Por Caroline Martin Especial para O Papel Foto: Guilherme Balconi/ABTCP Horácio Lafer Piva aponta tendências que marcarão o mundo corporativo no século 21 H orácio Lafer Piva, membro do Conselho de Administra- ções novas do que nos milênios precedentes. “Hoje, temos em média ção da Klabin, avisou aos presentes que não falaria so- mil livros sendo publicados a cada dia no mundo. O total de conheci- bre papel e celulose, pois preferia aproveitar a oportu- mento impresso duplica a cada oito anos.” Na sua visão, contudo, as nidade do encontro para falar sobre a função dos líderes informações seriam mais bem aproveitadas se priorizássemos quali- em um mundo de constante e rápida evolução. “O mundo em que dade em vez de quantidade. “O problema é que qualidade pressupõe estamos vivendo tem mudado com uma velocidade impressionante, conhecimento; conhecimento demanda tempo, e tempo parece ser sendo composto por uma sociedade dinâmica, evolutiva”, definiu, algo que temos cada vez menos”, apontou o gargalo. ao abrir a palestra. “Enquanto na era industrial o mundo estava Diante das constatações, ele questionou como deve posicionar-se a sob o governo dos recursos naturais, hoje em dia está sob o total empresa do século 21. “Em primeiro lugar, atendendo a essa velo- governo da informação. Vivemos a era em que os computadores cidade crescente. Haverá cada vez mais computadores ópticos, fun- eliminaram a preocupação com espaço e tempo. Isso tem criado cionando mil vezes mais depressa do que os atuais. Vamos ter assis- mudanças extraordinárias”, completou. tentes virtuais monitorando e respondendo aos nossos emails. É a Ainda detalhando a rapidez com que a era da informação avança, realidade da Internet das Coisas, em que um mundo interligado fará Piva citou que, nos últimos 30 anos, foram produzidas mais informa- tudo funcionar”, respondeu, dando alguns exemplos do que deve se 44 Revista O Papel - novembro/November 2015 LIDERANÇAS EM DESTAQUE consolidar nos próximos anos. Piva acredita que a In- Apesar de ser um país pronto, mas que não aconte- ternet das Coisas fará com que o tempo das empresas ce, Piva disse acreditar que o mundo não irá permitir seja direcionado a focos muito mais específicos. Nesse retrocesso. “Estamos vivendo um perigoso momento sentido, outra questão que tem mudado com bastante de desindustrialização. Nossa pauta de exportação, velocidade é a rede de terceirizados e de fornecedores, por exemplo, está muito ruim. Mesmo assim, acho “para que as empresas se concentrem cada vez mais que nosso destino, pelo tamanho e potencial que nas próprias competências e excelência”. temos, é de um país que vai dar certo. Estamos fa- Toda essa combinação de tendências também fará dados a avançar, mesmo que seja dando um passo com que as informações sobre a concorrência sejam para trás e dois para a frente. O futuro ainda está mais valorizadas. “A tecnologia da informação está para acontecer.” nivelando os cenários e obrigará as empresas a ter O contexto atual e as tendências que já apon- um conhecimento muito mais amplo a respeito dos tam para o futuro impõem aos líderes inúmeras concorrentes, e não necessariamente só do mer- responsabilidades. A primeira delas, segundo Piva, cado. Vamos ter de reagir com muito mais rapidez consiste em situar-se na realidade em que se vive. àquilo que fazem os concorrentes”, justificou Piva, “Líderes não são heróis que surgem em períodos informando que as mudanças estão relacionadas às de crise, mas aqueles que levam as pessoas e as megatendências definidas há poucos anos pela ONU. organizações para o lado certo”, definiu. “Antes Ao avaliar o posicionamento do Brasil em relação de ter respostas, precisamos fazer perguntas. Os aos desdobramentos futuros, Piva disse que o País é líderes brasileiros ainda têm poucas perguntas. Há um absoluto retardatário da competitividade. “Preci- excesso de certeza num mundo excessivamente samos descobrir como andar rápido e escolher certo incerto”, ponderou. Entre as condutas que devem – as duas coisas, sem abrir mão de nenhuma. Temos amadurecer nos próximos anos está a transferência de fazer as duas coisas juntas para não ficarmos ain- de poder. “Vamos ver líderes procurando ampliar o da mais para trás nos próximos anos”, alertou. conhecimento dos profissionais que compõem as O que falta, segundo ele, é senso de urgência, além equipes da empresa, habilitando esses trabalhado- da compreensão de que o tempo econômico é diferente res a tomar decisões que hoje são centralizadas”, do tempo político. “Não há uma agenda pré-definida direcionou o executivo. que dê ao mercado uma ideia clara de onde o País quer O alinhamento entre planejamento estratégico e chegar e o que quer ser”, pontuou. Para ele, porém, os gestão é um dos maiores desafios das corporações impasses não aplacam o potencial existente. “Sempre brasileiras, em sua opinião. “Em geral, nossos ali- me pergunto que Brasil é este: é o Brasil dos problemas nhamentos estratégicos são falhos e não condizem ou das oportunidades? Se olharmos para 2015 e pen- com a gestão como um todo, o que cria uma série de sarmos em 2016, certamente responderemos que é o dificuldades nas organizações”, avaliou, citando que dos problemas; se olharmos mais adiante, sob enfoque os números tendem a explicar cada vez menos uma de aspectos que já foram muito bem diagnosticados, companhia. “O mundo está olhando para modelos de veremos um país de riquezas extraordinárias. Os mer- negócios. Os gestores precisam prestar atenção nis- cados maduros, que abrigam empresas nesse mesmo so, já que as mudanças têm acontecido em uma velo- patamar, precisam de mercados emergentes como o cidade enorme. Inovação hoje em dia está no centro nosso. É por isso que grandes empresas estão aqui, in- de qualquer agenda. E a sorte está onde sempre es- teressadas em investir”, comentou, informando que o teve: no cruzamento da oportunidade com a com- Brasil se posiciona como o quinto em poder de compra. petência”, finalizou. n Piva: “Estamos fadados a avançar, mesmo que seja dando um passo para trás e dois para a frente” novembro/November 2015 - Revista O Papel 45