SEMIDESERTIFICAÇÃO NO NORDESTE DO BRASIL Vicente de Paulo Rodrigues da Silva (1); Renilson Targino Dantas; Adelmo Antonio Correia; Micheline de Sousa Coelho; Maria Joseane Felipe Guedes (1) Professor DCA/CCT/UFPB, e-mail: [email protected] ABSTRACT This study used the least square method for analyzing the behavior of the annual rainfall time series from 88 Northeast Brazil location for the period from 1911 to 1996, with the objective of identifying areas with environmental predisposition (tendency) for desertification process. A concentration of areas was observed in the north of the Rio Grande do Norte State with a tendency of 7 mm increase in the annual rainfall. Another area with tendency of 5 mm decrease in the annual rainfall was observed between the states of Alagoas and Sergipe The other areas of the Northeast Brazil showed no tendency in the time series of annual rainfall. 1 - INTRODUÇÃO A região Nordeste do Brasil abrange uma área de aproximadamente um quinto do território nacional, na qual estão inseridos grande parte dos ambientes semi-áridos do país; a mesma se caracteriza por baixos níveis pluviais, pelas temperaturas elevadas e altas taxas de evaporação, além de uma alta variabilidade espacial e temporal no regime pluvial. Esta é a região do país mais afetada pelas ações devastadoras do homem. Os baixos índices pluviais registrados no Nordeste, particularmente no semiárido, têm prejudicado sensivelmente a economia local. Apesar de chover tanto quanto em muitas outras regiões do mundo, o semi-árido nordestino é periodicamente afetado pela ocorrência de secas, com perdas parciais ou totais na agropecuária, além de comprometer o abastecimento de água à população, o qual se deve principalmente à irregularidade da estação chuvosa na região Objetivando uma definição a mais precisa possível de seca, vários índices têm sido desenvolvidos na tentativa de quantificar os aspectos climatológicos das secas. A maioria desses índices tenta sumarizar informações acerca das condições anormais de baixa pluviosidade e seus efeitos potenciais. O índice de seca mais conhecido na literatura é o Índice de Severidade de Seca de Palmer - ISSP (Palmer, 1965), muito embora existam vários outros, tais como: Índice de Bhalme & Mooley - IBM (Bhalme & Mooley,1980); Índice de Bhalme & Mooley Modificado - IBMM (Azevedo & Rodrigues da Silva, 1994); Índice de Anomalia de Chuva - IAC (ROOY, 1965); Classificação Anômala da Precipitação - CAP (Janowiak et alii, 1984); etc. Os índices de Bhalme & Mooley e de Classificação Anômala da Precipitação, assumem que a precipitação é o fator mais importante na classificação do clima. Enquanto que, o índice de Severidade de Seca de Palmer incluí na sua determinação, as taxas de umidade no solo e na planta. Rodrigues da Silva & Azevedo (1995) analisando as séries temporais do Índice de Seca de Bhalme & Mooley Modificado de três localidades do Estado da Paraíba (Soledade, Picui e Cajazeiras), observaram uma tendência decrescente nas duas primeiras séries e nenhuma tendência na série de Cajazeiras. Concluíram que as microrregiões do Cariri e Curimataú estão sujeitas a um processo de desertificação Segundo Nimer (1988) o fenômeno da desertificação, embora seja mais intenso na periferia dos desertos, está sendo observado em outras regiões do mundo, inclusive no Brasil como, também, os eventuais processos de desertificação no território brasileiro, provocados por devastação de florestas, não devem ser associados às possíveis mudanças climáticas regionais, mas tão somente à perda da capacidade de armazenamento de água pelo solo. Neste contexto, o presente trabalho objetiva delimitar áreas do semi-árido da região Nordeste do Brasil com predisposição ambiental aos processos de semidesertificação. 2 - MATERIAL E MÉTODOS Neste trabalho foram utilizados totais mensais de precipitação pluvial de 88 postos localizados no Nordeste do Brasil (Figura 1), distribuídos por Estado da seguinte forma: Paraíba 8, Pernambuco 11, Alagoas 7, Sergipe 5, Piauí 10, Rio Grande do Norte 9, Bahia 20 e Ceará 18 postos. Como as séries de chuva do Estado do Maranhão são de curto período de tempo não foi possível selecionar nenhum posto. As oscilações de altas freqüências presentes nas séries temporais de chuva do Nordeste são atribuídas ao fenômeno El Niño, que tem freqüência média de incidência na região de aproximadamente 3 anos (Aragão, 1986). Neste sentido, as séries foram suavizadas mediante a utilização da média móvel (ordem 3) objetivando eliminar as flutuações cíclicas. -2 .0 0 1 2 3 4 5 7 8 9 10 12 11 13 1 6 15 17 18 1 9 2 024 21 2 2 23 26 14 25 27 28 29 30 31 33 32 35 34 39 37 36 40 4 1 3 8 42 44 43 45 46 47 48 49 50 52 51 53 54 56 5 5 57 59 58 60 61 62 63 65 64 66 6 8 67 7609 71 72 7 3 74 75 76 77 78 79 80 81 6 -4 .0 0 -6 .0 0 -8 .0 0 -1 0 .0 0 82 -1 2 .0 0 83 84 87 86 85 88 -1 4 .0 0 89 -1 6 .0 0 -1 8 .0 0 -48 .00 -46 .0 0 -4 4.0 0 -4 2 .0 0 -40 .00 -3 8.0 0 -3 6.0 0 Figura 1. Distribuição espacial dos postos pluviométricos do Nordeste do Brasil. A tendência temporal das séries foram determinadas com base no modelo dos mínimos quadrados e em seguida analisada a distribuição espacial da declividade da reta de regressão . 3 - RESULTADOS E DISCUSSÃO A Figura 2 exibe a distribuição espacial dos coeficientes das retas de regressão linear dos totais anuais de precipitação pluvial do Nordeste do Brasil. Observam-se um núcleo de tendência crescente de chuva na parte norte do Rio Grande do Norte e tendência menos acentuada nas demais regiões do litoral norte do Nordeste do Brasil e na região central do Estado da Bahia. Observam-se, ainda, núcleos com tendência decrescente moderada no sul dos Estados do Ceará e da Bahia e outros com forte tendência decrescente nos Estados de Alagoas e Sergipe. O núcleo localizado no Rio Grande do Norte indica um aumento da precipitação pluvial de 7 mm por ano; enquanto que, o núcleo localizado entre os Estados de Alagoas e Sergipe indica uma redução da precipitação pluvial da ordem de 5 mm por ano. Estes núcleos são significantes a nível de 1% de probabilidade, segundo o teste t-Student. Os núcleos observados no sul dos Estados da Bahia, Ceará, Pernambuco e Paraíba são significantes a nível de 5% de probabilidade. Os núcleos de tendência obtidos com base na precipitação pluvial do Nordeste do Brasil são muitos dispersos devido a baixa representatividade dos postos utilizados. -2.00 -4.00 -6.00 -8.00 -10.00 -12.00 -14.00 -16.00 -18.00 -48.00 -46.00 -44.00 -42.00 -40.00 -38.00 -36.00 Figura 2. Distribuição espacial dos coeficientes das retas de regressão linear dos totais anuais de precipitação pluvial do Nordeste do Brasil. 4- CONCLUSÕES Os resultados do presente trabalho permitem concluir que a parte norte do Rio Grande do Norte e uma pequena região compreendida entre os Estados de Sergipe e Alagoas apresentam, respectivamente, forte tendência crescente e decrescente de chuva. As outras áreas da região Nordeste do Brasil não apresentam núcleos significativos, exceto em alguns pontos isolados dos Estados do Ceará, Bahia, Pernambuco e Paraíba. Em função das tendências apresentadas, as áreas compreendidas entre os Estados de Alagoas e Sergipe e em pontos isolados dos Estados do Ceará, Bahia, Pernambuco e Paraíba apresentam tendência aos processos de semidesertificação. 5 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAGÃO, J. O. R. Fatos sobre o Fenômeno El-Niño e sua relação com às secas no Nordeste do Brasil. Boletim da Sociedade Brasileira de Meteorologia. Vol. 14, 07p, N0 1.1990. AZEVEDO, P.V., RODRIGUES DA SILVA, V. P. índice de Seca de Bhalme & Mooley: Uma Adaptação Regional. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE METEOROLOGIA, 1994, Belo Horizonte, MG Resumos.... Belo Horizonte: Sociedade Brasileira de Meteorologia. 1995. vol. 2, 792p. p.696-699. BHALME, H. N., MOOLEY, D. A., 1980. Large-scale drought/floods and monsoon circulation. Mon. Wea. Rev., v.8, p.1197-1211. JANOWIAK, J. E., ROPELEWSKI, C. F., HALPERT, M. S., 1986. The precipitation anomaly classification: a method for monitoring regional precipitation deficiency and excess on a global scale. J. Climate Appl. Meteor., v.25, p.565-574. NIMER, E. Desertificação: Realidade ou Mito. Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, 50(1):7, 39pp, 1988. PALMER, W. C., 1965.Meteorological drought. Res. Paper No.45.U. S. Weather Bureau, 58pp.[NOAA Library and Information Services] Division, Washington, D.C. 20852. RODRIGUES DA SILVA, V. P., AZEVEDO, P.V. Identificação de Núcleos de Desertificação no estado da Paraíba. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE AGROMETEOROLOGIA, 1995, Campina Grande, PB. Resumos.... Campina Grande: Sociedade Brasileira de Agrometeorologia. 1995. 506p. p.272-274. ROOY, M. P. van, 1965. A rainfall anomaly index independent of time and space. Notos, v.14, 43pp.