Dôra Limeira e o afeto que ainda existe
pelas cartas
Linaldo Guedes
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Uma anciã septuagenária troca correspondência com um rapaz de
vinte e poucos anos. Que tipos de afinidades tinham eles, de que
falavam, como transcorria a rotina de cada um? Que perspectivas
de vida alimentavam? Num mundo como o de hoje, é difícil que
duas pessoas tão diferentes se encontrem em dado momento de
suas vidas. Talvez mais difícil seja imaginar que uma relação
humana afetuosa possa advir desse encontro. Em resumo, é disso
que trata “O Livro Afetuoso das Cartas”, novo livro da escritora Dôra
Limeira, que sai pela Editora Idéia e será lançado neste sábado
(25), às 20 horas, na Usina Cultural da Energisa. O preço da obra é
R$ 20,00.
Dôra explica que a motivação para escrever o livro aconteceu
porque ao longo de sua vida sempre trocou cartas com diversas
pessoas: escritores, poetas, loucos bipolares, familiares. “O poeta
Lau Siqueira foi um de meus correspondentes em tempos de
outrora. Pena que não tenhamos guardado em alguma gaveta as
cartas que trocamos. Dariam um volumoso e interessante livro”,
recorda.
Alguns de meus familiares também se comunicaram com ela
através de cartas. “Guardo comigo algumas cartas de minha irmã
Maria José Limeira. Foi tão volumosa e linda a correspondência que
troquei com alguns desses familiares que juntei tudo bem guardado
no computador, debaixo de senhas inacessíveis. Inspirada nessas
cartas foi que escrevi este livro afetuoso”.
Dôra já é uma velha conhecida do meio literário paraibano, com
diversos livros lançados e prêmios conquistados. Sempre antenada,
diz que na Paraíba o momento literário pulsa através de obras como
“O dia em que comemos Maria Dulce”, de Antônio Mariano. De
Rinaldo de Fernandes, cita “Rita no Pomar”, “O perfume de
Roberta” e “Romeu na Estrada”. Além de Ronaldo Monte, Maria
Valéria Rezende, Welington Pereira, entre outros escritores. “Por
outro lado, o Clube do Conto da Paraíba tem sido um celeiro de
bons escritos. Pelo Clube do Conto já passaram Ronaldo Monte,
Antônio Mariano, Maria Valéria Rezende, Mercedes Cavalcanti,
André Ricardo, além de escritores de outras partes do país. O
Clube do Conto, pelo seu formato anarquista, tem atraído muitos
jovens talentosos e sua caminhada já alcança os 11 anos, desde
sua fundação. É um modelo inédito no Brasil”, analisa.
Ao explicar seu processo de escrita, Dôra Limeira conta que numa
entrevista a duas adolescentes, elas lhe perguntaram se é fácil
escrever. “Respondi que não. É paradoxal, mas eu tenho
dificuldade. Perguntaram-me se tenho uma metodologia para
escrever textos, e que metodologia seria essa. Respondi que não
tenho metodologia definida. Perguntaram-me sobre como nascem
minhas histórias, se arquiteto tudo na cabeça para depois passar
para o papel ou pra tela do computador. Eu respondi que as
histórias geralmente jorram como sangue no papel ou na tela. As
personagens se apossam de mim como se fossem entidades da
natureza. Nesse sentido, acredito em transe. Nada de sobrenatural,
nada de alma de outro mundo. Tudo muito natural e simples, como
a chuva ou como um parto normal”. A resposta completa a escritora
publicou em sua página no Facebook.
Trajetória literária de Dôra Limeira
Dôra Limeira nasceu em 21 de abril de 1938, em João Pessoa. Fez
os primeiros estudos em escola pública, depois em colégio religioso
católico. Graduou-se e especializou-se em História pela UFPB.
Publicou seu primeiro livro de contos, "Arquitetura de um
Abandono", em maio de 2003, o que lhe valeu o prêmio de
Revelação Literária/2003, num certame promovido pelo suplemento
literário Correio das Artes.
Em 2002, participou do Concurso Talentos da Maturidade com o
conto "Não há sinais", concorrendo com 10.338 inscritos em todo o
país. “Não há sinais” foi incluído entre os vinte melhores contos
concorrentes e publicado na antologia "Todas as estações", pela
editora Peirópolis, São Paulo. Em 2005, publicou seu segundo livro
de contos, "Preces e Orgasmos dos Desvalidos". Em 2007, publicou
“O Beijo de Deus”, livro de minicontos. Edição independente,
Editora Manufatura.
Em 2009, editou outro livro de contos, “Os Gemidos da Rua”,
financiado pelo FMC. (Ed. Manufatura). Cancioneiro dos loucos foi
publicado em 2013 pela Ideia Editora.
(Matéria publicada no jornal A União, edição de 25 de abril de
2015)
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