Material particulado e ozônio são os poluentes que mais causam reações alérgicas André Benevides Ao contrário daquilo que indica o senso comum, nem a temperatura e nem a umidade do ar influenciam significativamente no desenvolvimento de reações alérgicas em pessoas que sofrem de rinite. Os responsáveis pelos sintomas, que vão de simples espirros e coceiras à completa obstrução nasal, são mesmo os poluentes, ainda que estejam dentro dos níveis considerados aceitáveis pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb). Dentre os tipos mais comuns, o que mais causa irritação é o chamado material particulado (PM10), composto principalmente pela fuligem que sai dos escapamentos de veículos automotivos e das chaminés de fábricas. Por outro lado, pessoas que não apresentam queixas de problemas desta natureza também são afetadas, mas não da mesma maneira. "Os pacientes respondem de formas diferentes aos estímulos. Aquele que tem rinite produz mais muco para dificultar a penetração das partículas, enquanto o que não tem se protege por meio das células ciliadas", explica a otorrinolaringologista Fabiana Maia Nobre Rocha, que recentemente apresentou seu doutorado na Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). De acordo com os resultados, os não-alérgicos seriam mais sensíveis ao ozônio (O3). Enquanto as pessoas com rinite respondem ao material particulado aumentando a concentração de células responsáveis pelo processo alérgico, como os eosinófilos, e ciliciformes, que produzem muco, os voluntários do grupo de controle apresentaram aumento de células ciliadas, que funcionam como uma espécie de filtro, e inflamatórias (neutrófilos) para se proteger do ozônio. Segundo a pesquisadora, os outros poluentes estudados, como o dióxido de enxofre (SO2), o dióxido de nitrogênio (NO2) e o monóxido de carbono (CO), "provocaram reações, mas não foram estatisticamente relevantes". Nos outros aspectos analisados nesta parte, não foram encontradas evidências de que variações na temperatura ambiente ou na umidade do ar tenham auxiliado no desenvolvimento de processos alérgicos na região. Fabiana revela que o estudo, realizado com 40 pacientes no município de São Paulo, é o primeiro no Brasil a relacionar poluição com alterações na celularidade nasal. Estações Além de comparar os efeitos da poluição em portadores de rinite com os considerados normais, Fabiana também estudou como os dois grupos reagem nas diferentes estações do ano. "O clima de São Paulo é muito propício para a realização desta pesquisa, pois dispõe das quatro estações: primavera, verão, outono e inverno. Queríamos ver se os pacientes se comportam da mesma maneira no decorrer do ano". A diferença é que nesta etapa os voluntários eram comparados com eles próprios. Desta vez, os resultados coincidiram com a sabedoria popular, de que o inverno é o pior período para quem sofre deste mal. "Já para os não-alérgicos foram encontradas alterações no ano inteiro. Mas o pior período, para ambos, acontece do outono até o começo da primavera." Coincidência ou não, os picos de concentração do material particulado são justamente nos meses de junho e julho. Inversamente, o ozônio teve os maiores índices em pleno verão: janeiro e fevereiro. Mas, de maneira geral, Fabiana recomenda que o outono seja um período de prevenção. "Como o inverno é a estação mais poluída do ano, é aconselhável que as pessoas se cuidem antes dele chegar", conclui. Mais informações: (0XX82) 3231-4310 ou [email protected], com a pesquisadora Fonte: USP