1 A CENTRALIDADE DAS ATIVIDADES DE ALFABETIZAÇÃO NAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS DO 1º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL DE NOVE ANOS: DESAFIO A FORMAÇÃO CONTINUADA1 Daniele Ramos de Oliveira. UNESP-FCT. Em 2006 foi definida a antecipação da escolarização das crianças de seis anos pela Lei 11.274 (Brasil, 2006), segundo a qual a idade para ingresso obrigatório no Ensino Fundamental passaria dos sete para os seis anos e os sistemas deveriam ampliar em mais um ano a duração do Ensino Fundamental, prevendo-se como limite para o ajuste necessário o ano de 2010. O foco da pesquisa aqui sintetizada são as práticas de formação continuada oferecida pela Secretaria Municipal de Educação de Marília aos professores de crianças de seis anos do 1º ano do Ensino Fundamental de nove anos. A delimitação do objeto de estudo se deve ao compartilhamento2 das ansiedades e angústias com as professoras desse município tanto em relação ao 1º ano do Ensino Fundamental de nove anos quanto às ações desencadeadas pela Secretaria Municipal de Educação com vistas à formação continuada dos professores. Para o desenvolvimento da pesquisa, consideramos formação continuada as ações formativas (cursos, oficinas e palestras) propiciadas pela Secretaria Municipal de Educação, dentro ou fora da jornada de trabalho do professor. Sendo assim, a formação continuada nesta pesquisa será entendida como as ações formativas direcionadas aos professores da rede municipal de ensino que tem sua origem na iniciativa da Secretaria Municipal de Educação. (OLIVEIRA, 2006). Isto não significa que a formação continuada está sendo concebida como um sistema que visa solucionar problemas encontrados na prática pedagógica ou uma simples requalificação dos docentes e seus contextos de trabalho, mas “[...] como um meio de melhoramento não só das relações de trabalho, mas também do próprio trabalho onde se permite a produção, a busca e troca de saberes diferenciados aos habitualmente instituídos. Isso não só implica no desenvolvimento da qualidade da formação docente como também singulariza-a no seu tempo e espaço de realização.” (AZAMBUJA, p.2, 2006) A formação continuada é um dado importante, pois os objetivos de maior possibilidade de aprendizagem e desenvolvimento dos alunos não são atingidos pela sua simples inclusão no ensino obrigatório, mas pela qualidade do trabalho pedagógico que de fato ocorrer em sala de aula. Corroboro com Kramer (2002, p.124) quando diz “[...] qualquer 2 projeto de formação continuada ou sua inexistência, de certa forma, reflete o pensamento sobre o que pedagogicamente deve nortear o atendimento às crianças.” Considerando que a literatura científica atual tem apontado uma tendência de os professores que trabalham com as crianças do 1º ano do Ensino Fundamental de nove anos centrarem suas práticas educativas nas atividades de alfabetização com base numa rotina escolar do Ensino Fundamental (BRUNETTI, 2007; MORO, 2009; MOYÁ, 2009; RANIRO, 2009; VALIENGO, 2008), em detrimento de outras áreas do conhecimento e com base em minha trajetória profissional, formulei as seguintes perguntas de pesquisa: quais as dificuldades e os eixos orientadores do trabalho pedagógico desenvolvido pelos professores com as crianças do 1º ano do Ensino Fundamental de Marília-SP? Qual a correlação existente entre suas escolhas/dificuldades e os aspectos presentes e ausentes nas ações de formação continuada que a equipe da Secretaria Municipal da Educação tem desenvolvido? Considerando o exposto, tem-se como objetivo investigar se a tendência de centralizar as práticas educativas nas atividades de alfabetização comparece entre os professores de crianças do 1º ano do Ensino Fundamental do município de Marília-SP ou se estes profissionais apresentam dificuldades e características singulares pedagógico; estudando os motivos das tendências em seu trabalho e dificuldades encontradas e correlacionando-as com os aspectos presentes e ausentes nas ações de formação continuada que a equipe da Secretaria Municipal da Educação tem desenvolvido. Quanto ao método de investigação, optei pela abordagem qualitativa e pela utilização de técnicas comuns ao estudo de caso, a saber: 1. Pesquisa bibliográfica: leitura e fichamento de livros, periódicos bem avaliados pela Capes, teses e dissertações defendidas em programas de Pós-graduação em Educação recomendados pela Capes e textos de eventos científicos nacionais; com o intuito de aprofundamento dos conhecimentos produzidos sobre o tema de pesquisa e formação de uma fundamentação teórica. 2. Pesquisa documental: localização, reunião e seleção de fontes documentais (decretos, pareceres, leis, estatísticas, relatórios sobre ações formativas desenvolvidas pela Secretaria Municipal de Educação e quaisquer outros tipos de materiais escritos que possam contribuir com o desenvolvimento da pesquisa). A análise documental tem como objetivo auxiliar no estudo das práticas de formação continuada do município investigado e de que forma tem sido concebido o 1º ano do Ensino Fundamental de nove anos, bem como compreender se o município considera as dificuldades e tendências do trabalho desenvolvido pelos professores ao propor ações formativas. 3 3. Caracterização do universo de professores de 1º ano do Ensino Fundamental em exercício por meio de dados quantitativos obtidos na Secretaria de Educação do município estudado e de aplicação e análise de dados obtidos por meio de questionário com perguntas abertas e fechadas. 4. Entrevista reflexiva com uma amostra de professores do 1º ano do Ensino Fundamental de nove anos e com os responsáveis pelas ações formativas propiciadas a esses professores, desenvolvidas pela Secretaria Municipal de Educação, entendida como uma entrevista que [...] leva em conta a recorrência de significados durante qualquer ato comunicativo quanto a busca de horizontalidade.[...] Reflexividade tem aqui também o sentido de refletir a fala de quem foi entrevistado, expressando a compreensão da mesma pelo entrevistador e submeter tal compreensão ao próprio entrevistado, que é uma forma de aprimorar a fidedignidade”. (SZYMANSKI, 2002, p.14). A análise de dados consiste numa análise categorial temática, que segundo Bardin (1979): Funciona por operações de desmembramento do texto em unidades, em categorias segundo reagrupamentos analógicos. Entre diferentes possibilidades de categorização, a investigação dos temas, a análise temática, é rápida e eficaz na condição de se aplicar a discursos directos (significações manifestas) e simples. (p.153, grifos do autor). O procedimento de análise de conteúdo será utilizado a partir de categorização prévia e indicadores qualitativos e quantitativos, estabelecidos em função do objeto de pesquisa. RESULTADOS PARCIAIS Até o momento foi realizado um mapeamento bibliográfico das teses e dissertações dos Programas de Pós-Graduação em Educação reconhecidos e recomendados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Foram localizadas 1 tese de doutorado e 9 dissertações de mestrado que tem como foco o Ensino Fundamental de nove anos. Do total de referências mencionadas, 3 tem como objeto de estudo as opiniões dos professores sobre a implantação do 1º ano do Ensino Fundamental (ARAÚJO, 2007; MORO, 2009; RANIRO, 2009); sendo que 1 dessas dissertações também analisou a opinião de pais e das crianças envolvidas nesse processo (RANIRO, 2009); 2 tem como foco de investigação as práticas desenvolvidas com as crianças do 1º ano (BRUNETTI, 2007; MOYÁ, 2009); 1 trata das implicações da ampliação do Ensino Fundamental para a formação do professor (ZATTI, 2009); 1 investiga os discursos sobre o 4 Ensino Fundamental de nove anos produzidos em revistas de grande circulação nacional (ROSA, 2008) e 1 aborda questões políticas e curriculares a partir da visão dos gestores municipais (ROHDEN, 2006). __________________ 1 O texto apresenta resultados parciais de pesquisa em andamento desenvolvida em nível de mestrado, vinculada à linha de pesquisa "Práticas educativas e formação de professores" do Programa de Pós-graduação em Educação da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista. 2 Exerci o cargo de professora de Ensino Fundamental (séries iniciais) de fevereiro de 2008 a fevereiro de 2010 em uma escola da rede municipal de ensino de Marília – SP. REFERÊNCIAS ARAÚJO, R. C. B. F. Construindo sentidos para a inclusão das crianças de seis anos de idade no ensino fundamental de nove anos: um diálogo com professores. 2008. 138 f. Dissertação (Mestrado em Educação) — Faculdade de Educação, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2008. AZAMBUJA, G. Diferentes dimensões da formação e da prática docente: culturas, representações e saberes. Unirevista, São Leopoldo, v. 1, n° 2, p. 1-12, abr. 2006. BARDIN, L. Análise de conteúdo. Trad. Luis Antero Reto e Augusto Pinheiro. Lisboa: Edições 70, 1979. BOGDAN, R. C.; BIKLEN, S. K. Investigação qualitativa em educação. Trad. Maria João Alvarez Sara Bahia dos Santos e Telmo Mourinho Baptista. Lisboa: Porto Editora, 1994. BRASIL. Lei n. 11.274, de 6 de fevereiro de 2006. Altera a redação dos artigos 29, 30, 32 e 87 da Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, dispondo sobre a duração de 9 (nove) anos para o ensino fundamental, com matrícula obrigatória a partir dos 6 (seis) anos de idade. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 7, fev., 2006. BRUNETTI, G. C. O trabalho docente face ao atendimento da faixa etária de 6 anos no Ensino Fundamental: um estudo a partir das manifestações de um grupo de professoras alfabetizadoras no município de Araraquara. 2007. 158 f. Dissertação (Mestrado em Educação) — Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista, Araraquara, 2007. KRAMER, S. Formação de profissionais de educação infantil: questões e tensões. In: M. L. de A. Machado (Org.) Encontros e desencontros em educação, São Paulo: Cortez, 2002, p. 117-132. 5 MORO, C. S. Ensino Fundamental de 9 anos: o que dizem as professoras do 1.° ano. 2009. 315 f. Tese (Doutorado em Educação) — Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2009. MOYÁ, D. J. L. A criança de seis anos de idade no Ensino Fundamental de nove anos: práticas e perspectivas no primeiro ano. 2009. 179 p. Dissertação (Mestrado em Educação) — Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2009. OLIVEIRA, D. L. A implantação do Ensino Fundamental de nove anos no estado do Paraná. 2009. 133 f. Dissertação (Mestrado em Educação) — Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa, 2009. OLIVEIRA, L. C. V.; CARDOSO, B. R. L. Políticas municipais de formação contínua para a educação infantil: estudo de caso. Pro-posições, v.17, n.1(49), p. 227-242, jan./abr. 2006. RANIRO, C. Um retrato do primeiro ano do Ensino Fundamental: o que revelam crianças, pais e professores. 2009. 253 f. Dissertação (Mestrado em Educação) — Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista, Araraquara, 2009. ROHDEN, M. M. 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