, em contrapartida, seu investimento em bolsas do PROUNI foi bem inferior em relação ao ganho fiscal. Este ganho pode ser considerado como já discutido neste estudo uma realocação das verbas públicas para o setor privado. Como argumenta Mancebo (2004), existem situações em que a privatização se faz presente mesmo com a manutenção e até com o aumento do gasto público destinado ao setor. O argumento de Mancebo indica que o PROUNI não reduziu os gastos do governo só transferiu suas responsabilidades pela oferta de educação superior para as instituições privadas reduzindo a arrecadação que poderia ser utilizada para aumento da oferta de vagas no setor público. Para Carvalho (2006), o PROUNI é uma transferência indireta de recursos públicos para o setor privado. Por sua vez, na instituição estudada esta transferência indireta de recursos públicos concretiza-se da seguinte forma: o valor resultante de R$1.214.323,00, fruto do não pagamento dos impostos que deveriam incidir diretamente na receita e no lucro desta IES, não recolhidos por conta da isenção propiciada pelo PROUNI, resulta ao final do exercício contábil32 em aumento real da 30 Isenção Fiscal de R$ 1.214.323,00 927.862,00. 31 1.214.323,00 dividido por 286.462,00 vezes 100 = 424%. 32 Ano fiscal ou exercício contábil é o período de tempo escolhido para se fazer a demonstração menos Bolsas de Estudos PROUNI R$ 286.461,00 = 95 receita e do lucro dessa instituição, materializando a transferência indireta de recursos públicos para iniciativa privada. Verificou-se, na entrevista, que o mantenedor é favorável ao programa por considerá-lo uma das mais importantes medidas do governo federal, avaliando positivamente a adesão da IES ao PROUNI, destacando que os principais resultados positivos dessa adesão foram o ganho fiscal para a instituição e o aumento na quantidade de alunos. Os resultados desta pesquisa demonstraram que o ganho fiscal alcançado por esta IES após sua adesão ao programa contribuiu financeiramente para sua estabilização. Pode-se, pois, inferir que o aumento da receita e do lucro pela desobrigação do recolhimento de tributos federais contribui para manutenção e uma possível expansão da instituição, considerando que esta atua há pouco tempo no mercado, tendo iniciado suas atividades no ano de 2007, portanto, trata-se uma empresa educacional de pequeno porte, que possui como público alvo alunos de classes populares com baixo poder aquisitivo. Além disso, ao aderir ao programa, a IES teve seu nome divulgado no site do MEC / PROUNI, o que contribuiu para a divulgação da instituição no mercado e o possível aumento na procura de seus serviços. Os dados levantados nesse estudo evidenciam, ainda, que o PROUNI consolida-se na sua dimensão privada ao promover a transferência de recursos públicos para a iniciativa privada na forma de isenções tributárias e proporciona ganhos financeiros para este setor, contribuindo para sua expansão. Finalizando, convém registrar que não há, aqui, qualquer interesse em esgotar este assunto, salientando a necessidade da realização de novas pesquisas, buscando aprofundamento e melhor avaliação dos efeitos financeiros nas Instituições Privadas de Educação Superior em função da adesão ao PROUNI, sendo considerada uma ação estratégica, inclusive, traçar estudos comparativos, valendo-se de dados e resultados de outras instituições. Ainda, sugere-se que os efeitos não sejam analisados somente em relação ao investimento em bolsas de de resultados de uma instituição. 96 estudos direcionadas ao programa, mas, também, com relação a outros custos de manutenção das instalações da instituição e com a folha de pagamento de funcionários. 97 REFERÊNCIAS ABMES - Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior. Programa Universidade para Todos (PROUNI). Cadernos 10 e 13. Brasília/DF ABMES, 2004. ALBUQUERQUE, Leyvijane Souza. Políticas públicas de educação superior no Governo Lula e impactos na Universidade Federal do Amazonas: enfoque na expansão dos novos campi. Tese (Doutorado em Educação) - Universidade Federal do Amazonas, Manaus, 2007. ALMEIDA, Sergio Campos. O avanço da privatização na educação superior brasileira: O PROUNI como uma nova estratégia para a transferência de recursos públicos para o setor privado. 123f. Dissertação (Mestrado em Educação) Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2006. 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APÊNDICES 108 APÊNDICE “A” Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Comitê de Ética em Pesquisa Termo de Consentimento Livre e Esclarecido O Sr.(a) _____________________________________________________________ RG n.o _____________________________, nascido em _______/______/______, do sexo ___________________, residente em(a) ___________________________ ___________________________________________________________________ na cidade de _________________________, está sendo convidado a participar da pesquisa “EFEITOS FINANCEIROS DO PROGRAMA UNIVERSIDADE PARA TODOS (PROUNI) EM UMA INSTITUIÇÃO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR PRIVADA”, cujo objetivo é analisar os impactos econômicos e as implicações no projeto pedagógico de uma Instituição de Educação Superior Privada que aderiu ao PROUNI. Não há riscos envolvidos nesta pesquisa. Qualquer dúvida ou esclarecimento poderá ser dado pela pesquisadora responsável, Profª. Drª. Celia Maria Haas, que pode ser encontrada na Rua Cesário Galeno, 448 /475 - Tatuapé pelo telefone (11) 2178 - 1294 ou pelo e-mail: [email protected]. Os participantes têm a garantia de sigilo de todas as informações coletadas e podem retirar seu consentimento a qualquer momento, sem nenhum prejuízo ou perda de benefício. Declaro ter sido informado e estar devidamente esclarecido sobre os objetivos deste estudo, sobre as técnicas e procedimentos a que estarei sendo submetido e sobre os riscos e desconfortos que poderão ocorrer. Recebi garantias de total sigilo e de 109 obter novos esclarecimentos sempre que desejar. Assim, concordo em participar voluntariamente deste estudo e sei que posso retirar meu consentimento a qualquer momento, sem nenhum prejuízo ou perda de qualquer benefício (caso o sujeito de pesquisa esteja matriculado na Instituição onde a pesquisa está sendo realizada). Data: 27/03/2013. ________________________________________________ Assinatura do sujeito da pesquisa ou representante legal ________________________________________________ Pesquisador responsável / orientador Eu, Celia Maria Haas, responsável pela pesquisa, “EFEITOS FINANCEIROS DO PROGRAMA UNIVERSIDADE PARA TODOS (PROUNI) EM UMA INSTITUIÇÃO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR PRIVADA”, declaro que obtive espontaneamente o consentimento deste sujeito de pesquisa para realizar este estudo. Data: 27/03/2013 ________________________________________________ Assinatura do Pesquisador Responsável 110 APÊNDICE “B” Questionário aplicado junto ao mantenedor da instituição 1) Quando o senhor se interessou pela educação e como chegou a ser mantenedor? 2) Qual foi o contexto que o senhor encontrou nesta IES e na educação quando assumiu este cargo? 3) O senhor acredita que o PROUNI é uma política pública de sucesso? 4) Quais os motivos que levaram a instituição a aderir ao PROUNI? 5) Quais os benefícios que o senhor identifica para esta IES após a adesão ao PROUNI? 6) Quais foram os aspectos positivos e negativos da adesão desta IES ao PROUNI? 7) Do seu ponto de vista, qual a importância das IES privadas para o PROUNI? 8) Em sua visão o PROUNI beneficiou de alguma forma a expansão desta IES? 9) O senhor acredita que a adesão desta instituição ao PROUNI ocasionou algum impacto financeiro, isto é, o programa contribuiu para a expansão financeira desta instituição? 10) Examinando/analisando os termos de adesão ao PROUNI,verifiquei que a instituição oferece desconto de, em média, 20% a 25% em todos os cursos de graduação, exceto para o curso de Gastronomia, cujo desconto é inferior, ou seja, está na faixa de 5%. Por que somente este curso tem desconto diferente dos demais? 11) No que diz respeito às bolsas oferecidas, de acordo com a legislação e a análise dos termos, a instituição optou por oferecer uma bolsa integral para cada 22 alunos pagantes, mais bolsas de 50% até atingir percentual de 8,5% da receita anual. Verifiquei que a receita teve um aumento considerável no período de 2008/2011. Por que, então, a quantidade de bolsas parciais obrigatórias de 50% tem apresentado uma queda ao longo do período analisado? O que o senhor poderia me dizer em relação a isso? 111 APÊNDICE “C” Levantamento das Pesquisas sobre financiamento no Banco de Dados da CAPES: FIES, REUNI e PROUNI Para ter uma visão das abordagens das pesquisas que tratam do financiamento da educação superior no Brasil, nos últimos anos, que envolvem o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI), Programa de Financiamento Estudantil (FIES) e, em especial, o Programa Universidade Para Todos (PROUNI), houve-se por bem proceder a um levantamento de dissertações e teses que tratam dessa questão junto ao banco de dados da fundação CAPES, relativamente ao período 2006-2011. Quadro 3 - Pesquisas sobre FIES de acordo com a instituição, autor, nível, ano de publicação (2006-2011) Nº Título Instituição 1 Políticas públicas de acesso à educação superior, beneficiários, objetivos e resultados, em Vitória da Conquista Pontifícia Universidade Católica de São Paulo 2 Políticas públicas de acesso à educação superior no Brasil Autor Publicação Nível Abmael da Cruz Farias 2010 Mestrado Pontifícia Universidade Católica do Paraná Milena Maria Corcini Almagro 2007 Mestrado 3 A expansão do ensino superior no Brasil e a participação do financiamento estatal (1995-2004) Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Jacqueline de Oliveira Lameza 2006 Mestrado 4 O Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (FIES): O desempenho do programa federal no atendimento à demanda pelo ensino superior Universidade São Marcos Maria Hidalgo Sanches 2006 Mestrado Fonte: CAPES / Elaboração própria. A partir das palavras-chave “FIES”, “acesso” e “educação superior”, procedeuse o levantamento no site da CAPES sobre o FIES, resultando no encontro quatro dissertações que abordam o tema, conforme Quadro 1, acima, onde se verificou: 112 a) Lameza (2006) - observa que os resultados de sua pesquisa indicam um crescimento significativo do ensino superior privado, sendo as políticas públicas educacionais indutoras importantes desse processo e o financiamento ao estudante; que amplia as oportunidades de acesso e permanência nesse nível educacional; b) Sanchez (2006) - indica como resultado de seu trabalho que o FIES apresenta caráter elitista, legitimando novas formas de discriminação e exclusão; e c) Almagro (2007) - diz que as políticas públicas educacionais não asseguram o direito ao acesso à educação superior, uma vez que o problema do acesso não será solucionado de forma rápida e simplista, por possuir outros fatores que influenciam as políticas públicas, como os problemas econômicos e sociais enfrentados pelo país, entre outros. O levantamento sobre o REUNI, no site da Capes referente ao período 20072011, valendo-se das palavras-chave “REUNI”, “acesso” e “educação superior”, trouxe nove pesquisas sobre o tema, conforme o Quadro 4, a seguir, dentre as quais, uma de doutorado e nove de mestrado. Quadro 4 - Pesquisas sobre REUNI, de acordo com a instituição, autor, ano de publicação (2007 - 2011) Nº Título Instituição 1 Expansão da educação superior: uma análise do programa de apoio a planos de reestruturação e expansão das universidades federais (REUNI) na Universidade Federal de Pernambuco Universidade Federal de Pernambuco 2 Planos de reestruturação e expansão das universidades federais: o REUNI em Mato Grosso do Sul Autor Publicação Nível Ana Lúcia Borba de Arruda 2011 Doutorado Universidade Federal da Grande Dourados Ana Maria da Silva 2011 Mestrado 3 Democratizando o acesso à educação superior: o caso da UFSCAR - campus Sorocaba Universidade de Sorocaba Elenita Ferreira Meira Camargo 2011 Mestrado 4 Socialização organizacional em uma IFES mineira em tempos de REUNI Universidade Federal de Lavras Diego Cesar Terra de Andrade 2011 Mestrado 113 5 Financiamento público e expansão da educação superior no Brasil Universidade Federal de Santa Catarina Danilo de Melo Costa 2010 Mestrado 6 Análise do REUNI: uma nova expressão da contra-reforma [sic] universitária brasileira Universidade do Estado do Rio de Janeiro Juliana Fiuza Cislaghi 2010 Mestrado 7 Ampliação do acesso ao ensino superior no Governo Lula: tenuidade entre democratização e a privatização Universidade Federal Fluminense Bruno Lima Patrício dos Santos 2010 Mestrado 8 Da educação superior no Brasil: o REUNI como estratégia do Governo Lula e da burguesia brasileira para subordinar a universidade federal à lógica do atual estágio Universidade Federal Fluminense Cristina Maria de Paula 2009 Mestrado 9 Democratização do acesso e políticas afirmativas na educação superior Universidade de Sorocaba Ana Maria dos Reis 2008 Mestrado 10 A implantação do Reuni na Universidade Federal do Pará: Um estudo de Caso do Campus Universitário de Altamira Universidade Federal do Pará Rhoberta Santana de Araújo 2011 Mestrado Fonte: Capes (2012) /Elaboração própria. Das dissertações encontradas, seis consistem em resultados interessantes para esta pesquisa, dentre as quais, Santos (2010), Paula (2009) e Camargo (2011) apontam que o REUNI não é uma política de democratização da educação superior e ainda aprofunda seu grau de privatização alinhando-se com os organismos internacionais em torno de um modelo flexível de educação superior. Outros, como Costa (2010), Silva (2011) e Araújo (2011), mostram resultados que apontam o REUNI como uma medida política que assegura acesso ao nível superior a partir da sua expansão por meio do financiamento público com qualidade, atendendo a demanda crescente por educação superior pública e gratuita. Abaixo seguem os principais resultados destas pesquisas. a) Santos (2010) constatou que o governo federal falhou diante dos compromissos assumidos para com a política de democratização da educação superior, além de aprofundar o nível de privatização, tanto pelos benefícios concedidos às instituições privadas de educação superior quanto na privatização interna das universidades públicas; b) Paula (2009) diz que, com o processo de reforma da educação superior do Governo Lula, as frações da burguesia brasileira presentes no cenário da 114 reforma alinham-se com os organismos internacionais em torno de um modelo flexível de educação superior, sendo que os principais interesses convergentes materializam-se no REUNI. O trabalho indica, ainda, que essa política pública tem como principal origem o Projeto Universidade Nova; c) Camargo (2011) apresenta estudo que indica avanços na democratização, e, também, demonstra que há muito a ser feito e merece novos acompanhamentos e novos estudos; d) Araújo (2011) indica que, a despeito da adesão maciça das universidades federais ao REUNI, o conjunto de indicadores pactuados no Programa, notadamente de caráter quantitativo, não vêm sendo plenamente alcançados. Na Universidade Federal do Pará, apesar da constituição de um amplo arcabouço normativo destinado a dar materialidade às ações e metas do Programa e efetividade aos indicadores, como diplomação e ampliação da oferta no ensino de graduação, até o momento, os resultados estão aquém das metas pactuadas junto ao MEC. Além disso, observamse importantes alterações na dinâmica da gestão da instituição universitária, cujos processos administrativos têm sido revestidos de racionalidade, flexibilidade e eficiência, em suma, tornaram-se gestão orientada por resultados. A pesquisa evidenciou, ainda, que o marco da atual conformação atribuída às universidades públicas está na ressignificação dos conceitos de público e privado e na progressiva diminuição da autonomia universitária, apontando, também, uma forma de expansão sem os correspondentes aportes financeiros e sem a garantia dos padrões de excelência acadêmica, historicamente atribuídos às universidades públicas; e) Costa (2010) aponta um novo fenômeno nacional, pois o Brasil está vivenciando um momento único no que se refere à expansão da educação superior por meio do financiamento público, sobretudo em relação às universidades públicas federais, que estão recebendo os recursos provenientes do financiamento público e, nas universidades estudadas, Universidade Federal da Fronteira Sul e Universidade Federal de Santa Catarina, este fenômeno confirmou-se, sendo responsável não só pela 115 expansão como pela reestruturação física e acadêmica das universidades. Os gestores de ambas as instituições reconheceram a importância e a grandeza de tais investimentos, fatores que têm contribuído para o desenvolvimento não só das universidades como de todo o país; e f) Silva (2011) mostra como resultado que o REUNI, em Mato Grosso do Sul, é considerado, nos Planos Institucionais, uma alternativa para viabilizar expansão com qualidade da educação superior para a demanda crescente por ensino público e gratuito no Brasil. O levantamento de dados no site da Capes sobre o PROUNI, também objeto desta pesquisa, levou em consideração as palavras-chave: “acesso à educação superior”, “financiamento”, “público”, “privado” e “neoliberalismo”, no período 20062011, obtendo-se como resultado oito teses de doutorado, conforme Quadro 5, a seguir. Do total de oito teses encontradas, seis delas apresentam os principais resultados obtidos. Quadro 5 - Pesquisas sobre PROUNI, de acordo com a instituição, autor, ano de publicação (2006-2011) - parte 1 Nº Título Instituição Autor Publicação Nível 1 Financiamento público estudantil do ensino superior: uma análise comparativa entre os casos do Brasil e Portugal Universidade Federal de Goiás Ana Maria Gonçalves de Souza 2008 Doutorado 2 O Programa Universidade para Todos (PROUNI) e a pseudodemocratização na contrarreforma da Educação Superior no Brasil Universidade Federal do Ceará Antonia Rozimar Machado e Rocha 2009 Doutorado 3 A relação entre o público e o privado na educação superior no Brasil e o Programa Universidade para Todos: acertos, ambiguidades e contradições Universidade Federal de Pernambuco Alcivam Paulo de Oliveira 2007 Doutorado 4 Programa Universidade para Todos: aspectos da cidadania fragmentada Universidade Metodista de Piracicaba Célia Regina Gonçalves Marinelli 2010 Doutorado 5 O Programa Universidade para Todos e a inserção de negros na educação e a experiência de duas instituições de educação superior de Mato Grosso do Sul Universidade Federal de São Carlos Eugênia Portela de Siqueira Mendes 2010 Doutorado 6 Na trilha do PROUNI: implantação, Pontifícia Lizabet Pradi 2010 Doutorado 116 acompanhamento e perspectivas em uma instituição de ensino superior de Santa Catarina universidade Católica de São Paulo Krames 7 Qualidade de educação superior e o PROUNI: limites e possibilidades de uma política de inclusão Universidade do Vale do Rio dos Sinos Marinalva Linda Moog Pinto 2010 Doutorado 8 Hegemonia, ajuste neoliberal e ensino superior no Brasil Universidade Federal da Paraíba / João Pessoa Maria Helena Ribeiro Maciel 2010 Doutorado Fonte: Capes (2012) /Elaboração própria. Nesta etapa, pôde-se constatar o que segue: a) Souza (2008) concluiu em sua pesquisa que as políticas de financiamento público estudantil no Brasil e em Portugal ainda não alcançaram o objetivo de possibilitar acesso universal dos estudantes economicamente carentes à educação superior; b) Marques (2010) trouxe como resultados o fato de que os problemas relativos às desigualdades raciais e ao acesso dos jovens negros à educação superior no Brasil certamente não serão solucionados por intermédio do PROUNI e pelas políticas focalizadas, entretanto, poderão, contudo, ser gradativamente extintos, na medida em que as políticas de caráter universalista forem capazes de garantir a todos os brasileiros o direito à cidadania e uma vida digna, independente da cor de sua pele; c) Krames (2010) observa que as políticas públicas e as ações do Estado voltadas à inclusão e ao bem-estar social podem, efetivamente, alcançar os resultados que potencialmente objetivam, desde que haja envolvimento coletivo das IES que aderirem ao PROUNII, assim, no que concerne ao aluno PROUNI da IES pesquisada, a autora destaca que o acesso é considerado uma oportunidade única para a mudança de vida e, apesar das dificuldades encontradas, a inclusão é tida como um direito. Neste sentido, o compromisso social das IES que aderem ao Programa precisa ser traduzido em ações concretas de acolhimento, orientação e acompanhamento aos alunos bolsistas; d) Pinto (2010) mostra que os dados empíricos foram organizados em seis categorias, expressas como: - Democratização e ampliação do acesso na educação superior; 117 - Permanência dos estudantes na universidade; - Ascensão na escala social, tendo em vista a condição familiar do estudante; - Sucesso no percurso acadêmico; - Qualificação do estudante no espaço laboral; e - Consolidação de valores democráticos de equidade e solidariedade. Com os dados obtidos através da empiria, foi possível fazer algumas inferências. A mais ampla e geral informa que a presença dos alunos bolsistas do PROUNI não impacta negativamente a qualidade da educação superior, na opinião dos professores, gestores e dos próprios estudantes participantes da pesquisa. Possíveis razões apontadas para tal resultado dizem respeito à condição de ingresso dos alunos, pautada pelo mérito obtido no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Este estaria garantindo um critério meritocrático que se alia aos demais, relativos ao percurso estudantil prévio em escola pública e à renda familiar. Há, inclusive, indícios de rendimento positivo dos estudantes, justificado pela maior motivação e interesse desses alunos que, assim, estariam valorizando a oportunidade que o Programa lhes proporcionou. Entretanto, os dados quantitativos evidenciam uma significativa evasão. Esse dado está estimulando a necessidade de repensar as políticas governamentais e institucionais, no sentido de prever maior apoio aos bolsistas durante o percurso de formação e aprofundar as causas da evasão. Ainda assim, os dados reforçam a importância das políticas de ação afirmativa, com o intuito de minorar as diferenças de oportunidades educacionais que se evidenciam em sociedades desiguais, como é o caso do Brasil; e) Rocha (2009) conclui sua pesquisa apresentando resultados que indicam que a contrarreforma do Estado é necessária para a implantação do novo modelo de educação superior e o PROUNI, neste contexto, é uma medida pseudodemocratizante que visa favorecer a iniciativa privada e reduzir as possibilidades da classe trabalhadora a uma concepção ampliada de educação superior, baseada no tripé ensino, pesquisa e extensão; e f) Oliveira (2007) em suas argumentações salienta que o programa traduz 118 tanto conquistas sociais, enfatizando sua dimensão pública, quanto ganhos para o mercado, enfatizando sua dimensão privada. No que diz respeito aos interesses sociais e, portanto, sua manifestação sobre o ‘público’, este aparece em alguns aspectos do programa, tais como transparência de procedimentos e critérios eletrônicos, que são pré-estabelecidos e envolvem aspectos meritórios e de necessidade social, bem como destaca o fato de a quase totalidade de bolsistas terem origem na rede estatal e a duplicação de negros e pardos na educação superior. No que se refere à sua dimensão ‘privada’ o PROUNI trouxe benefícios para as IES com fins lucrativos a partir da isenção fiscal promovendo a expansão do setor. O Levantamento no Banco de Teses e Dissertações da Capes ainda resultou em onze dissertações de mestrado, considerando as mesmas palavras-chave e o mesmo período, 2006-2011, cujas dissertações estão apresentadas no Quadro 6. Quadro 6 -Pesquisas sobre PROUNI, de acordo com a instituição, autor, ano de publicação (2006 - 2011) - parte 2 Nº Título Instituição Autor Publicação Nível 2010 Mestrado 1 Políticas públicas de acesso à educação superior, beneficiários, objetivos e resultados, em Vitória da Conquista: FIES e PROUNI Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Abmael da Cruz Farias 2 Ampliação do acesso ao ensino superior no Governo Lula: tenuidade entre a democratização e a privatização Universidade Federal Fluminense Bruno Lima Patrício dos Santos 3 A percepção de gestores de instituições de ensino superior privadas da cidade de São Paulo em relação à adesão ao PROUNI Centro Universitário FECAP Ciências Contábeis Carlos Maciel Stieg 2009 4 Programa universidade para Todos (PROUNI): acesso ao ensino superior e qualificação. Para quê? Universidade Tuiuti do Paraná Cleverson Molinari Mello 2007 5 A finalidade extrafiscal da norma tributária como mecanismo de implementação de políticas públicas: análise da casuística do Programa Universidade para Todos (PROUNI) Centro Universitário Brasília Daniel Cavalcante Silva 6 A expansão dos cursos de graduação em Enfermagem no Brasil no período de 1991-2005 Universidade Católica de Petrópolis Elizabete Aparecida de Souza Marques da Mestrado 2010 Mestrado Mestrado Mestrado 2007 Mestrado 2007 119 Silva Benitez 7 Políticas públicas de acessibilidade no ensino superior particular no Triângulo Mineiro Universidade São Marcos Fernando Cesar Marra e Silvas Mestrado 8 Os alunos do PROUNI e as políticas sociais: o caso do município de Campos dos Goytacazes Universidade Estadual do Norte Fluminense Josete Pereira Peres Soares 2009 9 O processo de criação do Programa Universidade para Todos (PROUNI) Universidade Federal do Rio Grande do Norte Lenin Cavalcante Brito Guerra 2009 10 Políticas públicas de educação superior no Governo Lula e impactos na Universidade Federal do Amazonas: enfoque na expansão dos novos campi Universidade Federal do Amazonas Leyvijane Souza Albuquerque 11 A reforma (neoliberal) da universidade no Brasil: um discurso (re)velador Universidade Federal de Alagoas Alexandre Fleming Vasques Bastos 2006 Mestrado Mestrado Mestrado 2007 Mestrado 2007 Fonte: Capes (2012) / Elaboração própria. Seguem, pois, as observações relativas ao Quadro 6: a) Santos (2010) mostra os resultados que apontam falha do Governo Federal diante dos compromissos assumidos no tocante à política de democratização da educação superior, além de elevar o nível de privatização, tanto pelos benefícios concedidos às instituições privadas de educação superior quanto na privatização interna das universidades públicas; b) Stieg (2009), em seu estudo, verificou que a percepção dos reitores sobre o PROUNI tem um caráter mais amplo, mais filosófico, enquanto a percepção dos pró-reitores administrativos está mais voltada a aspectos financeiros, e a percepção dos controllers está relacionada com o aspecto operacional, isto é, coma forma de operacionalizar seu funcionamento. Diante de tais fatos, os resultados da pesquisa apontam no sentido de que a percepção dos gestores pesquisados é fragmentada quanto à adesão ao PROUNI, em que cada um buscou conhecer os aspectos relacionados à sua área de atuação e não ao todo; c) Silva (2006) apresentou como resultados indicadores de que as principais tendências das políticas públicas de inclusão social, assim como as 120 iniciativas de acessibilidade implementadas pelo PROUNI não serão capazes de resolver os desafios da inclusão social na educação superior, considerando os aspectos da qualidade da educação que se está proporcionando. Quanto às Instituições de Ensino Superior, a adoção de estratégias de gestão que viabilizem o crescimento pela criatividade com qualidade e preço é o caminho visualizado; d) Soares (2009) destacou em sua pesquisa que, apesar de o Programa ser insuficiente para ampliar o número de acesso de estudantes de baixa renda à educação superior, os alunos bolsistas mostram-se satisfeitos, por estudarem em universidades de qualidade e sem custo, embora a oferta de vagas ainda seja pequena em relação à demanda. Muitos alunos disseram que, caso não tivessem conseguido a bolsa do PROUNI, continuariam tentando entrar em uma universidade pública, de onde se depreende que, caso eles tivessem conseguido passar em um vestibular para instituição pública, o PROUNI não seria a primeira opção para eles; e) Albuquerque (2007) observa que os impactos das políticas do Governo Lula apontam, principalmente, para a expansão da educação superior, não somente com a criação de novas universidades públicas e de vários campi pelo Brasil, como os cinco da Universidade Federal do Amazonas, com 30 cursos, mas também pela ampliação de vagas públicas não estatais nas instituições privadas, verificada através do Programa Universidade para Todos (PROUNI). Os dados indicam que ao mesmo tempo em que o governo atual reestrutura a política da oferta e expansão desse nível de ensino, intensificam-se as continuidades das políticas neoliberais de subordinação aos interesses internacionais e a não ruptura do jogo de interesses dos dominadores sobre os dominados; f) Oliveira (2012) estudou o PROUNI buscando analisar a percepção dos estudantes de uma IES privada da cidade de São Paulo, procurando verificar se as dificuldades financeiras e pessoais desses alunos provocam insatisfação com o programa. Os resultados da pesquisa indicam que o PROUNI não resolve, em sua totalidade, o problema da inclusão de jovens na educação superior, mas o programa contribui para a mudança de cenário da educação superior no Brasil; e 121 g) Borges (2012) comenta em seu estudo que o PROUNI não se mostra viável à instituição de educação superior voltada para atendimento das classes “A” e “B”. As bolsas integrais do programa são oferecidas em seus limites mínimos em todas as unidades do grupo educacional e as bolsas de 50% são oferecidas somente nas unidades de São Paulo e São José dos Campos, com o direcionamento dos alunos PROUNI para os cursos de menor demanda. Para este grupo educacional o FIES foi adotado como programa de financiamento mais adequado à gestão dessa instituição, pois garante o recebimento de 100% do valor das mensalidades e não é preciso reduzir o valor da mensalidade média. 122 APÊNDICE “D” Referências das pesquisas realizadas sobre os programas de financiamento na (CAPES): FIES; REUNI; e PROUNI ALBUQUERQUE, Leyviane Souza. Política públicas de educação superior no Governo Lula e impactos na Universidade Federal do Amazonas: enfoque na expansão dos campi. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Federal do Amazonas, Manaus, 2007. Disponível em: <http://www.capesdw.capes.gov.br/capesdw/Pesquisa>. Acesso em: 15 ago. 2012. 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A percepção dos gestores de instituições de ensino superior privadas da cidade de São Paulo em relação à adesão ao PROUNI. Dissertação (Mestrado em Contabilidade) - Centro Universitário Fecap - Ciências Contábeis,São Paulo, 2009. Disponível em: <http://www.capesdw.capes.gov.br/capesdw/Pesquisa>. Acesso em: 15 ago. 2012 ANEXOS 127 ANEXO “A” Respostas do Mantenedor Antes da Entrevista Pessoal Quando o senhor se interessou pela educação e como chegou a ser mantenedor? Praticamente desde o final de meu curso de graduação em Direito, por ter sido imediatamente convidado para o cargo de professor-assistente-estagiário (começo da carreira acadêmica antigamente em Portugal) e para o exercício de funções de administração numa Universidade Privada. A partir daí, toda a minha vida profissional girou em torno da educação. A vinda para o Brasil foi um passo na internacionalização do grupo educacional, onde atualmente trabalho - o Grupo - procura outros mercados, para além de Portugal, onde se fale a língua portuguesa. Qual foi o contexto que o senhor encontrou nesta IES e na educação quando assumiu este cargo? Esta IES não tinha ainda existência material, em 2007, quando a compramos. Tinha obtido seus primeiros alvarás de funcionamento, mas não estava ainda funcionando. Em termos da educação no Brasil, que é - penso - o sentido da segunda parte da questão, pareceu-nos estar perante um mercado muito promissor, visto o crescimento econômico exponencial do país e a necessidade de formação de profissionais qualificados para acompanharem esse crescimento, embora prejudicado por um crescente intervencionismo do MEC, que, quase sempre, surte efeitos contrários aos teoricamente pretendidos. Esta última tendência tem sido agravada com os anos, e poderá ser muito prejudicial ao crescimento de uma educação com qualidade no Brasil. O senhor acredita que o PROUNI é uma política pública de sucesso? É uma política público-privada de sucesso, e não apenas pública, visto que sem a adesão das IES privadas o programa ela não existiria. Mas, sim, é uma política bem-sucedida. 128 Quais os motivos que levaram a instituição a aderir ao PROUNI? Ter mais alunos e conseguir benefícios fiscais. Quais os benefícios que o senhor identifica para esta IES após a adesão ao PROUNI? Os referidos na resposta à pergunta anterior, e a abertura da Faculdade a pessoas que, em razão de suas dificuldades de vida, valorizam muito mais o produto que lhes oferecemos, do que, por vezes, um aluno regular. Quais foram os aspectos positivos e negativos da adesão desta IES ao PROUNI? Na generalidade, os resultados têm sido positivos. Francamente, não vislumbro, pelo menos por enquanto, qualquer aspecto menos interessante na nossa adesão ao programa. Do seu ponto de vista qual a importância das IES privadas para o PROUNI? Sem elas o PROUNI não existiria, já que, na prática, todo o ensino público federal e estadual - brasileiro é um gigantesco PROUNI. O ensino superior privado dá, assim, um enorme contributo ao desenvolvimento da educação brasileira e ao desenvolvimento do próprio país. Em sua visão o PROUNI beneficiou de alguma forma a expansão desta IES? De agosto de 2007, quando iniciamos nossas atividades, até hoje, já recebemos centenas de alunos PROUNI. Numa região pobre como aquela em que estamos inseridos, isso é, certamente, um benefício enorme para a comunidade e nossa região. 129 ANEXO “B” Transcrição da entrevista pessoal realizada em 27/03/2013 Pesquisadora (P) Mantenedor (M) P: Bom Dia! O senhor concorda com esta entrevista? M: Sim, pode fazer a vontade. P: Estou perguntando isso, pois preciso deixar gravado. M: Sem problemas, pode ficar tranquila. P: Eu verifiquei que o senhor já chegou a responder as questões por escrito que acabei de receber pela Gislaine. Eu incluí mais duas questões após ter enviado o documento para ela. Eu fiquei com uma dúvida. O senhor disse, na Questão 5 - em sua visão o PROUNI beneficiou de alguma forma a expansão desta IES? - E o senhor respondeu por escrito que a instituição iniciou suas atividades em 2007; que recebeu vários alunos do PROUNI; e que a instituição está em uma região que está inserindo ainda uma população de baixa renda. O senhor disse que recebeu centenas de alunos, mas no que diz respeito à parte econômica e financeira da instituição, o senhor diria que, de alguma forma, o PROUNI beneficiou a expansão financeira desta faculdade? M: Como assim? P: Se de alguma forma a vinda de mais alunos pelo PROUNI contribuiu para a expansão econômica e financeira da instituição? M: Ok, já respondi isto. Teve dois impactos importantes. Teve um impacto de ter mais alunos, os alunos do PROUNI que recebem bolsa de 50% e que 130 pagam os outros 50%. Depois, tem o impacto positivo na redução fiscal e tributária. P: E o senhor acredita que, de alguma forma, isto contribuiu para o crescimento e a expansão da faculdade? M: Contribuiu para uma estabilização financeira da instituição, porque quando a instituição é nova, como no caso desta, tem vantagem em poder amortizar impostos que pagaria e que, de outra forma, não viria para cá e em uma região destas com uma instituição em crescimento, uma instituição ainda pequena. Acaba por ser conveniente nesta fase inicial de instalação da instituição. Agora, se você pergunta se do PROUNI vieram diretamente recursos financeiros, é lógico que não, pois você sabe que nem é a lógica do programa. P: Sim eu sei não é essa a lógica. M: Não sei se você conhece o cheque educação? P: já ouvi falar, mas não conheço muito bem. M: É uma técnica que foi desenvolvida para alunos norte-americanos, que se utilizam em alguns países e que consiste em o Estado, ao invés de subsidiar, financiar as escolas públicas, oferecer aos alunos credenciados um cheque com um valor determinado que o aluno pode utilizar em qualquer instituição de ensino, seja público ou privado. Eu chamo isso de cheque negativo, pois o Estado não dá dinheiro. Simplesmente deixa de receber alguns impostos, mas não tem que tirar dinheiro dos cofres para por em cima da mesa e dar às instituições. A princípio é mais ou menos isto que eu estou dizendo. Em termos financeiros, não alavancou o crescimento da instituição. P: Então o senhor acha que não alavancou o crescimento da instituição? M: Não é uma fonte de recursos. É uma forma de você não pagar determinados impostos, mas desse ponto de vista, com certeza, se traduz no líquido que impacta no resultado final. 131 P: Ok, obrigada. P: Após ter enviado o questionário para sua secretária eu incluí duas questões. A coordenadora do PROUNI, aqui na instituição, forneceume os Termos de Adesão que vocês enviam semestralmente via SISPROUNI. Enfim, analisando estes termos eu verifiquei que vocês oferecem e, aí eu acho que não tem nada a ver com o PROUNI, um desconto nas mensalidades de todos os cursos de graduação. Este desconto, eu estive verificando que em todos os cursos da graduação, é normalmente de 20% a 25%. M: Sim, é isto mesmo. P: O único curso que não tem o mesmo percentual de desconto é o de Gastronomia. Então, eu verifiquei que o curso de Gastronomia é um dos mais caros e ele tem um desconto de 5%, em média. M: Tem um desconto, sim. Tem... Tem mais que 5%, depois nós damos em termos reais um desconto semelhante aos outros cursos. P: Está certo. Então, primeiramente, o senhor dá um desconto menor e, depois, não entendi. M: No momento da candidatura, o aluno costuma requerer um desconto maior, e o curso é mais caro por definição porque este curso utiliza muitos consumíveis, você não dá uma aula de Gastronomia sem utilizar consumíveis. E consumíveis caros, por um lado. Por outro lado, é um curso mais breve. É um curso de dois anos e pode ser um investimento maior para os alunos, mas é um investimento maior em menos tempo e por outro lado é um curso que é caro. P: Isto ocorre por que esse curso exige uma infraestrutura maior dentro da Faculdade? M: Tem uma infraestrutura maior, tem um laboratório, uma cozinha, tem tudo isso, mas também tem de ter turmas pequenas. Você não pode por numa cozinha uma turma com 40 alunos e também os alunos, a cada aula, consomem bens alimentares, como vinho, azeite, manteiga, carnes, frutas . 132 P: Mas, então, na realidade, o desconto acaba sendo maior do que 5%? M: Sim, o desconto acaba por ser maior do que 5%. Acaba por ser parecido com os dos outros cursos. Agora, o preço absoluto é maior do que os outros. P: Mais uma dúvida.... Eu constatei nos Termos de Adesão que a instituição optou por oferecer uma bolsa integral a cada 22 alunos pagantes e mais bolsas de 50% até atingir 8,5% da receita anual, de acordo com a legislação do PROUNI. Eu fiz um levantamento nos termos de adesão e verifiquei que a receita tem crescido nos últimos anos, de 2008 a 2011. Entretanto, eu vi que essas bolsas obrigatórias de 50%, no início desse período, começam numa trajetória ascendente e depois a partir de 2009 elas caem e se mantém estáveis e a receita, entretanto, no mesmo período estava aumentando então eu não entendi isso. M: Não sei explicar exatamente esse valor, Qual foi a sua análise? Elas se estabilizaram a partir de que ano? P: A partir de 2009. M: Elas estabilizaram em termos de valores financeiros absolutos? P: Não em termos de quantidade de bolsas oferecidas. M: Nós não estabelecemos um limite para o número das bolsas PROUNI. Preciso entender melhor a sua dúvida? P: Acho que talvez eu não tenha sido clara. Minha dúvida é a seguinte: se a instituição tem que oferecer bolsas até que se atinja o percentual de até 8,5% da receita e se a receita estava aumentando por que a quantidade de bolsas obrigatórias de 50% diminui? M: Mas, por quê tem? P: É o que está na legislação. M: Mas não é obrigatório. 133 P: Até atingir 8,5% é o que diz a legislação. M: Esse é o limite. Um limite máximo. Não tem que ser atingido. P: Está certo. Entendi. Não necessariamente é obrigatório oferecer bolsas atingindo o percentual de 8,5% da receita. Éé até o limite máximo de 8,5%. É isto? M: Sim, o governo federal / o Estado limita o valor máximo, mas não o valor mínimo. P: Está certo. Então, é ate 8,5% da receita, mas a instituição pode oferecer menos do que isso, certo? M: Mas, também, por outro lado, eu não sei exatamente que base você analisou. P: Eu verifiquei isso a partir de 2009 e 2010. M: Não é isso. É porque estes números que você analisou foram números que depois vieram para a instituição porque, às vezes, nós temos bolsas PROUNI que não são preenchidas. P: Está certo. M: Se forem bolsas integrais, todas elas são preenchidas, mas as bolsas de 50% nem todas são preenchidas, portanto, o que você pode ter visto é uma quebra em alguns cursos com menos demanda de bolsas PROUNI do que em anos anteriores, bolsas PROUNI de 50%. P: Ok, entendi, porque não necessariamente o total de bolsas oferecidas de 50% serão totalmente preenchidas. M: Eu não posso obrigar o pessoal a entrar aqui. P: Ok. M: Só entra aqui se quiser. 134 P: Está ótimo. Deixe-me verificar aqui outra dúvida. Eu coloquei a seguinte questão, que o senhor respondeu por escrito: Qual foi o contexto que o senhor encontrou nesta IES e na educação quando assumiu este cargo? Verifiquei que o senhor escreveu que se sentia um pouco prejudicado pelo intervencionismo por parte do MEC. De que forma isso ocorre na prática? O senhor poderia explicar isso um pouco melhor. M: Há uma frase que eu costumo utilizar muito de um economista americano chamado Milton Friedman que costumava dizer que: “a educação é um assunto tão sério que não pode estar na mão de burocratas do Estado”. É por onde devo começar. Vamos, então, começar por uma análise objetiva, por exemplo, veremos alguns resultados que são divulgados ao público sobre os exames do ENEM. Esses são muito importantes, como você sabe, são exames para os colégios e as instituições de ensino não superior, mas são exames muito importantes porque com base neles é que se estabelece um ranking para aquelas instituições que são supostamente as melhores escolas do Estado, do Brasil, enfim.... Não sei se você viu que, duas semanas atrás, algumas notícias, como a de um alunos que escreveu na redação uma receita de miojo. Outro, a letra do Hino Nacional do Brasil, e foram bem classificados. Isto me parece alguma piada, mas isso é uma previsão completa daquilo que deve ser o funcionamento de a avaliação de uma escola sendo que esta avaliação depois resulta numa classificação pública da escola. A escola desse aluno pode ser beneficiada ou prejudicada em relação ao outro e houve burocratas do Ministério da Educação que avaliaram as provas desses alunos e as avaliaram mal. Bem, isto é uma pequena amostragem, mas a pergunta que se faz é a seguinte quantas más avaliações de escolas devem ter espalhadas pelo Brasil nos exames do ENEM? Nos exames do ENADE? Bem, isto, pra te dizer o que? Para dizer o seguinte: do meu ponto de vista, o único juiz competente de qualquer instituição, qualquer empresa, qualquer serviço prestado é o mercado. Se você põe burocratas para aferir critérios de qualidade às instituições e depois põe burocratas para avaliar e mensurar esses critérios a maior parte das vezes acontece situações que desvirtuam a intenção inicial. Veja a situação do ENEM. Você tem colégios supostamente bons, colégios que a única coisa que fazem é trabalhar os seus alunos para responder esse exame, condicionam a aprendizagem dos alunos a isso para uma lei, cujo objetivo é mensurar a qualidade das instituições, portanto, o 135 objetivo é que as instituições melhorem a sua qualidade para que seus alunos tenham bons resultados nesse exame. Isso inverte o sentido das coisas e faz com que as instituições que desmereçam uma preparação integral dos alunos e passem a orientar os alunos somente para que eles façam esse exame e depois até tem boas classificações no ranking são consideradas escolas excelentes. O exame do ENADE, por exemplo... O que se faz com o exame do ENADE aqui no Brasil é uma coisa escandalosa. Você teve, ainda, há um ano, um ano e pouco, uma universidade privada que condicionava o acesso dos alunos que eles entendiam que eram alunos com baixa qualidade ao último semestre para que eles não fizessem o exame do ENADE. O que eles faziam quando da passagem para o último semestre? Simplesmente, retinham os alunos e não os inscreviam para o exame, só inscreviam excelentes alunos. De turmas com cinquenta alunos, só passavam para último semestre seis ou sete e só estes prestavam o ENADE e, depois, o que eles faziam aos outros quarenta alunos? Faziam exames de última hora e os aprovavam. Tudo isso é uma vigarice, que ocorre pela ansiedade das instituições em contornarem a lei, portanto, veja você qual é o objetivo do governo com o ENADE. É, mais uma vez, selecionar as instituições e fazer um ranking delas. E qual é consequência? As instituições fraudam a lei, contornam a lei e subvertem completamente o sentido daquilo, portanto, o que eu digo com isso? Digo uma coisa muito simples, é o que está acontecendo no Brasil, é, por exemplo, o que aconteceu em Portugal. E o que acontece na maior parte dos países cuja tradição política é uma tradição de influência francesa de tradição estatista? Se você for ver, por exemplo, se você for ver o que fazem em países de influência anglo-saxônica, tanto inglesa quanto nos Estados Unidos da América. Qual é a consequência disso? O Estado vai levar a educação como um instrumento que deve utilizar e está permanentemente a intervir. E o que está acontecendo no Brasil é cada vez mais um intervencionismo que se centra no Ministério da Educação, impondo exigências, impondo critérios que depois, na prática, quais são seus objetivos? Portanto, seus objetivos não são a melhoria de seus alunos, mas a corrupção. Portanto, o melhor critério para as coisas avançarem é o critério do mercado. Uma instituição de ensino superior que está em concorrência com outras, nós temos aqui, em volta, umas seis ou sete instituições que concorrem conosco, que capacitam mal seus alunos, que preparam mal seus alunos, que dão uma formação de baixa qualidade. Ficam com uma imagem 136 pública no mercado, e o mercado saberá distinguir as são as instituições de baixa qualidade, de média qualidade e de qualidade superior. Se você entrega isso a burocratas que estão enfiados em Brasília, a fazerem planos gigantescos de avaliação, as coisas acabam por resultar mal por várias maneiras. É isso que eu posso te dizer, que ocorre no Brasil, de uns seis anos para cá, é que a política do Ministério da Educação é aquela que aconteceu em Portugal, cada vez mais intervencionista, cada vez, mais, exige mais, mais e mais e mais... Se pegarmos o exemplo do ENEM, do ENADE, você vai ver que quase todas as instituições... São instituições maiores que fraudam a concorrência, são as grandes instituições que têm a capacidade de cumprir determinados tipos de requisitos que o Ministério da Educação impõe e, na prática, isso é uma forma de criar oligopólios, ou seja, deixar que o mercado fique na mão de seis ou sete grandes grupos, o que se via há alguns anos atrás, no Brasil, e que estava sendo preparado. Cerca de 80% dos alunos ficariam concentrados em seis ou sete grupos. P: Vimos muito isso nos últimos anos, uma concentração muito grande nesse mercado. M: Mas isso é atual. Você deixa a educação na mão de seis ou sete grupos, num mercado desse tamanho, e o que acontece? Eles começam a capitalizar, os preços começam a ser definidos em cartel e não mais pelo mercado. Basta sentar ao redor de uma mesa seis ou sete pessoas para definir os preços para o Brasil inteiro e o mercado tem que ir atrás disso. P: Mas não é próprio mercado que cria estas estruturas de oligopólio? M: Não, esta é a teoria marxista de concentração do capital, que está completamente invalidada. O capital nunca concentra. P: Me desculpe, mas, em minha opinião, existe, sim, essa concentração de capital. Na realidade, se o mercado está ficando muito competitivo, então, às vezes, algumas instituições utilizam isso como uma estratégia de aumentar seu tamanho para sobreviver a estas leis e se manter no mercado. M: Só se for uma estratégia para o suicídio, como pode ser uma boa estratégia para um crescimento de uma empresa. 137 P: Sim, se associar a outra M: Mas isso é outra coisa. A teoria do marxismo diz que na mais-valia o capital não é distribuído, ficando concentrado nos grandes grupos que seguram o dinheiro não permitindo seu retorno para a economia. Isso é um disparate. Sabe porque isso é um disparate? Não existe concorrência, você só consegue fazer isso quando não há mercado, quando há mercado... Para que serve o mercado? O mercado somos nós e, portanto, quando há mercado podemos dizer que o mercado é uma ditadura dos consumidores, quem manda no mercado são os consumidores. P: Então, voltando à educação, o que senhor quer dizer é que isto não se concretiza na educação totalmente por causa da intervenção do MEC? M: Isso não se concretiza não por vontade do MEC, mas por causa do mercado em grande expansão e em grande crescimento, e tem um porque. Porque o Brasil é um país muito grande, tem pouca gente, ainda, com freqüência universitária, pelo que eu vi do último Censo, não é isso? P: Sim, de acordo com o censo estamos em torno de 15%. M: 15% entre a população de 18 e 24 anos P: Isso mesmo. M: Quando nosso objetivo era chegar a 30% P: Isso mesmo. M: E agora, voltaram a estipular esses objetivos para década atual e 30% ainda é muito pouco, ou seja, quem concentra consegue ter no Brasil instituições como essa que consegue ainda se manter, pois apesar da intervenção do MEC e da pressão dos grandes grupos, há um mercado que ainda não foi explorado que vai continuar a crescer e que utiliza essas instituições para se capacitar. Agora, se não tivesse instituições como essas você teria um ensino superior privado no Brasil, concentrado em seis ou sete grupos, e isso não seria uma consequência do mercado, mas exatamente o contrário. É uma consequência do Intervencionismo do Estado que define 138 regras e exigências que só os grandes grupos podem cumprir e se faz com que o ensino superior privado no Brasil piore fortemente, pois se o mercado fica na mão de seis ou sete grupos que se entendem uns com os outros, já não há necessidade de melhorar os serviços, não há concorrência, ou seja, se eu tiver o mesmo produto no Brasil inteiro e não aparece ninguém para fazer melhor do que eu, não há termo de comparação. M: Você está escrevendo sobre isso? O que você exatamente está pesquisando? P: Na realidade eu estou estudando o PROUNI e estou levantando sobre os impactos financeiros e estou tentando analisar se ele é só mesmo... M: O PROUNI, de todos os programas que conheço aqui do Brasil, é, hoje, um dos melhores. É um programa, como eu dizia há pouco, é uma espécie de cheque educação negativo. Isso existe nos Estados Unidos, Europa e Suécia. Ao invés de dar dinheiro para as instituições, dão cheque para as pessoas credenciadas e elas vão diretamente e pagam e o PROUNI. É similar a isso, pois é como se fosse um cheque passado às pessoas que não têm poder aquisitivo suficiente para pagar uma faculdade e o governo não repassa o dinheiro diretamente para as faculdades, mas, por sua vez, as faculdades amortizam os impostos. Portanto, é um cheque negativo onde não há dinheiro em cima da mesa, mas há dinheiro que não é pago pelas instituições, por isso é um programa interessante. De todos os programas federais, hoje, o PROUNI é o melhor e o que tem mais consequências positivas. Capacita pessoas, dá educação às pessoas, e não envolve aquela ideia inicial do subsídio que aconteceu em Portugal, que é criar uma cultura do subsídio, a dependência na qual as pessoas se acostumam a não trabalhar. O Estado dá subsídio para isso, para aquilo, está certo? P: Ok, eu gostaria de agradecer o senhor por ter me recebido e aberto a instituição para minha pesquisa e gostaria de saber, se surgir mais alguma dúvida no decorrer do processo, se eu poderia voltar? M: Pode, com certeza. P: Muito obrigada.