SOLENIDADE DE SANT’ANA
26.07.2015
Na Sagrada Escritura não há a menor referência aos pais
da Virgem Maria. A notícia de que os pais de Maria se chamavam
Ana e Joaquim nos veio através de um Evangelho apócrifo do
século II, muito difundido sobretudo no Oriente, o chamado
“Protoevangelho de Tiago”, que transmite informações históricas e
lendárias, difíceis de separar. Segundo esse Evangelho, Maria
teria sido levada pelos pais ao Templo de Jerusalém aos três
anos de idade e consagrada a Deus. Conforme esse antigo texto,
Ana (cujo nome em hebraico, Hannah, quer dizer “graça”), era
filha de um sacerdote e se casou com Joaquim, um galileu
descendente de Davi. Ana viveu 69 anos. Seu corpo permaneceu
na Terra Santa até ser levado por alguns monges ao sul da
França, à cidade de Apt, cuja catedral é a ela dedicada (como
também a nossa, em Ponta Grossa). Mais tarde essas relíquias
foram repartidas – como muitas vezes acontece – e a maior delas
é o crânio, conservado na Sicília, na Itália, onde é levado
solenemente em procissão no dia de sua Festa. Há alguns anos
nosso Mosteiro recebeu numerosas relíquias do Mosteiro de
Praglia, na Itália (fundada entre os séculos XI e XII), incluindo um
pequeno fragmento dos ossos de Sant’Ana. É preciso lembrar que
esse costume de se venerar as relíquias dos santos é
antiquíssimo na Igreja. Os primeiros cristãos já celebravam a
Eucaristia sobre o sepulcro de um mártir. Até hoje, para um altar
ser consagrado, deve conter, como um sepulcro, as relíquias de
um santo. O sentido disso é que esses corpos se santificaram
inteiramente pela graça divina, identificando-se com Jesus Cristo
(não é somente a alma que é santificada, mas o corpo também), e
um dia serão glorificados na ressurreição.
A escassez de notícias sobre Sant’Ana não impediu que
fosse sempre muito estimada pela piedade do povo cristão. Já no
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século VI o imperador Justiniano fez construir em Constantinopla
uma igreja em sua honra. Desde então, há um grande número de
igrejas, dioceses e cidades que têm Sant’Ana por padroeira –
entre as quais a nossa cidade de Ponta Grossa – é por isso que
celebramos hoje a sua Solenidade na liturgia, mesmo sendo um
domingo.
Mas o que dá real importância a Sant’Ana e São Joaquim é
que foram os pais da Virgem Maria e, portanto, avós de Jesus
Cristo. Embora não apareçam na Bíblia na lista genealógica de
Jesus (a genealogia apresentada é a de José, e não de Maria),
Sant’Ana e São Joaquim fizeram parte daquele grupo de pessoas
que tornaram possível a encarnação do Filho de Deus. Portanto, é
também graças a esse casal de santos que a Redenção da
humanidade pôde se consumar. Deus utiliza-se de instrumentos
humanos – algumas vezes muito frágeis – para realizar os seus
mais altos desígnios.
Além disso, se Maria foi quem foi, é também porque teve
os pais que teve. Ela foi educada por esses pais. É certo que a
santidade excepcional da Virgem se deve aos privilégios
especiais e únicos que recebeu de Deus, mas não há dúvida de
que Sant’Ana e São Joaquim exerceram grande influência sobre
ela – como todos os pais exercem grande influência sobre seus
filhos,
sobre
seu
caráter,
sua
personalidade
e,
conseqüentemente, sobre a sua espiritualidade. Pelos seus frutos
os conhecereis (...). Toda árvore boa produz bons frutos (Mt
7,16.17), disse Jesus certa vez. Conhecendo o fruto incomparável
que é a Virgem, Mãe de Deus, podemos inferir a dignidade da
árvore da qual é proveniente, constituída pelos seus pais. Por
esse motivo os Santos Ana e Joaquim são modelos de vida cristã
que gera santos para Deus.
Eles são principalmente um precioso exemplo para os
casais, num tempo como o nosso de intensa desagregação da
família; tempo que pretende estabelecer um amor provisório, sem
compromisso, sem fidelidade e sem sacrifício pelo outro (como se
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isso tudo merecesse realmente o nome de amor!). Sant’Ana e
São Joaquim recordam ainda o sagrado dever dos pais de
transmitir a fé a seus filhos, sendo eles os primeiros
evangelizadores. Maria recebeu a fé no Deus de Israel
especialmente através de seus pais.
Que Sant’Ana e São Joaquim, que nos deram a Virgem
que nos deu Jesus, nos ajudem a gerar no Espírito novos filhos
para Deus e para a Sua Igreja.
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ade de São Joaquim e Santa Ana