1 UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI DANIELE GONÇALVES STEFANINI USO SUSTENTÁVEL DA BACIA DO RIO SÃO FRANCISCO São Paulo 2006 2 DANIELE GONÇALVES STEFANINI USO SUSTENTÁVEL DA BACIA DO RIO SÃO FRANCISCO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência parcial para obtenção de título de Graduação do Curso de Engenharia Civil da Universidade Anhembi Morumbi Orientador: Prof. Dr. Sidney Lazaro Martins São Paulo 2006 3 DANIELE GONÇALVES STEFANINI USO SUSTENTÁVEL DA BACIA DO RIO SÃO FRANCISCO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência parcial para obtenção de título de Graduação do Curso de Engenharia Civil da Universidade Anhembi Morumbi Trabalho___________________em:_______de_________________de 2006. _________________________________ Profº Dr. Sidney Lazaro Martins _________________________________ Profª Dra. Adir Janete Godoy Comentários:_________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 4 Dedico este estudo à minha família e meus amigos, em especial à minha filha Julia e meu marido Jorge, cuja paciência, incentivo e carinho foram fundamentais em minha jornada até aqui. Com amor. 5 AGRADECIMENTOS Agradeço, primeiramente a Deus, que me deu forças e coragem para chegar até aqui. Agradeço também a todos os professores do curso de Engenharia Civil, tão fundamentais, com todo o seu talento e paciência, no esforço desde o inicio desta caminhada. Agradeço em especial ao meu orientador, por sua simpatia, paciência, esmero e atenção. Aos meus colegas e amigos de curso, pelo apoio, pela contribuição e por tudo. Obrigada, a todos! 6 RESUMO A água, como recurso natural, sob o foco da utilização sustentável e suas diversas possibilidades de uso, é o objeto deste estudo. O Semi-árido Nordestino é marcado por uma acentuada má distribuição de chuvas. Além disso, suas características geológicas implicam em uma pequena capacidade de recarga do lençol freático e um escoamento superficial bastante elevado. A estes fatores soma-se ainda a ocorrências sucessivas de períodos de seca dando origem a eventos extremos, com mais de um ano sem que ocorra escoamento natural nos rios. Estas características das disponibilidades hídricas na região tornam impossível o desenvolvimento de qualquer atividade econômica sustentável, sem que se promova, de alguma forma, a regularização e garantia da disponibilidade hídrica. Este estudo expõe o cenário da crise ambiental e as necessidades sócio-econômicas da sociedade atual, e traz à tona uma realidade dualista em que vive o homem sertanejo, que há séculos convive entre a seca e a fartura, a realidade e o sonho, a miséria e a promessa de um futuro melhor. No desenvolvimento do estudo, a proposta do uso sustentável é apresentada sem se desprender da questão macro do nordeste, que é a disponibilidade de água, e que sempre se constitui em um fator limitante para o desenvolvimento econômico dessa região. Palavras-chave: Rio São Francisco, Uso sustentável. 7 ABSTRACT The aim of this report is the study of the water as natural resource regarding its sustainable use and several possibilities of application. The semi-dry Brazilian Northeast is marked by an intense irregular rain distribution. Furthermore, the northeastern geological features result in low capacities of reloading the underground reserves and high rate of superficial water flow. In addition, the region is constantly affected by non-raining seasons, which originate critical events, as per long periods even years without natural river flows. These hydro characteristics turn any attempt of sustainable economic development impossible unless some regularization and guarantee of the hydro availability are promoted. The analyses herein expose the scenario of environmental weakness and the social-economic needs of the current society. Besides, it is brought to light the dual reality of the northeastern countrymen who have been living for centuries between dry seasons and abundance, the real and dream world, the misery and the certainty of a better future. Along the development of this report the purpose of sustainable use for water is presented keeping in mind the macro matter of Brazilian Northeast, the water availability, which has long consisted a limitation for the region economic development. Keywords: São Francisco river, sustainable use. 8 LISTA DE FIGURAS Figura 5.1 : Posição Geográfica da Bacia do Rio São Francisco...............................19 Figura 5.2 : Eclusa de Sobradinho.............................................................................38 Figura 5.3 : Comparativo entre meios de transporte..................................................38 Figura 5.4 : Usina Hidrelétrica de Sobradinho............................................................42 Figura 5.5 : Usina Hidrelétrica de Luiz Gonzaga........................................................43 Figura 5.6 : Complexo Hidrelétrico de Paulo Afonso..................................................44 Figura 5.7 : Usina Hidrelétrica de Paulo Afonso.........................................................46 Figura 5.8 : Usina Hidrelétrica de Apolônio Sales......................................................47 Figura 5.8 : Usina Hidrelétrica de Xingó.....................................................................48 Figura 6.1 : Posição Geográfica do Projeto................................................................61 Figura 6.2 : Esquema das Intervenções Hidráulicas..................................................66 Figura 6.3 : Os Dois Canais do Projeto......................................................................68 9 LISTA DE TABELAS Tabela 5.1 : Características Físicas da Bacia............................................................20 Tabela 5.2: Relação Modal de Transporte x Área Desmatada..................................39 10 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AHSFRA ANA AID AII APA ARIE ADA CEMIG CVSF CASAL CODEVASF FRANAVE CODEBA CHESF DNOCS DNOS EIA FUNCATE FUNASA FUNAI IDI IOCS IBGE EMBRATUR IBAMA IHGB INPE MI ONU PAC PRSF PROAD PIBHI RIMA RPPN SESPRE TVA UnB Administração da Hidrovia do São Francisco Agência Nacional de Águas Área de Influência Direta Área de Influência Indireta Área de Proteção Ambiental Área de Relevante Interesse Ecológico Área Diretamente Afetada Centrais Elétricas de Minas Gerais S.A Comissão do Vale do São Francisco Companhia de Abastecimento de Água e Saneamento do Estado de Alagoas Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco Companhia de Navegação do São Francisco Companhia Docas do Estado da Bahia Companhia Hidro Elétrica do São Francisco Departamento Nacional de Obras Contra as Secas Departamento Nacional de Obras e Saneamento Estudo de Impacto Ambiental Fundação de Ciência, Aplicação e Tecnologia Espaciais Fundação Nacional de Saúde Fundação Nacional do Índio Índice de desenvolvimento humano Inspetoria de Obras Contra as Secas Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Instituto Brasileiro de Turismo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais Ministério da Integração Nacional Organização das Nações Unidas Plano Ambiental de Construção Programa de Revitalização do Rio São Francisco Projeto de Armazenamento e distribuição de Águas Projeto de Integração de Bacias Hidrográficas Relatório de Impactos ao Meio Ambiente Reserva Particular de Patrimônio Natural Secretaria Especial da Presidência Tennesse Valley Authority Universidade de Brasília 11 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ...........................................................................................13 2. OBJETIVOS ................................................................................................14 2.1. 2.2. Objetivo Geral ...........................................................................................14 Objetivo Específico ...................................................................................14 3. MÉTODO DE TRABALHO ......................................................................15 4. JUSTIFICATIVA ........................................................................................16 5. O USO SUSTENTÁVEL PARA A BACIA DO RIO SÃO FRANCISCO .........17 5.1. 5.2. 5.3.1 5.3.2 5.3.3 História do Rio São Francisco .................................................................17 Apresentação da Bacia do Rio São Francisco ......................................18 Características Físicas................................................................................20 Principais Afluentes.....................................................................................21 Economia ....................................................................................................21 5.4 Abastecimento humano / Dessedentação de animais .........................22 5.5 Transporte hidroviário ..............................................................................23 5.5.1 Condições de Navegabilidade ....................................................................26 5.5.2 Trecho Pirapora - São Francisco ................................................................27 5.5.3 Trecho São Francisco – Barra ....................................................................28 5.5.4 Lago de Sobradinho....................................................................................28 5.5.5 Trecho Sobradinho – Petrolina/Juazeiro .....................................................29 5.5.6 Trecho Petrolina/Juazeiro – Barragem de Itaparica ....................................30 5.5.7 Trecho entre Itaparica e Piranhas ...............................................................30 5.5.8 Baixo Curso ................................................................................................30 5.5.9 Afluentes .....................................................................................................31 5.5.10 Navegação no rio Corrente.........................................................................31 5.5.11 Navegação no rio Grande...........................................................................32 5.6 As Instalações Portuárias ........................................................................33 5.6.1 Porto de Pirapora ........................................................................................34 5.6.2 Portos de Ibotirama e Muquém do São Francisco ......................................35 5.6.3 Porto de Juazeiro ........................................................................................35 5.6.4 Porto de Petrolina .......................................................................................35 5.6.5 Portos de Barreiras e Januária ...................................................................36 5.7 A Hidrovia ..................................................................................................36 5.7.1 Eclusa de Sobradinho .................................................................................37 5.7.2 Impactos Ambientais dos Modais de Transporte – Comparativo ................38 5.8 Geração de energia elétrica ....................................................................39 5.9 Usinas Hidrelétricas..................................................................................40 5.9.1 Três Marias .................................................................................................40 5.9.2 Sobradinho..................................................................................................41 5.9.3 Luiz Gonzaga (Itaparica).............................................................................43 5.9.4 Complexo Paulo Afonso (I, II, III) ................................................................44 5.9.5 Usina de Paulo Afonso IV ...........................................................................46 5.9.6 Usina Apolônio Sales (Moxotó) ...................................................................47 5.9.7 Xingó...........................................................................................................48 12 5.10 5.11 Irrigação .....................................................................................................49 Turismo ......................................................................................................51 5.9.8 5.9.9 5.9.10 5.9.11 5.9.12 Turismo Técnico..........................................................................................51 Turismo de Aventura...................................................................................51 Lazer...........................................................................................................52 Turismo Ecológico ......................................................................................52 Turismo Histórico........................................................................................53 5.12 Uso das águas subterrâneas ..................................................................53 5.13 Piscicultura ................................................................................................54 6 A TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO ..........................................58 6.1 A História do Sistema de Integração do rio São Francisco .................58 6.2 O Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional .............................................................59 6.3 Sobre o projeto de engenharia................................................................64 6.4 Sinergia Hídrica ........................................................................................68 6.5 O abastecimento urbano..........................................................................69 6.6 O uso difuso ..............................................................................................70 6.7 O ganho da irrigação ................................................................................70 6.8 Cronograma de implantação ...................................................................71 6.9 As Áreas de Influência .............................................................................71 6.10 As Unidades de Conservação .................................................................72 6.11 Os animais da região ...............................................................................72 6.12 Estudos sobre o homem ..........................................................................74 6.13 As comunidades indígenas .....................................................................75 6.14 Os impactos e as medidas propostas ....................................................75 6.15 O que pode acontecer se o projeto não for realizado ..........................78 6.16 E caso o projeto de integração seja realizado ......................................80 6.17 Transposição: Uma grande polêmica .....................................................83 6.18 Algumas sugestões para as regiões do Semi-Árido e do São Francisco ...............................................................................................................91 7 ANÁLISE CRÍTICA .................................................................................102 8 CONCLUSÕES ........................................................................................104 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................105 13 1. INTRODUÇÃO Uso sustentável trata-se da capacidade de desenvolver atividades econômicas e, ao mesmo tempo, manter a vitalidade dos ecossistemas. O uso sustentável baseia-se na consideração da multiplicidade dos ecossistemas e os conflitos, sejam eles existentes ou potenciais, entre os interesses dos vários setores, sejam eles econômico, social, cultural, científico ou ambiental, medindo o impacto provocado pelas atividades humanas e implementando ações mitigadoras, devendo compatibilizar em todos os sentidos, o crescimento econômico, a conservação ambiental, a qualidade de vida e a eqüidade social. Tem origem social e cultural o comportamento humano que agrava os efeitos da seca ou da enchente – pelo desmatamento, pela ocupação das várzeas dos rios, pela impermeabilização do solo no meio urbano, pelo desperdício da água disponível, pelo lançamento de esgoto não-tratado nos rios, enfim, pelo mau uso dos recursos hídricos disponíveis, por toda a história. Diante deste contexto, a questão ambiental exige a integração de diferentes áreas, já que a interação entre a sociedade e a natureza são indissociáveis e os fatos ecológicos são também indissociáveis dos fatos sociais. Abordando sobre o tema da bacia hidrográfica, vale lembrar que o recurso hídrico, embora renovável, é finito e escasso. 14 2. OBJETIVOS O objetivo deste trabalho é a proporcionar e registrar a divulgação dos dados técnicos obtidos e analisados, proporcionando fontes de pesquisas fiéis, auxiliando assim futuros trabalhos de consulta e pesquisa. 2.1. Objetivo Geral A avaliação de problemas de uso da água de uma determinada região já não pode se restringir ao simples balanço entre oferta e demanda. Deve abranger também os inter-relacionamentos entre os seus recursos hídricos com as demais peculiaridades geo-físico-ambientais e sócio-culturais, visando assim a qualidade de vida da população, o desenvolvimento social, econômico e a conservação do meioambiente. 2.2. Objetivo Específico Tem este trabalho o objetivo de dissertar sobre as diversas obras de engenharia realizadas na Bacia do Rio São Francisco, expondo os impactos por elas causados. O enfoque será a explanação das diversas intervenções humanas para a melhoria de qualidade de vida local e suas conseqüências. 15 3. MÉTODO DE TRABALHO Serão efetuadas pesquisas literárias e em sites especializados, bem como utilizadas fontes como os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O método deste trabalho será através da explanação de dados em fontes oficiais, bem como artigos e textos de teor técnico e sócio-cultural de diversos setores da sociedade também serão estudados e analisados. 16 4. JUSTIFICATIVA Nada pode ou deve ser mais importante ao ser humano que o bom uso da água. A humanidade já passou por diversas crises, como de epidemias, de alimentos e de petróleo. Provavelmente, as próximas serão de energia e de disponibilidade de água de boa qualidade. Água é vida, água elemento vital, água purificadora, água recurso renovável são alguns dos significados referidos em diferentes mitologias, religiões, povos e culturas, em todas as épocas. Dada a importância da Bacia do Rio São Francisco, pelos seus múltiplos usos, e principalmente números de pessoas beneficiadas por suas águas, tem este trabalho a intenção de, primeiramente apresentar as obras de engenharia mais importantes, mas principalmente discorrer e analisar os impactos no ambiente onde foram instalados, visando assim contribuir ainda mais ao estudo e análise de soluções viáveis para as interferências humanas, buscando o melhor aproveitamento da Bacia do Rio São Francisco. 17 5. O USO SUSTENTÁVEL PARA A BACIA DO RIO SÃO FRANCISCO Neste capítulo, serão explanadas as características da bacia do Rio São Francisco, tendo como foco as intervenções humanas dentro da engenharia civil, com suas diversa obras, e seus impactos mais relevantes. 5.1. História do Rio São Francisco A Foz do Rio São Francisco foi encontrada pelos navegadores europeus André Gonçalves e Américo Vespúcio no dia 4 de outubro de 1501. Cumprindo uma tradição cristã, na época da descoberta do Brasil, o rio recebeu o nome do santo do dia (CHESF, 2006). “Por outros caminhos, o homem europeu chegou aos outros trechos do rio São Francisco: quase cinqüenta anos após, em 29 de março de 1549, chegou ao Brasil a comitiva do primeiro governador geral: Tomé de Souza, e a partir desse ano iniciou-se a penetração dos desbravadores dos quais, no Nordeste, o mais importante foi Garcia D'Ávila, fundador da Casa de mesmo nome, e de cujo imóvel sede foram encontrados vestígios quando do início da construção do aproveitamento hidrelétrico de Sobradinho, na década de 1970 (CHESF, 2006)”. “Garcia D'Ávila deslocou-se do litoral baiano até o Piauí, e entre esses dois pontos extremos, chegou ao médio São Francisco, passando a praticar nas suas margens a pecuária extensiva (CHESF, 2006)”. “O gado trazido nas caravelas era instalado em currais nos quais eram deixadas dez novilhas, um touro e um casal de escravos. Foi assim que surgiram as primeiras vilas nas margens do Rio São Francisco, e daí também se originou a denominação de Rio dos Currais, hoje substituída pelo apelido carinhoso dos barranqueiros: Velho Chico (CHESF, 2006)”. No início deste século, a área de 640.000 km² da bacia do Rio São Francisco contabiliza 504 municípios e sua população ultrapassa os treze milhões de 18 habitantes. Além do Rio São Francisco, fazem parte de sua bacia oitenta afluentes perenes e vinte e sete intermitentes (CHESF, 2006). 5.2. Apresentação da Bacia do Rio São Francisco Com 2.800 km de extensão e drenando uma área de aproximadamente 641.000 km², o rio São Francisco tem sua nascente na Serra da Canastra, Estado de Minas Gerais, e desemboca no Oceano Atlântico, entre os Estados de Sergipe e Alagoas. Apresenta dois estirões navegáveis: o médio São Francisco, com aproximadamente 1.371 km de extensão, entre Pirapora (MG) e Juazeiro (BA) / Petrolina (PE) e o baixo São Francisco, com 208 km, entre Piranhas (AL) e a foz, no Oceano Atlântico (CHESF, 2006). O rio São Francisco atravessa regiões com condições naturais das mais diversas. As partes extremas: superior e inferior da bacia apresentam altos índices pluviométricos, enquanto os seus cursos médio e sub-médio atravessam áreas de clima bastante seco. Assim, cerca de 75% do deflúvio do São Francisco é gerado em Minas Gerais, cuja área da bacia ali inserida é de apenas 37% da área total (CHESF, 2006). A área compreendida entre a fronteira Minas-Bahia e a cidade de Juazeiro (BA), representa 45% do vale e contribui com apenas 20% do deflúvio anual (CHESF, 2006). Os aluviões recentes, os arenitos e calcários, que dominam boa parte da bacia de drenagem, funcionam como verdadeiras esponjas para reterem e liberarem as águas nos meses de estiagem, a tal ponto que, em Pirapora (MG), Januária (MG) e até mesmo em Carinhanha (BA), o mínimo se dá em setembro, dois meses após o mínimo pluvial de julho (CHESF, 2006). À medida que o São Francisco penetra na zona sertaneja semi-árida, apesar da intensa evaporação, da baixa pluviosidade e dos afluentes temporários da margem direita, tem seu volume d'água diminuído, mas mantém-se perene, graças ao 19 mecanismo de retroalimentação proveniente do seu alto curso e dos afluentes no centro de Minas Gerais e oeste da Bahia, conforme ilustra a figura abaixo (CHESF, 2006): Figura 5.1: Posição Geográfica da Bacia do Rio São Francisco (Fonte: CHESF, 2006) As condições pluviométricas, no baixo curso do Rio São Francisco diferem das constatadas no médio e alto cursos. No baixo vale os meses com maior índice pluviométrico são geralmente os de maio, junho e julho. O período de estiagem perdura de setembro a fevereiro, sendo outubro o mês menos chuvoso (CHESF, 2006). 20 5.3.1 Características Físicas A bacia do Rio São Francisco possui características físicas diversas, conforma pode ser observado abaixo: Tabela 5.1: Características Físicas da bacia Extensão do Rio São Francisco Vazão média de longo período na foz Afluentes Área da bacia Número de municípios População Estados integrantes da bacia Regiões fisiográficas Cobertura vegetal predominante Trechos navegáveis do Rio São Francisco Principais cidades da bacia Área irrigável da bacia Principais Atividades Econômicas Índice de Desenvolvimento Humano - IDH Precipitação Média Anual em mm Fonte: CHESF, 2006 2.863 km 2.850 m³/s 80 rios perenes e 27 intermitentes 640.000 km² 504 Acima de 13 milhões de habitantes Minas Gerais, Goiás, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe, Distrito Federal Alto, Médio, Submédio e Baixo São Francisco Cerrados, Caatingas, Fragmentos de Florestas, Pequenas Matas de Serra, Mangues e Vegetação Litorânea. 1.234 km entre o Alto (cidade de Pirapora) e Submédio (cidades de Petrolina e Juazeiro); 204 km no baixo São Francisco entre a cidade de Piranhas e a Foz. Região Metropolitana de Belo Horizonte, Montes Claros, Januária, Barreiras, Bom Jesus da Lapa, Petrolina, Juazeiro, Arapiraca, Penedo. Cerca de 3 milhões de hectares No Alto São Francisco: indústria, Mineração e Pecuária. No Médio: Agricultura, Pecuária e indústria. No Submédio: Agricultura, Pecuária, Agroindústria e Geração de Energia. No Baixo: Agricultura, Pecuária e Pesca. Alto São Francisco (0,549 a 0,802); Médio (0,343 a 0,724); Submédio (0,434 a 0,664); Baixo (0,364 a 0,534). Mínimo de 350 milímetros em microrregiões do submédio e baixo, a um máximo de 2000 milímetros em microrregiões do Alto São Francisco. 21 5.3.2 Principais Afluentes A Bacia do Rio São Francisco conta com diversos afluentes, onde se destacam: • Rio Paraopeba; • Rio Abaeté; • Rio das Velhas; • Rio Jequitaí; • Rio Paracatu; • Rio Urucuia; • Rio Verde Grande; • Rio Carinhanha; • Rio Corrente; • Rio Grande. • 5.3.3 Economia O início da exploração econômica da Bacia Hidrográfica do São Francisco se deu no Século XVI com a plantação de cana-de-açúcar no Baixo São Francisco, a pecuária bovina no agreste e sertão e a extração mineral no Alto São Francisco (CHESF, 2006). “No Século XIX, com a ocorrência de diversos fatores econômicos, tais como o desenvolvimento da produção cafeeira no sudeste, o esgotamento dos depósitos aluvionais de ouro, a queda do preço internacional do açúcar e o início das obras de infra-estrutura no litoral brasileiro, a economia da Bacia passou por uma fase de involução” (CHESF, 2006). “No início do Século XX, o Alto São Francisco procurou se integrar à economia do sudeste brasileiro, baseada na produção cafeeira e na industrialização ainda incipiente. As áreas do Médio e do Submédio São Francisco foram, então, fortemente afetadas, uma vez que ficaram isoladas, vivendo da agricultura de subsistência. Na região do Baixo São Francisco, procurou-se ampliar a área de produção de cana-de-açúcar” (CHESF, 2006). 22 “A zona semi-árida, que, com o agreste, compreende 50% da área total da Bacia Hidrográfica do São Francisco, teve como principais atividades econômicas a pecuária, o algodão e as culturas de subsistência. A produção de algodão existiu até o final da década de 70 a meados dos anos 80 do século passado. Após esse período, as pequenas e médias cidades da Bacia começaram a receber contingentes populacionais sem qualificação profissional para atuarem nas fracas economias urbanas, que não têm, até hoje, infra-estrutura e atividades econômicas capazes de absorvê-los” (CHESF, 2006). 5.4 Abastecimento humano / Dessedentação de animais As águas do São Francisco e de seus afluentes são consideradas de boa qualidade, demandando apenas de tratamento convencional para abastecimento humano (CODEVASF, 2006). De acordo com a ANA (Agência Nacional de Águas), “o consumo de água para fins de abastecimento humano das sedes municipais instaladas ao longo do curso do rio São Francisco à montante da barragem de Três Marias é quase que exclusivamente provido por águas subterrâneas somente a cidade de Três Marias consome águas do reservatório homônimo -, como também o é o consumo para abastecimento humano e dessedentação de animais na zona rural de todos os municípios atravessados pelo rio. No trecho à jusante da barragem de Três Marias, as cidades de Buritizeiro e Pirapora, situadas uma defronte à outra, respectivamente às margens esquerda e direita do rio, donde retiram diretamente a água para abastecimento da população, representam o aglomerado urbano mais importante do seu alto curso”. Dentre as técnicas que podem ser consideradas com o objetivo de maximizar a disponibilidade de água destacam-se: implantação de cisternas, construção de poços tubulares, uso de dessalinizadores, implementação de processos para recarga artificial dos aqüíferos, construção de reservatórios superficiais, construção de barragens subterrâneas, etc, segundo a UnB (Universidade de Brasília). Para a implementação das técnicas anteriormente descritas, alguns preceitos devem ser considerados, tais como: dimensionamento adequado das cisternas, de forma a 23 se construir um reservatório impermeável com capacidade de armazenar água de chuva para consumo no período médio da época das secas; os poços tubulares devem ser localizados em zonas potencialmente produtoras e sua locação deve ser precedida de estudos técnicos, de forma a se alcançar as máximas vazões; a implantação de dessalinizadores deve representar um processo integrado com previsão de recursos para substituição das membranas filtrantes e com sistema adequado para disposição final do sal acumulado; os projetos de recarga artificial dos aqüíferos devem considerar o excedente das águas de precipitação nos restritos períodos de superávit. A natureza da maioria dos aqüíferos do semi-árido dificulta a implantação dessa técnica, assim é necessário investimento em pesquisa básica para sua viabilização; os açudes eventualmente construídos devem ser eficientes, no sentido de manter um balanço hídrico positivo, ou seja, açudes com a máxima profundidade e mínima área, de forma que as perdas por evaporação direta sejam reduzidas e não ocorram problemas de salinização ou demasiada depleção dos níveis em épocas secas prolongadas (UnB, 2006). 5.5 Transporte hidroviário Em viagem de reconhecimento das costas do Brasil, Américo Vespúcio descobriu, no dia 4 de outubro de 1501, a barra de um rio. Por ser dia de São Francisco de Assis, deu ao rio o nome de São Francisco (ANA, 2006). Os primeiros exploradores portugueses começaram a subir o rio por volta de 1520. O primeiro núcleo de colonização da região foi a atual cidade de Penedo. De acordo com o Jornal do Ministério Público do Estado de Alagoas, a fundação de uma fortificação primitiva tornou oficial a ocupação do território alagoano pelos colonizadores portugueses, já que, desde 1522, existia no local um entreposto de pau-brasil controlado pelos franceses (ANA, 2006). A tradição de navegante do português levou o colonizador a utilizar a experiência do nativo, juntar as canoas em amarrados de quatro, cinco ou seis unidades formando os “ajoujos”, primeira modalidade de embarcação para o transporte de cargas que existiu, por muitos anos, na navegação regional (ANA, 2006). 24 Entre 1852 e 1854, o engenheiro alemão Henrique Guilherme Halfeld, a mando do imperador D. Pedro II, desceu o rio São Francisco desde Pirapora até o oceano confeccionando, em detalhe, légua a légua, um “Atlas de Navegação” (ANA, 2006). Ainda no Império, o Conselheiro Saldanha Marinho, pretendendo demonstrar a viabilidade e inaugurar a navegação no rio da unidade nacional, desceu de barco o rio das Velhas, desde Sabará até o São Francisco (ANA, 2006). A navegação, que já era franca no baixo São Francisco, não podia alcançar o médio curso por causa da existência de cachoeiras (ANA, 2006). A partir da segunda metade do século XVIII, o transporte no médio São Francisco era feito principalmente por barcas, impulsionada pela ação de remeiros (ANA, 2006). O predomínio das barcas motorizadas se estendeu por muitos anos atingindo sua fase áurea entre 1958 e 1972, época de grande euforia financeira e de movimentação comercial (ANA, 2006). Os “americanos” eram vapores originários do Mississipi. Ainda hoje em atividade - o Benjamin Guimarães foi construído em 1913, nos EUA e aqui chegou na década de 20, depois de navegar por algum tempo no Amazonas. Este navio, junto com outros vapores da mesma origem, os “gaiolas” Barão de Cotegipe, Wenceslau Braz e São Francisco constituíam a frota de vapores que durante décadas navegaram e simbolizaram a navegação no São Francisco, marcando importante ciclo na vida da região (ANA, 2006). Entre 1957 e 1961, foi construída no rio São Francisco a barragem de Três Marias. Localizada no alto São Francisco, a obra teve como principais finalidades a regularização das vazões do rio São Francisco e a melhoria da navegabilidade, bem como a utilização do potencial hidroelétrico e o fomento da indústria e da irrigação (ANA, 2006). 25 Assim, a barragem contribuiu eficazmente para a melhoria da navegabilidade do rio, em conseqüência da regularização das descargas que se tornaram mais favoráveis para a navegação, na época das estiagens, e menos preocupante para os ribeirinhos, por ocasião das enchentes. O incremento da navegação propiciou a ampliação dos portos de Pirapora, Juazeiro e Petrolina e, em 1980, foi construído o porto de Ibotirama, este especializado no transporte de cereais (ANA, 2006). Com a construção da barragem de Sobradinho a navegação no rio São Francisco foi consideravelmente reduzida. Durante as obras, entre 1972 e 1978, a navegação foi interrompida em seu acesso aos portos de Juazeiro e Petrolina (ANA, 2006). Com a conclusão das obras da eclusa da barragem de Sobradinho, em 1978, a navegação no rio São Francisco retomou o tráfego até os portos de Juazeiro e Petrolina. A navegação no trecho entre a barragem de Sobradinho e Petrolina/Juazeiro foi melhorada com o aumento das descargas liberadas pela barragem, com o derrocamento dos pedrais para permitir o calado de 1,50 m e com a sinalização e balizamentos implantados (ANA, 2006). No trecho superior, entre Pirapora e Ibotirama, entretanto, a navegação passou a sofrer contínuos reveses devido ao intenso e continuado processo de assoreamento que o rio vem apresentando (ANA, 2006). Atualmente, a navegação mais significativa está restrita ao trecho entre Muquém do São Francisco, ou Ibotirama, e Juazeiro/Petrolina. Mesmo assim, ela se dá com enorme dificuldade na entrada do lago, aonde um intenso processo de assoreamento vem se verificando, entre Xique-Xique e Pilão Arcado. Além destes inconvenientes, a irregularidade da liberação de descargas pela barragem de Sobradinho vem provocando inúmeros contratempos para a navegação no trecho entre a esta e as cidades de Petrolina e Juazeiro. Às vezes, as descargas atingem a cifra de apenas 1.100 m³/s, incompatível com os calados praticados pelas embarcações. Já no baixo São Francisco, a jusante de Piranhas, a navegação está hoje restrita ao deslocamento de embarcações de pescadores (ANA, 2006). A navegação é atividade tradicional no rio São Francisco e em alguns de seus afluentes. Ligando o Sudeste, onde nasce, ao Nordeste, onde se lança no oceano, o 26 rio São Francisco sempre desempenhou, graças às suas condições naturais, a missão de eixo privilegiado de transporte das regiões interioranas dos Estados de Minas Gerais, Bahia e Pernambuco (ANA, 2006). No trecho em que banha estes Estados, o chamado médio São Francisco, o rio apresenta um estirão contínuo, de 1.370 km, naturalmente navegável. Dois de seus afluentes, os rios Grande e Corrente, também oferecem condições de navegabilidade semelhantes às do rio principal, que é bastante influenciado pelo regime hidrológico, caracterizado pela “estação úmida” - novembro a março e pela “estação” seca - maio a setembro (ANA, 2006). Embora as condições naturais de navegabilidade dos trechos mencionados fossem, no passado, consideradas como excelentes, permitindo que o rio atendesse, a contento, a demanda de transporte então existente, a situação atual não permite que essa classificação seja mantida. Tal estado decorre não só da generalizada intervenção humana desencadeada no vale e intensificada nos últimos anos, mas principalmente a que foi efetivada no rio principal. Essa ação antrópica acabou por modificar substancialmente as características de escoamento das águas, acarretando profundas alterações na dinâmica fluvial com sérias repercussões para a navegação (ANA, 2006). O planejamento do desenvolvimento de uma via navegável interior deve ser integrado, contemplando os usos múltiplos dos recursos hídricos, os usos do solo na área da bacia e a proteção ambiental. Uma melhora nas condições da hidrovia aumenta a competitividade das diversas atividades econômicas das regiões adjacentes, por causa do barateamento do frete. Isso faz com que ocorra o desenvolvimento dessas atividades, o que pode causar demandas para novas ampliações da hidrovia (ANA, 2006). 5.5.1 Condições de Navegabilidade Segundo a AHFRA (Administração da Hidrovia do São Francisco), o rio São Francisco oferece condições naturais de navegação entre Pirapora-MG e Petrolina - 27 PE/Juazeiro - BA, durante todo o ano, com variação de calado segundo o regime de chuvas. 5.5.2 Trecho Pirapora - São Francisco Neste trecho, de 200 km, o rio está diretamente influenciado pelas descargas liberadas pela barragem de Três Marias, durante o período de estiagem. Esta influência é mais pronunciada entre Pirapora e a foz do rio das Velhas (ANA, 2006). Em todo o trecho, até São Francisco, a mobilidade dos bancos de areia decorre da intermitência das vazões. Se a barragem de Três Marias mantivesse a descarga instantânea de 500 m³/s seria garantido, a jusante de Pirapora, uma lâmina d’água mínima de 1,60 m. A oscilação brusca das vazões, além de provocar assoreamentos em pontos incertos do canal, acarreta a instabilidade dos bancos de areia tornando impreciso os seus posicionamentos (ANA, 2006). O poder regularizador da barragem teve o efeito benéfico de incremento das vazões mínimas no período de estiagem. As vazões médias de longo termo do rio São Francisco em Três Marias são de 707 m³/s. As vazões médias liberadas pela barragem no período de estiagem são bastante superiores às vazões naturais ocorrentes neste período. Antes da barragem, nas estiagens mais rigorosas, como as de 1954 e 1955, as vazões chegaram a atingir 130 m³/s, em Pirapora e 600 m³/s, em Juazeiro (ANA, 2006). Neste trecho não há nenhuma ponte sobre o rio, mas existe uma travessia por balsa em São Romão (ANA, 2006). Entre Pirapora e São Francisco, o único trecho rochoso é o que se encontra a montante perto da foz do rio Paracatu, conhecido como cachoeira da Manteiga, aonde os pedrais chegam a aflorar em águas baixas deixando livre um portão restrito para a navegação. Este portão, em condições naturais, apresentava exíguos 18 m, mas foi alargado para 30,0 m, em 1975, por derrocagem (ANA, 2006). 28 Atualmente, a navegação no trecho está praticamente interrompida em conseqüência do aumento da quantidade de bancos de areia e da paralisação dos serviços de dragagem por parte da AHSFRA, bem como porque os armadores não têm se mostrado interessados em realizar o transporte (ANA, 2006). 5.5.3 Trecho São Francisco – Barra Este trecho, de cerca de 700 km de extensão, não difere muito do anterior e apresenta praticamente as mesmas características quanto à morfologia do leito apenas com uma incidência maior dos passos de fundo rochoso. Espelhando o fato de que o grande manancial das águas do São Francisco provém do trecho mineiro, constata-se que, na divisa Minas- Bahia, a vazão de longo termo atinge 2.200 m³/s (ANA, 2006). Atualmente, a navegação comercial não está sendo praticada no trecho em virtude, principalmente, do assoreamento da calha fluvial e do desinteresse dos armadores em realizar o transporte (ANA, 2006). No final de jusante deste trecho, encontram-se os portos de Muquém do São Francisco e Ibotirama, os quais vêm sendo utilizados no transporte de cereais da região de Barreiras com destino a Petrolina (ANA, 2006). 5.5.4 Lago de Sobradinho O lago de Sobradinho formou-se em decorrência da construção da barragem para fins de regularização das descargas visando aumentar o potencial de geração das usinas. A criação do lago modificou radicalmente a navegação no trecho. A barragem foi construída para represar as águas na cota máxima de 392,50 m. A cota mínima operacional para geração é de 380,38 m e, para a navegação, de 380,50 m. Para a cota máxima o espelho d’água ultrapassa a ilha do Gado Bravo atingindo as proximidades da cidade de Barra. Em cota mínima o nível d’água fica nas proximidades da cidade de Pilão Arcado (cota do zero igual a 380,00 m). O nível 29 d’água pode oscilar numa extensão de cerca de 120 km, entre Pilão Arcado e Jatobá. Na prática, entretanto, em 95% do tempo, o nível d’água tem oscilado entre as cotas de 388,0 e 383,5 m (ANA, 2006). Neste trecho superior do lago vem ocorrendo intenso processo de assoreamento formando o efeito delta, o que torna a rota imprecisa, desacreditando a sinalização indicativa do canal de navegação e promovendo freqüentes encalhes nos passes de Goiabeira, próximo a Xique-xique e do Rodrigo, cerca de 5,0 km a jusante desta cidade (ANA, 2006). 5.5.5 Trecho Sobradinho – Petrolina/Juazeiro A Barragem de Sobradinho é transposta por uma eclusa de 32,50 m de queda cujas dimensões em planta são: 120,00 m de comprimento por 17,00 m de largura. A capacidade efetiva de tráfego é de 8.000.000 t/ano. Os comboios que trafegam no trecho compreendido entre os portos de Muquém do São Francisco, ou Ibotirama, e Petrolina/Juazeiro costumam deslocar cerca de 2.000 toneladas, com calado de 1,70 m, mas em águas mínimas, reduzem sua capacidade para 1.300 a 1.400 t, condição esta imposta pelo trecho em que o rio é navegado em corrente livre. O rio São Francisco, a jusante da barragem, corre em leito de fundo rochoso. As condições de navegabilidade deste trecho, de 42 km, é função exclusiva das descargas liberadas pela barragem. A vazão regularizada de 2.050 m³/s foi tomada como referência para a realização dos derrocamentos levados a efeito na década de 80, destinados a garantir o calado de 1,50 m e profundidade mínima de 2,00 m em todo o trecho (ANA, 2006). Entretanto, esta posição não tem prevalecido e, em condições normais de operação, a usina vem liberando vazões entre 1.300 e 4.000 m³/s, o que nem sempre atende às condições necessárias para a navegação. Em períodos críticos a vazão liberada é reduzida drasticamente (tendo chegado a até 900 m³/s, como ocorreu em 2001) ocasião em que a navegação tem se valido da prática de se deslocar em “ondas de surfe” (ANA, 2006). 30 5.5.6 Trecho Petrolina/Juazeiro – Barragem de Itaparica Neste trecho, o rio São Francisco não é considerado navegável. Nos 160 km que vão de Juazeiro a Santa Maria da Boa Vista, com declividade de cerca de 8,9 cm/km, a navegação, em corrente livre, ainda seria possível dependendo da realização de melhoramentos na calha fluvial. Estes melhoramentos implicam em derrocamentos vultosos e não se antevê interesse dos armadores em estender a navegação para jusante (ANA, 2006). Entre Santa Maria da Boa Vista e Belém do São Francisco, num estirão de 101 km, a navegação é impossível, a menos que se conte com a canalização. A declividade média neste trecho é da ordem de 30 cm/km (ANA, 2006). Com a construção da barragem de Itaparica, o trecho de 200 km a jusante de Belém do São Francisco, constituído pelo lago desta barragem, passou a ser navegável, porém este trecho encontra-se isolado do estirão de montante (ANA, 2006). 5.5.7 Trecho entre Itaparica e Piranhas No trecho entre a barragem de Itaparica e a cidade de Piranhas, em Alagoas, a navegação não só é impossível como dificilmente poderá ser implantada num futuro próximo. O rio São Francisco, neste trecho de 105 km, cai da cota topográfica de 252,00 m para 13,00 m, com uma declividade de 228 cm/km (ANA, 2006). Neste estirão encontra-se a barragem de Moxotó, os aproveitamentos hidroelétricos de Paulo Afonso I, II, III, IV e V e o lago da barragem de Xingó, que se acha encravado no cânion do São Francisco, abaixo das cachoeiras (ANA, 2006). 5.5.8 Baixo Curso O trecho de 208 km que se estende entre a cidade de Piranhas e a foz no Atlântico, com declividade média de 6,2 cm/km, é considerado navegável e foi, outrora, freqüentado inclusive por embarcações de cabotagem que atingiam o porto fluvial de 31 Penedo. Esta navegação deixou de ser praticada em decorrência do intenso assoreamento que se verifica na embocadura onde, hoje em dia, as profundidades são da ordem de apenas 2,00 m (ANA, 2006). Até os anos 80, a navegação no baixo São Francisco era bastante significativa e as embarcações podiam contar, em todo o trecho, com profundidade mínima de 2,50 m, mesmo no período de águas baixas (ANA, 2006). Os aproveitamentos para geração de energia construídos no trecho de montante, desencadeados com a construção da barragem de Sobradinho, modificaram profundamente as condições de escoamento neste estirão onde a navegação comercial praticamente desapareceu (ANA, 2006). 5.5.9 Afluentes Além do curso principal, a navegação também é praticada em alguns afluentes com destaque para os rios Grande e Corrente. Além desses dois rios, os baixos cursos dos rios Paracatu (numa extensão de 104 km até Porto Cavalo), Carinhanha (em 80 km, até a corredeira do Maruá) e Velhas (em cerca de 90 km, até Várzea da Palma) também podem ser navegados em grande parte do ano, nos períodos de águas médias e altas (entre novembro e maio). No rio das Velhas a ponte da rodovia BR385, que liga Pirapora a Montes Claros e atravessa este rio na localidade de Guaicuí, logo a montante da foz, impede, em águas altas, o prosseguimento da navegação (ANA, 2006). 5.5.10 Navegação no rio Corrente O rio Corrente é um afluente da margem esquerda do rio São Francisco, com bacia de contribuição de 35 230,00 km² e 120,00 km de extensão, entre a foz e seus formadores, os rios Formoso e Correntina. É navegável da foz até a cidade de Santa Maria da Vitória (BA), em cerca de 110,00 km. Entre essa cidade e a localidade de Porto Novo (BA), é mais sinuoso, estreito e com correnteza de maior intensidade. 32 Daí até sua foz, o rio é menos sinuoso, um pouco mais largo e com correnteza menos intensa. A declividade média, no trecho navegável é de 12 cm/km e, por percorrer terrenos sedimentares constituídos por extensas formações areníticas, desfruta de expressivo volume d’água, mesmo no período de estiagem. A extrema regularidade de vazões do rio Corrente está evidenciada no posto fluviométrico de Santa Maria da Vitória onde a descarga média anual é de 200 m³/s e a mínima, que ocorre geralmente no mês de setembro está no entorno de 160 m³/s (ANA, 2006). 5.5.11 Navegação no rio Grande A área drenada pelo rio Grande e seus afluentes é de 75 170,00 km². É um afluente da margem esquerda do rio São Francisco e seus principais tributários, como os rios Fêmeas, Ondas, Branco e Preto, entram pela sua margem esquerda. Pela margem direita, o afluente mais importante do rio Grande é o rio São Desidério. Por percorrerem terrenos areníticos, de boa permeabilidade e onde, a partir de setembro/outubro ocorrem precipitações mais elevadas, todos esses rios apresentam vazões bastante regulares, alimentados que são pelas chuvas copiosas em suas cabeceiras (ANA, 2006). O rio Grande é navegável numa boa extensão de seu curso, em cerca de 350 km, entre sua foz e a cidade de Barreiras, apresentando uma declividade média de 13 cm/km². Apesar do acentuado assoreamento em sua foz, pode ser freqüentado pelas mesmas embarcações que trafegam normalmente no rio São Francisco, inclusive pelos comboios da FRANAVE (Companhia de Navegação do São Francisco), em formação com menor número de chatas (ANA, 2006). A largura média do trecho navegável é de 80 m, sendo que os pontos críticos localizam-se nas gargantas da Serra do Boqueirão e da Serra do Estreito (ANA, 2006). Nesses trechos, o rio é estrangulado, apresentando menores larguras e velocidades de fluxo elevadas. A montante da foz do rio Preto, até Barreiras, a largura também se reduz e o rio Grande se apresenta com inúmeras curvas e vários pedrais, mas 33 mesmo assim, pode ser navegado por comboios de duas chatas. Nos últimos 40 km, próximos a Barreiras, as dificuldades à navegação aumentam face à ocorrência de muitas curvas reversas e à diminuição da largura do rio, o que torna inviável o cruzamento de embarcações. Embora dotado de muitos pré-requisitos favoráveis, a navegação no rio Grande não vem sendo praticada como era de se esperar e o rio não vem exercendo, a contento, sua função como via de transporte (ANA, 2006). O rio Preto, afluente do rio Grande pela margem esquerda, tem o mesmo porte do rio principal a montante da confluência, podendo ser navegado em cerca de 270 km até a localidade de São Marcelo. A profundidade mínima, em 90% do tempo, é de 1,20 m. Até Santa Rita de Cássia, a navegação é praticada com maior freqüência e este entreposto já foi, no passado, importante posto de troca de mercadoria do noroeste baiano e sudeste do Piauí (ANA, 2006). As vazões de estiagem vêm diminuindo nos últimos anos, em virtude da intensificação da irrigação, principalmente nos afluentes (ANA, 2006). 5.6 As Instalações Portuárias São poucas, mas relativamente bem aparelhadas as instalações portuárias do rio São Francisco. Os portos principais são os de Pirapora e Ibotirama, operados pela AHSFRA, o de Petrolina, operado pelo Governo do Estado de Pernambuco e o de Juazeiro, administrado pelo Governo do Estado da Bahia (ANA, 2006). O porto de Muquém do São Francisco, situado próximo e a montante do de Ibotirama é de propriedade particular e se destina ao embarque de cereais (predominância de soja) com destino às indústrias de Petrolina (ANA, 2006). Outros pequenos embarcadouros, com instalações simples existem disseminados ao longo do rio principal ou de afluentes. São inexpressivos em termos de movimentação de cargas, mas de importância capital para a maioria dos municípios lindeiros ao rio São Francisco e que se comunicam entre si através do rio. São caracterizados como terminais rudimentares, sem instalações apropriadas à 34 movimentação de cargas, mas que atendem, nos barrancos ou em rampas construídas, o embarque ou desembarque de pequenas cargas e passageiros, mantendo viva a navegação tradicional entre os núcleos populacionais existentes ao longo do rio. Entre estes, os mais ativos e que possuem alguma instalação de transbordo são: São Romão, São Francisco, Januária (onde já houve expressivo embarque de carvão vegetal), Itacarambi, Manga, Carinhanha, Bom Jesus da Lapa, Barra, Xique-Xique, Pilão Arcado, Remanso, Sento Sé, Casa Nova e Sobradinho, no curso médio, Propriá, Penedo e Porto Real, no baixo curso, além de Santa Maria da Vitória e Barreiras nos afluentes Corrente e Grande, respectivamente (ANA, 2006). 5.6.1 Porto de Pirapora O porto de Pirapora, localizado na margem direita do rio São Francisco, é o mais bem equipado da hidrovia. Dista 4 km a jusante da cidade e fica a 1.371 km dos portos de Juazeiro e Petrolina, ponto final do trecho navegável do médio São Francisco. O porto tem uma frente para o rio de 700 m, área portuária de 122.000 m², da qual 15.400 m² correspondem aos pátios para depósito de minerais a granel. Possui ainda um armazém para carga geral com 1.026 m², um píer acostável de 20 m de extensão e 8 m de frente para o rio e dois dolfins (estrutura de apoio à atracação de embarcações). Há quatro linhas férreas internas e o acesso ferroviário está conectado à Ferrovia Centro-Atlântica. A ligação rodoviária é feita através da BR-365, trecho Patos de Minas-Montes Claros e da BR-469 (ANA, 2006). O porto, que está situado junto ao Distrito Industrial, foi construído em parceria entre o Governo Federal e o de Minas Gerais. Começou a ser operado em junho de 1981. A carga prioritária a ser movimentada era o desembarque de gipsita proveniente das jazidas de Araripina, em Pernambuco, embarcada no porto de Juazeiro (ANA, 2006). Com os equipamentos disponíveis, o porto tem uma capacidade de operação de 170.000 t/ano, em regime de 8 h/dia e admitido um índice de ocupação dos berços de 60%. Porém, em todo o período de atividade, jamais atingiu, a 20% de sua capacidade instalada, em cada ano. Desde a sua entrada em atividade o porto tem operado em regime deficitário (ANA, 2006). 35 5.6.2 Portos de Ibotirama e Muquém do São Francisco O porto de Ibotirama está situado na margem esquerda do rio São Francisco e logo a montante da ponte da BR-242 - rodovia Brasília-Salvador, em frente à cidade de Ibotirama. Já o porto de Muquém do São Francisco, de propriedade particular, fica próximo à cidade, a montante. Destinam-se principalmente ao embarque de cereais a granel (principalmente a soja proveniente da região de Barreiras). O porto de Ibotirama dispõe de uma frente restrita para o rio, onde estão instalados os equipamentos de embarque constituído de correias transportadoras. No retroporto há um armazém e um conjunto de silos. O porto vem realizando embarques de cereais, sobretudo soja, farelo de soja e milho com destino a Juazeiro e Petrolina (ANA, 2006). 5.6.3 Porto de Juazeiro O porto de Juazeiro está situado na margem direita do rio São Francisco, 1 km a montante da ponte rodo-ferroviária. O porto foi construído pelo Governo do Estado da Bahia (ANA, 2006). O porto dispõe de atracadouro de 100 m de extensão, formado por linha de oito dolfins, esteira transportadora com capacidade de 150 t/hora para o embarque de gipsita e uma balança rodoviária de 40 t de carga, além de equipamentos móveis como caminhões, guindastes, tratores, pás carregadeiras e correias para sacaria. A gipsita chega ao porto em caminhões com o inconveniente de ter de atravessar a ponte que liga as duas cidades. Atualmente, não vem sendo realizado o embarque de gipsita e o porto está se especializando na recepção de cereais transportados pela FRANAVE, que detém a operação do porto (ANA, 2006). 5.6.4 Porto de Petrolina O porto de Petrolina foi construído pelo Governo do Estado de Pernambuco. Está situado na margem esquerda do rio São Francisco, a montante da ponte rodo- 36 ferroviária e junto ao distrito industrial. A área do porto tem uma frente para o rio de 520 m e 320 m de fundo (ANA, 2006). O cais de atracação tem 58,5 m de extensão e permite, em águas baixas, o acesso de embarcações de 2,0 m de calado. Possui ainda uma dársena de 25 por 40 m e duas rampas perpendiculares à margem com 13 m de largura e inclinação de 15 %. No pátio, destaca-se um armazém de 2.000 m² e a área de estocagem com cerca de 12 ha. O acesso rodoviário ao porto é feito através das BRs 142, 407 e 428. O acesso ferroviário não foi construído (ANA, 2006). A movimentação de cargas no porto, em 1999, foi de 45.490 t, praticamente assumida pela importação (ANA, 2006). 5.6.5 Portos de Barreiras e Januária Os pequenos portos de Barreiras e Januária são os únicos que se destacam entre os vários terminais rudimentares existentes ao longo da hidrovia do São Francisco e afluentes. O porto de Barreiras movimentou, entre os anos de 1999 e 2001, cerca de 2.500 t/ano, enquanto o porto de Januária movimentou cerca de 800 t/ano. Ambos se caracterizam por movimentar cargas diversas (ANA, 2006). 5.7 A Hidrovia Seu extremo sul está localizado na cidade de Pirapora (MG). A hidrovia do São Francisco é interligada por ferrovias e estradas aos mais importantes centros econômicos do Sudeste, além de fazer parte do Corredor de Exportação CentroLeste. Ao norte, nas cidades vizinhas a Juazeiro (BA) e Petrolina (PE), a hidrovia está ligada às principais capitais do Nordeste, dada a posição geográfica destas duas cidades, com extensão equivalente à distância entre Brasília (DF) e Salvador (BA) (ANA, 2006). 37 5.7.1 Eclusa de Sobradinho Eclusa é um reservatório em forma de câmara que possibilita, pelo enchimento e esvaziamento, que uma embarcação transponha uma diferença de nível (AHSFRA, 2006). Para vencer o desnível criado pela barragem de Sobradinho (BA) foi construída a eclusa que visa, portanto, restabelecer a navegação em todo o trecho anteriormente navegável do rio, perfazendo um estirão de 1.371 km entre as cidades de Pirapora (MG), Juazeiro (BA) e Petrolina (PE) (AHSFRA, 2006). As obras da eclusa se desenvolveram em duas etapas bastante distintas: a primeira, desde o início das escavações, em junho de 1973, até a fase de represamento do lago, em meados de 1978, e a segunda, de retomada das obras, a partir de 23/06/1978, até sua conclusão e fase de testes, em dezembro de 1979 (AHSFRA, 2006). A segunda etapa da obra teve duração aproximada de oito meses, onde problemas construtivos foram superados, e alterações no projeto permitiram que várias frentes de trabalho fossem atacadas simultaneamente. As medidas adotadas possibilitaram dar à concretagem um ritmo excepcional, principalmente levando-se em conta a reduzida praça de serviços. Nesse período, foi concretado um volume superior a 200.000 m³, atingindo-se um pique de concretagem de 36.000 m³/mês (AHSFRA, 2006). A eclusa de Sobradinho, dadas as suas características e as soluções adotadas para sua construção, ocupa um lugar de destaque entre as que se encontram em operação atualmente. O seu desnível máximo, de 33,50 metros, a situa entre as quatro de maior desnível já construídas no mundo (AHSFRA, 2006). 38 Figura 5.2: Eclusa de Sobradinho (Fonte: AHSFRA, 2006) 5.7.2 Impactos Ambientais dos Modais de Transporte – Comparativo Quanto a impactos ambientais, várias são as vantagens do modal hidroviário sobre os outros tipos de transporte. Ressaltamos a emissão de poluentes, onde o transporte hidroviário é o menos poluente, conforme figura abaixo (AHSFRA, 2006): Figura 5.3: Comparativo entre meios de transporte (Fonte: AHSFRA, 2006) Este tipo de estudo varia para cada região em que ocorrer a implantação dos modais, mas as diferenças são enormes e giram em torno desta ordem de grandeza (AHSFRA, 2006). Vale ressaltar também a relação Modal de Transporte X Área Desmatada, conforme tabela abaixo: 39 Tabela 5.2: Relação Modal de Transporte x Área Desmatada Modal de Transporte Hidrovia 2.202 Área Desmatada (km²) 0 Investimento (milhões US$) 115,7 Ferrovia 2.010 77.100.000 1.827,0 Rodovia 2.500 100.000.000 625,0 Extensão (km) Fonte: AHSFRA, 2006 5.8 Geração de energia elétrica A implantação de aproveitamentos hidrelétricos na região Nordeste do Brasil começou na bacia do São Francisco com a implantação da Usina Hidrelétrica Angiquinho, depois denominada Delmiro Gouveia, aproveitando parcialmente o potencial da cachoeira de Paulo Afonso. Esta usina foi inaugurada em janeiro de 1913 e totalizava a capacidade instalada de 1.500 HP. Sua energia era destinada a acionar as máquinas da fábrica de linhas e fios de propriedade do industrial Delmiro Gouveia e ao fornecimento de luz elétrica à vila operária de Pedra, no sertão alagoano, atual município de Delmiro Gouveia (ANA, 2006). “Em 1945, o Governo Federal autorizou a criação da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco - CHESF, para o aproveitamento do rio na geração de energia elétrica. Três anos depois foi criada a Comissão do Vale do São Francisco - CVSF, nos moldes da TVA (Tennessee Valley Authority), nos Estados Unidos, destinada a promover a valorização econômica da Bacia do São Francisco. (CHESF, 2006)”. “A CHESF, aproveitando as excepcionais condições naturais proporcionadas pelo desnível de Paulo Afonso, construiu as Usinas de Paulo Afonso I, II e III. Em 1955 foram inauguradas as três primeiras unidades de Paulo Afonso I. Posteriormente a CVSF (Comissão do Vale do São Francisco), construiu em trecho mineiro do São Francisco, a Barragem de Três Marias cuja Usina foi inaugurada em 1961. A partir da década de 70, objetivando regularizar as vazões do São Francisco e aumentar a geração de energia elétrica, a CHESF construiu a Barragem e Hidrelétrica de Moxotó e, posteriormente, as Barragens e Hidrelétricas de Sobradinho, Paulo Afonso IV, Itaparica e Xingo (CHESF, 2006)”. 40 Uma grande parte do aproveitamento hidroelétrico em operação na bacia do rio São Francisco tem funções de múltiplos usos, ou seja, além da geração de energia, o reservatório tem outras funções, como de abastecimento humano e industrial, regularização de vazões, melhoria da navegabilidade do rio, controle de cheias, irrigação, turismo, recreação, empreendimentos de pesca, etc (ANA, 2006). 5.9 Usinas Hidrelétricas O potencial hidrelétrico da Bacia é utilizado através de diversas usinas, instaladas em pontos estratégicos. Apesar do grande benefício trazido, os impactos causados por estas obras são também muito importantes, como veremos a seguir. 5.9.1 Três Marias Em 1952, a CEMIG (Centrais Elétricas de Minas Gerais S.A.), inaugurou sua primeira grande usina – Três Marias. A barragem, que tem 2.700 metros de comprimento e forma um reservatório de 21 bilhões de metros cúbicos de água, a 2.221 km acima da foz do rio, foi construída com recursos da Comissão do Vale do São Francisco - CVSF, para cumprimento de finalidades múltiplas (CEMIG, 2006). “A usina hidrelétrica de Três Marias teve o início de suas obras em maio de 1957 sendo concluída em janeiro de 1961. Sua construção teve como principais objetivos a regularização do curso das águas do rio São Francisco nas cheias periódicas e melhoria da navegabilidade, a utilização do potencial hidrelétrico e o fomento da indústria e irrigação (ANA, 2006)”. Localizada na parte central de Minas Geral, compreende os municípios de: Felixlândia, Morada Nova de Minas, Biquinhas, Paineiras e parcialmente Barreiro Grande. Tais municípios se situam ao redor da represa da hidrelétrica de Três Marias e tiveram parte de suas áreas inundadas (CEMIG, 2006). A região onde se situa a represa de Três Marias apresenta características bastante diferentes da encontrada no Médio e Baixo curso do Rio. Enquanto em vasta porção nordestina o São Francisco é a única certeza de água perene - "o refrigério", como 41 dizem - nas terras mais ao Sul desconhecem-se os problemas resultantes da existência de rios intermitentes. E não apenas são perenes todos os rios em Minas Gerais como eles existem em maior prodigalidade, razão porque a CEMIG, embora esteja operando em cerca de 25 usinas hidrelétricas, apenas na de Três Marias utiliza as águas do São Francisco (CEMIG, 2006). Quanto ao aspecto energético, a usina de Três Marias apresenta uma potência instalada de 387.600 kW. Situada a 95 km a montante de Pirapora - onde começa o principal trecho navegável do São Francisco - a barragem de Três Marias retém as enchentes nos períodos chuvosos e garante os níveis mínimos de água para a navegabilidade durante as estiagens (CEMIG, 2006). Essa vazão controlada, cujos benefícios vão repercutir até na usina de Paulo Afonso, possibilita ainda o desenvolvimento de irrigação às margens do rio, afastando os efeitos danosos da chuvarada imprevisível (CEMIG, 2006). 5.9.2 Sobradinho O aproveitamento hidrelétrico de Sobradinho está localizado no estado da Bahia, distando cerca de 40 km a montante das cidades de Juazeiro/BA e Petrolina/PE (CHESF, 2006). O Aproveitamento Hidrelétrico de Sobradinho está instalada no São Francisco, principal rio da região nordestina, com área de drenagem de 498.968 km2, bacia hidrográfica da ordem de 630.000 km², com extensão de 3.200 km, desde sua nascente na Serra da Canastra em Minas Gerais, até sua foz em Piaçabuçu/AL e Brejo Grande/SE (CHESF, 2006). 42 Figura 5.4: Usina Hidrelétrica de Sobradinho (Fonte: CHESF, 2006) A Usina está posicionada no rio São Francisco a 748 km de sua foz, possuindo, além da função de geração de energia elétrica, a de principal fonte de regularização dos recursos hídricos da região (CHESF, 2006). O reservatório de Sobradinho tem cerca de 320 km de extensão, com uma superfície de espelho d’água de 4.214 km² e uma capacidade de armazenamento de 34,1 bilhões de metros cúbicos em sua cota nominal de 392,50 m, constituindo-se no maior lago artificial do mundo, garantindo assim, através de uma depleção de até 12 m, juntamente com o reservatório de Três Marias/CEMIG, uma vazão regularizada de 2.060 m³/s nos períodos de estiagem, permitindo a operação de todas as usinas da CHESF situadas ao longo do Rio São Francisco (CHESF, 2006). Incorpora-se a esse aproveitamento de grande porte uma eclusa, de propriedade da CODEBA (Companhia Docas do Estado da Bahia), cuja câmara tem 120 m de comprimento por 17m de largura permitindo às embarcações vencerem o desnível de 32,5 metros criados pela barragem, garantido assim a continuidade da tradicional navegação entre o trecho do Rio São Francisco compreendido entre as cidades de Pirapora/MG e Juazeiro/BA - Petrolina/PE (CHESF, 2006). Compreendem o represamento de Sobradinho as seguintes estruturas: barragem de terra zoneada com 12.000.000 de m³ de maciço, altura máxima de 41 m e comprimento total de 12,5 km; casa de força com 6 unidades geradoras acionadas por turbinas Kaplan com potência unitária de 175.050 kW, totalizando 1.050.300 kW; vertedouro de superfície e descarregador de fundo dimensionados para extravasar a cheia de teste de segurança da obra; tomada d’água com capacidade de até 25 m³/s para alimentação de projetos de irrigação da região (CHESF, 2006). 43 A energia gerada é transmitida por uma subestação elevadora com 09 transformadores monofásicos de 133,3 MVA cada um, que elevam a tensão de 13,8 kV para 500 kV (CHESF, 2006). A partir daí a conexão com o sistema de transmissão da CHESF é efetuada através da subestação seccionadora de Sobradinho 500/230 kV (CHESF, 2006). 5.9.3 Luiz Gonzaga (Itaparica) O aproveitamento hidrelétrico de Itaparica, que passou a se chamar Luiz Gonzaga em homenagem ao "rei do baião nordestino" de mesmo nome. Sua Usina localiza-se no estado de Pernambuco, 25 km a jusante da cidade de Petrolândia/PE (CHESF, 2006). Está posicionada no rio São Francisco 50 km a montante do Complexo Hidrelétrico de Paulo Afonso, possuindo, além da função de geração de energia elétrica, a de regularização das vazões afluentes diárias e semanais daquelas usinas (CHESF, 2006). Figura 5.5: Usina Hidrelétrica de Luiz Gonzaga (Fonte: CHESF, 2006) O represamento de Itaparica é feito por uma barragem de seção mista terraenrocamento, com altura máxima da ordem de 105,00 m, associada às estruturas de concreto da casa de máquinas e vertedouro que é dotado de 09 comportas tipo setor, com uma extensão total da crista de 4.700 m, incluindo o trecho das estruturas de concreto cerca de 720 m. O coroamento da barragem é na cota 308,10 m com 44 largura da crista em 10,00 m. Na Usina estão instaladas 6 unidades com potência unitária de 246.600 kW, totalizando 1.479.600 kW (CHESF, 2006). A energia gerada é transmitida por uma subestação elevadora com 09 transformadores de 185 MVA que elevam a tensão de 16 kV para 500 kV (CHESF, 2006). 5.9.4 Complexo Paulo Afonso (I, II, III) O aproveitamento hidrelétrico de Paulo Afonso I, integrante do Complexo de Paulo Afonso, localiza-se na cidade de Paulo Afonso, estado da Bahia (CHESF, 2006). Figura 5.6: Complexo Hidrelétrico de Paulo Afonso (Fonte: CHESF, 2006) As Usinas Paulo Afonso I, Paulo Afonso II e Paulo Afonso III estão em um mesmo represamento, constituído de uma barragem do tipo gravidade em concreto armado, com altura máxima de 20 m e comprimento total da crista de 4.707m, associado às estruturas de concreto tais como: 01 (um) vertedouro do tipo Krieger, com descarga livre; 04 (quatro) vertedouros de superfície, com comportas vagão; 01 descarregador de fundo; 2 drenos de areia; tomada d’água e casa de força subterrâneas, escavada em rocha sólida, com profundidade aproximada de 80 m (CHESF, 2006). 45 A Usina Paulo Afonso I é constituída de 3 unidades geradoras acionadas por turbinas Francis, com potência unitária de 60.000 kW, totalizando 180.000 kW (CHESF, 2006). A energia gerada é transmitida por uma subestação elevadora com 09 transformadores de 22,5 MVA cada um, que elevam a tensão de 13,8 kV para 230 kV. A partir desse ponto é feita a conexão com o sistema de transmissão da CHESF através da Subestação Paulo Afonso - 230 kV (CHESF, 2006). A Usina Paulo Afonso II é constituída por 6 unidades geradoras acionadas por turbinas Francis, sendo 2 unidades com potência unitária de 70.000 kW, 1 unidade com potência unitária de 75.000 kW e 3 unidades com potência unitária de 76.000 kW, totalizando 443.000 kW (CHESF, 2006). A energia gerada é transmitida por uma subestação elevadora com 18 transformadores dos quais 09 são de 30 MVA cada um e o restante, são de 25 MVA cada um, que elevam a tensão de 13,8 kV para 230 kV (CHESF, 2006). A partir desse ponto é feita a conexão com o sistema de transmissão da CHESF através da Subestação de Paulo Afonso - 230 kV (CHESF, 2006). A Usina de Paulo Afonso III possui 4 unidades geradoras acionadas por turbinas Francis, com potência unitária de 198.550 kW, totalizando 794.200 kW (CHESF, 2006). A energia gerada é transmitida por uma subestação elevadora com 12 transformadores de 80 MVA cada um, que elevam a tensão de 13,8 kV para 230 kV. A partir desse ponto é feita a conexão com o sistema de transmissão da CHESF através da Subestação de Paulo Afonso - 230 kV, donde partem 04 circuitos - 230 kV para o Sistema Regional Sul (Salvador), 04 circuitos de linhas de transmissão 230 kV para o Sistema Regional Leste (Recife), 05 circuitos de linhas de transmissão para o Sistema Regional Norte (Fortaleza) e uma interligação com a SE - Paulo Afonso IV - 230/500 kV, constituindo-se assim no principal nascedouro dos corredores de linhas de transmissão do Sistema CHESF (CHESF, 2006). 46 5.9.5 Usina de Paulo Afonso IV O aproveitamento hidrelétrico Paulo Afonso IV, integrante do Complexo de Paulo Afonso, encontra-se localizado na cidade de Paulo Afonso, estado da Bahia (CHESF, 2006). Esta usina recebe água do reservatório de Moxotó através de um canal de derivação. A água turbinada em conjunto com a água turbinada em Paulo Afonso I, II e III, segue pelo canyon para a Usina de Xingo (CHESF, 2006). Figura 5.7: Usina Hidrelétrica de Paulo Afonso IV (Fonte: CHESF, 2006) O represamento de Paulo Afonso IV é constituído de barragens e diques de seção mista terra-enrocamento num comprimento total de 7.430 m e altura máxima de 35,00m; estruturas de concreto num cumprimento total de 1.053,50m compreendendo: vertedouro com 8 comportas tipo de crista/controlado, com capacidade de descarga de 10.000 m³/s, tomada d'água, casa de máquinas do tipo subterrânea com 6 unidades geradoras cada uma, com capacidade nominal de 410.400 kW, totalizando 2.462.400 kW (CHESF, 2006). A energia gerada é transmitida por uma subestação elevadora, com 18 transformadores monofásicos de 150 MVA cada um, que elevam a tensão de 18 kV para 500 kV (CHESF, 2006). 47 5.9.6 Usina Apolônio Sales (Moxotó) O aproveitamento hidrelétrico de Moxotó, encontra-se localizado no município de Delmiro Gouveia - AL, à 8 km da cidade de Paulo Afonso - BA. Integrante do Complexo de Paulo Afonso, a Usina Apolônio Sales localiza-se cerca de 3 quilômetros a montante da barragem Delmiro Gouveia, de modo que a água turbinada em suas máquinas, aciona também as Usinas de Paulo Afonso I, II e III (CHESF, 2006). Num segundo desnível em cascata e através de um canal escavado a partir de sua margem direita, o reservatório de Moxotó fornece a água necessária ao acionamento da Usina de Paulo Afonso IV, que se situa em paralelo ao mesmo (CHESF, 2006). Figura 5.8: Usina Hidrelétrica Apolônio Sales (Fonte: CHESF, 2006) O represamento de Moxotó consta de uma barragem mista terra-enrocamento, com altura máxima de 30 m e comprimento total da crista de 2.825m, associado às estruturas de concreto tais como: 01 (um) descarregador de fundo, 01 (um) vertedouro com descarga controlada dotado de 20 comportas do tipo setor, com capacidade máxima de descarga de 28.000 m³/s e casa de força com 4 unidades geradoras, acionadas por turbinas Kaplan, cada uma com 100.000 kW, totalizando uma potência instalada de 400.000 kW (CHESF, 2006). 48 A energia gerada é transmitida por uma subestação elevadora com 06 transformadores de 80 MVA que elevam a tensão de 13,8 kV para 230 kV (CHESF, 2006). 5.9.7 Xingó O aproveitamento hidrelétrico de Xingó está localizado entre os estados de Alagoas e Sergipe, situando-se a 12 km do município de Piranhas/AL e a 6 km do município de Canindé do São Francisco/SE (CHESF, 2006). Figura 5.9: Usina Hidrelétrica de Xingo (Fonte: CHESF, 2006) Está posicionada com relação ao São Francisco a cerca de 65 km à jusante do Complexo de Paulo Afonso. Prestar-se ao desenvolvimento de projetos de irrigação e ao abastecimento d’água para a cidade de Canindé/SE (CHESF, 2006). Compreendem o represamento de Xingó as seguintes estruturas: barragem de enrocamento com face de concreto a montante com cerca de 140 m de altura máxima; na margem esquerda (AL) situa-se o vertedouro de superfície do tipo encosta com duas calhas e 12 comportas do tipo segmento com capacidade de descarga de 33.000 m³/s; na margem direita (SE) estão localizados os muros, tomada d’água, condutos forçados expostos, casa de força do tipo semi-abrigada, 49 canal de restituição e diques de seção mista terra-enrocamento, totalizando o comprimento da crista em 3.623,00 m. A usina geradora é composta por 6 unidades com 527.000 kW de potência nominal unitária, totalizando 3.162.000 kW de potência instalada, havendo previsão para mais quatro unidades idênticas numa segunda etapa (CHESF, 2006). A energia gerada é transmitida por uma subestação elevadora com 18 transformadores monofásicos de 185 MVA cada um que elevam a tensão de 18 kV para 500 kV (CHESF, 2006). Está prevista ainda a construção de uma nova usina: Pão de Açúcar. 5.10 Irrigação Os anos 70 do século passado foram, também, de grandes mudanças no que tange ao aproveitamento agrícola das zonas dos cerrados da Bacia com a chegada de milhares de agricultores do sul do país, atraídos pela grande disponibilidade de terras, a preços baixos. Em especial, no Oeste baiano, a agricultura vem crescendo a taxas extremamente altas produzindo-se arroz, milho, soja, algodão e frutas, com o uso de tecnologias avançadas. Essa produção fez surgir agroindústrias na região. Tais fronteiras econômicas vêm se deslocando para o Médio São Francisco, inclusive com organização cooperativa, tornando a economia mais dinâmica (CODEVASF, 2006). A área irrigada é de 342.900 hectares - correspondendo a 11% dos 3,1 milhões de hectares irrigados no Brasil (ANA, 2006). A agricultura irrigada teve um crescimento significativo a partir dos anos 80, em especial após a criação do Programa de Irrigação do Nordeste - PROINE. Na Bacia, estão identificados cerca de 3.000.000 ha potencialmente irrigáveis dos quais cerca de 800.000 ha já foram estudados, projetados ou estão em operação (ANA, 2006). 50 Neste início do Século XXI identificam-se dois destaques: a industrialização na Região Metropolitana de Belo Horizonte (Alto São Francisco) e a agricultura irrigada no Submédio e Baixo São Francisco (ANA, 2006). Para a transformação da agricultura de sequeiro em irrigada, os aspectos ecológicos devem ser observados, uma vez que tanto a total desconsideração quanto a supervalorização do impacto ambiental não são benéficas ao desenvolvimento sustentado (CODEVASF, 2006). Na elaboração de um projeto de irrigação, deve-se quantificar a magnitude dos impactos ambientais ocasionados pela sua implantação e a adoção das correspondentes medidas mitigadoras. Quando em operação, deve-se considerar os aspectos ecológicos, procurando maximizar a produtividade e a eficiência do uso da água, manter as condições de umidade do solo e no mínimo, manter as condições físicas, químicas e biológicas do solo (CODEVASF, 2006). Os solos situados em regiões áridas, em geral, quando submetidos à prática da irrigação, apresentam grandes possibilidades de se tornarem salinos, desde que não possuam um sistema de drenagem adequado. Estima-se que de 20% a 30% das áreas irrigadas em regiões áridas necessitam de drenagem subterrânea para manter sua produtividade (CODEVASF, 2006). O requerimento básico para o controle da salinidade, nas áreas irrigadas, é a existência da percolação e da drenagem natural ou artificial, garantindo o fluxo da água e do sal para abaixo da zona radicular das culturas. Nessa situação, não haverá salinização do solo. No local onde o dreno descarregar, entretanto, haverá aumento na concentração de sais. Aproximadamente 30% das áreas irrigadas dos projetos públicos no Nordeste apresentam problemas de salinização; algumas dessas áreas já não produzem (CODEVASF, 2006). O excesso de água aplicada na irrigação retorna aos rios, por meio do escoamento superficial e sub-superficial ou vai para os depósitos subterrâneos, por percolação profunda, arrastando consigo resíduos de fertilizantes, de defensivos, de herbicidas e de outros elementos tóxicos, denominados de sais solúveis. Os recursos hídricos 51 assim contaminados requerem tratamento apropriado quando destinados ao suprimento de água potável (CODEVASF, 2006). A contaminação da água subterrânea é bem mais lenta. O tempo necessário à percolação até o lençol subterrâneo aumenta com o decréscimo da permeabilidade do solo e com a profundidade do lençol. Para atingir um lençol freático situado a cerca de 30 m de profundidade, dependendo da permeabilidade do solo, podem ser necessários de 3 a 50 anos (CODEVASF, 2006). 5.11 Turismo As usinas hidrelétricas no Submédio e Baixo São Francisco (Sobradinho, Itaparica, Moxotó, Paulo Afonso I, II, III e IV e Xingó) têm um grande potencial turístico, que podem ser uma importante fonte de geração de Trabalho e Renda para os Nordestinos (CHESF, 2006). 5.9.8 Turismo Técnico As usinas hidrelétricas entre Itaparica e Xingó compõem um conjunto único no mundo, seja do ponto de vista da diversidade de barramentos, seja numa verdadeira aula da evolução dos equipamentos elétricos e mecânicos ao longo de meio século (CHESF, 2006). 5.9.9 Turismo de Aventura O rapel, as trilhas e as escaladas, são atrações disponíveis em larga escala (CHESF, 2006). 52 5.9.10 Lazer No trecho entre São Francisco e Barra (e ainda a montante de São Francisco, até a cidade de Pirapora, perfazendo um trecho com cerca de 1.000 km), há uma navegação de turismo cujas embarcações, como as barcas Nina, Santa Maria e Luminar, de dimensões próximas a 20 m de comprimento por 6 m de largura e calado de 1,2 m, fazem o percurso em torno de 5 a 7 dias, viajando apenas no período diurno. Estas embarcações não estão aptas para trafegar no lago da barragem, devido à existência de fortes ventos e ondas. Embarcações maiores, também próprias para turismo, navegam no lago e fazem o percurso Barra – Petrolina/Juazeiro em 3 dias (ANA, 2006). Os passeios de barco e a pesca podem ser praticados intensivamente nos lagos das usinas hidrelétricas (CHESF, 2006). O vapor Benjamim Guimarães, símbolo e único remanescente da folclórica navegação dos “gaiolas” do rio São Francisco está sendo reparado e reformado para retornar às suas atividades em breve. É intenção da FRANAVE, proprietária da embarcação, reativar a linha turística entre Pirapora e São Francisco (ANA, 2006). A barragem de Xingó, de 100 m de altura, proporciona a formação de um lago pouco extenso e encaixado entre margens abruptas, o qual vem despertando o interesse da navegação turística (ANA, 2006). 5.9.11 Turismo Ecológico A caatinga e o Raso da Catarina são atrações de grande impacto (CHESF, 2006). 53 5.9.12 Turismo Histórico A cidade de Piranhas, a usina de Angiquinho implantada por Delmiro Gouveia no início do Século XX e a Fábrica de Tecidos da Pedra (na atual cidade de Delmiro Gouveia) são muito visitadas por turistas. Os achados arqueológicos que integram o Museu Arqueológico de Xingó contam a pré-história da região do canyon e são complementados por dezenas de áreas com registros gráficos, em ambas as margens do canyon (CHESF, 2006). Porém, para que todo este potencial seja transformado em fonte de trabalho e renda, e seja revertido em benefício das comunidades da microrregião, são necessários grandes investimentos em infra-estrutura: estradas, aeroportos, hotéis, restaurantes, saúde e segurança (CHESF, 2006). 5.12 Uso das águas subterrâneas As águas subterrâneas do Vale ocupam diferentes tipos de reservatórios, desde zonas fraturadas do substrato geológico pré-cambriano até depósitos quaternários recentes. Foram identificadas nove províncias, das quais quatro, com reserva aqüífera explorável da ordem de 8,7 bilhões de m³/ano, são importantes para o abastecimento humano e animal e para o aproveitamento hidroagrícola (CODEVASF, 2006). Em função da baixa permeabilidade das rochas que compõem o embasamento geológico regional e das suas complexas feições lito-estruturais, existe uma densa rede hidrográfica, a qual propicia um grande número de locais propícios à construção de açudes (Rebouças, 2006). Os domínios sedimentares reservam cerca de 4.000 bilhões de m³ de água doce subterrânea. Tais águas subterrâneas têm excelente qualidade para abastecimento doméstico, industrial e irrigação (Rebouças, 2006). 54 Vale ressaltar que as elevadas perdas por evaporação de água dos açudes estão associadas a pouco estímulo ao uso múltiplo e planejado dos reservatórios (Rebouças, 2006). Porém as condições de utilização das águas subterrâneas são precárias e predomina o empirismo e a improvisação, o que acarreta no desperdício de recursos hídricos e financeiros com graves conseqüências para o aqüífero e para a economia. A proliferação de poços construídos sem tecnologia ou critério de qualidade é estimulada pela legislação vigente, que impõe a seleção de propostas com base apenas no menor custo (Rebouças, 2006). 5.13 Piscicultura A pesca artesanal, considerada fonte de alimento e sustento para as populações de pescadores da Bacia do São Francisco, tem sofrido intenso declínio nas últimas décadas. Várias e múltiplas são as pressões econômicas, ecológicas e culturais a que esta atividade está submetida, o que tem afetado enormemente a sua manutenção (ANA, 2006). A bacia do rio São Francisco já foi bastante piscosa, tanto na região do Alto como no Baixo curso, assegurando alimentos aos seus habitantes e atraindo muitos pescadores (ANA, 2006). Na medida em que as alterações induzidas pela ocupação humana avançaram, o estoque de recursos pesqueiros foi deteriorando e praticamente extinguindo a pesca artesanal (ANA, 2006). Notadamente, os maiores efeitos foram àqueles decorrentes dos barramentos do rio para fins de regularização de descargas e geração de energia (ANA, 2006). Os primeiros impactos foram oriundos da construção de Três Marias no final dos anos 50, seguida, na década de 70, da construção da barragem de Sobradinho. De modo geral, verificam-se alterações no fluxo e na qualidade da água, impedimento à migração reprodutiva, alteração do regime lótico para lêntico e modificação da 55 estrutura das comunidades aquáticas. Os represamentos trouxeram diversos impactos ambientais, provocaram uma série de alterações hidrológicas nas áreas represadas e trechos a jusante, bem como a redução da biodiversidade e ictiofauna nativas (ANA, 2006). Em 1994, com o final das obras do terceiro grande barramento do rio São Francisco, no local da cachoeira de Paulo Afonso, foi observada a redução ainda mais drástica da biodiversidade e ictiofauna nativa com reflexo direto na produção pesqueira no reservatório, transformando a pesca tradicional da região, que contava, anteriormente, com pelo menos 45 espécies conhecidas, em atividade incipiente centrada em poucas espécies de pequeno volume de captura (ANA, 2006). As barragens em cascata, construídas ao longo do são Francisco, reduziram acentuadamente as cheias a jusante, impedindo a inundação das lagoas marginais e, conseqüentemente, a entrada de ovos e larvas de peixes nesses habitats (ANA, 2006). “Os pescadores do Baixo São Francisco percebem que pelo menos há uma década, o “tempo do rio não está mais associado ou marcado pelas grandes cheias do rio, que regulavam a pesca e suas vidas, com suas águas ora “sujas” (pós-cheia), ora “limpas” (ANA, 2006)”. Para aqueles, sobretudo os mais velhos, as grandes cheias sempre estiveram associadas a muita “comida” para os peixes e à entrada destes nos riachos, poços e lagoas para se criar, dando muita fartura nos anos seguintes. Alguns fenômenos como “riponto” (chegada das primeiras águas) e vazante geral (início da vazão) foram desaparecendo depois das construções das barragens. Retratam-se, ainda, ao “tempo antes de Xingó”, em alusão à última barragem do São Francisco, como época da subida dos peixes para reprodução, quando havia poucas famílias, a maioria de pescadores, que contavam com mais atos de reciprocidade (ANA, 2006). Atualmente, segundo os pescadores, as cheias começam a rarear, os fenômenos físicos já não ocorrem mais anualmente. A água do rio, com o passar dos anos, é mais de “águas limpas”, muitas espécies de peixes já não sobem mais o rio, e as que sobem desovam, mas os peixinhos não vingam. Observam, ainda, que o pitu já não ocorre em abundância, que “os calumbi” (plantas) sumiram dos “beiços-d’água”, 56 e que hoje tem pouca tubarana subindo. Além disso, percebem a redução e o desaparecimento de diversas espécies de peixes anteriormente abundantes. Em relação aos aspectos sociais, identificam problemas graves com o declínio da pesca; aumento da pesca predatória e de pescadores clandestinos (ANA, 2006). Com a diminuição de peixes no rio São Francisco se perde também, aos poucos, a maneira como se pesca e conseqüentemente os conhecimentos que não são repassados e aprendidos pelos mais jovens levando ao desuso dos métodos de capturar peixes (ANA, 2006). A atividade da pesca desenvolvida ao longo do Baixo São Francisco está em franca decadência por várias razões: ausência de chuvas (mais recentemente abundância de chuvas), o barramento de lagoas marginais, a poluição oriunda de atividades agrícolas, a incompatibilidade entre a operação das barragens e as necessidades ecológicas da vazão, entre outros. Toda essa situação, associada à precariedade em que vive e atua a categoria dos pescadores, tem sido a razão para muitos dos casos de uma extração inadequada do pescado, comprometendo os estoques já vulneráveis (ANA, 2006). Os barramentos produzem impactos negativos na fauna aquática, particularmente sobre a ictiofauna, reduzindo os estoques pesqueiros de espécies autóctones de piracema de valor comercial (ANA, 2006). A aqüicultura se faz crescente na região, principalmente àquela de cultivos em tanques-redes, propiciados pela existência dos grandes reservatórios oriundos do barramentos (ANA, 2006). Contudo, a aqüicultura não faz parte da cultura tradicional do pescador, envolvendo habilidades e significados que estão bem distantes daqueles nos quais a pesca está inserida (ANA, 2006). O manejo dos recursos pesqueiros pressupõe um amplo conhecimento dos componentes do sistema, que compreende os peixes, outros organismos, a relação dentre eles e com o meio ambiente, inclusive com o homem (ANA, 2006). 57 Reservatórios do Rio São Francisco apresentam forte potencial aqüícola. O potencial de produção pesqueira depende da qualidade da água do reservatório, da profundidade do mesmo, do distanciamento das margens, ausência de paliteiros, velocidade da correnteza, da incidência de ventos, turbidez, do tempo de residência, entre outros aspectos. Estudos de capacidade de suporte para o cultivo de peixes em tanques-rede têm sido desenvolvidos pela Agência Nacional de Águas; tais estudos previnem a eutrofização dos corpos hídricos; sabe-se que a aqüicultura pode alterar a qualidade da água, especialmente por causa do fósforo contido na ração (ANA, 2006). 58 6 A TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO O projeto atual prevê a construção de dois canais – um na direção Norte, que demandará ao Ceará e o Rio Grande do Norte, outro na direção Leste, que levará água para Pernambuco e Paraíba. 6.1 A História do Sistema de Integração do rio São Francisco Os primeiros relatos sobre a seca no Nordeste brasileiro foram feitos ainda no BrasilColônia, onde que falam das migrações para regiões não afetadas pela falta d’água (RIMA, 2004). “Entre 1721 e 1727, durante uma grande seca que ocorreu na região, Portugal mandou três navios de mantimentos para o Brasil e determinou que os beneficiados por esses alimentos fossem recrutados para trabalhos de construção de melhor infra-estrutura para a região.” (RIMA, 2004) “Soluções científicas para combater o problema só começaram a ser esboçadas após a Independência do Brasil, a partir de 1838, quando foi criado o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB). Uma missão do Instituto, formada por geólogos, botânicos, zoólogos, astrônomos e geógrafos, elaborou o primeiro trabalho de reconhecimento do norte do Nordeste, em 1859. O chefe dessa missão, o Barão de Capanema, em suas análises, enfatizou a necessidade de melhorar as estruturas de transporte e armazenamento de água, propondo a construção de 30 açudes e de um sistema que levasse água do São Francisco para o rio Jaguaribe, no interior do Ceará.” (RIMA, 2004) “Entre 1877 e 1879, ocorreu a Grande Seca, na qual se estima que 1,7 milhão de pessoas tenha morrido de fome e sede.” (RIMA, 2004) Depois da grande seca de 1877, foi iniciada a primeira grande obra de defesa contra as secas, o açude do Cedro, em Quixadá (CE), projeto do engenheiro francês Jules Révy. A construção do açude do Cedro arrastou-se por muito tempo, sendo somente concluída em 1906, pelo engenheiro Bernardo Piquet Carneiro (RIMA, 2004). 59 “Em 1909, foi criada a Inspetoria de Obras Contra as Secas (IOCS), que reuniu especialistas estrangeiros para os primeiros estudos das águas subterrâneas do Nordeste – alternativa mais viável naquele momento. Eles elaboraram, em 1913, o mapa de um canal interligando o rio São Francisco ao rio Jaguaribe.” (RIMA, 2004) “No final do primeiro período getulista (1930-1945), esse órgão passou a se denominar Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS). Durante anos, atuou na perfuração de poços artesianos, na construção de açudes públicos e privados; no reflorestamento; no desenvolvimento de lavoura seca e cultura de vazantes; na provocação artificial de chuvas e na irrigação de propriedades cujos donos viviam abaixo da linha de pobreza.” (RIMA, 2004) Nos anos 1980, o Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS) promoveu a elaboração de um anteprojeto de integração de águas do rio São Francisco com as bacias do Semi-Árido Setentrional. O projeto foi criado dentro do programa Plano de ação para irrigação do semi-árido complementado com águas do São Francisco. A idéia era, então, captar 15% da vazão da bacia. Esse estudo foi retomado e detalhado em 1994, mobilizando equipe técnica própria e prevendo retirar do rio uma vazão de cerca de 7,5% da vazão regularizada por Sobradinho.” (RIMA, 2004) Estima-se hoje, por meio de estudos técnicos mais elaborados, uma transferência média de 2,3% da vazão regularizada do rio São Francisco – uma média de 42,4 m³/s – destinados às bacias do Ceará, do Paraíba e do Rio Grande do Norte; e mais 21,1m³/s (1,2%) destinados ao Estado de Pernambuco, totalizando 63,5 m³/s (RIMA, 2004). 6.2 O Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional A captação de água do rio São Francisco será de cerca de 3,5% da sua vazão disponível. Ou seja, dos 1.850 m³/s de água do rio São Francisco, 63,5 m³/s serão retirados. Desse volume, 42,4 m³/s serão destinados às bacias do Jaguaribe, Apodi, 60 Piranhas- Açu e Paraíba, e 21,1 m³/s, ao Estado de Pernambuco, que compartilha a bacia do São Francisco (RIMA, 2004). “Dois sistemas independentes, denominados EIXO NORTE e EIXO LESTE, captarão água no rio São Francisco entre as barragens de Sobradinho e Itaparica, no Estado de Pernambuco. Compostos de canais, estações de bombeamento de água, pequenos reservatórios e usinas hidrelétricas para auto-suprimento, esses sistemas atenderão às necessidades de abastecimento de municípios do Semi-Árido, do Agreste Pernambucano e da Região Metropolitana de Fortaleza.” (RIMA, 2004) As bacias hidrográficas beneficiadas serão: a do rio Jaguaribe, no Ceará, a do rio Piranhas-Açu, na Paraíba e Rio Grande do Norte, a do rio Apodi, no Rio Grande do Norte, do rio Paraíba, na Paraíba, a dos rios Moxotó, Terra Nova e Brígida, em Pernambuco, na bacia do rio São Francisco (RIMA, 2004). “A região do Projeto encontra-se na área do Polígono das Secas, sendo que o Nordeste Setentrional (parte do Semi-Árido ao norte do rio São Francisco) é a área que mais sofre os efeitos de secas prolongadas, abrangendo parcialmente os Estados de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. O empreendimento viabilizará o fornecimento de água para vários fins (abastecimento humano, irrigação, dessedentação de animais, criação de peixes e de camarão), numa área que, atualmente, possui cerca de 12 milhões de habitantes.” (RIMA, 2004) O Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional é um empreendimento do Governo Federal, sob responsabilidade do Ministério da Integração Nacional – MI, e tem a seguinte posição geográfica (RIMA, 2004): 61 Figura 6.1: Posição Geográfica do Projeto (Fonte: RIMA, 2004) A definição do projeto decorreu de duas etapas de análise: Estudos de Inserção Regional - Avaliação da disponibilidade e a demanda por água no Nordeste Setentrional, considerando uma área mais ampla que a área efetivamente beneficiada pelo empreendimento e Estudos de Viabilidade Técnico-Econômica Avaliação das alternativas para o anteprojeto de engenharia para definir a melhor opção de traçado, o planejamento das obras e seus custos, e a sua viabilidade econômica (RIMA, 2004). “O objetivo principal do Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional é assegurar a oferta de água para uma população e uma região que sofrem com a escassez e a irregularidade das chuvas.” RIMA, 2004) Existe uma grande diferença entre a oferta e o consumo de água nas diferentes regiões do Brasil. Habitantes do Sul e Sudeste do País apresentam gastos maiores do que os de outras regiões, por exemplo, um morador da cidade de São Paulo consome, em média, 340 litros de água por dia; na cidade do Rio de Janeiro, esse número é de 220 litros. A região onde será implantado o Projeto de Integração apresenta, hoje, um consumo diário de cerca de 50 litros por habitante, bem abaixo 62 dos 120 litros ao dia recomendados pela Organização das Nações Unidas (ONU) (Instituto Akatu). Em termos de disponibilidade de água para usos diversos – que é essencial para geração de emprego e renda – a região do projeto apresenta índice inferior ao valor considerado crítico pela ONU, que é de 1.000 m³/s por habitante por ano (RIMA, 2004). “A este Projeto estruturante deverão integrar -se diversas iniciativas e soluções regionais para convivência com o Semi-Árido, como cisternas, poços e pequenos açudes, dentre outras. A integração com o rio São Francisco e essas soluções locais não competem entre si; pelo contrário, complementam-se de forma a transformar o limitado quadro de desenvolvimento vivido por essa parcela de brasileiros.” (RIMA, 2004) “Com o Projeto, a água acumulada nos reservatórios e açudes poderá ser usada de forma mais eficiente para atender às necessidades do uso humano, estimulando o crescimento e o desenvolvimento social e econômico, com melhorias consistentes na agricultura, na pecuária, na indústria e na infra- estrutura local.” (RIMA, 2004) “Como conseqüência direta dessa integração, deverá ocorrer uma elevação na qualidade de vida da população, com melhoria dos sistemas de saneamento básico e crescimento de atividades produtivas que têm na água um de seus mais importantes componentes. O Projeto também deverá contribuir para a fixação da população na região, sobretudo na área rural, sujeita, de longa data, a um processo contínuo de migração, seja para outras regiões do País, seja para outros pontos do Nordeste onde a escassez de água não é tão intensa.” (RIMA, 2004) “Do ponto de vista econômico, a integração deverá contribuir para a diminuição dos gastos públicos com medidas de emergência durante as freqüentes secas, uma vez que a oferta de água será, maior e o impacto das secas reduzido.” (RIMA, 2004) “Uma das críticas dirigidas ao Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional diz respeito ao fato de a captação de água nesse rio poder prejudicar a geração de energia das usinas hidrelétricas localizadas depois de Sobradinho.” (RIMA, 2004) “No entanto, com a captação média de águas do rio São Francisco para o sistema de integração, a redução na geração de energia será de apenas 63 2,4% do sistema da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (CHESF).” (RIMA, 2004) “Contudo, o sistema de geração de energia elétrica do País é interligado, e essa pequena perda deverá ser facilmente compensada por usinas de outras bacias.” (RIMA, 2004) “As usinas a gás natural, matéria prima abundante no Nordeste, ora em fase de implementação na região, também compensarão possíveis perdas.” (RIMA, 2004) O Plano São Francisco compõe-se dos seguintes programas, projetos e ações: Programa de Revitalização do Rio São Francisco – PRSF, Projetos de Integração de Bacias Hidrográficas – PIBHI, Projetos de Armazenamento e Distribuição de Águas – PROAD, Ações localizadas de infra-estrutura hídrica, Ações na área de gestão dos recursos hídricos (RIMA, 2004). “A falta de alternativas da população do Semi-Árido, provocada principalmente pela seca, contrasta com a região litorânea do Nordeste, área mais desenvolvida e economicamente ativa.” (RIMA, 2004) “Uma razão importante do dinamismo dessa região está no turismo. Dados da EMBRATUR (Instituto Brasileiro de Turismo) mostram que, no comparativo de janeiro/fevereiro de 2004 com o mesmo período de 2003, houve um acréscimo de 18,8% nos desembarques internacionais ao País. Se esse dado for regionalizado apenas com o Nordeste, o aumento foi de 87,3%. O Projeto de Integração é uma alternativa estruturante para dar ao Semi-Árido condições de também desenvolver suas potencialidades econômicas: a agricultura, a indústria e, também, o turismo. Dessa maneira, é possível diminuir diferenças socioeconômicas entre o litoral e Semi-Árido Nordestino e reduzir as migrações da área rural.” (RIMA, 2004) Os objetivos básicos do projeto são: aumentar a oferta de água, com garantia de atendimento ao Semi-Árido, fornecer água de forma complementar para açudes existentes na região, viabilizando melhor gestão da água, reduzir as diferenças regionais causadas pela oferta desigual da água entre bacias e populações (RIMA, 2004). “Para se chegar à certeza de que a integração é a mais consistente alternativa estrutural para o fornecimento garantido e adequado de água à 64 região, foram estudadas outras hipóteses, como uso de águas subterrâneas, dessalinização de águas (que significa tirar o sal de porções de água provenientes do mar), reaproveitamento de águas utilizadas, uso de cisternas para a captação de água da chuva, a integração com outras bacias hidrográficas e a implantação de novos açudes (açudagem).” (RIMA, 2004) “A avaliação técnica de cada uma dessas possibilidades, levou em conta sua produtividade e adaptação às condições locais, além dos aspectos econômicos e da eficiência operacional decorrentes de sua realização.” (RIMA, 2004) “Nenhuma das alternativas estudadas apresentou melhores resultados do que a integração de águas do rio São Francisco com as bacias do Nordeste Setentrional.” (RIMA, 2004) “O uso de águas subterrâneas, por exemplo, tem condições de oferecer água a custo competitivo, mas sua qualidade, sua capacidade de renovação e sua distribuição geográfica limitam sua aplicação. Tanto o uso de águas subterrâneas quanto a alternativa de captação de água da chuva em cisternas são importantes recursos para suprir complementarmente o meio rural – especialmente populações distantes dos rios e dos açudes –, sendo capazes de ofertar água com relativa segurança.” (RIMA, 2004) “O Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional se insere como peça do Plano Plurianual 20042007 – Brasil de Todos, definido pelo Governo Federal. O Plano Plurianual soma um conjunto de ações governamentais voltadas para o combate à miséria, ao desemprego e à fome, com especial atenção para os problemas do Nordeste brasileiro. Envolve não só ações assistenciais aos mais pobres, mas também obras de infra-estrutura, indispensáveis ao País.” (RIMA, 2004) 6.3 Sobre o projeto de engenharia Por ser a maior, mais próxima e mais perene fonte de água doce do Semi-Árido, a escolha do São Francisco como fonte de águas para o Semi-Árido Setentrional é justificada (RIMA, 2004). 65 “A definição do melhor traçado a ser percorrido pelos canais do Projeto de Integração leva em conta aspectos técnicos, econômicos e ambientais, ou seja, estuda o melhor caminho para conduzir a água, da forma menos custosa possível, e procura interferir o mínimo na natureza, levando o máximo de benefícios para a população do entorno dos canais. Sob essa perspectiva, foram estudadas 22 opções diferentes de traçado, numa área de 110.000 km², correspondendo a 153 municípios dos Estados de Pernambuco, do Rio Grande do Norte, da Paraíba e do Ceará.” (RIMA, 2004) Alguns pré-requisitos foram determinados: Preservação das áreas das Unidades de Conservação (UCs), áreas ocupadas por comunidades especiais (Terras Indígenas e remanescentes de Quilombos) e áreas preservadas pelo Patrimônio Histórico Brasileiro. Alguns exemplos dessas áreas na região que se mantiveram preservados são o Monumento Natural do Vale dos Dinossauros, em Sousa, na Paraíba; a Reserva Biológica da Serra Negra, em Pernambuco; a APA (Área de Preservação Ambiental) da Serra do Baturité e o Parque Ecológico dos Timbaúbas, o potencial para abastecer o maior número possível de cidades e povoados, a capacidade de oferecer água em quantidade suficiente para que os açudes receptores atuem como pólos de distribuição de água, a garantia no fornecimento de água para as atividades agropecuárias e para o abastecimento humano nas áreas vizinhas aos canais que serão utilizados para o transporte da água, o respeito aos diferentes usos das águas do rio São Francisco (RIMA, 2004). Um aspecto a ser destacado nas considerações de traçado é a capacidade dos rios e riachos da região de serem incorporados ao sistema de integração das águas, de modo que não haja enchentes ou transbordamentos, e conseqüentes perdas de água e de terras nas margens (RIMA, 2004). 66 Figura 6.2: Esquema das Intervenções Hidráulicas (Fonte: RIMA, 2004) “A partir dos pontos de captação em Cabrobó (PE) e no reservatório de Itaparica (PE), dois canais condutores levarão a água para os grandes açudes importantes da região: Castanhão (CE), Armando Ribeiro Gonçalves (RN), Entremontes (PE), Pau dos Ferros (RN), Santa Cruz (RN), Chapéu (PE), Poço da Cruz (PE) e Boqueirão (PB).” (RIMA, 2004) “Esses dois canais condutores de água percorrerão, ao todo, 720 km. Eles serão revestidos de concreto e, em composição com casas de bombas, túneis, aquedutos e pequenos reservatórios, são necessários para levar uma parte da água do rio São Francisco até os açudes existentes.”(RIMA, 2004) “Além dos açudes, os canais condutores vão lançar água às calhas de alguns rios da região para conduzir a água aos destinos finais. No rio Salgado, a água percorrerá 60 km; no rio Jaguaribe, 80 km; no rio Apodi, 90 km; no rio Piranhas Açu, 130 km; no rio Paraíba, 150 km.” (RIMA, 2004) “A captação em Cabrobó dará início ao chamado EIXO NORTE, que transportará um volume médio de 45,2 m³ de água por segundo pelo sistema.” (RIMA, 2004) “Ele levará água para os rios Brígida (PE), Salgado (CE), do Peixe e Piranhas-Açu (PB e RN) e Apodi (RN), garantindo o fornecimento de água para os açudes Chapéu (PE), Entremontes (PE), Castanhão (CE), Engenheiros Ávidos (PB), Pau dos Ferros (RN), Santa Cruz (RN) e 67 Armando Ribeiro Gonçalves (RN). Pela sua extensão, foi dividido em cinco trechos: Trechos I, II, III, IV e VI.” (RIMA, 2004) “O Eixo Norte é composto por, aproximadamente, 402 km de canais artificiais, 4 estações de bombeamento, 22 aquedutos, 6 túneis e 26 reservatórios de pequeno porte. Nesse Eixo, ainda estão previstas duas pequenas centrais hidrelétricas junto aos reservatórios de Jati e Atalho, no Ceará, com, respectivamente, 40 MW e 12 MW de capacidade.” (RIMA, 2004) “No ponto de captação em Itaparica, iniciará o Eixo Leste, com cerca de 220 km indo até o rio Paraíba, na Paraíba, transportando, em média, 18,3 m³ de água por segundo. Esse Eixo levará água para o açude Poço da Cruz (PE) e para o rio Paraíba, que é responsável pela manutenção dos níveis do açude Epitácio Pessoa (PE), também chamado de Boqueirão. Esse Eixo é chamado também de Trecho V. Compõe-se de 5 estações de bombeamento, 5 aquedutos, 2 túneis e 9 reservatórios de pequeno porte.” (RIMA, 2004) “Com os dois Eixos funcionando, o resultado final é o beneficiamento das bacias dos rios Jaguaribe (CE), Apodi (RN), Piranhas-Açu (PB-RN), Paraíba (PB) e Moxotó (PE) e Brígida (PE).” (RIMA, 2004) “Um dos desafios do projeto de engenharia foi encontrar meios de superar os desníveis de altitude entre os locais de captação de água no rio São Francisco e os pontos receptores. Esses desníveis chegam a 165 m no Eixo Norte e a 304 m no Eixo Leste. As estações de bombeamento farão esse trabalho.” (RIMA, 2004) 68 Figura 6.3: Os Dois Canais do Projeto (Fonte: RIMA, 2004) “Os trechos de cada um dos Eixos poderão ser operados de maneira independente, cada um com seu próprio sistema de controle funcionando como uma torneira, abrindo e fechando de acordo com o volume de água a ser conduzido até os açudes importantes.” (RIMA, 2004) “As previsões de custo para a implementação do Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional é de US$ 1,5 bilhão. O Eixo Norte foi orçado em US$ 1,03 bilhão e o Eixo Leste, em US$ 472 milhões.” (RIMA, 2004) 6.4 Sinergia Hídrica Em função dos longos períodos de seca, o uso da água dos açudes, mesmo quando cheios , é controlado, para que a água esteja disponível para ser utilizado no futuro e garantir o abastecimento humano numa eventual situação de escassez. Quando há o excesso de chuvas, ou quando elas acontecem em dois anos seguidos, se os reservatórios estão em sua capacidade máxima, o excedente é vertido (sangrado) para o mar, sem utilização prática na vida dos moradores (RIMA, 2004). 69 “Os estudos realizados em 90 açudes da região demonstraram que cerca de 75% da água armazenada é perdida assim, sendo que apenas 25% conseguem ser aproveitados para abastecimento humano e atividades produtivas”. (RIMA,2004) “Esse desperdício de água é inevitável por causa das condições do clima da região semi-árida nordestina. A forma de combatê-lo é através da integração dos açudes com uma fonte de água permanente e de grande volume, que possa abrir mão de uma parcela de água para abastecer os açudes nos momentos de crise, ou seja, nos anos secos.” (RIMA, 2004) “Os níveis da água dos açudes receptores e do reservatório de Sobradinho serão definidos por um planejamento conjunto anual. Programas de computador serão utilizados para simular as várias possibilidades e facilitar a decisão.” (RIMA, 2004) “Parecido com o que já é feito no setor de geração de energia elétrica através do Sistema Interligado Nacional (SIN), o planejamento integrado de gestão conjunta e racional da água vai permitir que a quantidade de água dos açudes perdida por evaporação e sangramento seja muito menor. Essas perdas, que não ocorrerão mais, representam um ganho de água na região – é a sinergia hídrica.” (RIMA, 2004) 6.5 O abastecimento urbano Apesar do abastecimento doméstico do Nordeste Setentrional possa ser suprido, em partes, com os açudes existentes, em algumas bacias o comprometimento com os outros usos da água vai se tornando crítico. A prioridade dada ao consumo humano interfere nas atividades produtivas da população rural e até nas indústrias (RIMA, 2004). “As principais demandas urbanas do Nordeste Setentrional estão situadas no Ceará, na bacia do rio Jaguaribe integrada à Região Metropolitana de Fortaleza pelo canal do Trabalhador, com 4,4 milhões de pessoas; na Paraíba, na bacia do rio Paraíba, 1,5 milhão de pessoas; no Agreste Pernambucano, com 1,1 milhão de pessoas, além de 1,3 milhão de pessoas nas bacias dos rios Piranhas-Açu e Apodi, num total de 8,3 70 milhões de habitantes, cerca de 2/3 dos quais dependentes de abastecimento a partir dos grandes açudes da região.” (RIMA, 2004) “A forte migração da zona rural para a zona urbana e o crescimento vegetativo da população tendem a criar demandas de água nas zonas urbanas cada vez maiores e exigem dos gestores da água armazenada nos açudes medidas de prevenção cada vez mais conservadoras.” (RIMA, 2004) “A demanda urbana das áreas que deverão ser beneficiadas pelo empreendimento foi avaliada em aproximadamente 38 m³/s, no ano 2025. Desse total, cerca de 24 m³/s correspondem ao consumo humano e 14 m³/s, à demanda industrial.” (RIMA, 2004) “Com o Projeto de Integração, haverá garantia do atendimento às demandas urbanas através do bombeamento de água do rio São Francisco para os açudes estratégicos, que, por sua vez, poderão abastecer as cidades da região.” (RIMA, 2004) 6.6 O uso difuso O Projeto de Integração foi planejado procurando atender ao maior número de pessoas possível. Os estudos ambientais e de inserção regional do Projeto identificaram que boa parte da população residente nas proximidades dos locais onde serão construídos os canais pratica uma agropecuária de subsistência, onde serão instalados pontos de captação de água e chafarizes no curso dos canais ao longo das várzeas, possibilitando assim o abastecimento das localidades dessas áreas e viabilizar a agricultura irrigada de pequenos produtores, que são os que mais sofrem com perdas de produção nos anos secos (RIMA, 2004). 6.7 O ganho da irrigação Prevê-se a criação de cerca de 180.000 empregos diretos no sertão, viabilizando a retenção de pelo menos 400.000 pessoas no meio rural e um total de até 1 milhão de pessoas nos meios urbano e rural, no Nordeste Setentrional.” (RIMA, 2004) 71 6.8 Cronograma de implantação Com a instalação da primeira parte dos canais e bombas d’água (à partir de dois anos depois do início das obras), poderão surgir os primeiros benefícios diretos do Projeto. A previsão é que o Projeto esteja em plena operação de 15 a 20 anos após o começo das obras (RIMA, 2004). 6.9 As Áreas de Influência Foram consideradas, inicialmente, as duas tradicionais unidades de análise: a Área de Influência Indireta – AII, onde ocorrem os efeitos indiretos da integração das águas, e a Área de Influência Direta – AID, onde se dão, principalmente, as transformações ambientais diretas (ou primárias) decorrentes do empreendimento, por exemplo, no entorno imediato de onde serão construídos os canais (RIMA, 2004). “O Projeto de Integração compreende vários quilômetros de estruturas hidráulicas lineares; por isso, foi estabelecido um terceiro, e mais aprofundado, nível de detalhamento dos estudos ambientais. Trata-se da Área Diretamente Afetada – ADA, onde se darão os contatos diretos entre as estruturas físicas do empreendimento (canais, reservatórios, estações de bombeamento, etc.) e a região onde ele será implantado. A Área de Influência Indireta (AII) do Projeto de Integração compreende as bacias hidrográficas dos rios São Francisco, Piranhas-Açu, Apodi, Jaguaribe e Paraíba.” (RIMA, 2004) “A primeira bacia é a fornecedora da água captada e bombeada pelo Projeto. Nas outras bacias, estão os açudes importantes, que são os receptores finais das vazões conduzidas pelos canais. As sub-bacias dos rios Brígida e Moxotó, que fazem parte da bacia do São Francisco, também são receptoras.” (RIMA, 2004) “A área total da AII é de cerca de 787.000 km², dos quais 212.453 km² correspondem às bacias exclusivamente receptoras. Para essas bacias, 72 serão destinados, em 2025, 42,4 m³/s captados no rio São Francisco – 2,3% da chamada vazão disponível a partir de Sobradinho.” (RIMA, 2004) “A Área de Influência Direta (AID) do Projeto de Integração abrange o conjunto das áreas dos municípios atravessados pelos Eixos de condução da água. Considera os limites dos municípios onde estão localizadas as obras de adução e os rios e açudes receptores. A AID tem um total de 67.000 km², determinado pela soma das áreas de 86 municípios.” (RIMA, 2004) “A Área Diretamente Afetada (ADA) foi definida como uma faixa ao longo das estruturas do Projeto, com 5 km de largura para cada lado. Nessa área serão efetuadas as principais intervenções para o transporte da água, como a construção de canais, estações de bombeamento, túneis, aquedutos e reservatórios, além de edificações temporárias, como canteiros de obras, alojamentos de trabalhadores e vias de acesso de veículos e maquinário. Compreende uma superfície da ordem de 7.750 km², que é muito maior do que a área onde ocorrerão as obras. A largura total da faixa necessária para as obras dos canais, por exemplo, tem cerca de 200 m.” (RIMA, 2004) 6.10 As Unidades de Conservação Existem áreas preservadas na região, em função de iniciativas públicas e privadas. Nos quatro estados (PE, PB, RN e CE), foram identificadas 123 Unidades de Conservação, sob as formas de Parques Nacional, Estadual e Municipal, Áreas de Proteção Ambiental (APA), Florestas Nacionais (FLONA), Estações Florestais Experimentais, Áreas de Relevante Interesse Ecológico (ARIE), Monumentos Naturais (Vale dos Dinossauros), Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN), Reservas Biológicas e Estações Ecológicas (RIMA, 2004). 6.11 Os animais da região 73 O Estudo de Impacto Ambiental aponta a existência de mais de 400 espécies de aves presentes no domínio da Caatinga, além da presença de aves migratórias que vêm do Hemisfério Norte e de outras regiões do Brasil (RIMA, 2004). “A falta de perspectivas para a região leva muitos moradores a adotar como prática de subsistência a captura de aves para comercialização em feiras e beiras de estradas.” (RIMA, 2004) “As análises do EIA mostram que é pequeno o número de mamíferos exclusivos da Caatinga. De um total de quase 100 espécies que vivem na região influenciada pela Integração, apenas três só vivem em regiões restritas na Caatinga. A presença de água é fundamental para a vida dos mamíferos; por conseguinte, os hábitats mais úmidos do Nordeste, como as áreas próximas a serras e chapadas, são os que apresentam maior número de animais.” (RIMA, 2004) “Um outro fator impactante da fauna de mamíferos do Semi-Árido é a prática da caça, seja motivada por questões econômicas (venda de peles), seja como forma de subsistência. Essas atividades (caça e desmatamento) podem ser consideradas as principais responsáveis pela ameaça de extinção regional de algumas espécies.” (RIMA, 2004) “Os peixes de rios e açudes do Semi-Árido já sofreram grandes impactos gerados pela atividade humana. A redução das matas às margens dos rios, a prática da açudagem e, principalmente, a introdução de peixes de outras regiões causaram inúmeras alterações diretas e indiretas na sua composição. Por outro lado, para as comunidades que tiram parte de seu sustento da pesca, os peixes mais importantes são aqueles historicamente introduzidos pelo DNOCS à época da criação dos açudes públicos.” (RIMA, 2004) “A maior concentração de anfíbios (sapos, rãs e pererecas) da região ocorre nos brejos de Caatinga. Nesses ambientes, a umidade se mantém em níveis altos na maior parte do ano. Essa concentração atrai também cobras que se alimentam, às vezes, exclusivamente, dos anfíbios. Da mesma forma que para aves e mamíferos, a presença de água exerce forte influência nos locais onde há sapos, cobras e lagartos.” (RIMA, 2004) “Finalmente, há um certo número de espécies que são bastante generalistas e são encontradas em uma grande variedade de ambientes, inclusive na Caatinga.” (RIMA, 2004) 74 “Entre elas, cabe citar a rã-pimenta, que representa importante fonte de proteína animal para as populações locais, sendo amplamente utilizada na alimentação do sertanejo. Curiosamente, apesar de ser muito comum na Caatinga, essa espécie é considerada rara em outras regiões.” (RIMA, 2004) 6.12 Estudos sobre o homem O ritmo de crescimento da economia nordestina tem sido intenso nas últimas quatro décadas (RIMA, 2004). “A região recebeu incentivos governamentais para atrair investidores. Com isso, houve um expressivo aumento na renda per capita (o total de riquezas produzidas na região dividida por toda a população), que na região, passou de R$ 860,00/ano, em 1960, para R$ 2.900,00/ano, em 1997.” (RIMA, 2004) “Enquanto a atividade industrial cresceu nesse período, a agropecuária perdeu importância.” (RIMA, 2004) “A participação desse setor na geração de riquezas para a região era de 31%, em 1970, e passou para 11%, em 1997. Esse declínio não foi apenas conseqüência da tendência nacional de industrialização e crescimento de atividades ligadas ao comércio e serviços.” (RIMA, 2004) “Com o aumento da concentração urbana, tornou-se mais barato para os governos criar e implementar serviços públicos. Esses serviços apresentaram bons resultados nas áreas de saúde e educação. A taxa de alfabetização da população adulta, por exemplo, aumentou de 46%, em 1970, para 71%, em 1996.” (RIMA, 2004) “No nível mais crítico em relação ao desenvolvimento humano, encontra-se a área correspondente ao sertão. A região mais pobre tem 91,5% da área e 70% da população da Área de Influência Indireta (AII). São, em muitos casos, localidades de frágil estrutura econômica. A principal atividade é a agropecuária, de baixa eficiência e, basicamente, ligada à sobrevivência.” (RIMA, 2004) 75 6.13 As comunidades indígenas Estudos realizados, baseados em informações da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) e do trabalho de campo de uma equipe de antropólogos, identificaram a presença de três comunidades no Estado de Pernambuco, localizadas em áreas próximas às obras: as Terras Indígenas Kambiwá, Truká e Pipipan (RIMA, 2004). 6.14 Os impactos e as medidas propostas Forma identificados 44 impactos, sendo 23 considerados, sendo 11 considerados positivos e 12, negativos (RIMA, 2004). Os impactos positivos mais relevantes a serem previstos com a implantação e operação do Projeto de Integração são os seguintes: Aumento da oferta e da garantia hídrica; Geração de empregos e renda durante a implantação; Dinamização da economia regional; Aumento da oferta de água para abastecimento urbano; Abastecimento de água das populações rurais; Redução da exposição da população a situações emergenciais de seca; Dinamização da atividade agrícola e incorporação de novas áreas ao processo produtivo; Melhoria da qualidade da água nas bacias receptoras; Diminuição do êxodo rural e da emigração da região; Redução da exposição da população a doenças e óbitos; Redução da pressão sobre a infra-estrutura de saúde (RIMA, 2004). Dentre os impactos negativos esperados, os avaliados como mais relevantes foram os seguintes: Perda temporária de empregos e renda por efeito das desapropriações; Modificação da composição das comunidades biológicas aquáticas nativas as bacias receptoras; Risco de redução da biodiversidade das comunidades biológicas aquáticas nativas nas bacias receptoras; Introdução de tensões e riscos sociais durante a fase de obra; Ruptura de relações sócio-comunitárias durante a fase de obra; Possibilidade de interferências com populações indígenas; Pressão sobre a infra-estrutura urbana; Risco de interferência com o Patrimônio Cultural; 76 Perda e fragmentação de cerca de 430 hectares de áreas com vegetação nativa e de hábitats de fauna terrestre; Risco de introdução de espécies de peixes potencialmente daninhas ao homem nas bacias receptoras; Interferência sobre a pesca nos açudes receptores; Modificação do regime fluvial das drenagens receptoras (RIMA, 2004). “A avaliação dos impactos ambientais decorrentes da instalação e operação do Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias do Nordeste Setentrional levou à elaboração de 24 Programas Ambientais.” (RIMA, 2004) “Ao serem executados, uns possibilitarão prevenção, atenuação e correções de impactos; outros são importantes para monitorar e acompanhar as mudanças que ocorrerão no meio ambiente da região e outros devem ser implantados para que os benefícios do Projeto sejam alcançados e promovidas as melhorias da qualidade ambiental da região e das pessoas que vivem nas áreas secas por onde passará o canal.” (RIMA, 2004) “Em todos os programas propostos, deverá haver a participação do empreendedor, executando, ou financiando, ou gerenciando as ações sugeridas. Por enquanto, os programas não estão detalhados, sendo necessário seu aprofundamento, quando for elaborado o Projeto Básico Ambiental para a obtenção da Licença de Instalação. Nesse momento, os detalhes e o cronograma de obras do empreendimento terão sido mais bem analisados e devidamente discutidos com a população moradora dos municípios atravessados pelo canal, as instituições públicas e privadas interessadas no Projeto e os órgãos ambientais.” (RIMA, 2004) Programas que estão relacionados com Apoio às Obras: Plano Ambiental de Construção – PAC; Programa de Treinamento e Capacitação de Técnicos da Obra em Questões Ambientais; Programa de Identificação e Salvamento de Bens Arqueológicos; Programa de Indenizações de Terras e Benfeitorias; Programa de Reassentamento de Populações; Programa de Recuperação de Áreas Degradadas; Programa de Limpeza e Desmatamento dos Reservatórios (RIMA, 2004). Programas Compensatórios: Programa de Apoio Técnico às Prefeituras; Programa de Desenvolvimento das Comunidades Indígenas; Programa de Compensação Ambiental; Programa de Conservação e Uso do Entorno e das Águas dos 77 Reservatórios; Programa de Implantação de Infra-Estrutura de Abastecimento de Água às Populações ao longo dos Canais; Programa de Fornecimento de Água e Apoio Técnico para Pequenas Atividades de Irrigação ao longo dos Canais para as Comunidades Agrícolas; Programa de Apoio ao Desenvolvimento de Atividades de Piscicultura; Programa de Apoio e Fortalecimento dos Projetos de Assentamentos Existentes ao longo dos Canais; Programa de Regularização Fundiária nas Áreas do Entorno dos Canais (RIMA, 2004). Programas de Controle e Monitoramento: Programa de Monitoramento de Vetores e Hospedeiros de Doenças; Programa de Controle da Saúde Pública; Programa de Monitoramento da Qualidade da Água e Limnologia; Programa de Conservação da Fauna e da Flora; Programa de Prevenção à Desertificação (RIMA, 2004). “Para o sucesso de todos os programas citados, é necessário que se desenvolva um Plano de Gestão, Supervisão e Auditoria Ambiental associado a um Programa de Comunicação Social e de Educação Ambiental, além da participação intensa das comunidades e da sociedade com um todo.” (RIMA, 2004) “Este Plano é responsável pela organização e supervisão da implementação dos demais programas, seus resultados e pela articulação das ações entre os diferentes programas, de forma a manter o padrão de qualidade ambiental desejada pelas comunidades da área do Projeto.” (RIMA, 2004) “O Comitê de Gestão Ambiental deverá ser formado por duas equipes subordinadas a um Coordenador-Geral, profissional responsável pelo relacionamento com os órgãos oficiais de fiscalização – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e órgãos ambientais dos estados – e com as comunidades locais e toda a sociedade civil.” (RIMA, 2004) “A responsabilidade pela implementação dos programas é do empreendedor, que deverá atuar com duas equipes: uma, de supervisão ambiental, e outra, de acompanhamento.” (RIMA, 2004) 78 6.15 O que pode acontecer se o projeto não for realizado A gravidade da situação encontrada nessa região transformou-a, há muito tempo, em prioridade das políticas públicas, que buscam mecanismos para o desenvolvimento econômico e social na região, mas sempre terminam por deparar com um grande obstáculo: a pouca disponibilidade de água (RIMA, 2004). “O Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias do Nordeste Setentrional surge agora como a principal alternativa para enfrentar o problema da escassez de água no sertão e no agreste. Sem ele, não se vislumbra uma solução para o abastecimento regular de água, e espera-se uma continuidade do processo secular de empobrecimento e de crescimento da miséria na região e dos problemas a ele associados.” (RIMA, 2004) Estimativas demográficas para o ano 2025 apresentam o seguinte panorama, somente para as bacias receptoras do Projeto de Integração (desconsiderando populações externas a essas bacias, porém por elas abastecidas): a população da região deverá atingir 9,02 milhões de habitantes; a bacia do Paraíba, que inclui as cidades de João Pessoa e Campina Grande, tende a atingir 2,47 milhões de habitantes, com forte concentração da população nas áreas urbanas; a população que vive nas bacias do Jaguaribe, Apodi, Piranhas-Açu e São Francisco deverá apresentar um pequeno crescimento demográfico – a população, que hoje é de 5,45 milhões de habitantes (ano 2000), deverá crescer para 6,55 milhões; com a pressão sobre as pequenas e médias cidades, prevê-se o aumento dos índices de urbanização nessas bacias, passando dos atuais 58,8%, verificados em 2000, para 71,9%; nesse mesmo período, as áreas rurais deverão perder 1,13 milhão de habitantes, dos quais 90% (1,02 milhão) deverão sair do meio rural das bacias do Jaguaribe, Apodi, Piranhas-Açu e São Francisco (RIMA, 2004). “A crescente urbanização prevista até 2025 acontecerá em uma situação de contínua degradação das condições de abastecimento domiciliar de água, caso não seja implantado o Projeto de Integração.” (RIMA, 2004) 79 “Com isso, as freqüentes situações emergenciais de secas estarão mantidas aumentando até sua gravidade atual, que afetará, em média, 1,16 milhão de habitantes, a cada ano, por volta de 2025.” (RIMA, 2004) “A incidência de doenças associadas à escassez de água (principalmente as infecções intestinais e as intoxicações alimentares) é elevada e será ainda maior.” (RIMA, 2004) “Estima-se que as internações relativas a essas doenças atingirão, em 2025, números próximos a 53,5 mil.” (RIMA, 2004) No que se refere às áreas vizinhas ao Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional, pode-se antever que o desfavorável quadro da atividade agropecuária permanecerá. A tendência é que ela se mantenha restrita às áreas com alguma sustentabilidade, o êxodo rural continuará intenso, e as pequenas e médias cidades continuarão a sofrer forte pressão demográfica, as condições de vida das populações rurais tenderão a apresentar progressos lentos, devendo permanecer um quadro de relativa estabilidade, no que se refere às relações socio-comunitárias que viabilizam a subsistência das comunidades rurais (RIMA, 2004). “Do ponto de vista ambiental, a região apresenta problemas típicos de zonas de uso das terras para fins agropecuários e extrativismo. A cobertura vegetal de Caatinga já está bastante comprometida, com sérias conseqüências sobre a fauna original.” (RIMA, 2004) “Em conseqüência da retirada de cobertura vegetal para lenha e carvão ou para uso em cercas de proteção das lavouras, a Caatinga vem sendo degradada de forma intensa. Cabe ressaltar que a região, como um todo, apresenta um forte potencial ao desenvolvimento de processos erosivos, o que se manterá indefinidamente se não houver uma política eficaz de conservação e manejo adequado das terras.” (RIMA, 2004) “Caso o desenvolvimento econômico da região continue acontecendo da forma como se dá hoje em dia, a tendência é que essa problemática ambiental se amplie.” (RIMA, 2004) “A pecuária extensiva é, hoje, uma das poucas alternativas de sobrevivência para a população do Semi-Árido.” (RIMA, 2004) 80 “No entanto, ela implica a abertura constante de novos pastos, a qual, somada à retirada constante de madeira da Caatinga, provoca o desmatamento dos poucos remanescentes originais e a destruição da fauna que nela vive.” (RIMA, 2004) “Esse processo acarreta uma marcante perda de diversidade na região, pois não se está degradando somente uma ou duas espécies, mas, sim, o hábitat de diversos animais silvestres existentes na Caatinga.” (RIMA, 2004) “Observam-se atualmente, em toda a área, um baixo nascimento e uma alta mortalidade de plantas, o que se reflete numa diminuição das plantas da Caatinga: só sobrevivem as mais resistentes. Isso é conseqüência do intenso desmatamento, da queima e abate de árvores e do consumo de algumas plantas pelo rebanho caprino.” (RIMA, 2004) “A baixa circulação das águas na região favorece a presença do caramujo que hospeda o causador da barriga d’água e dos mosquitos transmissores de doenças, como a malária, a filariose, a febre amarela e a dengue.” (RIMA, 2004) Caso não sejam adotadas medidas de proteção ambiental e de melhoria das condições de vida das populações, é de esperar que tanto a região da bacia do rio São Francisco quanto a do Nordeste Setentrional enfrentem, cada vez mais, graves problemas ambientais, onde se destacam o comprometimento da biodiversidade dos ecossistemas existentes; o aumento dos processos erosivos com o conseqüente risco de desertificação de áreas; conflitos sociais; o aumento do êxodo rural; a diminuição da produção agrícola, dentre outros (RIMA, 2004). 6.16 E caso o projeto de integração seja realizado Com a construção do Projeto, inicialmente são esperadas mudanças temporárias e localizadas nos arredores das obras (RIMA, 2004). “Do ponto de vista socioeconômico, as ações necessárias à implantação do Projeto (planejamento, estudos e obras) poderão ter resultados negativos 81 imediatos, que, no entanto, deverão sofrer interferências para que sejam evitados ou atenuados.” (RIMA, 2004) Dentre eles, podem ser destacados: as perdas de áreas produtivas e o deslocamento de populações para implantação dos canais e dos reservatórios, onde se estima que cerca de 3.500 pessoas venham a ser remanejadas e reassentadas; a criação de um ambiente de tensões sociais, em função do passado de desconfianças em relação às intervenções governamentais e de perturbações localizadas causadas pelo projeto (atração de trabalhadores não absorvidos nas obras, aumento dos riscos de acidentes nas estradas rurais, pressões sobre a infraestrutura urbana etc.); a ampliação de riscos socioculturais, tais como os de comprometimento do Patrimônio Arqueológico e de interferência em comunidades indígenas (RIMA, 2004). “Por outro lado, a oferta imediata de água, tanto para abastecimento quanto para a produção, a partir do início da operação do Projeto, deverá refletir-se em uma mudança local positiva, compensando as perturbações decorrentes da obra.” (RIMA, 2004) Esse efeito positivo será ainda mais sentido a partir dos seguintes benefícios: inserção dos 24.400 hectares ao longo dos canais no processo produtivo (por meio da irrigação); disponibilização de água para rebanhos; geração de novas possibilidades de renda; aumento do número de famílias fixadas no campo; garantia de abastecimento das comunidades ao longo dos canais com água de boa qualidade, através dos chafarizes (RIMA, 2004). “O Projeto de Integração permitirá a inserção, na região, de cerca de 186.000 hectares de novas terras agricultáveis com irrigação.” (RIMA, 2004) “Estima-se a criação de 240.000 empregos rurais diretos e indiretos, viabilizando a fixação de 400.000 habitantes no campo. Esse efeito deverá reduzir em 35% o êxodo rural previsto para acontecer até 2025 na ausência do empreendimento.” (RIMA, 2004) “As novas condições de oferta de água propostas pelo Projeto deverão favorecer um maior desenvolvimento de atividades econômicas urbanas (indústria, comércio e serviços).” (RIMA, 2004) 82 “Estima-se a geração de cerca de 80.000 novos empregos nas bacias receptoras e mais 350.000 empregos nas outras regiões potencialmente beneficiárias em função de projetos integráveis em outras bacias.” (RIMA, 2004) “O Projeto representará uma possibilidade de disponibilização de água de boa qualidade para outras regiões que possam vir a ser beneficiadas por futuras transposições, como a Região Metropolitana de Fortaleza e o Agreste pernambucano.” (RIMA, 2004) “A oferta de água que o Projeto de Integração propõe será suficiente para eliminar a deficiência atual no atendimento a aproximadamente 970 mil pessoas e para manter qualidade no padrão de atendimento até 2025, ano em que o suprimento atingirá 12,36 milhões de habitantes.” (RIMA, 2004) “Com o aperfeiçoamento do suprimento de água, prevê-se ainda uma redução, também, de 30% (340 mil pessoas) no número de pessoas que estariam expostas às situações emergenciais das secas.” (RIMA, 2004) “O Projeto deverá reduzir em 26% as internações previstas para 2025 em decorrência da incidência de doenças associadas à escassez de água. Assim, pode-se dizer que o empreendimento contribuirá de forma significativa, também, para melhorar as condições sanitárias e amenizar os graves problemas sociais causados pelas condições ambientais da região.” (RIMA, 2004) “Com relação aos aspectos ambientais, os impactos gerados pelo Projeto de Integração poderão ser perfeitamente atenuados e monitorados por meio dos Programas Ambientais propostos que passarão a ser parte integrante do Projeto.” (RIMA, 2004) “Possíveis impactos do Projeto nos solos e na paisagem, decorrentes de ações ligadas à construção de canais e das barragens, são pouco significativos.” (RIMA, 2004) “Vale mencionar ainda que a bacia do São Francisco não sofrerá alterações significativas em função do Projeto de Integração, já que ele não causa interferências aos demais usos previstos nessa bacia. Os contextos ambiental e energético se manterão vigorosos e independentes da implantação e operação do Projeto de Integração.” (RIMA, 2004) 83 “O Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional pode ser considerado, portanto, como um empreendimento ambientalmente viável, ao trazer, potencialmente, com sua inserção, benefícios econômicos, sociais e ecológicos que superarão os impactos ambientais que possam advir de sua implantação e operação – isso, se houver por parte do empreendedor uma boa gestão no sentido de implantação de todos os Programas Ambientais propostos, tanto para a fase de implantação do Projeto como para a fase de operação.” (RIMA, 2004) 6.17 Transposição: Uma grande polêmica Segundo o INPE/FUNCATE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais/Fundação de Ciência, Aplicação e Tecnologia Espaciais), não se pode e não se deve, considerar que se deva a miséria unicamente ao “flagelo das secas”. Na verdade, a miséria que se vem perpetuando desde a colonização, é resultante de vários fatores somados, em que se destacam as políticas inapropriadas, o clientelismo vicioso, o analfabetismo das gentes e o seu conseqüente despreparo para enfrentar as adversidades, inclusive as climáticas. “A base do problema não é a falta de água, mas sim uma estrutura social anacrônica, em que ainda persistem comportamentos remanescentes do período colonial, perpetuados por interesses das oligarquias que resistem, embora já bastante extenuadas à modernização e às exigências da virada do século.” (INPE/FUNCATE, 2006) “O analfabetismo e o despreparo profissional são os sustentáculos da subserviência que grassa na população, que passa a depender do apadrinhamento político de nomes que são cultuados, não como líderes, mas como senhores do direito de mando sobre um território definido.” (INPE/FUNCATE, 2006) “O atraso social e econômico impede a quebra do círculo vicioso, porque inviabiliza o aperfeiçoamento tecnológico e a capacitação profissional para vencer os obstáculos do meio onde vive. O nordestino deixa de viver a “seca”, que é normal em seu meio, para viver a esperança da chuva. Em nosso entender, a base do problema é o analfabetismo, que alimenta o 84 clientelismo, além de estimular o fatalismo, que reduz as aspirações e impede o crescimento.” (INPE/FUNCATE, 2006) “A indisponibilidade é fruto de erros de programação, de estratégias mal definidas e da intermitência dos planos de geração e acumulação de água.” (INPE/FUNCATE, 2006) “Percorrem-se centenas de quilômetros do Semi-árido, sem que se perceba quaisquer estruturas (que não sejam açudes e cacimbas) das mais simples às mais complexas, indispensáveis à implementação de estabelecimentos rurais em região seca, que os capacitem a sobreviver. Não há coleta de água das superfícies de cobertura de edificações, não há preservação da vegetação marginal dos riachos e rios e, principalmente, não há uma economia adequada às condições regionais. Em suma, nem se armazena mais água, nem se economiza esse recurso. Não pode, em tese, faltar água, por exemplo, no Ceará, onde a pluviosidade média é de 600 mm. Pode faltar armazenamento, mas a água existe.” (INPE/FUNCATE, 2006) “Não é muito alegar-se ser possível a utilização de água subterrânea, tanto para o abastecimento humano e dessedentação de animais, notadamente na zona rural.” (INPE/FUNCATE, 2006) “Não é o embasamento cristalino argumento técnico seguro para se justificar o imobilismo e insensibilidade do governo para solução do problema. Um poço com uma vazão de 5.000 l/hora (abaixo da média apresentada pelo Relatório DERU/DNOCS - Setembro de 1982, que é de 6.018 l/h) é capaz, trabalhando 10 horas por dia, de garantir o abastecimento de 1.000 habitantes, considerando um consumo de 50 l/dia per capita, quando a média na zona rural é de 25 l/dia.” (INPE/FUNCATE, 2006) “O impedimento da utilização é decorrente da forma de operação dos açudes que, em geral, não bombeiam para adutora, pois se utiliza o sistema de recomposição do caudal com a regularização.” (INPE/FUNCATE, 2006) “Com a transposição, a evaporação não cessará, e o assoreamento tende a aumentar, tendo em vista que existirão 1.550 km de água em movimento durante todo o ano, com conseqüente condução de material sólido.” (INPE/FUNCATE, 2006) 85 “Os quatro Estados citados no documento podem até ter 90% dos seus territórios sujeitos à probabilidade de secas, mas, na realidade, eles representam, somados, apenas 32% do Polígono das Secas e, em contrapartida, detêm 94% da água acumulada na região, assim distribuída: Ceará - 12.912.023.000 (doze bilhões, novecentos e doze milhões e vinte e três mil) metros cúbicos; Rio Grande do Norte - 4.512.897.000 (quatro bilhões, quinhentos e doze milhões, oitocentos e noventa e sete mil) metros cúbicos; Paraíba - 2.455.467.000 (dois bilhões, quatrocentos e cinqüenta e cinco milhões, quatrocentos e sessenta e sete mil) metros cúbicos; Pernambuco - 854.649,000 (oitocentos e cinqüenta e quatro milhões, seiscentos e quarenta e nove mil) metros cúbicos, totalizando 20.725.036.000 (vinte bilhões, setecentos e vinte e cinco milhões, trinta e seis mil) metros cúbicos.” (INPE/FUNCATE, 2006) “O trabalho de acumulação está inconcluso, haja vista que os 68% restantes do Polígono das Secas só dispõem de 6% da capacidade total de acumulação, ou seja, 1.276.847.000 (um bilhão, duzentos e setenta e seis milhões, oitocentos e quarenta e sete mil) metros cúbicos para os demais Estados do Polígono, assim distribuídos: Piauí - 172.643.000 (cento e setenta e dois milhões, seiscentos e quarenta e três mil) metros cúbicos; Alagoas - 56.725.000 (cinqüenta e seis milhões, setecentos e vinte e cinco mil) metros cúbicos; Sergipe - 18.854.000 (dezoito milhões, oitocentos e cinqüenta e quatro mil) metros cúbicos; Bahia - 949.509.000 (novecentos e quarenta e nove milhões, quinhentos e nove mil) metros cúbicos e norte de Minas - 76.116.000 (setenta e seis milhões, cento e dezesseis mil) metros cúbicos (Fonte: Açudes Públicos do Nordeste - DNOCS, 1982).” (INPE/FUNCATE, 2006) Pretende-se sempre passar a idéia de que o problema da seca estará superado com a transposição, como induz o documento Relatório Síntese, Agosto de 99, da Secretaria de Infra-estrutura Hídrica e a SESPRE (Secretaria Especial da Presidência) no documento de 1995, diz: "O Nordeste poderia transformar-se em rico celeiro agrícola se pudesse contar com água do São Francisco" (INPE/FUNCATE, 2006). “Na década de 1970 não era essa a visão do DNOCS, quando concebeu um ousado Programa de Irrigação, planejando implantar 20 a 25 mil hectares de irrigação, anualmente. Para isto, contratou consultoria estrangeira, mandou técnicos para o Exterior, para capacitá-los na prática e na técnica de irrigação, esquecendo o abastecimento humano. Esse 86 Programa não envolvia água do São Francisco, resultando hoje, em apenas 32.000 hectares irrigados, algumas centenas deles já salinizados; para uma potencialidade compatibilizada solo/água de 600.000 (seiscentos mil) hectares, o que se conseguiu representa, simplesmente, 5% desta potencialidade, portanto, uma insignificância.” (INPE/FUNCATE, 2006) “Outra redenção muito propalada, a ponto de a Revista Interior (Janeiro/Fevereiro 83), estampar: “Mar de Água Doce - No sertão potiguar, uma imensa barragem garante água para desenvolver a agricultura irrigada” - “Segundo o chefe do 1º Distrito do Departamento de Obras Contra as Secas - DNOCS, no Rio Grande do Norte, Clóvis Ribeiro Santos, a barragem Armando Ribeiro Gonçalves, ou barragem do Açu, como é mais conhecida, representará a salvação do Estado”. - “Será o maior açude do Nordeste voltado para projetos de irrigação (2,4 bilhões de metros cúbicos de água espalhados por 40 mil hectares de área alagada), beneficiando agricultura e a pecuária, a indústria salineira, a indústria da pesca e o turismo”.” (INPE/FUNCATE, 2006) “À época, segundo a reportagem, o principal objetivo da barragem era “propiciar condições permanentes da agricultura e da pecuária. Para isso deverão ser irrigadas três grandes áreas, cada uma com aproximadamente sete mil hectares de terras, sendo uma à margem direita e outra na margem esquerda são constituídas de aluvião que Clóvis chama de terreno milagroso”.” (INPE/FUNCATE, 2006) “Entusiasmado, o Diretor do DNOCS dizia que “outros aspectos positivos além da irrigação e da indústria salineira, será o surgimento de uma promissora indústria turística e de lazer. Isso, sem falar na pesca onde se estima uma produção de 2.500 t. anuais, que trarão rendimentos essenciais às 800 famílias que dependem do pescado da região. Prevê o cultivo de 150 ha de alho ao ano, 875 de hortaliças, 3.998 ha de citros diversos e 1.837 ha de banana. A uva certamente baterá recordes de colheita, com um plantio de 1.454 hectares/ano, enquanto o tomate será contemplado com 900 e o algodão com 1.174 ha ao ano”.” (INPE/FUNCATE, 2006) “E prossegue de forma megalômana a desfiar o sucesso da irrigação naquele açude, que chegaria a influir na balança comercial do país, contribuindo para sua elevação com a exportação de alho e uva. Extraordinários são os números citados para produção agropecuária: “300 mil toneladas de produtos agrícolas por ano, 33 milhões de litros de leite 87 (significam 33 mil metros cúbicos de leite), 8.400 cabeças de gado/ano para abate e 2.500 toneladas anuais de peixe, como já foi mencionado”.” (INPE/FUNCATE, 2006) “Parece-nos prudente e oportuno que as autoridades mandem verificar se esse paraíso se concretizou - 12 anos depois de concluída a obra de reservação - para não cometer, com a transposição, outro desatino, agora mais grave.” (INPE/FUNCATE, 2006) “Há uma outra alegação, é que o governo gasta 2 bilhões de dólares, em cada ano de seca para atender aos flagelados e transportar água em uma área de 1.064.000 km². Com a transposição, caso se mantivesse a vazão de 280 m³/s, gastaria essa fortuna para atender a, apenas, 31.000 km², ou seja, tão somente 3% do Polígono das Secas, assim mesmo graças à benevolência do Engenheiro Cássio Borges, ex-Diretor do DNOCS e seu ex-chefe da Divisão de Hidrologia, que estimou o benefício da água do São Francisco ao longo de 1.550 km de rios e 10 km de cada margem.” (INPE/FUNCATE, 2006) “Em 23/08/94, em artigo intitulado “Transposição: uma realidade iniludível”, no jornal O Povo, de Fortaleza, diz o Dr. Cássio: “Democraticamente, faremos a seguir as seguintes considerações: no Estado do Ceará (148.016 km²) apenas a bacia hidrográfica do Rio Jaguaribe, que tem 74.000 km², será contemplada pelo projeto em referência. No Rio Grande do Norte (53.015 Km²) os vales que vão receber as benesses da transposição são o Apodi e o Açu (Piranhas-Açu), com 14.245 km² e 18.013 km², respectivamente, que somados representam 55% da área total do Estado. Na Paraíba (56.373 km²) as águas do rio São Francisco, chegarão através do rio Piranhas, que tem 24.692 km², menos da metade da superfície daquele Estado. Desta forma, os três vales a serem favorecidos pela “transposição” têm um total de 130.971 km², os quais ocupam 8,5% do território nordestino”. (INPE/FUNCATE, 2006) “Ademais, levando-se em conta que as águas benfazejas do Projeto de Transposição das Águas do rio São Francisco atingirão apenas, os leitos principais dos rios Salgado-Jaguaribe, no Ceará; Apodí e Açu, no Rio Grande do Norte e Piancó-Piranhas, no Estado da Paraíba, chega-se à conclusão de que somente 2% da superfície do Nordeste, ou seja, cerca de 31.000 km² serão, efetivamente contemplados pelo referido projeto. Esta área compreende os territórios adjacentes às calhas dos rios ao longo dos 1.550 km de extensão percorridos pelas águas da transposição nos três 88 Estados citados, incluindo o Estado de Pernambuco. Para tanto consideramos uma faixa marginal beneficiada de 20 km ao longo desse trajeto, ou seja, tomamos dez quilômetros em cada margem, resultando em 1.550 x 20 = 31.000 km²” . Portanto, se por acaso vier a beneficiar ao longo dos 1.550 km de rios e 20 km de margem, o que é humanamente impossível, atenderia apenas 3% do polígono das secas, cuja área é de 1.064.000 km, ou seja, 106.400.000 ha, ou apenas 2% do Nordeste, cuja área é de 1.600.000 km², ou seja, 160.000.000 ha.” (INPE/FUNCATE, 2006) “Na verdade, o governo terá de gastar além dos 2 bilhões de dólares, muito mais dinheiro para atender aos 97% restantes do Polígono, que não serão beneficiados com a transposição.” (INPE/FUNCATE, 2006) “O argumento de que se resolveria em definitivo o problema da seca, no Nordeste, gastando-se 2 bilhões de dólares não é correto.” (INPE/FUNCATE, 2006) “A transposição de 70 m³/s representa, exatamente, um volume total anual de 1,15 bilhões de metros cúbicos de água, que deverão correr para os rios dos quatro Estados: Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. (INPE/FUNCATE, 2006) “A área que compõe a rede hidrográfica dos quatro Estados é de 320.000 km², onde se situam 180 açudes.” (INPE/FUNCATE, 2006) “A precipitação média anual dessa região é de 600 mm/ano, caindo, portanto, sobre ela um volume de 192 bilhões de metros cúbicos de água por ano.” (INPE/FUNCATE, 2006) “Este é o volume de água que escoa para os barramentos, depois de subtraídas a infiltração e a evaporação, volume, por coincidência, igual à capacidade de estocagem dos açudes(INPE/FUNCATE, 2006) “Nos anos piores de estocagem esses açudes ficam somente com a reserva de 25%, conforme afirma o documento da Secretaria Especial de Políticas Regionais.” (INPE/FUNCATE, 2006) “Assim, bastam 75% das chuvas anuais. Fica, portanto, claro que as águas dos açudes dos Estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco, se renovam anualmente nos períodos normais de chuvas.” (INPE/FUNCATE, 2006) 89 “Para permanecer com estoque de apenas 25% são necessários anos seguidos de precipitação zero, fato difícil de ocorrer no período. Há, sempre, uma recarga anual, mesmo que não atinja a cota máxima dos açudes(INPE/FUNCATE, 2006) “É incrível, mas é verdade: a transposição de 70 m³/s ou 1,15 bilhões de metros cúbicos/ano somente representa 5,5% da capacidade de estocagem dos 180 açudes dos quatro Estados, que é de 20,7 bilhões de metros cúbicos.” (INPE/FUNCATE, 2006) “A transposição é, pois, inteiramente desnecessária, porque nada acrescenta em termos de suprimento hídrico para os quatro Estados(INPE/FUNCATE, 2006) “Cada m³/s retirado a jusante de Sobradinho, impede a geração de 2,4 MW na cascata da CHESF, e sua elevação a 160 m, como prevê o Projeto irá consumir 1,6 MW que totalizam 4 MW por metro cúbico entre o que deixa de gerar e o que vai consumir. Ora serão 280 MW de déficit na geração de energia, que os 70 m³/s provocarão no sistema.” (INPE/FUNCATE, 2006) “É também relevante considerar que a CHESF gera o MW mais barato - em torno de US$23,00 - enquanto as demais empresas de geração chegam a US$ 50,00. A importação de energia da Eletronorte acarretará um aumento de custos aos usuários do Nordeste, principalmente pela perda por condução. Como a região precisa, e muito, de desenvolver-se econômica e socialmente, o aumento da tarifa e a perda de condução, certamente serão componentes de atrofia, senão de retrocesso.” (INPE/FUNCATE, 2006) “Quem faz a afirmação de que “os 70 m³/s a serem derivados do rio São Francisco não comprometerão os 144.000 ha de projetos de irrigação que vêm sendo implantados, pelo Governo Federal, nos Estados de Minas Gerais, Bahia, Sergipe e Alagoas”, parece desconhecer a situação do São Francisco(INPE/FUNCATE, 2006) “Se por acaso estivessem sendo bombeados 70m³/s a jusante de Sobradinho, obrigatoriamente teriam que ser compensados na afluência ao lago para evitar racionamento, o que num momento crítico como o atual se a seca prolongar-se ter-se-ia que paralisar a irrigação de cerca de 70.000 ha a montante.” (INPE/FUNCATE, 2006) “Se já se retiram 541 m³/s, pesa a retirada de 70 m³/s, que irão totalizar 610 m³/s.” (INPE/FUNCATE, 2006) 90 “Não é justo que se prejudique uma Região, que se sacrifique o contribuinte (o dobro da despesa para produzir a mesma quantidade de alimentos) e não se atenda, como convém, nem uma Região nem a outra.” (INPE/FUNCATE, 2006) “Os custos do descaso a que foi submetida a bacia relegada a ação antrópica destruidora são hoje assustadores. Se formos recuperar as matas ciliares somente a calha principal demandaria R$800.000.000,00 (oitocentos milhões de reais), considerando que 30% da área não careçam desse benefício, sendo o seu custo de R$4.000,00 (quatro mil reais) por hectare, para respeitar a lei que determina uma faixa de 500,0 m de cada margem nos rios com mais de 1 km de largura.” (INPE/FUNCATE, 2006) “Se tomarmos uma média de 100,0 m de largura na rede de afluentes, teríamos outros 140.000 ha que demandariam R$ 560.000.000,00 (quinhentos e sessenta milhões de reais) para recomposição ciliar.” (INPE/FUNCATE, 2006) “A crescente atividade agrícola tem ocasionado grande consumo de insumos, fertilizantes e agroquímicos, gerando grande poluição.” (INPE/FUNCATE, 2006) “As cidades não possuem sistema de esgotos sanitários, e as águas utilizadas, são conduzidas aos cursos d’água.” (INPE/FUNCATE, 2006) “Segundo a Companhia de Abastecimento de Água e Saneamento do Estado de Alagoas (CASAL), a água captada no Rio São Francisco e destinada ao consumo doméstico, não preenche os padrões de qualidade, no que diz respeito à turbidez.” (INPE/FUNCATE, 2006) “Por ocasião das enchentes, durante o período de verão, o rio apresenta coloração turva, em conseqüência do elevado teor de silte em suspensão na água. Portanto, nessas condições, torna-se necessário o tratamento convencional das águas para consumo doméstico.” (INPE/FUNCATE, 2006) “Os grandes projetos de culturas irrigadas em curso pela CODEVASF e outros órgãos, poderão ocasionar problemas pela utilização de fertilizantes químicos e agrotóxicos.” (INPE/FUNCATE, 2006) “Para os trechos dos rios intermitentes deve-se ter cuidados especiais porque, localizados no Polígono das Secas, apresentam regime fluvial 91 caracterizado pela ocorrência de enxurradas violentas durante o período das chuvas. Devido às características da vegetação da caatinga e do solo durante o período das enxurradas, grande quantidade de material arenoso é carreado para os rios.” (INPE/FUNCATE, 2006) “Durante o período de intermitência, os limites desses rios geralmente apresentam grandes bancos de areia que são altamente permeáveis. Quando no período de estiagem, a água de superfície evapora-se deixando a água confinada no subsolo de onde a mesma é retirada através de cacimbas, pelos sertanejos. Durante os períodos mais críticos das estiagens, esse recurso hídrico é de vital importância para o abastecimento doméstico e para dessedentação de animais na região.” (INPE/FUNCATE, 2006) “Um dos problemas existentes na Bacia do São Francisco que deve ser levado em consideração é gerado pelo lixo urbano. Todas as cidades depositam o lixo a céu aberto, poluindo o solo e as águas. (Extraído do Documento: Projeto Gerencial – CEEIVASF (Comitê Executivo de Estudos Integrados da Bacia Hidrográfica do Rio São Fracisco) - 002/80 “Enquadramento dos Rios Federais na Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco - Dezembro 1989).” (INPE/FUNCATE, 2006) 6.18 Algumas sugestões para as regiões do Semi-Árido e do São Francisco O INPE/FUNCATE sugerem outras alternativas para o problema hídrico do Nordeste, à saber: Para o Semi-árido: “Os argumentos até então levantados pelo Governo Federal em favor da transposição de águas do Rio São Francisco para os Vales de quatro Estados nordestinos - Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco - se fundamentam na carência de recursos hídricos da Região. Em análise mais detida, podemos ver que a equação desta carência pode e deve ser resolvida dentro do próprio mosaico geográfico do Polígono. Só após exaurir a potencialidade hídrica da própria região, será justo pensar na importação de água de outras bacias exportadoras.” (INPE/FUNCATE, 2006) 92 Demanda Hídrica anual dos Estados (Projeto Áridas): “O Projeto Áridas mostra que 7 bilhões de m³ ao ano atendem a todas as necessidades básicas dos quatro estados - abastecimento humano, animal, industrial, agroindustrial, ecológico e irrigação - naturalmente dentro de critérios racionais e uma correta distribuição espacial pelos 320.000 km² da Região.“ (INPE/FUNCATE, 2006) “A geração de água no Polígono das Secas se processa através de dois métodos clássicos: a reservação de águas de superfície pela construção de barramentos nos rios intermitentes da região e a perfuração de poços tubulares para captação de águas subterrâneas.” (INPE/FUNCATE, 2006) Águas de Superfície: “Hoje temos cerca de 70.000 barramentos entre grandes, médios, pequenos e pequeninos, que acumulam 22 bilhões de m³, estocam até 30 bilhões de m³ nos invernos generosos, quando a maioria sangra, e, ainda, asseguram água por 2, 3 ou mais anos subseqüentes.” (INPE/FUNCATE, 2006) “Com os 20.725 bilhões de m³, os quatro Estados, passam a ter uma capacidade de estocagem de 32.565 bilhões de m³. Se considerarmos, apenas, 25% de estoque para os anos de secas rigorosas, restam 8,141 bilhões de m³, o que é suficiente para toda a demanda regional.” (INPE/FUNCATE, 2006) Adutoras: “É estranho que, passado um século de construção de açudes com grandes mananciais acumulados, não exista no Nordeste um sistema robusto de adutoras para atender cidades, vilas e estabelecimentos rurais, partindo dos rios perenes - São Francisco e Parnaíba e dos 300 grandes açudes da região.” (INPE/FUNCATE, 2006) “As poucas adutoras já construídas têm prestado excelentes serviços de abastecimento às comunidades interioranas. O Estado de Sergipe possui mais de 1.700 km de adutoras, partindo do rio São Francisco. A adutora do Sertão, em Alagoas, tem 187 km de extensão. A adutora do Oeste, em Pernambuco, ainda não foi concluída. A adutora da Caraíba Metais, com 120 km vem prestando serviços ao interior da Bahia. Existe também a adutora de Salgueiro (PE), adutora da Ibiapaba (CE), a adutora da 93 barragem de Mirorós (BA), a adutora de açude Jacurici e outras menores. Todas vêm operando milagre no Semi-árido.” (INPE/FUNCATE, 2006) “O polígono já devia possuir uma portentosa rede filamentar de adutoras, adentrando pelos rincões mais aduncos, onde as grandes mortalhas do cristalino não permitem a formação de lençóis freáticos para a perfuração de poços tubulares.” (INPE/FUNCATE, 2006) “Por exemplo, a adutora de Mirorós (Irecê), com vazão de 750 l/s atende a 300.000 habitantes em mais de 100 aglomerados humanos. Uma adutora com vazão de 100 l/s atende a 40.000 habitantes e consome 3 milhões de m³/ano, isto é, um açude que acumula cem milhões de m³ (e são mais de 500 no Nordeste), utiliza apenas 3% da água estocada para mitigar a sede de 40.000 indivíduos. Três adutoras, partindo deste mesmo açude, consomem apenas 10% do manancial e atendem a 120.000 habitantes. Observe-se que a grande maioria das adutoras a serem instaladas, partem da parede do barramento no sentido de jusante, ofertando água por gravidade.” (INPE/FUNCATE, 2006) “Não entendemos por que o sistema aduzido de água, para o abastecimento urbano e rural, humano e animal, não é ainda uma prioridade do Governo para o Semi-árido nordestino. Os mananciais de superfície oferecem um mínimo de 30% de aproveitamento da sua capacidade de acumulação com 90% de sustentabilidade, bastando para isto competência técnica no manejo dos sistemas hidráulicos. O atendimento pelo sistema de adutoras só utilizará 10%, no máximo, de água dos reservatórios da acumulação.” (INPE/FUNCATE, 2006) Águas Subterrâneas: “As atividades para a perfuração de poços tubulares foram iniciadas no Nordeste em 1909, com perfuratrizes movidas a lenha. Até a presente data, foram perfurados no Semi-árido cerca de 25.000 poços tubulares em todos os estados do Polígono e em todos os municípios.” (INPE/FUNCATE, 2006) “Existem, apenas, cerca de 15.000 poços em atividade, 10.000 nada produzem pelos motivos mais diversos, menos por falta de água.” (INPE/FUNCATE, 2006) “No Nordeste Brasileiro, estamos muito aquém do mínimo desejado. Considerando a necessidade de um ponto permanente de água a cada 4 94 km, haveremos de ter 250.000 pontos permanentes para o desenvolvimento de pequenas bases econômicas pontuais. Temos água de sub-superfície para um programa desta natureza, e tudo só depende de vontade política.” (INPE/FUNCATE, 2006) “Alguns exemplos, entretanto, não dignificam os nossos administradores: no Estado do Piauí, 83% da sua superfície é de formação sedimentar e mais precisamente, no Vale do Gurgueia, principal afluente do Parnaíba, existem 175 poços profundos jorrando sem nada produzir. São cerca de 65 milhões de m³ que se perdem na superfície, esgotam a água do ventre da terra, e prestam, apenas, para os pic-nics dominicais. Só o famoso poço Violeta, maior vazão de poço da América do Sul, perde 250 l/s, ou seja, 900 m³/h, jorrante, sem prestar nenhum serviço ao homem.” (INPE/FUNCATE, 2006) Barragens Submersas: “São pequenas obras hidráulicas, construídas nos riachos efêmeros, para acumulação de água no subsolo. São obras bastante difundidas nos países das regiões áridas e semi-áridas, Israel, Quênia, Moçambique, etc.” (INPE/FUNCATE, 2006) “A UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), em 1951, mandou ao Polígono uma equipe de técnicos na especialidade, chefiada pelo hidrogeólogo francês Alberto Robaut, que já chefiara outra equipe no Marrocos. Até 1954, a equipe desenvolveu e executou inúmeros projetos no Ceará e Rio Grande do Norte, com êxito.” (INPE/FUNCATE, 2006) Implúvios: “É outro método de captação de água de chuvas. São as águas das coberturas conduzidas e armazenadas.” (INPE/FUNCATE, 2006) “No Polígono, onde chove 600 mm/ano, cai numa cobertura de 200,00 m², cerca de 120,00 m³ de água, volume igual a 20 carros pipa. Só o aproveitamento racional das coberturas de casas, depósitos, bezerreiros, etc.. espalhados pelos sertões do Nordeste, faz desaparecer a figura do conhecido e famigerado carro-pipa.” (INPE/FUNCATE, 2006) “É também, de uso comum nos países secos. Na Austrália, as rodovias pavimentadas que cruzam os desertos, recebem pequenas banquetas 95 laterais, direcionando as águas das chuvas ocasionais para grandes reservatórios construídos em cota inferior.” (INPE/FUNCATE, 2006) “Estes dois sistemas hidráulicos integrados acrescentariam centenas de milhões de m³ de água aos pontos mais esquecidos do Polígono, mitigando a sede do homem no atendimento porta a porta.” (INPE/FUNCATE, 2006) “No Semi-árido nordestino, é bom lembrar, também, antes de se iniciar novas obras de porte, como seria a transposição, é importante concluir as 23 grandes obras hidráulicas paralisadas por falta de dotações orçamentárias, algo em torno de US$ 500.000.000 (quinhentos milhões de dólares).” (INPE/FUNCATE, 2006) Para o São Francisco: “Hoje, não há água para atender ao aproveitamento integral da Bacia. Como todos sabem, a vazão média é de 2.800 m³/s, entretanto, as vazões do período seco caem muito, pondo em risco empreendimentos que não tenham tomado como base as suas descargas mínimas.” (INPE/FUNCATE, 2006) “Há grande perda de água anualmente, para o oceano, no período úmido.” (INPE/FUNCATE, 2006) “Atualmente, só há água para irrigar 640.000 de hectares; a navegação está praticamente interrompida pelo entulhamento do rio, assoreado pelo arraste de milhares de toneladas de material sólido, carreado pelos afluentes, notadamente dos cerrados de Minas e Bahia, onde milhares de hectares foram abertos para implantação do cultivo da soja.” (INPE/FUNCATE, 2006) “Somente construindo barragens compensadoras nos afluentes, poder-se-á aumentar a área irrigada para 1.800.000 de hectares; elevar o tirante, permitindo a navegação o ano inteiro; garantir a geração de energia; conter o arraste de sólidos para a calha principal e até retirar uma vazão razoável para o Nordeste.” (INPE/FUNCATE, 2006) “Para tanto, seria necessário construir-se 16 barragens: Rio das Velhas, Paracatu, Urucuia, Jequitaí, Corrente e Grande (todas já inventariadas pelo setor elétrico e pelos estudos de compatibilização do São Francisco) o que permitiria uma reservação entre 16 e 20 bilhões de metros cúbicos.” (INPE/FUNCATE, 2006) 96 Recomposição de Áreas Degradadas: “Faz-se urgente o estabelecimento de uma política agressiva junto às mineradoras, para armazenar o “sinter” resultante da britagem do minério de ferro bruto. O que ocorre hoje é que esse material de granulometria muito pequena, não é negociado pelas mineradoras de pequeno porte, tendo em vista que o seu valor é inferior ao custo de transporte para as grandes empresas, únicas capazes de fazer o aproveitamento deste material.” (INPE/FUNCATE, 2006) “O “sinter” na grande maioria das empresas é deixado amontoado, normalmente nas encostas, uma vez que as jazidas se encontram em área montanhosa, o que implica no arraste do mesmo para os ribeirões e dentro de alguns anos estará dentro do lago de Três Marias, levado pelo rio Paraopeba, que deságua naquele embalse.” (INPE/FUNCATE, 2006) “A retirada do minério transforma a paisagem da área da jazida em verdadeira superfície lunar, com imensas crateras, sempre oferecendo o risco de rompimento pelas enxurradas, voçorocando o terreno, aumentando o a arraste de sólidos para o Paraopeba e em alguns casos para o rio das Velhas. Tanto o “sinter” pode retornar para ser depositado nesses espaços, como podem ser estudadas outras formas de recomposição, inclusive pesquisando quais cultivos podem preservar nesses locais. São milhares de hectares necessitando dessa recomposição.” (INPE/FUNCATE, 2006) “No processo de lavagem do minério de ferro, não há qualquer processamento da água utilizada, que simplesmente, retorna às calhas dos afluentes, levando sólidos que serão decantados tão logo a velocidade seja diminuída. Há necessidade de fiscalização que obrigue a construção de lagoas de decantação, em todas as empresas que utilizam a água para lavagem do minério.” (INPE/FUNCATE, 2006) “É imprescindível encontrar-se uma solução para a cata de diamantes, principalmente no trecho inicial de Vargem Bonita - MG, pois, parte desse trecho até o encontro com o Ribeirão das Capivaras, é classificado como Classe Especial, segundo a Portaria 715/89 do IBAMA e, portanto, não pode sofrer qualquer intervenção.” (INPE/FUNCATE, 2006) “O São Francisco, desde o Parque da Serra da Canastra, começa a ter destruído o seu leio - ainda com não mais do que 50 (cinqüenta) metros de 97 largura - por grandes dragas que lhe retiram o cascalho, que depois de lavado é depositado nas margens.” (INPE/FUNCATE, 2006) “É necessário estudar uma solução para o problema, pois o município de Vargem Bonita vive do mercado de diamantes e detém uma Cooperativa que congrega mais de 200 garimpeiros.” (INPE/FUNCATE, 2006) Tratamento de Rejeitos Industriais: “Não somente o rio Parapopeba, mas também, o Pará e seu afluente, o Itapecirica, sofrem com os despejos da indústria siderúrgica. O Itapecirica, que atravessa a cidade de Divinópolis, está totalmente degradado. Divinópolis possui em torno de 17 (dezessete) siderúrgicas que atiram seus rejeitos no rio Itapecirica, tornando-o um esgoto.” (INPE/FUNCATE, 2006) “A bacia do Rio das Velhas coleta todo material oriundo da zona industrial da grande Belo Horizonte, sem haver contudo, nenhum disciplinamento ou proibição por parte dos órgãos competentes.” (INPE/FUNCATE, 2006) Abastecimento Doméstico: “Grande parte do Semi-árido sanfranciscano, na Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe, enfrenta a falta de água no período da seca.” (INPE/FUNCATE, 2006) “Em novembro de 1994, a cidade de Afrânio recebia água de carro-pipa para abastecer sua população, em torno de 3.056 habitantes na zona urbana. E esta cidade dista somente 120 km do Rio São Francisco, justo do município de Petrolina, de onde foi desmembrada.” (INPE/FUNCATE, 2006) “Não há necessidade de citar a distância tão longa - bastam 10 km distante do rio - dentro do Município de Petrolina, denominada hoje a “Califórnia Brasileira”, que o visitante verá a sede e fome em períodos de seca, dentro e na circunvizinhança da “Califórnia”, (Dormentes, Ouricuri, Monte Orebe, Parnamirim e, enfim, todo o sertão pernambucano).” (INPE/FUNCATE, 2006) “Na Bahia, o quadro é o mesmo, no interior dos municípios da margem do rio não há água. Somente Sergipe tem sua área sanfranciscana com todos os municípios abastecidos com água do São Francisco e, até, a sua capital, Aracaju.” (INPE/FUNCATE, 2006) 98 “Um amplo programa de abastecimento de água em todos os seus municípios, é imprescindível, antes do programa de irrigação. Como esse é o uso principal, a opção deve ser o abastecimento humano, considerandose a tese da preponderância deste sobre os demais.” (INPE/FUNCATE, 2006) Esgotamento Sanitário e Tratamento: “Pouquíssimas são as cidades da Bacia que dispõem de esgotamento sanitário, muito menos de tratamento. Aquelas que possuem sistema de esgotamento, apenas coletam e jogam, sem tratamento, nos vales dos rios intermitentes ou permanentes. Apenas cinco cidades, em todo o Vale, num total de 464 municípios, dispõem de rede de esgotamento e tratamento. São as quatro construídas pela CHESF e Petrolina.” (INPE/FUNCATE, 2006) “A Região Metropolitana de Belo Horizonte, no governo passado, graças ao esforço do Dr. Otávio Elísio de Brito, Secretário de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente - MG, contratou empréstimo no Banco Mundial para tratar cerca de 30% da descarga dos seus esgotos.” (INPE/FUNCATE, 2006) “Atualmente, a maior parte dos despejos sanitários de Belo Horizonte é lançada “in natura” no Arruda e em outros afluentes do Rio das Velhas e, este, descarrega tudo no São Francisco, nas proximidades de Pirapora.” (INPE/FUNCATE, 2006) “É urgente a implantação, pelo menos nas cidades de médio e grande porte da Bacia, de amplo programa de saneamento.” (INPE/FUNCATE, 2006) Esgotamento Industrial: “Desde a nascente até a foz, indústrias diversas de tintas, tecido, cerveja, assim como laticínios, curtumes, frigoríficos, etc. não fazem tratamento dos seus rejeitos industriais. As que possuem tratamento não são fiscalizadas, pois é comum os órgãos ambientais acatarem análises realizadas pelos laboratórios das próprias empresas fiscalizadoras.” (INPE/FUNCATE, 2006) “É preciso exigir de todas as empresas que montem suas estações de tratamento e que, igualmente, o poder público cumpra com o seu papel fiscalizador.” (INPE/FUNCATE, 2006) 99 Recomposição da Vegetação: “Estima-se em mais de 200.000 ha a área da Bacia que necessita de recuperação de matas ciliares e de matas de galeria.” (INPE/FUNCATE, 2006) “A solução parece ser simples se o governo oferecer incentivos a quem fizer a recuperação em seu estabelecimento rural, ou se nos contratos de empréstimo rural estabelecer cláusulas com redução de juros, a quem, comprovadamente, fizer o replantio e mantiver a vegetação.” (INPE/FUNCATE, 2006) “A irrigação tem provocado o desmatamento da vegetação ciliar. Para economizar no recalque, o empresário agrícola desmata de imediato as barrancas do rio.” (INPE/FUNCATE, 2006) “Os cerrados foram devastados pelo avanço da pecuária no Alto São Francisco e da agricultura de grãos nos chapadões do Paracatu em Minas, e da bacia do Rio Grande, na Bahia.” (INPE/FUNCATE, 2006) “A indústria siderúrgica de Minas, e a Magnezita, em Brumado, são responsáveis pelo alto consumo de carvão em Minas e na Bahia, e têm contribuído para a dilapidação do São Francisco.” (INPE/FUNCATE, 2006) Dragagem do Rio: “A Comissão do Vale do São Francisco, anualmente, dragava o rio para melhorar a navegação.” (INPE/FUNCATE, 2006) “Atualmente, segundo levantamento do IBGE, se depositam, por ano, 18 milhões de toneladas de material sólido. Esse material, enquanto não forem construídas as barragens nos afluentes, obrigatoriamente terá de ser retirado, pois o assoreamento provoca a pressão sobre as margens, que terminam por rebentar os barrancos, provocam o fenômeno das “terras caídas”, que resultam no alargamento da calha principal, que rasam o rio, aumentando, em conseqüência, a superfície de evaporação.” (INPE/FUNCATE, 2006) Recomposição das Lagoas Marginais: “A vida do rio e seu equilíbrio dependem das lagoas marginais. Hoje em dia, elas só existem no Médio São Francisco, ou seja, no trecho Pirapora/Juazeiro, um estirão de 1.371 km.” (INPE/FUNCATE, 2006) 100 “No Sub-médio e Baixo São Francisco, elas deixaram de receber água, uma vez que na maior parte dos anos, o rio não transborda, tendo a sua vazão firme em 2.060 m³/s, retendo um volume de 34 bilhões de metros cúbicos em Sobradinho, para garantir essa operação.” (INPE/FUNCATE, 2006) “Sendo essas lagoas os grandes berçários da ictiofauna e, consequentemente, os peixes jovens e alevinos alimentos para as aves aquáticas, as suas bordas são locais de nidificação. Animais semiaquáticos, como jacarés, capivaras, etc. são também hóspedes dessas formações.” (INPE/FUNCATE, 2006) “Seu desaparecimento é responsável pela escassez de pescado. Há necessidade de estudar a recomposição dessas lagoas, bem como a construção de canais de desova, nos trechos barrados.” (INPE/FUNCATE, 2006) Proteção da Fauna e Flora Aquáticas: “Revegetamento das margens dos rios, com essências frutíferas, a fim de assegurar alimentos aos peixes frugívoros. Entre essas plantas pode-se destacar o juá-mirim, o juá-de-boi e a ingazeira.” (INPE/FUNCATE, 2006) “Peixamento constante dos rios e dos reservatórios, evitando-se a introdução de espécies estranhas ao rio e mesmo à bacia.” (INPE/FUNCATE, 2006) “Monitoramento constante das indústrias potencialmente poluidoras, obrigando-as ao tratamento dos efluentes antes de lançá-los aos cursos d’água. O mesmo procedimento deve ser estendido aos esgotamentos urbanos das cidades ribeirinhas.” (INPE/FUNCATE, 2006) “Inventário completo sobre a época de ovulação, desova e piracema das várias espécies da ictiofauna e proibição rotativa da pesca, respeitando-se o ciclo biológico de cada espécie.” (INPE/FUNCATE, 2006) “Em caso extremo, proibição de todo tipo de pesca durante um período de dois anos. Nesse caso, elaborar um plano de assistência ao pescador profissional (agrupado em colônia de pescadores, disseminadas em toda a bacia).” (INPE/FUNCATE, 2006) 101 Navegação: “Melhoria das vias aquáticas, de forma a possibilitar a navegação plena dos trechos já navegáveis, mas com obstáculos pontuais, através de drenagens, derrocamentos e enrocamentos de pontos de instabilidade de margens, em barreiras (alcantilados).” (INPE/FUNCATE, 2006) “Adaptação do material flutuante às atuais condições dos rios e das ofertas de carga, bem como a fabricação de embarcações rápidas para passageiros, uma das formas de incentivar o turismo na região.” (INPE/FUNCATE, 2006) “Implantação de estradas (ferrovias principalmente) perpendiculares aos cursos dos afluentes navegáveis, ligando setores de produção às estradas federais e estaduais, que chegam aos grandes centros consumidores.” (INPE/FUNCATE, 2006) “Melhoria das instalações portuárias, ao longo do trecho navegável, e construção delas nos afluentes navegáveis.” (INPE/FUNCATE, 2006) Proteção e Reabilitação de Áreas de Cerrado: “Zoneamento ambiental, para um manejo racional dos solos e dos ecossistemas como um todo, de forma a que se utilizem os vários “facies” dos cerrado, de acordo com sua vocação ecológica.” (INPE/FUNCATE, 2006) “Obrigatoriedade às grandes reflorestadoras e à grande lavoura comercial no sentido de criar hortos florestais com essências frutíferas do cerrado no interior dos maciços florestais homogêneos e dos campos de cultura, bem como seleção de áreas para funcionar como bancos genéticos e refúgio de fauna.” (INPE/FUNCATE, 2006) “Seleção de áreas para criação de unidade de preservação e conservação, como parques nacionais, estações, estradas parques, APAS (área de proteção ambiental), ARIES (áreas de relevante interesse ecológico) e total respeito às reservas ecológicas previstas em Lei.” (INPE/FUNCATE, 2006) 102 7 ANÁLISE CRÍTICA Mais uma vez nos vemos diante um tema com forte apelo populista: “O Projeto de Integração do Rio São Francisco”. De norte a sul do país temos os mesmos problemas: as grandes promessas milagrosas para a solução de todos os nossos problemas, por parte da classe política deste país, sejam eles na educação, saúde, transporte ou pior – a falta de água. Desde sempre o povo nordestino convive com o problema da escassez e irregularidade das chuvas. Muitas obras, algumas “faraônicas”, já foram começadas, poucas terminadas e as que realmente funcionam, são em quantidade menor ainda. Temos a cultura paternalista do assistencialismo, queremos o peixe, e não que nos ensine a pescar. Prova disto é a grande quantidade de programas assistenciais posta em prática, seja em âmbito municipal, estadual ou federal, que está criando uma geração de pedintes e mendigos. Quando da análise do projeto, realmente estamos diante de uma boa solução, porém a realidade brasileira é bem diferente. Para que o projeto alcance seus objetivos, há a necessidade do controle e fiscalização absolutos, principalmente dos impactos ambientais negativos. Infelizmente a história política nos prova ao contrário. O Brasil é absolutamente privilegiado na questão de recursos hídricos e riquezas naturais. Porque não conseguimos, de uma vez por todas, resolver problemas básicos como a distribuição de água e saneamento básico, passo inicial para a sobrevivência de qualquer espécie viva? O que vemos no Nordeste é desumano. Entra ano, sai ano, e a mesma situação calamitosa. É difícil acreditar na pura e simples justificativa de escassez de chuvas. Prova disto é a sobrevivência de povos, em condições climáticas semelhantes ou até piores que as do Nordeste brasileiro, criando soluções satisfatórias. 103 Qualquer que seja a solução posta em prática pelos governos, deve primeiro passar pela educação e participação popular, de como melhor utilizar, em todos os sentidos aplicáveis, este recurso tão necessário: á água. 104 8 CONCLUSÕES As secas periódicas que assolam o Nordeste, com todas as suas calamidades, desgraças e prejuízos, sempre preocuparam os governos e o país em geral. Desde o século XIX, muitos estudos, projetos e obras têm sido feitos com a intenção de, pelo menos, minorar as conseqüências de flagelo. Os resultados, entretanto tem ficado em geral aquém das expectativas, devido não tanto à falta de recursos, como também à falta de estudos básicos e planejamento sério, à descontinuidade administrativa, e principalmente às injunções políticas, que distorcem com freqüência projetos e obras, para atender a interesses menores. O caráter periódico e aleatório das secas também tende a desestimular os estudos continuados e as obras de grande duração, porque, a um período de seca calamitosa segue-se um período chuvoso e produtivo, e assim a tendência é esquecer a tragédia que passou. Devido à organização social e cultural existente na região, muitas obras não conseguiram escapar das injunções políticas. Apesar de tudo, muito fez a engenharia brasileira pelo Nordeste. Algumas gerações de engenheiros deram o melhor dos seus esforços, na busca de soluções para minorar o sofrimento das populações nordestinas. É necessário e salutar analisar o projeto de transposição com argumentos técnicos e científicos, que possam contribuir para a busca de novas soluções, e que conduzam a um empreendimento mais eficiente e de menor custo. A solução adotada deverá ser efetiva e duradoura, sem se curvar a interesses de grupos específicos e nem a interesses políticos, para que realmente contribua definitivamente para minimizar a injustiça social no vigente no país, muito em conseqüência da situação climática em que vive o Nordeste brasileiro. Qualquer que seja a alternativa adotada aos problemas que assolam a região desde sempre, há de se colocar como prioridade absoluta a conservação dos recursos naturais, pois o homem pode sobreviver sem quase tudo, mas com certeza, a água deve ser sua primeira prioridade para a sobrevivência. 105 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CODEVASF (CIA de Desenvolvimento do Vale do São Francisco). Abastecimento. Disponível em: www.codevasf.gov.br/menu/prod_serv/abastecimento Acesso em 07 mai. 2006b AHSFRA (Administração da Hidrovia do São Francisco). Disponível em: <http://www.ahsfra.gov.br/rio2.htm>. Acesso em: 08 mar. 2006 UnB (Universidade de Brasília). Desafios da Transposição do São Francisco. 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Acesso em 10 mar. 2006