José craveirinha: O autor de uma obra que transcende os limites do seu tempo e da sua Pátria Amada Comunicação de Sua Excelência, Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de Moçambique, por ocasião do lançamento das obras de José Craveirinha. Maputo, 3 de Dezembro de 2012 Num depoimento auto-biográfico de 1977, José Craveirinha, o poeta-mor da moçambicanidade, deixou registado: que nasceu pela primeira vez a 28 de Maio de 1922; que nasceu pela segunda vez quando lhe fizeram descobrir que era mulato; que nasceu uma vez mais no "O Brado Africano"; que foi nascendo à medida das circunstâncias impostas pelos outros e; que a partir de cada nascimento ele tinha a felicidade de ver um problema a menos e um dilema a mais. Se nos permitem entrar na onda dos muitos nascimentos deste embondeiro, promotor da nossa auto-estima, podemos dizer que ele nasce hoje, uma vez mais, em Vila Borghesi e Outros Poemas de Viagem e em Tâmaras Azedas de Beirute, as duas obras que acabam de ser lançadas. Mas mais importante ainda é que José Craveirinha nasce e renasce através do seu legado, um legado que celebramos hoje, amanhã e sempre. Com muita alegria e orgulho, juntamo-nos a todos os que, atraídos pelo exemplo da vida e obra de José Craveirinha, este nosso poeta, contista, prosador, jornalista e cronista, para aqui convergiram para, com a sua família, celebrar: o seu nonagésimo aniversário natalício; o nono do seu desaparecimento físico; o quinquénio da inauguração da sua Casa-Museu; e o lançamento simultâneo destas duas obras inéditas. Este evento serve de mais uma demonstração de como homens da estatura de José Craveirinha não terminam em si mesmos. Pelo 1 contrário, eles começam em si mesmos e misturam-se com os ideais do Povo e da Nação. Tornam-se imortais. Minhas Senhoras e Meus Senhores, José Craveirinha fez da literatura e da sua poesia de intervenção política, social e cultural, uma importante arma de luta contra a dominação e opressão e um poderoso instrumento de afirmação da moçambicanidade e de libertação. Trata-se de uma literatura que despertava consciências e reforçava o sentimento de libertação interior, um importante passo para quem abraçava o nacionalismo. Esta atitude de militante pela causa da liberdade, justiça e igualdade entre os homens e mulheres deste planeta, valores que só podiam ser alcançados com a independência de Moçambique, fizeram de José Craveirinha vítima do regime colonial. Por isso, tal como muitos outros nacionalistas do seu tempo, sofreu as sevícias da sanguinária e tenebrosa polícia política portuguesa, a PIDE. Foi neste contexto que José Craveirinha foi encarcerado por 4 anos, de 1965 a 1969, acusado de fazer parte do grupo dos nacionalistas moçambicanos que, de várias formas lutava, pela libertação da terra e dos Homens. Contudo, ainda que rodeado e vítima da multiforme e omnipresente opressão do regime colonial, Craveirinha, como os outros nacionalistas, porque sentia a liberdade interior a galvanizá-lo para a acção, adensava a certeza de que muitos poucos fariam muitos, para criar uma força imparável, capaz de abanar as fundações do regime colonial até ao seu desmorronamento. Vemos alguns desses marcos da liberdade no pensar de Craveirinha, num dos seus 2 poemas: “o Poema do Futuro Cidadão", do qual extraímos o seguinte trecho: “Vim de qualquer parte De uma Nação que ainda não existe. Vim e estou aqui!” Alcançada a Independência Nacional, e já cidadão daquela Nação que outrora não existia, José Craveirinha não hibernou. Como que saboreando a doce independência, duramente conquistada, ele recarregou as baterias e com a sua pena leve, inspirada e inspiradora, brindou-nos com poemas extraordinários, mais tarde reunidos no livro "Babalaze das Hienas", do qual destacamos “As Saborosas Tangerinas de Inhambane” que foram irradiadas através das ondas da Rádio Moçambique pela voz do saudoso poeta e jornalista Gulamo Khan. O lançamento, hoje, de mais duas obras suas demonstra, de forma inequívoca, que José Craveirinha é um Poeta prolífico, cuja obra transcende o seu próprio ciclo de vida, não só pelo conteúdo transversal e multidisciplinar dos seus escritos, mas também, e sobretudo, pelo fôlego criador a que nos habituou desde o início da sua carreira no histórico jornal O Brado Africano. A sua carreira resultou num extenso acervo que enriquece a História de Moçambique e, de forma particular, o nosso género literário, sobre o qual escolas e universidades se debruçam, no país e no estrangeiro. A decisão de transformar a sua casa em Museu abriu espaço para que mais cidadãos moçambicanos e de outros quadrantes do mundo: partilhem a sua criatividade; 3 apreciem a sua obra; e se deleitem com o ambiente idílico que ele criou naquilo que é a Casa Museu. Minhas Senhoras e Meus Senhores, Saudamos a Família Craveirinha pela recolha e sistematização de parte do rico espólio que corporiza o legado do nosso poeta-mor, e de que frutaram as obras que conhecem hoje, nove anos após o seu desaparecimento físico, a luz do dia, o renascimento, mais um, do seu autor. As nossas saudações são extensivas a todos os que contribuíram para tornar possível a realização desta cerimónia. Saudamos o FUNDAC pela forma como acarinhou e empenhou-se na transformação do sonho da Família Craveirinha em realidade, sublinhando, deste modo, o papel do Estado Moçambicano na divulgação do nosso rico Património Cultural, na nossa Pátria Amada e além fronteiras. Reiteramos, neste contexto, o compromisso do nosso Governo com o resgate, a promoção, divulgação e preservação da nossa cultura e artes, que são: esteios da nossa matriz identitária; fontes da nossa auto-estima; e estandartes da nossa comunhão de destino. Os festivais de artes e cultura, que temos estado a realizar, de dois em dois anos, devem também ser vistos neste prisma. Minhas Senhoras e Meus Senhores, A terminar, saudamos, uma vez mais, a Família Craveirinha e todos aqueles que colaboraram para a produção e o lançamento de “Vila Borghesi e Outros Poemas de Viagem” e de “Tâmaras Azedas de 4 Beirute”. Esta é uma forma nobre e louvável de celebrar a vida e obra de um prolífico promotor da moçambicanidade e da autoestima. Muito obrigado a pela vossa atenção! 5