Universidade Federal de Santa Catarina Centro Tecnológico Departamento de Engenharia Mecânica PROGRAMA DE FORMAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS EM ENGENHARIA MECÂNICA E QUÍMICA COM ÊNFASE EM PETRÓLEO E GÁS. CONVÊNIO PRH-ANP/MME/MCT nº09/99 Relatório de Bolsa ACADÊMICO: ABÍLIO ORCIOLI NETO Santa Catarina, 2007. DESENVOLVIMENTO DE PROCEDIMENTOS DE ALTA EFICÁCIA PARA SOLDAGEM DE HASTES ANODICAS (TARUGOS REDONDOS DE GRANDE DIÂMETRO) Abílio Orcioli Neto – Bolsista IC da ANP 1- Introdução A evolução dos processos de soldagem, tem como uma das causas fundamentais a necessidade do aumento da produtividade. Isto pode acontecer sob dois flancos de atuação no campo da soldagem de união: pelo aumento da concentração da energia (fontes focadas), a exemplo o LASER e o Feixe de Elétrons, e pelo aumento da taxa de deposição de material, a exemplo o MIG/MAG. O segundo enfoque é a situação mais comumente encontrada na indústria, e as razões são: o custo do investimento em equipamentos e a maior versatilidade dos mesmos em suas aplicações. O presente trabalho é uma contribuição ao desenvolvimento do processo MIG/MAG no que tange ao aumento da produtividade por intermédio do aumento da taxa de deposição. 2- Etapa Preliminar Como se trata de um desenvolvimento com o objetivo principal altamente focado na obtenção de alta velocidade de fusão de arame-eletrodo, foi desenvolvida uma bancada de ensaios onde o fator determinante foi a versatilidade para experimentações com as seguintes características: - Utilização de um, dois e três arames; - Utilização de diferentes bitolas de arame; - Utilização de arames energizados com arco, arame frio e arame quente (Hot wire); - Variação dos ângulos de ataque das tochas; - Máquinas com modulação em tensão e em corrente. Esta bancada preliminar foi planejada, para a soldagem na posição plana de chapas de topo. A figura 1 retrata o arranjo físico das tochas com seus suportes fixados a um robô. Ao fundo se observa duas fontes de soldagem utilizadas nos experimentos. A figura 2 apresenta um dos corpos de prova, apresentando uma junta de topo soldada com dois arames, um arame com arco e outro arame energizado, mas sem arco (arame quente). Os estudos e ensaios conduzidos nesta primeira fase do trabalho conduziram a uma ampliação do conhecimento, anteriormente adquirido pelo LABSOLDA/IMC no tocante à utilização da soldagem MIG/MAG com múltiplos arames. Pelo conhecimento até então adquirido e corroborado pela literatura, todos os arames deveriam trabalhar com arco e, a velocidade de fusão total cresceria linearmente com a corrente total. Com isto, se teria a necessidade de uma corrente total muito grande, quase obedecendo à soma aritmética das correntes de cada arame quando utilizados individualmente. A conseqüência disto era uma poça metálica com um conteúdo calorífico muito alto, fundindo em demasiado o material de base. Agora foi verificado, que quando os arames são direcionados adequadamente, a velocidade de fusão pode aumentar muito sem haver a necessidade de um aumento proporcional na corrente total. Isto é particularmente importante para o caso de preenchimento de juntas. Assim sendo, após cerca da soldagem de 30 corpos de prova, simulando a junta em chapas planas, foi verificada a possibilidade de uma redução do tempo de soldagem em cerca de 25%, utilizando cerca de 500 A no total, obtendo-se uma solda de boa qualidade. A próxima fase do desenvolvimento deverá ser realizada num dispositivo rotativo, do qual já foi iniciado o projeto. Com isto se poderá soldar corpos de prova na forma de tarugos redondos. Fig. 1- Posicionamento das tochas de soldagem Fig. 2 – Junta soldada 3- Segunda Fase dos Experimentos Para a segunda fase dos ensaios, foi projetado e construído um dispositivo de fixação das tochas de soldagem e movimentação dos corpos de prova com a finalidade de facilitar o trabalho e simular mais acuradamente o caso real (Fig. 3). Fig. 3 – Dispositivo de fixação das tochas de soldagem e movimentação dos corpos de prova Após os ensaios preliminares, partiu-se para testes com corpos de prova de tarugos. Depois de alguns testes, observou-se que a poça metálica escorria, pois a velocidade tangencial dos tarugos, necessária para a produtividade pretendida, colocava a referida poça metálica numa posição espacial instável, antes que ela obtivesse a necessária sustentabilidade no caminho da solidificação. Após uma série de ensaios frustrados, foi observado um carácter ilógico no ângulo de abertura da junta, o que implicava numa poça metálica de dimensões muito avantajadas. Este problema era ainda acentuado pelo fato de se estar utilizando um tarugo com diâmetro de 100 mm, inferior ao diâmetro do pino pretendido, que era de 133 mm. Isto provocava uma maior criticidade na sustentação da poça de fusão, pois, pela rotação da peça, ela é exposta mais rapidamente a uma posição desfavorável em relação à gravidade. Os ensaios realizados nesta segunda fase do trabalho mostraram sob vários aspectos o grau de influência das variáveis e parâmetros envolvidos. Cerca de 20 corpos de prova foram soldados, utilizando-se combinações variadas de 2 e 3 arames, conforme a montagem da figura 4. Fig. 4- Posicionamento das tochas de soldagem Embora a produtividade esteja sempre bem acima do que é obtido atualmente, não se considera que se tenha um resultado satisfatório, conforme mostra a foto de um dos corpos de prova, apresentada na figura 5. Fig. 5 – Corpo de prova com junta soldada Como conjecturas para o início da 3a fase está a soldagem com modulação em corrente, já que até agora se trabalhou com modulação em tensão. Foi observado que isto provocava uma grande flutuação da corrente e com isto uma instabilidade no banho de fusão. Acredita-se, que, pela fixação da corrente se terá melhores condições de qualidade dos cordões de solda. Outro aspecto a ser considerado é a própria geometria da junta, que se acredita não ser a mais indicada. 4- Fase Conclusiva Conforme já foi relatado anteriormente, foi projetado e construído exclusivamente para o desenvolvimento do procedimento de soldagem dos pinos -eletrodos das hastes anódicas, o equipamento apresentado nas figuras 6,7 e 8. 1ª tocha 2ª tocha 3ª tocha (arame frio) Fig. 6– Dispositivo de fixação das tochas Fig. 7– Dispositivo de fixação das tochas Fig. 8– Dispositivo de fixação das tochas Em seqüência aos experimentos descritos nas duas primeiras fases, decidiu-se fazer uma alteração no ângulo de abertura do chanfro do corpo de prova, passando de 45° para 30° (Fig. 9), para aumentar o ancoramento da poça de fusão. Para esta nova junta, conseguiu-se utilizar dois passes, de acordo com o procedimento apresentado na tabela 1. Fig. 9– Desenho do novo chanfro para novos ensaios Tabela 1 – Resultados obtidos dos ensaios de soldagem com 2 passes. Im=Corrente média de soldagem; Gp=Gás de proteção; Va=Velocidade de arame; ∅=Bitola do arame. Tochas Im [A] 1º passe 2º passe 1º 280 2º 280 3º 1º _ 215 2º 215 3º _ Gp Vazão Va do Gp [m/min] [l/min] Ar + 8% 12,0 8,5 CO2 Ar + 8% 12,0 8,0 CO2 _ _ 7,0 Ar + 8% 12,0 6,0 CO2 Ar + 8% 12,0 6,0 CO2 _ _ 4,0 Tempo/passe ∅ [s] [mm] 1,2 1,2 ≅57 1,2 1,2 1,2 1,2 O resultado da operação de soldagem de acordo com este procedimento pode ser visto na figura 10. Fig. 10– Foto de um corpo de prova –2 passes- resultado satisfatório Para melhor avaliação do resultado, em um outro corpo de prova, foi verificada as condições do primeiro passe e, como se pode ver na figura 11 o resultado foi muito bom, pois o cordão de solda está ausente de poros, plano, facilitando o próximo passe que encontra praticamente uma superfície plana como base. Fig. 11– Foto de um corpo de prova –primeiro passe- resultado satisfatório Embora, os resultados tenham sido satisfatórios, foi ainda proposto um aumento da profundidade do chanfro, o qual ficou conforme a figura 12. Fig. 12- Desenho do corpo de prova utilizado para 3 passes Após inúmeros ensaios utilizando 3 passes para o total preenchimento do chanfro, obtive-se alguns resultados muito bons. A figura 13 mostra um corpo de prova que foi soldado, onde se pode observar um cordão de solda sem defeitos, mas com uma certa escassez de material nas laterais do cordão de solda. Na tabela 2 são apresentados os parâmetros e variáveis de soldagem utilizados para os 3 passes de solda. Fig. 13– Foto de um corpo de prova –3 passes- resultado satisfatório Tabela 2 – Resultados obtidos dos ensaios de soldagem com 3 passes. Im=Corrente média de soldagem; Gp=Gás de proteção; Va=Velocidade de arame; ∅=Bitola do arame. Tochas Im [A] 1º passe 2º passe 3º passe 1º 300 2º 230 3º 1º _ 210 2º 200 3º 1º _ 190 2º 220 3º _ Gp Vazão Va do Gp [m/min] [l/min] Ar + 20% 12,0 12,4 CO2 Ar + 20% 12,0 11,1 CO2 _ _ 6,3 6,8 Ar + 20% 12,0 CO2 Ar + 20% 12,0 8,0 CO2 _ _ 3,5 Ar + 20% 12,0 5,9 CO2 8,4 Ar + 20% 12,0 CO2 _ _ 2,2 Tempo/passe ∅ [s] [mm] 1,2 1,2 1,2 1,2 ≅57 1,2 1,2 1,2 1,2 1,2 Para melhor avaliação do resultado, em outros corpos de prova, foi verificado as condições do primeiro e do segundo passe. Como se pode ver na figuras 14 e 15, o resultado foi muito bom, pois os cordões de solda apresentaram ausência de poros, uma boa planicidade, facilitando os próximos passes. Os resultados foram obtidos utilizando-se uma adaptação rápida do equipamento e, por isso, não foi possível se experimentar a realização de um quarto passe para fechar melhor o chanfro. Para este desenvolvimento, que principalmente envolvia a execução de um novo software de controle, foi cogitado uma arquitetura bem ampla que contemplava uma outra modalidade de controle do arco, denominada de imposição de corrente constante. Além disso, a intenção era deixar genérico o numero de fases de soldagem. Isto implicou numa serie de dificuldades e, se acabou perdendo a linha mestra do desenvolvimento, que já havia dado bons resultados. Por isso, foram consumidos todos os corpos de prova, de tal maneira que, foi julgado necessário uma consolidação do procedimentos através de uma repetição dos ensaios. Fig. 14– Foto de um corpo de prova –primeiro passe- resultado satisfatório Fig. 15– Foto de um corpo de prova –segundo passe- resultado satisfatório Numa retomada da linha adotada no procedimento correspondente a tabela 2, foram executados alguns ensaios com o que se pode produzir em corpos de prova dos pinos já excessivamente com soldas. O procedimento ficou levemente modificado, resultando nos dados apresentados na tabela 3. Tabela 3 – Resultados obtidos dos ensaios de soldagem com 3 passes. Im=Corrente média de soldagem; Gp=Gás de proteção; Va=Velocidade de arame; ∅=Bitola do arame. Tochas Im [A] 1º passe 2º passe 3º passe 1º 300 2º 230 3º 1º _ 210 2º 200 3º 1º _ 190 2º 220 3º _ Gp Vazão Va do Gp [m/min] [l/min] Ar + 20% 12,0 14,4 CO2 Ar + 20% 12,0 11,1 CO2 _ _ 5,8 Ar + 20% 12,0 7,5 CO2 7,5 Ar + 20% 12,0 CO2 _ _ 2,8 Ar + 20% 12,0 5,9 CO2 Ar + 20% 12,0 8,0 CO2 _ _ 1,5 Tempo/passe ∅ [s] [mm] 1,2 1,2 1,2 1,2 ≅57 1,2 1,2 1,2 1,2 1,2 Como documentação interna do LABSOLDA, informa-se aqui que o procedimento foi realizado em cima do sistema pulsado com pulsação térmica, onde se tem a possibilidade de trabalho em três etapas. Nas etapas inicial e final não há possibilidade de regulagem das variáveis durante a soldagem e, na fase intermediaria , isto é possível. Como a corrente de destacamento de gota é de 300 A, implica em que, sendo a corrente média na primeira etapa de 300 A, na verdade não se tem aí uma corrente pulsada, mas sim uma corrente imposta constante de 300 A. A constante de relacionamento entre corrente média e velocidade do arame foi da seguinte maneira : va = 0,027 . Im. Devido à característica da junta, resultando num comprimento de eletrodo extremamente grande, foram necessárias as seguintes correções para se atingir as velocidades anotadas na tabela 3|: Tabela 4 – Apresentação das velocidades de arame de cada tocha nas três fases de soldagem, considerando as respectivas correções Tochas Im [A] 1º passe 2º passe 3º passe Correção positiva [m/min] 6,3 4,9 Va final [m/min] 14,4 11,1 1º 2º 300 230 Va prog.sin. [m/min] 8,1 6,2 3º 1º 2º _ 210 200 5,7 5,4 1,8 2,1 5,8 7,5 7,5 3º 1º 2º _ 190 220 5,1 5,9 0,8 2,1 2,8 5,9 8,0 3º _ 1,5 Para melhor orientação para testes futuros, apresenta-se na figura 16 uma foto mostrando o posicionamento relativo das tochas em relação ao corpo de prova tal como foi utilizado nos últimos ensaios. A tocha que vai na frente do cordão depositado está deslocada em relação à vertical. A segunda tocha é que está posicionada na vertical. Fig. 16– Foto apresentando a posição relativa das tochas em relação ao corpo de prova 5- Conclusões A utilização de duplo arame no processo MIG/MAG já era uma tecnologia desenvolvida, mas a introdução de um arame adicional não energizado se caracterizou em uma nova opção para aplicações semelhantes a aqui apresentada. Neste sentido, foi verificado que é necessário que a transferência metálica seja tal que o arco permaneça aceso todo o tempo, pois do contrário não haverá energia suficiente para fundir o citado arame extra. Em se considerando somente os arames com arco, existe uma grande vantagem de se ter os arcos em paralelo e juntos com respeito à taxa de fusão, principalmente quando os arcos estão localizados no fundo de chanfros. Isto pode ser constatado pela leitura da tabela 4, em mostra que a taxa de fusão de cada arame pode aumentar em mais de 50 %. O trabalho foi conclusivo em termos de um bom aumento da produtividade pela utilização, tanto de arames com arco, como também, pela introdução de um arame frio.