ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA TEN CEL EX WITMAN PÉREZ CUEVAS IMPLANTAÇÃO DE UM SISTEMA DE GESTÃO DE QUALIDADE NA EDUCAÇÃO BÁSICA: uma visão comparativa para o desenvolvimento Rio de Janeiro 2011 1 WITMAN PÉREZ CUEVAS IMPLANTAÇÃO DE UM SISTEMA DE GESTÃO DE QUALIDADE NA EDUCAÇÃO BÁSICA: uma visão comparativa para o desenvolvimento Trabalho de Conclusão de Curso - Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do Diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia. Orientadora: Profa. Sonia Dutra Rio de Janeiro 2011 2 c2011ESG Este trabalho, nos termos da legislação que resguarda os direitos autorais, é considerado propriedade da ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (ESG). É permitido a transcrição parcial de textos do trabalho, ou mencioná-los, para comentários e citações, desde que sem propósitos comerciais e que seja feita a referência bibliográfica completa. Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do autor e não expressam qualquer orientação institucional da ESG. ---------------------------------------------------------Ten. Cel. Ex. Witman Pérez Cuevas Biblioteca General Cordeiro de Farias Pérez Cuevas, Witman Implantação de um Sistema de Gestão de Qualidade na Educação Básica: Uma visão comparativa para o desenvolvimento / Witman Pérez Cuevas. Rio de Janeiro: ESG, 2011. 56f: II Orientadora: Profa. Sonia Dutra Trabalho de conclusão de Curso – Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito a obtenção de diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE) 2011. 1. Desenvolvimento Nacional 2. Educação Básica 3. Gestão de Qualidade I. Título. 3 À Deus único, pai compreensivo e farol onipresente que guia meus passos. A Norma, Karla e Wilhelm, esposa e filhos, pela extrema compreensão e paciência que sempre tem me obsequiado na realização dos meus sonhos e anelos acadêmicos; aos meus pais, silenciosos incentivadores do meu avanço desde a gênese da minha vida. 4 AGRADECIMENTOS Ao Brasil pela aconchegante acolhida com que me tem abraçado desde a minha chegada a este solo maravilhoso. À Escola Superior de Guerra pelos vastos conhecimentos compartilhados e geração do pensamento critico necessários à confecção desta monografia. Aos meus professores de todos os tempos por terem sido ao mesmo tempo magnânimos faróis e bússola na minha caminhada pelo aprendizado. Aos colegas estagiários da turma “Segurança e Desenvolvimento” pelos momentos de fraternal convivência durante a estada na ESG em 2011. Ao corpo permanente da ESG e à minha orientadora Profa. Sonia Dutra, pelos ensinamentos e orientações que me levaram a refletir sobre a importância da educação no desenvolvimento das nações. 5 “Educar é ensinar a amar, educar é ensinar a criança, que é naturalmente egoísta, a se colocar em segundo plano e se realizar na promoção do ser humano” PAULO GAUDENCIO 6 RESUMO Durante as últimas décadas, o mundo vem sofrendo profundas transformações de todas as ordens que obrigam os governos a adotar políticas, estratégias, objetivos e metas tendentes a concretizar a posição dos países dentro do contexto internacional. No centro dessas transformações, verifica-se a necessidade não só de impulsionar o potencial econômico que é considerado fator comum de hierarquização das nações, mas também para alcançar novos patamares sustentados na competitividade; atenção das necessidades sociais; qualificação da força de trabalho; assim como, o emprego e a difusão intensiva da ciência e tecnologia que apontam para a construção de um novo paradigma organizacional. Neste processo de transformação que requer mudanças de grande envergadura, a educação básica constitui um fator capaz de contribuir, significativamente, aos objetivos nacionais, porém até hoje a atenção proporcionada a esse importante aspecto tem sido quase exclusivamente no acesso e extensão dos serviços educativos, ficando numa segunda posição a qualidade destes, principalmente no âmbito público. Daí que o presente trabalho busca revisar a centralidade do papel da educação básica de qualidade não só na produção do conhecimento que permita aos indivíduos uma melhor integração da força produtiva na sociedade, como também pilar da agenda nacional capaz de contribuir de maneira significativa para o desenvolvimento. Sob esse foco, se analisaram as vantagens dos sistemas de qualidade, a relação existente entre a qualidade da educação dos países de primeira ordem e seu nível de desenvolvimento, para ao final propor a adoção da gestão de qualidade total no ensino fundamental como uma das estratégias de desenvolvimento, o que para Brasil, representaria consolidar o vasto potencial que possui. Palavras Chave: Desenvolvimento Nacional. Educação Básica. Qualidade. Gestão de 7 ABSTRACT During the last decades, the world has undergone profound transformation in all orders that oblige governments to adopt policies, strategies, objectives and targets aimed at affirming a country´s position within the international context. Central to these changes is the need not only to boost the economic potential that is considered a common factor in the hierarchy of nations, but also to achieve new heights in sustained competitiveness, social welfare needs; qualification of workforce, as well as intensive dissemination of science and technology, which points to the need for a construction of new organizational paradigm. In this transformation process that requires far-reaching changes, basic education is a factor that could contribute significantly to the achievement of national objectives. However, until now the attention accorded to this important aspect has been almost exclusively on access and extension of educational services, relegating quality to a second position, particularly in the public schools. Hence, this research aims to review the central role of quality basic education not only in contributing to knowledge that allows individuals to better integrate into a productive workforce in a society, but also as a pillar of national agenda that can contribute significantly to national development . Under this approach, the study analyzed the benefits of quality systems, the relationship between quality of education in countries of first order and their level of development, and at the end, proposed the adoption of total quality management in basic education as a strategy of development, which for Brazil, would consolidate its vast potentials. Keywords: National Development. Basic Education. Quality Management. 8 LISTA DE ILUSTRAÇÕES FIGURA 1 Ciclo de Deming........................................................................ 53 FIGURA 2 Países participantes no SERCE............................................... 53 GRÁFICO 1 Média e variação das pontuações médias em matemática dos estudantes de 6º grau de educação básica de cada país.. 54 GRÁFICO 2 Relação entre as pontuações médias dos alunos em Matemática e o Índice de Gini – 6ª série................................... 54 GRÁFICO 3 Relação entre as pontuações médias dos alunos em Leitura e o Índice de Gini – 6ª série...................................................... 55 QUADRO 1 Classificação dos países em Matemática – 6ª série................. QUADRO 2 Descrição dos níveis de desempenho dos estudantes de 6º grau de educação básica em Matemática................................ 56 QUADRO 3 Percentagem dos estudantes de 6º grau de educação básica por nível de desempenho em Matemática de cada país.......... 57 QUADRO 4 Diferenças das pontuações médias entre escolas urbanas e rurais e segundo gênero – 6º grau de educação básica em Matemática ............................................................................... 57 QUADRO 5 Percentagem dos estudantes de 6º grau de educação básica por nível de desempenho em Leitura de cada país.................. 58 56 9 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS CEPAL Comissão Econômica para América Latina e Caribe. EC Emenda Constitucional. IDH Índice de Desenvolvimento Humano. LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. LLECE Laboratório Latino-americano de Avaliação da Qualidade da Educação. ONU Organização das Nações Unidas. PDCA Plan (planejamento), Do (execução), Check (verificação), Act (ação). Ciclo de Shewhart ou ciclo de Deming. PERCE Primeiro Estudo Internacional Comparativo em Linguagem, Matemática e Fatores Associados, para alunos do Terceiro e Quarto Grau da Educação Básica. PIB Produto Interno Bruto. PNE Plano Nacional de Educação. SERCE Segundo Estudo Regional Comparativo e Explicativo. As aprendizagens dos estudantes da América Latina e o Caribe. UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Tecnologia. UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância. 10 SUMÁRIO 1 1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 INTRODUÇÃO............................................................................................... OBJETIVOS................................................................................................... JUSTIFICATIVA DO TEMA............................................................................ LIMITAÇÃO DA PESQUISA........................................................................... METODOLOGIA DA PESQUISA................................................................... CONTRIBUIÇÃO CIENTÍFICA DO TRABALHO............................................ DESCRIÇÃO DOS CAPÍTULOS.................................................................... 11 12 13 14 15 15 15 2 MARCO NORMATIVO................................................................................... 2.1 PERSPECTIVA LEGAL.................................................................................. 2.2 A GESTÃO DE QUALIDADE NA EDUCAÇÃO.............................................. 17 19 21 3 A EDUCAÇÃO BÁSICA NA AGENDA GLOBAL.......................................... 29 3.1 QUALIDADE EDUCATIVA.............................................................................. 29 3.2 PRINCIPAIS ÓBICES EM MATÉRIA EDUCATIVA........................................ 34 4 A QUESTÃO EDUCATIVA NO BRASIL........................................................ 38 5 A EDUCAÇÃO DE QUALIDADE COMO ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO NACIONAL................................................................ 42 6 CONCLUSÕES............................................................................................... 45 REFERÊNCIAS.............................................................................................. 50 ANEXO A ANEXO B ANEXO C - 52 52 ANEXO D - ANEXO E ANEXO F ANEXO G - ANEXO H - ANEXO I - ANEXO J - CICLO DE DEMING................................................................. PAÍSES PARTICIPANTES NO SERCE................................... MÉDIA E VARIAÇÃO DAS PONTUAÇÕES MÉDIAS EM MATEMÁTICA DOS ESTUDANTES DE 6º GRAU DE EDUCAÇÃO BÁSICA.............................................................. RELAÇÃO ENTRE AS PONTUAÇÕES MÉDIAS DOS ALUNOS EM MATEMÁTICA E O ÍNDICE DE GINI – 6ª SÉRIE...................................................................................... RELAÇÃO ENTRE AS PONTUAÇÕES MÉDIAS DOS ALUNOS EM LEITURA E O ÍNDICE DE GINI – 6ª SÉRIE..... CLASSIFICAÇÃO DOS PAÍSES EM MATEMÁTICA – 6ª SÉRIE...................................................................................... DESCRIÇÃO DOS NÍVEIS DE DESEMPENHO DOS ESTUDANTES DE 6º GRAU DE EDUCAÇÃO BÁSICA EM MATEMÁTICA......................................................................... PERCENTAGEM DOS ESTUDANTES DE 6º GRAU DE EDUCAÇÃO BÁSICA POR NÍVEL DE DESEMPENHO EM MATEMÁTICA DE CADA PAÍS............................................... DIFERENÇAS DAS PONTUAÇÕES MÉDIAS ENTRE ESCOLAS URBANAS E RURAIS E SEGUNDO GÊNERO – 6º GRAU DE EDUCAÇÃO BÁSICA EM MATEMÁTICA...... PERCENTAGEM DOS ESTUDANTES DE 6º GRAU DE EDUCAÇÃO BÁSICA POR NÍVEL DE DESEMPENHO EM LEITURA DE CADA PAÍS....................................................... 53 53 54 55 55 56 56 57 11 1 INTRODUÇÃO. O desenvolvimento das Nações sempre foi prioridade e objetivo de governos e instituições; procura constante na qual se idearam e programaram políticas e estratégias com variados enfoques, muitas delas fracassadas porque não focalizaram, adequadamente, a importância do recurso humano e, principalmente, a preparação que este deve possuir para impulsionar os esforços empreendidos; outras porque não souberam entrelaçar todos os fatores da equação integralmente. Entretanto, alguns países conseguiram superar a barreira de estagnação ao centrar uma parte substancial de seus esforços na mudança de paradigmas, assim iniciaram com a educação de seus habitantes através da família e das escolas, consideradas como foco de primeira posição porque é nelas onde se aprendem: cultura, valores e conhecimentos, em síntese, as bases que todo indivíduo precisa possuir para constituir-se em autêntico gerador de mudança e para poder integrar-se como peça produtiva da coletividade a que pertence. Segundo Ana Maria Mendonça (1979, p. 262) “a educação é um instrumento de transmissão da cultura, de preparação do indivíduo para acompanhar as transformações que ocorrem na sociedade, de aceleração do processo de mudança, permitindo um mais rápido processo de industrialização e de introdução de tecnologia avançada na atividade econômica e de direcionamento dessas mudanças, constituindo-se em importante fator de poder nacional”, Por isso devemos assimilar que a educação, é essencialmente uma prática social que deve estar presente em diferentes momentos e espaços da vida em sociedade. Nesse contexto a educação escolar, objeto de políticas públicas e fórum onde o estado pode deixar sentir com maior força sua presença, cumpre um destacado papel tanto no processo formativo dos indivíduos como no desenvolvimento de uma Nação, de tal sorte que cada país com sua história, cultura, tradições, objetivos e projetos, deve estabelecer diretrizes precisas e as bases para que seu sistema educacional favoreça através do processo de ensino – aprendizagem, a formação de indivíduos capazes de inserir-se na atividade 12 profissional e em cada um dos sistemas e das esferas federal, estadual e municipal que contribuem a seu fortalecimento no contexto internacional. Em essência um sistema educacional constitui um conjunto de instituições fundamentais para o desenvolvimento socioeconômico e no qual a acumula de capital humano, em geral, e a educação, em particular, são elementos que devem ocupar uma posição central dentro de uma visão integradora do potencial de um país; não obstante esta verdade de valor inegável, resulta desalentador que em muitos países com alta potencialidade em recursos humanos, econômicos e naturais, a educação continue estagnada, com altos níveis de desigualdade, seja na quantidade do produto que se forma, mas, principalmente na qualidade deste e em muitos dos casos, o acesso é determinado por múltiplos aspectos distintivos como categoria socioeconômica, sexo, local de moradia, como também, pelas características que possui a educação nos tipos de rede escolar frequentado, seja esta pública ou particular, laica ou religiosa; por isso a comparação entre esses diferentes sistemas, levou muitos especialistas a postular a necessidade de criar um modelo universal de educação formal sustentado em sistemas de qualidade como o caminho adequado para assegurar padrões mínimos de aprendizado. 1.1 Objetivos. A presente monografia tem como objetivo geral identificar a importância de pôr em execução um sistema único de Gestão de Qualidade nas escolas de ensino fundamental do Brasil que torne mais eficiente a formação de alunos, além de colocar bases sólidas no Sistema Educativo e, por consequência, contribua ao desenvolvimento nacional. Com essas premissas na mente foram perseguidos os seguintes objetivos específicos: Apresentar uma análise comparativa de alguns países com níveis elevados de ensino básico e seu impacto no grau de desenvolvimento alcançado; Analisar as diretrizes postas em prática por instituições de ensino fundamental públicos e privados que elevaram seu grau de eficiência; e 13 Analisar em forma geral a posição de desenvolvimento alcançado pelo Brasil, a eficiência de seu sistema de educação básica e o grau de aplicação de sistemas de gestão de qualidade neste nível. 1.2 Justificativa do tema. Os países do mundo inteiro encontram-se imersos num processo permanente de globalização que empurram à adaptações constantes e a uma permanente modernização para poder interatuar com a comunidade internacional; mudanças que não se podem realizar na medida necessária sem considerar em sua justa dimensão à educação. Nas duas últimas décadas do século passado até nossos dias, o nível educacional adquiriu uma nova perspectiva ao estimar-se que este aspecto constitui um dos mais importantes propulsores do desenvolvimento. Em forma similar, muitos teóricos sustentam a tese de que em qualquer organização, os sistemas de gestão de qualidade são instrumentos essenciais para garantir uma melhora contínua, em todos os processos, que se desenvolvem dentro da mesma e por consequência para melhorar os resultados. Sob a premissa de que as escolas são de fato “organizações”, produziu-se uma marcada tendência nas análises sobre a eficiência da educação, preocupação que deixo de estar centrada exclusivamente no acesso e na extensão dos serviços oferecidos, para enfocar também os conteúdos dos sistemas educativos, o que ocorre no interior delas, assim como na qualidade dos processos de ensino aprendizagem. Na “Declaração Mundial de Educação para Todos” realizada no Jomtien, Tailândia, do 5 ao 9 de Março de 1990, bem como na Declaração de Salamanca, Espanha de 1994 “Acesso e qualidade para as crianças com necessidades educativas especiais”, chegou-se ao consenso de que é necessário, não só que todas as crianças estejam em uma escola, mas também que essa escola incorpore efetivamente os conhecimentos e competências necessários para desempenhar-se e participar da sociedade em que vivem, aspectos que se encontram intimamente ligados ao desenvolvimento dos países. 14 O artigo 4º “Concentrar a atenção na aprendizagem” da mencionada Declaração Mundial de Educação para Todos resulta especialmente instrutivo sobre o particular: “Que o incremento das possibilidades de educação se traduza em um desenvolvimento genuíno do indivíduo ou da sociedade depende em definitivo de que os indivíduos aprendam verdadeiramente como resultado dessas possibilidades, isto é, que verdadeiramente adquiram conhecimentos úteis, capacidade de raciocínio, aptidão e valores. Em conseqüência, a educação básica deve centrar-se nas ações e os resultados efetivos da aprendizagem, em vez de emprestar, exclusivamente, atenção ao feito de matricular-se, de participar de forma contínua nos programas de instrução e de obter o certificado final. Daí que seja necessário determinar níveis aceitáveis de aquisição de conhecimentos mediante a aprendizagem nos planos de educação e aplicar sistemas melhorados de avaliação de resultados”. De acordo com essa perspectiva, o conceito de “qualidade” adquiriu preponderância na agenda educativa mundial e se tomou como ferramenta insubstituível não só para o desenvolvimento dos sistemas educativos, mas também, como propulsores do desenvolvimento das nações que os adotaram. A própria Declaração Mundial de Educação para Todos, reconheceu que a educação é uma condição indispensável, embora não suficiente, para o progresso pessoal e social, mas que pode contribuir a fim de obter um mundo mais seguro, com mais saúde, mais próspero e ambientalmente mais puro e ao mesmo tempo favorecer o progresso social, econômico e cultural, a tolerância e a cooperação internacional. 1.3 Limitação da pesquisa. O estudo foi desenvolvido com foco nos dados estatísticos do sistema de ensino fundamental, tomando exemplos tanto de países que alcançaram um alto grau de desenvolvimento quanto da América Latina como o Brasil e México que ainda não exploram, adequadamente, esta área de oportunidade para chegar a uma correlação ensino de qualidade – desenvolvimento nacional estabelecendo um período temporário das duas últimas décadas. alcançado, 15 1.4 Metodologia da pesquisa. A metodologia empregada consistiu em solicitar dados publicados por organismos nacionais e internacionais sobre o tema de estudo, para realizar posteriormente uma análise comparativa entre os resultados obtidos pelos países que possuem altos níveis de desenvolvimento e competitividade e a ênfase que se dá neles à educação básica. Diante dos dados estatísticos disponíveis e da análise realizada, alcançam-se as inferências que se expõem nas conclusões finais e que assinalam as vantagens da adoção de um modelo de gestão de qualidade. 1.5 Contribuição científica do trabalho. A contribuição do trabalho se encontra na possibilidade de, a partir da informação científica – estatística existente e das experiências obtidas por países do primeiro plano de desenvolvimento, determinar as áreas de oportunidade existentes para aplicar um sistema de gestão de qualidade que fortaleça o sistema educativo e se constitua em estratégia impulsora de desenvolvimento nacional, com sustento no marco legislativo em vigor. 1.6 Descrição dos capítulos. Para uma melhor compreensão do presente trabalho, foi organizado em quatro capítulos principais, além da introdução e conclusões finais, nos que se discorrem os aspectos seguintes: No capitulo 2 se expõe a matéria legislativa que norma a educação básica, seus alcances, objetivos e enlace com os planos nacionais de desenvolvimento. Depois se faz uma breve análise dos aspectos que regem o tema e se dá uma descrição geral do que são os sistemas de gestão de qualidade. No capitulo 3 se faz uma descrição estatística dos resultados qualitativos obtidos por países que contam com altos níveis na educação fundamental e o impacto que esse fato tem tido para seu posicionamento mundial em desenvolvimento. Finalmente se analisa a forma como esta ferramenta constitui uma área de oportunidade para aqueles países que não os adotaram ou cujas políticas de adoção ainda resultam fracas. 16 No capitulo 4 se analisam o enfoque sob a atenção à Educação Básica no Brasil, os principais obstáculos que enfrenta esta matéria e a necessidade de revisar a metodologia de gestão vigente. Finalmente no capitulo 5 se analisa a possibilidade de programar a nível governamental e não unicamente como iniciativas independentes e atomizadas, um sistema de gestão de qualidade na Educação Pública Básica. 17 2 MARCO NORMATIVO. É indiscutível que o aperfeiçoamento dos recursos humanos através da educação tenha sido identificado como uma prioridade no mundo inteiro e se integrou com força política na agendas de todos os governos; entretanto, também ocorre um fato que apesar dos esforços realizados e das inumeráveis tentativas de reforma que se puseram em execução para concretizar o desenvolvimento dos povos com sustento na educação, a mudança positiva que se esperava não ocorreu em todos os países. Não se pode culpar a educação pelos resultados obtidos como não se pode esperar que seja ela o único instrumento para salvar os múltiplos óbices econômicos, políticos e de valores que enfrenta a sociedade, pois esses problemas se desenvolveram e intensificaram ao longo de décadas inteiras; mas tampouco se pode pensar em resolver os problemas sem que se articule a educação com todas as demais ações que se empreendam para impulsionar o desenvolvimento, pois é evidente que as escolas continuarão sendo âmbitos propícios para o aperfeiçoamento e progresso dos indivíduos, pelo que precisam ser cada vez melhores para atender as necessidades de um mundo em constante transformação e para que cumpram seu papel formador; a educação deve então manter-se em equilíbrio dinâmico com outros setores da sociedade, sendo permanentemente avaliada e reajustada dentro do amplo contexto social para que proponha respostas adequadas e oportunas às exigências decorrentes das rápidas transformações que se experimentam. O acesso às escolas de excelência, predominantemente privadas, resulta pouco provável para a maioria da população em idade escolar, assim o âmbito da educação pública se constitui como a área de oportunidade para potencializar as mulheres e homens, tendo a premissa de que uma força de trabalho bem educada é elemento básico para consolidar uma economia sólida, assim como a cultura e valores necessários para formar um cidadão e obter uma vantagem competitiva em relação a outros países. Este aspecto é relevante tendo na mente que a educação pública gratuita constitui quase o instrumento único de universalização das oportunidades e na geração de uma maior coesão social. 18 Na apresentação do livro “Educação e Poder Nacional” de Ana Maria Mendonça, José Sarney (1979, p. 5) mencionou que: “Terá que entender-se que educação e poder nacional são temas extremamente atuais. A partir do estudo da relação funcional entre as variáveis consideradas relevantes para o poder nacional, evidencia-se a importância crucial da educação como fator a produzir incrementos substanciais entre cada uma das variáveis que compõem a estrutura que define o poder da Nação”. Sobre a temática, Ana Maria Mendonça (1979, P. 168) cita que: “Nos dias atuais, foi aceito, por educadores e cientistas sociais, a opinião de que o sistema educacional tem três funções básicas a desempenhar na sociedade moderna, sendo: 1. Integrar ao homem nos ambientes econômico, político e social. 2. Promover o desenvolvimento psíquico e moral do indivíduo. 3. Diminuir as desigualdades de renda por meio de uma adequação do jovem ao mercado de trabalho. Segundo o sociólogo José Pastore, essa concepção esteve na moda e foi uma justificação básica para promover a expansão dos sistemas educacionais em muitas sociedades”. Uma pergunta resulta crucial perante o grande desafio que enfrenta a educação: de todos os níveis educacionais existentes qual é aquele que deve obter a maior importância nas políticas governamentais?. A lógica e objetividade dizem que o sistema educativo básico constitui o fundamento do sistema de educação formal e no qual têm origem ou se manifestam grande parte dos problemas que se ramificam pelo resto dos níveis, como a falta de preparação de uma elevada porcentagem dos alunos para os graus posteriores de escolaridade e para as próprias necessidades da vida, por isso todo sistema educativo nacional deveria garantir uma educação básica de excelência que atenda como mínimo dois objetivos: 1) a universalidade que implica propiciar facilidades para atender a toda a população infantil em idade escolar. 2) Proporcionar a essa população uma educação de qualidade. Essa simples equação capaz de gerar recursos humanos com maior acumulação de conhecimentos constitui-se se em fator de integração social, democratização, segurança, preservação da cultura e estabeleceria bases para um adequado direcionamento do potencial existente, que permitam avançar no sentido do desenvolvimento científico, tecnológico, econômico e social que leve às sociedades a uma melhor adaptação às transformações. 19 2.1 Perspectiva legal. A educação obrigatória e gratuita, que sistematicamente foi envolvendo cada vez mais anos de escolaridade, é encarada como um direito universal, de uma vez que como uma obrigação do Estado em quase todos os países. Isto pode ser corroborado facilmente ao observar que identificada como valiosa ferramenta temlhes ajudado na tarefa de impulsionar o desenvolvimento nacional, também foi definida em seus propósitos através de diversos ordenamentos legais desde as constituições políticas, que particularizam que aquela é um direito de todos e dever do estado e da família, por isso tem que ser promovida e incentivada com a colaboração da sociedade para que tenda ao pleno desenvolvimento da pessoa, a sua preparação para o exercício da cidadania e a sua qualificação para o trabalho, aspectos todos que foram incluídos nas políticas, estratégias, planos, programas e projetos educacionais da maioria dos países. O acesso à educação se inscreve no marco dos direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais, assim como nos princípios e metas expostos pelas principais cúpulas e convenções internacionais que têm prescrito que todas as crianças possuem direito à educação livre, gratuita e de qualidade adequada e que os Estados são responsáveis de garantir esse direito em suas distintas expressões como escolarização, educação de qualidade e trato justo nas escolas. Neste sentido o pleno direito a uma educação de qualidade se constitui em condição essencial para superar a pobreza e avançar para uma maior igualdade de oportunidades. O aumento dos níveis educacionais, em especial entre os grupos mais pobres, tanto como a diminuição em brechas de gênero, são condições para incrementar a mobilidade social, elevar a qualificação da força trabalhista e por conseqüência a competitividade de um país de uma vez que permitir a democratização e o acesso pleno à cidadania. Dessas acepções se entende claramente que todo Estado deve garantir que quando os alunos deixem a escola estejam preparados para enfrentar o mercado de trabalho dominando habilidades necessárias para uma alta produtividade e serem possuidores da capacidade de aprender, pensar, trabalhar com eficácia e solucionar os problemas aos quais se enfrentem. No Brasil, os artigos 208, 210 e 214, da Constituição Federal resultam especialmente didáticos para a presente pesquisa, toda vez que particularizam as 20 obrigações mínimas do Estado em matéria de educação fundamental na forma seguinte: “Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a o o o garantia de: (EC n . 14/96, EC n . 53/2006 e EC n . 59/2009) I. educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria; Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de maneira a assegurar formação básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais”. Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração decenal, com o objetivo de articular o sistema nacional de educação em regime de colaboração e definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de implementação para assegurar a manutenção e desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis, etapas e modalidades por meio de ações integradas dos poderes públicos das diferentes esferas o federativas que conduzam a: (EC n . 59/2009) I. erradicação do analfabetismo; II. universalização do atendimento escolar; III. melhoria da qualidade do ensino; IV. formação para o trabalho; V. promoção humanística, científica e tecnológica do País; VI. estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do produto interno bruto. ” O grande desafio que o país enfrenta em relação à educação, pode resumirse na questão fundamental de como elevar seu nível de qualidade desde as primeiras séries, de tal sorte que a sociedade inteira, inclusive aqueles indivíduos que não culminem uma preparação profissional completa, alcancem parâmetros elementares que lhes permitam sua inserção na vida produtiva do país. Em concordância com esse desafio desde o ano 2000, estabeleceu-se o Plano Nacional de Educação (PNE), documento com visão de longo alcance que abrange um período de dez anos e que para o período 2011-2020 estabelece: “Art. 2º São diretrizes do PNE - 2011/2020: I erradicação do analfabetismo; II universalização do atendimento escolar; III superação das desigualdades educacionais; IV melhoria da qualidade do ensino; V formação para o trabalho; VI promoção da sustentabilidade sócio-ambiental; VII promoção humanística, científica e tecnológica do País; VIII estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do produto interno bruto; IX valorização dos profissionais da educação; e X difusão dos princípios da equidade, do respeito à diversidade e a gestão democrática da educação. 21 Desta forma, o PNE estabelece metas e estratégias para cada nível e tipo de ensino que existe no país, aspetos que resultam coerentes com a finalidade que se persegue. Porem o planejamento não acaba por articular-se adequadamente á execução, o que conduz à conclusão de que ainda existem aspectos que se podem e devem reforçar. 2.2. A Gestão de Qualidade na educação. O termo "qualidade" apesar das grandes vantagens e resultados que produziu nas organizações que o adotaram como parte de seu sistema de gestão, sofreu um desgaste enorme pelo uso indiscriminado ao tratar de impô-lo como uma moda, na qual parecesse que todos têm a obrigação de "fazer as coisas bem à primeira vez" sem tomar em consideração que nem todas as estruturas organizacionais respondem de maneira similar a sua aplicação, tal é o caso do amplo universo que envolve o processo educativo. Estudos, avaliações e pesquisas diversas, demonstram que a qualidade na educação é um fenômeno complexo, que envolve múltiplas dimensões que não podem ser definidas apenas por um reconhecimento da variedade e quantidade dos elementos que neste processo intervêm. Um dos principais problemas e ponto de partida nesta complexa questão, é que na literatura sobre a temática da qualidade se encontra a consideração de que as coisas têm qualidade se cumprirem com as normas do projeto e produção; se servirem para um uso ou aplicação definida; se o cliente estiver satisfeito com elas ou com o serviço recebido; enfoques que resultam extremamente subjetivos dependendo do ponto de vista, preparação, nível educativo, experiência e inclusive preconceitos que possua quem está realizando a avaliação desses aspectos, quando na realidade o significado da expressão “qualidade em educação”, tem múltiplos indicadores que não podem estar separadas uns dos outros, mas sim devem ser tomados como complementares e inter-relacionadas. Levados estes aspectos mais amplos ao âmbito educativo, teríamos que a educação tem qualidade se cobrir as especificações do desenho curricular dos programas e planos de estudo; se houver relevância e pertinência nos conteúdos abrangidos; se forem satisfeitas as expectativas de pais e alunos; se os alunos educados contribuem a satisfazer as necessidades da comunidade ao colaborar na 22 solução de problemas e finalmente se o estudante puder a partir dos conhecimentos adquiridos melhorar seu nível de vida e ajudar na transformação positiva de seus semelhantes e do ambiente em que se desenvolve. No boletim “Desafios” publicado pela Comissão Econômica para América Latina e Caribe (CEPAL) e o Fundo das Nações Unidas para a infância (UNICEF), Pablo Villatoro e Martín Hopenhayn (2006, P. 6) definem claramente que: “Não é fácil demarcar o significado e as dimensões da qualidade da educação. Por exemplo, no Marco de Ação do Dakar (2000) relevam-se as atitudes e motivações dos estudantes, os conteúdos (relevância ou adequação do currículo à realidade local), os processos (capacidades dos professores e estratégias pedagógicas) e os sistemas (gestão e atribuição de recursos). Recentemente, a UNESCO (2005) elaborou um marco de qualidade que distingue as características dos estudantes, o contexto, os insumos e os resultados. As aprendizagens efetivas constituem uma aproximação à qualidade da educação.” Por sua parte Lilia Toranzos em seu artigo “Avaliação e Qualidade” (1996, pp. 64-65) indica muito claramente que: “A qualidade é entendida como «eficácia»: uma educação de qualidade é aquela que obtém que os alunos realmente aprendam o que se supõe devem aprender -aquilo que está estabelecido nos planos e programas curriculares- ao cabo de determinados ciclos ou níveis. Nesta perspectiva a ênfase está posta em que, além de assistir, os meninos e adolescentes aprendam em seu passo pelo sistema. Esta dimensão do conceito põe em primeiro plano os resultados da aprendizagem efetivamente alcançada pela ação educativa. Uma segunda dimensão do conceito de qualidade, complementar do anterior, está referida a que é o que se aprende no sistema e a sua «relevância» em términos individuais e sociais. Neste sentido uma educação de qualidade é aquela cujos conteúdos respondem adequadamente ao que o indivíduo necessita para desenvolver-se como pessoa - intelectual, afetiva, moral e fisicamente -, e para desempenharse adequadamente nos diversos âmbitos da sociedade - o político, o econômico, o social -. Esta dimensão do conceito põe em primeiro plano os fins atribuídos à ação educativa e sua concreção nos desenhos e conteúdos curriculares. Finalmente, uma terceira dimensão é a que se refere à qualidade dos «processos» e médios que o sistema brinda aos alunos para o desenvolvimento de sua experiência educativa. Desde esta perspectiva uma educação de qualidade é aquela que oferece às crianças e adolescentes um adequado contexto físico para a aprendizagem, um corpo docente adequadamente preparado para a tarefa de ensinar, bons materiais de estudo e de trabalho, estratégias didáticas adequadas, etc. Esta dimensão do conceito põe em primeiro plano a análise dos meios empregados na ação educativa.” 23 Assim, tal como se conceituou pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Tecnologia (UNESCO) no “Projeto Regional de Indicadores Educativos” (2003, p.12) a qualidade na educação ao constituir um fenômeno muito complexo, deve ser abordada a partir de muitas perspectivas para torná-la o mais eficiente e efetiva possível, sendo muito adequada a relação matérias-primas – processos – resultados para aproximar-se à Qualidade na Educação, onde esta é definida envolvendo os recursos materiais e humanos, as escolas e aulas de estudo, ou seja, os processos de ensino aprendizagem, os currículos alem das expectativas pedagógicas com relação à aprendizagem das crianças. O seguinte problema com o que nos encontramos é que os métodos para avaliar a administração da qualidade são difíceis de estabelecer e de hierarquizar quando se trata de centros escolares, devido à diversidade de critérios; dos fatores e indicadores das instituições de educação, sejam públicas ou privadas, religiosas ou laicas; seja que se encontrarem em áreas urbanas ou rurais; os aspectos institucionais que cada uma tem para planejar, conduzir e avaliar seus processos. Além de atender a essas particularidades teremos que adicionar o tipo, nível e modalidade educativa, por isso se deve selecionar os instrumentos mais idôneos para fins de avaliação. O anterior põe desafios aos administradores da educação ao ter que encontrar mecanismos para adaptar e adotar modelos de avaliação que considerem que os alunos e outras instâncias, aos quais se outorgam os serviços educativos, têm diferentes necessidades e metas por cumprir, já que cada organização atendendo a sua missão, visão, valores e clima laboral é única e irrepetível; razão pela qual os objetivos, processos, produtos e práticas individuais de cada uma delas influem no desenho e implantação de um sistema de qualidade próprio. Somando todos esses fatores, o sistema de qualidade deve ser entendido como a adição da estrutura organizacional, dos procedimentos, dos processos e dos recursos necessários para implantar a administração da qualidade; por sua parte a administração de qualidade se define como o conjunto de atividades da função geral de administração que determina a política de qualidade, os objetivos, as responsabilidades e a implantação destes propósitos por meios tais como o planejamento, o controle e, o melhoramento da qualidade dentro do marco desse sistema. 24 Nesta temática, outro conceito que deve ser entendido e adotado é o de “qualidade total” que alude à participação de todos os membros da organização escolar orientados ao êxito de longo prazo através da satisfação do usuário do serviço e em benefício tanto da mesma organização quanto dos indivíduos que a conformam. Obtemos dessa forma que a Escola deve ser vista como uma organização educativa suscetível de ser administrada como um sistema total, com funções interrelacionadas, cujos meios e processos para alcançar seus fins, metas e objetivos não só devem estar apoiados em uma dimensão pedagógica, administrativa ou econômica como geralmente se faz. Da mesma maneira deve ficar claro que a padronização de um sistema de qualidade não implica que os bens, serviços ou formação dos alunos tenham que ser iguais em todo mundo já que cada um destes fatores responde a uma realidade distinta em cada país; mas o ótimo para que a educação contribua efetivamente ao desenvolvimento de uma Nação, é que dentro desta cumpra com níveis mínimos de padronização para que o produto que se forma possua características de desempenho adequadas às necessidades e desafios que enfrentará como força produtiva; a normatização dos sistemas e processos apela ao desenho particular do que a organização deseja obter, à documentação de como se fazem as coisas e à verificação de como se fizeram no passado, de tal forma que se obtenha uma melhora na produtividade escolar, entendida no mais amplo sentido quantitativo e qualitativo, quer dizer, no nível governamental implicaria conseguir que um maior número de estudantes culmine sua educação (índice de eficiência terminal), mas principalmente que a totalidade dos que são formados tenham elevados padrões de rendimento (índice de eficiência educativo). Então para incrementar a produtividade, e, portanto os benefícios, requer-se que o que se faça, possua qualidade. Uma locução simples de como a qualidade leva a incrementar a produtividade seria afirmar que um processo tem qualidade quando contribui a fazer um maior número de coisas bem ou aquilo que se faz implica menos recursos, aspecto que resulta crucial na Gestão Pública que quase invariavelmente tem que afrontar com o problema de recursos limitados no cumprimento de sua função administrativa. Spanbahuer Stanley J. (1996, P. 73-74) assinala que: 25 “Os especialistas da qualidade, em sua maioria, afirmam que 80% dos problemas da qualidade nas organizações é resultado direto de gestão ineficaz. Sustentam que os gerentes podem ser o elemento de transformação e de melhora nas operações da organização. Dizem que essas mesmas condições se aplicam a todas as organizações indústrias e de serviço, empresas do setor privado e escolas públicas -. Isso não quer dizer que todos os gerentes educacionais sejam ineficazes nem que todas as escolas sejam mal administradas. Significa apenas que os gerentes com treinamento adequado e voto de compromisso podem transformar as escolas em instituições que promovam maior criatividade, inovação e mudança. O objetivo de longo prazo é eliminar a acomodação e a mediocridade nas escolas. Ainda quando houver diversas maneiras de tentar isso, a ênfase principal esta no respeito a cada membro da equipe e no comprometimento com a excelência através do trabalho em equipe.” Como este mesmo autor afirma (1996, p. 74), devemos ter claro que a transformação cultural das escolas não ocorrerá imediatamente pelo só feito de programar os sistemas de gestão de qualidade, pois na maioria das organizações, o que mais pesa ao programar estas novas práticas, é a dificuldade de abandonar o lastro dos anos de práticas tradicionais de gestão, por isso a mudança só ocorrerá quando todos os integrantes das instituições educativas, dos mais altos degraus gerenciais até cada elemento executivo, disponham-se a dar o primeiro passo e seguir na mesma direção. Um dos fatores aos quais se atribui o êxito das organizações, uma vez que a ideologia da qualidade haja permeado em todos os degraus, é o fato de que normalmente o número de pessoas comprometidas com a mudança se multiplica na medida em que o êxito se torna patente. O seguinte problema que se apresenta é saber qual é o tipo de sistema de gestão de qualidade que se deve adotar por ser o mais adequado. Em realidade ao estabelecer este questionamento, não deveria ponderar-se nenhum sistema de gerenciamento sobre outro enquanto seja adotado aquele que seja capaz de oferecer os resultados esperados. Neste ponto cabe esclarecer que Spanbahuer (1996, p. 61) identifica que o processo de melhora da qualidade conta com um quadro referencial viável para o planejamento de mudanças culturais e processos necessários para uma mudança substancial na educação, que concorda pelo uso do método empregado no setor privado para transformar a gestão da escola sistematicamente superiores aos do setor público. e cujos resultados são 26 Resulta evidente que no setor privado as mudanças sistemáticas e contínuas estão enfocadas na busca permanente por satisfazer as necessidades dos clientes, tanto externos quanto internos, com o propósito de aumentar a presença da organização no mercado, e, com isso, as utilidades pelo serviço que se oferece, aspecto que devidamente adaptado, ao setor público, pode produzir bons resultados. Qualquer sistema de gestão de qualidade adotado com êxito no setor privado exige como premissas liderança participativa, solução de problemas, controle estatístico, medição e avaliação e comprometimento de cada integrante, componentes que evidentemente também são necessários para que a educação pública melhore notavelmente. Os princípios de Deming1 constituem de fato uma ferramenta fundamental para o objetivo que se persegue. Esses princípios devidamente adotados e permeados ao interior das organizações deram já grandes resultados tanto em pequenas como em grandes empresas da indústria de transformação e de serviços, por isso a viabilidade de aplicá-los a grande escala no sistema educativo de um país representa uma ampla garantia de sucesso e em termos gerais adaptados ao sistema educativo implicariam: Maior envolvimento dos professores e funcionários na gestão e na tomada de decisões. Maior autoridade e responsabilidade delegada a funcionários dos diversos níveis de especialização. Maior autonomia da escola como entidade individual e maior liberdade de ação para cada departamento. Maior desenvolvimento profissional e treinamento dos professores e funcionários. Decisões da escola apoiadas nas exigências do cliente e na coleta de dados, usando métodos científicos e análise estatística. Adoção de técnicas de liderança enfocadas para aqueles indivíduos que cumprem funções gerenciais. 1 William Edwards Deming (1900 - 1993). Estatístico americano, professor universitário, autor de textos, consultor e difusor do conceito de qualidade total. Seu nome está associado ao desenvolvimento e crescimento do Japão depois da Segunda guerra mundial. Deming ofereceu quatorze princípios fundamentais para a gestão e transformação da eficácia empresarial, com o objetivo de ser competitivo, manter-se no negócio e dar emprego. Os pontos se apresentaram pela primeira vez em seu livro "Out of the Crise". 27 Implantação de técnicas participativas inovadoras em lugar de métodos de gestão autocráticos ou condescendentes. Comprometimento permanente com a qualidade, tendo em vista a excelência em todos os processos da escola. Práticas educacionais e decisões apoiadas nas necessidades do cliente como mostradas nos elementos da qualidade e nas regras de conformidade. Análise contínua do funcionamento de novos métodos. Em adição a esses princípios, outra ferramenta muito útil para os objetivos propostos é o chamado ciclo de Shewhart ou ciclo de Deming (PDCA) que tem por objetivo tornar mais claros e ágeis os processos envolvidos na execução da gestão, como neste caso, na gestão da qualidade, dividindo-a em quatro principais passos. O ciclo PDCA (Figura 1) começa pelo planejamento, em seguida a ação ou conjunto de ações planejadas são executadas, checa-se o que foi feito, se estava de acordo com o planejado, constantemente e repetidamente (ciclicamente) e toma-se uma ação para eliminar ou ao menos mitigar defeitos no produto ou na execução. Os passos são os seguintes: Plan (planejamento): estabelecer missão, visão, objetivos (metas), procedimentos e processos (metodologias) necessários para atingir os resultados. Do (execução): realizar, executar as atividades. Check (verificação): monitorar e avaliar periodicamente os resultados, avaliar processos e resultados, confrontando-os com o planejado, objetivos, especificações e estado desejado, consolidando as informações, eventualmente confeccionando relatórios. Act (ação): Agir de acordo com o avaliado e de acordo com os relatórios, eventualmente determinar e confeccionar novos planos de ação, de forma a melhorar a qualidade, eficiência e eficácia, aprimorando a execução e corrigindo eventuais falhas. Comprometidas as instituições educativas de nível básico com essas premissas e mediante um monitoramento constante para corrigir as debilidades que se vão apresentando, se teria em médio prazo uma melhora substancial nos resultados e no longo tempo um impacto positivo em todo o sistema educativo e no potencial de um país, sem perder de vista que como o manifesta Spanbahuer (1996, 28 p. 57): “A melhora da qualidade na educação não deve ser vista como um processo de soluções temporárias. É uma iniciativa de longo prazo que exige mudança e reestruturação organizacional” de sorte que o que se deve valorizar são os resultados para o êxito perdurável de cada escola como ente individual e do sistema educacional como um conjunto. Sem duvida o processo de melhora da qualidade constituirá o veículo para criar o tipo de mudança cultural necessária à transformação da educação e obter sua participação ativa no potencial da Nação, o qual exige um exame profundo da forma como as escolas foram dirigidas até agora e um movimento em direção a um maior envolvimento de todas as pessoas associadas à escola, para aperfeiçoar os resultados. 29 3 A EDUCAÇÃO BÁSICA NA AGENDA GLOBAL. A educação básica que se oferece na maioria dos países subdesenvolvidos e inclusive em muitos em vias de desenvolvimento, foi assinalada como deficiente através de estudos internacionais e regionais realizados sob diversos enfoques e com distintos indicadores nas últimas décadas, particularmente aquela que se oferece nas escolas públicas, que coincidentemente reúnem à maioria dos estudantes desse nível e também aos setores econômicos mais desfavorecidos. A situação que guarda o tema educativo na América Latina e o Caribe – onde as políticas governamentais se enfocaram mais no aspecto quantitativo que no qualitativo – não escapa desta problemática; por muito tempo o discurso desses governos se centrou em assinalar a diminuição dos índices de analfabetismo e no acesso de um número da população cada vez mais extenso a esse serviço. Segundo dados publicados pelo Banco Mundial, para 2008, a taxa de alfabetização de pessoas entre 15 e 24 anos se encontrava na América Latina em um 97%, parâmetros muito próximos aos obtidos pela Europa, Ásia Central e Ásia Oriental e o Pacifico, onde se localizam os países de maior desenvolvimento; nesse mesmo ano, a taxa de alfabetização total para alguns países específicos foi como segue: 98% para a Argentina; 90% para o Brasil; 99% para o Chile; 93% na Colômbia; 96% na Costa Rica; 100% em Cuba; 84% no Equador e 93% no México, dados que se mantiveram em padrões muito próximos pelo menos durante as duas últimas décadas. Enquanto isso aconteceu o índice de inscrição em nível primário para a América Latina e o Caribe, encontrava-se nuns 116% em 2008, cifra superior à reportada para o resto dos continentes. Ao apreciar esses indicadores, é importante mencionar que a notória ênfase que se deu à extensão escolar, não foi similar à atenção na qualidade da aprendizagem, aonde os resultados resultam muito desalentadores. 3.1 Qualidade educativa. Ao discorrer sob educação, um dos aspectos aos quais se presta atenção prioritária, é saber se os governos destinam suficientes recursos a este item. Analisando dados estatísticos dos principais órgãos mundiais responsáveis por dar 30 seguimento a esta temática como a UNESCO e o Banco Mundial, pode-se constatar que o maior gasto mundial em educação se concentra em um número reduzido de países, porém sem destacar-se uma grande problemática na América Latina. O gasto público em educação total por percentagem do Produto Interno Bruto (PIB) segundo o último relatório completo do Banco Mundial assinala que para 2007 nos países da União Européia foi de 4.9133%, em tanto que para países da América Latina e o Caribe se encontrava em 4.0269%, para a África em 3.7931% e nos países menos desenvolvidos – segundo a classificação das Nações Unidas – a cifra se localizava em 3.7519%. Desde outros parâmetros de classificação, esse mesmo dado assinalava que os países de renda alta gastavam uma percentagem de 5.0021%; os países de ingresso médio 4.0514%, em tanto para o 2008 (não se conta com dado de 2007) os países de ingresso baixo gastaram 3.8001% de seu PIB. Entretanto, ao falar concretamente de países americanos que se destacam da maioria em termos de desenvolvimento econômico, os dados não resultam muito heterogêneos; assim, observa-se que o gasto público em educação total por percentagem do PIB para 2007 nos Estados Unidos foi de 5.5%; na Argentina de 4.9%; no Brasil de 5.1%; no Chile de 3.4%; em Cuba de 11.9% e no México de 4.8%. Convém também destacar para esta análise a forma como se efetua o gasto público por estudante2. No Compêndio Mundial da Educação 2010 publicado pelo Instituto de Estatística da UNESCO apresentam-se as últimas estatísticas de educação correspondentes a 208 países, do ensino fundamental até a superior. Embora essa edição que é a mais atualizada centra-se no aspecto de “gênero”, proporciona ao igual que em outros anos uma série de indicadores que permitem comparar a composição do gasto em educação não só entre os diferentes países, mas também entre os distintos níveis de ensino. Segundo o referido Compêndio Mundial, para os países americanos que foram citados nos parágrafos anteriores a composição do gasto público por estudante em educação primaria para o 2008 (ano financeiro finalizado) foi da 2 Segundo o Banco Mundial e aquele que corresponde ao gasto público corrente em educação, dividido pela quantidade total de estudantes por nível (primária para nosso caso de estudo), como percentagem do PIB per capita. 31 seguinte forma: Estados Unidos 22.4%; Argentina 14.7%; Brasil de 17.7%; Chile 11.9%; Cuba 44.7% e México 13.3%. Encontramos assim que - exceção feita de Cuba que destina uma parte considerável do PIB em educação e deste uma grande percentagem em educação fundamental - esses parâmetros na realidade não são determinantes em termos de eficiência educativa. Entretanto se fizermos uma análise com uma óptica distinta, o mesmo Compêndio Mundial da Educação nos apresenta a forma como se distribuem os gastos em educação por item, onde teremos que uma grande parte desses recursos são direcionados unicamente ao pagamento de salários a professores, sendo para os Estados Unidos de 71.1%, Argentina 86.9%, Brasil 68%, Chile 85.5 %, Cuba 52.4% e México 89.9%, o que significa que em outras importantes áreas tais como modernização e tecnologia aplicada à pedagogia o gasto corrente que se destina resulta reduzido na maioria dos casos. É ali quando surge uma ponderação importante sobre o particular, que corresponde à efetividade com que se estão gastando os recursos. Segundo introdução de Rosa Branco no “Segundo Estudo Regional Comparativo e Explicativo. As aprendizagens dos estudantes da América Latina e Caribe” (SERCE) do Escritório Regional da UNESCO para a América Latina e Caribe (2008, p. 5): “Nos últimos anos os países da América Latina e Caribe realizaram importantes avanços em educação: ampliou-se a duração da educação obrigatória; aumentou a cobertura do sistema; desenharam-se novos currículos; melhorou-se a dotação de materiais e a infra-estrutura escolar, e se investiu na formação dos docentes. Entretanto, persistem problemas na qualidade da educação e em sua justa distribuição no conjunto da sociedade.” Encontramo-nos nesta forma com o mesmo problema de fundo que se analisa neste trabalho, quer dizer que melhorar a qualidade da educação segue sendo o grande desafio dos sistemas educativos da América Latina e Caribe. É indubitável desde este ponto de vista que os governos trabalhem para implantar políticas que permitam oferecer uma educação de qualidade, disponível para todos e distribuída de maneira equitativa com o que se busca romper os determinismos sociais que mantêm em desvantagem aos setores mais pobres e grupos minoritários. 32 Entretanto na maioria dos discursos públicos sobre este tema, fala-se da necessidade de incrementar os recursos econômicos destinados a educação e se esquece por outra parte que estes recursos nem sempre são empregados na melhor forma, afirmação em que deve ficar claro que se trate de países ricos ou pobres, os recursos serão sempre limitados, e, por isso, se exige um investimento inteligente deles para conseguir resultados mais satisfatórios. Para conhecer qual é a eficiência dos sistemas educativos na América Latina e Caribe, são reveladores os resultados do SERCE3, avaliação do desempenho dos estudantes mais importante e ambiciosa das desenvolvidas na América Latina e Caribe, organizado e coordenado pelo Laboratório Latinoamericano de Avaliação da Qualidade da Educação (LLECE) e que se insere dentro das ações globais do Escritório Regional de Educação da UNESCO para a América Latina e Caribe, tendentes a assegurar o direito de todos os estudantes latinoamericanos e caribenhos a receber uma educação de qualidade. (Figura 2) O estudo teve por objetivo a geração de conhecimento a respeito das aprendizagens de Matemática, Linguagem (Leitura e Escritura) e Ciências da Natureza que os estudantes de 3er e 6º graus de Educação Básica puderam obter nas instituições educativas. Neste caso se descreverão a seguir em forma sucinta alguns resultados do estudo que são especialmente reveladores. As Aprendizagens no 6º grau de Educação Básica na área de Matemática mostraram uma disparidade importante nas pontuações médias com uma diferença grande entre os países de melhor e mais baixo desempenho (Cuba e República Dominicana, respectivamente). A análise global dos resultados permitiu agrupar aos países em quatro grupos, de acordo a sua diferença com a média dos países na forma seguinte: países cujos alunos de 6º grau de Educação Básica exibem em Matemática um desempenho médio superior à média regional, 3 A finais de 2002, os países que conformam o Laboratório Latino-americano de Avaliação da Qualidade Educativa (LLECE), decidiram desenvolver o Segundo Estudo Regional Comparativo e Explicativo (SERCE), que capitalizasse o aprendido com o primeiro estudo regional (PERCE, 1998), mas que desse passos relevantes quanto a ampliar a análise de mais países, graus e áreas avaliadas e dispor de resultados válidos, precisos e confiáveis sobre o que os estudantes de primária estão aprendendo; assim como de informação relevante sobre os principais fatores associados, com a idéia de que se reflitam na discussão e aplicação das ações e políticas sociais e educativas que procurem melhorar e fortalecer a qualidade da educação pública nos países participantes. 33 localizando-se a mais de uma separação standard acima dela. Cuba integrou este primeiro grupo com uma média de 637 pontos. países com pontuações médias superiores à média regional, mas situados a menos de uma separação standard acima dela. Neste grupo se localizam o Uruguai, o estado mexicano de Nuevo Leon, Argentina, Chile, Costa Rica e México. países cujo desempenho médio é igual à média do conjunto dos países; quer dizer, sem diferenças estatisticamente significativas com ele. Neste grupo se encontram o Brasil, Colômbia e Peru. países cuja pontuação média é inferior à média dos países (menos de uma separação standard): Equador, El Salvador, Guatemala, Nicarágua, Panamá, Paraguai e República Dominicana. (Gráfico 1 e quadro 1) Tomando em consideração os níveis de desempenho dos mesmos estudantes de 6o ano de Educação Básica, realizou-se uma classificação em quatro níveis, sendo o IV para os de mais alto desempenho e o I para os de desempenho mais baixo; cada nível correspondeu a um conjunto de tarefas avaliadas pelas provas aplicadas e cuja resolução implicou o domínio de certos conteúdos, assim como a mobilização de determinados processos cognitivos por parte dos estudantes; o resultado permitiu corroborar que aproximadamente o 72 % dos estudantes da América Latina e o Caribe se encontram nos níveis II e III, quer dizer níveis médios. (Quadro 2) Fazendo a classificação por países sob esses mesmos níveis se obteve que: em Cuba e Uruguai, ao redor de 75% dos estudantes se localiza nos níveis III e IV, alcançando os mais altos rendimentos nesta teste. Nuevo Leon, Costa Rica, México e Chile, conseguiram localizar a mais de 50% de seus estudantes de 6º grau, nos níveis superiores de desempenho em Matemática. por outro lado, Argentina, Brasil, Peru, Colômbia e Paraguai têm entre o 50% e o 60% de seus estudantes nos níveis de desempenho I e II. Equador, El Salvador, Guatemala, Nicarágua, Panamá e República Dominicana, têm mais de 70% de seus estudantes nos níveis I e II. (Quadro 3 e gráfico 2). Também é muito interessante fazer notar que em Matemática, os estudantes de 6º grau de escolas rurais participantes no SERCE obtêm 34 desempenhos mais baixos que os que assistem a escolas no âmbito urbano. (Quadro 4). É importante mencionar que em forma similar ao que ocorre com Matemática, nas outras duas áreas avaliadas os resultados são muito similares para toda a América Latina e Caribe, aonde em termos gerais se observa que o nível alcançado por Cuba, localiza-a como o país onde os estudantes apresentam o melhor rendimento, enquanto que países como a Argentina, Brasil, Chile e México, localizam-se com padrões médios. (Quadro No. 5 e gráfico 3) Resulta motivo de preocupação o que o próprio SERCE (2008, p. 51) aponta: “A distribuição ideal devesse mostrar uma maioria de estudantes nos níveis altos de desempenho. Entretanto, os resultados não necessariamente se ajustam a esse patrão e enquanto mais de 20% dos estudantes da região (América Latina e Caribe) encontra-se nos níveis mais altos de desempenho em quase todas as áreas e graus (salvo em Ciências onde a percentagem chega a 13,8%), há importantes percentagens de estudantes que não superam o primeiro nível, mais de 40% em Matemática 3er grau e em Ciências, 32% em Leitura de 3er grau e mais de 15% dos estudantes em Matemática e Leitura de 6º grau. Isto significa que estes estudantes podem realizar só as tarefas de menor complexidade. Por outro lado, enquanto Cuba tem mais de 40% de seus estudantes no nível mais alto, em todas as áreas e graus, há países que têm perto de 50% de seus estudantes no nível I ou sob I, em quase todas as áreas e graus. Isto dá luzes sobre as brechas de aprendizagem que existem entre os países da região e da importância de ir além da pontuação média para falar de qualidade educativa, para identificar e compreender o que os estudantes sabem e podem fazer.” 3.2 Principais Óbices em matéria educativa. Como o próprio SERCE pode constatar em seu avanço do estudo de fatores associados, a partir dos resultados obtidos se podem visualizar desafios na qualidade educativa e as graves desigualdades de aprendizagem presentes na Educação Primária na região, onde as escolas podem fazer uma importante contribuição ao desempenho dos estudantes. Neste contexto é claro que embora os fatores de contexto socioeconômico tenham uma influência poderosa no rendimento, as variáveis associadas à escola podem contribuir significativamente a diminuir as desigualdades de aprendizagem associadas a disparidades sociais. Em concordância com o observado no seu momento pelo Primeiro Estudo Internacional Comparativo em Linguagem, Matemática e Fatores Associados, para 35 alunos do Terceiro e Quarto Grau da Educação Básica (PERCE)4, o clima escolar é a variável que maior influencia exerce sobre o rendimento dos estudantes, portanto, a geração de um ambiente de respeito, acolhedor e positivo resultam também, essenciais para promover a aprendizagem entre os estudantes. Um segundo aspecto a assinalar é que nos países onde tem lugar a aplicação de inovações pedagógicas e inovações em gestão, onde se combinam elementos de matériasprimas e de processos pedagógicos, ademais de existir um alto nível de vontade política expressa na prioridade orçamentária para a educação e Reformas Educativas em marcha ou finalizadas, obtêm-se melhores resultados. Mas como o próprio Primeiro Estudo Internacional (1998, p. 14) afirmou “entretanto, esses (resultados) não são tributários de qualquer das ações anteriores tomadas isoladamente, mas sim de sua combinação, acumulação e consistência no tempo.” Por sua parte se deve determinar que as variáveis de recursos escolares, em conjunto, também contribuem ao rendimento. Embora se considere que é pequena a contribuição individual da infra-estrutura, os serviços básicos da escola, o número de livros da biblioteca escolar e os anos de experiência do docente; em seu conjunto tais variáveis contribuem algo à aprendizagem dos estudantes, por isso deve ficar a mensagem essencial de que os recursos são necessários para impulsionar o rendimento. Para o SERCE a segregação escolar por condições socioeconômicas e culturais dos estudantes é a segunda variável de maior importância para explicar o rendimento e embora, esta não seja uma variável educativa, propriamente dita, qualquer progresso que se possa fazer para diminuir essa segregação escolar, trará importantes avanços nos lucros e aprendizagens dos estudantes. Aqui cabe a conclusão parcial de que todas as variáveis associadas à escola e às condições socioeconômicas e culturais, só podem ser manipuladas através de políticas governamentais decididas, aspecto com o qual entra na cena novamente a importância da adaptação sistemática de sistemas de gestão de qualidade na educação, para homogeneizar as aprendizagens, a satisfação dos clientes externos e internos e contribuir desse jeito ao desenvolvimento nacional. 4 O PERCE é um relatório preparado pelo Laboratório Latino-americano de Avaliação da Qualidade da Educação (1998) cujos trabalhos permitiram, por primeira vez, perceber os lucros educativos de onze países (Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, Honduras, México, Paraguai, República Dominicana e Venezuela), em terceiro e quarto ano do ensino primário, nas disciplinas de Linguagem (espanhol e português, depende o caso) e Matemática. Proporcionou, além disso, informação separada por estratos, segundo a base demográfica (mega-cidades, urbano e rural) e o tipo de gestão (privada e pública), o que fiz possível valorar não só as diferenças de qualidade, mas também desentranhar as raízes da iniquidade. 36 Fica claro que as perspectivas de análise, não sempre são as mesmas e que dependendo os fatores que se tomem em consideração os resultados podem variar substancialmente, mas do ponto de vista descrito no presente trabalho, é evidente que o problema de regular o rendimento das escolas da América Latina e Caribe não se encontra focalizado no gasto que se atribui a elas e sim em aspectos organizacionais e de operação, que evidenciam muitas áreas de oportunidade suscetíveis de serem exploradas para aumentar a eficiência no trabalho educativo que desempenham. Em seu artigo intitulado “A educação na América Latina: problemas e desafios”5 Jeffrey Puryear (1996, pp 5-7) aponta que há pelo menos cinco aspectos aos que se deve prestar atenção para combater o sério problema da baixa qualidade presente em todos os níveis da educação na América Latina e Caribe: 1. o gasto médio por estudante que se mantêm por abaixo dos países industrializados. 2. as taxas de repetição na América Latina que se encontram entre as mais altas do mundo e cujos custos foram calculados próximos de um terço do gasto total em educação primária na região. 3. o baixo nível das taxas de estudos completos, toda vez que menos da metade dos estudantes que principiam o ensino fundamental completam o ciclo, o que implica que embora quase todas as crianças passem um tempo no colégio, poucas alcançam lucros significativos de aprendizagem. 4. as baixas pontuações das provas de rendimento dos alunos latino- americanos de acordo aos estudos comparados disponíveis. 5. o débil rendimento em ciência e tecnologia, com uma contribuição marginal à comunidade científica internacional e concentrada só em uns poucos países. A estes aspectos se tem que adicionar outros tão importantes como: a notória desigualdade entre os sistemas educativos público e privado, que provoca que o maior segmento da população receba uma educação abertamente inferior. 5 Artigo que aparece, em conjunto com outros documentos preparados para o Latin America Program Study Group, no correio eletrônico (www.foreignaffairs.org/conference). 37 a administração ineficiente dos recursos disponíveis que provoca que a maioria dos recursos se destinem às questões administrativas e muito poucos a gerar valor agregado ao ensino. os sistemas de informação geralmente deficientes, que tornam difícil o monitoramento da qualidade do ensino. 38 4 A QUESTÃO EDUCATIVA NO BRASIL. O resultado de uma recente investigação realizada pelo Foro Econômico Mundial e divulgada no “The Global Competitiveness Report 2010–20119” que mede a competitividade de 139 economias mundiais apresentou um resultado preocupante para o Brasil. Segundo o relatório que para esse período observou as mudanças em infraestrutura na América Latina e que teve foco de maneira especial no Brasil por seu intensivo crescimento econômico, localizou-o na posição 58 dos países avaliados, o que denotou uma perda de 2 lugares em relação ao relatório 2009 – 2010, que avaliou em seu momento um total de 133 países. Na elaboração desse Ranking Global foram considerados 12 fatores, chamados pilares da competitividade, cuja ponderação permitiu classificar aos países participantes como mais ou menos competitivos; os pilares foram classificados a sua vez em três graus distintos denominados: >grau um: “requerimentos básicos”; >grau dois: “potencializadores de eficiência” e >grau três “fatores de inovação e sofisticação”. Nos requerimentos básicos, foram identificados como fatores chave para a condução das economias: 1) as instituições; 2) infra-estrutura; 3) ambiente macroeconômico e 4) saúde e educação primária. Tomando em consideração esses fatores, a conclusão arrojou que ainda quando o Brasil se localiza em um grau 2 de competitividade, nos requerimentos básicos o país conseguiu posicionar-se só em 86 lugar e se for considerado unicamente o aspecto de saúde e educação primária a posição alcançada seria a número 87. O resultado é preocupante se tomarmos em consideração que de acordo a esse relatório os países mais competitivos em ordem decrescente seriam a Suíça, Suécia, Singapura, Estados Unidos, Alemanha, Japão, Finlândia, Dinamarca, Holanda e Canadá, muitos deles com economias menos posicionadas que o caso do Brasil; a circunstância não melhora se a avaliação se realiza do ponto de vista dos requerimentos básicos, nos quais esses mesmos países conseguiram se localizar nos lugares 2, 4, 3, 32, 6, 26, 5, 7, 9 e 11 respectivamente; enquanto em aspectos específicos de saúde e educativos obtiveram as posições 7, 18, 3, 42, 25, 9, 2, 20, 8, 6. 39 Como se pode constatar nesses resultados, excetuando o caso dos Estados Unidos, existe uma relação direta entre o Nível de Competitividade de um país e o nível de atenção que se dá aos requerimentos básicos, entre eles, logicamente a educação, nosso tema em estudo. O próprio documento assinala que no quarto pilar dos requerimentos básicos, o aspecto da educação toma em conta tanto a quantidade como a qualidade da educação básica recebida pela população já que se tem estimado que a Educação Básica não unicamente é capaz de incrementar a eficiência do trabalhador em forma individual, mas também constitui um fator que potencializa o desenvolvimento das economias de hoje. Assim, desde esta perspectiva, os trabalhadores que receberam só uma pequena educação formal podem cumprir unicamente simples trabalhos manuais e encontram muitas dificuldades para adaptar-se aos processos e técnicas de produção mais avançados, de tal forma que a carência de educação básica pode provocar uma limitação para o desenvolvimento das empresas e constituir um obstáculo para fortalecer a cadeia de valor em produções mais sofisticadas ou na produção de artigos de maior valor agregado, que prejudicam em conseqüência o desenvolvimento dos países. Os resultados observados são coincidentes com o de outros documentos de investigação como o da “Situação Educativa 1980 – 2000 da América Latina e Caribe” divulgado pela UNESCO (2001, p. 104) o qual detectou que muitas décadas de atraso educacional e a baixa escolaridade média da população são as principais causa das desigualdades sociais e regionais, assim como da concentração da renda que afetam ao Brasil. Este último relatório reconhece que para combater esta problemática, a partir de 1995, as instâncias governamentais brasileiras incorporaram no programa educativo os princípios da universalização, a descentralização e municipalização, a participação da comunidade civil em questões de gestão e um maior controle social do gasto público, com o qual se obtiveram importantes avanços que permitiram que o país se reposicionasse nesta matéria no contexto mundial. É de ressaltar que não obstante os esforços realizados existam indicadores intimamente ligados ao aspecto educativo que denotam resultados negativos, tal é o caso da situação de pobreza e indigência que de acordo com o mesmo documento é pouco alentadora e ao igual do resto da região latino-americana a população urbana do Brasil em situação de pobreza aumentou. Somente os dados de finais dos anos 40 90 indicavam que 29% dos lares dessas áreas viviam em condição de pobreza, com 11% de lares indigentes e perto da metade da população rural habitava nas mesmas condições de pobreza, aspectos que em muitos dos casos encontram sua gênese na incapacidade dessa população de obter empregos que lhes proporcionem uma renda digna a causa do seu baixo nível educativo. Em concordância com esse aspecto, na Segunda Conferência Regional de Seguimento da Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Social, desenvolvida no Santiago do Chile, em maio de 2000, a CEPAL (2000, p. 99) chegou, entre outras, à conclusão de que o capital educacional de uma pessoa, ou seja, a quantidade de anos de estudo e a qualidade da educação recebida, era o fator principal que impedia de ter acesso a maiores oportunidades de bem-estar e à geração de um maior ingresso, que ao mesmo tempo favorecesse a participação social. Neste sentido não resulta estranho que no Brasil ao igual a outras nações da América Latina, a Educação foi um dos setores que registraram um maior crescimento do gasto social no período dos anos 90, tendo sido identificada como um dos instrumentos mais potentes para reduzir a pobreza e a desigualdade, ao tempo que estabelece bases sólidas para um crescimento econômico sustentado. Assim se pode corroborar ao fazer uma análise superficial dos documentos que regem a educação no país. A Constituição Federal de 1988, como documento reitor da vida em sociedade, em seu Titulo VIII, Capitulo III, Seção I, destaca a importância da educação para o desenvolvimento socioeconômico do país, estabelecendo o gasto que a federação, os estados e municípios devem aplicar neste item dos recursos resultantes de impostos e transferências intergovernamentais. Nesse mesmo sentido em dezembro de 1996 se aprovou a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), que reorganizou o sistema educativo brasileiro em dois níveis: educação básica, abrangendo educação infantil, ensino fundamental e ensino médio, e educação superior, definindo igualmente as responsabilidades e competências da União, dos Estados e dos municípios nessa matéria e determinando a elaboração do PNE, contendo as metas e objetivos educativos. Em janeiro de 2001 foi aprovado o primeiro PNE, preparado em colaboração pelo Governo Federal, as Secretarias Municipais e Estatais de Educação e a Sociedade Civil, documento com força de lei, que formalizou as metas e objetivos de 41 Educação para Todos, plano que em cumprimento ao disposto pelo artigo 214 da constituição federal foi atualizado para o decênio 2011-2020, assinalando suas diretrizes, metas e estratégias. Todos esses ordenamentos legais levaram a definição de um gasto mínimo por aluno/ano, reduzindo os desníveis regionais e intra-estatais e propiciando maior equidade na distribuição dos recursos públicos destinados ao desenvolvimento do ensino fundamental e tendo como objetivo universalizar o acesso e melhoria da qualidade da educação no Brasil, o que permitiu que somente no nível de educação básica, o número de docentes crescesse substancialmente, o que permitiu, também segundo dados da UNESCO, que para 1998 totalizassem 1.5 milhão de professores para este nível educativo e para 2008, segundo dados do Banco Mundial se tinha já 1 professor por cada 23 alunos de nível básico. Por outra parte, reconhecendo que não todos os problemas educativos se encontram ligados com o aspecto orçamentário, a LDB definiu que a capacitação de professores seria uma meta fundamental para melhorar a qualidade do ensino, por isso para 2007 todos os professores de educação básica deveriam ter já formação superior; entretanto não foi possível encontrar dados atualizados que permitam determinar se esta cifra foi alcançada. Como se pode apreciar do breve panorama descrito, a educação no Brasil ganhou foco nas duas últimas décadas e principalmente no correspondente à garantia de universalidade de acesso à educação fundamental que foi definida como obrigatória. Entretanto, os indicadores disponíveis permitem apreciar muitos pontos fracos que merecem uma revisão das políticas implantadas e que seguem centralizando-se no aspecto quantitativo, principalmente no item de cobertura à população, além disso, os poucos estudos qualitativos disponíveis, como os citados no capitulo anterior, demonstram baixos níveis de competitividade, assim como de rendimento estudantil, que constituem lastros para que o país alcance um nível de desenvolvimento mais compatível com seu vasto potencial econômico, o que nos obriga a enfocar novamente o aspecto da qualidade educativa, entre outros fatores de elevada importância. 42 5 A EDUCAÇÃO DE QUALIDADE COMO ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO NACIONAL. O debate sobre o conceito de desenvolvimento acompanha intimamente aos países capitalistas, especialmente a partir da segunda metade do século XX, quando as nações se deram à tarefa de organizar-se em blocos depois do fim da Segunda Guerra Mundial. Nesse período a distinção entre desenvolvimento e crescimento permaneceu por muitos anos pouco esclarecida inclusive nos meios acadêmicos onde foi frequente ter referências do desenvolvimento considerando apenas aspectos quantitativos tais como o produto interno bruto. Seria a partir da criação da Organização das Nações Unidas (ONU) que se trouxe para a luz a perspectiva de contemplar aspectos mais amplos na definição de desenvolvimento como a distribuição de renda, a qualidade da educação, a segurança e a expectativa de vida, entre outros indicadores, apesar de que hoje em dia o desenvolvimento é entendido como consequência do crescimento econômico. Com a criação da ONU surge também a inclusão do aspecto de desenvolvimento humano na formulação do conceito de desenvolvimento e como pode apreciar-se em parágrafos anteriores, a análise de alguns dos mais frequentes mecanismos de comparação dos níveis de desenvolvimento de um país, deixa apreciar a relação direta que existe entre o nível e qualidade da educação que se outorga em um país e o desenvolvimento alcançado no contexto mundial. Em recente trabalho desenvolvido, Mendez Ricardo (2011 P. 14) enfatiza que o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é na atualidade um dos índices de desenvolvimento de países, mas frequentemente empregado em investigações e trabalhos acadêmicos, assim como na formulação das políticas publicas. Proposto em 1990 pelos economistas Amartya Sen e Mahbub ul Haq avistando a criação de um paradigma mais comprometido com os aspectos humanos e não apenas com os índices numéricos de avaliação econômica dos países, é empregado no Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e no Relatório de Desenvolvimento Humano desde 1993. Os critérios de avaliação do IDH até 2009 eram o Índice de educação combinando a taxa de alfabetização com a de escolaridade; a longevidade, considerando a expectativa de vida ao nascer e a renda que considera o produto interno bruto per capita do país expresso em dólares, assim como a paridade do 43 poder de compra que é o referencial empregado para eliminar as diferenças de custo de vida entre os diferentes países. Já a partir de 2010, o IDH passa a ser estabelecido com apoio numa nova metodologia que segundo o economista Flavio Comin (2010) do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, é mais exigente quando se trata de educação, introduzindo novas variáveis, uma nova fórmula de cálculo e dentro desta fórmula um parâmetro mais alto sobre o sistema educacional e a qualidade desse sistema. As variáveis empregadas no cálculo do IDH considerando o aspecto da educação envolvem atualmente a relação idade - serie, o índice de anos meios de estudo e o índice de anos esperados de escolaridade. A decisão de incluir estas variáveis em um dos três índices para o cálculo do IDH, deixa apreciar sem dúvida a intrínseca relação entre educação e desenvolvimento das nações e que devem orientar paulatinamente a uma maior atenção aos investimentos na qualidade da educação. Como se pode observar até o momento, além da cobertura a um número cada vez maior do amplo universo de crianças em idade escolar, deve-se verificar uma maior preocupação com a definição e garantia de padrões mínimos de qualidade, o que inclui a igualdade de condições para o acesso, permanência em cada uma das series escolares, repetição e, principalmente, o desempenho. Luis Fernandes Dourado, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anisio Teixeira, (2005, p. 16), ressalta que para que o Brasil alcance este objetivo, deveriam observar-se três enfoques ou políticas complementares que considerem: 1. Definir e fazer efetivas diretrizes ou parâmetros curriculares nacionais para os níveis, ciclos ou modalidades de educação, com o objetivo de promover o desenvolvimento de capacidades e competências gerais e especificas em todo o território nacional, tendo a vista o mundo do trabalho e o exercício da cidadania; 2. Implantar sistemas de avaliação que possam incidir no desempenho escolar e subsidiar o processo de gestão e de tomada de decisões. 3. Existência e efetividade de programas suplementares ou de apoio pedagógico, quais sejam transporte, modernização escolar, saúde dos estudantes, segurança na escola, entre outros. 44 Em realidade e como pode observar-se, a tarefa não resulta fácil pois resultam ser tantos os pontos fracos da educação básica, que a educação de qualidade tem que ser pensada em toda sua complexidade, o que inclui reconhecer tanto fatores externos como internos que afetam a aprendizagem e não unicamente as ponderações quantitativas dos recursos econômicos e materiais destinados e de oferta educativa que o governo tem a disposição; a educação de qualidade é uma exigência da sociedade atual, assim como a ampliação do tempo de escolaridade que em uma primeira fase deve garantir a educação básica e posteriormente a educação intermédia e superior, para que possa ser considerada como um autentico bem público. Neste sentido, a discussão sobre a qualidade na educação implica mapear os diversos elementos que se devem qualificar e avaliar, assim como precisar de maneira objetiva as prioridades e atributos desejáveis no processo educativo do país, tendo em vista a disseminação de saberes e conhecimentos fundamentais no indivíduo para um exercício efetivo da cidadania, toda vez que a evidente relação entre a educação e o desenvolvimento integral do ser humano, na medida que se proporcionam conhecimentos e habilidades para uma vida produtiva, constituem as melhores bases para a construção de uma sociedade democrática, cultural e em caminho a seu pleno desenvolvimento. 45 6. CONCLUSÕES. Brasil se encontra atualmente atravessando uma época de profundas e intensas reformas em todas as ordens da vida em conjunto, tratam-se de aspectos sociais, políticos, econômicos e culturais, para consolidar-se plenamente como um país desenvolvido no concerto das nações. Entretanto, nesta complexa conjuntura a educação básica - não obstante a importância que lhe atribuiu e lhe reconhece - continua ficando à deriva em seu aspecto qualitativo, por isso ao visitar qualquer centro de ensino público, o panorama que se pode encontrar faz muitos anos parece não haver-se transformado muito: altos índices de repetição; falta de preparação dos professores; uma percentagem importante de alunos que não concluem esta época de ensino que resultaria fundamental em sua formação individual e para integrar-se com um melhor potencial à vida em sociedade; entorno descuidado e que incentiva pouco a aprendizagem e finalmente; aulas de estudo ditadas e expositivas com percentagens elevadas de alunos que permanecem estáticos no banco escolar e tratando de memorizar precipitadamente os assuntos descritos só nas vésperas de uma avaliação, sem ter uma noção clara do que estão aprendendo nem de seu valor futuro. Assim, quando se deveria já de falar de uma educação básica de qualidade e integradora do indivíduo, na realidade não se pode ultrapassar do sistema de ensino tradicional onde o professor tem o compromisso de ministrar um programa exigido, explicar as matérias de sua responsabilidade, fiscalizar a atenção do aluno e verificar os resultados só em termos da capacidade dos alunos para no melhor dos casos reter e repetir os conceitos explicados. Entretanto deve assimilar-se que estando já na segunda década do século XXI, onde se contam com inúmeras ferramentas e métodos desenvolvidos para o ensino efetivo, a aprendizagem não pode consistir já simplesmente na retenção mecânica de sentenças verbais e fórmulas, e sim na assimilação reflexiva e vital dos conceitos nela contidos para que os indivíduos possam transbordar sua capacidade total no dia a dia e a partir do pleno aproveitamento das potencialidades contribuir ao desenvolvimento de seus povos e nações. As evidências que se podem encontrar na literatura internacional e os resultados dos países de primeira ordem são contundentes no sentido de que o nível 46 de escolaridade e a qualidade na educação recebida constituem uma chave na determinação do progresso econômico dos indivíduos e nações. Dos estudos expostos no presente trabalho se pode enfatizar que as pessoas escolarizadas são as que participam mais da força de trabalho e uma vez que contam com uma atividade produtiva são menos propensas a que se tornem desempregadas. Consequentemente, quanto maior é o nível de escolaridade que se alcança são também maiores os salários individuais e maiores as taxas de crescimento econômico dos países sem esquecer que a educação tem uma ampla variedade de benefícios, não econômicos, como são: melhor saúde, redução dos níveis de criminalidade, maior coesão social e participação ativa na vida democrática dos países. Assim, a educação tem que ser vista seriamente como um dos pilares de qualquer estratégia de prosperidade social, por isso é vital uma mudança de paradigma para passar a investir nela não unicamente em forma quantitativa, mas, principalmente, em sua qualidade de tal sorte que contribua efetivamente no êxito das políticas de desenvolvimento implantadas pelos governos atuais e futuros. É necessário para isso que os distintos níveis de governo nas esferas das responsabilidades assinaladas na carta magna, reconheçam que a equidade na distribuição, nível e qualidade das aprendizagens nos diferentes estratos da população, é uma dívida que ainda se tem que atender. Tema que foi advertido principalmente pela iniciativa privada e que adotado como lema mercadológico para as classes média e alta, arrojou-lhes níveis de êxito excepcionais, mas cuja principal debilidade consiste na incapacidade de espalhar seus benefícios às classes menos favorecidas, que não contam com os recursos econômicos para pagar uma educação com esses padrões, aspecto que deveria ser completado com eficiência pelas instâncias governamentais. Constitui uma premissa indubitável que o problema não é singelo nem pode ser focalizado a não ser com uma visão cosmogónica que gradualmente adicione força à cadeia de valor. Os dados obtidos dos estudos constatam que existe uma correlação positiva entre a média das pontuações dos estudantes de um país e o PIB per capita do mesmo. Entretanto, há países que obtêm resultados além do esperado de acordo a sua produção interna, o que sugere que embora os recursos sejam importantes não 47 constituem o único fator que incide no rendimento dos estudantes, pelo qual a natureza do problema revela-se muito mais complexa. Com esta visão se ressalta que os principais obstáculos no tema educativo são a gestão e as políticas tradicionais apoiadas principalmente na extensão da cobertura a mais alunos e cuja ênfase não foi capaz de gerar níveis satisfatórios de qualidade nem de promover a equidade econômica e social. Para ninguém escapa o fato contundente de que a boa educação segue estando concentrada nas classes alta e meia alta e é oferecida por colégios privados relativamente caros, enquanto que nas escolas rurais e de classes baixas é onde geralmente se obtêm os desempenhos mais exíguos e onde se estão limitando as oportunidades de crescimento dos indivíduos e de adaptação à vida produtiva nacional. Alem disso, muito do que é aprendido na escola tem uma aplicação limitada no mundo de trabalho moderno. Estas deficiências têm um impacto negativo nos setores pobres que dependem da educação para a mobilidade social e que não têm outra opção que assistir às escolas públicas. Neste contexto que parece desalentador, a qualidade na educação das escolas públicas pode ser determinante para conseguir uma diferença substancial no rendimento, tal como o assinalou o SERCE, ao afirmar que “Embora os fatores de contexto socioeconômico originem uma influência poderosa no rendimento, as variáveis associadas à escola podem contribuir significativamente a diminuir as desigualdades de aprendizagem associadas a disparidades sociais.” Tendo em vista esse aspecto, uma educação básica de qualidade deve enfocar-se a preparar integralmente aos indivíduos gerando um ambiente de respeito, acolhedor e positivo, melhorando por outra parte os recursos escolares como infra-estrutura, serviços básicos e experiência docente, variáveis que em seu conjunto contribuem muito à aprendizagem dos estudantes. Corresponde à Nação enfocar as políticas para que a qualidade que se tem no sistema de colégios privados de boa qualidade para os estudantes de classe média e alta, seja também uma realidade nas escolas públicas para os setores mais pobres. O Brasil é reconhecido pela qualidade de suas Universidades e dos profissionais e investigadores que nelas se formam, mas não basta ter universidades amplamente competitivas se não se garantir que um maior número de estudantes 48 possam ter acesso a elas e cujo primeiro obstáculo se encontra nos degraus educativos mais baixos. Focalizar o investimento de recursos econômicos é apenas um primeiro passo se tomarmos em consideração que a maioria das pessoas de classe pobre e grande parte do mercado trabalhista do futuro continuarão como até hoje concentrado em escolas primárias públicas; o mesmo ocorrerá se a tendência segue como até os momentos atuais aonde muitos daqueles que consigam finalizar o ensino fundamental não completarão outras séries e jamais poderão pensar em uma educação superior; a lógica assinala novamente a necessidade de preparar adequadamente a esses indivíduos através de um sistema educativo que lhes permita inserir-se produtiva e eficientemente no mercado de trabalho no momento no que tenham que abandonar os estudos. Para enfrentar esta demanda, o sistema educacional tem que perseguir, simultaneamente, objetivos desafiantes e até aparentemente contraditórios. Deve preparar aos alunos para os trabalhos de uma economia moderna, e internacionalmente competitiva; fomentar o intercâmbio científico e tecnológico; promover a equidade social e a mobilidade; assim como preparar as pessoas para que participem de sistemas democráticos. Mudanças que só são possíveis através de um sistema dinâmico, flexível de acordo com a realidade nacional, que unicamente pode concretizar-se através de uma gestão que considere sistémicamente: O convencimento e compromisso dos níveis de liderança. Uma revalorização e profissionalização dos professores. As necessidades e expectativas dos clientes escolares. A modernização continua do sistema escolar. O planejamento, monitoramento e avaliação constante dos planos, programas, projetos e metas estabelecidos para a identificação e solução oportuna dos problemas de aprendizagem e administrativas. A intercomunicação efetiva entre os níveis administrativos, financeiros e pedagógicos das instituições educativas. A existência de um projeto que contemple os fins sociais e pedagógicos da escola como aspectos indissolúveis e que defina claramente conteúdos relevantes nos diferentes níveis e etapas do processo de aprendizagem. 49 A existência e utilização adequada das tecnologias educacionais e recursos pedagógicos apropriados e suscetíveis de adaptar-se ao processo aprendizagem. Sendo assim a gestão da qualidade total é uma opção viável na reorientação gerencial da educação básica que tenha como pontos fortes a focalização das necessidades do cliente; o trabalho em equipe que permeie em toda a organização fazendo-a mais eficiente; decisões apoiadas no monitoramento de dados reais; a busca constante na solução e diminuição de problemas e a valorização do ser humano no âmbito das organizações, aspectos que em conjunto geram mudanças organizacionais internas e um forte impacto social. Nunca outro país como o Brasil com uma economia macroeconômica sólida e com uma liderança regional como as que hoje possui, encontrou-se com um momento tão oportuno para promover as profundas reformas que requer para consolidar-se a nível mundial. Ninguém pode pôr em dúvida que em alguns aspectos a economia se encontra fortalecida e possante, com um crescimento impulsionado pelo forte consumo de seu mercado interno e que encontra seu principal aliado na inigualável riqueza natural e humana que possui. Nesta inflexão e entendendo a educação como uma prática social que de fato ocorre em diferentes espaços e momentos da produção da vida em sociedade, uma gestão pedagógica que considere a dimensão extra e intra-escolar orientada à produção de uma educação de qualidade para todos, começando no nível básico, que garantisse o processo educativo e, portanto, a aprendizagem efetiva dos estudantes, só pode constituir-se numa fortaleza que deve estar associada às políticas econômicas e sociais para explorar o enorme potencial do país em caminho ao pleno desenvolvimento e em concordância com o projeto de nação estabelecido. 50 REFERÊNCIAS BANCO MUNDIAL. Indicadores educativos. www.bancomundial.org. Acesso 24 set. 2011. Disponível em: BRASIL, Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Edição administrativa do texto constitucional promulgado em 5 de outubro de 1998. Brasília, DF: Senado Federal, 2010. ______. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. 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Brasília, DF: IPEA, 1994. 52 ANEXOS Figura 1 Ciclo de Deming Figura 2 Países participantes no SERCE 53 Gráfico 1 Média e variação das pontuações médias em matemática dos estudantes de 6º grau de educação básica de cada país. LIIC: Limite menor do intervalo de confiança com um 0,05. LSIC: Limite superior do intervalo de confiança com um = 0,05. As barras representam os resultados de 80 % dos estudantes de cada país localizados entre o percentil 10 e o percentil 90, quer dizer, o extremo direito de cada barra corresponde a os estudantes localizados no percentil 90 e o extremo esquerdo, aqueles localizados no percentil 10. Se existe maior distancia entre esses dos pontos, é maior a variação no desempenho dos estudantes. A media identifica-se com a línea branca central. O intervalo de confiança corresponde à linha mais escura que circunda a media e expõe os valores possíveis dela. PI II IV Gráfico 2 Relação entre as pontuações médias dos alunos em Matemática e o Índice de Gini – 6ª série No gráfico pode-se correlacionar a desigualdade de renda com o desempenho nos testes de Matemática, delimitados pelos eixos “pontuação Matemática” e distribuição de renda dos países, representada pelo Coeficiente de Gini, para cada país menos Cuba. O Índice de Gini tem valores de 0 a 1; o 0 representando a igualdade perfeita e o 1 expressando a desigualdade perfeita. A análise mostra que a relação entre as duas variáveis é fraca. Mostra, também, que os países com melhor desempenho possuem menor grau de desigualdade de renda (o Uruguai e a Costa Rica). 54 Gráfico 3 Relação entre as pontuações médias dos alunos em Leitura e o Índice de Gini – 6ª série No gráfico são apresentados o Índice de Gini e o desempenho em Leitura na 6ª série de todos os países participantes do Serce, menos Cuba. Como já foi comentado antes, o Índice de Gini tem valores de 0 a 1, em que o 0 representa a igualdade perfeita e o 1 expressa a desigualdade perfeita. Neste caso, o poder explicativo do Índice de Gini também é baixo. Levando isso em consideração, pode-se apreciar uma tendência no sentido de que, quanto maior o Índice de Gini, menores são os resultados médios em Leitura. Para a 6ª série, observa – se a mais baixa associação entre distribuição de renda e rendimento, pois é de 11%. A relação entre o Índice do Gini e rendimento em Leitura para a 6ª série situa o Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, México e Uruguai acima da linha de regressão, o que sugere que o rendimento destes países é superior ao esperado. Por sua parte, as pontuações médias do Equador, Guatemala, Paraguai e República Dominicana estão abaixo do esperado, dada a distribuição de renda. Finalmente, os resultados da Argentina, El Salvador, Nicarágua, Panamá e Peru são os esperados, já que se localizam em torno da linha de regressão. O Brasil encontra-se acima da reta, no setor superior direito, o que significa que é o País que tem a pior distribuição de renda de todos os que participam do estudo, porém está localizado acima da reta de regressão, o que indica resultados superiores aos esperados. 55 Quadro 1 Classificação dos países em Matemática – 6ª série Grupo 1 2 Países Cuba. Uruguai, Estado mexicano de Nuevo León, Argentina, Chile, Costa Rica e México. Brasil, Colômbia e Peru. 3 4 Equador, El Salvador, Guatemala, Nicarágua, Panamá e Paraguai e República Dominicana. Características Países cujos alunos evidenciam um desempenho médio superior ao conjunto de países, localizados a mais de um desvio padrão sobre a média regional. Países com pontuações médias superiores à média regional, porém localizados a menos de um desvio padrão dela. Países cujo desempenho médio é igual à média dos países; isto é, sem diferenças estatisticamente significativas com ela. Países cujas pontuações médias são inferiores à média dos países (menos de um desvio padrão) Quadro 2 Descrição dos níveis de desempenho dos estudantes de 6º grau de educação básica em Matemática. Nível / Pontuação de Corte % Estudantes IV Descrição 11,44% 624,60 III 32,35% 514,41 II 40,82% 413,58 I 13,91% 309,64 Abaixo do I 1,48% Os estudantes resolvem cálculos e encontram médias, combinando as quatro operações básicas no campo dos números naturais. Identificam paralelismo e perpendicularidade em uma situação real e concreta e a representação gráfica de uma porcentagem. Resolvem problemas que envolvem propriedades dos ângulos de triângulos e quadriláteros, que integram áreas de diferentes figuras ou duas operações entre números decimais. Resolvem problemas que envolvem o conceito de fração. Fazem generalizações para continuar uma seqüência gráfica que responde a um padrão de formação complexo. Os alunos comparam frações, usam o conceito de porcentagem na análise da informação e na resolução de problemas. Identificam perpendicularidade e paralelismo no plano, bem como corpos e seus elementos sem um apoio gráfico. Resolvem problemas que requerem interpretar os elementos de uma divisão ou equivalência de medidas. Reconhecem ângulos centrais e figuras geométricas de uso freqüente, incluindo o círculo, e recorrem a suas propriedades para resolver problemas. Resolvem problemas de áreas e perímetros de triângulos e quadriláteros. Fazem generalizações que lhes permitem continuar uma seqüência gráfica ou achar a regra de formação de uma seqüência numérica que responde a um padrão complexo. Os estudantes analisam e identificam a organização do sistema de numeração decimal posicional, estimam pesos (massas) expressando-os na unidade de medida pertinente ao atributo a ser medido. Reconhecem figuras geométricas de uso freqüente e suas propriedades para resolver problemas. Interpretam, comparam e operam com informação apresentada em diferentes representações gráficas. Identificam a regularidade de uma seqüência que responde a um padrão simples. Resolvem problemas referidos ao campo aditivo, em diferentes campos numéricos (naturais e expressões decimais), incluindo frações em seus usos freqüentes ou equivalência de medidas. Resolvem problemas que requerem multiplicação ou divisão, ou duas operações com números naturais ou que incluem relações de proporcionalidade direta. Os alunos ordenam números naturais de até cinco cifras e expressões decimais até milésimos. Reconhecem corpos geométricos usuais e a unidade de medida pertinente ao atributo a ser medido. Interpretam uma dada informação em representações gráficas para compará-la e traduzi-la em outra forma de representação. Resolvem problemas que requerem uma só operação no campo aditivo e no campo dos números naturais. Os alunos não apresentam as habilidades exigidas pelo Nível I. 56 Quadro 3 Percentagem dos estudantes de 6º grau de educação básica por nível de desempenho em Matemática de cada país País Debaixo de I I II III IV 12,34 Argentina 1,53 11,89 37,99 36,26 Brasil 1,46 14,00 44,09 31,65 8,80 Chile 1,40 9,84 37,85 37,39 13,52 Colômbia 1,02 13,29 47,64 32,60 5,46 Costa Rica 0,09 4,55 32,71 43,70 18,95 Cuba 0,19 4,43 17,93 26,33 51,13 Equador 4,24 24,86 45,15 21,41 4,34 El Salvador 1,95 19,18 51,61 23,81 3,45 Guatemala 2,78 24,94 50,80 19,52 1,96 México 0,51 8,38 32,41 39,10 19,60 Nicarágua 2,25 23,88 52,69 19,41 1,76 Panamá 3,32 27,16 49,55 17,64 2,33 Paraguai 3,85 21,00 46,50 23,91 4,74 Peru 2,41 19,58 39,82 28,90 9,29 R. Dominicana 5,69 41,79 45,43 6,85 0,24 Uruguai 0,67 4,26 22,36 40,41 32,31 Nuevo León 0,34 6,29 29,35 40,66 23,36 Total AL e C 1,48 13,91 40,82 32,35 11,44 Quadro 4 Diferenças das pontuações médias entre escolas urbanas e rurais e segundo gênero 6º grau de educação básica em Matemática. PAÍS Argentina DIFERENÇA URBANO / RURAL *40,21 DIFERENÇA HOMENS / MULHERES -5,79 Brasil *42,74 Chile *36,51 *-6,84 Colômbia *29,03 *-14,53 Costa Rica *23,34 *-20,67 4,98 *8,24 Equador *42,81 0,29 El Salvador *44,76 *-9,48 Guatemala *38,39 *-6,91 México *51,42 6,35 Nicarágua *10,24 *-10,16 Panamá *37,33 2,81 Paraguai *31,18 -0,59 Peru *87,03 *-18,94 Cuba R. Dominicana *-10,02 *9,01 0,96 Uruguai *52,45 0,18 Nuevo León *35,79 0,27 Total AL e C * Nivel de confiança de 5%. - *-6,17 57 Quadro 5 Percentagem dos estudantes de 6º grau de educação básica por nível de desempenho em Leitura de cada país País Debaixo de I I II III IV Argentina 1,78 17,93 35,59 25,48 19,22 Brasil 0,57 14,85 34,65 27,47 22,46 Chile 0,30 8,02 30,06 32,37 29,26 Colômbia 0,39 13,17 38,25 30,40 17,80 Costa Rica 0,22 5,00 23,45 36,73 34,59 Cuba 0,30 5,26 19,57 24,20 50,68 Equador 4,47 33,69 39,48 16,63 5,73 El Salvador 0,95 21,49 44,02 23,99 9,54 Guatemala 2,86 33,06 43,36 15,73 4,99 México 0,23 12,23 33,40 29,75 24,39 Nicarágua 1,02 22,08 50,58 21,10 5,22 Panamá 1,95 28,97 38,76 20,77 9,55 Paraguai 3,90 33,46 36,81 18,60 7,23 Peru 2,24 24,08 41,65 22,57 9,46 R. Dominicana 4,08 47,84 37,50 9,19 1,39 Uruguai 0,47 9,60 30,80 29,68 29,45 Nuevo León 0,21 9,12 29,99 32,37 28,31 Total AL e C 0,93 16,51 35,46 26,79 20,30