MANIFESTO DOS EMPREGADOS DA EMBRAPA CERRADOS
O início do fim da Embrapa Cerrados
É com imensa tristeza que nos deparamos com a notícia de que a Embrapa Cerrados terá que ceder ao
Governo do DF uma área de 90 ha próxima a BR 020, com a finalidade de assentar 4 mil famílias, justo no ano que a
Embrapa, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, comemora os seus 40 anos.
O GDF não poupou a Embrapa Cerrados e optou por uma decisão que marca, lamentavelmente, o início do
fim dessa unidade, que é um patrimônio não só da população de Brasília mas, de todos nós brasileiros. Trata-se do
início do fim, pois dificilmente os experimentos de campo, que hoje já são objetos de roubos e morte de animais
resistirão à pressão causada por uma vizinhança estimada em 20.000 mil pessoas. Além disso, o GDF já disponibilizou
uma outra área da instituição para a cooperativa de catadores de lixo do DF e existem planos para a construção de
quadras poliesportivas em uma terceira área.
É realmente uma pena enorme, uma vez que existem outras alternativas que poderiam ser acionadas e que
poupariam a Embrapa Cerrados, só que, infelizmente, essas opções não possuem a mesma visibilidade que as terras
situadas à margem da BR020.
A Embrapa Cerrados localizada próxima à cidade de Planaltina, no Distrito Federal, é uma das 47 unidades da
Embrapa e foi criada em 1975. Essa unidade foi a responsável pela maior parte das pesquisas que permitiram a
incorporação dos Cerrados Brasileiros ao processo de produção agrícola, uma das maiores conquistas da agricultura
tropical no século XX. Até meados dos anos 1970, o Cerrado que era considerado improdutivo, hoje bate recordes e
mais recordes de produtividade. Sem a pesquisa agropecuária isso jamais teria sido possível. Técnicas de correção e
adubação do solo, seleção de bactérias que substituem adubos nitrogenados, desenvolvimento de cultivares de soja
e milho adaptadas a região, são algumas das tecnologias que foram desenvolvidas na Embrapa Cerrados e que hoje
são extensivamente utilizadas por todos os agricultores dos Cerrados e que agora também começam a ser
exportadas para os países africanos. A Embrapa Cerrados que já foi motivo de várias matérias da imprensa nacional
e internacional (jornais como o New York Times, The Economist e Washington Post já destacaram as suas pesquisas
que tornaram possível a revolução agrícola no Cerrado), hoje infelizmente é vítima da miopia das autoridades locais
e federais.
Pedimos aos nossos governantes uma visão estratégica e de futuro. Com o crescimento urbano ocorrido em
Brasília nos últimos 50 anos a Embrapa Cerrados, que originalmente estava localizada em área rural, longe dos
centros urbanos, atualmente já se encontra rodeada por assentamentos e condomínios. A criação desse novo
aglomerado urbano numa área que vem sendo utilizada em pesquisas há mais de 30 anos, na frente da entrada da
Embrapa marca o início do lento processo que culminará com o extermínio dessa instituição.
É difícil acreditar que as autoridades locais que lideram esse processo não sejam contestadas por instâncias
maiores do Governo Federal. O espírito Embrapiano, que não teme desafios e que não se esquiva frente a
adversidades, buscando sempre formas inovadoras de viabilizar soluções, muitas vezes consideradas improváveis,
não nos permite ficar calados. É com esse espírito que vimos a essa Assembleia Legislativa do DF, que hoje
homenageia a Embrapa, pedir aos nossos representantes que essa crônica de uma morte anunciada não venha a se
concretizar. O orgulho que sentimos quando visitantes internacionais saúdam o fruto do nosso trabalho e o
reconhecimento de toda a sociedade aos nossos trabalhos de pesquisa vão nos dar força e coragem para superar
essa ameaça, pois o Brasil precisa estimular instituições como a Embrapa Cerrados e não, exterminá-las.
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