UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSO” EM ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL PROJETO A VEZ DO MESTRE A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO NO ENSINO FUNDAMENTAL Por: Sabrina Brito Xavier Botelho Orientador: Prof°. M.S. Nilson Guedes de Freitas Niterói 2006 <> <> UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSO” EM ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL PROJETO A VEZ DO MESTRE <> <> <> <> <> A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO NO ENSINO FUNDAMENTAL Monografia apresentada para obtenção parcial do título de especialista no Curso de PósGraduação “Lato Sensu” em Orientação Educacional, sendo orientada pelo Profº. M.S. Nilson Guedes de Freitas. Por: Sabrina Brito Xavier Botelho DEDICATÓRIA Aos meus pais e ao meu marido pelo apoio e incentivo para a realização deste sonho. AGRADECIMENTOS A Deus, pela minha vida; A minha família por todo amor e compreensão; Aos colegas, pelo afeto e companheirismo; Ao professor Nilson Guedes, pela paciência e orientação. EPÍGRAFE “A relação entre o mestre e o aprendiz é horizontal, professor e aluno aprendem juntos em processo, atividades o professor diárias. deverá Neste estar engajado em um trabalho transformador procurando levar o aluno à consciência, desmistificando a ideologia dominante, valorizando a linguagem e a cultura” (MIZUKAMI, 1986, p.99). RESUMO Sabe-se que o papel do professor é de facilitador de aprendizagem, aberto às novas experiências, procurando compreender, numa relação empática, também os sentimentos e os problemas de seus alunos e tentar levá-los à auto-realização. Sendo assim, este trabalho vem possibilitar a aproximação real entre professor e aluno, a compressão de realidade distintas e o fortalecimento da dignidade humana, revertendo todo o processo ensinoaprendizagem num espaço concreto de plenitude educacional. Considera-se portanto, que nas relações vividas em sala de aula, costuma surgir hostilidade do aluno em relação ao professor, tanto pela falta de êxito do jovem, pela severidade do professor por motivos pessoais, quanto por problema afetivo. Determinada conduta em relação ao professor pode ocorrer ainda em função dos seus colegas, para chamar a atenção por vaidade e por sentimento de inferioridade. Portanto, esta pesquisa caracteriza-se como bibliográfica, pois foi feito um levantamento de trabalhos já realizados sobre o mesmo este tema, como por exemplo, Piaget, Gadotti e Freire. Palavras-chave: Relação, professor, aluno, ensino-aprendizagem. SUMÁRIO INTRODUÇÃO 08 CAPÍTULO I - O Papel do Professor no Processo Ensino-Aprendizagem 10 CAPÍTULO II - Ensinar Aprendendo... Um Enfoque da Relação Professor-Aluno no Cotidiano Escolar 20 CAPÍTULO III – Novas Práticas Pedagógicas: A Escola como Mediadora nesse Relacionamento 29 CONCLUSÃO 42 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 44 ANEXOS 47 ÍNDICE 48 FOLHA DE AVALIAÇÃO 49 8 INTRODUÇÃO As relações humanas, embora complexas, são peças fundamentais na realização comportamental e profissional de um indivíduo. Desta forma, a análise dos relacionamentos entre professor-aluno envolve interesses e intenções, sendo esta interação o expoente das conseqüências, pois a educação é uma das fontes mais importantes do desenvolvimento comportamental e agregação de valores nos membros da espécie humana. Pois segundo Gadotti (1999, p. 2) o educador para pôr em prática o diálogo, não deve colocar-se na posição de detentor do saber, deve antes, colocar-se na posição de quem não sabe tudo, reconhecendo que mesmo um analfabeto é portador do conhecimento mais importante: o da vida. O professor não deve preocupar-se somente com o conhecimento através da absorção de informações, mas também pelo processo de construção da cidadania do aluno. Cabe aqui, refletir sobre o seguinte problema: Será que a relação professor-aluno, ultrapassa os limites puramente acadêmicos e provoca nos elementos envolvidos, formas distintas de aceitação do “eu” e do “outro” contribuindo para a existência de laços afetivos entre os mesmos? Apesar de tal, para que isto ocorra, é necessária a conscientização do professor de que seu papel é de facilitador de aprendizagem, aberto às novas experiências, procurando compreender, numa relação empática, também os sentimentos e os problemas de seus alunos e tentar levá-los à auto-realização. Sendo assim, este trabalho o objetivo de possibilitar a aproximação real entre professor e aluno, a compressão de realidade distintas e o fortalecimento da dignidade humana, revertendo todo o processo ensino-aprendizagem num espaço concreto de plenitude educacional. Direcionando-se aos alunos do 1º segmento do ensino fundamenta da rede particular de São Gonçalo. 9 Esta monografia foi dividida em três capítulos, onde respectivamente expõe-se adequadamente o assunto: No primeiro procura-se fazer uma reflexão sobre o papel do professor no processo de ensino-aprendizagem. No segundo mostra-se as relações de afeto entre professores e alunos. No terceiro aborda-se o papel da escola no processo de ensinoaprendizagem. Portanto, esta pesquisa caracteriza-se como bibliográfica, pois foi feito um levantamento de trabalhos já realizados sobre o mesmo este tema. 10 1. O PAPEL DO PROFESSOR NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM Não resta dúvida de que via política educacional ou curso de formação é possível reverter a práxis pedagógica. No entanto, muito pode se perder caso não seja revisto um aspecto fundamental da ação pedagógica: a relação professor-aluno. Acredita-se que a verdadeira práxis pedagógica só se revela pelo seu engajamento sócio-político-educacional. Crê-se, porém, se torna maior no entendimento de que nenhuma das práticas – detectadas na História da Educação Brasileira – inclusive a pedagogia crítico-social dos conteúdos – surtem e/ou surtirão o efeito desejado se negligenciado tiver sido, ou for, o aspecto antropológico da relação professor-aluno. A este respeito vem à tona Gusdorf (1987) e Gadotti (1985) tentando resgatar este espaço como núcleo gerador de uma proposta pedagógica que se fundamenta no princípio antropológico da encarnação: Homem, Ser Inacabado, que tem necessidade do outro para dar forma à sua realidade pessoal. Tal proposta não é limitada a nenhuma regra, método ou técnica. É orientada por uma atitude: a atitude dialógica que se estabelece na relação de pessoa a pessoa. Com base na filosofia buberiana1, que confere à relação dialógica o espaço em que se desenvolverá, em cada um dos elementos envolvidos, o sentido do valor do outro e de sua dignidade, esta proposta pedagógica pretende resgatar a humanidade do homem. Buber (1974) sugere que a verdadeira ontologia da palavra, atribuindo a ela o sentido de portadora do ser. É através da palavra que o homem se 1 É a filosofia de Buber que faz uma análise crítica do problema do homem, mas, reconhecemos que o acesso do homem ao ser, realiza através do existencial "entre-dois" (zwieschen) atualizada plenamente no evento da relação dialógica do homem com aquilo que lhe está à frente. 11 introduz na existência. Ela é o ato do homem através do qual ele se faz homem e se situa no mundo com os outros. Por isto afirma que é só na relação dialógica que se revela o sentido da existência humana. Segundo sua linha filosófica, são duas as palavras-princípio: EU-TU E EU-ISSO. Ser EU é proferir uma das duas palavras-princípio. A palavra princípio EU-TU define como ser da relação dialógica, enquanto a palavra princípio EU-ISSO nos define como ser de relacionamento objetivante. A palavra proferida fundamenta um modo de ser no mundo. Assim, palavra proferida, pelo professor e/ou aluno, precisa ocupar um espaço “entre” o Eu e o Tu. O “entre” é categoria ontológica onde é possível a aceitação e a confirmação ontológica dos dois pólos envolvidos no evento da relação. É o lugar de revelação da palavra proferida, é o espaço da relação dialógica. Martin Buber foi, sem dúvida, marcante para as propostas pedagógicas de Gusdorf e Gadotti. Ambas enfatizam a relação dialógica como fator de edificação do homem. Ambas se preocupam em resgatar a dignidade e o valor do professor e do aluno através de uma proposta que valoriza o ato pedagógico baseado na relação que se estabelece de pessoa a pessoa. Cunha (1994, p. 22), cita que, É fato que esta relação passa muito pela forma como o professor trata os conteúdos da matéria a ensinar. Embora a atitude dialógica surja a partir deles, facilitando a assimilação dos conhecimentos acadêmicos, ela também abre espaço para a absorção de aprendizagens valorativas muito intensas. A relação professor-aluno, assim compreendida, ultrapassa os limites puramente acadêmicos e provoca nos elementos envolvidos, formas distintas de aceitação do “eu” e do “outro” que, inegavelmente, afetarão o modus operandi dos mesmos na sociedade. Sabe-se que por mais que o professor se mostre entendido na práxis pedagógica, cabe a ele, portanto, a iniciativa de criar e/ou aprimorar o ambiente necessário para o exercício da atitude dialógica. É através dela que o professor 12 poderá atingir o corpo e a mente do aluno, seu pensamento e sua imaginação, suas necessidades intelectuais e afetivas. O período de observação nas aulas possibilita detectar que o conteúdo das matérias é permeado pelo diálogo. Diálogo que se estabelece na relação de pessoa a pessoa: o reconhecimento do outro na procura da verdade, o envolvimento do outro na troca de idéias e convicções, o voltar atrás, retomando o parceiro para uma caminhada passo a passo na busca da verdade. Ali se depreende um clima profundamente respeitoso e cordial que deixa transparecer o companheirismo que é inerente na relação mestre-discípulo, uma vez que um precisa do outro para dar forma à sua realidade pessoal e ambos prosseguirem na caminhada comunitária da realidade humana. Araújo (2003) constatou que as salas de aula se constituem num ambiente facilitador para a prática da atitude dialógica. Um quadro docente estável favorece a prática do diálogo, colocando frente a frente professor e aluno, num encontro diário, ligados por uma igualdade ontológica, descobrindose na mutualidade. A atitude dialógica observada nas salas de aula evidencia um aspecto primordial da verdadeira práxis pedagógica, consubstanciado na premissa de que ensinar é fundamentalmente uma vocação de amizade. 1.1. Uma Nova Visão do Professor Na sociedade pós-moderna, numa nova visão social, as transformações estão acontecendo de forma ultra-rápida em todos os setores sociais. A presença das redes eletrônicas (digitalização) no processo de ensino e aprendizagem, este novo ambiente, nos faz pensar que a escola, forçosamente, está exigindo novos profissionais para a educação. O perfil vem se alterando porque a visão de mundo está mudando e os professores estão, 13 atualmente, insatisfeitos, descontentes, ansiosos, pela não compreensão das novas necessidades sociais e do processo educacional. Ou seja, a sociedade mudou, a escola precisa mudar e os professores precisam saber que ser professor, hoje em dia, exige qualidades diferentes daquelas de vinte ou trinta anos atrás. Não se pode pensar, nos dias atuais, que os alunos são menos inteligentes, responsáveis, mais imaturos ou menos preparados do que em outras épocas. O que se deve lembrar é que o paradigma do mundo está se alterando rapidamente e que as tecnologias têm contribuído para isto. Assim, segundo Borges (1995), os professores deverão valorizar mais os alunos, ou seja, ênfase no aluno e não na matéria como se está fazendo. É importante citar que isto não significa dizer que o professor abandonará seus conteúdos, pois somente aqueles professores que alcançaram um alto grau de conhecimento sobre seus conteúdos é que são capazes de se libertarem, para efetivamente, dar atenção devida para as reais necessidades de seus alunos. O professor deverá valorizar seu aluno permitindo que o mesmo avance em sua jornada do aprender, onde ele construa e reconstrua, elabore e reelabore seu conhecimento de acordo com sua habilidade e seu ritmo. Outro ponto a se considerar, ainda segundo o mesmo autor acima citado, é a questão do professor como um transmissor de conhecimentos. A escola, na maioria das vezes, não oferece condições para o professor produzir seu conhecimento. Como conseqüência, do fato do professor não ter tempo para elaborar seu material, acaba surgindo uma verdadeira cultura de livros didáticos e manuais com perguntas e respostas prontas que dispensam os mestres do ato de refletir e da produção do saber. O professor deve equilibrar os currículos e os procedimentos metodológicos com os estilos de aprendizagem dos alunos, encontrando um elo entre o processo cognitivo e emocional, bem como observar os modos de vida dos estudantes, buscando, principalmente nos conceitos de flexibilidade e 14 diversidade, um canal direto com o mundo. Isso nos levará a uma ênfase maior na produção do conhecimento e não apenas na transmissão. O professor, poderá gerar e gerenciar uma grande quantidade de informação e conhecimento, trabalhando na pesquisa e na produção de novos conhecimentos. Da mesma forma, segundo Borges (1995), o eixo será deslocado da atividade oral para as atividades de interação do aluno com o meio. Não é o discurso do professor que garante autenticidade ao conhecimento. O professor privilegiará as atividades de interação em laboratórios, visitas a museus, trabalho em grupo, projetos educativos, teatros, vídeos e, principalmente, as experiências com pares distantes através da utilização das redes eletrônicas. O mesmo autor cita que, de uma maneira abrangente, aprende-se cerca de 20% do que se ouve, 30% do que se vê, 50% do que se ouve e vê, 80% do que se ouve, vê e faz e 100% quando se cria, ou seja, quando se interage de forma ampla e abrangente, o resultado poderá ser surpreendente. Por fim, segundo Borges (1995), o enfoque do professor estará centrado em ser "aberto" para aprender a cada momento, e não em "ser correto". Ao professor caberá a tarefa de ensinar seus alunos tomar decisões neste mundo marcado pela pluralidade de informações. O certo ou errado numa época de tantas transformações, profundas mudanças, acaba sendo uma questão de visão de mundo, porém, estar, "ser aberto" para aprender a cada momento da vida, saber ver, analisar, fazer perguntas, poder perceber que o conhecimento, cada vez mais, estará sujeito a transformações, será muito mais significativo neste novo contexto. O professor auxiliará o aluno na coleta da informação, na análise e na elaboração do conhecimento a partir dela e a ênfase não estará mais no "certo ou errado", mas, em "estar aberto" para aprender. 15 1.2. A Conscientização do Professor e a Necessidade da Inovação Educacional Argumentando sobre educação, Libâneo (1994) acentua que é preciso um trabalho de auto-formação do professor, para compreender de modo crítico as relações entre a prática social e a educação. O trabalho escolar formativo fica comprometido, se não leva à assimilação crítica das contradições sociais. O professor precisa, portanto, de uma teoria que explicite a direção pretendida para a tarefa educativa de humanização do homem, extraída de uma concepção de educação enquanto prática social transformadora. Essa teoria se alimenta da prática, isto é, das exigências concretas da situação pedagógica. O autor afirma que a partir daí, o professor necessita desenvolver um método de pensamento e reflexão que o auxilie a avaliar cada situação concreta, enquanto configurada por relações de um aluno com uma matéria de ensino, ou seja, aprender a fazer a leitura da contextualização histórica-social das situações pedagógicas específicas. Para Libâneo (1994) a questão da inovação na atividade educacional, deve partir em primeira plano de um trabalho de conscientização do educador, trabalho esse que pode ser feito por um orientador, atuando com um coordenador de ensino que dê suporte teórico ao professor, enquanto mediador do encontro entre o aluno e as matérias de estudo. Em relação ao trabalho do orientador, no contexto invocacional Libâneo (1994, p. 79) nos diz que: Tendo domínio sobre a teoria pedagógica elaborada a partir das situações concretas de ensino, procurará colocá-las nas mãos dos professores. Ao mesmo tempo, é um pesquisador em ação, porque precisa conhecer intimamente e permanentemente as condições concretas em que o professor exerce sua prática. A mudança das características do processo educacional, bem como a melhoria dos resultados operacionais, serão observadas imediatamente, a 16 partir da nova postura do orientador frente à escola, considerando-se algumas questões desafiadoras, tais como: * Como mobilizar o professor para realizar uma ação docente conseqüente, em termos de melhor qualidade de ensino? * Como transformar o meio social de origem dos alunos em ponto de partida para o trabalho escola? Como iniciar a caracterização das condições sócio-culturais dos alunos sem ficar apenas no levantamento de dados? * Como modificar a atitude dos professores frente aos alunos portadores de fracasso escolar? * Que mudanças podem ser feitas na sistemática de planejamento de aulas, de forma a garantir o encontro produtivo e dinâmico entre o aluno e as matérias de estudo? * Como recompor o trabalho educativo numa perspectiva de educação do indivíduo no coletivo e para o coletivo? * Como auxiliar os professores a aprenderem a fazer análise crítica de situações pedagógicas, concretas e que lhes permitam tomar consciência de todas as imposições e mecanismos sociais que mantém os indivíduos não emancipados? * Como desenvolver a atitude permanente de pesquisa na sala de aula? Na tentativa de responder alguns desses questionamentos levantados por Libâneo, recorre-se a Rodrigues (1993) que reforça que o educador inovador é aquele que consegue de forma progressiva e efetiva se adequar a um sistema educacional mutante reconhecendo-se como instrumento fundamental dentro desse processo dinâmico. Cunha (1994) ainda, acrescenta que o bom professor na sua prática não faz questão de saber mais do que os seus educandos, mas tem o firme propósito de aprender com cada um deles um constante trabalho de interação, 17 citando que: “Vale a pena ressaltar o quanto se aprende pela prática do cotidiano, pela vivência, e o quanto o professor precisa esta consciente disso” (CUNHA, 1994, p. 91). Avalia-se ainda que esse professor como um profissional inovador e propício à aprendizagem, terá como meta à sala de aula, um saber significativo e atualizado, valorizando a realidade de seus educandos, em detrimento da artificialidade dos livros didáticos. Cunha (1994) ainda pondera que o educador precisa ser flexível, porém equilibrado. Construtivista, porém disciplinado, avaliando os seus alunos não pelo conteúdo armazenada e memorizado, mas em função de suas mudanças comportamentais. Procura renovar sua postura pedagógica diariamente, sendo consciente do seu trabalho educacional, tendo a preocupação de conferir se os resultados alcançados correspondem à suas perspectivas profissionais. 1.3. As tendências pedagógicas na prática escolar Para Libâneo (2005), a prática escolar consiste na concretização das condições que asseguram a realização do trabalho docente. Tais condições não se reduzem ao estritamente “pedagógico”, já que a escola cumpre funções que lhe são dadas pela sociedade concreta que, por sua vez, apresenta-se como constituída por classes sociais com interesses antagônicos. Boa parte dos professores baseia sua prática pedagógica em prescrições que viram senso-comum, aquelas mesmas incorporadas ao longo da vida estudantil ou pela transmissão informal dos mais velhos. Saviani (1991 apud LIBÂNEO, 2005), descreve sobre uma confusão que os professores vivenciam nesta época. Caracterizando a pedagogia tradicional e a pedagogia nova, indica o aparecimento da tendência tecnicista e das teorias crítico-reprodutivas, todas incidindo sobre o professor. 18 Os professores têm na cabeça o movimento e os princípios da escola nova. A realidade, porém, não oferece aos professores condições para instaurar a escola nova, porque a realidade em que atuam é tradicional. (...) o professor se vê pela pedagogia oficial que prega a racionalidade e a produtividade do sistema e do seu trabalho, isto é: ênfase nos meios (tecnicismo). (...) E não aceita a linha crítica porque não quer receber a denominação de agente repressor (LIBÂNEO, 2005, p. 20). Segundo Libâneo (2005) as tendências pedagógicas foram classificadas em liberais e progressistas, a saber: A - Pedagogia Liberal: 1- tradicional; 2- renovada progressista; 3renovada não-diretiva; 4- tecnicista. O termo liberal não tem o sentido de "avançado", "democrático", "aberto", como costuma ser usado. A doutrina liberal apareceu como justificação do sistema capitalista que ao defender a predominância da liberdade e dos interesses individuais na sociedade, estabeleceu uma forma de organização social baseada na propriedade privada dos meios de produção, também denominada sociedade de classes. A pedagogia liberal é uma manifestação própria desse tipo de sociedade. Esta por sua vez, sustenta a idéia de que a escola tem por função preparar os indivíduos para o desempenho de papéis sociais, de acordo com as aptidões individuais, para isso os indivíduos precisam aprender adaptar-se aos valores e às normas vigentes na sociedade de classes, através do desenvolvimento da cultura individual. A ênfase no aspecto cultural esconde a realidade das diferenças de classes, pois embora difunda a idéia de igualdade de oportunidades, não leva em conta a desigualdade de condições. Historicamente, a educação liberal iniciou-se com a pedagogia tradicional e, por razões de recomposição da hegemonia da burguesia, evoluiu para a pedagogia renovada (também denominada escola nova ou ativa). O que não significou a substituição de uma pela outra, pois ambas conviveram e convivem com a prática escolar. 19 B - Pedagogia progressista: 1- libertadora; 2- libertária; 3- crítico-social dos conteúdos. A pedagogia progressista parte de uma análise crítica das realidades sociais, sustentando implicitamente as finalidades sócio-políticas da educação. Ela é dividida em: libertadora, libertária e crítico-social dos conteúdos. A primeira delas questiona a realidade das relações do homem com a natureza e com os outros homens, visando a uma transformação. Os conteúdos são extraídos da problematização da prática de vida dos educandos, despertando uma nova forma da relação com a experiência vivida. O grupo autogere a aprendizagem, definindo conteúdo e dinâmica. A aprendizagem se dá através da codificação-decodificação e problematização da situação, chegando assim a um nível mais crítico de conhecimento da realidade, através da troca de experiência em torno da prática social. Educador e educando são, portanto, sujeitos do processo. Considera-se portanto, que a complexidade do tema “prática escolar” exige uma análise sobre o problema em toda sua amplitude, em toda sua contextualização sócio-histórica, uma vez que se visualiza a interação de variáveis conservadoras e contemporâneas. Ultimamente, o tema educação é chega aos confins da escola para passar a ser um assunto do debate em todos os setores, em particular no mundo da produção que na atualidade move os maiores recursos. É necessário ter um sistema educativo eficaz, pertinente, federal, livre, aberto e de unidade nacional. Nossa escola tem uma tradição que conferencia um estilo a ela e um espírito particular que deve ser respeitado na melhor forma que puder, mas que se atualize das exigências do presente. 20 2. ENSINAR APRENDENDO... UM ENFOQUE DA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO NO COTIDIANO ESCOLAR Se as relações humanas, embora complexas, são peças fundamentais na realização de mudanças em nível profissional e comportamental, como se pode ignorar a importância da interação entre professores e alunos? Aproveita-se as palavras de Elias (2000, p.99) que destaca: É por intermédio das modificações comportamentais da área afetiva que a escola pode contribuir para a fixação dos valores e dos ideais que a justificam como instituição social. Muito se tem investigado sobre a relação entre o professor e o aluno no últimos anos. Cunha (1994) em seu estudo sobre "o bom professor", investiga o dia-a-dia do professor como indivíduo e como educador, analisa, também, sua prática e metodologia e, a partir de uma caracterização deste profissional, propõe novas direções para a formação dos professores e para os cursos de magistério. Ainda segundo sua análise, a relação professor e aluno passa pela forma com que o professor trabalha seus conteúdos, pela forma com que ele se relaciona com sua área de conhecimento, por sua satisfação em ensinar e por sua metodologia. D'Oliveira (1987, p. 3), analisando a relação professor e aluno, mostranos que esta pode ser caracterizada em três níveis: o dos valores presentes na relação, transmitidos através das idéias verbalizadas em sala de aula e refletidas nas ações e nos objetivos de trabalho; o dos modelos dados, ou seja, do que se faz e que é dado como exemplo, que pode ou não ser imitado, e o da interação propriamente dita: das reações das pessoas ao que o outro faz. Portanto, pode-se perceber comportamentos, desempenhos, métodos e técnicas de vários tipos de docentes (o autoritário, que vê o ato de lecionar apenas como um complemento de salário; o crítico-reflexivo, que planeja suas aulas e investe na continuidade de sua formação; o permissivo; a “mãezona”, e 21 tantos outros cujas atitudes pessoais que jamais passarão despercebidas pelos alunos), que embora se critique, muitas vezes fazem parte do discurso aos alunos: ameaças, chantagens emocionais, controle da indisciplina através do medo, autoritarismo...; enfim tudo que promove o não-desenvolvimento cognitivo do discente. Pois como diz Freire (1996, p. 73): O professor autoritário, o professor licencioso, o professor competente, sério, o professor incompetente, irresponsável, o professor amoroso da vida e das gentes, o professor mal-amado, sempre com raiva do mundo e das pessoas, frio, burocrático, racionalista, nenhum deles passa pelos alunos sem deixar sua marca. Como o ensino não pode e não deve ser algo estático e unidirecional, deve-se lembrar que a sala de aula não é apenas um lugar para transmitir conteúdos teóricos; é, também, local de aprendizado de valores e comportamentos, de aquisição de uma mentalidade científica lógica e participativa, que poderá possibilitar ao indivíduo, bem orientado, interpretar e transformar a sociedade e a natureza em benefício do bem-estar coletivo e pessoal. Tão bem nos lembra Grisi (1971, p. 91): Toda aula, em resumo, seja qual for o objetivo a que vise, e por mais claro, preciso, restrito, que este se apresente, tem sempre uma inelutável repercussão mais ou menos ampla, no comportamento e no pensamento dos alunos. Considera-se, portanto, que a relação estabelecida entre professores e alunos constitui o cerne do processo pedagógico. É impossível desvincular a realidade escolar da realidade de mundo vivenciada pelos discentes, uma vez que essa relação é uma “rua de mão dupla”, pois ambos (professores e alunos) podem ensinar e aprender através de suas experiências. Como ressalta Gadotti (1999, p. 2): Para por em prática o diálogo, o educador não pode colocar-se na posição ingênua de quem é detentor de todo o saber; deve, antes, colocar-se na posição humilde de quem sabe que não sabe tudo, reconhecendo que o analfabeto não é um homem “perdido”, fora da realidade, mas alguém que tem toda a experiência de vida e por isso também é portador de um saber. 22 A importância da relação mestre e aprendiz para o sucesso do aluno em sua vida estudantil é fundamental, de forma que a predileção do estudante por algumas disciplinas, muitas vezes passa pelo gostar ou não de um determinado professor. A interação entre ambos é ainda importante para a adaptação do aluno ao processo escolar. Se por um lado é importante a existência de afetividade, confiança, empatia e respeito entre docente e discente para que melhor se desenvolva a leitura, a escrita, a reflexão, a aprendizagem e a pesquisa autônoma; por outro, os educadores não podem permitir que tais sentimentos interfiram no cumprimento ético de seu dever de professor. Para Abreu & Masetto (1990, p. 115) o trabalho do professor em sala de aula, seu relacionamento com os alunos é expressado pela forma de relação que ele tem com a sociedade e com cultura, e citam: é o modo de agir do professor em sala de aula, mais do que suas características de personalidade que colabora para uma adequada aprendizagem dos alunos. O modo de agir do professor em sala de aula fundamenta-se numa determinada concepção do papel do professor, que por sua vez reflete valores e padrões da sociedade. Para exercer sua real função, o professor precisa aprender a combinar autoridade, respeito e afetividade; isto é, ao mesmo tempo que estabelece normas, deixando bem claro o que espera dos alunos, deve respeitar a individualidade e a liberdade que esses trazem com eles, para neles poder desenvolver o senso de responsabilidade. Além disso, ainda que o docente necessite atender um aluno em particular, a interação deve estar sempre direcionada para a atividade de todos os alunos em torno dos objetivos e do conteúdo da aula. Outro fator que incomoda grande parte dos educadores, é a disciplina; ou melhor, a ausência dessa; no entanto, infelizmente, sempre se pode presenciar situações em que muitos professores, em nome da autodisciplina, tomam atitudes, no mínimo, pedagogicamente questionáveis: fazem imposições sem fundamento, ameaçam os alunos e, não raras vezes, chegam a humilhá-los. 23 Será que essa postura docente contribui de alguma forma para que um professor obtenha o respeito e a disciplina que tanto deseja em sala de aula? Entende-se, que o respeito se conquista, não se impõe; e o diálogo é o melhor caminho para a solução de problemas. Assim, toma-se as palavras de Libâneo (1994, p. 250): O professor não apenas transmite uma informação ou faz perguntas, mas também ouve os alunos. Deve dar-lhes atenção e cuidar para que aprendam a expressar-se, a expor opiniões e dar respostas. O trabalho docente nunca é unidirecional. As respostas e as opiniões dos alunos mostram como eles estão reagindo à atuação do professor, às dificuldades que encontram na assimilação dos conhecimentos. Servem também para diagnosticar as causas que dão origem a essas dificuldades. Pois como sugere Masseto (1996), o sucesso (ou não) da aprendizagem está fundamentado essencialmente na forte relação afetiva existente entre alunos e professores, alunos e alunos e professores e professores entre si. A forma como ele conduz a aula deve despertar a curiosidade pelo ouvir e aprender. [...] o bom professor é o que consegue, enquanto fala, trazer o aluno até a intimidade do movimento do seu pensamento. Sua aula é assim um desafio e não uma ‘cantiga de ninar’. Seus alunos cansam não dormem. Cansam porque acompanham as idas e vindas de seu pensamento, surpreendem suas pausas, suas dúvidas, suas incertezas. (FREIRE, 1996, p.96) Um professor deve buscar um aperfeiçoamento constante, ter um carinho especial pela profissão que abraçou e saber utilizar sua autoridade com moderação e imparcialidade. Estabelecendo um paralelo entre todas essas atuações, pode-se afirmar que a disciplina em sala de aula está diretamente ligada ao estilo de prática docente; isto é, à moral e técnica do professor. Dessa forma, os professores que melhor conseguem este controle são aqueles que dominam o conteúdo que ensinam; não têm receio de dizer que não conhecem a resposta, mas que a irão pesquisar e depois a trarão (e cumprem a promessa); adaptam seus métodos e procedimentos de ensino em 24 função da necessidade de sua clientela; possuem tato em lidar com as diferenças individuais em sala de aula; estão abertos ao diálogo; e demonstram dedicação profissional, senso de justiça, caráter, competência e hábitos pedagógico-didáticos necessários à organização do processo de ensino. Um professor competente está sempre pronto a refletir sobre sua metodologia, sua postura em aula, a replanejar sua prática educativa, a fim de estimular a aprendizagem, a motivação dos seus alunos, de modo que cada um deles seja um ser consciente, ativo, autônomo, participativo e agente crítico modificador de sua realidade. No entanto, este capítulo teve por intuito, mostrar que tornar-se um professor facilitador não é uma tarefa fácil, pois requer a quebra de paradigmas; o aprender a não desistir; a conscientização de que em uma sala de aula não há aprendizado homogêneo e imediato; que a orientação do professor, acompanhando cada passo do aluno, com a intenção de que ele, gradativamente, liberte-se e demonstre seu potencial, é fundamental; a percepção de que a formação continuada é uma necessidade, e que uma postura crítica-reflexiva deve fazer parte do seu dia-a-dia. 2.1. A Indisciplina na Escola É grande o desafio que os educadores têm encontrado em relação à indisciplina em sala de aula e na escola, tanto na pública como na particular, todavia com manifestações diversas. Sabe-se também que não se trata de um problema apenas brasileiro, apesar das peculiaridades encontradas aqui; temse relatos, por exemplo, de gangues estudantis que têm batido nos professores na França, do alto número de mortes nas escolas públicas americanas, fruto da violência, das conseqüências nefastas da rígida disciplina japonesa, levando ao suicídio e à falta de criatividade. Segundo Tiba (1996, p. 117) “muitos motivos podem levar um aluno a não se comportar de forma adequada em atividades que necessitem de uma 25 integração funcional com outras pessoas”. Que são: os distúrbios psiquiátricos, distúrbios neurológicos, deficiência mental, distúrbio de personalidade e os distúrbios neuróticos. Sabe-se que a queixa dos professores em relação à indisciplina tem sido muito forte. Pode-se citar, a título de ilustração, alguns depoimentos: A falta de interesse está muito grande. Os alunos estão dispersos, não respeitam mais o professor, estão vivendo em outro mundo. A tecnologia avançou demais e o professor infelizmente não acompanhou, ficou desinteressante para eles. Eles estão acostumados a apertar botão de videogame, de computador, a ver televisão e aí aparece o professor com apagador e giz (...) O professor não está conseguindo ter domínio, as aulas estão muito no passado, muito antigas. Os meios de comunicação ao invés de ajudar estão atrapalhando: programas muito violentos. Não está existindo liberdade com responsabilidade. As crianças de hoje são mais espertas do que antigamente. A família não tem colaborado; os alunos vêm sem limites de casa. Geralmente há até conivência dos pais: o professor nunca tem razão. Há muitos problemas familiares. A própria família não sabe o que fazer; a mãe fala: ‘o que eu faço com ele? Vou matar?'. A disciplina em sala de aula extrapola totalmente e aí não tem jeito, só se bater e bater não pode. Eu não sei o que fazer com a classe. Tem hora que dá vontade de baterem todo mundo. Às vezes, o professor é completamente. Ignorado na sala de aula; você entra e parece que não entrou ninguém. Por que se dá tanta regalia para os alunos e o professor é tão esfolado em sala de aula? Como manter uma aula decente se você não tem material pedagógico, não tem condições de trabalho, não tem nada? Você vai tentar punir o aluno, não pode porque a direção não deixa, o Estado não permite, os pais não permitem (...) Há também a indisciplina social. Há muita impunidade na sociedade: as pessoas fazem coisas e não acontece nada com elas. Falta perspectiva ao jovem: não sabe para que estudar. Aluno diz: ‘eu vou ser jogador de futebol, não preciso de estudo'. Trai ganhar muito mais do que eu (...) As vezes, muitos de nós, profissionais da área, ficamos desmotivados pois o professor não ganha tão bem. O professor também se desmotiva: Ah, para que eu vou mudar? Para que fazer meu planejamento assim? ‘Ah, uso o do ano passado'. O que fazer quando aluno desrespeita muito o professor e depois diz assim: ‘não me amole que hoje eu já fumei maconha?’ Como explicar que a classe é disciplinada com determinado professor e não é com outro? É preciso ver a postura do professor, o método que utiliza. Continuamos com métodos elitistas e arcaicos. O que é para nós disciplina? É a prática do silêncio? (VASCONCELLOS, 1997, p. 288-289). Na citação acima, pode-se perceber alguns focos da queixa do aluno, seu desinteresse, decorrente da tecnologia a que tem acesso fora da escola; os meios de comunicação, a sua influência negativa; a família, não cumprindo 26 seu papel; a escola, que não apóia o professor; a sociedade, sua (des)organização; e, depois de um certo tempo, chega-se a colocarem questão a própria relação pedagógica. Para Vasconcellos (1997) a questão da disciplina pede, para seu enfrentamento, a ajuda de um conjunto de áreas do conhecimento, como a Sociologia, Antropologia, Psicanálise, Ética, Política, Psicologia, Economia, História, Tecnologia, Comunicação Social, além dos próprios saberes pedagógicos. Outro fato a ser considerado é que a disciplina é apenas um aspecto do processo de educação escolar, que por sua vez também é extremamente complexo e exigente, uma vez que se trata de participar da formação, ao mesmo tempo, de trinta, quarenta ou mais sujeitos. 2.2. A Importância das Ligações Afetivas Para Jean Piaget (2001), é irrefutável que o afeto desempenha um papel essencial no funcionamento da inteligência. Sem afeto não haveria interesse, nem necessidade, nem motivação; e conseqüentemente, perguntas ou problemas nunca seriam colocados e não haveria inteligência. A afetividade é atribuída como uma condição inevitável na construção da inteligência mas, também não é suficiente. Ainda, define a afetividade como todos os movimentos mentais conscientes e inconscientes não-racionais (razão), sendo o afeto um elemento indiferenciado do domínio da afetividade. Afirma Piaget (2001), que o afeto é uma importante energia para o desenvolvimento cognitivo e estudos que integram suas pesquisas e também de Freud especificam que a afetividade influi na construção do conhecimento de forma essencial através da pulsão de vida e da busca pela excelência. É freqüente ouvir dizer que um aluno não aprende por ter “graves problemas emocionais”. 27 Para Davis & Oliveira (1994, p. 80): Evidentemente, algumas crianças enfrentam sérias dificuldades em seu desenvolvimento cognitivo e emocional. Não lhes é fácil abstrair e generalizar, sofrem inúmeros medos e problemas de relacionamento com outras crianças e adultos. É prudente, todavia, não se concluir que todas as crianças com problemas de aprendizagem escolar são crianças difíceis ou anormais [...] Além disso, mesmo reconhecendo a importância dos fatores emocionais e afetivos na aprendizagem, o objetivo da ação d escola não é resolver dificuldades nesta área [...] Estes mesmos, nos dizem que o bebê humano nasce com uma predisposição para interagir. Ele dispõe de certas estruturas orgânicas que o levam a privilegiar certos estímulos na sua relação com o meio. Com isso, o bebê responde, sobretudo, a estímulos associados a outros seres humanos, com a face e as vozes. Assim é que, desde cedo, o recémnascido distingue a voz humana do conjunto de sons presentes no ambiente e rapidamente orienta-se para os traços do rosto humano colocado à sua frente. Davis & Oliveira (1994, p. 80) dizem que: Para sobreviver, o bebê humano necessita estabelecer uma relação estável com um ou mais adultos em seu ambiente. Essa relação, onde determinados padrões afetivos são desenvolvidos, fornece a base a partir da qual podem ocorrer as transformações no comportamento da criança. Considera-se, no entanto, que a presença do adulto dá a criança condições de segurança física e emocional que a levam a explorar mais o ambiente e, portanto, a aprender. 2.1.1 Motivação e Aprendizagem Sabe-se que as emoções estão presentes quando se busca conhecer, quando se estabelecem relações com objetos físicos, concepções ou outros indivíduos. Afeto e cognição constituem aspectos inseparáveis, presentes em qualquer atividade, embora em proporções variáveis. 28 De acordo Davis & Oliveira (1994, p. 84): Para que a interação professor-aluno possa levar à construção de conhecimentos, a interpretação que o professor faz do comportamento dos alunos é fundamental. Ele precisa estar atento ao fato de que existem muitos significações possíveis para os comportamentos assumidos por seus alunos, buscando verificar quais delas melhor traduzem as intenções originais. Cabe ressaltar aqui, também, que o professor necessita compreender que os aspectos da sua própria personalidade (desejos, preocupações e valores) influem em seu comportamento ao longo das interações que ele mantém com a classe. Gabriel Chalita (2004) acredita que a relação entre mestre e aprendiz deve ser de Sensibilidade, respeito e afeto. Para Albuquerque (1999 apud TIBA, 1996), o professor tem que ser, antes de tudo, um “emocionador”, seja por conta própria, seja recorrendo a terceiros no sentido de proceder as aulas ou intercalá-las com recursos de emoção, caso queira tornar, realmente, sua aula atraente, agradável e descontraída. Além disso, considera-se importante lembrar que um dos trabalhos mais importantes a serem desenvolvidos pelo professor junto aos seus alunos é, portanto, motivá-los. Pois como diz Davis & Oliveira (1994, p. 84) A motivação para aprender nada mais é do que o reconhecimento, pelo indivíduo, de que conhecer algo irá satisfazer suas necessidades atuais e futuras. Ela também pode ser encarada como um processo psicológico em construção. A aprendizagem é facilitada quando o indivíduo conta com informações sobre o próprio desempenho. Conhecendo a natureza dos erros cometidos ou dos acertos realizados. 29 3. NOVAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: A ESCOLA COMO MEDIADORA NESSE RELACIONAMENTO Para Tiba (1996) a disciplina escolar é um conjunto de regras que devem ser obedecidas para o êxito do aprendizado escolar. Portanto, ela é uma qualidade de relacionamento humano entre o corpo docente e os alunos em uma sala de aula e, conseqüentemente, na escola. Como em qualquer relacionamento humano, na disciplina é preciso levar em conta as características de cada um dos envolvidos: professor, aluno e escola. Na acepção de Tiba (1996, p. 99) o professor é essencial para a socialização comunitária. Tem basicamente quatro funções: 1. Professor propriamente dito – para poder ensinar, é necessário saber que o que se ensina. Isso se aprende no currículo profissional. O professor precisa também, conseguir transmitir o que se sabe. Pode ser um comunicador nato ou vir a desenvolver essa qualidade pela própria experiência. 2. Coordenador do grupo de alunos – esta função não lhe é habitualmente ensinada no currículo. Exige um conhecimento mínimo de dinâmica de grupo e noções básicas de psicologia para manter a autoridade de coordenador. Sala de aula não é consultório, escola não é clínica. Portanto, , na função de coordenador em classe, o professor tem de identificar as dificuldades existentes na classe para poder dar um bom andamento à aula. 3. Membro do corpo docente – um professor pode ouvir a reclamação de um aluno sobre outro professor e fazer chegá-la ao envolvido para que este possa tomar alguma providência no sentido de responder adequadamente à reclamação. Seria falta de lealdade ficar sabotando os colegas perante os alunos. Os professores devem se ajudar mutuamente, como fazem os 30 estudantes entre si. Se muitos alunos queixam-se de um único professor, é sinal de que algo está errado. A única forma de solucionar um problema é identificando o erro. Como todo ser humano, o professor também pode estar errado. O fato de ser professor não é garantia de estar sempre certo. 4. Empregado de uma instituição – como todo empregado, o professor tem direito e obrigações. Eventuais insatisfações ou desavenças empregatícias devem ser resolvidas nos canais competentes. Não podem ser descarregadas nos alunos. Freqüentemente, eles nada têm a ver com o tal problema. Os alunos correm o risco de ser manipulados pelo professor em virtude da própria posição de poder que ele exerce na classe. O aluno é também peça-chave para a disciplina escolar e o sucesso do aprendizado. Atualmente, a maior dificuldade que encontra para estudar é a falta de motivação (TIBA, 1996). O sistema de primeiro e segundo graus é aprovativo, o que estimula somente o estudo para passar de ano, com conhecimentos, muitas vezes, descartáveis após a prova. Já o vestibular para a faculdade é um sistema competitivo e depende da sabedoria, portanto a motivação para estudar é acumular sabedoria, bem diferente do que atingir uma média 5 para não repetir de ano. Para Tiba (1996, p. 101), a escola também interfere na disciplina. Classes muito barulhentas, onde ninguém ouve ninguém, salas em que faça calor intenso, alagadas ou sem condições de acomodar todos os estudantes são locais pouco prováveis para se conseguir uma boa disciplina. No entanto, a condição ambiental que mais prejudica é o estado psicológico. Uma escola em crise, as greves e os conseqüentes conflitos entre grevistas e fura-greves, as brigas entre classe e professor e aulas durante grandes eventos populares são condições que dificultam o aprendizado. Um professor que trabalha numa instituição que sempre protege o aluno, seu cliente econômico, independentemente do fato de este ter ou não razão, 31 não tem o respaldo da instituição quando precisa. 3.1. Estimulando a Participação Como a vida do jovem é bastante restrita a seus próprios interesses, com freqüência o professor precisa estimulá-lo a amplia seu universo, a buscar notícias além do seu “mundinho”. Como diz Tiba (1996, p. 107) Ao solicitar que traga manchetes de jornais e revistas pertinentes ao tema da aula, o professor está convidando o aluno a participar da elaboração do prato, o que aumenta seu interesse e torna a matéria mais apetitosa. Considera-se que o professor tem um papel essencial como fonte emissora do conhecimento que os alunos captam com a informação. Alguns estudantes adoram ou detestam uma certa matéria justamente por causa do professor. Tiba (1996), afirma ainda que os requisitos para um professor ser adorado é combinar senso de humor e movimentação cênica, estabelecer o limite entre o adequado ou inadequado, saber ouvir e exigir quando necessário. Com coordenador de grupo, ele tem uma autoridade a ser exercida, que inclusive é esperada pelos alunos. Na falta dela, se deixar tudo por conta dos estudantes, a classe debanda. 3.1.1. A Motivação e o Aluno O tema motivação ligado à aprendizagem está sempre em evidência nos ambientes escolares, impelindo professores a se superar ou fazendo-os recuar, chegando à desistência nos casos mais complexos. Porém ela tem um papel muito importante nos resultados que os professores e alunos almejam. 32 A motivação pode ser entendida como um processo e, como tal, é aquilo que suscita ou incita uma conduta, que sustenta uma atividade progressiva, que canaliza essa atividade para um dado sentido (BALANCHO, 1998). Nesse mesmo caminho, Louis Not (1993), quando afirma que toda atividade requer um dinamismo, uma dinâmica, que se define por dois conceitos: o de energia e de direção. No campo da psicologia, esse dinamismo tem sua origem nas motivações que os sujeitos podem ter. Hoje já se sabe que a motivação é algo visceral, um sentimento, ou se tem ou não se tem. Isso não quer dizer que não se possa fazer nada para que as pessoas consigam vivenciá-la.Cabe, aqui, fazer uma diferenciação entre interesse e motivação. As coisas que interessam, e por isso prendem a atenção, podem ser várias, mas talvez nenhuma possua a força suficiente para conduzir à ação, a qual exige esforço de um motivo determinante da nossa vontade. O interesse mantém a atenção, no sentido de um valor que deseja. O motivo, porém, se tem energia suficiente, vence as resistências que dificultam a execução do ato. Quantas vezes o professor prepara uma atividade que ele achou que prenderia a atenção de seus alunos, que os levaria adiante, que os faria buscar as informações que eram necessárias, porém, ao executá-la, não conseguiu o envolvimento que esperava deles. Nem sempre os alunos percebem o valor dos trabalhos escolares, pois, muitas vezes, não conseguem compreender a relação existente entre a aprendizagem e uma aspiração de valor para a sua vida. O que faz com que eles não se envolvam no trabalho. As pessoas podem perder a motivação, quando as necessidades básicas não são satisfeitas, desde fisiológicas até as do ego. Para Maslow (apud HERSEY; BLANCHARD, 1986) o comportamento é ditado por motivos diversos, resultantes de necessidades de caráter biológico, psicológico e social, hierarquizados como uma pirâmide (figura 1). 33 Figura 1 - Hierarquia das Necessidades de Maslow Fonte: Harsey; Blancard, 1986 Na base da pirâmide, encontram-se as necessidades fisiológicas, como moradia, alimento, roupa. Tendem a ser mais intensas, enquanto não forem satisfeitas; são as necessidades básicas para a subsistência. À medida que essas necessidades são satisfeitas, a motivação direciona-se para outra necessidade e passa a dominar o comportamento da pessoa. Assim o é para todos os níveis da pirâmide. A seguir, vem a necessidade de segurança, essa é essencialmente, a necessidade de estar livre do medo, de perigo físico e da privação das necessidades fisiológicas básicas, pensa no futuro. Dito de outro modo, é a necessidade de autopreservação. Satisfeitas as necessidades fisiológicas e de segurança, surge a social ou de participação. Como o homem é um ser social, precisa ter um grupo de convívio em que é aceito e desempenha um papel. Porém esse papel não é qualquer um, surge, então a necessidade de estima, tanto a auto-estima como o reconhecimento pelos outros. A satisfação dessa necessidade produz sentimentos de confiança em si mesmo, de prestígio, de poder, de controle. Quando não satisfeita pode produzir comportamento destrutivo ou imaturo para chamar atenção. O 34 indivíduo torna-se rebelde, pode negligenciar seu trabalho ou discutir com os companheiros. Finalmente vem a necessidade de auto-realização que é essencialmente o sentimento de maximizar seu próprio potencial, seja qual for. Um músico precisa tocar música, um poeta precisa escrever, um jogador de futebol precisa jogar. A maneira como se expressa pode mudar no decorrer da vida. Um atleta que deixa de sê-lo e deseja ser técnico, por exemplo. É importante notar que essa pirâmide não se aplica universalmente, mas pode ser empregada em muitos casos. Outra questão é que as necessidades não precisam ser satisfeitas totalmente antes de surgir outro nível de satisfação. O que ocorre é que há áreas de contato entre elas. A pirâmide tem como característica importante a visão de um indivíduo contemplado em seu todo, daí a importância de sua aplicabilidade na escola. Uma criança cujos sentimentos de segurança e senso de pertencer estão ameaçados por divórcio pode ter pouco interesse em aprender a dividir frações (WOOLFOLK, 2000). Do ponto de vista humanístico, motivar os alunos significa estimular seus recursos interiores, seu senso de competência, de auto-estima, de autonomia e de auto-realização. 3.2. Como fazer avaliações Segundo Saul (1994, p. 61) “A avaliação é uma constante em nosso diaa-dia”. Não aquela que se faz ou que se está comprometido a fazer quando se encontra na Escola, mas um outro tipo, como aquele em que se avaliam impressões e sentimentos. 35 Sabe-se que na ação escolar, a avaliação incide sobre ações ou sobre objetos específicos - no caso, o aproveitamento do aluno ou o plano de ação. A avaliação, portanto, não pode ser confundida, como por vezes se faz, com o momento exclusivo de atribuição de notas ou com momentos em que se está analisando e julgando o mérito do trabalho que os alunos desenvolveram. Vale dizer que a avaliação recai sobre inúmeros objetos, não só sobre o rendimento escolar. Portanto, além de ser uma atividade associada intrinsecamente à experiência cotidiana, a avaliação, quando se formaliza, é considerada de várias maneiras. A própria literatura educacional aponta diversos tipos de avaliação; por isso há quem se refira a ela como sendo "um casaco de várias cores" (AZEVEDO, 1980), figuradamente, justamente para mencionar essa variedade - desde os tipos mais conhecidos, como avaliação da aprendizagem escolar ou do rendimento escolar, até as modalidades de avaliação de cursos, programas, projetos, currículos, sistemas educacionais, políticas públicas. Segundo Tiba (1996) existem outras formas de auxiliar o aluno. O atual sistema de avaliação educacional é altamente inadequado, prejudica muito o professor e favorece o tipo de aluno que só estuda para as provas. Nas avaliações escritas, o estudante se limita a reproduzir o que o professor falou. O professor deve investir na formulação de perguntas que obriguem o aluno a responder com as próprias palavras, demonstrando o conhecimento adquirido sobre a matéria. 3.3. A responsabilidade de cada educador Para Tiba (1996) é dentro de casa, na socialização, familiar, que um filho é treinado e adquire, aprende e absorve a disciplina para, num futuro próximo, 36 tornar-se uma pessoa disciplinada. Seus maiores treinadores, professores, mestres e modelos são os pais ou alguém que cative a sua admiração. Na escola, com as “tias”, depois com os professores, orientadores e diretores, ele aprende as regras escolares e comunitárias. O contexto escola é menos permissivo e proporciona menor envolvimento e desgaste afetivo que o meio familiar. Suas normas e as conseqüências do desrespeito a elas são mais claras e definidas. A sociedade praticamente não ensina, somente sinaliza as regras a serem obedecidas na esperança de que cada cidadão tenha suficiente preparo (familiar e escolar) para viver nelas. Suas leis estão escritas e as contravenções são penalizadas sem os atenuantes escolares e afetivo clima familiar (TIBA, 1996). 3.4. Mediação da aprendizagem Os alunos vêem, na relação professor/aluno, a relação ensino/aprendizado, sendo que essa posição é instituída pela sociedade que coloca os alunos e os professores em alturas diferentes no processo de aprendizagem. Está consolidado que quem aprende é o aluno e quem ensina é o professor. Se a dinâmica muda, há o surgimento de conflitos e de cobrança de papéis. Essa posição parece ser óbvia quando se percebe que a mediação do adulto acontece de modo espontâneo sobre as crianças (VYGOSTKY apud FONTANA, 2000). Na posição anterior, um domina os conceitos e o outro tem de aceitá-los, porém quando a criança vai à escola, ela já domina conceitos espontâneos, e a escola propõe que ela passe a dominar conceitos sistematizados. Para que isso ocorra, há a necessidade de que aconteça a articulação e a transformação recíproca. Professor e aluno têm de atuar de modo diferente no processo de aprendizagem, não cabe mais somente transmissão de 37 conceitos. A mediação pedagógica, muitas vezes, é subestimada, originando atividades que se perdem, pois não são identificados os momentos de mediação e como essa deve ser efetuada. Diante dessa situação, propõe-se que seja “explicitado como pode ser entendida a mediação pedagógica em um ambiente de aprendizagem”. Por mediação pedagógica entendemos a atitude, o comportamento, do professor que se coloca como facilitador, incentivador ou motivador da aprendizagem, que se apresenta com a disposição de ser uma ponte entre o aprendiz e sua aprendizagem não uma ponte estática, mas uma ponte 'rolante', que ativamente colabora para que o aprendiz chegue aos seus objetivos. É a forma de apresentar e tratar um conteúdo ou tema que ajuda o aprendiz a coletar informações, relacioná-las, organizá-las, manipulá-las, discuti-las e debatê-las com seus colegas, com o professor e com outras pessoas (interaprendizagem), até chegar a produzir um conhecimento que seja significativo para ele, conhecimento que se incorpore ao seu mundo intelectual e vivencial, e que o ajude a compreender sua realidade humana e social, e mesmo a interferir nela. A mediação da aprendizagem, nessa perspectiva, põe em evidência o papel de sujeito do aluno e fortalece o seu papel ativo nas atividades que lhes permitirão aprender, bem como renova o papel do professor e permite a entrada de novos materiais nos ambientes de aprendizagem. Há, portanto, a necessidade de variar as estratégias para envolver o aprendiz, como para responder aos diferentes ritmos e formas de aprendizagem, pois nem todos aprendem do mesmo modo e no mesmo tempo (GARDNER, 2000). A atuação de alunos e professores tem de mudar nas escolas, e é necessário que elas se envolvam nas transformações globais e locais das 38 sociedades, pois se não o fizerem, certamente ficarão à mercê unicamente do mercado, e esse obrigará que ocorra a mudança que ele determinar. Hoje verifica-se, crescentemente, que as sociedades necessitam de pessoas que saibam aprender, desaprender e reaprender. Porém a escola tem papel decisivo nessa situação, pois tem de oferecer condições para que os alunos trabalhem essas habilidades. Como alerta Freire (1975, p.66), Educadores e educandos se arquivam na medida em que, nesta distorcida visão da educação, não há criatividade, não há transformação, não há saber. Só existe saber na invenção, na reinvenção, na busca inquieta, impaciente, permanente, que os homens fazem no mundo, com o mundo e com os outros. Se a sociedade necessita de novos profissionais que saibam se inovar continuamente, a escola também precisa se atualizar. Caso contrário, incidirá em contradição performativa. Há que se tomar um cuidado especial quando se trata de inovação, pois toda tentativa de atualização pode esbarrar na superficialidade de muitos e nas interpretações deformantes de outros, sobre determinadas teorias e situações. Como pode ser demonstrado nas palavras de Gardner (2000, p.102): [....] Meu ponto de ebulição foi atingido quando vi um quadro em que grupos étnicos e raciais da Austrália eram listados ao lado da inteligência específica atribuída a cada um (bem como da deficiência intelectual correspondente). Esta gritante estereotipação racial e étnica contrariava diretamente meu conhecimento científico e ofendia minha ética pessoal. Juntamente com outros críticos, fui a um noticiário de televisão e denunciei o programa educativo. É um alívio saber que depois o programa foi eliminado do currículo estadual. Assim posto em brios identifiquei uma série de mitos sobre as inteligências múltiplas [...] Portanto, a mediação passa pela atualização, e pela competência. Há a necessidade de se conhecer o que deve ser substituído, mas, mais ainda o que será o substituto, para que não se fique apenas na superficialidade, ou, pior ainda, na deformação das situações que foram propostas. 39 3.5. Os alunos como sujeitos do processo de conhecimento conforme Paulo Freire Freire parte do princípio de que o ser humano é inconcluso e tem uma vocação natural para ser mais. O reconhecimento de sua inconclusão o transforma em um ser histórico, social, cultural e político e gera a mobilização e a responsabilidade ética frente aos acontecimentos. Não existe uma predeterminação que garanta que os seres humanos serão justos, respeitosos e éticos; justamente porque se tornaram éticos, podem romper com a ética. Essas posturas são construídas, cotidianamente, na busca de ultrapassar seus limites e de ser mais. Por isso, a educação jamais deve prescindir da formação ética, sendo um dos seus imperativos: o respeito à autonomia e à dignidade dos educandos. A busca por sua libertação leva-o a inserir-se na realidade e a se fazer na história, num permanente processo social de busca. Os seres humanos que se fecham ao mundo e aos outros transgridem o impulso natural da incompletude, de busca por ser mais e humanizar-se (FREIRE, 1996, p. 6). Se a vocação ontológica do ser humano é a sua libertação, a educação não pode ser direcionada à submissão e à adaptação do indivíduo à realidade que o cerca; pelo contrário, a educação deve levar à luta política pelo conhecimento e transformação da realidade. A contribuição da educação para a emancipação social e autonomia das crianças, dos adolescentes e de suas famílias depende de a proposta educativa ser orientada por uma concepção bancária ou libertadora. “Na concepção bancária, a educação é um ato de depositar, transferir, transmitir valores e conhecimentos” (FREIRE, 1975, p. 67). O educador é aquele que educa, que sabe, que pensa, enquanto os educandos não sabem, não pensam e escutam docilmente o conteúdo transmitido. 40 Para Freire (1975), a educação bancária é um obstáculo para a mudança da realidade, porque minimiza ou anula a capacidade crítica dos educandos e gera dependência; dessa forma, são vistos como expectadores do processo histórico e não como seus criadores. Ele propõe uma educação para a libertação, estimuladora da reflexão, da ação dos educandos sobre a realidade, de sua autonomia e independência. A educação libertadora é “democrática, desveladora, desafiadora, um ato crítico de conhecimento, de leitura da realidade, de compreensão de como funciona a sociedade” (FREIRE & SHOR, 1982, p. 51), não apenas no âmbito da escola, mas também no interior dos movimentos sociais, uma ação que envolve a participação e faz do diálogo um meio do educando identificar suas atitudes mágicas, ingênuas e fatalistas diante do mundo e dos fatos. O ato de conhecer leva ao pensamento crítico e desperta a população pobre para querer melhorar suas condições de vida. É um recurso para a mudança porque abre espaço para o pensamento de oposição, para o movimento de resistência e de questionamento. O cerne da educação libertadora não está no método e nas técnicas utilizadas, mas numa relação diferente que se estabelece com o conhecimento e com a realidade, em que o mundo escolar (o das letras) não se dissocia do mundo dos fatos, da vida, das lutas, da discriminação e das crises cotidianas. A educação libertadora é um momento em que as pessoas são estimuladas a se mobilizar ou a se organizar para adquirir poder. É uma forma de comunicação que provoca o outro a participar, incluindo-o na busca ativa. Uma educação que se coloca a favor da emancipação precisa articular os processos educativos que ocorrem na sala de aula e nas ONGs, à luta da sociedade civil pela garantia dos direitos civis, sociais e políticos e pela conquista da eqüidade e justiça sociais. Quando a educação se articula à mobilização e organização da sociedade, ocorrem mudanças na autonomia e capacidade decisória dos educandos. 41 Embora a educação libertadora possa mudar a compreensão da realidade, não significa que (necessariamente) mude a realidade. Somente a ação política pode transformar a sociedade, o que exige não apenas o estudo crítico em sala de aula, mas a participação dos educandos no processo histórico e na luta por sua libertação. 42 CONCLUSÃO Sabe-se que por mais liberal que o professor se mostre na práxis pedagógica, é ele que regula o tempo, o espaço e os papéis da relação professor-aluno. Cabe a ele, portanto, a iniciativa de criar e/ou aprimorar o ambiente necessário para o exercício da atitude dialógica, procurando despertar no aluno a afetividade. É através dela que o professor poderá atingir o corpo e a mente do aluno, seu pensamento e sua imaginação, suas necessidades intelectuais e afetivas. Refletir sobre afetividade nessa relação se faz necessário, pois é imprescindível para o desenvolvimento do aluno na escola. Será que a relação professor-aluno, ultrapassa os limites puramente acadêmicos e provoca nos elementos envolvidos, formas distintas de aceitação do “eu” e do “outro” contribuindo para a existência de laços afetivos entre os mesmos? A relação professor-aluno acaba ultrapassando os limites puramente acadêmicos, pois alunos são pessoas constituídas pro tramas que causam reações aos seus interlocutores, sendo o professor um deles. Cabe ao professor, portanto, a iniciativa de criar e/ou aprimorar o ambiente necessário para que haja o exercício da atitude dialógica. É através dela que o professor poderá atingir o corpo e a mente do aluno, seu pensamento e a sua imaginação, suas necessidade intelectuais e afetivas. Considera-se que o afeto no processo de ensino-aprendizagem é de extrema importância pois, a educação não pode ser vista como um depósito de informações, há muitas formas de transmissão de conhecimento, mas o ato de educar, só se complementa com o amor. Ao longo do desenvolvimento do aluno, percebem-se fatores que contribuem para sua formação enquanto ser social. Refletir sobre isso faz parte do processo pedagógico de cada um de nós professores, educadores 43 comprometidos com o desenvolvimento psicossocial do indivíduo que se está preparando para inserir numa sociedade. Mas relações vividas em sala de aula, costuma surgir hostilidade do aluno em relação ao professor, tanto pela falta de êxito do jovem, pela severidade do professor por motivos pessoais, quanto por problema afetivo. Determinada conduta em relação ao professor pode ocorrer ainda em função dos seus colegas, para chamar a atenção por vaidade e por sentimento de inferioridade. Diante de situações conflitantes em sala de aula com os alunos geradas por uma dessas condutas, se o professor recebe essas atitudes com calma e não a toma como afronta pessoal, terá a possibilidade de controlar a manifestação de suas reações emocionais, assim encontrando o caminho para solucioná-las. O importante é entender que no decorrer do processo de desenvolvimento a afetividade é como “energia” que impulsiona as ações, ficando clara a importância da relação entre professor e aluno de modo que ambos convivam em um ambiente harmonioso e que a aprendizagem possa fluir com mais facilidade havendo maior rendimentos e interação entre ambos. Cabe o professor investigar e conhecer mais particularmente o seu aluno, o relacionamento entre professor e aluno deve ser de amizade, de respeito mútuo enfim, não se consegue desenvolver qualquer tipo de aprendizagem em um ambiente hostil. Para tanto, a intervenção do orientador educacional, acontece no sentido de ajudar aos educadores e educandos para que o processo ensino-aprendizagem ocorra de maneira agradável. A principal conclusão que se pode tirar é de que o professor confirma o valor do procedimento utilizado na modificação das crenças, concepções e atitudes das professoras sobre a relação que cotidianamente estabelecem com seus alunos, particularmente com aqueles que consideram como “problema”. Os aspectos delineados nesta pesquisa se propõem a motivar os educadores a auxiliá-lo a exercer com mais maestria a sua missão. 44 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ABREU, Maria C. & MASETTO, M. T. O professor universitário em aula. São Paulo: MG Editores Associados, 1990. ARAÚJO, Sonia Maria Dutra de. Relação professor-aluno: espaço de edificação do homem. In Tema Educação, Rio de Janeiro. v. 9, n. 25, p. 3-8, 2003. AZEVEDO, Maria Amélia. Avaliação Educacional: medo e poder!!! In Educação e Avaliação, São Paulo, Cortez, 1980. BALANCHO, M. J. S.; COELHO, F. M. Motivar os alunos, criatividade na relação pedagógica: conceitos e práticas. 2ed. Portugal: Texto, 1996. BLANCHARD, Ken. O coração de um líder: reflexões sobre a arte de influenciar pessoas. Campinas: United Press, 1998. BORGES, Pedro F. O professor da década de 90. In Simpósio de qualidade total na Universidade Mackenzie, São Paulo, 1995. BUBER, Martin. EU e TU. São Paulo: Moraes, 1974. CHALITA, Gabriel. Pedagogia do amor. São Paulo: Gente, 2004. CUNHA, M. I. O bom professor e sua prática. Campinas: Papirus, 1994. DAVIS, Cláudia & OLIVEIRA, Zilma de. Psicologia Educação. 2ed. São Paulo: Cortez, 1994. D'OLIVEIRA, M. H. Analisando a Relação Professor-Aluno: do Planejamento à sala de Aula. São Paulo: CLR Balieiro, 1987. 45 ELIAS, M. D. C. Pedagogia Freinet – Teoria e prática. São Paulo: Papirus, 2000. FONTANA, Roseli A. Cação. Mediação pedagógica na sala de aula. 3.ed. Campinas: Autores Associados, 2000. FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. ______ & SHOR, Ira. Medo e ousadia: O cotidiano do professor. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982. ______. Pedagogia do oprimido. 3ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1975. GADOTTI, M. Convite à leitura de Paulo Freire. São Paulo: Scipione, 1999. ______. Comunicação Docente. 3ed. São Paulo: Loyola, 1985. GARDNER, Howard. Inteligência um conceito reformado. Rio de janeiro: Objetiva, 2000. GRISI, R. Didática mínima. 3ed. São Paulo: Nacional, 1971. GUDSDORF, Georges. Professores para quê? Para uma Pedagogia da Pedagogia. São Paulo: Martins Fontes, 1987. HERSEY, Paul.; BLANCHARD, K. H. Psicologia para administradores: a teoria e as técnicas de liderança situacional. São Paulo: EPE, 1986. LIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo: Cortez, 1994. ______. Democratização da escola pública. 20ed. São Paulo, Edições. Loyola, 2005. MASSETO, M. Didática: A aula como centro. São Paulo: FTD. 1996. 46 MIZUKAMI, Maira. G. N. Ensino: As abordagens do Processo. São Paulo: EPU, 1986. NOT, Louis. Ensinando a aprender: elementos de psicodidática geral. São Paulo: Summus, 1993. PIAGET, Jean. Inteligência e afetividade. Buenos Aires: Aique, 2001. RODRIGUES, A. A análise de necessidades na formação de professores. Portugal: Porto. 1993. SAUL, Ana Maria Avela. A Avaliação Educacional. In Série Idéias, n. 22. São Paulo: FDE, 1994. p. 61-68 SAVIANI, Derveval. Escola e Democracia. 25ed. São Paulo: Cortez Editora, 1991. SIQUEIRA, Denise de Cássia Trevisan. Relação professor-aluno: uma revisão crítica. Disponível em: http://www.espacoacademico.com.br.htm. Acesso em mar/2005. TIBA, Içami. Disciplina: o limite na medida certa. São Paulo: Editora Gente, 1996. ______. Ensinar Aprendendo: como superar os desafios do relacionamento professor-aluno em tempos de globalização. São Paulo: Gente, 1998. VASCONCELLOS, Celso dos S. Os desafios da indisciplina em sala de aula e na escola. In Série Idéias, n. 28. São Paulo: FDE, 1997. p. 227-252. VYGOSTSKY, Lev S. A Formação Social da Mente. 5ed. São Paulo: Martins Fontes, 1994. WOOLFOLK, Anita E. Psicologia da educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000. ANEXOS ÍNDICE INTRODUÇÃO 08 CAPÍTULO I O PAPEL DO PROFESSOR NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM 1.1. Uma Nova Visão do Professor 1.2. A Conscientização do Professor e a Necessidade da Inovação Educacional 1.3. As tendências pedagógicas na prática escolar 10 12 15 17 CAPÍTULO II ENSINAR APRENDENDO... UM ENFOQUE DA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO NO COTIDIANO ESCOLAR 2.1. A Indisciplina na Escola 2.2. A Importância das Ligações Afetivas 2.1.1 Motivação e Aprendizagem 20 24 26 27 CAPÍTULO III NOVAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: A ESCOLA COMO MEDIADORA NESSE RELACIONAMENTO 3.1. Estimulando a Participação 3.1.1. A Motivação e o Aluno 3.2. Como fazer avaliações 3.3. A responsabilidade de cada educador 3.4. Mediação da aprendizagem 3.5. Os alunos como sujeitos do processo de conhecimento conforme Paulo Freire 29 31 31 34 35 36 39 CONCLUSÃO 42 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 44 ANEXOS 47 ÍNDICE 48 FOLHA DE AVALIAÇÃO UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PROJETO A VEZ DO MESTRE Pós-Graduação “Lato Sensu” Título da Monografia: A Importância da Afetividade na Relação Professor-Aluno no Ensino Fundamental Data da Entrega: 28 de janeiro de 2006 . Avaliação ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ Avaliado por: Nilson Guedes de Freitas Grau _______________ Niterói, 28 de janeiro de 2006. ANEXO 1 ATIVIDADES CULTURAIS