UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTES IA/UNICAMP Graduação em Comunicação Social - Habilitação em Midialogia RÁDIO ELDORADO Pioneirismo e Influência para a História do Rádio no Brasil Campinas, 30 de Junho de 2014 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTES IA/UNICAMP Graduação em Comunicação Social - Habilitação em Midialogia RÁDIO ELDORADO Pioneirismo e Influência para a História do Rádio no Brasil Disciplina: CS301 – História do Rádio Docente: Prof. Dr. Antonio Adami Discente: Adriana Buscarioli Pavanelli Larissa Cezarino Moreira Laura Barbosa Roncon Lucas Prado Amaral Campinas, 30 de Junho de 2014 RA: 145083 146833 148725 147048 SUMÁRIO RESUMO .................................................................................................................................. 4 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 5 RÁDIO ELDORADO: A TRAJETÓRIA MARCANTE DA “RÁDIO CIDADÔ ................. 6 RÁDIO ESTADÃO E SUA RELAÇÃO COM A RÁDIO ELDORADO ............................. 20 A RÁDIO ELDORADO: UM PANORAMA SOBRE OS DIAS ATUAIS ........................... 24 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................. 26 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 28 RESUMO O presente artigo tem como objetivo discorrer sobre a Rádio Eldorado e sua trajetória como a “rádio cidadã” de São Paulo. Para isso, abarca-se um pequeno histórico sobre o rádio no Brasil, a história da própria rádio e sua relação com a Rádio Estadão. Além disso, apresenta-se um breve panorama sobre a atuação da rádio nos dias de hoje. Assim, buscou-se entender a importância da Rádio Eldorado para a história do rádio no Brasil e em São Paulo, como a rádio que diversificou o cenário radiofônico por meio de pautas e prestações de serviço inéditos. 4 INTRODUÇÃO O rádio é um dos principais meio de comunicação no Brasil, são mais de quatro mil rádios e se deve ter uma atenção especial quando se leva em conta o social e a cultura do país. Diferentemente do outros o rádio tem uma característica especial, pois seu único viés é oral, através do som emitido pelo aparelho. Outra característica é a sua velocidade, fazendo com que esteja sempre a frente dos outros meios de comunicação. Há um dinamismo e uma flexibilidade que possibilitam intervenções de novos dados ou reportagens mais detalhadas durante toda sua programação. O inicio do rádio no Brasil se deu nos anos 20 e há uma discussão de qual foi realmente a primeira transmissão. Muitos dizem que a primeira foi feita por Roquette-Pinto no Rio de Janeiro em 1922, porém houve uma transmissão em 1919 realizada pela Rádio Pernambuco. A mídia brasileira sempre esteve nas mãos de representes com grande força política, um exemplo é o Grupo Estado, cuja administração era controlada pela família dos Mesquitas. A Rádio Eldorado faz parte do Grupo Estado, que desde seu inicio tem características peculiares que estão presentes na rádio até os dias de hoje. Desse modo, o presente artigo tem como objetivo “contar” a trajetória da Rádio Eldorado desde sua fundação até os dias atuais, passando pelos momentos mais marcantes de sua história. 5 RÁDIO ELDORADO: A TRAJETÓRIA MARCANTE DA “RÁDIO CIDADÔ A Rádio Eldorado surgiu como uma concessão publica do grupo Estado em 1958, dada a Júlio de Mesquita Filho e Francisco Mesquita, fundando a emissora Rádio Eldorado AM de São Paulo na frequência 700 KHz, mais precisamente no dia 4 de janeiro deste ano (VICENTE, 2010). Surgiu como uma rádio que busca um público, como eles consideram, mais elitizado, das classes A e B, organizando para isso uma programação diferenciada com predomínio da musica erudita, visando um maior prestigio cultural e artístico e com jornalismo baseado nas noticias mais importantes e menos populares assim como o foco nos esportes diversificados (MESQUITA, 2008; SANTOS, 2014). Além disso, a rádio mantinha outros programas de grande importância artística, como o Cinco minutos com Paulo Autran, onde diversos textos eram interpretados pelo ator. Com o intuito de atender as demandas do mercado publicitário, a rádio inaugura seu estúdio (o primeiro da América Latina operando em dezesseis canais), abarcando, assim, o mercado de jingles (VICENTE, 2009) Em 1975 a Rádio Eldorado lança uma nova faixa de transmissão em FM, na frequência 92,9 MHz. Sua programação, nesse momento, é similar a da AM com um maior campo de atuação, atingindo uma quantidade maior de seu publico alvo. Foi a primeira rádio FM do Brasil a veicular noticiários diários, priorizando assuntos que eram ignorados por outras emissoras, como meio ambiente, noticias internacionais, prestações de serviços e esportes em geral. Até este momento a programação ocupava por volta de seis horas. Ainda na década de 1970, mais precisamente em 1977, a rádio Eldorado inaugura a sua gravadora, a qual ocupava uma parte do estúdio, visando uma produção musical menos massificada, com valor histórico e documental e sem grandes pretensões de sucesso comercial. Durante os anos 1980, foi uma das principais gravadoras do país, com uma atuação bastante eclética1, gravando desde alguns programas, quanto posteriores prêmios de música e demais músicos (VICENTE, 2009). Ao longo dos anos 80, a rádio sofre uma mudança significativa. João Lara Mesquita assume a direção executiva da rádio em 1982, cargo concedido por seu tio José Vieira de 1 A gravadora da Eldorado produziu o primeiro disco de uma orquestra sinfônica gravado em estúdio no Brasil (Uma Sonata para Cordas, de Carlos Gomes, gravada pela Orquestra Sinfônica de Campinas sob a regência do maestro Benito Juarez). Além de gravar diversos nomes como Thaide e DJ Hum (rap), Raíces de America (música latino-americana), Sepultura (rock), Ratos de Porão (hardcore) e Daniela Mercury (Axé Music), entre muitos outros (VICENTE, 2009). 6 Carvalho Mesquita. Antes de Lara assumir seu posto, a Eldorado não era muito valorizada nem mesmo pelo Grupo Estado. Existia uma desorganização interna dos funcionários, os cargos não eram definidos, tinham três diretos, porém nenhum deles ordenava de fato. João Lara chega para mudar e organizar a Eldorado, começando a rádio ter 24 horas de programação, visto que, uma rádio que não consegue tê-la esta fadada a morrer antes mesmo do seu nascimento, pois é uma luta diária que precisa surpreender os ouvintes com algum tipo de programação. Lara tem como missão desvincular o ideário popular com a antiga imagem da rádio. Ele se desdobrou para erguer as duas emissoras, AM e FM, com isso criou um padrão impar de qualidade e credibilidade. O diretor executivo da rádio busca fazer na Eldorado o que as outras rádios não faziam, por isso investiu nas áreas de meteorologia, meio ambiente, política, esportes diferenciados, foco no trânsito e, também, foi a primeira rádio a ter helicópteros para acompanhar o mesmo. A grande sacada foi fazer coberturas de esportes radicais que não eram valorizados por outros tipos de mídia, principalmente o rádio. Nos anos de 1983 a 1985 criam um estilo diferente de rádio jornalismo esportivo, não é apenas a informação que é levada ao ouvinte, mas toda a emoção da competição. Havia explicação sobre como era o esporte que estava sendo transmitido e o passo-a-passo da competição, o diferencial era que a experiência do atleta e suas dificuldades eram transmitidas e também o som ambiente. No final dos anos 80 a cobertura de esportes diferenciados já era a marcada registrada da Eldorado FM (GIOVANI, 2011), com isso a rádio acaba criando um novo slogan que era “apoio total ao esporte”. Além da cobertura esportiva a emissora oferecia apoio aos esportistas e frequentemente promovia eventos, entrevistas e até mesmo pagava passagens aéreas para os mesmo. A regata Santos-Rio foi uma das coberturas que mais renderem na época e foi a primeira cobertura jornalística de João Lara, porém para não causar constrangimento usou o pseudônimo de J. Mosque. Lara conseguiu este feito por causa de seu amigo Plínio Romeiro, que convidado a participar da regata abriu lugar para Lara. Através dos rádios VHF foi possível fazer uma transmissão ao vivo diretamente com a Eldorado. Foi apenas a partir dos anos 80 que um divulgador das companhias de discos teve acesso irrestrito às dependências da Rádio Eldorado. E, com a nova programação a partir de 1982, a rádio também passou a aceitar jingles e spots no ar. João Lara Mesquita acabou com a norma criada por Carlos Vergueiro: a proibição da entrada de divulgadores na rádio. Antes, 7 devido ao jabá, a presença desses profissionais era restrita ao balcão de entrada para evitar influências que pudessem prejudicar a independência da Eldorado. Mas, a rádio, como um todo e não apenas a Eldorado, era muito mal recebida nas agências de publicidade. Além do alegado problema de pouca seriedade e profissionalismo, o veículo era muito barato. Como as agências ganhavam por comissão sobre as vendas, o interesse pelas rádios era muito baixo. João Lara Mesquita, além do cargo de diretor executivo, assumiu a área comercial, depois de ter quatro gerentes e nenhum resultado, e buscou clientes. Foi se aprimorando, aprendendo a linguagem publicitária e abrindo portas. Como diz em seu livro, levou muito “chá de cadeira”, mas aprendeu a usar a credibilidade do grupo Estado. Quando havia demora por parte do cliente, pedia a sua secretária: “Diga que quem pede hora é João Lara Mesquita, diretor de radiodifusão do jornal O Estado de S. Paulo” (MESQUITA, 2008, p.105). Os publicitários, então, começam a “ver” melhor a rádio graças às visitas a clientes realizados por João Lara. O faturamento começa a aumentar, a equipe se profissionaliza e os projetos começam a sair do papel. Durante seus esforços, Lara acabou ficando amigo de André Bier, presidente da GM e foi assim que conseguiu manter o patrocínio da empresa para a criação do Prêmio Eldorado de Música. Criado em 1984, o Prêmio Eldorado de Música foi um apoio à difusão musical e teve por objetivo revelar e estimular jovens artistas (profissionais e amadores). Durante os anos 80 foi um dos mais importantes prêmios de música erudita do país. Sendo realizado anualmente, consistia de recitais semanais apresentados durante seis meses e abertos ao público. Um júri de especialistas avaliava os inscritos: músicos que executassem quaisquer instrumentos de orquestra, além de cantores, coros e pequenos conjuntos (ANEXO, 2014). Após 11 edições, o prêmio não conseguiu mais se sustentar e vender, então, João Lara decidiu por “guardar” o prêmio. Depois dos 11 anos lutando com o Prêmio Eldorado de Música, João Lara decidiu pela adaptação da música erudita para a música popular, transformando-o no Prêmio Visa que, surgindo em 1998 e tinha edições anuais. O prêmio era patrocinado pela empresa Visa do Brasil e contemplava artistas em três modalidades: instrumentistas, vocalistas e compositores. Já foi vencido por nomes como Yamandú Costa, Mônica Salmaso e Renato Braz, entre outros (VICENTE, 2009). Até o ano de 1984 o estúdio e a redação da Eldorado eram em prédios diferentes, enquanto a redação ficava no Prédio da Marginal o estúdio ficava no Prédio Major Quedinho. 8 A dificuldade era que as noticias tinham que atravessar a cidade para ir ao ar, e, com isso, ficava inviável seguir os padrões já estabelecidos, como na Jovem Pan e na Bandeirantes. A emissora usou da estratégia de buscar o ponto fraco das outras para fazer seu ponto forte, assim investiram, também, na meteorologia e nos noticiários nacionais. Havia um tempo máximo para cada intervenção, por conta da objetividade, e ninguém emitia sua opinião no ar, pois seus ouvintes eram suficientemente inteligentes, segundo João Lara. No inicio do ano de 1984 a redação volta a ser no Prédio Major Quedinho. No auditório da rádio, orquestras, bandas e cantores se apresentavam e os programas entravam no ar e podiam receber plateia. Vários artistas frequentavam esse prédio, entre eles Adoniran Barbosa, que era amigo do filho do Carlos Vergueiro, diretor por muitos anos da Eldorado. Adoniran teve uma relação muito intima com a rádio, sempre passava para cumprimentar os amigos. Ainda hoje existe o sofá que ele costumava tirar um “cochilo” nas tardes de visita. Em 1985, Tancredo Neves é eleito o primeiro presidente civil em mais de vinte anos, depois de uma campanha competitiva contra Paulo Maluf, marcando o fim do regime militar. A eleição foi como um alívio para a população, que não pôde desfrutar por muito tempo deste sentimento. Na véspera de sua posse, Tancredo foi internado no Hospital de Base em Brasília (GOVERNOMG, 2014). Após Tancredo ser internado e transferido para o INCOR (Instituto do Coração) em 26 de março de 1985, jornalistas faziam plantão vinte e quatro horas por dia e a imprensa já preparava edições especiais para serem lançadas assim que o falecimento do presidente fosse anunciado. Desse modo, a Rádio Eldorado fez um acordo com o Estadão, caso estes fosse informados, pelo então chefe da polícia federal, Romeu Tuma, avisariam imediatamente a rádio. Dias depois, a rádio recebeu uma ligação do jornal avisando da morte do presidente. Ansiosos por serem os primeiros a transmitir a informação e que isso ocorresse antes do programa obrigatório (desde o governo de Getúlio Vargas, em 1938) Voz do Brasil, João Lara Mesquita se lembrou que para confirmar uma notícia não oficial, deveria ter no mínimo três fontes diferentes. As três fontes de João Lara foram: Miguel Jorge (editor-chefe do Estadão), Percival de Souza (jornalista especializado em polícia que estava trabalhando em uma delegacia quando ouviu rumores de que os policiais haviam sido avisados do falecimento) e Ruy, irmão de João Lara (trabalhava na redação do Estadão). Com as três fontes confirmando o ocorrido, a Eldorado faz um comunicado sobre o falecimento de Tancredo, segundos antes do início da Voz do Brasil. A reação dos ouvintes, 9 jornalistas e correspondentes internacionais foi imediata, todos querendo saber de onde a rádio havia obtido tal informação. Alguns minutos depois, Ruy avisa João Lara de que haviam sido informados erroneamente, e que Tancredo Neves estava vivo - a confusão se deu devido uma parada cardíaca sofrida pelo então presidente. Ao se depararem com o erro, ligaram para o correspondente internacional da BBC, Zeca Santana, desmentindo a história, mas a rádio já havia colocado a notícia no ar. A Eldorado acaba de induzir a BBC ao seu primeiro erro. Ao terminar A voz do Brasil, a rádio transmitiu um comunicado pedindo desculpas à população pelo equívoco, além de pedir ao jornal para publicar uma nota com o mesmo tema, e, no dia seguinte, ligou para a BBC com o mesmo intuito. Tancredo Neves faleceu em 21 de abril do mesmo ano. No final da década de 1980, a Eldorado FM já era conhecida pela sua cobertura esportiva diferenciada, quando surge a oportunidade de serem patrocinadores de André Azevedo e Klever Kolberg no a 12ª edição em 1989/1990 do Rali Paris-Trípoli-Dacar, com a equipe “Eldorado-patrocinador”. O auxílio em dinheiro veio por parte do patrocínio com André Ranschburg, empresário-velejador, dono da Staroup, o qual fazia parte de competições de iatismo, onde a rádio apoiava algum barco, formando a equipe Staroup-Eldorado. Com uma verba de setenta mil dólares, João Lara foi convidado a cobrir o evento. No entanto, algumas dificuldades encontradas: ainda não existia a internet e não sobrava dinheiro para pagar os telefones com antenas parabólicas. A solução foi gravar as matérias e despachálas num avião que levantava vôo de dois em dois dias. As fitas deveriam chegar a produtora Iramar Greco, que faria as edições e colocaria as coberturas ao ar, através do programa Divirta-se. Todos os dias era enviado um boletim com as principais notícias e a colocação dos brasileiros. A cobertura teve grande repercussão e anos mais tarde, na prova de 1997/1998, João Lara foi convidado para ser co-piloto de Klever na Paris-Dacar. Mais uma vez estava sendo ótimo para a rádio, especialmente porque nenhuma rádio havia feito algo semelhante. Entre o final dos anos 80 e a década de 90, nota-se uma crise na gravadora da rádio, a qual se deu, principalmente pelo fato de as gravadoras internacionais passarem a controlar o mercado e ao aumento da pirataria. Assim, em 1997 passa a atuar como distribuidora de discos, fracassando em 2001, decidindo, então, se dedicar, quase que exclusivamente, à gravação do disco do vencedor do Prêmio Visa (VICENTE, 2009). No começo da década de 1990, mais precisamente em maio de 1992, a Eldorado acompanhava a crise do Governo Fernando Collor de Mello. Seu irmão, Pedro Collor de 10 Mello, havia dado uma entrevista à Veja que repercutira mesmo antes de sua publicação. Mas, preocupado com o que eles iriam publicar, Pedro queria se garantir e, por isso, buscou outro veículo em que confiasse, no caso procurava alguém do Estadão. Graças a uma prima, que namorava o advogado de Pedro, Lara conseguiu a entrevista para a Rádio Eldorado, que posteriormente foi publicada no Estadão, e tudo isso antes da Veja. João Lara e os dois repórteres mais experientes da época, Rosely Tardelli e Marco Antonio Sabino, participaram da entrevista que aconteceu no restaurante Paddock Jardins, às 21 horas do dia 25 de maio de 1992. Mas, para agilizar a produção do conteúdo, Anélio Barreto, chefe da redação, Plínio Romeiro e José Nogueira foram também, porém como se fossem frequentadores do local e que estariam por perto em caso de necessidade. Quando Lara fosse ao banheiro essa seria a senha para que ele e Anélio se encontrassem e Lara pudesse passar as informações fornecidas por Pedro, para que assim Anélio preparassem a divulgação da entrevista para que levassem ao ar no Jornal Eldorado no dia seguinte, sábado, 26 de maio. Assim que a entrevista foi ao ar no sábado de manhã, João Lara telefonou para o Estadão e informou o editor sobre o material que havia conseguido. Então, enviou o a fita para o jornal. A noite, esperou a publicação na banca, crente que saberiam aproveitar a informação. Porém, “apenas algumas linhas haviam sido escritas; era um leve resumo, sem qualquer destaque” (MESQUITA, 2008, p.141). A equipe Eldorado havia conseguido se antecipar a Veja, recebeu todos os detalhes da voz do próprio Pedro Collor de Mello, mas, por falta de sinergia, o Grupo Estado não levou o reconhecimento. Desde a época do regime militar, o trânsito em São Paulo vem aumentando consideravelmente, mas, principalmente durante os anos 90, o trânsito cresceu rapidamente, piorando os congestionamentos. O estresse com o trânsito caótico da cidade só aumentava, tomando níveis extremos e chegando a ocorrer crimes por motivos banais. Nessa época o prefeito de São Paulo era Paulo Salim Maluf com mandato de 1993 até 1996 (PREFEITURASP, 2014). “Além da agressividade existente pelo estresse diário e que tem efeito sobre o comportamento das pessoas no trânsito, o próprio trânsito gera situações de estresse, fazendo com que o comportamento agressivo de um motorista, desencadeie agressividade de outros motoristas.” (OLIVEIRA apud Gaspar, 2008) 11 Nessa época, a Eldorado investia cada vez mais no serviço de trânsito, usando, nos horários de maior movimento – pela manhã e no fim da tarde –, helicópteros como método de monitoração, trabalho desenvolvido pelo jornalista Geraldo Nunes, contratado para ser o repórter aéreo da rádio (METODISTA, 2013). Segundo Regis (2014), a rádio foi a primeira a colocar dois helicópteros fazendo cobertura do trânsito, mais presente na AM, que foi “introduzido” por outras emissoras, posteriormente (SANTOS, 2014). Em 1993, a rádio teve uma grande ideia que foi a criação do Ouvinte-Repórter, por Marcelo Prada (SIQUEIRA, 2009). “Na época foi, relativamente, revolucionário, que era usar o ouvinte para participar dando informação de trânsito”, comenta Regis. Marcelo Prada também participou ativamente da luta pela liberdade da Voz do Brasil. A Rádio Eldorado sempre foi reconhecida pelos serviços prestados sobre o trânsito, e assim, decidiram lançar a campanha “paz no trânsito” a seus ouvintes. A campanha era grande, seria veiculada em revistas, no Estadão, jornais, programas especiais, spots e vinhetas pela rádio, cujo lema era “A vida humana vale mais do que uma batida de carro”. Com a campanha já em pronta, saíram em busca de agências de publicidade, chegando à Prefeitura de São Paulo. A proposta foi apresentada ao prefeito, cujas reuniões com seus assessores eram sempre muito enroladas, e onde o assunto principal era a forma como o Jornal da Tarde se referia contra a Prefeitura. Assim foram algumas reuniões até o dia em que Maluf fez uma contraproposta que seria um jantar com o pai (Ruy) de João Lara (que trabalhava no JT). Mesmo contrariados, o jantar aconteceu. Dias depois, “estourou” o escândalo Frangogate – relacionado à granja de sua esposa, cujo administrador era seu filho, e que vendia frangos acima do preço para a Prefeitura –, o qual os jornais da Eldorado fizeram total cobertura. Nesse momento, Maluf aproveitou sua “amizade” com Ruy e ligou para o jornal para que não envolvessem a sua família, proposta esta não aceita pelo jornal. Sendo assim, a campanha “paz no trânsito” nunca saiu do papel. Em 1995, houve um grave acidente em uma das marginais de São Paulo que teve influência em todo o trânsito da cidade, causando um recorde de congestionamento, mas a rádio não pode informar seus ouvintes, como sempre o fez, devido estar no horário de transmissão da Voz do Brasil. Ao fim do programa, os ouvintes se revoltaram com o fato de o mesmo tomar o lugar da prestação de serviço e utilidade pública. Assim, a Eldorado entrevistou o presidente da Radiobras (Empresa Brasileira de Comunicação), Maurílio Ferreira de Lima, para que ele 12 explicasse aos ouvintes o motivo da não liberação do programa naquele momento. A entrevista não foi das melhores e também não prestou nenhum esclarecimento satisfatório. Assim, a Rádio Eldorado decidiu iniciar uma campanha a favor da liberdade na hora da Voz do Brasil. No início a campanha era uma ação isolada da Eldorado, mas foi adquirindo apoio espontaneamente de outras rádios, como a Rádio Bandeirantes, Musical FM, Enseada FM, Itatiaia, RBS, CBN, entre outras. Dessa forma, elaboraram abaixo-assinados pedindo o fim da obrigatoriedade do programa e foram às ruas buscar o apoio da população. Em novembro, haviam setecentas rádios participando da campanha e milhares de assinaturas da população. A campanha contou com anúncios bem-humorados, apoio de artistas, jornais, programas de televisão e alguns políticos. Pela primeira vez o meio do rádio se uniu em torno de um mesmo ideal. Com o apoio do jurista Ives Gandra da Silva Martins, descobrem a inconstitucionalidade do programa, pois segundo o capítulo V - da Comunicação Social, no artigo 220º, parágrafo 1º, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, diz-se que: “A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição (...) Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social.” (PLANALTOGOV, 1988). Pela Constituição Federal, a informação não deve sofrer qualquer tipo de restrição, nem se impõe a obrigatoriedade de veiculação pelo rádio de programas de promoção dos atos do governo. Sendo assim, a restrição à liberdade da Voz do Brasil era inconstitucional. Durante todo o ano de 1996, o Jornal da Tarde e o Estadão, publicavam um artigo de algum jurista falando sobre como a obrigatoriedade do programa ia contra a Constituição. A campanha foi à Justiça comum, através do advogado Manoel Alceu Affonso Ferreira, que requereu uma “tutela antecipada”, permitindo que as rádios ficassem sem transmitir o programa. As rádios conseguiram a concessão de liberdade de transmissão do programa Voz do Brasil, em 18 de dezembro de 1997, sob amparo legal, por meio da juíza Maisa Ferreira dos Santos. 13 Nesse mesmo ano, no final de seu mandato, Maluf lança seu secretário de finanças para prefeito de São Paulo. Assim, Celso Pitta é eleito em 1997, com mandato até 2000. O governo de Pitta foi marcado por ainda mais escândalos do que o governo anterior (TERRA, 2009). Com todos esses acontecimentos, a rádio decide agir. Em 1999, o Jornal da Tarde lançou adesivos com os dizeres “Eu tenho vergonha dos vereadores de São Paulo”, distribuição a qual teve que ser interrompida após processo judicial. Mais tarde, do mesmo ano, a Eldorado começou a fazer pequenos editoriais (resumos do que o Estadão publicava) que iam ao ar quase todos os dias na AM e FM. A resposta da população era imediata, mas a rádio ainda queria uma forma de protestar que fosse mais lúdica, condizendo com o veículo de transmissão. Assim, João Lara tem a ideia de criar o “Prêmio Cara-de-Pau, o Oscar da Baixaria”, o qual consistia na indicação, tanto por parte dos ouvintes quanto pela própria rádio, de políticos e seus respectivos escândalos, nomes os quais ficariam no ar para que todos pudessem votar pela página da Eldorado na internet no “Cara-de-Pau” do mês. Dessa forma, a cada um mês um político receberia tal título, e suas baixarias seriam publicadas em spots na AM e FM e em anúncios no JT e no Estadão. “A Eldorado está lançando mais um prêmio. Desta vez para "homenagear" as maiores baixarias de nossas autoridades. Todo mês a Eldorado vai selecionar os maiores casos denunciados pela imprensa naquele período. Os ouvintes votam e escolhem aquele que conseguiu superar os outros em termos de escândalos ou propostas... No fim do ano teremos doze semifinalistas, então em dezembro, numa ampla votação através da Eldorado, da Internet e de anúncios na imprensa, você ouvinte se vinga escolhendo pelo voto aquele que merece o título de "Cara de Pau do Ano". E abrimos desde já a votação. Para janeiro e fevereiro nossa sugestão é, anota aí (...) O fax da Eldorado para seu voto é 254-6888. Os resultados serão divulgados ao final de cada mês.” (CHAIA apud Rádio Eldorado, SP - 12/02/99, 2001) O prêmio fazia sucesso com a população e incomodava os políticos. Em janeiro de 2000, elegeram o “Cara-de-Pau” do ano, e o título foi dado a Paulo Salim Maluf, com 1216 votos. 14 Os anos 2000 fora ótimos para a rádio, passando a ser chamada, por seus ouvintes e instituições da cidade, de “a rádio cidadã”, devido suas ações sociais em prol da cidadania. Um dos únicos problemas do ano, foi o recebimento de um processo efetuado por Maluf pelo fato de a rádio não ter cumprido a Lei Eleitoral, visto que segundo o artigo 45º, inciso III, da Lei nº9.504, de 30 de setembro de 1997: “A partir de 1º de julho do ano da eleição, é vedado às emissoras de rádio e televisão, em sua programação normal e noticiário: (...) veicular propaganda política ou difundir opinião favorável a candidato, partido, coligação, a seus órgãos ou representantes.” (PLANALTOGOV, 1997). Paulo Maluf também tentou processar a emissora pela forma como se referiu a ele, mas o requerimento foi indeferido pelo juiz. O resultado do processo foi o pagamento de uma multa R$250 mil pela Eldorado. Da Rádio Eldorado e sua história, podemos tirar duas certezas, dentre muitas outras: que foi a partir da entrada de João Lara Mesquita na administração que a rádio começou a se organizar; e que muitas de suas pautas eram voltadas para assuntos diferenciados, muitas vezes ignorados por outras emissoras, como meio ambiente e prestação de serviços. Em 1988, parte dessa história passou a ser escrita de fato. No ano em questão, Mesquita contratou o jornalista Marco Antônio Gomes, o Marquito, para assumir a redação da AM. Assumindo a posição naquele mesmo ano, Marquito foi pedido, por Mesquita, que respeitasse a linha seguida pela rádio que o ajudasse a escrever algumas das regras já criadas para o jornalismo da Eldorado. E, sobretudo, que criasse, em conjunto com seus pares, pautas novas para a rádio. Não era possível continuar transmitindo notícias na rádio iguais às presentes nos outros meios. Marquito elaborou e apresentou a Mesquita uma série de novas pautas. Dentre elas, uma sobre o rio Tietê. Coerente, uma vez que as pautas relativas ao meio ambiente estavam começando a chamar atenção na época. Mas a condição do rio Tietê era muitas vezes ignorada, devido ao comodismo estabelecido nas pessoas quanto à sua poluição. A meta então era uma reportagem sobre a possibilidade de reversão do quadro de poluição do rio e esta pauta contava com precedentes: um dos melhores exemplos é o Rio Tâmisa, no sul da Inglaterra. Na época, a Rádio Eldorado já contava com uma parceria com a BBC (emissora pública de rádio e televisão do Reino Unido), que uma vez acionada pela Eldorado, aceitara fazer a reportagem em conjunto. Uma equipe da BBC desceria o rio Tâmisa descrevendo como o rio havia sido despoluído, comentando a ação feita pela população londrina por uma ação do governo. Posteriormente, a emissora contaria sobre quais haviam sido as ações tomadas para que a situação 15 fosse resolvida. Enquanto isso, os repórteres da Eldorado, Rosely Tardelli e Marco Antônio Sabino, navegariam o Tietê enquanto relembravam a importância que o rio apresentou não apenas para a cidade de São Paulo, bem como para o país inteiro. A intenção era causar uma mobilização pública, uma pressão contra o governo. A reportagem foi um sucesso. Muitas pessoas ligaram parabenizando a rádio e oferecendo dinheiro para a “campanha”, que na verdade ainda não existia, apenas a reportagem. Só que a situação tomou proporções preocupantes, uma vez que o público não se contentava com a rádio apenas “plantar a semente para discussão”, e exigiam uma campanha ativa. Frente a situação, Mesquita se mobilizou em busca de ajuda. Recorreu à ONG “SOS Mata Atlântica”, da qual fazia parte seu irmão, um dos fundadores. Mesmo muito relutantes, com medo de que a campanha tirasse recursos e o foco de suas pautas principais (ligadas à mata atlântica), o Conselho da ONG acabou aceitando englobar a causa. Na busca de um ano por clientes que aceitassem patrocinar a empreitada, Mesquita acabou conseguindo o apoio da instituição bancária brasileira Unibanco, que impôs várias restrições e exigências. Enquanto isso, Mesquita pesquisava as causas principais da poluição do rio. Com as estimativas apresentadas pela Eldorado apontando que seriam necessários 350 mil dólares para custear os três primeiros anos do Núcleo União Pró-Tietê, a Unibanco exigiu que fosse formado um Conselho para o projeto que contasse com representantes de cada instituição participante: da Unibanco, da ONG, de instituições da sociedade civil e da Eldorado, que no caso, foi o próprio Mesquita. Foi apresentado então o nome para comandar a nova ONG: o biólogo Mário Mantovani. Paulo Bravo, diretor da Unibanco, concordou e colocou à disposição os 350 mil dólares. Todos os veículos de notícias importantes publicaram matérias a respeito do projeto. Enquanto isso, Mantovani se mobilizou rapidamente para colocar o projeto em prática: organizou eventos públicos, concedeu entrevistas, fez um abaixo-assinado em prol da limpeza do Tietê, entre outros que foram dando força e credibilidade ao movimento. A pauta então começou a ser discutida também pela grande imprensa, como na TV Globo, na revista Veja, nos jornais Estado e Folha. O problema foi que poucas vezes o crédito da iniciativa foi dado para a Rádio Eldorado, quando o que eles precisavam naquele momento era visibilidade. Diante de tanta divulgação, o poder público começou a se manifestar. O governo de Luiz Antônio Fleury Filho, então governador de São Paulo, afirmou que tornaria a pauta uma obra prioritária do seu governo e acabou por lançar o Projeto Tietê, mas o projeto não saiu do papel. Foi só em 1994, com o governo de Mário Covas, que a campanha do Tietê prosperou, firmando um convênio com o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e dividindo os planos de despoluição em três etapas. Cada etapa recebeu um investimento em torno de 1 bilhão de dólares 16 do Governo do Estado e seu parceiro. Até o ano de 2008, segundo matéria de capa do caderno Metrópole, de O Estado de S. Paulo, a poluição no Tietê já havia encolhido 120 km e o núcleo permanece ativo até os dias de hoje. Durante a década de 90, havia três emissoras que se destacavam das demais pela receita mensal em venda de publicidade: a líder, a vice-líder em audiência e, em seguida, a Eldorado FM. O montante da rádio era apenas menor do que essas duas, apesar de, em número absoluto de ouvintes por minuto, estar sempre depois da décima posição. Já em escala nacional, a Eldorado era uma das três maiores entre as rádios FM do país. Porém, do ponto de vista empresarial a situação não era de tanta comemoração. O lucro gerado pela FM não bastava para suportar o alto custo da Nova Eldorado AM, com 24 horas de informação e prestação de serviços, lançada pouco antes. Não que a AM não fosse bem, ao contrário. O programa Jô Soares Jam Session, produzido por Zé Nogueira, era o assunto do momento. A AM também impressionava em sua área de atuação principal: o jornalismo. A rádio era o único veículo de comunicação do país a ter um correspondente na China. Jayme Martins, o colaborador de Pequim, ganhou o Grande Prêmio Líbero Badaró de Jornalismo de 1990, pela reportagem “Meninos eu vi”. Foi uma cobertura dramática e inédita do massacre da Paz Celestial contra os protestos e manifestações por mais liberdade no país, em 1989 (PACETE; SARDAS, 2013). Simultaneamente, a Eldorado e os paulistanos pressionaram o Governo do Estado de São Paulo a iniciar a maior obra de saneamento já feita no Brasil: a campanha do Tietê tornou-se realidade. E, ainda, conseguiram acabar com a obrigatoriedade da Voz do Brasil. Devido ao controle de gastos, a rádio tomou a decisão de não mais contratar jornalistas formados. Além de custo maior, davam mais trabalho. Muitos chegavam à emissora com vícios adquiridos em outras rádios, falavam muito quando defronte do microfone, tinham pouco poder de síntese e empostavam2 a voz. João Lara buscava naturalidade e objetividade. A rádio passou a chamar estagiários que cursavam jornalismo. Muitos dos melhores ficaram, e aos poucos começaram a formar novos profissionais. Foi dessa forma que conseguiram funcionários de qualidade de versatilidade. E a ideia dos estagiários deu certo. A Eldorado AM aos poucos se tornou uma escola, nos moldes do que foi o Jornal da Tarde nos anos 60/70 (MESQUITA, 2008). As redações de diversos meios de comunicação receberam os aprendizes da rádio, mas os estagiários nunca eram “perdidos” pro meio rádio. Talvez, o 2 Firmar a voz (cantor, ator) nas cordas vocais, para que soe plena e segura/ Emitir corretamente (a voz). 17 caso mais famoso de um estagiário da Eldorado (que foi para a TV) tenha sido o de William Bonner. Ele saiu direto da AM para a Globo. Outra criação da Rádio Eldorado durante os anos 90 foi o Bike Repórter. A iniciativa nasceu em 1999 cicloativista Arturo Alcorta. No ano seguinte, a jornalista e também cicloativista Renata Falzoni juntou-se a ele (PROPAGANDA, 2008). Pedalando pelos bairros centrais, eles enviavam informações do tráfego, propunham rotas alternativas e até uma releitura da cidade sob a ótica de quem pedala. Essa participação durou até novembro de 2001 e foi retomada em abril de 2008. Segundo Mesquita (2008), a equipe Eldorado nunca inscreveu a rádio em qualquer prêmio, mas os colecionavam. Eram espontâneos, vindos da sociedade. Entre os quais: Veículo do Ano, em 1989, pelo Prêmio Colunistas; Destaque do Ano, em 1990, pela Associação Paulista dos Críticos de Arte; Melhor Jornalismo, ainda em 1990, pela mesma APCA; Prêmio Kolynos Ecologia, em 1992; Albarus, em 1994; Prêmio Colar do Centenário, em 1996, pelo Instituto Histórico e Geográfico; Troféu Defesa Civil, em 1996, pelo Governo Estado de São Paulo; Melhor Jornalismo, de novo, em 1999, pela APCA; o PNBE (Pensamento Nacional das Bases Empresariais) de Cidadania, ainda em 1999. Em 2000, o Prêmio de Honra ao Mérito Profissional, conferido pelo Rotary Clube, assim como o Prêmio Líbero Badaró, outra vez. Em 2001 foram: Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, Homenagem Anistia Internacional, Ayrton Senna de Jornalismo. Em 2002, o Ecopet-2002, pela campanha Pintou Limpeza3. Mas, se tiveram reconhecimento, dinheiro não conseguiram. A audiência da AM não mudava, por mais que a Eldorado AM fizesse sucesso. O resultado era um baixo faturamento. Numa reunião de acionistas, em 2002, os proprietários do Grupo Estado (contra o um sexto de Dr. Ruy Mesquita, pai de João Lara) decidiram que a família Mesquita deveria abandonar suas posições na empresa. Apenas o Sr. Ruy ficaria. Assim, João Lara Mesquita deixa a Rádio Eldorado em 2003. No século XXI, talvez os anos mais marcantes sejam 2010 e 2011. Anunciado em 2010, foi em 2011 que a programação musical da Eldorado FM migrou para os 107,3 Mhz, frequência em que está no ar até hoje. A mudança foi decorrente do lançamento da Rádio Estadão/ESPN, que ocupou os dois dials antigos da Eldorado: na FM, 92,9 Mhz; e na AM, 3 O projeto consiste em uma campanha de conscientização informando a população sobre o tempo de decomposição de materiais normalmente jogados no lixo e até pela janela do carro tais como bitucas de cigarro, latinhas, garrafas e outros materiais. Existe desde agosto de 2000. (http://www.reciclaveis.com.br/noticias/00308/0030826radio.htm) 18 700 Khz (CHENI, 2010). A parceria entre ESPN e Grupo Estado (mais especificamente com a Eldorado AM 700 Khz, começou em 2007 e durou apenas até 2012, quanto o contrato terminou no final do ano e não foi renovado. A partir de então a Rádio Estadão ESPN passou a se chamar Rádio Estadão. O diretor-presidente do grupo, Francisco Mesquita Neto, disse que a decisão está alinhada com a estratégia da companhia de focar seus esforços na marca principal do grupo: o Estadão (BARBOSA, 2012). Para a Eldorado, a mudança de dial teve como vantagem a consolidação de um posicionamento, diz Regis Santos, atual diretor artístico da Rádio Eldorado (SANTOS, 2014). Ele explica que a rádio AM, no geral, está em decadência. Então, por alguns anos, conteúdos da Rádio Eldorado AM entravam na FM para ter viabilidade comercial, para atrair patrocinadores. Com isso, o canal FM perdia sua característica. Com a divisão, a Eldorado FM pode ser uma rádio “mais inteira” e resgatar o seu posicionamento original: ser uma rádio musical para classes A e B. Na divisão houve um resgate do jornalismo com a Rádio Estadão e um resgate do musical e variedade com a Eldorado FM. 19 RÁDIO ESTADÃO E SUA RELAÇÃO COM A RÁDIO ELDORADO No ano de 2011, foi criada a Rádio Estadão ESPN, uma parceria do grupo O Estado de S. Paulo e do grupo The Walt Disney Company. O grupo Estado contava até então com duas rádios: a Rádio Eldorado AM700 e a Rádio Eldorado musical em FM 92,9. No entanto, o grupo percebeu que a faixa de rádio AM em geral, em cidades como São Paulo, vinha perdendo audiência gradativamente. Apenas as rádios mais populares é que conseguiam manter, atualmente, a audiência em AM, com um público formado principalmente por donas de casa e empregadas. Já o tipo de jornalismo que a rádio Eldorado e, posteriormente, a Rádio Estadão fazia era voltado para um público de classe A, B e C+, que não ouvia mais AM. Para driblar a perda de audiência, resolveu-se como estratégia mudar a frequência de transmissão em AM para FM. Foi então feita uma parceria com a Rádio Brasil 2000, fazendo com que a Rádio Eldorado musical passasse para o dial da Brasil 2000 – FM107,3 – enquanto que a antiga dial da Eldorado FM92,9 ficaria disponível para transmissão de notícias. Ao invés de preencheram a frequência com a antiga Rádio Eldorado AM700, o grupo Estado optou por deixar a Eldorado apenas com a transmissão musical, que era o único foco da rádio quando ela foi criada, e criar uma nova rádio que exercesse a função jornalística. Disso, resultou a criação da Rádio Estadão ESPN. Essa iniciativa que envolveu a mudança do nome da rádio é mais uma das estratégias do grupo Estado, que consistia em colocar a sua marca em todos os seus produtos, em todas as suas plataformas de negócio, de maneira com que a marca fosse associada constantemente a um jornalismo eficiente e dinâmico, abrangendo vários meio e vários públicos. A única que fugiu a essa regra foi justamente a Rádio Eldorado, por ser uma rádio musical e não de notícias, que é o DNA do Estadão. Tal mudança foi uma estratégia de mercado do grupo Estado para aumentar a audiência da rádio e a parceria com a ESPN veio em função do futebol ser um dos principais faturamentos de qualquer rádio jornalística. O objetivo era juntar dois grandes grupos: a ESPN, que faz parte do grupo Disney, e a Rádio Estadão, que faz parte do grupo Estado, o que facilitaria também anunciar no mercado a união desses dois grupos na Rádio Estadão ESPN. A parceria também foi possível pelo fato de a ESPN partilhar do mesmo perfil de público da Rádio Estadão. Uma parceria com a ESPN já havia sido feita anteriormente pela Rádio Eldorado jornalística em AM, para transmissão de jogos. Por mais que a nova Rádio Estadão ESPN FM92,9 funcionasse como uma “segunda versão” da antiga Rádio Eldorado AM700, houve, no entanto, uma mudança completa da grade de programação da rádio, mantendo apenas um de seus programas dominicais. Com a parceria entre o grupo Estado e o grupo Disney, foi desenvolvida uma grade que compreendia uma programação ⅔ all news, jornalística, e ⅓ esportiva. Se antes, a Rádio Eldorado buscava cobrir notícias de esportes mais diferenciados (campeonato de vela, tênis, etc), na tentativa de fugir do foco 20 futebolístico, a Rádio Estadão ESPN cobria o futebol de tal forma que representava 90% da parte esportiva da rádio, uma vez que contava, agora, com uma equipe especializada e capacitada para falar de futebol. Como característica inerente do rádio, o ouvinte constrói uma identidade, um vínculo com determinada emissora. Ele se identifica com ela e é dai que surge a chamada “fidelidade” do espectador. Dessa maneira, quando foi feita a transição, assim como com qualquer outra rádio que passe pelo mesmo processo, houve um período de queda de audiência da rádio, o que já era esperado pelo grupo. A queda é normal para o veículo rádio e o ouvinte deve se habituar a ela, pois com a Rádio Estadão ESPN, houve uma mudança total em relação a programação da antiga Eldorado AM700. Depois de alguns meses, a audiência foi recuperada, uma vez que os ouvintes entendeu o propósito da rádio e se identificou com ela. Para divulgação da nova rádio que se criava, a rádio não contava com muita verba para investir em propaganda. Por isso, usaram o veículo impresso, o jornal Estadão, também do grupo Estado, para divulgar a notícia, bem como se valeram de pesquisas qualitativas (convidam ouvintes a escutar a rádio e dar o seu feedback) e algumas outras estratégias de marketing. Para habituar o ouvinte com a nova programação da rádio, foram feitas muitas chamadas apresentando os novos programas. Uma das vantagens da Rádio Estadão ESPN, de acordo com uma exfuncionária da rádio, é que eles eram “a única rádio que contava com mais do que 700 jornalistas”, que eram, na realidade, os jornalistas do jornal Estadão, que poderiam entrar ao ar na rádio a qualquer momento, dando vários “furos” inéditos à rádio (DEPOIMENTO, 2014). Um exemplo notório disso foi na morte de Osama Bin Laden, em que uma repórter do Estadão, que estava no Afeganistão por causa de outra reportagem, entrou ao vivo na rádio para comentar a reação no próprio país da morte de Bin Laden. Em cima disso, a Rádio Estadão ESPN começou a vender a ideia de possuir uma “informação diferenciada”, o que também ajudou a reconquistar o público. Assim como qualquer outra rádio, a Rádio Estadão ESPN também sofreu (e sofre) com a questão da verba publicitária que é destinada às rádios no país (algo em torno de 3 a 4%). Isso faz com que os salários dos jornalistas de rádio sejam muito menores do que os salários dos jornalistas de TV e dos jornalistas de mídias impressas, o que dificulta muito a situação de uma rádio como a Estadão ESPN que contava com uma redação de 45 pessoas. Isso implica em duas coisas: primeiro, uma falta de investimentos em outras aspectos da rádio, uma vez que a maior parte do dinheiro (que não é muito) vai para folha de pagamento de quem trabalha lá; e segundo, obriga muitas emissoras a não ter um número tão grande de jornalistas, a exemplo da própria Eldorado musical, que conta com uma redação formada por 10 pessoas. 21 Em 2012, Silvio Genesini deixou seu posto de diretor-presidente do grupo Estado, assumindo, em seu lugar, Francisco Mesquita FIlho. Uma das decisões tomadas por Mesquita ao assumir o cargo foi desfazer a parceria com a ESPN, que havia sido firmada por Genesi, sendo essa uma decisão estratégica, e criar apenas a Rádio Estadão. Com isso, a rádio precisou fazer um “redesenho”, criar novos programas para preencher a grade, uma vez que a ESPN tomava sete horas de programação da rádio diariamente. Ou seja, houve um profundo impacto na programação e um desbalanço daquela primeira divisão de ⅔ all news e ⅓ esportivo. A Rádio Estadão só foi ter uma equipe definitivamente estruturada para cobrir eventos esportivos, principalmente jogos de futebol, após seis meses da separação da ESPN. Além disso, foi adotado um formato diferente de transmissão futebolística pela Rádio Estadão, uma vez que eles não poderiam competir com as rádios futebolísticas já estabelecidas no país. A programação total da rádio, por sua vez, ficou dividida entre 30% futebol e 70% all news. Tanto na criação da Rádio Estadão ESPN, como posteriormente na reestruturação da Rádio Estadão, em ambos os casos foi-se pensado considerando o contexto de mídias digitais. No grupo Estado como um todo há uma preocupação constante com a convergência e integração de mídias. Exemplo disso foi a construção do estúdio da rádio dentro da redação do jornal Estadão. Assim, em momentos de furo jornalístico, como quando o ex-vice presidente do Brasil, José Alencar morreu, os jornalistas do Estadão já entram ao vivo na rádio para dar a notícia. Outro exemplo mais atual é a reportagem feita na Granja Comary, onde os repórteres responsáveis mandam fotos para o site, entram ao vivo na rádio e escrevem para o jornal, ou seja, tendo a convergência total. Atualmente, a plataforma digital4 da rádio conta com mais ouvintes do que a rádio tradicional. Isso porque, no site da rádio, o ouvinte tem acesso a muitas informações que ouvindo no rádio normal ele não tem, como a programação detalhada, descrição do programa o qual ele está ouvindo, sem falar no fato de que é comum, nos dias de hoje, as pessoas realizarem múltiplas tarefas na internet ao mesmo tempo. Então, o ouvinte, ao mesmo tempo em que ouve a rádio no site, também consulta outros sites e realiza outras funções ao mesmo tempo. A função da rádio é prestar serviços. Isso pode ser observado pela interatividade que se tem com o ouvinte. Hoje, o ouvinte se comunica com a rádio a todo momento e ele se direciona pelas notícias que ele ouve na rádio. E essa interatividade e o feedback do ouvinte é levada extremamente a sério pela rádio, que se apropria das mais diversas mídias para tornar o processo eficiente, dinâmico e prático, tais como WhatsApp, Facebook, Twiiter, entre outros. Se antes o telefone e email eram os meios mais procurados pelos ouvintes para se comunicar com a rádio, atualmente o SMS e o WhatsApp desempenham essa função. 4 Site da Rádio Estadão: http://radio.estadao.com.br/ 22 A Rádio Estadão participa das reuniões de pauta discutidas no jornal Estadão, para estabelecer esse diálogo entre a redação da rádio e a do jornal e até mesmo para economizar tempo e dinheiro. 23 A RÁDIO ELDORADO: UM PANORAMA SOBRE OS DIAS ATUAIS Uma rádio extremamente rica em história, a Eldorado ainda está ativa nos dias de hoje. Após a saída de Mesquita da direção da emissora em 2003, não se tem muita informação sobre o funcionamento da rádio, apenas notícias esporádicas em veículos de mídia. A entrevista com o atual gerente artístico da rádio, Régis Santos, foi esclarecedora para sabermos melhor como anda a rádio nos dias de hoje. A Eldorado, por fazer parte do grupo Estado, tem uma configuração diferente. Geralmente, uma emissora não tem mais do que 30 funcionários. Mas, ao contrário do que muitos dizem, o mercado radiofônico ainda cresce. O principal problema é a questão da verba publicitária. O Brasil é o segundo país com maior número de veículos radiofônicos, perde apenas para os Estados Unidos. E, no entanto, apenas uma pequena porcentagem da verba publicitária é destinada ao mercado de rádio, algo entre 3 e 4%. Nos EUA, essa fatia chega aos 11%. A ordem no Brasil costuma ser a seguinte: as emissoras de TV aberta são as que dominam a verba publicitária; depois, seguem-se as emissoras de TV fechada; em seguida, os meios impressos (jornais, revistas, entre outros); e, por fim, as emissoras de rádio. No entanto, conforme afirma Régis, por mais que as rádios estejam passando por um momento de transformações e, principalmente, adaptações frente ao surgimento das novas mídias digitais, o rádio ainda possui uma expectativa de vida longa. Por mais que se lide diariamente com o grande problema de escassez de recursos, não há previsões de que o rádio acabe, sendo ainda um mercado vivo. Por mais que as transformações sejam necessárias, é preciso manter a identidade da rádio. Ela se tornou mais do que apenas um informe de notícias para o ouvinte; é seu companheiro. Por isso, a importância de manter a sua linha de programação. O ano de 2014 é um ano de grandes acontecimentos no Brasil, com a Copa do Mundo e as eleições para presidente. A Rádio Eldorado, que atualmente se encontra apenas na faixa FM e é uma rádio essencialmente musical, manterá o seu trilho. Quanto à Copa, ela irá informar os resultados dos jogos, os confrontos de oitavas e quartas de finais, a semifinal e, por fim, a final, passando pelas notícias mais relevantes. Quanto às eleições, também serão informados as principais notícias, mas não será o seu foco. A rádio acredita que é melhor manter-se fiel ao que a rádio propõe para garantir a fidelidade do ouvinte e deixar que quem queira ter uma melhor cobertura desses dois eventos, ou de qualquer outro tipo de acontecimento não ligado às pautas principais da rádio, deve ir atrás disso em outras rádios especializadas no assunto. Em um mercado como o radiofônico, que nos dias de hoje encontra-se relativamente restrito, é preciso perspicácia e agilidade para acompanhar as transformações no mundo. Com as 24 novas mídias digitais, mudanças na forma como se veicula a informação são necessárias. Ou seja, é precisa uma articulação que garanta uma nova forma de interatividade com o ouvinte, mas mantendo a essencialidade da rádio. Uma dessas mudanças é a transmissão do conteúdo da rádio via internet. A Rádio Eldorado FM 107,3 conta com uma plataforma digital5 que disponibiliza sua programação virtualmente. O mercado de rádio digital conta com ainda menos verba, por isso a importância de manter sua transmissão no veículo tradicional de rádio e usar a transmissão digital como mais um ganho para a emissora. As rádios que transmitem só via plataforma digital encontram mais dificuldades devido a esse obstáculo. Além disso, a Rádio Eldorado encarregou-se de dinamizar os canais de comunicação da mesma com o ouvinte, para tornar o processo mais interativo. Se antes, os ouvintes se comunicavam com a rádio primeiro por carta, depois por fax e finalmente por e-mail, atualmente a rádio com novos meios de interação, como as redes sociais, tais como o Twitter e Facebook. São fundamentais tais canais midiáticos para interagir com a audiência e propagar a mensagem da rádio. Visto isso, voltou ao ar, no mês passado, um programa em que a rádio seleciona uma playlist de um de seus ouvintes e a reproduzem ao vivo. Para mais, a rádio também pretende lançar um programa participativo pelo WhatsApp, aplicativo de mensagens instantâneas desenvolvido para smartphones, e que tem sido muito utilizado por pessoas do mundo todo, o que mostra a preocupação da rádio em se manter atualizada. 5 Site da Rádio Eldorado: http://www.territorioeldorado.limao.com.br/ 25 CONSIDERAÇÕES FINAIS Apesar de tudo o que a Rádio Eldorado representou, e até hoje representa, a quantidade de fontes para consulta e referência é escassa. Para o presente artigo, a principal fonte de pesquisa foi o livro “Eldorado, a Rádio Cidadã”, de João Lara Mesquita. Acrescida de duas entrevistas: uma com o atual diretor artístico da Eldorado, Regis Santos; e outra com uma ex-funcionária da Rádio Estadão, juntamente com pequenas referências achadas online. Em 56 anos de história e atuação, a Rádio Eldorado estabeleceu uma programação própria com um público que se manteve fiel à sua trajetória. O Grupo Eldorado construiu seu nome dentro do Grupo Estado desde 1958, mas foi com a direção de João Lara Mesquita que fez seus grandes marcos, principalmente nos anos 80. A FM se tornou líder absoluta em qualificação de audiência, tinha um repertório moderno, amplo e agradável de se ouvir. Conseguiram transformar em um rádio cultuada, como era o objetivo. Para Mesquita (2008), o mundo não se resumia aos Estados Unidos, a rádio tinha que ser plural, refletir a diversidade do planeta e não a cultura de um país hegemônico. Reflexo disso era a programação imprevisível, era uma música diferente, com ritmos dos mais variados, depois da outra. Quanto mais exigentes a equipe era, melhor a rádio ficava. Conseguiram até fazer com que um programa de música erudita, Concerto Noturno, fizesse sucesso. O grupo tinha também uma prestação de serviços vencedora, que depois foi copiada por outras rádios e TVs: as previsões do tempo corretas, feitas por especialistas da hoje renomada Climatempo, e serviços de trânsito pela primeira vez eficientes, já que eram feitos por repórteres em helicóptero, que dos céus podiam enxergar onde o trânsito estava parado; ciclistas, que contornando o trânsito faziam uma releitura da cidade além de indicar rotas alternativas; e os próprios motoristas participantes da programação, que davam as informações no meio do trânsito. Essa ideia de ouvintes participando com informações do trânsito em tempo real foi pioneira. A Eldorado foi a primeira rádio a estabelecer o ouvinte-repórter, uma das principais marcas associadas à rádio. Também, com foco na prestação de serviços, principalmente na AM, foi a primeira a ter dois helicópteros fazendo a cobertura do trânsito. A rádio foi pioneira em vários aspectos, inclusive em relação à campanhas de cunho social. Assim se deu a campanha a favor da despoluição do Rio Tietê, o prêmio Cara-de-Pau: o óscar da baixaria e a luta pela liberdade da Voz do Brasil. Com toda sua preocupação com 26 os interesses e necessidades da população, foi que a rádio se estabeleceu como “a rádio cidadã”. Título este, dado a mesma, merecidamente, por instituições e pelos seus ouvintes. Em uma estratégia de mercado, o grupo Estado acabou por restringir a rádio Eldorado apenas na área musical, e optou por criar uma nova rádio, a Rádio Estadão, para assumir a faixa FM 92,2, antigamente ocupada pela Eldorado. A rádio, responsável pelos informes jornalísticos, surge em parceria com a ESPN, mas acaba por seguir sozinha a partir de 2013. A vontade de fazer diferente e apostar no que as outras emissoras não fazem ainda permanece na Rádio Eldorado. Mesmo com as mudanças de frequências e dial, a rádio ainda mantém sua credibilidade e seu público “dos melhores ouvintes”. Até os dias de hoje, a Eldorado consegue manter o seu lugar, em um meio que sofre diversas adversidades, como a falta de verba publicitária e o surgimento de novas mídias. Com uma história que transcende décadas e que deixa um legado valioso para todos, com ações e programas inovadores e copiados por várias outras emissoras, a Eldorado definitivamente deixou, deixa e continuará deixando sua marca na história da rádio no Brasil. Como descreve João Lara Mesquita, em um depoimento emocionado e orgulhoso: “Fizemos muito mais que Rádio. Honramos nossa concessão e devolvemos dignidade ao meio” (MESQUITA, 2008, p. 218) 27 REFERÊNCIAS ANEXO. Abrem inscrições para o Prêmio Eldorado de Música. Disponível em: <http://www1.an.com.br/1999/abr/30/0ane.htm>. Acesso em: 28 de junho de 2014. BARBOSA, Daniela. Grupo Estado e ESPN encerram parceria de rádio. Publicado online em: 01 de novembro de 2012. 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