1 É com orgulho que hoje assumo a Presidência desta Regional da AMAERJ. Não é possível não tocar aqui na história do Direito e da própria magistratura, pois a função de julgar já foi considerada sagrada e hoje parte da mídia a tornou profana, a ponto de termos nossos contracheques expostos e nossa intimidade devassada. Aos olhos de grande parcela desinformada da população, graças às TVs e aos jornais, somos vagabundos muito bem pagos pra deixar os processos mofando nos armários, somos venais, corruptos, vagabundos, os reis da carteirada, bandidos de toga! Precisamos de fiscalização incessante! Tal qual crianças irresponsáveis. Sem a vigília do CNJ somos incapazes de assumir nossas responsabilidades. Qualquer reclamação de um jurisdicionado insatisfeito com o resultado do processo vira procedimento administrativo. Uma nota em jornal de um colunista irresponsável acaba com a carreira de um juiz dedicado e ninguém nos defende. Tornamo-nos operários da estatística e pouco tempo nos sobra para o dedicado estudo de um caso complexo. Só veem os nossos números e não se compensa, nem se reconhece nossa dedicação, nossos finais de semana perdidos nos processos que levamos para casa, nem nos notam quando adoecemos de tanto trabalhar. Muitos colegas perderam a vida trabalhando! Ai de nós se alguma coisa der errado! No trânsito, no trabalho, nas ruas. Rezemos pra sair ilesos! A culpa, afinal, é sempre nossa! Pois temos muita responsabilidade e nenhum direito a ser um cidadão quando saímos de nossos gabinetes. Vivemos tempos de desrespeito com as autoridades. Esquecem que a Justiça é tão importante que Cervantes, através de Sancho Pança observando a "honestidade" de um bando de ladrões na divisão do produto do roubo, afirma jocosamente, por óbvio, que: "é tão boa coisa a justiça, que é necessária até entre os ladrões”. Noutro trecho Sancho desabafa: — Agora é que verdadeiramente percebo que os juízes e os governadores devem ser de bronze, para aturar as importunidades dos negociantes, que a todas as horas e a todo o tempo querem que os escutem e os depachem atendendo só ao seu negócio, venha lá o que vier; e, se o pobre do juiz os não despacha e escuta, ou porque não pode, ou porque não é ocasião de lhes dar audiência, logo o amaldiçoam e 2 murmuram, e roem-lhe na pele e até lhe deslindam as linhagens. Negociante néscio, negociante mentecapto, não te apresses: espera ocasião e conjuntura para negociar; não venhas, nem a horas de jantar, nem a horas de dormir, que os juízes são de carne e osso e hão-de dar à natureza o que ela lhes pede... E para que nos associamos, então? Para que nossa voz chegue até a sociedade da qual fazemos parte e com a qual convivemos, buscando ser ouvidos e demonstrando que nós somos importantes para que a justiça seja alcançada, que os juízes são responsáveis e como tal devem ser respeitados no seu trabalho e na sua vida privada. A minha missão na AMAERJ é lutar para que nossas prerrogativas, que não são privilégios, sejam respeitadas e estar ao lado de cada magistrado que for vítima de perseguições em seu trabalho, com o que sei que sempre contarei com a inestimável ajuda do Presidente Rossidélio. A limitação da nossa Regional em seu âmbito de atuação não impedirá que eu me socorra do nosso laborioso Presidente, quando for necessário. Para encerrar, convido a todos os magistrados que queiram participar da nossa administração, com ideias e sugestões, pois precisamos ser mais unidos para alcançarmos nosso objetivo que é obter um ambiente de trabalho propício à prestação jurisdicional célere e de qualidade. Muito obrigado.