domingo
2 B A GAZETA
CUIABÁ, 21 DE MARÇO DE 2010
18 mil acadêmicos devem
preencher as salas de aula
na universidade, neste
1º semestre, para quadro de
1,6 mil docentes; quase
12 estudantes para cada
professor, quando ideal
é 9 para 1
Otmar de Oliveira
DEFASAGEM
Faltam 400 professores na UFMT
Estimativa é da Adufmat e várias turmas de graduação enfrentam problemas; Pró-Reitoria da universidade questiona dados apresentados
FERNANDO DUARTE
DA REDAÇÃO
Vinte dias após o início das aulas na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), várias turmas
dos cursos de graduação estão sem professores. Para
os universitários, o semestre pode ser comprometido
se as aulas não forem repostas nos finais de semana ou
no mês de julho, período de férias. A Associação dos
Docentes da UFMT (Adufmat) estima que faltam 400
professores, mas a Pró-reitoria de Ensino de Graduação contesta esse número. A estimativa para o primeiro semestre deste ano é que haja mais de 18 mil estudantes na universidade federal para um quadro de 1,6
mil docentes (entre efetivos e substitutos), quase 12
estudantes para cada professor. O ideal é 9 para 1.
Atualmente, a UFMT ultrapassou a quantidade permitida de contração de professores substitutos.
No terceiro semestre de Geografia, Gilson Guimarães de Souza, 33, afirma que faltam 3 dos 5 professores. A turma dele ainda não teve aula de Geomorfologia, Biogeografia e Hidrogeografia. “São
matérias essenciais. O nosso curso é só bacharelado e
nós precisamos ter aulas técnicas e de campo para
adquirir experiência”.
Souza conta que a turma está frequentando a universidade 2 vezes por semana, na terça e na quinta-feira. Ele calcula que, se o edital for aberto nesta semana,
levará um mês para que o professor assuma, já que o
documento seria ainda publicado e haveria prazo para
que a efetivação da inscrição. “Esse professor iria dar
aula só em meados de abril, depois de quase 2 meses.
O nosso semestre termina em julho, são 4 meses (de
aula) apenas”.
Um dos coordenadores do Centro Acadêmico
(CA) de Biologia, Luã Kramer de Oliveira, 18, também confirma a falta de professor. O primeiro semestre do curso ainda não teve aula de Química e, no sétimo, faltam docentes para Instrumentalização para Botânica e Ecologia e Instrumentalização para Biologia e
Zoologia.
Outro professor em falta é para as aulas de Língua Brasileira de Sinais (Libras). A matéria deveria ser
iniciada neste semestre como forma de adequação à
exigência do Ministério da Educação (MEC) por ser
um curso de licenciatura. “Libras e Química são de
outros departamentos, não de Biologia. Essas matérias
começaram este ano, mas não tem professor”.
Inaugurado em 2010, o curso de Zootecnia preci-
“
sa de um professor de Química Analítica. O quarto semestre de História está sem um docente de Geo-história. Sociologia e Ciências Políticas também estão em
falta, assim como os cursos de Enfermagem e Engenharia Mecânica, em Rondonópolis.
Faltam 400 - O coordenador-geral do Diretório
Central dos Estudantes (DCE), Rodrigo Silva, aponta
a Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), do MEC, como um agravante para a
ausência de professor. “O programa exige um aumento do número de alunos muito além ao de profes-
sor. Eles precisam se deslocar de uma classe para a
outra porque falta (profissional)”. Silva afirma ainda
que os reitores, para se adequarem ao Reuni, contratam professores substitutos para preencher as ausências. “Os substitutos só podem ficar no máximo 2
anos e eles não têm vínculo com a pesquisa e a extensão, só com o ensino. Ficam faltando elementos no
tripé da educação superior”.
O presidente da Adufmat, Carlos Eilert, estima
que a UFMT tenha um déficit de 400 professores.
“Desde que a universidade surgiu o quadro nunca foi
Outro lado
Os substitutos só podem
ficar no máximo 2 anos e
eles não têm vínculo com a
pesquisa e a extensão, só
com o ensino. Ficam
faltando elementos no
tripé da educação
RODRIGO SILVA, COORDENADOR-GERAL DO DCE
completo”. Eilert reconhece que nos últimos 3 anos
“nunca se contratou tanto professor”, não apenas na
UFMT, mas no Brasil. A questão está na velocidade
com que as universidades são construídas ou estão
sendo ampliadas, pois não é acompanhada pelo número de professores adquiridos.
Eilert também critica o Reuni, afirmando que a
meta estipulada pelo programa sobrecarrega o docente. “Falta professor e eles estão no limite da capacidade”. Ele lembra que as universidades são obrigadas a
cumprir a meta, caso contrário não há verba para os investimentos. “Não somos contra as obras, mas como
está não há condições de trabalho, de qualidade de vida para os docentes”.
Otmar de Oliveira
No terceiro semestre de Geografia, Gilson Guimarães afirma que faltam 3 dos 5 professores
A pró-reitora de Ensino de Graduação da
UFMT, Myrian Thereza Serra, rebate o argumento
que faltam 400 professores na universidade. Segundo ela, o que houve foi um atraso na contratação de 30 docentes substitutos. Mas ela afirmou
que esse problema será resolvido até o início de
abril, pois o pedido para contratação saiu há 15
dias. O conteúdo atrasado, segundo ela, será repassado com aulas complementares.
Serra afirma que o “atraso” surgiu porque a
Controladoria Geral da União (CGU) e o Tribunal
de Contas da União (TCU) limitaram a contratação
de substitutos. O MEC só autoriza o contrato com
106 professores substitutos por ano, mas a UFMT
conta com aproximadamente 300. Para ela, a contratação deles chegou a esse nível por questões como o não preenchimento de vagas nos concursos.
“O curso de Matemática, por exemplo, tem 20
substitutos e 35 efetivos, mais que o dobro dos de
carreira. É uma área difícil de encontrar profissional e nós já perdemos 3 professores”.
A pró-reitora explica também que não falta
concurso. De acordo com ela, “todo semestre
tem”, sendo que no último foram efetivados mais
de 60 profissionais. Para o atual semestre, a expectativa é o ingresso de até 70 concursados. “A quantidade contratada é um caso excepcional. No dia
16 (de março), tive uma reunião com os diretores e
chefes de departamento para que possamos fazer
um estudo sobre a quantidade de professores que a
universidade precisa”. Os representantes dos departamentos têm até o dia 23 de abril para apresentar a lista de pedidos. Mas a pró-reitora lembrou
que essa lista é para o segundo semestre deste ano.
Serra argumenta ainda que não tem o número
preciso de professores que falta na universidade,
mas terá esse dado após a apresentação do relatório
pelos chefes de departamento. Ela reconhece que o
número de estudantes por professor está além do
ideal, mas que, com esse planejamento, o problema poderá ser solucionado.
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