DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} 1 DOSSIÊ IPHAN DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} {Festa de Sant„Ana de Caicó} 2 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} PRESIDENTE DA REPÚBLICA Luiz Inácio Lula da Silva MINISTRO DA CULTURA João Luiz Silva Ferreira PRESIDENTE DO IPHAN Luiz Fernando de Almeida SUPERINTENDENTE IPHAN-RN Jeanne F. Leite Nesi FOTOGRAFIAS ANTIGAS Acervo Digital – Museu do Seridó FOTOGRAFIAS Maria Iglê de Medeiros (fotos) PROCURADOR-CHEGE FEDERAL Antônio Fernando Alves Neri Vilma Vitor Cruz (fotos) DIRETORA DO DEPTº DE PATRIMÔNIO IMATERIAL Márcia Genésia de Sant'Anna CONSULTORIA IPHAN – INVENTÁRIO Romero de Oliveira COORDENADORES DO INRC – SERIDÓ POTIGUAR Marcos Vinícius Garcia Julie Cavignac (Formas de Formas de Expressão) COORDENAÇÃO GERAL DO INVENTÁRIO DA CULTURA DO SERIDÓ Muirakytan Kennedy (Celebrações) Maria Isabel Dantas (Ofícios e Modos de Fazer) Julie Cavignac (DAN/UFRN) Paula Sônia de Brito (Lugares) Jeanne F. Leite Nesi (IPHAN/RN) CONSULTORIA EM ANTROPOLOGIA Cyro H. de Almeida Lins CONSULTORIA EM HISTÓRIA Ana Cristina Oliveira 3 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} PESQUISADORES (BOLSISTAS) Gracineide Pereira dos Santos Thaís Fernanda S. De Brito Ana Nery Silva de Oliveira Gilson José R. Junior Helder Almeida Flávio Rodrigo F. Ferreira Helder Macedo FOTOS DE CAPA E CONTRA CAPA Túlio Gabriel de Cortês José Antônio F. De Melo Iracema Nogueira Batista Capa: Imagem de N.S. de Sant‟Ana durante a procissão (Foto: Acervo do IPHAN) Juarez de Brito M. Junior Luis Eduardo de N. Neto PESQUISADORES (COLABORADORES) Andréa Lúcia V. De Aguiar Alessandro A de Azevedo Contra-capa: Detalhe do Arco do Triunfo da Igreja Matriz (Foto: Acervo do IPHAN) Maria Dolores de A Vicente Maria Lúcia B. Alves Andrey Jonathon de M. Morais Maria Isabel Dantas Marcelo de Freitas Cardoso Ana Zélia Maria Moreira Custódio Olívia Morais de M. Neta Jacinto de Medeiros Paula Sônia de Brito Erivan Ribeiro de Faria Rosenilson da Silva Santos Francimário Vito dos Santos Sebastião Genicarlos dos Santos INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL IPHAN SBN Quadra 2 Bloco F Edifício Central Brasília Cep: 70040-904 Brasília – DF Telefones: (61) 3414.6176, 3414.6186, 3414.6199 Faxes: (61) 3414.6126 e 3414.6198 http://www.iphan.gov.br [email protected] 4 DOSSIÊ IPHAN EDIÇÃO DO DOSSIÊ E EDIÇÃO DE TEXTO José Antônio F. De Melo Cyro H. de Almeida Lins Ana Cristina Oliveira TEXTO DE ABERTURA Romero de Oliveira (IPHAN-PE) TEXTO PRINCIPAL Ana Cristina Oliveira Cyro H. de Almeida Lins Julie Cavignac Maria das Dores Medeiros Maria Isabel Dantas Marta Maria de Araújo Muirakytan Macedo Paula Sonia de Brito Romero de Oliveira {Festa de Sant’Ana} FINALIZAÇÃO DO DOSSIÊ Cyro H. de Almeida Lins Ana Cristina Oliveira REVISÃO DE FICHAS Ana Cristina Oliveira Cyro H. de Almeida Lins AGRADECIMENTOS Diocese de Caicó Paróquia de Sant'Ana de Caicó Museu do Seridó e Casa de Cultura de Caicó Zezinho Vídeo Lydia Brito Fábrica Murielle Tarcisio Salustiano Silva Site Kurtição SEBRAE-CAICÓ REDESIST/IE/UFRJ Associação dos Caminhoneiros de Caicó 5 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} APRESENTAÇÃO Caicó é o maior município do Seridó e a sua povoação começou na Fazenda Penedo, em 1735. O município está localizado na região centro-sul do estado e fica distante cerca 269 km da capital e possui cerca de 60.000 habitantes. A Festa de Sant’Ana de Caicó é um bem cultural da mais alta importância para a vida dos sertanejos do Rio Grande do Norte, e para pessoas que, vindas das mais diversas partes do Brasil e do mundo, afluem para o Seridó Potiguar no período da Festa. São filhos da terra vivendo em lugares distantes, pagadores de promessa, pesquisadores, curiosos, juntando-se à comunidade caicoense e seridoense, Estes elementos, associados a muitos numa troca coletiva de experiências outros, compõem uma espécie de culturais e de fé. Apesar de seu caráter contexto cultural sertanejo, gestado eminentemente religioso, a Festa de durante séculos, no transcorrer de um Sant‟Ana aglutina elementos diversos processo da populações cultura sertaneja, incluindo a que envolveu, ibéricas e sobretudo, ameríndias, indumentária (bordados, chapéus), a principais fontes do amálgama humano culinária filhoses, ali observável. A Festa de Sant‟Ana buchadas), o artesanato (fabricação de possui ainda um forte componente imagens, e produtor de sociabilidades, já que gera madeira), e as mais diversas formas de um clima de revisitação de uma expressão (como a arte de enfeitar memória que, em termos oficiais, já altares e andores e ritos como o “beija”, conta com mais de dois séculos e meio estabelecendo-se uma relação afetiva ininterruptos, mesmo nos anos de fortes com a imagem da Santa). Ela também secas (como nos fins do século XIX). reforça (chouriços, trabalhos a com existência de couro lugares sagrados, como o mítico poço de Sant‟Ana (o “poço que nunca seca”) e o local onde hoje se encontra a matriz. 6 DOSSIÊ IPHAN Introdução A Festa de Sant’Ana de Caicó: uma tradição viva Localizada no semi-árido da {Festa de Sant’Ana} do Seridó e, finalmente, Caicó.1 Possui cultura seridoense. A Festa torna–se expressividade regional nos setores relevante do ponto de vista cultural, agropecuário, educacional e cultural histórico e social, pois é um dos com destaque para o artesanato de principais veículo da memória e da bordados, comidas e bebidas típicas. identidade coletiva, em especial os Celebrada há 259 anos, a Festa de relacionados com as expressões ligadas Sant‟Ana, realizada entre o final de à fé católica. julho e início de agosto, destaca-se entre as múltiplas festas de padroeiro região do Seridó Norte-Riograndense, a por revivificar os laços de solidariedade atual “capital do Seridó” teve a sua e acionar registros específicos da origem em 1687 com a construção da casa Forte do Cuó e, em 1735, com o povoamento da Fazenda Penedo, posteriormente denominada Vila Nova do Príncipe. Em 1890, elevou-se à categoria de cidade, recebendo os nomes de Cidade do Príncipe, Cidade De acordo com Câmara Cascudo (1955), a origem do nome Caicó é indígena. Entre as versões existentes, o nome Caicó seria formado a partir dos termos Acauã e Cuó que servem à designação de acidentes geográficos (rio e serra, respectivamente) da região. Acauã pertence ao idioma tupi, enquanto Cuó, à língua dos Tapuias ou Tarairiús. As populações indígenas identificavam ainda o rio pelo nome de "quei", o que sugere que Caicó seja uma corruptela de "Queicuó", o mesmo que rio do Cuó (Macedo 2005; 2007: 41;). 1 7 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} 8 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} Senhora Doce e Clemente, Mãe da graça e do perdão Abrigai-nos docemente, Dentro em vosso coração! Salve, Sant'Ana gloriosa, Nosso amparo e nossa luz Salve, Sant'Ana ditosa, Terno afeto de Jesus. Vossos filhos desta terra Vos suplicam que sejais O seu refúgio na guerra E sua alegria na paz. (Hino de Sant’Ana . Letra: Palmyra e Carolina Wanderley Música: Manoel Fernandes) 9 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} SUMÁRIO A HISTÓRIA 43 A MISSA DE ENVIO DAS IMAGENS E OS 87 TRANSFORMAÇÕES RECENTES: PEREGRINOS DE SANT’ANA ENCONTRO DE GERAÇÕES, A ILHA DE SANT’ANA 06 APRESENTAÇÃO 49 E COMEÇA A FESTA! ABERTURA 07 INTRODUÇÃO OFICIAL DA FESTA DE SANT’ANA 11 A LENDA DO VAQUEIRO E A CRIAÇÃO 52 PAVILHÃO E FEIRINHA DE SANT’ANA DA CIDADE DE CAICÓ: PRIMÓRDIOS DA CELEBRAÇÃO NOS SÉCULOS XVII E XVIII 56 A CAVALGADA E A CARREATA DE 18 A CONSTRUÇÃO DA CAPELA SANT’ANA: TRADIÇÃO E MODERNIDADE JUNTAS A FESTA DE SANT’ANA COMO OBJETO DE REGISTRO PRIMITIVA E IGREJA MATRIZ: A CONSOLIDAÇÃO DA FÉ EM SANT’ANA 59 MISSA SOLENE, O BEIJA DA IMAGEM 103 ELEMENTOS ESSENCIAIS PARA A DE SANT’ANA E A PROCISSÃO EXISTÊNCIA DA FESTA 69 BAILES, BANQUETES E REENCONTROS: 106 CONCLUSÃO BAILE DOS COROAS E FESTA DA JUVENTUDE 108 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 24 A PASSAGEM DO VISITADOR GERAL E A PROIBIÇÃO DAS CELEBRAÇÕES NOTURNAS 28 ENFIM, A MODERNIDADE: O PROGRESSO E SUA INFLUÊNCIA 73 CELEBRANDO REENCONTROS A FESTA HOJE 76 ARTESANATOS E COMIDAS FESTIVAS: UM PASSEIO PELOS COSTUMES DO SERIDOENSE 39 A ATUAÇÃO DA PARÓQUIA: ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DA FESTA DE SANT’ANA 95 PROFISSIONALIZAÇÃO DA FESTA DE SANT’ANA ANEXOS 116 ANEXO 1 – MAPAS E CROQUIS DA FESTA DE SANT’ANA 118 ANEXO 2 - LINHA DO TEMPO 120 ANEXO 3 – ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES 10 DOSSIÊ IPHAN A {Festa de Sant’Ana} HISTÓRIA 11 DOSSIÊ IPHAN responsável {Festa de Sant’Ana} pela construção dessa que, ao adentrar numa densa mata identidade do povo seridoense. É sagrada, morada de um deus indígena, difícil, porém, separar com precisão o se viu repentinamente atacado por um que é mito do que é história na devoção touro bravo. Diante de tão grande do povo seridoense a senhora Sant‟Ana. perigo, o tal vaqueiro fez um voto à O que se sabe sobre o surgimento dessa prática devotiva, é que ela está associada à criação da cidade de Caicó, que por sua vez também estava muito A senhora Sant‟Ana para o povo seridoense representa não apenas a fé, mas também a tradição e, mais recentemente a modernidade, ela é, antes de tudo símbolo de identidade e união do povo, sua festa, aparece como um grande evento cultural e social, mais ligada aos interesses da coroa portuguesa em colonizar o interior do Brasil. Por toda uma tradição oral e escrita, sabe-se que o surgimento do lugar Caicó está associado à construção de uma capela votiva dedicada à santa. Por essa tradição, conta-se e reconta-se que ela foi erguida por um vaqueiro 12 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} Senhora Sant'Ana de erguer uma igreja, comandante das tropas militares e seus Seridó pela fé do vaqueiro e do senhor se ela o livrasse da fúria incontida ajudantes que combatiam alguns índios (sesmeiro e comandante de tropas) que daquele Salvo que haviam se rebelado. Segundo a adentraram milagrosamente pela Santa, tratou logo cultura local, foi um milagre que “caminhos das águas,” rasgando as de cumprir sua promessa. Os trabalhos motivou a entronização da Senhora distâncias para desafiar o intrincado da de edificação foram iniciados. Ano de Sant´Ana naquela capelinha, erguida caatinga e o solo de pedregulhos, seca sob sol escaldante, a única fonte de sem ostentação, em meio a pedras e áspero e cortante. água disponível era a de um poço no leito cactos da vegetação nativa, já os Em 1683 foi construída a Casa do Rio Seridó. Novamente, o vaqueiro estudiosos referem-se à popularidade da Forte do Cuó, origem da Cidade de clamou pela intercessão da Santa, que santa entre os colonos brasileiros, com Caicó. Os alicerces desta construção culto público celebrado em templos ainda se conservam no Sítio Penedo. religiosos e devoção privada dentro dos Esta Casa Forte foi construída por lares, oratórios iniciativa do Coronel Antônio de domésticos. Modelo de Mãe e Mestra Albuquerque da Câmara, um dos exemplar, Sant‟Ana era tida como primeiros sesmeiros da Região do padroeira dos mineiros, marceneiros, Seridó, densamente proprietários (espargindo indígenas Tapuios (Janduís, Canindés e benções sobre as fazendas) e defensora Pegos ou Paccas). Quando começaram das mulheres casadas, ao protegê-las da a implantação das Fazendas de gado morte súbita de seus maridos. Essa nesta região, os indígenas reagiram devoção venerável foi introduzida no iniciando, dessa forma um conflito que animal selvagem. operou mais um milagre: impediu que o poço secasse. Agradecido, passou a denominá-lo de Poço de Sant´Ana e este, segundo conta a tradição local, nunca mais secou, mesmo quando haviam longas estiagens. A história oficial nos conta que essa primitiva Capela foi erguida em 1695, nas proximidades da Casa Forte do Cuó (ou Acauã), mais ou menos entre os anos de 1683 e 1697, pelo em volta de dos terras nessas terras habitada pelos pelos 13 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} ficaria conhecido como a Guerra dos do Arraial – que deveria chamar-se e expostos criminosos), que era o Bárbaros (1683-1713), travada entre os Queiquó – ocorreu em 1700, porém, símbolo da autoridade da Coroa e a indígenas e os colonizadores que aqui somente em 07 de julho de 1735 na bênção pelo Padre Messias José Pereira chegaram para iniciar o processo de Fazenda da imagem de Sant'Ana. Esta antiga Penedo, foi instalada interiorização dos domínios imagem de Sant'Ana, da coroa de Portugal. Assim, doada pelo cearense em meados do século XVII, Luiz da Fonte Rangel, a coroa portuguesa daria, por encontra-se de pé, até fim, início ao processo de hoje no nicho lateral da interiorização da Capitania Catedral de Sant‟Ana, do Rio Grande, concedendo tombada pelo IPHAN doações de – terras Sesmarias – destinadas basicamente que desde eram 1962. A solenidade foi na Praça a da Capela e da Casa da A Suplicação (Casa da construção de uma capela Fazenda). Em 1788 a dedicada à Sant‟Ana fez povoação seria elevada criação de gado. com que as pessoas que já freqüentavam o local, pudessem fazer sua morada na terra. Segundo o historiador Helder Macedo, a fundação à oficialmente a Povoação do Caicó, com a colocação do pelourinho (colunas de pedra colocadas em lugar público da cidade ou vila onde eram torturados categoria administrativa de Vila, e quase um século depois transformada em Município, mais precisamente em 1868. 14 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} Quanto ao nome da cidade “Caicó”, não designavam o pássaro que dava nome que comprove a existência dessa tribo se sabe ao certo sua origem, o que ao rio e à região. Considerando a na região. podemos afirmar é que existem várias partícula "quei", como sendo "rio", rio A religiosidade é um marco versões. No dicionário da língua Tupi- Acauã seria o mesmo que "Queicuó", e característico do povo seridoense, a Guarani, por exemplo, deriva da língua posteriormente vivência dessa religiosidade, refletia um Cariri e significa "Mato Ralo". Alguns Porém, a versão mais aceita é a do forte historiadores acreditam que a região foi folclorista Luiz da Câmara Cascudo o providencia celestial, a quem se atribuía habitada pelos índios Caiacós, da qual, fala que o nascimento do nome a abundancia das chuvas ou os rigores família dos Cariris, e que os mesmos Caicó vem dos nomes "Acauã" e da seca, portanto, para o povo tudo denominaram a região de Cai-icó, que "Cuó", que designam dois acidentes estava nas mãos de Deus. A fé e a significaria geográficos serra, confiança na força sobrenatural da avó causa dos serrotes cuja vegetação era respectivamente). "Acauã" pertence a de Jesus podem ser percebidas nos desmatada. Já o pesquisador Olavo de língua Tupi, enquanto "Cuó" ao dialeto nomes de algumas cidades, serras ou Medeiros Filho, diz que o nome vinha dos Tapuias e Tarairius. Tais tribos construções que compõe a região do de uma ave agourenta, comedora de ainda identificavam o rio pelo termo Seridó Potiguar – Serra de Santana, Ilha cobras e que havia em abundância no "quei", o que sugere que Caicó seja de Santana, Poço de Santana, Barra de curso d'água que passava próximo a uma derivação de "Queicuó", o mesmo Santana, Santana do Seridó – ou nos casa-forte do cuó, chamado rio Acauã. que rio do Cuó. Essa teoria desmistifica lugares habituais de culto: igrejas, Os nomes "acauã" e "cuó" seriam a lenda que relata a existência de uma capelas e oratórios a ela dedicados, sinônimos, a primeira forma em tupi e a tribo chamada Caiacós, supracitada, cujos segunda em tarairiu, e ambas as formas pois não há registro histórico algum, devoções, atos religiosos e festivos dos "macaco esfolado" por se (rio tornaria e Caicó. grau estudos de nos conformação revelaram a as 15 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} povoadores do Seridó antigo e seus por alguns historiadores locais que da Casa de Suplicação, em 7 de julho descendentes. consideram um equívoco de interpretação de 1735. Após o rito litúrgico, a atrelar a primeira Festa à instalação da população beijou a imagem da santa, Freguesia. Se, no ano de 1699, foram cujo concedidas indulgências à Capela de reverência se Senhora Sant´Ana do Acauã (ou Cuó), se investido de sacralidade; ao mesmo impõe: em qual ano começou a ser havia uma população, mesmo pequena, tempo, celebrada a Festa da Senhora Sant´Ana que se movia em torno do Arraial e, de em ainda, se os curas do Piancó prestavam considerar-se a primeira Festa quando da assistência espiritual e religiosa aos instalação solene da Freguesia, com título moradores da Ribeira do Seridó, sem e invocação de Sant´Ana do Seridó, pelo dúvidas, a Festa foi celebrada desde o padre Francisco Alves Maia, em 26 de início do setecentos. Ao interpretar os postulados que tecem os devocional, Caicó? alicerces um Há dessa prática questionamento uma tendência julho de 1748. Naquele mesmo dia, o Mais um indício, não menos primeiro padre da Freguesia e as pessoas impactante, emerge da documentação “de melhor nota” escolheram um novo para emprestar aos historiadores os lugar para a construção da Matriz (atual elementos que lhes asseguram afirmar a Catedral) e da residência do vigário, uma vez que a primitiva Capela havia sido construída em terreno acidentado, o que dificultava o acesso de pessoas idosas. Todavia, essa data vem sendo contestada celebração dos festejos antes de 1748. Durante a cerimônia pública para instalar a Povoação do Caicó, o padre Messias José Pereira celebrou uma missa na Praça da Capela de Sant´Ana e gesto religioso para a com renovação exprimiu o do a “objeto” fervor devocional que se inscreve no culto coletivo para com a protetora do lugar. Assim, se a nota geral da religiosidade dos católicos, naqueles tempos era dada pelas festas, é evidente que os núcleos urbanos cultuavam festivamente os santos titulares de suas igrejas e capelas. E, em Caicó, não foi diferente. Essa corrente vem tomando cada dia mais corpo entre alguns religiosos estudiosos dos festejos de Sant‟Ana no Seridó, embora ainda não haja fontes cabíveis que comprovem tal fato. Nesse sentido, indaga-se ainda: qual a 16 DOSSIÊ IPHAN composição para deve ter acontecido com a presença com a imagem da Santa. O cortejo Sant´Ana, obrigatória dos poucos moradores do provavelmente celebrado em Caicó, nas primeiras lugar e de seus arredores até uma légua sacerdote, seguido pelos agricultores, décadas do século XVIII? Mesmo que de distância, conforme determinavam criadores e vaqueiros instalados na ainda as Ribeira do Seridó, acompanhados pelos exaltação do de hajam cerimonial {Festa de Sant’Ana} Senhora lacunas a serem Ordenações do Reino. Pelo pela Igreja instituído possível primeiras Católica, os litúrgicos compungidos ou alegres, formulavam se for possivelmente envolveram repiques de as suas preces em meio aos cânticos considerado o contexto histórico e sino, iluminação da capela, missas, religiosos. religioso daquela época. A realização récita de orações, tendo como ponto de um tríduo religioso, pelo menos, alto a procissão conduzindo o andor manifestações festivas atos Arraial pelo cerimonial as do formado preenchidas nas fontes oficiais, é vislumbrar moradores foi que, 17 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} criada a capela primitiva, em 1695. visitador Manoel Machado Freire criou Após ser firmado o Tratado de paz a nova Freguesia de Sant‟Ana de Caicó, entre brancos e indígenas, (a guerra cumprindo um decreto feito no dia 20 continuou em outras localidades até o de fevereiro de 1747, fazendo assim Século a com que a Freguesia se tornasse enfim, construção da Capela de Sant'Ana, paróquia independente. Em Julho de erguida próxima à Casa Forte pelo 1748, o padre Francisco Alves Maia, Comandante e subordinados da Casa primeiro vigário de Caicó, ergueu um Forte do. Cruzeiro, que daria início a construção XVIII), foi possível A edificação da capela, foi da atual Catedral de Sant‟Ana. A Festa intermediada pelo frei Antônio do de Sant‟Ana de Caicó, ao longo dos Amor Divino (pároco das tropas das tempos tem se perpetrado como uma pequenos vilarejos e cidades quase guarnições da Capela de Olinda), e das sempre estava ligada a construção de consagrada à Senhora Sant‟Ana. Em religiosas da região Nordeste, sua uma capela dedicada a algum santo, 1730, foi criada a Freguesia de Nossa grandiosidade é conhecida além dos essas práticas deram origem às raízes Senhora do Bom Sucesso do Piancó, limites do estado, chegando até mesmo da devoção do povo seridoense a onde hoje é a atual cidade de Pombal, ao Sant’Ana. Essa devoção nasceu quase na Paraíba, ficando toda a região Seridó conterrâneos de Caicó que saem da que no mesmo instante em que foi pertencente a essa Paróquia. Em 1748 o cidade para tentar a vida lá fora, levam A origem dos lugares, dos maiores exterior, festividades pois muitos sócio- dos 18 DOSSIÊ IPHAN consigo a fé e devoção a santa, assumir passando assim, aos seus herdeiros o paramentos mesmo sentimento de pertencimento música, foguetório e iluminação interna representavam que eles próprios têm com a padroeira e do Templo. No término dos festejos, a manifestação de fé e devoção coletiva, a cidade. realização da procissão pelas ruas do mas também momento de sociabilidade, Povoado, em cujo séqüito hierarquizado educabilidade e congraçamento. Por festejos para louvar a Senhora Sant´Ana destacavam-se as assim ser, o ato de festejar mereceu por passaram a ter maiores solenidades no autoridades, das parte do Bispo de Pernambuco – Dom âmbito da Freguesia do Seridó. É bem Irmandades do Thomaz da Encarnação Costa e Lima – provável que, após ser fundada a Santíssimo Sacramento (criada em em Irmandade de Sant´Ana, em 1754, uma 1756) e, por fim, os devotos da Santa. disciplinadoras, em especial, contra a nova composição festiva tenha sido À noite, a Matriz ganhava luminárias prática abusiva de novenas em casas introduzida, já que competia a ao povo que anunciavam aos moradores do particulares com festejos e solenidades promover lugar seguinte, próprias da Igreja. Ao mesmo tempo, Padroeira e organizar ano-a-ano as suas celebrações mais solenes. Desse modo, propôs a proibição de danças, bebidas e festividades. eficiente o rito litúrgico era revestido de pompas cânticos ilícitos, por serem ofensivos à instrumento de sustentação material do para estabelecer a distinção dos atos religião católica, à moral e aos bons culto, religiosos semanais e para realçar a costumes. Não se sabe ao certo quando os a também devoção Enquanto era sua à excelsa atribuição os {Festa de Sant’Ana} dispêndios litúrgicos, haver, os os grandeza e o poder do sagrado. Na ornamentos, crônica do sertão, as festas religiosas sacerdotes, os de com “irmãos” Sant´Ana no dia e 1777, não somente disposições uma normativas 19 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} A primitiva capela edificada sob contribuiu para que se construísse uma capela ter sido elevada ao posto de a invocação da Senhora Sant‟Ana no nova sede, em espaço mais acessível, Paróquia, hoje, atual Igreja Matriz de século XVII, local principalmente devido ao crescimento Sant‟Ana de Caicó. Com a instalação acidentado e de difícil acesso, fato que da freguesia e pelo fato de também a da freguesia da Gloriosa Senhora situava-se em 20 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} Sant‟Ana do Seridó, em 26 de julho de do Pe. Francisco de Brito Guerra10 em vãos de arcos ogivais, todas com 1748, os seridoenses escolheram um entre cercaduras de massa. No coro existem novo local para ser erguida a Matriz, colhidas junto a Diocese de Caicó. conforme registrou na época o Padre Hoje, 1804-1843, a Igreja segundo Matriz fontes apresenta Francisco Alves Maia, primeiro vigário por guarda-copos de ferro. Seu interior é na Praça que recebe o nome do atual Catedral de Sant‟Ana - a antiga Monsenhor Walfredo Gurgel, padre, capela perdeu parte de sua importância, educador e político caicoense. Um dos funcionando a partir daí como Capela fundadores de Nossa Senhora do Rosário. Seu do Ginásio Diocesano, deputado, senador e governador do Rio desaparecimento ocorreu entre 1789 e restam protegidas e pia batismal. A Catedral localiza-se construção de um templo maior - a Atualmente, janelas constituído por capela-mor, naves, coro da recém criada freguesia. Iniciada a 1800. três Grande do Norte. A então Igreja Mariz seus de Sant‟Ana de Caicó passou por vestígios junto à Casa-Forte do Cuó, várias transformações, uma delas em como marco das primeiras construções 1823, e outra para o acréscimo da do Seridó. No transcorrer dos anos, o segunda torre, em 1955, quando era terreno doado para a construção da bispo Diocesano D. José Adelino Paróquia de Sant‟Ana foi aos poucos frontispício curvilíneo, ladeado por tendo suas dimensões alteradas, desde o duas torres sineiras. Possui uma porta inicio da construção da Matriz em central, assentada em vão de arco 1748, até sua finalização no paroquiado pleno, ladeada por duas outras portas Dantas, foi também durante o seu bispado que foi erguido o Arco do Triunfo, em homenagem a passagem de N.S. de Fátima por Caicó em 1953. O 21 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} templo passou ao longo dos anos por apesar do tempo, dentre eles podemos do cargo de vigário colado (sacerdote diversas reformas, a fim de torná-lo citar o sobrado que serviu durante um fixo, na época, nomeado pela coroa), da mais claro, ventilado e funcional. Em bom tempo de casa para o Padre freguesia do Seridó. Passou a residir no 1920 foram suprimidas as tribunas, as Guerra, sua sobrado, acompanhado de sua mãe e cadeiras individuais foram substituídas construção iniciada em 1810 e foi das irmãs, morou por 34 anos, e veio a por bancos coletivos e instalada a concluído um ano depois. Esse sobrado falecer no Rio de Janeiro, no dia 26 de iluminação elétrica no seu interior, nos apresenta dois pavimentos, tendo uma fevereiro anos de 1960-1970, os altares da nave sóbria fachada, na qual se divisam funcionou por muito tempo a primeira central (exceto o altar mor), e das naves cinco portas e igual número de janelas, Escola de Latim do Seridó. Hoje o laterais foram retirados e na década de estas protegidas por grades de ferro. O sobrado abriga a Casa de Cultura do 1980 foi erguida a segunda torre e seu interior já sofreu alterações. A município de Caicó, porém seu estado construída a capela em honra a N.S. de mobília original, infelizmente, já se inspira cuidados, e precisa ainda ser Fátima na nave lateral, ao longo da perdeu com o tempo; consta que o restaurado. Além do famoso sobrado, década de 80 e inicio de 90, várias padre podemos outras pequenas reformas e mudanças madeira de lei e talheres, copos, Matriz, um vasto casario de diversos foram feitas na Catedral. O local que colheres, estribos, salva, brida de prata. estilos arquitetônicos que vai desde o hoje abriga a Matriz de Sant‟Ana Ele o construiu, após ter retornado do estilo colonial ao moderno. também é rodeado por um belíssimo Rio de Janeiro, depois de ter se conjunto arquitetônico bem conservado submetido ao concurso para provimento esse Guerra sobrado utilizou teve móveis de de 1845. perceber No no prédio, entorno da 22 DOSSIÊ IPHAN No entorno das construções das {Festa de Sant’Ana} vários que traziam os fazendeiros e suas comemorações primeiras capelas ainda nos séculos XVI famílias Igreja. festividades representavam uma trégua na e XVII, formaram-se os núcleos centrais Chegavam a cavalo, bem cedinho, para dureza da vida cotidiana do mundo rural das cidades, as edificações das capelas fugirem do calor do sol, sendo seguidos e mesmo da pequena Vila. ocorriam, como já citado anteriormente, pelos arrieiros que tangiam as mulas com em sua maioria como cumprimento de as cargas de alimentos, roupas e objetos. promessas aos santos devotivos de seus As casas da “rua”, que permaneciam benfeitores. Para a Vila do Príncipe, até quase sempre fechadas, eram abertas para então única Freguesia e município do as festas: da Padroeira – a Gloriosa Seridó, em fins do século XVIII e inicio Senhora Sant´Ana – de Nossa Senhora do do século XIX, convergiam os caminhos Rosário, das Benditas Almas e para as para as festas de natalinas. Essas 23 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} categoricamente qualquer celebração com as velas? De fato, a despesa com a noturna na Igreja Matriz e capelas de iluminação das igrejas pesava nos toda a Freguesia, exceção para os cofres das irmandades de leigos que últimos três dias da Semana Santa, mantinham o culto aos santos patronos, Noite de Natal, e no caso de levar-se o desequilibrando as suas contas. O Viático a algum enfermo. Não há acatamento a essa medida deve ter indícios os limitado as manifestações festivas do motivos para a adoção dessa medida e antigo modo de vida da Vila do até quando ela vigorou nos limites da Príncipe (antigo nome da cidade de Freguesia do Seridó. Seria a noite Caicó), propícia à transgressão ou eram as singelamente a devoção e a diversão. festas diversões Parece-nos que o condicionamento dos consideradas inaceitáveis pelo Padre ofícios religiosos da Freguesia da Visitador? É certo que os ensinamentos Gloriosa Senhora Sant´Ana do Seridó à Senhora Sant´Ana do Seridó, no ano de da Igreja Católica prescreviam aos fiéis duração do dia, onde metaforicamente a 1809, foi surpreendida com a decisão uma determinada orientação de vida luz se opõe às trevas, vigorou por do Visitador Geral e Delegado dos pautada na oração, na penitência, na pouco tempo. Segundo o escritor José Crismas dos sertões baixos do Norte – virtude cristã e na recusa a tudo que Melquíades, durante o vigariato do Padre Inácio Pinto de Almeida e Castro pudesse afastá-los da prática religiosa Padre Brito Guerra (1802-1845), a – que, num presumível arroubo de fervorosa. Ou seria, ainda, uma medida Matriz de Senhora Sant´Ana passou a autoridade econômica para evitar gastos avultados ser conhecida em todo o sertão pelo A Freguesia da eclesiástica, Gloriosa proibiu que que possam justificar ensejavam onde se misturavam 24 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} “esplendor de suas alfaias” e pela civis, que temiam o cometimento de não perturbassem as famílias e o suntuosidade das celebrações festivas, excessos em meio ao entusiasmo sossego público. Durante o século XIX, que emprestavam novos atrativos às festivo da comunidade visitante e dos as populações espalhadas na amplidão da moradores locais. Assim, a ordenação continuaram reservadas aos festejos de paisagem sertaneja. Tal afirmação pode do espaço e do tempo festivo seguia Senhora Sant‟Ana: suas solenidades, ser um indicativo para a realização de normas e regras determinadas. Em seus cerimônias múltiplas à noite, uma vez dispositivo de 1835, que a profusão luminosa dos círios no Municipal da Vila interior do Templo realçava o fausto regulamentou das alfaias e a estética dos ornamentos, espetáculos cerimônias simbolismos, seus litúrgicas propósitos a Câmara formativos, suas atrações não cessavam do Príncipe de crescer a cada ano. Mais do que em de qualquer outro lugar sertanejo, a Festa do assegurou a afirmação do prestígio das bem como a pompa dos ritos litúrgicos. vilarejo durante os dias de Festa e a autoridades locais (religiosas e civis) A vida social da Vila do Príncipe venda de bebidas “espirituosas,” de perante o poder público provincial. gravitava basicamente em torno dos modo festejos da Padroeira que, a cada ano, entretenimentos em consonância com a tornavam-se mais concorridos, atraindo ordem social, a moral cristã e os devotos, festeiros, negociantes e artistas costumes sertanejos. Outrossim, em populares de 1855, a municipalidade fixou o horário Pernambuco, do Ceará e da Paraíba, de funcionamento dos divertimentos e principalmente. manifestações das “funções com vozerias” nos limites devocional urbanos da Vila, os quais não podiam causavam apreensão nas autoridades exceder às nove horas da noite para que exteriores das ao províncias As culto a a grandes apresentação públicos assegurar nas a ruas prática de É por isso que, no ano de 1861, o Presidente da Província, o Comendador Pedro Gomes de Leão Velloso (que governou o Rio Grande do Norte de 1861-1863), alimentador da idéia de que, por meio da difusão da fé católica, a Igreja opera na educação e progresso das sociedades, visitou a Vila do Príncipe em Festa da Padroeira. 25 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} (“Relatório apresentado à assembléia nos dias dos festejos. Chamaram-lhe a 1864, a municipalidade regulamentou a [...]”, 1862). Com essa visita, o atenção os gestos de boas vindas aos execução dos trabalhos de pintura das Presidente Leão Velloso inauguraria, visitantes, bem como a elegância e o casas, reparos das calçadas e limpeza naquele longínquo ano, uma prática jeito das mulheres caicoenses “de das ruas, para o início do mês de julho político-social que ganharia seguidores costumes puros, sinceras nas suas (o mês de Senhora Sant´Ana), sob pena através dos anos, a qual se mantém nos afeições e fiéis aos deveres de família e de seus proprietários serem multados se tempos atuais: visitar a cidade em Festa religião”. Nas vilas interioranas, se as assim não procedessem. Tal medida de Fez-se festas traduziam a força da classe revela, emblematicamente, como a Vila acompanhar pelo Deputado Provincial e dirigente, elas também revelavam o foi se organizando em função da Festa, historiador Manoel Ferreira Nobre, este dinamismo econômico do lugar, a a qual promovia a ocupação das suas na condição de Ajudante de Ordens e organização do urbano, ao mesmo ruas e praças para a vivência de muitas de cronista da sua visita oficial e da tempo em que exprimiam a aparente cenas culturais e pedagógicas. aparição pública ao lado da população unidade da comunidade social que em festividade. Atento aos ornamentos, celebrava em exultação seus santos e às alfaias, à magnificência e esplendor santas do culto devocional, asseverou Ferreira entusiasmo manifesto, tornou-se um Nobre imperativo para o poder público da Vila Senhora que concorrida, Sant´Ana. a Festa tanto foi pelos bastante moradores do patronas. Príncipe, Em meio proporcionar ao aos locais quanto pelos das freguesias visitantes, aos devotos e festeiros um vizinhas, bem como pelos negociantes ambiente acolhedor, aprazível e uma de outras províncias que afluíram à Vila paisagem urbana civilizada. No ano de Atrações educativas - visuais, cênicas e literárias - tais como: queima de fogos, cosmoramas, representações teatrais, comédias, mágicas, danças de corda e apresentação de poetas e cantadores populares eram proporcionadas aos festeiros após as novenas. Nos últimos dias dos festejos, eram promovidos “certames” literários 26 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} entre os poetas e improvisadores de fundamento reavivar uma encenação da trovas e cantigas, os quais ensejavam permanência dos postulados católicos, lições e aprendizagens para a sociedade culturais e educativos no seio das sertaneja, do mesmo modo em que famílias sertanejas. Nesses tempos de proporcionavam lineamentos de coesão outrora (bem como hoje em dia), longos social. A variedade dos espaços de preparativos precediam os festejos, os sociabilidades e a diversificação dos quais envolviam a organização do entretenimentos cerimonial sócio-religioso, festivas permitiram aos legisladores da recolhimento das Cidade do Príncipe, em 1871, estender Irmandade de Sant´Ana, o recebimento o horário de funcionamento das lojas, de prendas para o leilão, a preparação das tabernas e das diversões públicas dos foguetórios, a contratação da banda para as dez horas da noite, durante o de música, a limpeza das ruas e pintura período da Festa de Senhora Sant´Ana, das edificações da cidade e, de modo instituindo todo especial, a ornamentação do assim nas o celebrações “tempo do permitido” e alterando a rotina diária da anuidades o da templo religioso. vida citadina. Não é demais repetir, que as celebrações festivas continuaram a pleno vapor, no final do século XIX, cada vez mais revestidas de solenidades e ritos litúrgicos que tinham por 27 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} semanário “O Povo” anotou, em 1890, que os pais de família abriram mão de suas Nos termos apregoados pelo uma pelas da sociedade local. A programação das festividades para exaltar a Padroeira da cidade ganhava (dessa data em diante) Também eram divulgadas as atrações cultivar esse refinamento as famílias de culturais como posses faziam compras uma vez por noticiadas as iniciativas do comércio ano na “praça” do Recife, de onde local em face desse evento festivo. traziam sempre o que existia de novo e sociais, bem Para atender as exigências dos páginas da imprensa periódica local ao fregueses, as lojas, instaladas na Praça anunciar as cerimônias religiosas dos do Mercado (hoje, Praça da Liberdade), dez dias de festejos, que começavam renovavam os seus estoques para numa quinta-feira e terminavam no apresentar à clientela uma variedade de primeiro dia artigos de qualidade e de acordo com os Sant´Ana. padrões da época. O observador do consagrado à após Senhora o pelos afirmou Manoel Dantas que para maior dizibilidade e visibilidade pelas domingo compartilhada de bom gosto e distinção. Com efeito, serem famílias norma aquisitivo - ao mesmo tempo indicativo programadas diversões populares e patrocinados meninas estratos sociais com maior poder caicoenses, uma vez que estavam sendo a as elegância urbana. Vestir-se bem era foi aguardada com entusiasmo pelos bailes” para trajarem de acordo com os ditames da semanário “O Povo”, a Festa de 1890 “importantes economias em matéria de vestuário. Bem vestidos, os devotos e festeiros, após o novenário, postavam-se no adro da Igreja Matriz e suas adjacências para assistirem à queima de fogos de artifício. Durante alguns anos, os artistas Joaquim Cordeiro e Inácio de 28 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} Loyola proporcionaram ao público ensinamentos, atrativos e ornamentos Maio”, na década de 80 do século XIX, ávido por novidades um espetáculo exteriores ao cerimonial religioso, que a Festa de Senhora Sant´Ana ganhou pirotécnico digno de nota, oferecendo- asseguram a sua continuidade no tempo novo brilhantismo proporcionado pelas lhe, de modo bem especial no ano de histórico. No período dos festejos, as notas harmoniosas executadas pelos 1890, um “girassol” e um “amor- ruas ganhavam iluminação e adornos instrumentistas dessa agremiação, sob a perfeito,” os quais deslumbraram os especiais com muitos arcos floridos, em regência do professor e maestro Manoel espectadores pela sua beleza luzidia. face de novas exigências criadas pelas Fernandes Ao lado das figuras riscadas nos céus famílias pessoas Apresentava-se bem ensaiada, afinada e pelos “fogos de vista,” espocavam as ocupavam os logradouros públicos em com bom repertório de peças variadas e girândolas de dez dúzias de foguetões e busca de lazer e de congraçamentos modernas os cordões de bombas que retumbavam, vários: praticavam as brincadeiras de começava a descobrir o gosto pelo ao longe, entre as serras que circundam tiro ao alvo, as “pescarias” e as corridas gênero musical tido como erudito. a cidade. Vivenciar o espaço festivo de argolinha que produziam diversão e Extinta com suas luzes, sons, imagens, aromas competição entre os jovens festeiros. filarmônica foi formada na cidade, em e sabores, bem como ampliar os Buscavam as barracas de bebidas 1907, por iniciativa do Dr. Augusto momentos de sociabilidade e reafirmar (incluindo os licores e aluás produzidos Monteiro, laços de amizade e de vizinhança, na cidade), de bolos, de doces – sendo Novembro de confirmam a função social, estética, muito apreciadas as puxa-puxas e os “Recreio Caicoense,” afirma padre cultural e educativa dos festejos da alfenins de Açu, cujo sabor, forma e Eymard L. Monteiro. Mais do que Gloriosa Senhora Sant´Ana de Caicó. cores agradavam à meninada. Com a compor a atmosfera musical da cidade, Destarte, criação da Banda de Música “4 de acompanhava os ofícios religiosos e a Festa reveste-se de e visitantes. As de para essa Araújo um banda, recebendo, Nóbrega. público uma em que nova 17 de 1909, o nome de 29 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} animava os festejos sociais promovidos Luciano Herbert, depois da saudação a novena, no coreto da Praça da pelos organizadores da Festa. musical à Senhora Sant´Ana, “a banda Liberdade: era o momento da retreta, No passado, assim pura poesia musical para o como no presente, às cinco deleite e emoção de muitos horas festeiros e dos casais de da manhã, a “Furiosa” (carinhosamente namorados. apelidada Esporadicamente, pelos era caicoenses) garbosamente contratada outra filarmônica desfilava pelas ruas do para o “abrilhantamento da Caicó antigo para despertar Festa de Sant´Ana.” Cita-se, os moradores da cidade como exemplo, a Festa de com das 1924 que contou com a marchas, dos dobrados e participação da Banda de espocar dos fogos. Era a Música a sonoridade do Batalhão de alvorada festiva, anunciando mais um saía pelas ruas da cidade executando Segurança da capital do Estado. Era a dia seu repertório e arrastando atrás de si primeira vez que uma banda militar folguedos e atrações diversas. Ao meio um apresentava-se dia, era o momento da tocata. A banda acompanhava e particularmente, em Caicó, informa o postava-se no patamar da Igreja, perto cadenciado dos músicos”. Entre o ano jornal “O Seridoense.” Mas não foram do mastro onde ficava hasteado o de 1918 e a década de noventa do somente no contexto da festa em si que estandarte da Santa. Na escrita de mesmo século, passou a exibir-se, após as mudanças aconteceram, ao longo de celebrações religiosas, de grupo de o meninos passo lento que no Seridó e, 30 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} desses dois séculos de festividades e bispo diocesano e quando era pároco de diferente chegava a Caicó, em julho de devoção, também a Igreja Matriz Sant‟Ana o Mons. Walfredo Gurgel. A 1906: era o carrossel de Francisco passou por várias transformações, uma devoção a Nossa Senhora de Fátima foi Azevedo, que se tornou o divertimento delas bem visível, segundo o padre amplamente divulgada nos fins da preferido da meninada e da rapaziada. Antenor, foi a construção da segunda primeira metade do século XX, quando No ano seguinte, nos termos do torre, antes a igreja possuía apenas foi reconhecida oficialmente pela Igreja correspondente do jornal Comércio de uma, porém ao ser elevada ao posto de a partir da aparição da Virgem Maria a Mossoró, novamente, “tivemos a boa Igreja Matriz, segundo o padre, fez-se três crianças na pequena aldeia de diversão do Carrossel que foi muito necessária a construção da segunda Fátima, em Portugal, no ano de 1917. A concorrida”, trazendo, mais uma vez, a torre da Igreja, ainda no mandado do sua venerável imagem, desde então, alegria esfuziante para os apreciadores Padre Guerra, visto que, precisava-se de tem peregrinado pelo mundo inteiro desse brinquedo. uma segunda torre para abrigar os sinos levando a mensagem de Fátima. Com as diversões ampliadas, que a igreja passaria a possuir como Ao longo dos tempos, diferentes ano após ano, os parques animaram (e Matriz, outra mudança significativa foi tipos de entretenimentos ocuparam os continuam animando) os festejos de a em espaços cuja Senhora Sant‟Ana, com o balanço das de destinação considerava as canoas, o barulho e o colorido dos jipes, Fátima: o Arco do Triunfo. Foi erguido diferenciações sociais e o encantamento da roda-gigante, dentre para comemorar a visita da imagem populares) e, ao mesmo tempo, as tantas outras atrações modernas. Na peregrina de Nossa Senhora de Fátima oposições entre homens e mulheres, crônica de José Lucas, no suave embalo ocorrida aos 22 de novembro de 1953, solteiros e casados, adultos e crianças. da quando D. José Adelino Dantas era Nesse sentido, uma diversão bem namorados ascendiam às alturas, sob construção homenagem a de um Nossa arco Senhora públicos da cidade, (elites roda-gigante, os casais de 31 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} um céu estrelado, para contemplarem a instalados em salas da Intendência da Banda “Recreio Caicoense,” as cidade aos seus pés. Bem agarradinhos, Municipal durante a Festa de Senhora feiras de caridade (substituídas, anos escutavam pelo serviço de alto-falantes Sant´Ana de 1910, momento em que os depois, pela feira de comidas típicas), do Parque Lima os sucessos musicais caicoenses as do momento, que lhes eram dedicados primeira vez, à projeção de imagens em (organizados em código („de um apaixonado para movimento. Dessa data em diante, os Medeiros), os bailes realizados no uma jovem trajando vestido azul‟), cosmoramas, com seus quadros fixos de Pavilhão da Festa e em residências, para que não fossem identificados pelos paisagens naturais, de cidades e de constituindo-se em ocasiões propícias bisbilhoteiros do Jornal da Festa. Tudo batalhas sangrentas, deixaram de ser ao aprimoramento das maneiras de isso conferia ao público festeiro o atrativos para ceder lugar ao cinema, sociabilidade do caicoense. É certo que, regozijo redobrado e a emoção intensa exibido a cada mês de julho. Somente no modo polido de comportar-se das vivenciada nas tardes amenas e nas no ano de 1925, em plena Festa de mulheres e homens, residia o sucesso noites coloridas do mês consagrado à Senhora Sant´Ana, Enico Monteiro desses acontecimentos realizados no Senhora Sant´Ana. Efetivamente, no inaugurou interior das festividades devotadas a transcurso dos séculos, a Festa se propriedade para ser integrado à vida constituiu em monumento patrimonial cultural de Caicó. puderam um assistir, cinema de pela sua barracas, os pela “chás dançantes” professora Júlia Senhora Sant´Ana. A Festa também se apresentava de diversões culturais e educativas para As famílias promoviam eventos como momento ideal para a difusão de expor a vitrine das novidades a serem sociais em benefício da Matriz ou das padrões e valores culturais modernos. experimentadas na cidade. Mas, sem obras sociais da cidade os quais se Para tanto, contaria com a atuação da dúvida, a novidade surpresa foram os tornavam muito concorridos: os leilões, imprensa dois as quermesses animadas pelas retretas Binóculo, do Jornal da Festa, do Jornal aparelhos cinematográficos, local, em especial d´O 32 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} das Moças e d´O Novenário. À medida outros pelo Júlia Medeiros) foi a grande vitoriosa, que procuravam Jornal da Festa sempre no período dos sendo coroada no salão nobre da inspirar entre os caicoenses padrões e festejos de Senhora Sant´Ana: no ano Prefeitura valores de a homenagem, a sociedade caicoense igualmente legitimar novos estilos de ganhadora e, em 1927, a jovem ofereceu-lhe um baile com a orquestra vida em detrimento de outros por vezes considerada a mais linda da Festa foi regida pelo Maestro Manoel Vitoriano superados. O mais eficaz exemplo Generosa os de Fontes (Bedé), que proporcionou um dessa sagacidade consistiu na promoção concursos até então realizados, o que belo espetáculo festivo na cadência de pelos mais mobilizou os caicoenses, inclusive desse novo estilo de vida em ascensão redatores d´O Binóculo, para a escolha as autoridades do município, as quais (Medeiros; Araújo, 2006). da jovem mais simpática da Festa de foram comissão Ao colocar em evidência a Sant´Ana no distante ano de 1916. A apuradora de votos, foi o “certame” prática de realização desses concursos eleita foi a senhorita Maria da Nóbrega, para a escolha da Rainha da Festa de como marca distintiva de uma dinâmica cuja vitória repercutiu nas “rodas da 1930. O Jornal da Festa justificou a cultural recente, a imprensa periódica, elite caicoense” como legítima, por realização desse evento, alegando que promotora desses “certames,” oferecia resumir os verdadeiros traços de uma “todos os países do mundo civilizado às simpatia cativante. No ano seguinte, o têm feitos concursos, inclusive o nosso possibilidades de romperem com a mesmo um Brasil com o fim de escolher a sua imagem idealizada e simplória de concurso de beleza, sendo agraciada a Miss.” Com apenas quatorze anos de mulher recatada, aparentemente restrita jovem Delmira Araújo com o título de idade, Dantas ao ambiente doméstico. Em oposição à “A mais bela da Festa.” Sucederam-se (sobrinha da professora e feminista mentalidade conservadora de certos esses um periódicos modernos, concurso, periódico buscavam encetado promoveu concursos 1926, Theresa Araújo. indicadas a organizados jovem Dantas De para foi todos a Severina jovens Municipal. das elites Em sua caicoenses 33 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} setores desse universo sertanejo, os constituía-se no ápice da programação motivo das atenções dos presentes pela intelectuais da cidade aclamavam a social. Depois de um largo período, os beleza nova imagem de mulher – sofisticada, bailes grandes demonstrada e pela simpatia cativante, culta, bela, profissional e feminista – orquestras, promovidos pelas (e para emprestando ao elegante evento social condizente com o alargamento da esfera as) elites caicoenses, passaram a ser um charme todo especial. pública em detrimento da esfera íntima. realizados no Caicó Tênis Clube, onde Também, durante a Festa de Na programação social, o evento elegantes pares se exibiam pelos salões Senhora Sant´Ana, esse clube promovia mais esperado e comentado era o baile ao som e compasso dos gêneros desfiles que musicais samba-canção, patrocinado pelos tecidos Bangu e pela o bolero, mambo, salsa e outros ritmos. Loja Copacabana, na época importante encerramento dos festejos religiosos, Nessas ocasiões, predominavam o bom casa cujo ambiente ganhava uma decoração gosto das toilettes das senhoras e temáticas e bailes para homenagear primorosa, iluminação e perfume de senhoritas pelas personalidades políticas, profissionais essência de eucalipto. Acontecimento habilidosas modistas da cidade) e a liberais e empresários. Na década de fechado para a maioria da população, distinção dos jovens cavalheiros que sessenta do século XX, as instalações estava aberto para a confirmação de “emprestavam um caráter do Caicó Tênis Clube foram adquiridas namoros, oficialização de noivados ou puramente aristocrático,” observou o pela Associação Atlética do Banco do mesmo para reforçar os laços de cronista do Jornal da Festa. No ano de Brasil (AABB), que passou a realizar o amizade convivialidade 1956, o êxito maior foi atribuído às Baile de Debutantes, promoção do estabelecidos antes e durante os festejos presenças das misses do Rio Grande do Lions Clube de Caicó, ocasião em que da Padroeira. Assim, o Baile da Festa Norte, do Ceará e do Distrito Federal, as jovens da cidade, ao completarem se realizava municipalidade e de de no prédio Caicó, após da animados da pelas época: (confeccionadas à festa juvenil, (o pela mais comercial de elegância famoso Caicó), era o festas 34 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} quinze anos, eram apresentadas com Outras festas menos glamorosas, mas confeccionados, e um perfume à base muito glamour à sociedade local em cheias de animação, aconteciam no de flores, na maioria das vezes, ritual festivo. Às vezes, esse evento Caicó Esporte Clube, conhecido como a comprado na capital. O clube tinha suas acontecia nos salões da Associação dos “Sede dos Morenos.” Os segmentos normas Sargentos e Subtenentes de Caicó sociais que não tinham acesso aos padrões aceitáveis de comportamento. (ASSEC), clube dos militares do clubes das elites (fosse pela condição Os Exército brasileiro. As soirées deixaram social ou pela cor da pele) encontravam consumir as residências e ganharam os salões dos nesse clube um ambiente acolhedor, excesso e os casais de namorados não clubes Grêmio Social e Cultural de acalorado e democrático. Em seus podiam beijar na boca para evitar Caicó ou da ASSEC, tendo como tempos áureos (década de cinqüenta e situações embaraçosas. público alvo, notadamente, os jovens começo dos anos sessenta do século No rol das festividades, o que se esbaldavam no ritmo frenético XX), os bailes organizados na “Sede passeio em volta da pracinha do coreto do rock n‟roll, do twist e que dos Morenos”, durante a Festa de (Praça “mandavam brasa” ao som do iê-iê-iê Senhora muito apreciado pelas jovens da cidade e de nacional. eles concorridos, animados e se estendiam outras localidades, enquanto os rapazes afastavam-se da tradição e inovavam na até a madrugada. Para a jornalista circulavam em sentido contrário ou maneira de se vestir: a mini-saia para as Arizela ocasiões ficavam sentados nas cadeiras do bar, mulheres e as calças justas com “boca especiais, o terno de linho branco e os paquerando as mocinhas ao vê-las larga” para os homens, de acordo com sapatos de bico fino estavam em voga passar. as tendências da moda juvenil dos para os homens, enquanto as mulheres tornou-se o ponto de encontro da grandes centros urbanos brasileiros. usavam juventude após as novenas, onde grupos Nessas ocasiões, Sant´Ana, Cunha, vestidos eram nessas de seda, bem através das quais freqüentadores bebidas da não deviam alcoólicas Liberdade) Durante definia anos, era a em muito pracinha 35 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} eram formados e namoros iniciados. No quatro zonas. Em meados da década de cultuam a santa cujo final da festa se dá alto do Coreto, a Filarmônica “Recreio 1950 o padre Galvão Celestino, visando exatamente no dia 26 de julho, dia da Caicoense” músicas o crescimento da Festa de Caicó, padroeira românticas ou os sucessos do momento. resolve mudar sua data de finalização, canônico, as manifestações em louvor a executava segundo o calendário Por volta das vinte e três Sant‟Ana na cidade de Currais horas, a pracinha começava a Novos não apresenta a mesma ficar esvaziada, pois muitos dimensão que apresenta em dos Caicó, seus freqüentadores Currais Novos se dirigiam-se aos clubes para diferencia pelos atores que mais uma festa dançante. compõem a atualidade, novos Além das mudanças festa na cânticos, sociais, o século XX também novos hinos, festas públicas trouxe em praças, o que pouco tem outro grande acontecimento para o povo ocorrido seridoense: a criação em fins forma, podemos observar que da década de 1930, da a Festa de Sant‟Ana de Caicó, Diocese de Caicó, a 25 de novembro de 1939, pelo Papa Pio XII, desmembrada da Diocese de Natal com uma superfície de 9.372 km². A Diocese de Caicó, hoje subdivide-se em fazendo-a terminar no ultimo domingo do mês de julho, ao contrário da Festa de Sant‟Ana da vizinha cidade de Currais Novos e demais cidades que em Caicó, dessa a cada ano se tornou a maior em níveis regionais para seus devotos. As mudanças mais significativas ocorridas na Paróquia de Sant‟Ana começaram a ocorrer, segundo relatos do Pe. 36 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} Antenor, pároco emérito da Catedral de Sant‟Ana a partir de 1917, e com a chegada a Caicó do padre Walfredo Gurgel em 1936 a cidade de Caicó ganharia também uma voz forte no processo de criação da Diocese. A participação de toda a região nas celebrações a Sant‟Ana se faz presente visto que comungam marcante as cidades seridoenses de uma religiosidade arraigada aos lugares e tradições, isso reforça a manutenção das práticas religiosas que se destacam na atualidade, no cenário do Rio Grande do Norte, mantendo os aspectos tradicionais ligados ainda ao período de colonização desse território. 37 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} A FESTA HOJE 38 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} A festa de Sant‟Ana é a celebração Sant‟Ana carreatas, procissões, típicos. A presença da música, da invocações a Nossa Senhora, a Jesus dança, dos shows, dos fogos, da comida Cristo e aos santos protetores, como e da bebida, muitas vezes em excesso, intermediários entre Deus e os homens presentes. e de comidas, bebidas e artesanatos longo da colonização, em que as estiveram novenas cavalgadas, apresentações artísticas, bailes, venda do catolicismo tradicional difundido ao sempre envolve poderia levar-nos a pensar a festa As inserida no assim denominado tempo devoções são relacionadas a milagres realizados por santos próximos, pois de promessas e na realização de festas profano. A festa é a poesia que não são A aos santos padroeiros. Momento ímpar existe sem a prosa, é a desordem que é na tanto não se concretiza sem a ordem. É festivo quanto solene, a Festa de condição inerente para o cotidiano, sua eminentemente identidade cultural humanos. e religiosa baseada, principalmente, no pagamento sociabilidade seridoense, 39 DOSSIÊ IPHAN quebra e, simultaneamente {Festa de Sant’Ana} sua dividem-se na elaboração de um intenso Carreata de Sant'Ana, as Novenas, a retomada. A festa é, na verdade, um dos calendário sócio-religioso que faz da Missa Solene, a Procissão, além dos elementos Festa de Sant'Ana um dos mais bingos, fundamentando-se em um ritual que significativos registramos marca o princípio de reciprocidade, que religiosos do Rio Grande do Norte. Em sociabilidade é central a toda vida social. A paróquia, eventos como as Peregrinações rural e religiosidade peculiares, fundadas em o poder público e a iniciativa privada urbana, a Cavalgada de Sant’Ana, a valores morais fixados pela tradição. Os festejos em homenagem à organização e gestão de toda a parte a cada ano a Comissão é em certa Sant'Ana de Caicó acontecem sempre a litúrgica, sócio-cultural medida renovada, com a saída de partir da quinta-feira que antecede o dia promovida pela paróquia. A Comissão alguns membros e a entrada de outros. 26 de julho, dia de Sant'Ana no da Festa veio somar esforços ao antigo Seus componente, em sua maioria, são calendário seu Conselho Paroquial, inaugurado por pessoas mais ligadas à Igreja, com encerramento no primeiro domingo Monsenhor Antenor Salvino de Araújo grande subsequente, com a realização da ao longo de seus 39 anos de paroquiado participação nas celebrações ordinárias, procissão. No entanto, podemos afirmar (de 1968 a 2007). Contudo, a Comissão sejam que, de fato, a Festa de Sant'Ana tem manteve parte das atribuições do antigo funcionários públicos ou profissionais início bem antes disso, já em meados conselho, mudando a sua composição e liberais. Estas pessoas realizam trabalho do mês de abril, quando é realizada a forma de atuação. A Comissão da Festa voluntário primeira reunião da Comissão da Festa de Sant'Ana de Caicó é composta de 40 satisfação em participar da organização de Sant'Ana de Caicó, responsável pela (quarenta) membros não fixos, ou seja, da mais expressiva festa de padroeiro que funda litúrgico, o coletivo, tendo acontecimentos religiosa e sócio- leilões, shows a bailes, presença de uma festiva e uma devoção à estudantes, e e Sant'Ana e professores, demonstram grande 40 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} da região. A Comissão é dividida em organização e gestão dos vários eventos paróquia. A tabela abaixo mostra as subcomissões compostas de um a cinco que ocorrem dentro da programação subcomissões membros, cada uma responsável pela sócio-religiosa pela atribuições: Logística e gestão da Feirinha de Sant'Ana: organização e distribuição das barracas; decoração; venda de comidas e bebidas, controle financeiro e prestação de contas. Peregrinação Urbana Organização das novenas (inscrição das pessoas interessadas em receber novenas em suas casas); elaboração de calendário; ornamentação das imagens peregrinas e coordenação do encontro das imagens peregrinas. Beija Agenciamento do espaço e coleta das ofertas. Organização do calendário das novenas e mobilização dos noitários. Divulgação da festa, elaboração de plano de mídia e arrecadação de patrocínios. Subcomissão Atribuições Pavilhão de Sant'Ana (ou Pavilhão Cultural) – são duas subcomissões, uma para os bares, outra para as comidas. Organização, logística e gestão do Pavilhão: contratação e organização das barracas e bares; do palco e telões e da programação cultural. Feirinha Festa dos Doces Almoço Sant'Ana Cavalgada de Organização dos expositores/vendedores. Logística e gestão: elaboração do cardápio, decoração do espaço; coordenação das cozinheiras e organização das mesas. Organização da parte litúrgica da Cavalgada: acolhimento dos cavaleiros, organização da missa e da benção dos animais Jantar Sant'Ana Peregrinação Rural de promovida Logística e gestão: elaboração do cardápio, decoração do espaço; coordenação das cozinheiras e organização das mesas. Organização das novenas (inscrição das comunidades rurais interessadas), ornamentação da imagem peregrina; elaboração do calendário de peregrinações e organização e gestão financeira dos leilões. Novenas (Noitários) Comunicação e Marketing existentes e suas 41 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} A primeira reunião da Comissão intuito de “profissionalizar a Festa de Comissão costuma acontecer em meados de abril; Sant'Ana no que diz respeito à sua voluntários, geralmente parentes ou em 2010 a primeira reunião já ocorreu produção”. Nesse sentido é elaborado amigos daqueles que a compõem no dia 10 de março, com o objetivo de um plano de mídia apresentado a oficialmente. Com isso podemos notar dar da possíveis patrocinadores da Festa – que a Festa de Sant'Ana possui uma Peregrinação Rural, uma das principais políticos, empresas da iniciativa pública significante participação popular não só fontes de arrecadação para cobrir as e privada, instituições, etc. enquanto expectadores, mas enquanto início à organização despesas de preparação da Festa de Ao longo dos meses que costuma receber mais realizadores dos festejos. O trabalho é Sant'Ana. Contudo, no sentido de antecedem a Festa, a Comissão da Festa realizado angariar fundos para a Festa foi mobiliza nos voluntária, demonstrando o forte apego fundamental a criação da comissão de preparativos, acionando amplas redes e zelo do caicoense por esta celebração comunicação e marketing, composta de que, mais do que qualquer outra, por de conseguir executar suas tarefas. No expressa Caicó, período da Festa propriamente dita, os peculiaridades do modo de vida deste radialistas, jornalistas e blogueiros. esforços aumentam proporcionalmente povo. Essa comissão atua desde 2007 com à quantidade de trabalho que surge, a pessoas ligadas à comunicação social de área seus sociabilidade esforços no sentido de integralmente de profundamente forma as 42 DOSSIÊ IPHAN As receber visitas das imagens peregrinas nas zonas urbana e rural – a {Festa de Sant’Ana} imagem da santa, No caso da peregrinação rural, a mobilizando amigos e parentes para imagem da santa percorre os sítios, as uma recepção calorosa. Durante a visita fazendas e os povoados mais próximos. Os rituais de celebração compostos por peregrinação urbana e rural – que se novenas iniciam nos meses de junho e abril por leigos e como com vendas de bebidas e religiosas locais sob coordenação da comidas, Comissão da Festa; tem como objetivo A visitação da imagem de Sant‟Ana nas para de peregrinação das imagens de onde é celebrada uma missa em ação de família, a avó de Jesus, Sant‟Ana, vem espiritualmente fonte Ilton Pinheiro em frente à Catedral, Representando a figura máxima da preparam torna das Imagens” e a chegada da Caravana preparação da Festa de Sant'Ana. se se Sant'Ana é encerrada com o “Encontro casas dos fiéis e marcam o ciclo de momento em que as famílias católicas que arrecadação para a realização da Festa. o estabelecimento de uma rede de solidificar a fé entre os sertanejos. É o geralmente agrícolas e outros bens doados, bem lideranças reavivar os laços de parentesco e missas, finalizam-se com leilões de produtos respectivamente, são organizadas e geridas e graças aos peregrinos de Santa'Ana. rezam novenas, depositam suas ofertas A peregrinação rural ocorre ao na urna de Sant‟Ana e confraternizam- longo de 15 sábados que antecedem o se com lanche provido pelos anfitriões. início oficial da Festa, e é organizada 43 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} por uma subcomissão formada a partir bebidas até animais de pequeno e maioria dos itens são arrematados pelo da Comissão de Festas Religiosas. A médio porte (galinhas, patos, porcos, dobro ou triplo de seu valor de cada ano são praticamente os mesmos garrotes, carneiros, etc). comercialização; de acordo com a sítios e fazendas que recebem a imagem anfitriões, subcomissão da peregrinação, cada peregrina de Sant'Ana, o que expressa a juntamente com a subcomissão da leilão rende em média R$ 4.000,000 existência de uma rede de sociabilidade peregrinação rural são responsáveis (quatro já consolidada em torno do evento. A pela arrecadação dos itens a serem destinados à organização da Festa de iniciativa de receber a peregrinação leiloados, pela Sant'Ana. A peregrinação urbana é urbana por vezes parte de cada comercialização de bebidas e comidas iniciada no início de junho, ocorrendo proprietário, que procura a paróquia durante os leilões. O leilão de Sant'Ana diariamente até a véspera da abertura para manifestar o desejo de receber é um evento fundamental para a Festa oficial da Festa de Sant'Ana; consiste uma novena em sua propriedade. A de renda na visita de imagens peregrinas em peregrinação rural se divide em dois arrecadada é destinada à sua realização. diferentes bairros da cidade de Caicó. A momentos: um mais devocional, no Além disso, o leilão põe em evidencia maioria das imagens – cerca de qual se celebra pequena missa em um da cinquenta – assim como o roteiro da homenagem à Sant'Ana; outro mais sociabilidade seridoense, arrematar um celebração da novena são providos pela lúdico, com a realização de leilões de item durante um leilão é mais do que o própria paróquia, que realiza uma diversos pela desejo de contribuir com a realização seleção de articuladores, responsáveis pequenos da Festa, é também a “dramatização” de por organizar e conduzir os rituais de souvenires, pratos prontos de comidas um status social evidenciado pela recepção da imagem peregrina em sua típicas, demonstração de poder econômico. A comunidade, entrando em contato com produtos comunidade, doces, doados desde produtos agrícolas, Geralmente os assim Sant'Ana, aspecto como pois toda a interessante mil reais), integralmente 44 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} as famílias que desejam recebê-la em articuladores dos sua receberão. ornamentação e o local de realização peregrinação das novenas – seja numa residência ou peregrinação urbana é integralmente se em algum centro comunitário, escola ou conduzido por leigos, e podem ocorrer principais avenidas da cidade (Av. outro espaço público. O início da concomitantemente diferentes Seridó com Av. Coronel Martiniano), peregrinação urbana é marcado pela bairros; é de bom grado que, após a recepcionando a caravana de peregrinos realização da missa do envio, durante a celebração, cada anfitrião ofereça um que saem à pé da cidade de Acari, qual são distribuídas as imagens de jantar ou uma degustação simples de distante cerca de 60 km de Caicó. O Sant'Ana que vão percorrer os bairros iguarias típicas da região. Quando num evento é conhecido como o Encontro até a véspera da abertura oficial da mesmo bairro ou comunidade houver das Imagens, e é marcado por muita Festa. A missa do envio acontece mais de um anfitrião para a imagem emoção e manifestação de fé e apego sempre no domingo que antecede as peregrina, esta é conduzida em cortejo do caicoense à Senhora Sant'Ana. primeiras da para “dormir” no local onde será celebração de uma missa regular ao realizada a próxima novena. O ciclo da final da qual se apresenta e distribui as peregrinação urbana é encerrado na imagens véspera do dia de abertura oficial da casa; providenciando novenas, peregrinas trata-se para sua os bairros as Festa de Sant'Ana, quando as imagens Diferentemente da peregrinas deixam os diversos bairros e rural, da comunidades de Caicó em procissão e o em que rito encontram no cruzamento das 45 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} à Sant'Ana. Inicialmente a idéia era trecho entre Currais Novos e Acari, na BR partir desde Natal, cumprindo um 427, rodovia cheia serrotes e de curvas percurso de quase 270 km. No entanto sinuosas, obstáculos perigosos para quem as idealizadoras percurso seria pensavam demasiado que o avançada; decidiu-se então realizar a peregrinação partindo da cidade de Currais Novos, que também A peregrinação a Sant'Ana “Caravana Ilton Pacheco” teve início no ano de 2000 a partir da idéia de três mulheres caicoenses que residiam em na capital Natal, desde 2004 a caravana recebe o Ao longo, especialmente para as pessoas de idade mais caminha às suas margens. tem Sant'Ana como padroeira, passando pelas cidades de Acari, Cruzeta e São José do Seridó, num percurso de praticamente 85 km. A partir de seu quarto ano, a peregrinação sofreu uma longo do percurso os peregrinos, em uma quantidade que varia entre 40 e 50 pessoas por ano, param apenas para alimentar-se e dormir, ou em caso de extrema necessidade. Ao longo do caminho rezam e cantam o hino do peregrino e outras canções sacras, e são calorosamente recebidos em pontos de apoio distribuídos em residências nas nome de um de seus mais dedicados redução no seu percurso, partindo da cidades e na zona rural dos municípios membros, ano. cidade de Acari. A mudança ocorreu por percorridos, Inspiradas pela peregrinação a Santiago questão de segurança, uma vez que os refeições, de Compostela, na Espanha, as três peregrinos encontraram dificuldades em ferimentos nos pés e compartilhar suas amigas uma conseguir o apoio de batedores da Polícia experiências com os demais. A cada peregrinação até Caicó em homenagem Rodoviária Federal para acompanhá-los no ano falecido decidiram naquele realizar a onde cuidar comissão podem de realizar eventuais organizadora da 46 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} Caravana solicita uma taxa de inscrição Mariz, o Marizão, por autoridades do de Sant'Ana, constituindo-se numa das para arcar com os custos da caminhada, poder público local, representantes da primeiras o dinheiro arrecadado é utilizado na paróquia, e um grande público de manifestações de fé e apego do confecção de camisetas e bonés, na devotos. com caicoense à Sant'Ana. A paróquia compra de alimentos e água, de foguetório e com a apresentação da aparece nestes eventos quase como uma combustível para os veículos de apoio e Banda de Música Recreio Caicoense, a coadjuvante, pois são organizados e pagamento de hospedagem; o montante Furiosa. Logo em seguida seguem sua geridos por leigos, demonstrando a que eventualmente sobra é doado para a caminhada até o centro da cidade, onde dedicação dos devotos caicoenses e sua paróquia de Caicó. Ao chegar em está localizada a Catedral de Sant'Ana. vontade de contribuir de todas as Caicó, sempre na véspera da abertura No cruzamento das avenidas Seridó e formas não só na celebração da Festa, oficial a Coronel Martiniano, ocorre um dos mas na sua própria concepção. O é acontecimentos mais emocionantes da Encontro das Santas e os Peregrinos de calorosamente recebida em frente ao Festa de Sant'Ana, qual seja, o encontro Sant'Ana são iniciativas pessoais de estádio de futebol Dinarte de Medeiros da imagens devotos que, juntamente com outras peregrinas de Sant'Ana. Todos, então, formas de manifestação de devoção, se dirigem à Catedral de Sant'Ana, onde passaram é celebrada uma missa de ação de significativa a programação religiosa da graças pela chegada dos peregrinos. O Festa de Sant'Ana. da Caravana Festa Ilton de Sant'Ana, Pinheiro São Caravana homenageados com as e a mais integrar emotivas de forma Encontro das Santas com os Peregrinos de Sant'Ana marcam o início da Festa 47 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} 48 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} com uma passeata de caráter solene, novenário saindo da Catedral de Sant'Ana e acontecem os batismos coletivos e percorrendo as principais avenidas e mutirões de confissão, intensificando ruas do centro de Caicó (Avenida ainda mais a programação religiosa. Seridó, Rua Renato Dantas, Rua Celso Apesar de o Encontro das Santas, que coincide com a chegada dos Peregrinos de Sant'Ana, ocorrer sempre na quarta-feira que antecede o dia de Sant'Ana (26/07), a Festa de Sant'Ana é oficialmente iniciada um dia depois, sempre na quinta-feira precedente ao dia 26 de julho. A abertura oficial da Festa tem inicio, geralmente às 16h, e Depois as missas das solenes, celebrações de Dantas e Avenida Cel. Martiniano) até abertura, no Pavilhão de Sant'Ana, retornar ao largo da Catedral, momento espaço em que o estandarte de Sant'Ana é programação sócio-cultural promovida hasteado em mastro localizado em pela paróquia, é oferecido o Jantar de frente Sant'Ana, realizado desde 1985. Para somente à Catedral, após a sendo retirado procissão destinado à realização da de participar do tradicional banquete, é encerramento. Encerra-se a abertura preciso comprar uma senha, que dá solene da Festa de Sant'Ana, que acesso ao espaço de onde é servido, o durante dez dias anima a cidade de que implica uma restrição em seu Caicó com uma vasta programação público – cerca de 1000 pessoas – religiosa e sociocultural. Nos dias de composto basicamente por gente de Festa a igreja praticamente não para, classe média-alta, que reúne-se com entre as celebrações principais, como o familiares e amigos de uma forma que o 49 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} critério de ocupação das mesas é espontaneamente definido de acordo com os grupos familiares presentes. No Jantar de Sant'Ana são servidas algumas comidas típicas da região, como a paçoca de carne de sol com macaxeira, dentre outros. A venda das senhas, a organização do local, a preparação do cardápio bem como a tarefa de servi-lo fica tudo ao encargo de uma subcomissão criada dentro da Comissão das Festas Religiosas. O Jantar de Sant'Ana é o primeiro evento social promovido pela paróquia na Festa de Sant'Ana, no qual as famílias e amigos se reúnem e onde os caicoenses que vivem longe se reencontram, reafirmando seus laços e construindo novas redes de sociabilidade. 50 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} As novenas são celebrações no pavilhão, de onde os fiéis podem feminino no RN, tendo fundado em comuns durante as festas religiosas acompanhar a celebração. Durante as Natal católicas, são reuniões de fiéis para a novenas existem os ritos iniciais, circulação voltada para o público realização compostos por canções de louvor e feminino, em 1914. O professor Manoel direcionadas à um santo específico. As invocações missas Fernandes ficou com a incumbência de novenas, conforme sugere o nome, são católicas, em seguida reza-se a ladainha musicar o poema. Outra particularidade realizadas ao longo de nove dias, de Sant'Ana como forma de evocação à das novenas da Festa de Sant'Ana coincidindo com o período de duração santa. Depois a novena segue conforme ocorre na noite do dia 26 de julho, dia da festa. No caso da Festa de Sant'Ana a praxe católica, com a leitura e de Sant'Ana, quando é declamado o são onze dias de celebração, e as pregação da palavra, a adoração ao Ofício de Sant'Ana, criado na década de novenas são celebradas todas as noites, Santíssimo Sacramento e a comunhão. 1970 por Monsenhor Antenor Salvino exceto na do dia de abertura oficial da A novena se encerra com o Hino de de Araújo, sua irmã poetisa Hilda Festa, e na última quando ocorre a Sant'Ana, cantado de Araújo, juntamente com os poetas Iara procissão. As novenas sempre contam Sant'Ana e fervorosamente Diniz e José Lucas de Barros. Trata-se com um público além da capacidade de acompanhado pelos fiéis. O Hino foi de um poema sacro que é declamado acomodação das dependências internas composto pelas primas Palmira e em antifonia entre público e celebrante, da Catedral, por este motivo uma Carolina poetisas enaltecendo as virtudes de Sant'Ana e estrutura de telões e cadeiras é montada consideradas precursoras do jornalismo seu esposo São Joaquim, assim como de orações, geralmente habituais das pelo Wanderley, Coral a revista “Via-Láctea”, de 51 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} pedindo proteção e graças. Além do culinária seridoense. Em 2007, a Festa significado novenas de Sant'Ana entra para a “era digital”, também apresentam um aspecto de com as novenas e a Missa Solene sendo sociabilidade. A cada noite a novena transmitidas ao vivo pela rede mundial ocorre de computadores. devocional em as homenagem a vários segmentos da sociedade: universidades, escolas, associações, sindicatos, grupos beneficentes, profissionais, movimentos religiosos, pastorais, paróquias da região do Seridó, instituições publicas e privadas, etc. Após as novenas os devotos podem desfrutar de apresentações culturais no Pavilhão de Sant'Ana, brincar no parque de diversões ou simplesmente passear pelas praças da Matriz e da Liberdade, onde existem barracas com venda de comidas e bebidas, lugar de reunião de parentes e amigos, de flertes e conversas animadas acompanhadas de uma bebida e algum petisco da 52 DOSSIÊ IPHAN Compondo o cenário da Festa {Festa de Sant’Ana} novenas e missas. Estes momentos são desfrutados, geralmente, por mais que o há o Pavilhão de Sant'Ana, uma área delimitada pela paróquia com o auxílio da Prefeitura Municipal ao redor da Catedral de Sant'Ana, onde ocorrem os eventos sócio-culturais promovidos pela paróquia, como apresentações de artistas locais, a venda de artesanato e comidas típicas, o Jantar e a Feirinha de Sant'Ana. Além de abrigar toda a programação sociocultural realizada pela paróquia, o pavilhão funciona como uma extensão da Catedral nos momentos de celebração, como nas dobro de público comportado no interior da Catedral, pois são instalados telões ao lado do palco do pavilhão, através dos quais as celebrações são transmitidas. Todas as noites, durante as novenas, centenas de cadeiras são dispostas em frente aos telões, para que os fiéis possam desfrutar de um mínimo de conforto. Ao término das celebrações reigiosas, as cadeiras são removidas para dar lugar às apresentações culturais no palco do pavilhão, que se estendem até meia noite, dando lugar à intensa programação dos clubes e da Ilha de Sant'Ana. O evento que se destaca como um acontecimento lúdico e profano no Pavilhão é a Feirinha de Sant'Ana, realizada sempre na ultima quinta-feira do mês de julho, feriado municipal em 53 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} homenagem à padroeira. A feirinha é o passado, apreciar a culinária, festejar, carnavalescos ponto de encontro entre peregrinos, encontrar amigos, etc. confeccionam turistas, famílias de Caicó e migrantes, O nome no diminutivo – para a de Caicó, camisetas feirinha, que específicas realizando um os chamados “caicoenses ausentes.” feirinha – exprime o afeto que o verdadeiro carnaval fora de época Nesse a caicoense tem para com o evento, mas dentro da principal festa religiosa da estratificação social identificada nos não condiz com a sua grandiosidade, região. A venda de bebidas alcoólicas diferentes estilos de vida, visíveis nas pois trata-se de um dos eventos mais na Feirinha de Sant'Ana é um assunto práticas e atitudes correspondentes à esperados e frequentados da Festa de um tanto polêmico, muitos devotos posição social de cada grupo. Os filhos Sant'Ana e extrapola os limites do sustentam a opinião de que a paróquia, das famílias mais abastadas disputam Pavilhão, com as pessoas de origem mais feirinha, se estendendo até a Praça humildes os espaços cobiçados da praça Senador Dinarte Mariz (Praça da pública durante o dia animado por trios Liberdade) localizada na quadra ao lado de forró. Representantes da política do Pavilhão. São praticamente duas local de feirinhas antagônicas, mas que ocorrem participar desse momento de grande em harmonia: aquela “oficial”, onde se visibilidade social. As casas de família congregam as famílias no espaço acolhem todos os parentes e amigos, respeitoso organizado pela paróquia; e aplicando da outra paralela na Praça da Liberdade, generosidade e hospitalidade. Todos realizada de forma espontânea pelos aproveitam a ocasião para lembrar o jovens momento, e regional o evidencia-se não preceito deixam cristão território integrantes “oficial” de da por reconhecer que o álcool é responsável pela desestruturação da blocos 54 DOSSIÊ IPHAN instituição familiar, não {Festa de Sant’Ana} deveria bastante singular de fazer filhós, uma frequentadores permitir a comercialização dese tipo de massa frita à base de batata coberta com acondicionar bebida. No entanto a paróquia não vê o mel de engenho ou mel de rapadura; comercializados. problema nisso, pois consideram que ou o mítico chouriço, um doce feito padronização nas barracas além de aqueles que frequentam a feirinha ou o com sangue de porco. Como afirmou causar impacto negativo do ponto de pavilhão ao longo da Festa consomem um dos participantes da feirinha, “no vista estético, gera problemas em sua bebida alcoólica de forma moderada. dia da feirinha, ninguém faz comida em montagem e distribuição. Ainda assim, Além disso, sua comercialização e o casa, e você não vê ninguém nos a feirinha é o evento social mais apoio dado por uma das maiores restaurantes da cidade, tá todo mundo significativo da Festa de Sant'Ana, é cervejarias do país (Brahma Chopp) são comendo na feirinha.” Em termos nela onde se aglutinam os elementos fontes de renda fundamentais para estruturais, mais cobrir os gastos da realização da Festa. centenas de mesas distribuídas no seridoense, espaço do pavilhão, e com a montagem culinária, artesanato e manifestações pode encontrar os pratos mais típicos da de artísticas, culinária seridoense: galinha caipira, comercializadas bebidas e comidas hospitalidade bastante peculiar, que se bode assado, buchada, panelada, carne típicas. Nos últimos anos a feirinha vem faz questão de ser expressa pelas de sol, paçoca, entre outras iguarias são enfrentando pessoas de Caicó. itens relação É também na feirinha onde se indispensáveis como prato a tendas à feirinha e barracas conta onde com são sérios problemas com sua estrutura, os principal da maioria das refeições em organizadores reclamam sobretudo da dias de festa. A doçaria seridoense é falta de espaço e de instalações bastante adequadas peculiar, com um modo para receber tanto quanto para os A significativos produtos falta da de identidade representados assim uma como pela pela os 55 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} 56 DOSSIÊ IPHAN A Cavalgada de Sant‟Ana é uma expressão da devoção {Festa de Sant’Ana} santa e receber benção para seus caminhões animais. Por volta da década de 1970, camponeses em dias de feiras e festas caicoenses retomou essa tradição e, em conjunto cavalaria, era celebrado pelas pessoas na zona rural único meio a Associação dos da Festa a Cavalgada de Sant´Ana. O evento, usavam os animais (jegues, mulas e como com Vaqueiros, realiza no primeiro domingo do município de Caicó. Estas pessoas cavalos) os Desde 2002, um grupo de a 1970 este evento, então denominado residiam transportavam para a cidade. dos vaqueiros à santa. Nas décadas de 1950 que que além de contar com a participação dos cavaleiros que residem de nas zonas rurais, atrai também pessoas transporte, sobretudo para se dirigir à que residem em Caicó, cidades vizinhas cidade nos dias de feiras, trazendo seus comercializarem. com a chegada do automóvel à zona e Estando em Caicó no período da Festa rural do município, esta expressão foi participantes, de Sant'Ana, estes agricultores se extinta. O meio de transporte utilizando cavalos e carros de bois, alguns organizavam em cavalgada até o pátio os animais passou a ser substituído por trajando a vestimenta típica do vaqueiro da Catedral de Sant'Ana para louvar a carros, sertanejo produtos para sobretudo caminhonetes e amantes – das vaquejadas. montados perneira, em Os seus guarda-peito, gibão e chapéu de couro – percorrem as 57 DOSSIÊ IPHAN principais ruas e avenidas da cidade, com saindo do Parque de Exposições de tradicional da foi reavivado, o Leilão de Caicó, na BR 427, com destino ao Pátio Sant'Ana, que antigamente logo após a da Catedral de Sant'Ana. Durante o celebração da chegada da cavalaria. percurso da cavalgada os participantes Segundo um dos organizadores da conduzem há vaquejada, em 2001 o Leilão de acompanhamento de músicas religiosas Sant'Ana arrecadou cerca de R$ 400,00 e diversas outras aclamações como (quatrocentos reais), a partir de 2002 preces e aboios. Ao chegarem, são com a retomada da antiga cavalaria, recebidos com a celebração de uma hoje chamada cavalgada, o leilão de missa e com a benção aos animais. É Sant'Ana foi reencontrando seus dias de um evento que une a devoção do explendor, seridoense às narrativas de fundação da arrecadação de mais de R$ 10.000,00 cidade de Caicó, que teria surgido a (dez mil reais) em 2009. estandartes, a {Festa de Sant’Ana} cavalgada outro culminando evento numa partir das preces de um vaqueiro. Em 2002, quando a cavalgada foi retomada, houve a participação de cerca de 40 montarias, em 2007 este número subiu para cerca de 300 montarias, com um recorde de mais de 400 participantes em 2009. Juntamente 58 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} A carreata de Sant'Ana, também Para se chegar ao atual percurso, os ainda assim foi contabilizado um denominada carreata dos motoristas, organizadores diversos montante de mais de 60 caminhões que ocorre sempre na noite da novena experimentos, lugares receberam benção no largo da Catedral. dedicada aos motoristas, última sexta- distintos, feira da Festa de Sant'Ana, desde a caminhoneiros localizado às margens organizada década de 1940. Não há registros do Caminhoneiros de Caicó, que se divide precisos a respeito da origem da crescimento carreata, mas especula-se que ela tenha participantes, assim como do porte dos mobilizar os motoristas e de ornamentar sido criada como forma de pagamento veículos (caminhões e carretas), a o caminhão que carregará a imagem de promessa de um devoto. Ela carreta sofreu uma redução no seu principal de Sant'Ana e a de São congrega caminhoneiros, motoristas, percurso, passando a percorrer apenas Cristóvão, padroeiro dos motoristas. motoqueiros e até mesmo ciclistas e as principais e mais largas avenidas de Desde que a carreata passou a ser pedestres, que seguem em cortejo desde Caicó. Em suas primeiras ocorrências, a organizada pela Associação dos o Parque de Exposições localizado na carreata aglutinava não mais do que 20 Caminhoneiros, em 1991, algumas BR 427 até a Catedral de Sant'Ana, veículos, chegando hoje a mais de 300 inovações foram levadas à cabo, como seguindo entre carros, motos e caminhões. algumas mudanças no percurso, ou a percurso da cavalgada. Ao chegarem Segundo os organizadores, em 2009 busca de patrocínio junto a empresas do na Catedral, os motoristas e seus mesmo com a alteração em seu ramo rodoviário, o que possibilitou, por veículos recebem bençãos de um padre percurso no sentido de facilitar o fluxo exemplo, em 2007 a participação de e acompanham a novena em sua de veículos, a carreata enfrentou um veículos da homenagem. sério problema de congestionamento, carreata. Empresas praticamente o mesmo açude fizeram partindo como Itans. do do de clube Conforme número dos o de Atualmente nas a pela tarefas de carreata Associação buscar “Fórmula é dos patrocínio, Truck” na fabricantes de 59 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} caminhões, concessionárias, postos de ornamentação do veículo que carrega as antigos de veículos são outras atrações gasolina ramo imagens, com a compra de fogos de que fazem da carreata um evento automotivo apoiam financeiramente a artifícios e com a oferta oferecida à bastante peculiar da Festa de Sant'Ana. carreata, paróquia. A decoração e os modelos e comerciários cobrindo custos do com a 60 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} As celebrações mais importantes da Catedral, e ainda um momento de Festa, são as Missas de Abertura, preparação realizada na quarta-feira, a Missa Encerramento. A missa começa às Solene celebrada às dez horas da manhã 10:00h e finda por volta do meio-dia. A no último domingo da festa, e a grande igreja fica completamente lotada com procissão de encerramento. Ápice da pessoas tentando assisti-la até mesmo festividade e antecedendo o momento do lado de fora da Catedral. A final da festa, a procissão reúne grandiosidade que esse evento assume é peregrinos, local, retratada pelo Monsenhor Antenor, civis, Padre Emérito da Paróquia de Sant´Ana população autoridades religiosas e percorrendo as principais ruas da cidade: uma acompanha o multidão andor a Procissão de como: fiéis [...] Culto divino que se centraliza na altar e da igreja fica diferenciada dos Gloriosa eucaristia. No entanto, o povo se encanta bem demais dias da festa; com especial mais com as novenas, que são muito bonitas, decoração de enfeites e flores, a igreja muito solenes; mas [...] não teria sentido uma fica no maior esplendor. Todo esse de da para Sant'Ana, pagando promessas, entoando cantos e orações. Após o cortejo, há festa de padroeiro sem a missa solene, a uma eucaristia (informação verbal, julho de 2007). missa campal, seguida da exposição da imagem da Santa para É na Missa Solene que muitos veneração. A Missa Solene acontece devotos aproveitam para pagar sempre no último domingo da festa. É promessas. Espaço onde o sagrado, com um momento em memória ao dia de suas imagens, se impõe e pleiteia a Sant‟Ana, ápice da religiosidade na atenção dos fiéis. A ornamentação do aparato é acompanhado das vestes solenes dos celebrantes e das roupas de luxo que o público faz questão de ostentar. Algumas pessoas fazem questão de assistir a missa de pés descalços ou 61 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} vestindo roupa branca. São inúmeros os há mais de trinta anos arca com os público de curiosos para ver como ficou meios de se diferenciar e assim cumprir custos a ornamentação daquele ano e já para o pagamento votivo. A Missa é também ornamentadores de João Pessoa – PB e um momento de agradecimento por de importar flores naturais diretamente mais um ano de Festa de Sant‟Ana. A de São Paulo – SP. missa é transmitida desde tempos de trazer Depois da uma equipe preparação de dos imemoriais pelas rádios da região do andores as imagens são retiradas do Seridó, e em 2007 teve sua primeira altar da Catedral , único dia do ano que transmissão ao vivo via internet. a imagem de Sant'Ana deixa seu nicho. Ao término da Missa Solene As poucas pessoas que tem acesso ao conclui-se a ornamentação dos andores interior da Catedral naquele momento utilizados para conduzir as imagens de aplaudem fervorosamente o momento Sant'Ana e São Joaquim durante a em que a imagem é retirada do altar. procissão. O andor é levado para o Com muito zelo ela é acomodada no interior da Catedral, que permanece de andor, e caprichosamente recebe os portas fechadas até a conclusão dos últimos retoques dos ornamentadores, trabalhos de ornamentação, iniciados na que trabalham o tempo inteiro com uma noite anterior com a colocação das introspecção perceptível, demonstrando bases nas quais são fixadas as flores. A fé e dedicação ao seu ofício. Por volta ornamentação é das quatorze horas as portas da Catedral patrocinada por uma única família, que são abertas novamente, recebendo um dos andores deixar alguma oferta para a santa. 62 DOSSIÊ IPHAN Com a imagem Sant'Ana já final, depois que a imagem da Santa durante os pouco mais de dois minutos andor e retorna ao interior da Catedral, ocorre em que os fiéis se engalfinham na devidamente ornamentada, os devotos um beija, tentativa de pegar ao menos uma da podem adentrar à Catedral onde já estão acompanhado de uma acirrada disputa rosas que acompanhou Sant'Ana em seu posicionados próximos à imagem os pelas flores que ornamentam o andor e cortejo devocional. Nesse sentido, há cestos a imagem. Muitos acreditam que o chá uma organização prévia do espaço, (doações) dos fiéis. Esse é um momento dessas outros realizada antes mesmo da procissão, particular da Festa de Sant'Ana de guardam como lembrança ou fazem o dispondo-se os bancos da Catedral em Caicó, quando os devotos veneram a voto de mantê-las intactas até a um formato de meia lua ao redor da imagem de Sant'Ana, depositam sua procissão do ano seguinte, outras imagem, com dois ou três sacristões oferenda e com um gesto de profunda pessoas se contentam simplesmente em sempre reverência beijam a própria mão e tocar o andor ou os pés da imagem. É desestabilização na imagem. Em 2010 a tocam a imagem, transferindo todo seu um momento de profunda manifestação imagem principal de Sant'Ana deixou a afeto simbolizado no beijo, este é de fé e reverência à Senhora Sant'Ana, Catedral para passar pelo seu quarto denominado o momento do beija, gesto que exige muito esforço e organização processo de restauração, e ao que tudo que se repete desde a cerimônia pública por paroquial indica ganhará uma redoma de vidro de instalação da Povoação do Caicó, em responsável pelo momento. Há um para não sofrer mais deterioração. A 1735, antes mesmo da criação da cuidado especial em evitar qualquer paróquia já demonstra preocupação paróquia de Sant'Ana. Após a procissão acidente com a imagem, sobretudo com a reação dos devotos, que não mais acomodada que em de {Festa de Sant’Ana} seu recolherão as ofertas segundo flores parte da momento é do milagroso, comissão atentos a qualquer 63 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} poderão tocar a imagem. Contudo, é apresenta uma tradição estética distinta imagem primitiva foi leiloada, ficando importante equacionar as perdas e daquela difundida entre os santeiros do sob posse da família do Sargento Mor ganhos em relação ao isolamento da sertão outra Manoel Gonçalves de Mello, que a imagem, uma vez que ao longo dos versão, a imagem teria sido trazida do deixou como herança para seu filho, anos foram observadas diversas avarias Rio de Janeiro pelo padre Francisco de José Batista de Mello. Sem herdeiros, o muitas vezes causadas por devotos Brito Guerra, no início do séc. XIX. Pe. José Batista teria doado a imagem demasiado fervorosos. Tudo que se sabe, através dos registros primitiva à um dos descendentes da dos paroquiais, é que a imagem principal de família restauradores Hélio de Oliveira e Sant'Ana está em Caicó desde 1811. primitiva foi finalmente devolvida à Neilton Em janeiro de 2010 a Paróquia de paróquia em julho de 1999, onde panejamento das figuras é flagrante o Caicó de permanece em um nicho localizado em desgaste que ao longo dos anos o tombamento da imagem principal de uma das paredes laterais da Catedral de conjunto vem sofrendo dado o apego Sant'Ana. Uma outra imagem primitiva Sant'Ana. Esta imagem é tombada pelo dos fiéis em tocar o seu referencial de de Sant'Ana, que é retratada em pé, está IPHAN, conforme notificação nº 887 de fé”. A origem da “imagem principal da presente em Caicó pelo menos desde a 25 de junho de 1962. Em março de Senhora Sant'Ana”, retratada sentada instalação oficial da povoação do 2009 um episódio curioso marcou a com uma jovem ao lado, permanece Caicó, em 1735. Foi doada pelo vida devocional dos caicoenses, quando desconhecida. Uma versão dá conta de cearense Luiz da Fonte Rangel, ficando foi anunciada a retirada da imagem de que a imagem foi escupida em Caicó, no altar principal da Igreja de Sant'Ana Sant'Ana para restauração. Houve uma por Tomás de Aquino, versão pouco até o ano de 1823, quando foi mobilização popular que resistia à idéia sustentada, uma vez que imagem substituída pela imagem atual. A de retirar a Senhora Sant'Ana de seu Segundo Santana o laudo da Silva, “no seridoense. Em entrou com uma pedido Fonte Rangel. Sant'Ana 64 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} Cicco em outubro de 1919. Segundo relatos de Ms Antenor Salvino de Araújo14, a substituição da imagem de Sant'Ana, que naquela ocasião passou a ser denominada Sant'Ana Velha, a mesma principal, que hoje causou é denominada insatisfação dos “lar”. No entanto, a imagem destinada à devotos. Ainda segundo Ms. Antenor, a restauração não era a principal, que sai Sant'Ana Velha foi restaurada em 1935, atualmente como e somente em 1947 foi recolocada no pensavam os devotos, mas sim a altar central da Catedral de Sant'Ana, imagem desde passando a ser denominada como a 1962. Apesar de seu enorme valor imagem principal da Senhora Sant'Ana. em primitiva, procissão, tombada histórico e artístico, diante dos fatos ocorridos percebeu-se que a imagem primitiva de Sant'Ana não possui o mesmo valor afetivo que tem a imagem principal para os caicoenses. Há ainda uma terceira imagem de Sant'Ana, também retratada de pé, que foi entronizada pelo Cônego Celso 65 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} A procissão final da festa de Sant‟Ana de Caicó continua sendo até hoje o maior aglutinador de todos os festejos religiosos da região do Seridó, reunindo um público estimando em mais de cem mil pessoas no ano de 2009, bastante significativo para uma cidade de pouco mais de sessenta mil habitantes. A cada ano esta celebração agrega um número maior de participantes, oriundos de diversos lugares. Desde a saída até retornar para o largo da catedral, onde é celebrada uma missa campal, torna-se notória a relação dos fiéis com a imagem da Emérito da Paróquia de Sant'Ana dá o devoção a Sant‟Ana. Em se tratando da santa, o Monsenhor Antenor, Padre seguinte depoimento: 66 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} “Eu acho Sant´Ana um encanto o ano todo, porém o momento alto, o ápice é quando ela toma posição na soleira da Catedral, daí, pára. Então, ela vai, o andor começa a ser dirigido pelos devotos. Ela vem do interior da igreja e toma posição na soleira da Catedral. Todo mundo vê, bate palmas. É uma coisa!!! Eu fico olhando... Cada ano pra mim é novidade. Eu acho que naquele momento tudo vira outra forma. Parece que ela “envivece”, parece que ela está se comunicando, parece que ela está ouvindo, parece que está dizendo, parece que ela está... é uma coisa de impressionar, é um estrondo! (julho de 2007)”. 67 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} O cortejo inicia-se sempre às 16:30h, significação especial para o povo de Federal vai à frente do cortejo, abrindo quando a multidão devota deixa a Caicó, como: a Catedral de Sant‟Ana; a espaço para a procissão passar. Em Catedral percorrendo as principais ruas Praça da Matriz; a Praça da Liberdade; seguida e Caicó, o Mercado Público; o Grupo Escolar paralelas, vem os coroinhas seguidos do cumprindo o seguinte itinerário: Av. Senador Guerra e a Prefeitura de Caicó. grupo de escoteiros abrindo o cortejo, Seridó, Rua Pedro Velho, Av. Celso Os moradores das ruas e avenidas por entre as fileiras um diácono carrega um Dantas Martiniano, onde passa a procissão contribuem crucifixo conduzindo uma terceira fila retornando pela Av. Seridó até chagar deixando os caminhos livres, sem composta pelos porta-bandeiras das novamente à Catedral de Sant‟Ana. carros ou motos estacionados e, mesmo ordens aqueles compõem avenidas da e cidade Av. de Cel. O percurso atual teve início em que não acompanham a formando religiosas a duas e fileiras pastorais Diocese de que Caicó. meados da década de 1990, diante do procissão participam dela, estendendo Seguindo os escoteiros nas fileiras crescimento de número de fiéis, fez-se lençóis brancos e exibindo imagens da laterais, vem as ministras da eucaristia necessário caminho santa em suas janelas. Ao longo de todo entre as quais vem tocando a Banda percorrido. Com as proporções que a o trajeto ouve-se os foguetórios em Recreio procissão foi tomando também foi homenagem Sant'Ana, juntamente com duas fileiras formadas preciso introduzir carros de som ao misturando-se ao som dos cânticos e lado a lado por associações e pastorais longo do cortejo, para facilitar a orações declamados pelos devotos. religiosas, condutores de estandartes e aumentar o à Senhora Caicoense, a Furiosa, uma bandeiras. Fechando a comissão de sua organização básica que parece se repetir frente da procissão, ao fim das fileiras dispersão. Nesse percurso, há lugares ao longo dos anos, com pouca variação: laterais de os batedores da Policia Rodoviária diocese, entre eles as autoridades comunicação entre os celebrantes e os devotos, evitando memória que assim a possuem uma A procissão apresenta estão os seminaristas da 68 DOSSIÊ IPHAN eclesiásticas, conseguem contentam-se em segurar o andor, num furor que não se pode paralelas. Na fila central, o Bispo é o ombro esteja conter. Ao chegar no interior da primeiro à sua esquerda, o Pároco de alcançando, verdadeiros Catedral, em frente ao altar principal, a Sant'Ana. Não se sabe precisar desde cordões humanos que emanam a partir imagem de Sant'Ana é posicionada para quando passaram também a formar um da imagem, como se as bençãos da o segundo momento do beija, quando cordão humano composto de jovens santa fossem atravessando os corpos, além de tocar a santa, os devotos voluntários da paróquia, separando as chegando a cada um dos fiéis. O andor arrancam as flores do andor, cujo chá autoridades eclesiásticas da multidão é objeto muito disputado, todos querem acredita-se ser milagroso. Enquanto que vem formando filas de alguém que formando o o cortejo, ter o prestígio ou cumprir promessa de isso, o clero se posiciona para a primeira imagem carregá-lo, nem que seja por poucos celebração de uma missa campal de conduzida, a de São Joaquim, marido segundos. o encerramento, no pátio frontal da de Sant'Ana, que certamente goza de privilégio de carregar o andor de Catedral, lugar que se torna minúsculo prestígio bem menor em comparação à Sant'Ana desde sua saída da Catedral já para as quase cem mil pessoas que sua esposa, que vem em seguida. A chegam ao recinto cerca de duas horas acompanham o cortejo. Na procissão de procissão de encerramento da Festa de antes da saída do cortejo. As imagens encerramento a fé e devoção à Senhora Sant'Ana é um momento magnífico, um de Sant'Ana e São Joaquim são Sant‟Ana emanam nos gestos de fiéis desfile de comoção e fé do sertanejo, recebidas de volta à Catedral com o que vem acompanhar sua padroeira em que não mede esforços no pagamento repicar dos sinos e fogos de artifícios. cortejo solene pelas ruas e avenidas da de suas promessas, que se engalfinha na Enquanto a imagem toma posição para cidade de Caicó. Muitos são os tentativa de ao menos tocar um pedaço voltar ao altar, os devotos avançam para pagadores de promessas que vem do andor de Sant'Ana; os que não retirar as flores que ornamentam seu agradecer as “graças alcançadas” por envolvendo seguindo cinco {Festa de Sant’Ana} a Os que querem ter 69 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} intercessão da avó de Jesus. Percorrer o principais destaques deste evento que que só depois de um ano deixará trajeto da procissão conduzindo o andor culmina com a bênção final e o novamente seu altar-mor, para visitar as da padroeira constitui-se como um dos arreamento do Estandarte de Sant'Ana, ruas de Caicó. 70 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} 71 DOSSIÊ IPHAN Principal {Festa de Sant’Ana} Liberdade, o Poço de Sant‟Ana, o acontecimento sociocultural de todo o sertão do Rio Grande do Norte, as festas religiosas Colégio Diocesano Seridoense (CDS), os clubes (Atlético Clube Coríntians de Caicó, Caicó Iate Clube, etc.) e, hoje, a de Ilha de Sant‟Ana, destacam-se como confraternizações, de encontros ou espaços onde acontecem as festas. reencontros das famílias, dos amigos e Durante as comemorações a Senhora dos nas Sant‟Ana, esses lugares transformam- identidade construída, às vezes, mais na homenagens à Padroeira da cidade. se num novo “espaço” onde funcionam subjetividade do “sentir-se caicoense” Assim como a Senhora Sant´Ana abriga múltiplas redes de sociabilidades. Nesse do que numa identidade religiosa. Não docemente em seu coração todos os sentido, cada festa cristaliza-se como obstante ser uma demonstração de fé e filhos dessa e de outras terras, também um novo cenário recuperado pela devoção religiosa, a Festa de Senhora a sua Festa comporta festividades, memória coletiva que se faz presente Sant´Ana sempre foi, como comprovam comemorações, solenidades cívicas e em todos aqueles que vivenciam tais os eventos diversos organizados não pela práticas. São espaços de encontro nos encontros paróquia, mas pelos poderes públicos quais o sagrado e o profano se Apresentava-se e ainda se apresenta municipal e estadual e pela iniciativa misturam no sentido de estabelecer como tempo propício de retorno à privada. A Catedral de Sant‟Ana, o laços e, cidade, quando o caicoense (o “filho Pavilhão de Sant'Ana, a Praça da principalmente, de afirmação de uma ausente”) deixa-se levar pelos caminhos são sempre visitantes motivo que se unem de sociabilidade registros históricos, e objeto de congraçamentos. 72 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} que o reconduzem à sua terra natal para chegada dos conterrâneos costuma ser dos que vieram com os que sempre compartilhar dos atos litúrgicos e anunciada efusivamente pela imprensa permaneceram festivos de exaltação à Padroeira. Num periódica. “A Festa oferece condições cronista. gesto de pura cortesia e saudação, a para tudo isso, porque ela é o encontro aqui,” escreveu o 73 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} Com a intenção de reviver o tipo de bebida a ser consumida, políticas, representantes dos poderes glamour e o encanto dos bailes do permitindo-se consumir apenas uísque públicos e lideranças religiosas de todo passado, animados musicalmente por ou vinho; traje passeio completo para o estado e até mesmo de outras partes grandes foi os homens e mulheres, as quais só terão do país. E a juventude festeira? Para ela, idealizada a Festa dos Coroas, ou Baile acesso ao baile se estiverem usando em substituição às soirées, a realização dos dos Coroas, pelos senhores Darci vestido. Por sua vez, os homens, ao shows de grandes bandas no Caicó Iate Fonseca, Automendes José e Erivanor adentrarem nos salões do Atlético Clube, na ASSEC, na AABB, na Ilha de Bezerra. evento Clube Coríntians de Caicó, não podem festivo, sempre na última sexta-feira da em nenhum momento dispensar o uso Festa orquestras, O de em sucesso 1974, desse cidade. Nessas ocasiões, os jovens apresentam um visual despojado, trajam terminou por do paletó. O acesso ao Baile é feito Baile de mediante a aquisição de uma mesa, com Encerramento que era realizado após a direito a entrada de quatro pessoas, adotam procissão. Tendo um público assíduo, a custando em torno de trezentos reais, ou Acompanham com o corpo o ritmo da cada ano atrai novos freqüentadores de através da compra de senhas avulsas, música sertaneja, o gingado do forró, o diferentes categorias sociais do Rio saindo por volta de cem reais por compasso do axé e o molejo do pagode. Grande do Norte e de outros estados pessoa. Em 2008 o Baile dos Coroas foi Agrupam-se por faixa etária, demarcam brasileiros. O seu sucesso reside no transmitido ao vivo pela primeira vez territórios na praça e no clube e vivem a diferencial: através fugacidade do momento num “ato coletivo substituir Sant'Ana, Sant'Ana e nos bares espalhados pela o antigo ambiente totalmente da emissora TV União, iluminado, com guarda de honra na demonstrando a notoriedade do evento, entrada, frequentado animado por grandes orquestras de baile, com restrição ao pelas mais abastadas famílias, empresários, personalidades roupas modernas de acordo com a moda ditada pela cultura de consumo em vigor e atitudes independentes. jubilatório.” Para o público jovem duas programações se destacam: a Festa da Juventude e a Ilha de Sant'Ana. 74 DOSSIÊ IPHAN A Festa da Juventude, realizada há mais cantores no funcionando desde 2007, ano em de vinte anos, surgiu em contraposição momento, com preferência pelas bandas agregou espaço à Festa de Sant'Ana ao Baile dos Coroas, com toda a sua de forró e axé. pela pompa e formalidade. Segundo os que {Festa de Sant’Ana} fazem Certamente a sucesso primeira vez. O Complexo programação Turístico Ilha de Sant'Ana comporta organizadores, o Baile dos Coroas não festiva não religiosa mais frequentada uma estrutura de bares e restaurantes, despertava interesse no público jovem, pela juventude é a que ocorre na Ilha de além de um anfiteatro, um ginásio que preferia uma programação festiva Sant'Ana, ilha fluvial localizada em um poliesportivo e palcos para shows. mais despojada, ficando sem uma dos rios que corta a cidade de Caicó, o Durante a Festa de Sant'Ana a Ilha alternativa na sexta-feira da Festa de rio Seridó. Foi inaugurada oficialmente recebe um parque de diversões um Sant'Ana. Foi então que um grupo de em julho de 2008, mas já vem grande palco central, onde ocorrem os amigos, funcionários do Banco do principais shows, com bandas Brasil, decidiram criar a Festa da de Juventude para acolher esse público, nacional. ocorrendo da dúvidas é o espaço que mais Associação Atlética Banco do Brasil agrega a juventude festeira, (AABB). A Festa da Juventude pois seu acesso é totalmente acontece sempre na última sexta- gratuito, com as atrações em feira da Festa de Sant'Ana, mesmo sua maioria patrocinadas pelo dia e horário do Baile dos Coroas, governo do estado em parceria sempre com a prefeitura municipal. nas animada dependências por bandas e sucesso Sem regional e sombra de 75 DOSSIÊ IPHAN A Festa de Sant'Ana é o lugar privilegiado dos reencontros, é a oportunidade dos “filhos ausentes” retornarem para visitar seus familiares e amigos. O período da Festa, que coincide com o recesso escolar da metade do ano, propicia a oportunidade de muita gente retornar ao seu lugar de origem. Além do Pavilhão de Sant'Ana e das celebrações religiosas, existem pelo menos duas celebrações que são diretamente destinadas ao objetivo de promover o reencontro de amigos e familiares que vivem distante e que aproveitam a ocasião da Festa de Sant'Ana para rever os seus. São a Festa do Reencontro e as festas de ExAlunos, com destaque para aquela {Festa de Sant’Ana} promovida pelo Colégio Diocesano Seridoense, criado em 1942, mais conhecido como o CDS. A festa do reencontro teve início no ano de 1983 sob iniciativa da “Loja Maçônica Regeneração do Seridó”, então presidida pelo Venerável Mestre rigor em relação aos trajes. Em sua Francisco seus primeira edição houve uma parceria organizadores, o objetivo da festa do entre a igreja católica e a loja maçônica reencontro era agregar mais uma Regeneração do Seridó, que só se atrativo à grande Festa de Sant'Ana, manteve mesmo na primeira festa. A propiciando um espaço festivo de festa do reencontro já teve como palco reencontro entre o citadinos e seus a Assoiação AtlÉtica Banco do Brasil conterrâneos fora. (AABB), a Associação dos Servidores Ocorrendo sempre no último sábado da da Caern de Caicó (ASSEC) e até Festa de Sant'Ana, a festa do reencontro mesmo o Atlético Clube Coríntians de teve seus estilo inspirado no baile dos Caicó, mesmo lugar onde ocorre o baile coroas, que acontece no dia anterior, dos coroas, finalmente se fixando pelos mas certamente com menos pompa e últimos dez anos no Caicó Iate Clube. Santiago. que Segundo viviam 76 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} Assim como no baile dos coroas, o (CDS), esta última apontada como a acesso à festa do reencontro é pago por mais primeiras uma composição ritual um pouco mais meio da aquisição de mesas ou de tentativas de se organizar um festa em elaborada, com a celebração de uma senhas um homenagem aos ex alunos do CDS missa, seguida de aulas da saudade das público que varia entre oitocentas e mil datam de meados da década 60 do séc. turmas de 10, 20, 30, 40 e 50 anos, pessoas. O principal interesse dos XX, continuidade. finalizando com uma festa animada participantes nessa festa, conforme seus Apenas a partir de 1986, com os geralmente por alguma banda da região. relatos é o da confraternização entre esforços da Associação dos Ex Alunos Outra característica particular é o aqueles residentes na cidade, e os do CDS, a festa passou a ter mais horário de sua realização, iniciando amigos que retornam em época de consistência, ocorrendo a cada ano com sempre às oito e trinta da manhã do férias coincidente com a Festa de um público cada vez maior. Um dos primeiro sábado da Festa de Sant'Ana, Sant'Ana. É com esse espírito que objetivos da festa, em seus primórdios, com a celebração de uma missa na transcorre muitos era o de arrecadar fundos para a igreja Matriz de São José, antiga capela cumprimentos, abraços e conversas manutenção das dependências físicas do CDS, seguida das aulas da saudade. calorosas, ao som das tradicionais do CDS, bem como das bolsas de A orquestras de baile. As festas de ex estudo que até hoje são concedidas para exclusivamente aos ex alunos, e só a alunos propiciam outro espaço de estudantes de baixa renda. Há vinte e partir do meio-dia as portas do CDS se reencontros, se tem conhecimento de quatro anos a festa do ex aluno do CDS abrem para acolher também familiares e pelo é amigos dos ex alunos. O público é avulsas, a menos comportando comemoração, duas: a do Centro Educacional José Augusto (CEJA) e a do Colégio Diocesano Seridoense tradicional. mas sem organizada As uma e gerida Associação de Ex Alunos. pela sua A festa do ex aluno envolve parte limitado cerimonial com a é venda destinada de uma quantidade de senhas equivalente ao 77 DOSSIÊ IPHAN público máximo que comporta {Festa de Sant’Ana} o colégio, cerca de mil e quinhentas pessoas, que tem direito a churrasco e vinho à vontade. Tudo ocorre nas próprias dependências do CDS, que empresta momentaneamente seu espaço formal de estabelecimento de ensino ao orgiasmo festivo do reencontro. A cada ano há homenagens à uma turma ou grupo de ex alunos, dentre os quais podemos encontrar várias personalidades religiosas e políticas, assim como empresários e profissionais liberais bem sucedidos, formados nos quadros de uma das mais respeitadas instituições de ensino do estado. 78 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} Nas festas de padroeiro em geral, e em especial, na Festa de Sant'Ana de Caicó, nos deparamos com um conjunto de ofícios e modos de fazer rituais e cotidianos, cada qual com funções e significados sociais e simbólicos, econômicos estéticos, particulares, atribuídos pelos executantes e por apreciadores. São saberes e fazeres – ligados à alimentação,à arte decorativa, ao artesanato – que podem ser encontrados em todos os municípios do Seridó, concentrando-se em Caicó nos períodos de festejps, sobretudos naqueles em homenagem à Sant'Ana. As comidas festivas, e os bordados fazem parte da vida cotidiana dessa população e configuram seu universo cultural, sendo reconhecidos como patrimônio cultural da região. 79 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} As festas de padroeiros, em parentes que moram distantes, para sertão nordestino. Muito embora o especial a de Sant‟Ana, se constituem comemorar aniversários, casamentos e ofício seja de domínio de homens e de como um momento ideal para os batizados e em outras datas especiais, mulheres, caicoenses viverem o passado no como as festas de fim de ano e Natal. presença mais expressiva na produção presente, ao saborearem as apetitosas Dentre as “comidas festivas” presentes do queijo de manteiga. As mulheres se comidas na culinária do município de Caicó e relacionam mais com a produção do pertencer ao domínio e ao espaço das que são degustadas na Festa de queijo de coalho. Mesmo assim, a donas de casa, algumas se especializam Sant‟Ana, figuram pratos tradicionais produção de queijo é uma fonte de na profissão e passam a ser convidadas como a buchada, a panelada, a fritada, a renda e / ou contratadas para preparar o galinha caipira, a carne de criação e de integral, que termina por envolver cardápio de outrora. Apesar de os primeiros familiar, têm complementar uma ou familiares e porco torrada, a paçoca de carne de sol, diversos membros do grupo doméstico. regadas a os queijos de manteiga e de coalho, os No imaginário coletivo, os queijos de “comidas festivas.” A culinária do biscoitos (raivas, sequilhos, palitos) e coalho e de manteiga artesanais são Seridó oferece os doces, como o chouriço e os filhoses comidas guarnecidos com mel. especialidades disponibilizadas aos comensais em O ofício de queijeiro e o modo de Acredita-se que o queijo de coalho teria ocasiões festivas. Essas são elaboradas feitura dos queijos de coalho e de surgido com a necessidade que tinham com mais freqüência no ensejo de manteiga saber os viajantes, ao realizarem longas festas de padroeiros, para recepcionar relacionado ao ciclo da pecuária no jornadas, de acondicionar o leite nas de comunitárias “comidas festas que são uma variedade tradicionais” que de são constituem um tipicamente da nordestinas, culinária local. 80 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} mochilas (matulões) fabricadas a partir que a massa ganhe uma consistência ainda do estômago de animais jovens. Com mais firme, recebendo, no final, o apresentações isso, os viajantes observaram que o leite tempero da “manteiga da terra”. As técnicas e regras antigas. coagulava e que a massa era muito denominações queijo de coalho e queijo No passado, com raríssimas exceções, o saborosa. Daí surgiu o queijo de coalho. de devem-se, ofício de doceira e o modo de feitura de Contudo, esse conhecimento já era respectivamente, ao uso, em suas chouriço, filhoses, biscoitos de goma de dominado por alguns povos antigos, receitas, do coalho e da manteiga. Essas mandioca, conforme nos lembra Cascudo (1973, iguarias são guloseimas da doçaria seridoense, era 2004). Tanto o queijo de manteiga assadas, ou como o de coalho têm no leite seu acompanhamento ingrediente principal, diferenciando-se regionais. quanto ao sabor, ao modo de feitura, às industrializada um praticamente assistemático, aprendido e formas de fenômeno surgido nas últimas décadas, transmitido no seio familiar, onde as comestibilidade. Enquanto a fabricação os modos de feitura sofreram algumas humílimas doceiras, ainda meninas, do queijo de coalho é baseada na modificações. Buscando ajustarem-se iniciavam-se na doçaria. Era exigido simples coagulação do leite de vaca ou às normas da vigilância sanitária e dos esmero e dedicação na feitura dos de cabra, por meio de produto químico mercados quitutes, sob pena de se pôr em risco a ou de coalho animal e na prensagem da queijeiros passaram a seguir uma reputação massa, na do queijo de manteiga, o leite padronização em seus produtos, quanto familiar, algumas mulheres não se é coagulado com o soro de leite e à forma, ao peso e à embalagem. A contentavam com a simples reprodução depois é submetido ao cozimento, para despeito dessas modificações, alguns de “receitas da vovó” e inventavam de apresentação e manteiga saboreadas como de Com dos frescas, “tempero” alguns a ou pratos fabricação queijos, consumidores, muitos mantêm as de assim formas acordo como com de e as outras reservado às mulheres, como outras atividades culinárias e domésticas. Tratava-se saber-fazer de da um família. Em clima 81 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} novas receitas e combinações a partir crescendo e que gera renda para a que ficam impressas nas guloseimas. É dos elementos disponíveis no contexto. economia doméstica, um crescimento pelo nome delas que os produtos Com o passar do tempo, esse saber- diretamente associado à valorização das circulam na comunidade. Além das fazer e “coisas da terra” nos mercados regional doceiras citadas e respectivas famílias, transformado com novos ingredientes e e nacional. Todos os recursos materiais há novas Antigamente, necessários para a feitura dos biscoitos desenvolvendo essa atividade na região. mesmo existindo algumas doceiras que são oriundos das doceiras e de sua O faziam por família. Em geral, a fabricação dos atividade e de sua relevância para a encomenda, prática que ainda subsiste, doces envolve o trabalho de membros economia familiar ainda está por ser a grande maioria da produção era para da família e de “ajudantes”, os quais feito. consumo da própria família. As iguarias recebem salário pelo serviço prestado. eram apropriadas para serem servidas A mulher continua à frente desse apreciadíssimo, e/ou presenteados aos visitantes e segmento de produção alimentar, apesar diferente das variações da doçaria convivas mais exigentes. Alguns tipos de a participação do homem vir portuguesa. No Seridó, ele é servido eram fabricados principalmente para crescendo, décadas, com mel feito de rapadura ou de ocasiões especiais e pelas famílias que conforme observações das doceiras. engenho e é mais consumido no tinham condições Elas detêm o controle da produção e da carnaval, durante a Quaresma e na socioeconômicas. Hoje, grande parte do comercialização dos doces e biscoitos, Festa de Sant'Ana. Segundo as doceiras, que é produzido é comercializada na em parceria com familiares. Apesar da antigamente o filhós era produzido no região e exportada para outras cidades. participação dos ajudantes na feitura dia de carnaval, conhecido como Trata-se de uma atividade que vem dos “doces”, são as marcas das doceiras “domingo de entrudo” ou “domingo vem sendo tecnologias. as acumulado especialidades melhores nas últimas muitas estudo da outras importância famílias dessa O filhóes ainda é um doce mas segue receita 82 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} mela-mela”, quando se faziam festas e pelas doceiras seridoenses, há aqueles uma prática muito antiga que continua “mela-mela” outros em que se utiliza, como matéria-prima em vigor entre os seridoenses. Os produtos afins pelas ruas da cidade. As básica, a fécula de mandioca, também biscoitos ainda são utilizados como pessoas tinham o costume de se conhecida como polvilho, ou araruta. A guloseimas sujarem com goma e mel e saírem raiva, o biscoito de leite e os sequilhos, presentearem parentes e amigos, status “melando” as outras, dentro das casas. ou iscas, são os três tipos de “biscoitos de que também goza o chouriço. O A brincadeira era uma maneira de caseiros” mais requintados e mais chouriço é fruto de uma combinação proporcionar um prazer a mais na apreciados pela população. A produção culinária de sangue e banha de porco, alimentação da família e de integrar e o consumo desses biscoitos é mais rapadura, castanha de caju, leite de vizinhos e amigos na alegria do período intensa nos períodos de festas na coco, farinha de mandioca, especiarias carnavalesco. Outro fato associado à localidade, moradores (canela, erva-doce, cravo, pimenta do feitura dos filhoses, no período de costumam receber visitas de parentes reino e gengibre) e água. Algumas carnaval, dos ou amigos em suas residências, pois os mestras costumam usar também um “papangus”. Estes se fantasiavam com biscoitos caseiros são atrativos a serem pouco de gergelim e uma e sal. A máscaras , trajavam-se com roupas oferecidos aos convivas. Afora as feitura acontece no espaço da casa e é velhas e saíam assustando as pessoas, ocasiões festivas, os biscoitos são um evento culminante e ideal para se principalmente as crianças, dentro de iguarias indispensáveis no “café de reunir a família “extensa” – parentes, suas casas. Para que eles não fizessem finado”, oferecido aos parentes, amigos vizinhos e amigos – e para o sangue de medo às crianças, os adultos davam- e conhecidos da família, após a missa porco tornar-se comestível. Para que lhes filhoses com mel e, então, eles iam de trinta dias ou de ano do falecimento isso aconteça, são necessárias, em embora. Dentre os biscoitos produzidos de um de seus membros. Trata-se de média oito horas de fogo doméstico e a com era a goma e presença quando os especiais para se 83 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} por alguns sobretudo, principalmente ou carne-seca, da lingüiça de carne por ser feito de sangue de porco A bovina ou suína. Alguns marchantes carne-de-sol, ou carne-seca, é a carne também bovina salgada de modo especial, uma preparação da buchada. Para realizarem iguaria suas atividades, a maioria deles precisa muito seridoenses e apreciada pelos produzida pelo da são colaboração especializados de na ajudantes, marchante. O ofício de marchante é conhecidos na região como abatedores, perícia técnica de uma mestra – como é uma predominantemente magarefes e ajudantes. Geralmente, os conhecida a mulher que faz o doce na masculina, normalmente aprendida e ajudantes tornam-se – posteriormente – região – e de ajudantes, mulheres e transmitida na própria família ou entre marchantes ou somente abatedores, homens. pessoas responsabilizando-se apenas pelo abate Estes últimos geralmente prática conhecidas, marchantes e participam mexendo o doce no tacho. ajudantes. Apesar de o chouriço ser um doce comerciante especializado na compra, praticamente feito na venda e no abate de bovinos, encontramos alguns mestres chouriço região. O por mulheres, O marchante é um de caprinos, ovinos e suínos. Ele também chouriço comercializa a carne desses animais e permanece como uma iguaria singular pode realizar a castração artesanal dos na doçaria sertaneja, uma guloseima machos. Além de suas atividades não recomendada para pessoas doentes comerciais, ele também domina o modo e apreciado, sobretudo, por ter sabor de conservação das carnes por meio do doce. Mas é também um doce rejeitado salgamento e a feitura da carne-de-sol, na e pela preparação das carnes. As denominações que a carne- 84 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} de-sol recebe estão associadas ao fato assada – na paçoca ou em pedaços. Já a base de vísceras finas, misturadas ou de sua buchada é uma “iguaria festiva” da não com essas partes. Normalmente, as preparação, ela era salgada e depois culinária sertaneja – feita ora com carne “buchadinhas” exposta ao sol ou em ambiente fresco ora como vísceras de caprinos ou conjuntamente com os mocotós, as até ficar seca. Ao discorrerem sobre o ovinos – cujo modo estrutural de tripas e a cabeça da criação (nome processo de fabricação dessa carne, os preparo, em especial seu recheio, associado a espécies de caprinos e marchantes dizem que, no passado, ela apresenta variações de município para ovinos, assim como a carne desses era feita por salgamento e secagem ao município. Contudo, em todas as animais), num caldo que serve para sol e ao vento, para ser desidratada e situações, trata-se de uma comida feita fazer o pirão. As partes da carne do conservar-se por mais tempo. Apesar de com bucho de criação, no formato de animal que acompanham as buchadas hoje praticamente os marchantes não pequeno saco – chamado de “buchada” formam deixarem mais a carne secando ao sol, o ou buchada completa é um prato composto processo de feitura da carne-de-sol recheado com algumas partes desse tipo pouco mudou. O consumo da carne- de carne. Em alguns municípios, o O consumo da buchada é mais seca bovina pelos seridoenses é um recheio é composto por carne de intenso durante os fins de semana, hábito que vem desde o desbravamento criação feriados e festividades e ainda é da região pelos colonos. Nessa região, temperada, ela é considerada um alimento forte, pedaços de vísceras, em outros, ele é caprinos e ovinos. Desde muito tempo, saudável e substancioso, indispensável preparado com fígado, coração, bofe e é um costume, na região do Seridó, na alimentação, principalmente no dia- sangue (estes dois últimos, opcionais). quando do ensejo da matança de uma a-dia. Há, ainda, uma especialidade feita à criação, a feitura da buchada ou da que, É antigamente, saboreada, em normalmente, “buchadinha” – cortadinha podendo costurado ou moída conter e e alguns a são “panelada”. cozidas Assim, a de duas comidas. bastante associado à matança de 85 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} panelada, de preferência para ser sagrado (o cordeiro). Hoje, o hábito comensalidade. saboreada no dia seguinte. Mesmo ainda continuam enfeitiçando a memória dos assim, é comum a comercialização, no proporções. sertanejos, sobretudo quando estes são mercado local, da buchada crua (já As comidas festivas fazem parte da capturados pelos seus aromas e sabores preparada ou para ser feita) ou cozida. culinária vindos das “cozinhas maternas” durante A buchada cozida é um dos “pratos” da patrimônio cozinha regional também apreciado em Potiguar. Na qualidade de acepipes, excepcionalidades que estes parecem bares e restaurantes. No passado, era elas vêm sendo elaboradas e saboreadas reafirmar seu estatuto de comidas muito freqüente o consumo de buchada na atualidade, a despeito de algumas festivas. de carneiro no Sábado de Aleluia, por mudanças vivenciadas em seus modos ser essa comida derivada de um de feitura, de comestibilidade e de existe, mas sertaneja imaterial em e menores do do vasto Seridó as festividades. Como Pois outrora, são nestas símbolo 86 DOSSIÊ IPHAN (ou {Festa de Sant’Ana} A arte do “bordado de Caicó” Madeira, a partir do bordado à mão. “arrumar um bom casamento” eram do Inclusive, praticamente Seridó), segundo os os padrões tradicionais obrigadas de a bordar e ter as interlocutores, chegou até a região do remetem aos da Ilha da Madeira, em habilidades costurar. Seridó trazida pelas mulheres dos Portugal, com flores, folhas e pistilos. Apesar de tratar-se de uma prática colonizadores portugueses, no final do Antigamente, o ofício de bordadeira predominantemente século XVII e início do século XX, assim como o de costureira eram tão desenvolvida advinda, provavelmente, da Ilha da importantes que as moças que queriam residência da bordadeira, nos últimos feminina normalmente – na 87 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} anos tem havido a inclusão de homens ainda, a máquina industrial, que garante renascença e labirinto. A linha de seda, na produção de bordados. Dentre os mais rapidez e dispensa o controle com que tem sido produzida em grande municípios produzem os pés. Foram acrescentados, nesse escala nos últimos anos, é usada como bordados, estão Caicó e Timbaúba dos processo, outros pontos e estilos de se mais Batistas. Os bordados de Caicó é o item bordar bem como alguns incrementos enxovais. O bordado tem um amplo mais comercializado no período da na a repertório e acompanha com freqüência Festa de Sant'Ana, segundo pesquisas máquina industrial tende à imprecisão a moda. Atualmente, as peças mais desenvolvidas nos produzidas são: caminhos de mesa, que mais pelo SEBRAE/Caicó desde 2002. A princípio, o bordado era matéria-prima. bordados No que entanto, pedem maior detalhamento. freqüência no bordado de panos de bandeja, lençóis de cama, feito à mão. Mas, nos anos de 1940, As principais matérias-primas toalhas para lavabo, toalhas de banho e com o surgimento da máquina de dos bordados são os tecidos e as linhas. redes. Fazem-se, ainda, camisetas e bordar Singer na região, os pontos à Borda-se com cores e matizes. Os blusas de cambraia bordadas. Esses mão fossem adaptados ao estilo do pontos utilizados são: ponto cheio, produtos são feitos a partir da leitura bordado matiz, turco, richelieu, granito (variação que as bordadeiras fazem da moda. interlocutoras, a primeira mulher a ter do reverso Usam-se, também, bordados no enxoval contato com esse tipo de bordado foi a (também conhecido como haste ou de recém-nascidos. Antigamente, era caicoense Dona Maria do Vale. Além atrás), crivo, bainha, ponto aberto, comum a mulher passar toda a gestação das de Caicó, as bordadeiras de pesponto (variação do ponto arroz ou elaborando as peças que compunham o Timbaúba dos Batistas e de outros ponto mão). enxoval, o qual incluía: o cueiro (lençol municípios absorveram a técnica do Atualmente, pontos de uso diário, com barrado bordada à bordado à máquina. Atualmente, há, tradicionais, há a junção de renda mão geralmente com motivos florais, à máquina. Segundo as ponto doido), contado, ponto feito aliada à aos 88 DOSSIÊ IPHAN com matiz, ponto sombra, ponto arroz e {Festa de Sant’Ana} Os diversos usos das peças, ponto cheio), a camisinha de pagão, os como a no desenvolvimento dos ofícios e vestidos, para as meninas, e os lençóis variedade de possibilidades para o uso modos de fazer das comidas festivas e para sair. O enxoval do batizado era do bordado, que vai dos enxovais, às dos bordados, esses são emblemáticos especial: incluía o lençol e a camisa roupas, momentos da região do Seridó: são referências que comprida, brancos, importantes da vida e das relações entre expressam e representam a cultura matizados. No eventos religiosos mais as esferas do sagrado e do profano. seridoense. Correspondem solenes da Festa de Sant'Ana, como as Como são diversos os usos, torna-se conhecimentos e missas e procissão, fiéis e clero se impossível determinarem-se detalhes transmitidos de geração a geração, preparam de modo sui generis, fazendo muito específicos como também as normalmente no seio familiar e/ou entre uso do bordado. As vestes brancas de dimensões das peças. Há referências pessoas conhecidas, os quais estão grande parte dos fiéis se evidenciam aos bordados da Ilha da Madeira e enraizados no cotidiano da comunidade, por meio dos bordados, principalmente outros a tendo expressiva importância social, os paramentos criatividade das bordadeiras é ilimitada simbólica e econômica para ela. Trata- litúrgicos da igreja e dos padres e está, ainda, relacionada às intenções se de bens referenciais e significativos, também fazem uso desse tipo de do mercado e moda. Assim, com os quais os caicoenses constroem adereço. É comum, ainda, que a última observamos modificações e alterações um sentimento de pertencimento a um veste usada pela bordadeira, no leito de de temas e de modelos, com o passar do lugar, a uma cultura, e se diferenciam morte – a mortalha – seja feita com tempo de outros povos, pois esses bens bordado, muitas vezes, confeccionado tecnologias e novos materiais. de regularmente richelieu. Os por ela própria, em vida. descrito acima, passando tipos e de revelam Apesar de pequenas variações por pontos, da surgimento de mas novas práticas a sociais refletem uma representação coletiva e uma identidade social. 89 DOSSIÊ IPHAN geração, sucessivamente. Por não ser Salvino de Araújo, responsável em imóvel, a Festa de Senhora Sant'Ana grande parte pelo desenvolvimento que abre-se às inclusões e adaptações em a Festa conheceu nas últimas décadas. face das demandas da comunidade que Filho de uma das famílias mais celebra. Por se tratar de uma Festa tradicionais plural – em torno da qual se imbricam norteriograndense, possuidor de uma vários eventos, tradições, costumes astúcia retórica bem peculiar, Mons. seculares pedagogia formal religiosas, ocorrem conservando das a celebrações inovações no interior do acontecimento festivo, cuja regularidade, ritmo e encadeamento engendram a herança histórica que passa a ser transmitida de geração a inovações – sertão Antenor conseguiu, ao longo dos seus componentes foram, ao longo dos quarenta e sete anos à frente da tempos, incorporados à programação paróquia de Sant'Ana de Caicó, social “dobrar” representantes do poder dos e do novos Algumas Mesmo {Festa de Sant’Ana} festejos da mudanças Padroeira. bastante público e da iniciativa significativas ocorreram a partir do ano conseguindo de 2007, com o advento da Ilha de apoios para a realização da Festa de Sant'Ana e a mudança do pároco de Sant'Ana, Sant'Ana de Caicó. desenvoltura enquanto gestor de um A Festa de Sant'Ana angariar privada, importantes demonstrando grande foi evento que crescia a cada ano. Seus tomando maiores proporções sobretudo esforços para a criação, em 1980, do a partir da segunda metade do séc. XX, Conselho no paroquiado do Monsenhor Antenor representação de diversos seguimentos Paroquial, tendo 90 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} da sociedade caicoense, contribuiu programação quanto na própria sobremaneira para a organização e organização da Festa de Sant'Ana, que gestão dos festejos de Sant'Ana. Além vem crescendo cada vez mais em disso, o atual pároco emérito da número de participantes, patrocinadores paróquia de Sant'Ana tinha (e ainda e eventos nos anos de seu paroquiado. tem) o costume de cobrar publicamente aos políticos melhorias para a Festa de Sant'Ana e pra própria cidade de Caicó, não medindo esforços para angariar o apoio dos poderes públicos municipal e estadual. A Ilha de Sant'Ana, construída em 2006, é o maior ícone de sua luta pelo aumento “do chão de Sant'Ana, que estava ficando pequeno para esta Festa grandiosa que hoje aí está”. Em 2007 Monsenhor Antenor é nomeado Pároco Emérito, e indica Padre Edson Medeiros de Araújo, seu primo, para lhe suceder enquanto Pároco de Sant'Ana de Caicó. Este passa a realizar uma série de inovações tanto na 91 DOSSIÊ IPHAN Percebe-se que todos os eventos Diocese a cidade de Jucurutu-RN. O arrastão compõem programação necessidade de integrar o público jovem seguiu até a Catedral, onde houve concebida pela paróquia, procura-se na programação religiosa da Festa, que celebração eucarística presidida por Pe. envolver toda a sociedade em seus encontra João Paulo Pereira de Araújo e animada diversos níveis, desde o pequeno eventos “profanos” promovidos na Ilha pelo agricultor até os grandes empresários; de Sant'Ana, clubes e bares da cidade. Comunidade do funcionário público mais subalterno O arrastão ocorreu no primeiro dia da Renovação Carismática Católica. Em até as principais lideranças políticas; e Festa, antecedendo a primeira novena 2010 a paróquia pretende repetir o das crianças aos idosos. Uma inovação que tinha a juventude como um de seus evento, e espere receber um público ocorrida na noitários, saindo às 17h da Praça Dom ainda maior, ampliando também a programação religiosa da Festa veio no José Delgado, bairro Paraíba, indo até a programação sentido de contemplar os públicos de Praça da Catedral de Santana. O religiosas no Pavilhão de Sant'Ana, gerações distintas. Sendo assim, a arrastão da juventude “Sou por Jesus” tudo isso com o intuito de agregar ainda paróquia eventos foi animado por trio-elétrico puxado mais a participação dos jovens nos especiais: a Marcha dos Idosos e o pelo Pe Heliton Marconi da paróquia de Festejos de Sant'Ana que em 2010 será Arrastão da Juventude. O arrastão da Cruzeta, que já gravou seu segundo CD dedicada à juventude, levando o tema juventude ocorreu pela primeira vez no com músicas religiosas, acompanhado do ano da juventude da Diocese: ano de 2009, sob a iniciativa do Setor pelo Ministério de Música Recado de “Jovem, levanta-te!”. Diocesano de Juventude (SDJ), da Deus, da paróquia de São Sebastião da que a partir agregou a de dois 2007 de {Festa de Sant’Ana} Caicó, que grande sentiu concorrência nos Ministério de Música da Católica Shalom, da de atrações artísticas 92 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} A Marcha dos Idosos teve início no ano Marcha tem seu dia marcado na Festa lazer e de interação entre eles, fazendo- de 2001 por meio de uma parceria de Sant'Ana, sempre na primeira sexta- se ampliar ainda mais as redes de firmada entre a Secretaria Municipal de feira, saindo por volta das oito da sociabilidade. Ação Social de Caicó e o Movimento manhã da Prefeitura Municipal de de Integração e Orientação Social Caicó com destino à Catedral de (MEIOS) do Governo do Estado do Rio Sant'Ana. O cortejo leva à sua frente Grande do Norte. Ela teria sido uma idealizada por um político local em acompanhado pela Filarmônica Recreio articulação com alguns municípios Caicoense (A Furiosa). vizinhos, a idéia era reunir os idosos de imagem Na de Sant'Ana Catedral, é recebida festejos Caicó. eucarística, depois da qual é oferecido Atualmente a Marcha dos Idosos um “almoço dançante”, oferecido pelos cresceu, na promotores da Marcha no Caicó Iate programação religiosa oficial da Festa Clube, onde podem desfrutar de uma de Sant'Ana. São idosos de diversos programação de lazer que segue até o municípios da região, que partem de final da tarde. A Marcha contribui não suas cidades com o apoios dos poderes só com a participação dos idosos de públicos, um outros municípios no maior festejo da transporte e uma equipe de apoio. A região, mas propicia uma ocasião de Sant'Ana sendo que de integrada disponibilizam uma Marcha é seus municípios e trazê-los para os de com a e celebração 93 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} A maior transformação ocorrida ginásio de esportes, erigida numa ilha Ilha foi pela primeira vez utilizada na Festa de Sant'Ana nos últimos fluvial localizada no meio do rio numa Festa de Sant'Ana. Contudo, sua tempos adveio com a construção do Seridó. Foi idealizada por Monsenhor inauguração oficial só ocorreu em Complexo Turístico Ilha de Sant'Ana. Antenor, que lutou incansavelmente 2008, conforme noticiado pelo governo Uma grande estrutura com praça, bares, pela sua realização, vendo seu sonho estadual: restaurantes, palcos, um anfiteatro e um ser materializado em 2007, quando a “O Governo do Estado entregou à população de Caicó, no dia 23 de julho, o Complexo Turístico da Ilha de Sant‟Ana. Foram investidos R$ 18 milhões na construção do espaço que já vinha sendo utilizado pelos caicoenses para eventos como a Festa de Sant‟Ana, padroeira do município, que atrai turistas e conterrâneos durante todo este mês de julho. O complexo foi construído para incrementar o turismo de eventos na região. O espaço consiste num parque temático, parque infantil, palco para os shows com praça de alimentação, boxes para artesanato, anfiteatro e um ginásio dotado de quadra poliesportiva com dimensões oficiais e arquibancada com capacidade para 3.000 pessoas. O complexo deve atrair também pousadas que vão atender aos visitantes durante todo o ano, principalmente nos grandes eventos e festejos do calendário turístico de Caicó.” (Governo do Estado. Disponível em: http://www.rn.gov.br/acoes-dogoverno/complexo-turistico-da-ilha-desantana/12/ 94 DOSSIÊ IPHAN Segundo o próprio Monsenhor Governo {Festa de Sant’Ana} do Estado, a No anfiteatro “Hilda Araújo*" Prefeitura Antenor, a Ilha foi idealizada como Municipal de Caicó e instituições ocorre forma de resolver o problema da “falta financeiras. Reúne Sant'Ana”, que dramatiza a “lenda do de chão” para a Festa de Sant'Ana, que artesãos de todo o Seridó, de várias vaqueiro”, narrativa de fundação da crescia a cada ano, disputando espaço localidades do Estado e do Nordeste cidade de Caicó. Ao longo dos dez dias com barracas, palcos e parques de brasileiro, cujo colorido e qualidade das de Festa, dividem o grande palco diversão. A construção da Ilha, de fato, produções em tecido, palha, barro, instalado na Ilha atrações musicais “desafogou” a Festa de Sant'Ana, madeira, couro e metal encantam os regionais e nacionais, como os cantores abrigando três estruturas que até então olhos dos visitantes. Os bordados em Raimundo funcionavam da linho e organdi formam um espetáculo bandas como Calcinha Preta, Aviões do Catedral: os parques de diversões, os à parte pela beleza, delicadeza e Forró, shows promovidos pela prefeitura e criatividade “desafogo” no espaço da Festa de governo do estado e a Feira de cuidadosamente e Sant'Ana, a Ilha trouxe benefícios Artesanato dos Municípios do Seridó, executados com habilidade e perfeição financeiros para a cidade, conforme mais FAMUSE, pelas artesãs das cidades seridoenses. demonstra coordenada pelo Comitê Regional das Durante a realização dessa feira de Produtivos Locais (APL)da Festa de Associações e Cooperativas Artesanais artesanato são oferecidas aos visitantes Sant'Ana, concluído em 2008 pela do Seridó – CRACAS, tendo como dos stands variadas atrações musicais e Redesist/UFRJ: parceiros o Serviço de Apoio a Micro e artísticas com valores da terra. nas conhecida Pequena Empresa adjacências como – SEBRAE, A FAMUSE dos desenhos elaborados o espetáculo Fagner, dentre “Terra Elba outros. estudos dos de Ramalho, Além do Arranjos o 95 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} “A partir da utilização da Ilha para a realização de shows os impactos econômicos puderam ser sentidos, principalmente porque, exceto as atrações principais que são de fora, faz-se questão que tudo seja adquirido em Caicó, afirma com orgulho o secretário municipal de planejamento […] O secretário destaca o aumento no consumo em geral e, consequentemente, da arrecadação de ICMS, que geralmente é o dobro em agosto, quando comparado a julho.” (Nota Técnica 13/2008 – APL Festa de Sant'Ana de Caicó/RN: Fé, Arte e Gastronomia, p. 58) 96 DOSSIÊ IPHAN De fato, para os Caicó e adjacências. Além disso, a Ilha programação de shows da Festa de eventos realizados durante a Festa de abriga em seu território dois espaço Sant'Ana, o Carnaval, encontros de Sant'Ana, a Ilha conta com um grande bastante significativos para a identidade motociclistas, chegando a servir até aparato material e humano, como a e história de Caicó, quais sejam, o mesmo como ponto de apoio para o montagem de palco, tendas, stands, Serrote da Cruz, onde foi fixada uma Rally dos Sertões, a maior competição bares, banheiros químicos, gerador de cruz em 1901 em comemoração à deste gênero no país. Com sua praça de energia, passagem de século, recebendo em alimentação, com estrutura de parque bombeiros, médicos. Enfim, uma série 1940 São infantil, telões e palcos para shows e de ou Sebastião; e o mítico Poço de Sant'Ana, apresentações de pequeno porte, a Ilha disponibilizados com forma de apoio no lugar que abriga as principais narrativas de Sant'Ana se tornou imediatamente próprio município. De fora, apenas as de origem da cidade. Nas palavra de um dos pontos prediletos de lazer tanto bandas contratadas para realizar os Monsenhor Antenor “a Ilha hoje é a para visitantes quanto para moradores shows e o patrocínio do espetáculo sala de visitas de Caicó”, é nela onde de Caicó, durante o ano inteiro. Terra de Sant'Ana que ainda assim é ocorrem encenado por atores, em sua maioria, de socioculturais policiamento, recursos suportar {Festa de Sant’Ana} corpo contratados de uma capela os votiva principais da à eventos cidade, como a 97 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} 98 DOSSIÊ IPHAN É realizada ou apoiada pela paróquia notável a transformação sobretudo no modo de organização e gestão da Festa de Sant'Ana a partir da atuação de Monsenhor Edson, que passa a {Festa de Sant’Ana} almejar “profissionalização” uma no que maior diz respeito à produção do evento. Nesse sentido foi criada, no primeiro ano de seu paroquiado, a Comissão da Festa de Sant'Ana responsável por conceber, produzir e gerir a Festa de Sant'Ana. Trata-se de uma equipe de voluntários, formada por leigos da paróquia que não medem esforços para realizar a cada ano uma Festa cada vez mais grandiosa e bem organizada. Toda a programação passa necessariamente Comissão, que é por dividida esta em subcomissões responsáveis por cada evento (feirinha, pavilhão, peregrinações, jantar, liturgia, etc.). Monsenhor Edson e sua Comissão são responsáveis também por inovações bastante significativas na concepção, produção e gestão da Festa, que a vem fazendo tomar proporções maiores a para integrar o séquito de colaboradores cada ano. Podemos destacar, assim, a de sua realização. Nesse sentido, é realização do Café com a Imprensa, apresentada uma programação prévia realizado desde 2008 com o objetivo sobre a qual os jornalistas, blogueiros e não só de divulgar a cada ano a colunistas programação da Festa de Sant'Ana, mas inclusive sugerindo modificações. sociais podem opinar, de mobilizar os profissionais deste setor 99 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} Outra novidade substancial foi a criação estudos realizados pela RedeSist/UFRJ, padroeira do sertão nordestino. As da em 2008 a Festa de Sant'Ana teve a inovações ocorridas em sua concepção, marketing, dentro da comissão da festa, adesão organização sendo responsável pela divulgação da oficiais. Outra façanha da comissão de acompanhar as dimensões que a Festa Festa, assim como pela elaboração e comunicação a de Sant'Ana vem tomando, com o comercialização de um plano de mídia. elaboração de um website oficial da desafio de não se deixar de lado tudo Essa comissão é composta em média Festa, através do qual o evento vem aquilo que dá o caráter peculiar aos por cinco pessoas, entre estudantes sendo transmitido ao vivo desde 2007. festejos em homenagem à Senhora universitários e profissionais da área de De acordo com a própria comissão, Sant'Ana promovidos na cidade de comunicação (radialista e blogueiros). objetivo num futuro próximo é ampliar Caicó. A mentalidade desta comissão é a de a abrangência do plano de mídia, assim criar um grupo de patrocinadores como viabilizar a transmissão televisiva oficiais da Festa de Sant'Ana, que ao vivo dos principais momentos da desejem Festa comissão ter de sua comunicação marca e divulgada de quatorze e marketing (Abertura, Missa expressivo da transformações que a Festa de Sant'Ana informalidade do “pedido de uma de Caicó vem sofrendo ao longo dos ajudinha” para um plano de mídia anos. profissional, conforme salienta um dos extrapolando membros da comissão. Os esforços concretizando-se a cada ano como uma geraram resultados e, segundo os das saindo Sua mais as notórias gestão buscam as notoriedade vem fronteiras locais, significativas e Solene, Procissão, região, São foi naquele que é o evento religioso mais da etc.). patrocinadores festas de 100 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} A FESTA DE SANT'ANA COMO OBJETO DE REGISTRO 101 DOSSIÊ IPHAN A região do Seridó é lugar de destaque no cenário do sertão do Rio Grande do Norte, por sua história original, sua religiosidade vivida no cotidiano, sua tradição culinária e festiva, motivos de orgulho dos filhos da terra de Sant‟Ana. Se, localmente, essa particularidade é reconhecida e valorizada, existiam verificamos ainda ações que dos não órgãos governamentais para a promoção e a valorização da cultura local. Ao elegerse a Festa de Sant‟Ana como objeto de registro, abrem-se novas perspectivas que permitem elaboram os entender processos como se identitários conjuntamente à reiteração de uma cultura nativa através da tradição - via recorrentemente utilizada pela {Festa de Sant’Ana} antropologia. Podemos aproximar esta A Festa de Senhora Sant‟Ana de Caicó perspectiva à de Nathan Wachtel, não apenas socializa, educa e instaura o quando ele propõe a abordagem da tempo da celebração, ela constrói “problemática história, tece escolhas em torno de da construção da identidade nas suas relações com a espaços memória coletiva.” Com efeito, o cartografia dos festejos religiosos e não registro da Festa de Sant‟Ana de Caicó religiosos. mostra a cultura do Seridó em ação e divulga a cultura popular e erudita. Isso revela regimes de temporalidade que implica em considerar as formas e os orientam os discursos sobre o passado. diversos gêneros de expressão cultural Na tentativa de uma leitura cruzada da que constam na vasta programação: festa, dos exposições de pintura e de arte popular, moradores, dos seus discursos e das apresentação de grupos de teatro e suas das práticas narrativas, cotidianas públicos Além e disso, desenha produz a e sublinhamos a cantores locais, lançamentos de livros, elementos na discos, revistas e jornais com encartes elaboração de uma identidade e, através especiais, que circulam amplamente no desta, de uma apropriação peculiar da período dos festejos. Enquanto “ato de história e do espaço locais que devem participação comunitária,” a Festa da ser Padroeira enseja maneiras de convívio importância desses amplamente registrados, salvaguardados e divulgados. social e pedagogicamente 102 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} fundamentadas ao longo dos séculos, complementares: matizadas por um sentimento comum popular e a institucionalização dos de de festejos sócio-religiosos estabelecida pertencimento ao lugar Caicó. Sob as pela Igreja Católica e poderes público e orientações prescritivas da pedagogia privado. A pluralidade das celebrações católica, atuou e atua como uma imprime à moldura dessa Festa a instância possibilidade da (re)criação do modelo veneração à Padroeira implementadora religiosidades articulada e de com festivo que a espontaneidade se articula, aprendizagens instrutivas, culturais e simultaneamente, com a tradição e educativas, envolvendo condutas de modernidade convivência pública e comportamentos religioso e social, com o lúdico e socialmente aceitos. Por outro lado, a cultural e com a devoção permanente e Festa de Senhora Sant´Ana de Caicó (quase) única a Senhora Sant‟Ana, permanece situada na confluência de Padroeira dos caicoenses de outrora e duas de então. dinâmicas culturais (renovação), com o 103 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} todos são iguais, sejam ricos sejam identidade caicoense. O chouriço, doce pobres. A procissão de encerramento da típico da culinária local, também Festa de Sant'Ana é um momento merece lugar de destaque entre os magnífico, um desfile de comoção e fé elementos do sertanejo, que não mede esforços no Sant‟Ana, pagamento de suas promessas. anteriormente, é em dias de festa que a A Procissão de Sant’Ana essenciais pois da como Festa foi de dito família se une para preparar o quitute e Momento máximo da expressão servi-lo, seja para a própria família, seja de fé do povo do Seridó, a procissão de para vender na típica feirinha de Nossa Senhora de Sant‟Ana é o cume Sant‟ana.Com o intuito de salvaguardar dos região, os ofícios de bordadeira e mestra de responsável por reunir milhares de chouriço e dos modos de fazer bordado pessoas todos os anos provenientes de e doce de chouriço, propõe-se ações várias partes do Brasil e do exterior, tão que festejos religiosos da forte é essa expressão que nos últimos anos teve seu trajeto modificado e Ofício de bordadeira e mestra de fiéis que seguem em cortejo até a Igreja Matriz. É nesse momento que a ela se juntam as diversas irmandades, os diversos setores. Durante a procissão do transmissão dos e garantam saberes para a as gerações mais novas, como a realização chouriço ampliado para atender a demanda de incentivem Caicó carrega o título de “terra de bordado”, culturais, bem como a documentação se sobressaindo internacionalmente pela qualidade de oficinas, mostras e concursos textual e visual destes ofícios. seus bordados. Os bordados de Caicó dão o ponto na tão tradicional 104 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} A culinária típica: doces, biscoitos vemos além da fé e dedicação de um com filhoses e pratos regionais. povo religioso, um banquete de encher comuns: o vaqueiro, o touro, um poço e É impossível conceber a Festa os olhos, tamanha é a variedade de Sant‟Ana. de Sant‟Ana sem a sua culinária típica. carnes, doces e biscoitos delicados de tradição oral tudo começou, o poço de As comidas festivas, como já falado, massa fina que são feitos especialmente Sant‟Ana é parte essencial da história fazem parte da culinária sertaneja e do para a festa. São comidas que perduram não apenas da Festa, mas também da vasto patrimônio imaterial do Seridó até hoje, passadas de mãe a filha e que cidade de Caicó. O lugar foi palco Potiguar. Os filhóses e os doces são também, a exemplo dos bordados também da enérgica resistência popular muito apreciados. típicos da região, já ganharam o mundo. quando em Caicó um grupo de pessoas, No Seridó, bem referências Local e onde protagonistas segundo a como em todo o nordeste a culinária é na revolta ”Quebra-Quilos”, em 1873, um prazer à parte, dessa forma, não se contra a adoção do sistema métrico- pode pensar em festança no nordeste decimal no Império, atirou ao poço sem falar da culinária. É assim também quilos de pesos metálicos. Hoje o poço durante os festejos de Sant‟Ana, onde fica dentro do Complexo da Ilha, e é um dos lugares mais visitados pelos fiéis devotos de Sant‟Ana, que vêm a Caicó durante os festejos religiosos. O poço de Sant’Ana Apesar das diferentes versões míticas, a fundação de Caicó emerge 105 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} Calvagada de Sant’Ana longo dos tempos ela foi se Entre as atividades que tornando escassa, mas em 2002 compõe o cenário da Festa, um encontramos a Cavalgada de retomou essa tradição e, em Sant‟Ana como expressão da conjunto com a Associação dos devoção dos vaqueiros que saem Vaqueiros, realiza no primeiro da cidade de Acari, cidade que domingo da Festa a Cavalgada última sexta-feira da Festa de dista a 65 km, e finaliza em de Sant´Ana. O evento conta Sant'Ana, desde a década de frente a catedral com caicoenses dos 1940. Não se sabe precisamente que nas a sua origem, mas especula-se décaca de 1950, a cavalgada de zonas rurais, e também de que ela tenha sido criada como Sant‟Ana é um dos ícones da pessoas que residem em Caicó, forma festa, no ínicio realizada pelos cidades vizinhas e amantes das promessa de um devoto. A moradores das zonas rurais, ao vaquejadas. carreata, Celebrada desde a a de participação Matriz. na Praça da grupo cavaleiros É residem um evento de pagamento a exemplo de da significativo para os festejos a Cavalgada de Sant‟Ana, tornou- Sant‟Ana, e muito esperado se símbolo de fé do homem do pelos amantes da cavalaria. interior, que agradecido pelas Carreata de Sant’Ana graças alcançadas, vêm todos os A carreata de Sant'Ana, ocorre sempre na noite da anos à Festa para celebrar Sant‟Ana. novena dedicada aos motoristas, 106 DOSSIÊ IPHAN A {Festa de Sant’Ana} sobretudo no que diz respeito à cotidiana dos habitantes de Caicó. sociabilidade no Esses têm orgulho em expressar um demarca um tempo e um espaço de interconhecimento. Assim, o espaço sentimento de autoctonia fundada numa sociabilidade no qual o sagrado e o sagrado, as expressões narrativas, os religiosidade e num conjunto cultural profano se entrelaçam na construção de atores sociais envolvidos e a tradição material e imaterial que se adapta às uma identidade coletiva. É uma ocasião festiva são elementos que permitem configurações temporais e espaciais. A especial para relembrar a história da manter a continuidade entre o passado e festa configura-se como um bom cidade, reavivar laços de solidariedade o Reminiscências, observatório para entender as mudanças fundados na família ampliada, reafirmar permanências e variações que, no sociais ocorridas recentemente, em valores cristãos e acionar registros entanto, mantêm uma tradição atuante particular específicos nos patrimonialização da figura da santa Festa de Sant‟Ana de Caicó da cultura seridoense, presente. diversos fundada momentos da vida as referentes à 107 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} com o desenvolvimento de um turismo atraindo assim, turistas que lotam os Sant‟Ana de Caicó é importante em cultural - processo pelo qual a presença hotéis e pousadas da cidade em busca todos do passado no presente se expressa de ou caicoenses, numa polifonia em que o velho e o simplesmente em agradecimento por patrimônio novo se cruzam, na evocação de uma um ano de bênçãos. A Festa de preservá-la, mas também dar a ela o temporalidade contínua. Diante da grandeza e magnitude dessa festa que já alento para suas dores, os aspectos da vida reconhecê-la cultural é dos como não apenas reconhecimento devido que a faz ser parte da cultura de um povo. existe há mais de 200 anos não se pode deixá-la passar despercebida dos brasileiros, pois algo que persistiu há tanto tempo merece e deve continuar sendo preservado para as gerações futuras, a Festa de Sant‟Ana vem ao longo dos anos se reinventando e sua importância para a cidade de Caicó deixou de ser apenas meramente religiosa, visto que a festa atrai muito mais que os filhos devotos que foram morar longe de sua terra, ela passou a fazer parte do calendário religioso do estado do Rio Grande do Norte, 108 DOSSIÊ IPHAN A FESTA. O Povo, Caicó, ano 2, n. 18, 26 jul. 1890. A FESTA DE SANT´ANA. A Folha, Caicó, ano 9, n. 124, 27 jul. 1963. ANDRADE, M. Sociedade. Jornal da Festa, Caicó, n. 4, 23 jul. 1967. 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(fonte: Paróquia de Sant'Ana de Caicó) DOSSIÊ IPHAN ANEXO 2 – LINHA DO TEMPO {Festa de Sant’Ana} 1754 – Criação da Irmandade de Sant’Ana 1824 – Passagem de Frei Caneca pela vila em outubro. 1756 – Fundação da Irmandade do Santíssimo 1683 – Construção da Casa Forte do Cuó, no Sacramento 1858 – Criação da comarca do Seridó, Sítio Penedo 1771 – Criação da Irmandade dos Negros do 1689 – A região enfrenta uma grande seca, que Rosário 1868 – Elevação da Vila Nova do Príncipe à duraria até 1692. 1777 – Proibição por parte da Igreja de 1695 – Construção da Capela Primitiva compreendendo Vila do Príncipe e Acari. novenas particulares nas casas. condição de cidade pela Lei Provincial n. 612. 1870 – Construção do Mercado Público e da dedicada a Sant’Ana, após a construção da Praça do Mercado (hoje Praça da Liberdade). Igreja Matriz, essa capela passou a pertencer a 1778 – Emancipação política de Caicó com a N.S. do Rosário, até 1800, quando então foi instalação da Vila Nova do Príncipe, pelo 1876 – Criação da primeira banda de música da destruída, pelo tempo. desembargador cidade. Antônio Felipe Soares Bederode. 1700 – Fundação do Arraial do Queiquó por Manuel de Souza Forte, um dos primeiros sesmeiros da região. 1805 – Restauração da Igreja Matriz. 1809 – Visita canônica à Paróquia de Sant’Ana 1889 – Lançamento do Jornal O povo (9 de março) e Fundação do Centro Republicano Seridoense (7 de abril). 1735 – Elevação do Arraial a Povoação, pelo visitador Padre Inácio Pinto de Almeida e 1890 – A cidade muda mais uma vez de nome, passando a ser chamado de Povoação do Castro, irmão de Frei Miguelinho. passando a ser chamada de Seridó, esse nome Caicó. 1748 – Inicio da construção da Igreja Matriz de Sant’Ana do Caicó. Nesse mesmo ano é criada a Freguesia de Nossa Senhora de Sant’Ana. 1812 – Construção da Casa de Câmara e Cadeia da Vila do Príncipe. 1818 – A comarca de Caicó deixa de ser subordinada a Comarca da Paraíba perdurou entre 1 de fevereiro de 1890 até 7 de julho do mesmo ano, quando a cidade volta a ser chamada de Caicó. 1909 – Criação da Banda Recreio Caicoense, existente até os dias atuais. 118 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} 1918 – A Praça do Mercado passa a se chamar 1949 – Criação do jornal Folha de Caicó em 3 1996 – Posse do quinto bispo diocesano, D. Praça da Liberdade. de dezembro. Jaime Vieira Rocha. 1926 – O presidente Washington Luiz visita a 1952 – Posse do segundo bispo da Diocese de 2006 – Posse do sexto e atual bispo diocesano, cidade. Caicó, D. José Adelino Dantas. D. Frei Manoel Delson Pedreira da Cruz. 1931 – Construção do Coreto Primitivo da 1953 – Chegada da imagem de N.S. de Fátima à 2007 – Ano de transição da paróquia de Praça da Liberdade. cidade. Sant’Ana, saída do Mons. Antenor e posse do 1933 – Visita do Presidente Getúlio Vargas. 1954 – Lançamento do jornal A Folha em 6 de 1939 – Criação da Diocese de Caicó pelo Papa Pio XII 1940 – Instalação da Diocese de Caicó pelo Mons. Paulo Herôncio de Melo, vigário de atual pároco, Mons. Edson. março 1958 – Construção do Arco do Triunfo na Catedral de Sant’Ana, em homenagem a passagem de Nossa Senhora de Fátima por Caicó. Currais Novos, representando o Senhor Bispo de Natal D. Marcolino Esmeraldo de Souza 1959 – Posse do terceiro bispo diocesano D. Dantas, em sessão solene antes da Missa Manuel Tavares Araújo. Solene da Festa de Sant’Ana, em 28 de julho. 1941 – Posse do primeiro bispo da Diocese de Caicó D. José de Medeiros Delgado, dentro da Festa de Sant’Ana em 26 de julho. 1962 – Primeira Festa dos Ex- Alunos do Colégio Diocesano. 1978 – Posse do quarto bispo diocesano de Caicó, D. Heitor de Araújo Sales. 1943 – Construção do novo e atual Coreto da Praça da Liberdade. 1984 – Fundação do Mosteiro das Clarissas por D. Heitor de Araújo Sales. 119 DOSSIÊ IPHAN ANEXO 3 – ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES 1-Capa: Imagem de N.S. de Sant’Ana durante a procissão (Foto: Acervo do IPHAN) 2-Contra-capa: Detalhe do Arco do Triunfo da Igreja Matriz (Foto: Acervo do IPHAN) 8- Imagem de N.S. de Sant’Ana. (FOTO: Maria Iglê) 11- Igreja de Sant’Ana em 1924, na época da inundação. (foto: acervo do Museu do Seridó). 12- O Mítico Poço de Sant’Ana em meados do século XIX.(Acervo fotográfico do Museu do Seridó) {Festa de Sant’Ana} 21- Detalhe da imagem primitiva de Sant’Ana (acervo: Museu do Seridó) 50- Extensão da Catedral nas noites de novena. (foto: acervo IPHAN) 23- Procissão de Sant'Ana em finais do século XIX (acervo: Museu do Seridó) 54- Feirinha de Sant'Ana. (foto: acervo IPHAN) 30- Os primeiros componentes da Banda Recreio Caicoense. (foto: acervo do Museu do Seridó) 36- Pracinha do Coreto, onde ocorriam as feiras e apresentações durante os festejos mais antigos. (foto: acervo do Museu do Seridó) 37 – Igreja Matriz na década de 50 já com a segunda torre e o arco construídos. Abaixo, detalhe da imagem de N.S. de Fátima, homenagem feita a esta, quando de sua passagem pela cidade de Caicó na década de 1930. 38- Detalhe do Arco a noite, em dia de Procissão. 56- Espaço da Feira de Sant'Ana. (foto: acervo IPHAN) 58- Cavaleiros de Sant'Ana. Caminhão recebendo a benção ao passar sob o Arco do Triunfo. (foto: Maria Iglê) 60- Caminhão levando a imagem de Sant’Ana durante a Carreata. (foto: Maria Iglê) 62- Missa Solene na Matriz (Foto: Maria Iglê) 65- O beija em dois momentos. (foto: Maria Iglê). Seridó (foto: Equipe INRC-Seridó - 2007 46- Produtos vendidos durante o leilão de Sant’Ana. (Foto: Acervo IPHAN) 66- Procissão de Sant'Ana pelas ruas de Caicó tendo em destaque, as imagens de Sant'Ana e São Joaquim. (Foto: Maria Iglê) 17 - Imagem de Sant’Ana em procissão pelas ruas da cidade de Caicó. (FOTO: Maria Iglê) 47- O encontro das imagens peregrinas na Igreja Matriz. (Foto: Acervo IPHAN) 67- Procissão em torno da Matriz (Foto: Maria Iglê) 20- Igreja Matriz de Sant’Ana em 1940, antes de ser construída a segunda torre. (acervo: Museu do Seridó) 48- Mapa do R.N com o detalhe das cidades percorridas pelos peregrinos. (elaborado a partir do original de Darlan P. de Campos). 70- Procissão na Av. Seridó, uma das principais avenidas da cidade. (foto: Maria Iglê) 14- Detalhe de pintura sobre parede no Museu do 120 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} 71- Itinerário da Procissão de Sant'Ana. (foto: Maria Iglê) 94- Anfiteatro da Ilha de Sant'Ana (Fonte: Acervo IPHAN). 73- Baile dos coroas. (foto: acervo IPHAN) 96- Vista parcial da Ilha de Sant’Ana. (Foto: Vilma Vitor) 75- Festa da Juventude. (foto: acervo IPHAN) 78-Festa do Ex Aluno do CDS (Colégio Diocesano Seridoense). (foto: acervo IPHAN) 79- Bordado de Caicó (pano de bandeja). A tradicional buchada de bode. (foto: acervo IPHAN). 84- Acima à esquerda: Tacho de chouriço pronto. Abaixo a direita: Doces diversos da culinária nordestina. (Foto: Acervo IPHAN). 86- Biscoitinhos típicos de Caicó. (Foto: Acervo IPHAN). 87- Bordado típico de Caicó (Foto: Acervo IPHAN). 91- Devoto de Sant'Ana. (foto: acervo IPHAN). 93- Arco do Triunfo iluminado a noite, tendo no detalhe N.S. de Fátima. (foto: acervo IPHAN) 98- Ilha de Sant'Ana a noite (Fonte: Acervo IPHAN) 101- Detalhe da Imagem de Sant’Ana tendo a sua frente o Arco do Triunfo e a imagem de Nossa Senhora de Fátima. (Foto: Maria Iglê) 103- Frontão da Igreja Matriz, vista a noite, acima percebe-se o detalhe da cruz iluminada. (Foto: acervo IPHAN) 104- Filhose e a preparação do doce de Chouriço. (fotos: acervo IPHAN) 105- Cavaleiros da cavalgada de Sant’Ana e Caminhões passando pelo arco do triunfo durante a Carreata. 107- Imagem de Sant’Ana à frente da Matriz. (Foto: Maria Iglê) 121 DOSSIÊ IPHAN {Festa de Sant’Ana} 122