17° Encontro Nacional da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas Panorama da Pesquisa em Artes Visuais – 19 a 23 de agosto de 2008 – Florianópolis O ARTISTA/PROFESSOR NO CURRÍCULO DE ARTES VISUAIS DA UDESC Profª Ms. Elaine Schmidlin – UDESC Profª Ms. Sandra Maria Correia Fávero – UDESC RESUMO Neste trabalho apresentamos os movimentos produzidos em torno do perfil artista/professor na construção curricular dos cursos de graduação em Artes Visuais, Licenciatura e Bacharelado, do Centro de Artes (CEART) da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). A relação entre o perfil do artista e do professor é articulada ao processo de construção curricular sendo o foco que problematiza a organização destes cursos nesta Universidade. Este agenciamento permite compreender o desdobramento ocasionado a partir da dicotomia existente entre o que se entende como Bacharel (artista) e Licenciado (professor) na área de arte. Salientamos que o trabalho não pretende abordar a complexidade do percurso curricular, mas, procura propor a relação poético/pedagógica como forma de tratar a ‘identidade’ dos currículos de formação superior nesta área. Palavras – chave: Artes Visuais, Percurso Curricular, Ensino Superior, Identidade Artista/Professor. Abstract This paper presents the movements produced in reference to the artist/teacher profile in the construction of the Bachelor and Licensee curricula in the undergraduate courses of Visual Arts of the Center of Arts (CEART) of the Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). The relation between the profiles of the artist and the teacher is articulated with the process of curricular construction, as the center point which discusses the organization of these courses in this University. This connection permits the understanding of the deployment which has the existing dichotomy between what we understand as Bachelor (artist) and Licensee (teacher) in the area of arts as a starting point. We point out that this paper does not approach the complexity of the curricular journey, but it tries to propose the poetic/pedagogic relation as a way to treat the ‘identity’ of the undergraduate formation curricula in this area. Keywords: Visual Arts, Curricular Journey, Undergraduate Teaching, Artist/teacher identity. Movimento Curricular No ano de 2007 foi designada uma comissãoi para efetivar mudanças conceituais e curriculares no curso de graduação, Licenciatura em Educação Artística com habilitação em Artes Plásticas, e no curso de Bacharelado em Artes Plásticas, ambos alocados no Departamento de Artes Plásticas do Centro de Artes (CEART/UDESC). A finalidade desta comissão era atender às solicitações encaminhadas pelo Conselho Estadual de Educação/Comissão de Educação Superior, Processo (PCEE 704/059 e 737/054), Parecer n° 121 aprovado em 22/05/2007, que deliberava sobre o pedido de renovação do reconhecimento dos cursos de graduação referidos acima, os quais estavam, até aquele momento, em diligência. 1048 17° Encontro Nacional da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas Panorama da Pesquisa em Artes Visuais – 19 a 23 de agosto de 2008 – Florianópolis A comissão de reconhecimento do curso (CEE) relatou no item Desempenho do Curso, “a dificuldade em avaliar o curso” e indicou a necessidade de rever o Projeto Pedagógico e suas relações com as matrizes, apontando, inclusive, bibliografia para tal. Esta indicação previa, também, a urgente discussão do corpo docente, visando re-elaboração coletiva do Projeto Pedagógico, destacando a necessidade de pensar valores compartilhados pelo grupo de professores, no tocante a aspectos como: integração entre ensino, pesquisa, extensão, interdisciplinaridade, avaliação, freqüência dos alunos, posturas profissionais, entre outros. Estas indicações apontadas pelo parecer do Conselho tornaram-se o ponto de referência para a comissão designada pelo colegiado para a reforma curricular. Os membros da comissão pesquisaram matrizes de outras universidades, conceitos de projetos políticos pedagógicos, além de dimensionar os trabalhos para o coletivo a partir daquilo que tinham como matriz curricular vigente até aquele momento. As matrizes curriculares, tanto da Licenciatura quanto do Bacharelado, apresentavam uma concepção linear em níveis, básico, desenvolvimento, avançado, que não atendia mais as demandas contemporâneas. Assim, cabia orientar-se filosoficamente por uma concepção que buscasse conexões entre os cursos (Bacharelado e Licenciatura), como também propiciasse as ‘identidades’ii necessárias aos dois cursos no agenciamento produzido pelo movimento do artista e do professor no fluxo curricular. Referenciais curriculares contemporâneos foram, então, os subsídios teóricos para uma matriz tendo como foco nosso contexto universitário e corpo docente composto por artistas/professores de inegável renome. 1. O Artista/Professoriii No movimento de construção do percurso curricular houve a necessidade de pensar sobre quem queriamos formar nos referidos cursos de graduação. Esta pergunta nos levou a um fluxo de considerações sobre o que pretendíamos enunciar na proposta para matrizes que apresentassem aquilo que compreendiamos como currículo e/ou desenho, apontando cartografias que desdobravam-se em subjetividades múltiplas em torno do artista/professor. Neste momento, consideramos importante o trajeto já construído pela Profª Sandra Maria Correia Fávero que, em uma pesquisaiv efetuada no 1049 17° Encontro Nacional da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas Panorama da Pesquisa em Artes Visuais – 19 a 23 de agosto de 2008 – Florianópolis contexto acadêmico da UDESC no ano de 2006 identificou e apresentou a relevância do desenvolvimento de uma produção artística em paralelo à produção do professor. Como sustentação teórica, a mesma pesquisa abordou Edgar Morin em Introdução ao Pensamento Complexo, Pedro Georgen com o artigo Universidade em tempo de transformação e Edith Derdik com o livro Linha de horizonte: por uma poética do ato criador. As respostas aos quatro questionamentos elaborados pela pesquisadora foram respondidas, naquela ocasião, por quatro professores universitários. A mesma, refere-se em sua pesquisa, sobre a necessidade de refletirmos sobre o ambiente acadêmico como um sistemav complexo onde atuamos segundo regras estabelecidas objetivamente, entretanto, precisamos considerar o que ocorre na relação de uns com os outros e, principalmente, observar que “a objetividade está sempre forçada a abrir brechas para a subjetividade contida no processo educativo dos cursos proporcionados” (FÁVERO, 2007, p. 5) Assim, somamos ao sistema um outro sistema, ainda mais complexo, o qual deve ser analisado pelo lugar onde as relações entre o ser artista e ser professor são operadas em agenciamento que se desdobra em conceituações que, de alguma forma, modela e/ou desenha o percurso curricular dos cursos de graduação. Desta forma, temos a participação do sujeito com ele mesmo em todo o transcorrer do processo curricular, uma vez que o nosso objeto está imerso na subjetividade individual, porém, não está sozinho, convive no coletivo o que gera a necessidade de se auto-organizar como pessoa, como artista, como pesquisador, levando ao que Morin (2005, p. 38) escreve como uma misteriosa qualidade chamada consciência de si. Nesta perspectiva, o artista/professor é compreendido como propositor e portador de uma necessidade de conhecer algo, que não deixa de ser conhecimento de si mesmo. Ou seja, um corpo criador / um corpo professor, no mesmo corpo. O corpo que para Edith Derdik (2001, p. 16) é um continente dividido em ilhas de vida vivida que contém certas experiências historicamente legalizadas, mas que, como uma grande colagem forma um todo íntegro, coerente, único, coeso, idealizando uma nostálgica experiência de equilíbrio, constitutivo na formação do sujeito. Dentro desta problemática a pesquisa enunciou as seguintes questões: 1050 17° Encontro Nacional da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas Panorama da Pesquisa em Artes Visuais – 19 a 23 de agosto de 2008 – Florianópolis Questão 1: A prática do professor instiga a prática artística? Como se complementam? Questão 2: Há disponibilidade de tempo/espaço para manter nutrida a produção poética dentro das exigências acadêmico/burocráticas? Questão 3: Qual o sentido e como conduzem o problema: produção plástica e produção do professor (acadêmica)? Questão 4: De que forma o pensamento e a produção acadêmica influencia os ditames contemporâneos, ou é o contrário, os ditames contemporâneos influenciam a academia? As respostas à pesquisa apontaram que a posição do artista/professor é privilegiada diante de outras do quadro organizacional da universidade. Essa potencialidade amplia conhecimentos, desenvolve o que um dos pesquisados chamou de “competências de malabarista”, além de integrar ações como: Produção Artística/Ensino/Pesquisa/Extensão; além do que possibilita gerenciar paradoxos focando uma constante busca de conhecimento que entrelaça convergências com divergências que surgem durante as ações; ser artista/professor também estimula o processo contínuo de ordenamento e desordenamento da posição artística e acadêmica fortalecendo seu posicionamento diante do aluno, da organização e da sociedade em que se insere. Outras questões relevantes apontadas foram que, entre as conexões e agenciamentos produzidos entre o ser artista e ser professor está a pesquisa como fio condutor que pode vir a tecer ensino e extensão nos cursos de graduação. A pesquisa apontou questionamentos que, de alguma forma, levantam problemáticas relativas à ‘identidade’ dos cursos de Bacharelado e Licenciatura em Educação Artística, habilitação Artes Plásticas, a saber: - De que forma a contribuição como artista/professor pode ser realmente produtiva, sem a disponibilidade de tempo/espaço para manter nutrida a produção poética? - Que professor é esse que deixa de vivenciar o fazer, mas diz, na sua função como fazer, sugerindo, direcionando, criticando, estabelecendo princípios, avaliando? - Qual é a eficácia de um processo de construção de conhecimento elaborada por alguém que não sabe fazer o que ensina? 1051 17° Encontro Nacional da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas Panorama da Pesquisa em Artes Visuais – 19 a 23 de agosto de 2008 – Florianópolis - Quanto se ganha em qualidade unindo o saber fazer a fazer saber? Estes questionamentos nos levaram a pensar como elaborar os currículos dos cursos de Bacharelado e Licenciatura em Artes Visuais tendo como pressuposto a compreensão de que as conexões entre os cursos eram inegáveis, uma vez que o artista e o professor transitam pelos cursos propondo ações que levam a construção dos perfis, tanto do artista quanto do professor. Percebemos a necessidade de avaliar a relação entre o ser artista e ser professor de modo a entendermos o processo, muitas vezes conflitante, surgida em torno das figuras do artista e do professor, e, também, pela própria dicotomia apresentada pelos cursos em questão. A seguir pontuamos alguns registros do percurso curricular envolvendo a participação de todo o colegiado do curso de Licenciatura em Educação Artística, habilitação Artes Plásticas e do curso de Bacharelado em Artes Plásticas, ambos em extinção. 2. Pensando o Artista/Professor A comissão iniciou os trabalhos de reforma curricular no ano de 2007 com a finalidade, inicialmente, de conciliar a atual matriz curricular com as necessidades prementes do Curso de Licenciatura em Educação Artística – habilitação Artes Plásticas, a saber: ampliação das atuais 300 horas de Estágios Curriculares Supervisionados para 400 horas; inserção de disciplinas específicas da área de ensino de arte nas primeiras fases e previsão de colocação das 400 horas pedagógicas ao longo do cursovi, além da adequação das cargas horárias implicadas pelos 18 encontros que geraria uma alteração na carga horária dos cursos, ora organizada em torno de 15 encontros. Outra necessidade era a alteração da nomenclatura ‘Licenciatura em Educação Artística, habilitação Artes Plásticas’ para ‘Licenciatura em Artes Visuais’, exigência específica da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) n° 9394/96, que, certamente, demandaria questões específicas sobre propor visibilidade à visualidade contemporânea. Durante as negociações empreendidas nesta reformulação houve por parte do Departamento o entendimento de que seria necessária a reunião do colegiadovii para uma deliberação a respeito da efetivação de uma proposta curricular e seu respectivo Projeto Pedagógico. Assim, foi definido que teríamos uma semana para nos reunirmos e deliberarmos as seqüências do 1052 17° Encontro Nacional da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas Panorama da Pesquisa em Artes Visuais – 19 a 23 de agosto de 2008 – Florianópolis trabalho empreendido. Já em colegiado foram feitas as seguintes considerações iniciais pelos professores: 1. Reconhecer as referências presentes no currículo atual e tomá-lo como ponto de partida para pensar algo novo; 2. Possibilidade de pensar em um currículo contemporâneo e amplo nas escolhas para os discentes; 3. Refletir sobre os estudos culturais e a atualidade para pensar as conexões como possibilidade; 4. Diversificar o olhar para que não se caia em modismos; 5. A mudança curricular depende do esforço coletivo e do conjunto proposto para a escuta entre os professores; 6. Os riscos de seguir apenas uma diretriz que depois fosse avassaladora do ponto de vista administrativo e que acabasse por trazer prejuízos maiores; 7. A importância de pensar a política e a ética além das instâncias partidárias e institucionais. Desta forma, iniciamos os trabalhos em colegiado, propiciados por movimentos que tinham a intenção de conciliar as forças presentes nas três linhas de pesquisa do Mestrado em Artes Visuaisviii, presentes na concepção do Projeto Pedagógico proposto, na intenção de operacionalizar uma matriz curricular contemporânea. Neste encaminhamento, Corazza nos esclarece quando concebe o currículo como “linguagem” que aponta posições discursivas, representações, metáforas, ironias, invenções, fluxos, rupturas ... Para ela currículo “é uma prática social discursiva que se corporifica em instituições, saberes, normas, prescrições morais, regulamentos, programas, relações, valores, modos de ser do sujeito” (CORAZZA, 2001, p. 10). Propor uma reforma curricular perpassava todo o discurso corporificado na instituição, algo extremamente delicado que exigia por parte de todo o colegiado, muita generosidade e humildade. Assim, iniciamos a construção do percurso curricular organizado em torno de quatro movimentos que serão explicitados no decorrer do texto. A proposição inicial (Movimento I) permeou “quem queremos formar” (o perfil profissional de nosso estudante). Também fazia parte deste mote uma discussão inicial referente aos repertórios (conteúdos) e a realização da divisão 1053 17° Encontro Nacional da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas Panorama da Pesquisa em Artes Visuais – 19 a 23 de agosto de 2008 – Florianópolis do grupo de professores por linhas de pesquisa presentes no Programa de Pós-graduação, Mestrado em Artes Visuais/UDESC. Após as reflexões iniciais chegamos ao seguinte perfil: - O professor de artes visuais pesquisador; - O artista pesquisador. PESQUISADOR ARTISTA PROFESSOR A seguir foram feitas as seguintes considerações pelos professores presentes: 1. Não transformar o curso de Licenciatura em um curso de Pedagogia; 2. Considerar tanto a educação como a arte; 3. Considerar a relevância do fazer artístico ao licenciado; 4. O curso de Bacharelado deverá lidar com a imagem, como um artista que pense a arte de uma forma crítica; um pensador/produtor e não um fazedor (evitando pensar os clichês ou modismos que proliferam nesta assertiva). Nas colocações dos professores podemos perceber a presença de partes do artista/professor que se definem por graus variáveis de intensidade desencadeando devires que pontuam a necessidade de repensar a formação docente e artística como forma de vivência poética e pedagógica. Os educadores-artistas são tomados em segmentos de devir-simulacro, cujas fibras levam deste devir a outros, transformam estes devires naquele, atravessam limiares de poderes, saberes, subjetividades. (...) quando os professores-artistas compõem, pintam, estudam, escrevem, pesquisam, ensinam, eles têm apenas um único objetivo: desencadear devires. (CORAZZA, 2007, p. 22) 1054 17° Encontro Nacional da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas Panorama da Pesquisa em Artes Visuais – 19 a 23 de agosto de 2008 – Florianópolis No segundo movimento (II), pensou-se nas linhas de pesquisa, sendo que a discussão foi permeada sobre o conteúdo e o repertório de cada professor realizado em pequenos grupos reunidos dentro de cada linha de pesquisa. Neste momento, o tema foi pautado pelas territorialidades, os eixos (poético, educacional, conceitual/filosófico) e os saberes (estéticos, poéticos, educacionais). A ética, a estética, a ecologia, a cultura, a comunicação e as artes visuais permearam focos reflexivos entre os participantes do colegiado. Embora as diretrizes dos cursos de Artes Visuais na UDESC devessem estar centradas nos saberes especificamente do universo da arte, as questões da ética, da estética e da ecologia permaneceram atravessando os movimentos e fluxos curriculares articulados pelos platôs das linhas de pesquisa do Mestrado já referenciadas. Assim, organizamos o seguinte Mapa Conceitual que foi apresentado e, muitas vezes, retomado em colegiado: Ética, Estética Processos Criativos Contemporâneos Arte e Processo Criativo Teoria e História da Arte Arte e Sociedade Arte e História ARTES VISUAIS Ensino de Artes Visuais Arte e Filosofia Arte e Ensino Ecologia Outros comentários relevantes ao processo de construção curricular foram no sentido de: 1. Pensar a evasão em ambos os cursos de artes plásticas e a possibilidade de reduzi-la, o que fazer? 2. Lembrar o corpo docente diversificado, com especificidades; 3. Defender as duas formações diferenciadas, sem ignorar o currículo e as questões da evasão e do tempo de permanência dos alunos no curso. 1055 17° Encontro Nacional da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas Panorama da Pesquisa em Artes Visuais – 19 a 23 de agosto de 2008 – Florianópolis 4. Considerar os ganhos do bacharelado e não esvaziar as conquistas. Até aquele momento tínhamos empreendido os movimentos I e II conciliando as forças entre as linhas de pesquisa. Os movimentos III e IV previam a escolha entre as sugestões ofertadas: cursos separados (1), dupla habilitação (2), dupla habilitação com expedição do diploma de Bacharel (3). Após a defesa das três opções houve a primeira votação que resultou nas opções 1 e 3 e, finalmente, por decisão em maioria simples venceu a opção 3. Houve várias tentativas de adequação ao curso proposto sendo que as linhas de pesquisa reuniram-se novamente para apontar territórios e conteúdos na tentativa de operacionalizar uma matriz única que propiciasse a ‘identidade’ do curso, ou seja, potencializasse o ser artista e ser professor. Cabe salientar que o curso teria que ter oito fases com uma carga horária distribuída em 3920 horas. Após várias tentativas de negociações de espaço e tempo para encaixe de horários e de inserção na matriz proposta, ficou evidente que seria impossível atender a necessidade da formação e da especificidade de cada curso. Houve, na operacionalização desta matriz, um estrangulamento das linhas de pesquisa, fato que prejudicava as ‘identidades’, bacharel e licenciado, referenciados no perfil desejado do movimento I. Ao retomar e refletir sobre o percurso empreendido na semana, a comissão entendeu que os movimentos I e II, tinham sido conciliatórios para a integração das linhas de pesquisa na matriz curricular do curso de Artes Visuais. A metodologia adotada pelos movimentos visava à proporcionalidade entre as linhas de pesquisa em um movimento de conexão, fato não conseguido no momento da escolha e operacionalização da matriz proposta pelo colegiado. Na perspectiva de empreender esforços para retornar a metodologia proposta inicialmente, ou seja, retomada das conexões e de territorialidades possíveis entre dois cursos separadamente, a comissão decidiu retomar todo o movimento IV, ou seja, operacionalizar uma matriz, em conexão, de dois cursos, Bacharelado em Artes Visuais e Licenciatura em Artes Visuais, reforçando as ‘identidades específicas’. 1056 17° Encontro Nacional da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas Panorama da Pesquisa em Artes Visuais – 19 a 23 de agosto de 2008 – Florianópolis 3. O Devir nos Movimentos A proposta final desencadeou matrizes curriculares operadas em torno de dois cursos em conexões agenciadas pelos platôs das linhas de pesquisa da Pós-graduação, Mestrado em Artes Visuais/UDESC. Neste artigo não queremos pontuar os aspectos relativos à matriz curricular, mas, como dissemos anteriormente, queríamos explicitar as articulações operadas nesta construção em torno da figura do artista e do professor, ainda muito voltada a uma concepção romântica. Assim, nos devires dos movimentos empreendidos pelo colegiado percebemos que as experimentações provocadas pela construção curricular foram permeadas por fluxos materiais e semióticos do desejo, nem subjetivo, nem representativo, mas que procedem por movimentos de afetos nas relações entre o ser artista e ser professor. Como salienta Corazza: Desse modo, um professor etiquetado como Tradicional, um pedagogo rotulado como Construtivista e um educador definido como Progressista podem ser atravessados por devires múltiplos: por um devir-simulacro que coexiste com um devir-mulher, com um devircriança, com um devir-animal, com um devirnegro, com um devir-poético, com um devirimperceptível. (2007, p. 21) Esta articulação de um pensamento em devir-simulacro permite entender que a construção do percurso curricular realizada pelo colegiado dos cursos de graduação em Artes Visuais/UDESC, foi atravessada e/ou arrastada por devires tanto poético quanto pedagógico. Uma docência que se faz artista é aquela que assume o trabalho como devir ou provoca a si mesmo em um constante reinventar-se se deixando levar pelo fluxo dos movimentos curriculares. Loponte enfatiza que Olhar a docência esteticamente, como uma ‘obra de arte’ é, de alguma forma, assumir que a cena docente é feita de dificuldades, dissonâncias, resistências, frustrações, erros, acertos, mudanças de rumo, dúvidas, incertezas, conquistas, sucessos. E aí a docência pode sim aprender muito com os artistas, (...). (IN OLIVEIRA, 2007, p.236) 1057 17° Encontro Nacional da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas Panorama da Pesquisa em Artes Visuais – 19 a 23 de agosto de 2008 – Florianópolis A condição de pensar o artista/professor no currículo de Artes Visuais foi apenas um pretexto para a organização de um percurso curricular que pretende atuar na contemporaneidade, compreendendo que problematizar a relação artista-professor é vital em qualquer elaboração curricular que pense uma formação orgânica comprometida ética e politicamente com Projetos Pedagógicos em cursos de formação superior em Artes Visuais. Referências CORAZZA, Sandra Mara. O que Deleuze quer da educação, IN Revista Educação Especial: Biblioteca do professor: Ed. Segmento, 2007, p. 16 – 27. ____________________. O que quer um currículo? Pesquisas pós-críticas em educação. Petrópolis: Vozes, 2001. DERDYK, Edith. Linha de horizonte: por uma poética do ato criador. São Paulo: Escuta, 2001. FÁVERO, Sandra Maria Correia. As inquietações do artista-professor. Artigo publicado em CD ROOM, Jornada Acadêmica CEART/UDESC, 2007. MORIN, Edgar. Introdução ao pensamento complexo. Porto Alegre: Editora Sulina, 2005. OLIVEIRA, Marilda Oliveira de (Org.). Arte, educação e cultura. Santa Maria: Ed. da UFSM, 2007. Autoras Elaine Schmidlin, (UDESC) Mestre em Educação, Linha de Pesquisa Arte Educação, (UFPR); Professora da área de Licenciatura em Artes Plásticas e Artes Visuais do Centro de Artes (CEART) da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC); Coordenadora do Pólo Arte na Escola/UDESC, Membro do Núcleo de Pesquisa Interinstitucional Arte na Educação – NUPAE; Pesquisadora do Grupo de Arte e Educação/UDESC, com a pesquisa Captura e Encontro na Docência em Arte. Sandra Maria Correia Fávero, (UDESC) Mestre em Engenharia de Produção e Sistemas, (UFSC); Professora das áreas de Licenciatura e Bacharelado em Artes Plásticas e Artes Visuais do Centro de Artes (CEART) da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC); Coordenadora do Projeto de Extensão, Gravar gravando Gravura; Pesquisadora do Grupo Rosa dos Ventos da UDESC, com a pesquisa O Avesso das Matrizes Gravadas; Autora do artigo As Inquietações do artistaprofessor. 1058 17° Encontro Nacional da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas Panorama da Pesquisa em Artes Visuais – 19 a 23 de agosto de 2008 – Florianópolis Notas i Comissão formada pelos seguintes Professores da UDESC: Sandra Maria Correia Fávero, Elaine Schmidlin, Jociele Lampert de Oliveira, Silvana Barbosa Macedo, sob a presidência da primeira. Portaria n° 102/07 ii Em todo o texto o termo ‘identidade’ é assim assinalado, pois entendemos que o mesmo é extremamente nômade em essência compreendendo-a como Deleuze, ou seja, identidade enquanto Devir-simulacro. iii O texto é referenciado no artigo da Professora Sandra Maria Correia Fávero enviado à Jornada Acadêmica do CEART/2007 iv Projeto de Pesquisa intitulado “As Inquietações do Artista-Professor” da Professora Sandra Maria Correia Fávero vinculado ao DAP/CEART/UDESC. v Sistema - baseado no que descreve Edgar Morin no seu livro Introdução ao pensamento complexo. Porto Alegre: Editora Sulina, 2005, p.19, é “associação combinatória de elementos diferentes”. vi Em atendimento à Resolução do CNE/PC n° 2, de 19 de fevereiro de 2002. vii Composto por 28 professores efetivos, sendo 2 especialistas, 10 mestres e 16 doutores. viii As linhas de pesquisa em Artes Visuais contempladas pelo Mestrado são: Ensino de Artes Visuais, Teoria e História da Arte, Processos Criativos Contemporâneos. 1059