Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos
PRECONCEITO LINGUÍSTICO
NA ENTREVISTA DE EMPREGO
Magna Pereira Melo (UEMS)
[email protected]
Marlon Leal Rodrigues (UEMS)
[email protected]
RESUMO
O presente trabalho apresenta uma revisão bibliográfica sobre preconceito linguístico, sociolinguística, linguística, língua, variação, com as teorias dos principais
autores tais como, William Labov, Fernando Tarallo, Marcos Bagno. Com base em
pesquisas, é possível verificar a importância no estudo das línguas e a necessidade de
discutir o tema, pela grande variedade e diversidade de línguas no Brasil. Um país que
possui influência de línguas africanas e indígenas que atualmente tem cerca de 200
línguas. Uma breve discussão sobre as variáveis e a interferência das variantes. As
discussões sobre o tema são inesgotáveis, porque a língua tem influência como instrumento político, social e é um meio eficaz de comunicação. São muitos os mitos existentes na cultura dos brasileiros, como o de que o português é difícil, o brasileiro não sabe
falar sua própria língua etc.
Palavras-chave: Preconceito linguístico. Entrevista de emprego. Sociolinguística.
Variantes linguísticas. Diversidade linguística.
1.
Introdução
O presente trabalho apresenta nos primeiros capítulos uma revisão
bibliográfica sobre sociolinguística, linguística, língua, variação, preconceito linguístico, com as teorias dos principais autores tais como, Labov,
Tarallo, Monteiro, Bagno.
Com base em estudos e pesquisas é possível verificar a importância do estudo das línguas e a necessidade em discutir o tema, pela grande
variedade e diversidade de línguas em nosso país. Um país que possui influência da língua africana e das indígenas que atualmente tem cerca de
200 mil línguas. Uma breve discussão sobre as variáveis e a interferência
das variantes.
Na metodologia foi realizada uma pesquisa de campo sobre preconceito linguístico na entrevista de emprego – um estudo de caso na
Fundação do Trabalho de Mato Grosso do Sul – (Funtrab). Na pesquisa
foi aplicado um questionário com treze perguntas objetivas, para dois
psicólogos que realizam entrevistas de emprego na intermediação de mão
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de obra da Funtrab que é uma agencia pública de empregos.
2.
Preconceito linguístico
Quando falamos em preconceito o sentimento que nos impulsiona
e o de revolta, somos incentivados a combater o preconceito e a não discriminar ninguém, pessoas preconceituosas são o símbolo da ignorância
humana, há uma imensa propagação da ideologia de igualdade, com direto garantido na constituição federal. Quando se trata desse assunto o que
nos vem à mente é o preconceito racial, contra homossexual, mulheres,
dentre outros. São vários os defensores e as entidades em combate as discriminações. Porém não são somente esses três tipos de preconceito existente, mas são os mais conhecidos, aqui o destaque é para um tipo de
preconceito pouco conhecido, o linguístico.
Parece haver cada vez mais, nos dias de hoje, uma forte tendência a lutar
contra as mais variadas formas de preconceito, a mostrar que eles não têm nenhum fundamento racional, nenhuma justificativa, e que são apenas o resultado da ignorância, da intolerância ou da manipulação ideológica. Infelizmente,
porém, essa tendência não tem atingido um tipo de preconceito muito comum
na sociedade brasileira: o preconceito linguístico. (BAGNO, 2007, p. 13).
E quando o assunto é preconceito em todos os meios midiáticos
são divulgados e combatidos os tipos de preconceitos mais conhecidos,
principalmente a televisão onde são transmitidas mensagens de vários tipos em combate ao preconceito, são novelas com personagens que retratam alguns tipos de marginalizados, propagandas, debates em programas
populares. As redes sociais também estão com tudo quando o assunto e
divulgar o combate a certos preconceitos, os mais divulgados são os contra mulheres, homossexuais, negros, quando esse assunto é destacado nas
redes vira uma discussão sem limites.
Quando pergunto sobre preconceito linguístico as pessoas do meu
convívio, elas dizem que não conhecem esse tipo de preconceito, inclusive a bem pouco tempo que eu tive conhecimento sobre esse tipo de preconceito, eu não conhecia e nunca tinha ouvido falar sobre o assunto e
ainda era preconceituosa contra os outros e contra a minha própria linguagem.
É como se o preconceito linguístico não existisse, somos educados e não percebemos esse fato, começa na escola, onde é ensinada a
gramática em língua portuguesa, a língua materna que aprendemos em
casa se torna uma língua estrangeira, pois é ensinado um monte de regras
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e normas. “O preconceito linguístico fica bastante claro numa série de
afirmações que já fazem parte da imagem (negativa) que o brasileiro tem
de si mesmo e da língua falada por aqui.” (BAGNO, 2007).
De acordo com Marcos Bagno o povo brasileiro tem complexo de
inferioridade em relação à língua, se sente inferior ao seu colonizador
que é Portugal e compara o português falado lá com o utilizado no Brasil,
há uma cultura de que o português é uma língua difícil, que brasileiro
não sabe português, que o povo é burro.
O autor é contra esses argumentos e defende a tese de que tudo
faz parte de articulação político-ideológico e que a gramática normativa é
confundida com a língua, defende a tese de que o povo brasileiro tem
uma cultura rica e sabe se comunicar muito bem, a língua portuguesa é
de fácil entendimento, o que ocorre é um preconceito generalizado em relação à língua.
Os meios de comunicação de massa não ajudam para que o preconceito linguístico seja combatido, pelo contrário, faz é disseminar o
preconceito. A mídia mostra pessoas que falam de acordo com a norma
culta, com palavras rebuscadas, onde os apresentadores e jornalista falam
sem nenhum tipo de sotaque regionalista. Sofremos preconceito e somos
preconceituosos sem termos consciência de tal fato, somos cobrados a falarmos como na norma culta e cobramos essas mesmas regras na mesma
proporção.
O que vemos é o preconceito linguístico ser alimentado diariamente em
programas de televisão e de rádio, em colunas de jornal e revista, em livros e
manuais que pretendem ensinar o que é “certo” e o que é “errado”, sem falar,
é claro, nos instrumentos tradicionais de ensino da língua: a gramática normativa e os livros didáticos. (BAGNO, 2007.p.13).
A utilização da língua se faz por meio da fala que é o meio ou
mecanismo utilizado pela maioria dos humanos que possuem suas formas
físicas naturais para se comunicarem e que na maioria das vezes falam a
língua materna, assim como em outros aspectos essa habilidade começa
desde pequeno, o ouvinte processa o que escuta e começa a reproduzir.
Mas não é a única forma de comunicação, existem outras formas, como a
comunicação não verbal, a de língua de sinais é outro exemplo.
Os procedimentos da linguística descritiva se baseiam no entendimento de
que a língua é um conjunto estruturado de normais sociais. No passado, foi
útil considerar que tais normas eram invariantes e compartilhadas por todos os
membros da comunidade linguística. Todavia, as análises do contexto social
em que a língua é utilizada vieram demonstrar que muitos elementos da estru-
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tura linguística estão à mudança no tempo quanto os sistemáticos que reflete
tanto a mudança no tempo quanto os processos sociais extralinguísticos (LABOV, 1968).
Os primeiros estudos sobre o assunto classificava a língua como
algo homogênea e ainda separavam a língua da fala. Como homogênea?
Não somos robôs e sim humanos, como já foi dito com o tempo a língua
sofre interferência se modifica, reproduz evolui. Voltando para as primeiras pesquisas importantes para o processo de aprendizado, Ferdinand
Saussure, linguista que defendia a tese de que havia uma separação entre
língua e fala, é um dos estudiosos que se destacam. “A língua como um
sistema de valores onde há oposição aos outros, uma língua homogênea,
classifica a fala como um ato individual que pode ser afetada por fatores
externos.” (SAUSSURE, 1916). “Ao estabelecer a dicotomia língua
(langue) e discurso (parole), não soube como dar conta dos fatos do discurso, em virtude do caráter multiforme e heteróclito que o define.”
(MONTEIRO, 2000, p. 14).
Com o tempo os estudos foram se aprofundando e foi observado
que as pessoas têm formas e falares diferentes, ou seja, não poderia mais
tratar a língua como algo homogênea, sendo só analisadas pelos textos
escritos que são produções estáticas sem vida, já o estudo da língua por
meio da fala é possível avaliar cada povo, seja de onde for, com suas falas, dialetos, linguagens é possível detectar as interferências, mudanças,
gestos e as experiências que evoluem com o passar do tempo.
Um território de 8,5 milhões de quilômetros quadrados, com uma população hoje estimada em 170 milhões de habitantes, com índice ainda alto de
analfabetismo, não poderia apresentar um quadro linguístico homogêneo. A
diversidade que existe em qualquer ponto espelha uma pluralidade cultural e
não se pode presumir para a expansão do português no Brasil uma forma linguística única, pois a época em que se deu a colonização, a origem dos colonizadores e as consequências linguísticas de um contato heterogêneo são aspectos que devem ser considerados. (LEITE; CALLOU, 2002, p. 12).
Por tantas questões que envolvem a língua surgiu a necessidade
em estudar a sociedade como falante, ou seja, todo o universo que envolve a fala, a língua e a linguagem, dentre outros, surge então à linha de
pesquisa para a compreensão da língua que é a sociolinguística. A sociolinguística é uma ciência jovem no campo de pesquisa, sendo uma subárea da linguística, estuda o uso da língua falada em sociedade, correlacionando os aspectos sociais entre sociedade e língua A relação entre língua e sociedade permitiu o surgimento da sociolinguística, o que interessa para um linguista que estuda essa disciplina é a língua em sua relação
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com a sociedade. A língua tem diversas formas de uso, isso independe de
quem fala ou de local, sexo, idade ou contexto social. “Durante muitos
anos, relutei em aceitar o termo sociolinguística, porque ele dá a entender
que pode existir uma bem-sucedida teoria ou prática que não seja social.”
(LABOV, 1972).
No Brasil o português além de ser oficial é a língua materna de
cerca de 98% da população, praticamente um país monolíngue, mas não
é a única língua utilizada pela população, são faladas cerda de 200 línguas indígenas. Ao analisarmos o processo de colonização fica fácil
compreendermos, quando os portugueses chegaram ao Brasil já existiam
pelo menos um milhão e meio de índios que aqui habitavam, com várias
etnias e línguas. Além dos índios, a mão de obra africana foi motor das
principais economias mundiais, incluindo Brasil; foram trazidos pelo
menos quatro milhões de africanos em cerca de 300 anos de tráfico negreiro, os negros eram capturados das regiões das repúblicas do Togo, do
Benin e da Nigéria, Angola e Congo, dentre as línguas utilizadas estavam, iorubá, ewe e fon, banto, quimbundo, quicongo e o umbundo. Imaginem tudo isso em um único território, a diversidade de línguas, influências que permitem que o Brasil tenha uma língua e cultura belíssima. Por ser um país com povos cheio de misturas de raças com uma riqueza cultural vasta é impossível classificar o Brasil como um país de
uma língua homogênea, sem sombra de dúvidas há muitos falares neste
país.
O uso da língua, na prática, se classifica como uma língua formal
e do informal, ou seja, onde há o emprego da língua padrão e o das variantes, são as variações da fala do dia a dia, no trabalho, em casa que
transformam a língua. Para Labov, a variação é o mais importante e que
merece uma atenção especial e percebê-la como requisito ou condição
natural do sistema linguístico, para ele que se opõem aos modelos teóricos que fazem abstração da variação e classificam como apenas um acidente e não uma característica essencial das línguas. Os linguistas nunca
foram inconscientes dos problemas da variação estilística. A prática normal consiste em deixá-la de lado, não porque a consideram sem importância, mas porque pensam que as técnicas da linguística não são adequadas para estudá-las (LABOV, Apud MONTEIRO, 2000).
A diversidade é tão grande que para alguns linguistas é claro a
existência de um caos linguístico. Dentro desse caos há as conotações
negativas, onde há a concepção de “certo e errado”, ou seja, quem fala
formalmente e gramaticalmente correto e quem fala o português não
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formal, utilizando de variantes nas falas. Para os linguistas não existe o
conceito de certo e errado em se tratando da fala, o vocabulário dialeto
guarda algumas conotações negativas, para evitar tais conotações, vários
autores usam substituir a expressão por variedade linguística.
Dentro de um mesmo país como o Brasil, podemos admitir a existência de
vários dialetos, entre os quais o carioca, o cearense, o caipira etc. E o termo
pode ser aplicado a todos os tipos de variedade, inclusive à variedade padrão.
É importante nenhuma relação com diferenças entre linguagem ou estilo formal e coloquial. (MONTEIRO, 2000, p. 46).
Essa ideia de variante de prestígio e de não prestígio vem desde os
primórdios no período colonial. Portugal, por se sentir desprestigiado e
inferior às línguas indígenas e africanas faladas no Brasil naquele período, afinal eram as línguas nativas, acabou impondo a utilização da língua
portuguesa como forma de demonstrar superioridade e o poderio sobre a
nação, como forma de prestígio social e do poder econômico.
Ao afirmar que a variedade das classes dominadoras tende a se desestruturar, quando em contato com a variedade da classe dominante, gerando inúmeros sentimentos de culpabilidade ou de inferioridade linguística, que levam
muitos falantes a se envergonharem de seus próprios dialetos. (LABOV,
Apud. MONTEIRO. 2000).
Todos esses fatores serviram para estimular a existência de estereótipos e preconceitos linguísticos, a fala deixando seu objetivo principal que é realizar a comunicação humana e passa a ser utilizada como
instrumento de ascensão social e um objeto de prestígio político. O processo de comunicação deveria ser algo sem pesares e cobranças, em se
tratando de seu objetivo principal, as pessoas nascem e começam a serem
educadas pelos seus pais ou por quem quer que estejam por perto, suas
primeiras experiências com a língua materna é de ouvir e de reproduzir o
que ouvem, sem a preocupação com regras, normas, nem mesmo ter o
pleno conhecimento do que é a língua portuguesa e sem a noção de certo
e errado.
Dentro das diversas formas de organização social a língua reflete
esse modelo organizacional, pois a noção de língua portuguesa só é
transmitida quando a pessoa começa ser alfabetizada no processo de letramento, até esse processo a comunicação era feita sem cobranças e estereótipos. O saber formalizado chamado de norma culta, cheio de regras
que se distingue da linguagem familiar, da convivência informal entre
amigos, vizinhos, isto é a linguagem coloquial.
A norma culta é regida por um modelo do bom uso da língua porRevista Philologus, Ano 19, N° 57 – Supl.: Anais da VIII JNLFLP. Rio de Janeiro: CiFEFiL, set./dez.2013 881
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tuguesa, baseada nas tradições literárias, dos escritores clássicos, uma
língua ideal, que segue os modelos nos livros de gramática, onde se constitui o padrão normativo da língua, a norma padrão. Esse padrão é ajustado para fala e escrita e são cobrados em textos oficiais em órgãos públicos, empresas, vestibulares, concursos públicos, e em outros espaços institucionais. Nem sempre é possível conciliar a norma padrão da escrita na
fala. Para os linguistas não existe o conceito de certo e errado em se tratando da fala. “Ninguém comete erros ao falar sua própria língua materna, assim como ninguém comete erros ao andar ou respirar.” (BAGNO,
2005, p. 124).
Um bom exemplo de variação linguística é a que ocorre pela influência das zonas rurais, pois, até alguns anos atrás a maioria da população brasileira residia nas zonas rurais, muitas famílias não tinham acesso
à escola, com isso é fácil entender a língua desenvolvida nas fazendas, sítios e outros, são variações adequadas ao meio de vivência dos moradores dessas regiões. Com as migrações em massa dos moradores das zonas
rurais para os grandes centros urbanos, migrou-se também a bagagem
linguística típica das regiões rurais.
Esse é só um exemplo de variação e que para os linguistas há
sempre uma explicação para cada variante e não existe erro e sim algo
que é diferente das regras do português padrão. Para Bagno,
Tudo aquilo que é classificado tradicionalmente de “erro” tem uma explicação científica perfeitamente demonstrável. A noção de erro em língua é inaceitável dentro de uma abordagem científica dos fenômenos da linguagem.
Afinal, nenhuma ciência pode considerar a existência de erros em seu objeto
de estudo. (BAGNO, 2005, p. 72).
Todos esses fatores, as variações, o conceito de certo e errado, as
variantes de prestigio e as não prestigiadas, a língua culta e a familiar,
traz consigo um modelo, uma padronização que conduz a sociedade a
uma única forma bem aceita de oralidade que é a culta, mesmo que não
seja a de domínio da maioria. Essa padronização gera o que muitos linguistas chamam de preconceito linguístico.
Uma sociedade tem que ser democrática no exercício da cidadania, uma língua além de todos os aspectos políticos que ela representa é
antes de tudo uma forma de comunicação que é a sua razão de existir,
não que somos contra a oralidade padrão, mas sim ao preconceito linguístico que expõem e desqualifica uma pessoa por simples imposição
social.
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Em diversas áreas houve evoluções a respeito dos preconceitos,
por exemplos, na opção sexual, cor, raça, dentre outras coisas, mas na
questão linguística ainda não há muitos avanços e considerações. Com
isso culturas, tradições e identidades são ignoradas e a sociedade vive
uma cobrança, em muitos casos pessoas são expostas e até ridicularizadas por sua maneira de falar.
O preconceito linguístico é observado no mundo do trabalho, um
bom exemplo disso foram às críticas feitas ao ex-presidente da república
Luís Inácio Lula da Silva, que além da baixa escolaridade, usava em sua
fala as variantes da oralidade familiar, que para um grupo de pessoas não
era possível uma pessoa que não tinha um linguajar rebuscado pudesse
governar um país, mesmo com todos os preconceitos o ex-presidente Lula foi um bom governante e ainda buscou qualificação com aulas para
melhorar sua oralidade.
Será que um profissional pode ser a avaliado por seu modo de falar, se utiliza uma linguagem culta ou uma familiar, seu desempenho para
determinada função depende disso? Para responder esses questionamentos foi realizada uma pesquisa de campo na agencia pública de emprego
da Fundação do Trabalho de Mato Grosso do Sul (Funtrab).
Um órgão público do governo do estado de Mato Grosso do Sul
que tem como finalidade atender os trabalhadores com os serviços de: intermediação de mão de obra; entrada no seguro – desemprego; emissão
de carteira de trabalho; qualificação profissional; apoio ao empreendedorismo para geração de trabalho e renda.
Segundo os especialistas do assunto a entrevista de emprego é o
momento crucial para a decisão da empresa ofertante da vaga, ela pode
ajudar ou excluir o candidato. A indicação é para que quem busque por
uma oportunidade, tenha certos cuidados com as vestimentas, maquiagem e principalmente a fala. São critérios que em uma entrevista podem
identificar e dizer muito sobre o candidato, por meio da fala é possível
identificar se o candidato tiver algum tipo de sotaque regional, se o candidato está inseguro, nervoso, a comunicação verbal tem que estar sincronizada com a não verbal. Exemplo: falar olhando nos olhos, não ficar
olhando para baixo e nem falar demais ou pouco, tem que ter um equilíbrio.
O mercado de trabalho no Brasil está em uma boa fase, com a
economia aquecida existem muitas oportunidades de emprego, em quase
todas as profissões há vagas. Em contrapartida, as empresas reclamam
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que estão faltando mão de obra qualificada, há vagas e as pessoas não estão preparadas para atender as exigências do mercado de trabalho.
Em média passam pela Funtrab mais de 60 mil pessoas por ano
em busca de emprego no Mato Grosso do Sul. Na pesquisa foi realizado
entrevistas com dois psicólogos da Funtrab, que responderam a um questionário contendo 13 perguntas sobre as entrevistas de emprego no processo de seleção.
Dentre as questões houve a seguinte pergunta que mais interessa
nessa pesquisa: Se há preconceito linguístico na contratação de mão de
obra? As respostas foram parecidas, os dois disseram que depende da
função em que o candidato vai ocupar.
Se for uma vaga sem muito grau de exigência para um cargo que
necessite de pessoas com baixa escolaridade, não teria problema nenhum
o candidato apresentar na fala com um português que não seja o padrão,
ou seja, falar com o uso de variantes informais, mas se o cargo for de alto
escalão com um grau de exigência maior os candidatos que melhor falarem o português padrão terão mais chances de preencherem a vaga.
As empresas em geral são bem exigentes nas contratações, mesmo
que um candidato tenha bom curriculum, a entrevista é eliminatória, não
é só o modo como o candidato fala que é avaliado, mas todo um conjunto, ou seja, o comportamento, as vestes, veja a colocação de um dos profissionais entrevistados:
Quanto à linguagem, mais que buscar fazer uso de um português correto,
é importante estar atento às escolhas das palavras para expressar o que se quer,
evitando ser prolixo e também o uso de gírias, que nem sempre são de compreensão geral. O hábito da leitura facilita bastante à aquisição de vocabulário
e consequentemente a capacidade de se expressar para o mundo. Estas dicas
são válidas tanto para a comunicação verbal, quanto para a escrita. (Entrevista).
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Ao analisar os dados verifica-se que a tabela acima traz os números de encaminhados: 60.737 e o de colocados: 9.382, ou seja, cerca de
15% dos candidatos são aceitos e empregados e 85% são reprovados
sendo o índice de reprovação é muito alto.
Não há como mensurar ou atribuir essas reprovações ao uso da
língua portuguesa e a variável informal, pois não há dados que comprovam essa estatística, porém esse fato pode ser um dos fatores que exclui
o candidato, o preconceito linguístico é uma realidade também no mercado de trabalho, mesmo que muitos tenham capacidade e até capacitação para ocupar determinados cargos.
Não há registros e nem dados para as causas das reprovações nas
entrevistas de empregos, nos dados da Funtrab é possível verificar que
muitos candidatos são reprovados, na tabela acima é possível verificar
essa diferença. No procedimento de intermediação são encaminhados para cada vaga três pessoas por vez, se a empresa não aprovar são enviadas
mais três, até que seja escolhido algum candidato.
3.
Considerações finais
Conclui-se que o preconceito linguístico é algo verídico principalmente nos grandes centros urbanos, um fato admitido pelos linguistas
que lutam para que isso não prejudique o processo de evolução da língua.
E no mercado de trabalho isso não é diferente há preconceito linguístico, as pessoas que falam o português dito por muitos como o “correto” têm mais aceitação na busca por emprego do que os que não falam.
O candidato é avaliado por sua capacidade em desenvolver bem
seu trabalho na prática, em alguns casos o candidato a uma vaga não tem
a oportunidade em mostrar seu desempenho profissional, pois pode ser
eliminado na entrevista.
Só não há avaliação linguística e não há problemas em usar uma
variante informal se a vaga de emprego for para um trabalho braçal, como pedreiro, varredor de ruas, pintor, mecânico, dentre outros, mas em
outras profissões como administrador, gerente, operador de telemarketing, dentre outras, a maneira como a pessoa fala pode ser eliminatória.
Verifica-se que o preconceito linguístico precisa ser combatido
que há poucas evoluções quanto a essa questão é preciso políticas públiRevista Philologus, Ano 19, N° 57 – Supl.: Anais da VIII JNLFLP. Rio de Janeiro: CiFEFiL, set./dez.2013 885
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cas que visam o incentivo de campanhas e programas que combatem os
preconceitos linguísticos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico. 28. ed. São Paulo: Loyola.
2005.
CALLOU, Dinah; LEITE, Yonne. Como falam os brasileiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 2002.
LUCCHESI, Dante. A diversidade e a desigualdade linguística no Brasil.
Salto para o futuro. Português: um nome, muitas línguas. Ano XVIII,
boletim 8. Brasília: Secretaria de Educação a Distância, p. 29-37, 2008.
MONTEIRO. Lemos José, Para compreender Labov, Petrópolis: Vozes,
2000.
TARALLO. Fernando, A pesquisa sociolinguística, São Paulo: Ática,
1997.
886 Revista Philologus, Ano 19, N° 57 – Supl.: Anais da VIII JNLFLP. Rio de Janeiro: CiFEFiL, set./dez.2013.
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