Biodiversidade em Minas Gerais S E G U N D A E D I Ç Ã O ORGANIZADORES Gláucia Moreira Drummond Cássio Soares Martins Angelo Barbosa Monteiro Machado Fabiane Almeida Sebaio Yasmine Antonini Fundação Biodiversitas Belo Horizonte 2005 INVERTEBRADOS Estima-se que no Brasil existam atualmente entre 107.000 e 145.000 espécies descritas de invertebrados, número que deve ser muito maior, uma vez que somente as borboletas, libélulas, opiliões e polvos podem ser considerados como razoavelmente bem conhecidos (Lewinsohn & Prado, 2002). Não se sabe exatamente o número de espécies de invertebrados que existe em Minas, mas há evidências de que seja muito alto, uma vez que este é o grupo taxonômico mais diverso entre os seres vivos. O fato de Minas Gerais se localizar em uma região geográfica que engloba parte dos biomas do Cerrado, da Mata Atlântica e da Caatinga explica a grande diversidade de sua fauna de invertebrados que, entretanto, é pouco estudada. Com efeito, ainda são poucas as informações existentes sobre a taxonomia, a extensão de ocorrências e o tamanho das populações da grande maioria dos invertebrados do Estado. Isso explica por que esse grupo, apesar do grande número de espécies, é pouco representado nas listas nacionais e estaduais de espécies ameaçadas de extinção. Assim, na lista estadual constam 31 espécies de invertebrados, o que representa apenas 18% da fauna ameaçada do Estado. Esses dados mostram a dificuldade de identificar áreas prioritárias para conservação de invertebrados em Minas Gerais, uma vez que os critérios mais importantes para isso são a riqueza de espécies e a presença de espécies ameaçadas de extinção, endêmicas ou raras. Para a definição das áreas prioritárias para conservação da fauna de invertebrados em Minas Gerais foi possível utilizar cinco grupos de insetos, a saber: borboletas, libélulas, abelhas, heterópteros aquáticos e coleópteros (Scarabaeidae, Dynastidae, Carabidae e Cholevidae), além de aracnídeos, onicóforos e anelídeos. Das 1.600 espécies de borboletas que ocorrem em Minas Gerais (Casagrande et al., 1998) 20 estão ameaçadas de extinção, destacando-se a Nirodia belphegor, endêmica a Minas Gerais. Das 218 espécies de libélulas conhecidas de Minas Gerais (Machado, 1998), cinco estão ameaçadas, destacando-se a Rhionaeschna eduardoi, endêmica ao Estado, ocorrendo apenas no Morro do Ferro e na faixa sul de Belo Horizonte. A grande riqueza de libélulas (116 espécies, segundo Bedê, L.C., dados não publicados) foi o principal argumento para se incluir o Parque Nacional da Serra da Canastra na lista de áreas prioritárias para conservação de invertebrados. Quanto às abelhas, de acordo com Silveira et al. (2002), são conhecidas cerca de 500 espécies em Minas, e estima-se que esse número deva dobrar. Três espécies estão ameaçadas de extinção: a Xylocopa truxali, que ocorre na parte sul da Serra do Espinhaço, a Melipona rufiventris, que ocorre em algumas áreas do Cerrado, e a Melipona mondury, da Mata Atlântica. Não se sabe ao certo qual é a riqueza de besouros em Minas Gerais, mas provavelmente deve ser um número alto, considerando-se a ampla diversidade dos ecossistemas mineiros. O único besouro na lista de espécies ameaçadas de Minas Gerais, datada de 1995, é o iaiá-de-cin- página anterior: Rio Extrema no Parque Estadual do Grão Mogol. Fotografia: Miguel Aun página ao lado: Mariposa (Rothchilda sp.) Fotografia: Cuia Guimarães tura (Hypocephalus armatus), um cerambicídeo de valor comercial que ocorre nas áreas de Botumirim e Almenara. A publicação, em 2003, da nova Lista de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção (IN, 03/03), mostrou a existência em Minas de duas subespécies de besouros de grande porte, Megasoma gyas gyas, que ocorre no Parque Estadual do Rio Doce e em remanescentes florestais de seu entorno, e o Megasoma gyas rumbucheri, que ocorre na Reserva Florestal da Jaíba. Outro coleóptero que integrou a lista brasileira foi o carabídeo troglóbio Coarazuphium pains, que ocorre em uma gruta na região mineira que lhe deu o nome. Cabe também referência especial ao onicóforo Peripatus acacioi, espécie ameaçada de extinção que ocorre na Estação Ecológica de Tripuí, na Estação de Pesquisa e Desenvolvimento Ambiental de Peti e na região de Ibitipoca. Outros onicóforos ainda não descritos, mas provavelmente ameaçados, foram descobertos na RPPN Feliciano Miguel Abdala e na região de Novo Oriente de Minas. Dentre os aracnídeos destacam-se os escorpiões-vinagre (ordem Uropygi), presentes na região de Novo Oriente de Minas. Entre os invertebrados ameaçados de extinção em Minas, está o anelídeo Rhinodrilus alatus (minhocuçu), usado como isca por pescadores, que ocorre na região de Paraopeba. Entre os invertebrados importantes para definição de áreas prioritárias para conservação em Minas merecem destaque aqueles que vivem no interior de cavernas, um ecossistema bastante ameaçado no Estado e que tem sua preservação dificultada pela escassez de estudos sobre a fauna que abriga. Na primeira edição do Atlas, listaram-se as cavernas que potencialmente continham espécies troglomórficas endêmicas ou ameaçadas, sem, entretanto, classificá-las de acordo com sua importância biológica. Estudos espeleológicos recentes permitiram avaliar o grau de importância biológica de sete cavernas relacionadas na versão anterior do Atlas. Permitiram também a inclusão de mais seis cavernas isoladas e três conjuntos de cavernas, num total de 65 cavernas novas. Nas cavernas do vale do rio Peruaçu, da área cársica Arcos/Pains/Doresópolis e da área cárstica do Circuito das Grutas, além de outras, foi possível comprovar a presença de invertebrados troglomórficos. Merece destaque a área cárstica do Circuito das Grutas, classificada como Especial e formada por 21 cavernas de grande relevância biológica, sendo mais conhecidas as grutas de Maquiné, Rei do Mato e Lapinha. Essa área representa um dos mais importantes conjuntos de grutas de Minas Gerais, que contêm pelo menos três espécies novas de coleópteros (das famílias Carabidae e Pselaphidae), dez crustáceos isópodes (das famílias Platyarthridae e Styloniscidae), uma espécie de aracnídeo da ordem Palpigradi (do gênero Eukoenenia), entre várias outras espécies ainda não descritas, todas troglomórficas (Ferreira, 2004). Cabe assinalar que os artrópodes troglomórficos encontrados em cavernas de Minas constituem populações isoladas, às vezes de uma só gruta, e extremamente sensíveis a modificações em seus ambientes. A presença dessa rica fauna cavernícola constitui um motivo adicional para proteção do patrimônio espeleológico de Minas Gerais, e recomenda-se o incremento de estudos bioespeleológicos nas cavernas do Estado. Nas considerações acima, enfatizou-se a presença de espécies ameaçadas de extinção como o principal critério para definição de áreas prioritárias para conservação. Entretanto, outros critérios também foram utilizados, como a riqueza de espécies e a presença de espécies endêmicas ou raras. Com base nesses critérios, o grupo temático indicou 56 áreas prioritárias para proteção de invertebrados, oito na categoria Especial, nove na categoria Extrema, 15 na categoria Muito Alta, cinco na categoria Alta e 18 na categoria Potencial. Foi ainda sugerida, para a promoção do fluxo gênico entre as duas unidades de conservação (Parque Nacional Grande Sertão Veredas e a Reserva Biológica de Sagarana, na regiåo de Arinos), a área Corredor Parque Nacional Grande Sertão Veredas. O principal fator que ameaça os invertebrados na maioria dessas áreas é a destruição dos hábitats, em especial o desmatamento. No caso das cavernas, os principais fatores são: as atividades de mineração (especialmente pela indústria de cimento e cal), 84 o desmatamento do entorno das grutas, as atividades agropecuárias e o turismo não orientado. A coleta para comercialização em Minas constitui ameaça apenas para duas espécies de invertebrados: o minhocuçu (Rhinodrilus alatus), usado como isca para pesca, e o besouro iaiá-de-cintura (Hypocephalus armatus), vendido para colecionadores. Cabe assinalar que das 56 áreas consideradas prioritárias para conservação de invertebrados 48 entraram no mapa-síntese. Apesar de os invertebrados terem contribuído significativamente para a escolha das áreas prioritárias para conservação da biodiversidade em Minas Gerais, o grupo é ainda pouco estudado, tanto que 19 áreas foram classificadas como Potenciais e necessitam urgentemente de novas pesquisas. 85 ÁREAS PRIORITÁRIAS PARA A CONSERVAÇÃO DOS INVERTEBRADOS DE MINAS GERAIS 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 Região de Juvenília / Manga Vale do Peruaçu Cavernas do Rio Peruaçu Reserva Florestal da Jaíba Corredor Ecológico Jaíba Jaíba APA do Rio Pandeiros Parque Nacional Grande Sertão Veredas Corredor Parque Nacional Grande Sertão Veredas / Arinos Região de Arinos Lapa Encantada Serra do Espinhaço Região de Botumirim Região de Almenara Região de Jequitinhonha Região de Salto da Divisa Região de Novo Oriente de Minas Região de Brasilândia de Minas Cavernas de Paracatu / Vazante Lapa Nova Gruta Carioca / Gruta do Chico Velho Lapa do Mosquito Região de Diamantina Santa Maria do Suaçuí Cavernas de Ataléia Região de Açucena / Parque Estadual Rio Corrente Região da Reserva Ecológica do Panga Lagoas do Rio Uberaba 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 Região de Paraopeba Área Cárstica do Circuito das Grutas Parque Nacional Serra do Cipó Serra de Marliéria Parque Estadual do Rio Doce Gruta de Sete Salões Região do Parque Estadual Sete Salões RPPN Feliciano Miguel Abdala EPDA Peti Gruta do Centenário Região do Caraça / Caeté Faixa Sul de Belo Horizonte Região de Itabirito Estação Ecológica do Tripuí Região de Piranga Serra do Brigadeiro Região do Parque Nacional do Caparaó Cavernas da Província Cárstica Arcos / Pains / Doresópolis Parque Nacional Serra da Canastra Região de Passos / Carmo do Rio Claro Morro do Ferro Gruta Santo Antônio APA Serra São José Região de Barbacena Cavernas de São Tomé das Letras / Carrancas / Luminárias Região da Serra da Mantiqueira Grutas do Ibitipoca Região do Parque Estadual do Ibitipoca Relação das áreas indicadas para a conservação dos invertebrados de Minas Gerais Número da Área 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 90 Nome da Área Região de Juvenília / Manga Vale do Rio Peruaçu Cavernas do Peruaçu Reserva Florestal da Jaíba Corredor Ecológico Jaíba Jaíba APA do Rio Pandeiros Parque Nacional Grande Sertão Veredas Corredor Parque Nacional Grande Sertão Veredas / Arinos Região de Arinos Lapa Encantada Serra do Espinhaço Região de Botumirim Região de Almenara Região de Jequitinhonha Região de Salto da Divisa Região de Novo Oriente de Minas Região de Brasilândia de Minas Cavernas de Paracatu / Vazante Lapa Nova Gruta Carioca / Gruta do Chico Velho Lapa do Mosquito Região de Diamantina Santa Maria do Suaçuí Cavernas de Ataléia Região de Açucena / Parque Estadual Rio Corrente Região da Reserva Ecológica do Panga Lagoas do Rio Uberaba Região de Paraopeba Área Cárstica do Circuito das Grutas Parque Nacional Serra do Cipó Serra de Marliéria Parque Estadual do Rio Doce Gruta de Sete Salões Região do Parque Estadual Sete Salões RPPN Feliciano Miguel Abdala EPDA Peti Gruta do Centenário Região do Caraça / Caeté Faixa Sul de Belo Horizonte Região de Itabirito Estação Ecológica do Tripuí Região de Piranga Serra do Brigadeiro Região do Parque Nacional do Caparaó Cavernas da Província Cárstica Arcos / Pains / Doresópolis Parque Nacional Serra da Canastra Região de Passos / Carmo do Rio Claro Morro do Ferro Gruta Santo Antônio APA Serra São José Região de Barbacena Pressões Antrópicas Recomendações Categoria Potencial Especial Especial Extrema Extrema Extrema Potencial Potencial Corredor Potencial Potencial Especial Potencial Muito Alta Muito Alta Potencial Muito Alta Alta Potencial Potencial Muito Alta Muito Alta Muito Alta Muito Alta Potencial Potencial Muito Alta Especial Extrema Especial Extrema Potencial Especial Alta Potencial Muito Alta Muito Alta Muito Alta Extrema Extrema Potencial Potencial Extrema Potencial Muito Alta Especial Alta Muito Alta Muito Alta Alta Muito Alta Alta Número da Área 53 54 55 56 Nome da Área Pressões Antrópicas Cavernas de São Tomé das Letras / Carrancas / Luminária Região da Serra da Mantiqueira Grutas do Ibitipoca Região do Parque Estadual do Ibitipoca Recomendações Categoria Potencial Extrema Especial Potencial Consulte legenda dos ícones desta tabela na orelha da página 202. 91 LEGENDA DOS ÍCONES DAS TABELAS Pressões Antrópicas Agropecuária e Pecuária Agricultura Assoreamento Barramento Caça Desmatamento Espécies exóticas invasoras Expansão urbana Extração de madeira Extração vegetal Isolamento Mineração Monocultura Pesca predatória Piscicultura Queimada Turismo desordenado Recomendações Educação ambiental Fiscalização Inventários Monitoramento Plano de manejo Promover conectividade Recuperação Regularização fundiária Unidades de Conservação