1 A FUSÃO DA ETNOLOGIA BRASIL/ÁFRICA MATONDO MPATI Mestre em Teologia (Etnoteologia e Antropologia Cultural) Angola, África RESUMO O presente estudo tem como objetivo abordar a fusão da etnologia Brasil e África, tendo em vista a contribuição dos africanos para a formação da cultura brasileira. O estudo foi baseado em uma revisão de literatura sobre o tema, fundamentada no método exploratório. Com a elaboração deste estudo podemos afirmar que a fusão Brasil/África resultou em diversas referencias no campo das artes e da estética, como por exemplo na literatura e nas artes visuais, onde diversos atores negros buscaram construir uma identidade afrobrasileira autônoma. Palavras-chave: África; Brasil; Etnologia; Fusão. INTRODUÇÃO O tema deste estudo é a fusão da etnologia Brasil e África. Ao chegarem ao Brasil, em 1500, os portugueses iniciaram um intenso processo de aculturação, denominado de Missão Civilizadora, cujo objetivo integrar o índio à cultura ocidental para que o mesmo pudesse ser dominado. Deste modo, os portugueses ensinaram aos índios sua língua, e o modo como deveriam se comportar, o que deveriam temer, em quem deveriam acreditar e as leis que deveriam respeitar. Assim, a dominação política de Portugal foi realizada pela ocupação do território brasileiro. Os portugueses faziam incursões em terras indígenas, instalando capitanias e outras formas e ocupação comuns na época às regiões invadidas. 2 Para conseguir a mão-de-obra necessária para a colonização do Brasil e a instalação dos portugueses no país, os colonizadores recorreram ao processo de escravidão, destituindo as populações indígenas de todos os seus direitos e submetendo-os ao trabalho escravo. Entretanto, a resistência do índio ao processo de escravidão deu origem a sua massiva exterminação e, consequentemente, a busca dos africanos para se tornarem escravos no Brasil. A data da deportação dos primeiros africanos para o Brasil não é exata, alguns autores indicam a primeira metade do século XVI, outros indicam a segunda metade do referido século. Mas, é certo que os africanos chegaram ao Brasil durante o século XVI, com a produção de açúcar que se constituiu na primeira atividade rentável e a partir da qual teve início a economia brasileira. Tendo em vista os argumentos supracitados, a questão que orienta este estudo é a seguinte: qual a contribuição dos africanos para a formação da cultura brasileira? É certo que o povo africano muito contribuiu para o enriquecimento da cultura brasileira, com sua língua, comidas típicas, religião, dança, música, capoeira, entre muitas outras coisas, que serão apresentadas neste estudo. O presente estudo tem como objetivo abordar a fusão da etnologia Brasil e África, tendo em vista a contribuição dos africanos para a formação da cultura brasileira. O estudo foi baseado em uma revisão de literatura sobre o tema, fundamentada no método exploratório. O método exploratório, como representa o próprio nome, explora as possibilidades e perspectivas de determinada situação. Segundo Yin (2005) a 3 exploração começa com um fundamento lógico e com um direcionamento, mesmo que no final do estudo, as suposições iniciais não sejam confirmadas. Quanto ao tipo de pesquisa, esta se caracteriza como pesquisa qualitativa. A pesquisa qualitativa é um estudo não-estatístico que identifica e analisa profundamente dados não-mensuráveis – sentimentos, sensações, percepções, pensamentos, intenções, comportamentos passados, entendimento de razões, significados e motivações – de um determinado grupo de indivíduos. 1 ÁFRICA: BERÇO DE DIVERSAS CIVILIZAÇÕES Este capítulo tem como objetivo apresentar a imagem do continente africano, como um berço das diversas civilizações. Na maioria das vezes, as imagens que temos da África são distorcidas, não representam a realidade cultural daquele continente. Como observam Munanga e Gomes (2006), até hoje, nas imagens que são veiculadas sobre a África, raramente são mostrados os vestígios de um palácio real, de um império, as imagens dos reis e muito menos as de uma cidade moderna africana construída pelo próprio ex-colonizador. Geralmente, mostram uma África dividida e reduzida, enfocando sempre os aspectos negativos, como atraso, guerras ‘tribais’, selva, fome, calamidades naturais, doenças endêmicas, etc. Mas, é importante destacar que não faltam imagens e registros históricos capazes de mostrar uma África autêntica em sua múltipla realidade, que possam até criar um sentimento de solidariedade com os países africanos (MUNANGA; GOMES, 2006). 4 De acordo com Nascimento (2006, p. 34), A África é considerada o berço da humanidade e da civilização porque podemos verificar que passando por ancestrais pertencentes a várias espécies do gênero Australopithecus e às espécies primitivas do gênero Homo (desde o Homo habilis até o neandertal e seus pares) – que o caminho evolutivo conduz o Homo sapiens ao homem moderno. Nascimento (2006) afirma que, atualmente, é consenso entre cientistas que esse processo evolutivo teve início na África. Este consenso científico sustenta, ainda, que O homem moderno (Homo sapiens) também evoluiu na África e de lá saiu, há mais ou menos 150 mil anos, em uma segunda fase de ondas migratórias através da Eurásia. Isso é comprovado pelas ossadas fósseis, pelos indícios da manufatura de implementos e da arte primitiva encontrada no continente africano. E como se não bastassem às evidências acima, as pesquisas na área genética indicam com nitidez uma origem comum do homem moderno na África (NASCIMENTO, 2006, p. 34). Entre as civilizações mais antigas da história da humanidade, algumas desenvolveram-se no continente africano, como a egípcia, a cuxita, a axumita e a etíope. A história do Egito faraônico talvez seja a mais popular, mas todas essas civilizações sobreviveram a um longo período de história da humanidade, desenvolvendo tecnologias e inúmeras formas de organização de suas sociedades, e produzindo um enorme legado cultural para toda humanidade (MUNANGA; GOMES, 2006). Segundo Munanga e Gomes (2006), no vale do alto Nilo, entre a segunda e sexta catarata, num território que correspondia mais ou menos ao atual país Sudão, se desenvolveu o império de Kush ou a civilização cuxita. Contemporâneo do Egito, do qual era vizinho e potente concorrente político, o reino de Kush foi conquistado pelo faraó egípcio Tutmosis I por volta de 1530 a.C. Por sua vez, o rei do império de Kush invadiu o Egito por volta de 725 a.C 5 e o anexou ao seu império, formando a XXV dinastia egípcia, da qual tornou-se faraó, o faraó etíope. As mútuas influências entre as duas civilizações negras se observam notadamente na construção das pirâmides e no cuidado que ambas tinham com o culto dos mortos. Uma das características da civilização cuxita é o reinado feminino que contou com diversas linhagens das rainhas-mães, as ‘Candaces’ (MUNANGA; GOMES, 2006). A civilização axumita, posterior às civilizações egípcia e cuxita, se desenvolveu no princípio do século II da era cristã, no território que corresponde mais ou menos à Etiópia atualmente. Uma das características dessa civilização foi o cristianismo, que foi introduzido a partir de Alexandria, durante a ocupação romana do Egito, no império bizantino. É por este motivo que a Etiópia é considerada o país cristão mais antigo da África subsaariana, sem que houvesse contato com a colonização. Além do mais, salvo uma curta ocupação da Itália entre 1935 e 1945, a Etiópia nunca foi verdadeiramente colonizada (MUNANGA; GOMES, 2006). Durante muito tempo, pensava-se que o Egito tivesse sido povoado a partir da Ásia, até então considerada o berço da humanidade. Consequentemente, a civilização egípcia teria origem fora da África. Mas a aceitação geral de que a origem do Homem é africana transformou a visão sobre o povoamento do Egito e sobre a origem dessa civilização. Portanto, se o povoamento do Egito deu-se a partir dos africanos que habitavam o continente, não resta dúvida de que foram eles os primeiros a construir essa civilização (MUNANGA; GOMES, 2006). 6 Devem ser citados também (MUNANGA; GOMES, 2006): a) O império de Mali, segundo do Sudão Ocidental depois de Gana, formou-se a partir de uma província mandinga ao norte de Fouta Djalon. A sua capital, Niani, situava-se na fronteira entre o atual Mali e Guiné. b) O império de Songai. Por volta do século VIII, existiu, no topo da curva do rio Níger, o mais longo da África ocidental, o pequeno reino de Kukia, fundado por uma população de camponeses, caçadores e pescadores. Gao, sua capital no século IX, ficava na encruzilhada das grandes rotas de caravana do Saara. c) Império de Kanem-Bornu. Segundo os escritores árabes, o império de Kanem-Bornu desenvolveu-se a partir do nascimento de um reino que teria existido entre os séculos VIII e IX, a nordeste do lago nas dunas de Kanem. De acordo com a lenda, a dinastia veio do Tibesti, país dos Tubu, onde os seus reis foram durante muito tempo buscar as suas rainhas e onde encontravam também os guias indispensáveis para seus empreendimentos no Saara. d) A civilização Ioruba. Esta civilização desenvolveu-se a partir do século XI, no sudoeste da atual Nigéria. Era uma civilização caracterizada por dezenas de cidades, das quais muitas ultrapassavam os 20 mil habitantes. Constituíam grandes centros e artesanato com oleiros, tecelões, marceneiros, ferreiros etc. Paralelamente às atividades artísticas, artesanais 7 e comerciais praticavam-se atividades agrícolas baseadas no plantio do inhame, da palmeira e outros produtos alimentares. e) Reino de Abomé. Situado na atual República de Benin, o reino de Abomé foi fundado no início do século XVII, por Do Aklim. Até o fim do século XVII, era apenas um pequeno Estado que controlava somente uma centena de quilômetros quadrados em torno de Abomé, capital do Reino. Mas a partir do início do século XVII, os diversos sucessores do trono ampliaram as conquistas. Obtiveram acesso direto ao mar, apropriando-se do importante centro do tráfico negreiro de Ouidah, em 1747. O que deu a Abomé as condições para se tornar um dos principais centros negreiros da costa ocidental africana. f) Reino de Achanti. O reino de Achanti, que se situaria na atual República de Gana, nasceu e se desenvolveu na região que orla o Golfo da Guiné, chamada Costa do Ouro pelos europeus. Foi o primeiro ponto do dito Golfo descoberto pelos portugueses. Ali se estabeleceram para iniciar o tráfico negreiro que levou à escravização de milhares de homens e mulheres africanos. Nesse ponto, os portugueses fundaram, em 1481, o famoso forte de São Jorge de Minas. Seguindo os mesmos passos dos portugueses, mercadores franceses, holandeses, suecos, dinamarqueses, ingleses e alemães freqüentaram também a costa que, em pouco tempo, ficou marcada pela construção de 35 fortes de várias nacionalidades ocidentais. 8 Na África Central e Austral, destaca-se o Reino do Congo, que remonta ao fim do século XIV e ocupou um território que se estendia do rio Kwilu-Nyari (ao norte do porto de Loango) até o rio Loje (ao norte de Angola), do Atlântico ao rio Kwango, cobrindo o Baixo Congo (na atual República Democrática do Congo), o enclave de Cabinda, uma parte de Angola e do Congo-Brazaville. Isto significa que quando o descobridor português Diogo Cão lançou a âncora no rio Congo, em 1842, o reino do Kongo, uma das civilizações mais prestigiosas da África Central, já tinha quase meio século de existência (MUNANGA; GOMES, 2006). O Estado Zulu localizava-se na região sudeste da África, entre as montanhas de Drakensberg e o Oceano Índico e cobria cerca de 200.000 Km2. Foi fundado por Chaca do grupo nguni que, no fim do século XVIII, tinha uma organização política relativamente pouco elaborada. Nascido entre 1783 e 1786, Chaca tomou o poder depois da morte do pai, em 1816, após ter vencido o conflito dinástico entre os possíveis herdeiros (MUNANGA; GOMES, 2006). Devido à falta de conhecimento da riqueza do patrimônio cultural da África e de seu reconhecimento como berço da humanidade, durante muitos anos no Brasil, acreditou-se que o africano escravizado sofreu de maneira passiva todos os maus-tratos praticados pelos senhores. Essa crença interferiu e interfere, ainda hoje, no imaginário construído na sociedade brasileira a respeito dos antepassados africanos e de seus descendentes na atualidade. É importante conhecer a origem deste tipo de crença e como ela interfere na visão social sobre as pessoas negras e no modo como se relacionam. Além de influir na vida social de um modo geral, essa visão também tem efeitos na construção da auto-estima e da identidade tanto das 9 pessoas negras como das brancas. Na verdade, a crença da passividade do africano escravizado no Brasil, na indolência e conformismo diante da escravidão trata-se de um equívoco histórico (MUNANGA; GOMES, 2006). Alguns fatores contribuíram e ainda contribuem para que tal equívoco persista. Dentre vários, destacam-se (MUNANGA; GOMES, 2006): a) A existência do racismo na sociedade brasileira, produzindo e disseminando uma visão negativa sobre o negro. b) O desconhecimento de uma grande parte da sociedade brasileira, inclusive dos intelectuais, sobre os processos de luta e organização dos africanos escravizados e dos seus descendentes durante o regime escravista. Há também uma falta de conhecimento sobre as ações do movimento negro na atualidade. c) A falta de divulgação de pesquisas e livros que recontam a história do negro brasileiro, destacando-o como sujeito ativo e não como vítima da escravidão e do passado escravista. d) A crença de que no Brasil não há racismo e de que os diferentes grupos étnico-raciais existentes, nos quais está incluído o segmento negro, viveram uma situação mais branda de exploração e escravidão quando comparados com a realidade de outros países. Existem outros fatores que poderiam ser considerados, destacamos apenas os que consideramos principais para o estudo e a compreensão da presença africana no Brasil. 10 Como observam Munanga e Gomes (2006), se passarmos em revista a história do negro no Brasil, descobriremos que esta não significou passividade e apatia, mas, sim, luta e organização. Para compreendermos as estratégias e as formas de luta que foram criadas, é preciso considerar o momento histórico em que o africano escravizado vivia e o que significava ser negro e escravo no Brasil colônia. Nesse sentido, quando pensamos a situação dos escravizados e dos libertos, também temos que considerar o tipo de sociedade existente naquele momento e as possibilidades desses sujeitos diante de um contexto que não previa nenhum tipo de integração e inserção social tanto dos escravizados como dos libertos na sociedade dos homens livres. Segundo Munanga e Gomes (2006), essas formas de organização negra revelaram que os africanos escravizados no Brasil e seus descendentes eram homens e mulheres, crianças, jovens, adultos e velhos, integrantes de diferentes etnias, produtores de cultura. Por mais humilhante e opressor que tenha sido o regime da escravidão, ele não conseguiu roubar a humanidade dessas pessoas. Sendo assim, temos que deixar de ver o negro que viveu sob o regime da escravidão como ‘naturalmente escravo’. O fato é que a população negra nunca aceitou passivamente tal situação. Na luta pela construção da cidadania muito sangue foi derramado. Quatro destas histórias de resistência e luta são descritas a seguir (MUNANGA; GOMES, 2006): a) A Revolta da Chibata, movimento liderado por um negro, que se opôs ao modo como eram tratados os marujos da marinha brasileira, no início do século XX. 11 b) A Frente Negra Brasileira, uma forma de organização política que surge a partir da ação de militantes negros paulistas pósabolição, com intenções de se tornar uma articulação nacional. c) O Teatro Experimental do Negro – TEN – cujo projeto pedagógico destacava a educação como forma de garantir a cidadania para o povo negro e que tinha a arte e o teatro como instrumentos de expressão cultural e política. d) O Movimento das Mulheres Negras que destaca a articulação entre raça e gênero dentro das relações étnicos/raciais na sociedade brasileira de um modo geral e dentro dos movimentos sociais em espécies. De fato, o que aconteceu ao negro africano foi imposto pelo regime da escravidão que o obrigou a viver durante séculos sob a condição de escravo. E isso faz toda a diferença. Portanto, o negro africano é parte integrante da cultura brasileira, sendo fundamental o conhecimento de sua história para que se possa resgatar o conhecimento da verdadeira história do Brasil. O capítulo a seguir apresenta as considerações sobre a fusão da etnologia Brasil/África. 2 A FUSÃO DA ETNOLOGIA BRASIL/ÁFRICA Este capítulo tem como objetivo apresentar o contexto da fusão Brasil e África, tendo como foco a chegada dos africanos ao Brasil e suas contribuições para a formação da cultura brasileira; o Movimento Negro no Brasil e a 12 valorização e reconhecimento da cultura africana no Brasil; e, a educação dos negros no Brasil e a importância do ensino da História da África nas escolas brasileiras. 2.1 A CHEGADA DOS AFRICANOS AO BRASIL E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA A FORMAÇÃO DA CULTURA BRASILEIRA Os africanos chegaram ao Brasil durante o século XVI, por meio do tráfico negreiro. O tráfico negreiro é considerado, por sua amplitude e duração, como uma das maiores tragédias da história da humanidade (MUNANGA; GOMES, 2006). Segundo Munanga e Gomes (2006), todos os africanos trazidos para o Brasil, o foram por intermédio do trafico negreiro, na rota transatlântica, envolvendo povos de três regiões geográficas: a) África Ocidental, de onde foram trazidos homens e mulheres dos atuais Senegal, Mali, Níger, Nigéria, Gana Togo, Benin, Costa do Marfim, Guiné Bissau, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Guiné, Camarões. b) África Centro-Ocidental, envolvendo povos do Gabão, Angola, República do Congo, República Democrática do Congo (antigo Zaire), República Centro-Africana. c) África Austral, envolvendo povos de Moçambique, da África do Sul e da Namíbia. Sobre a contribuição dos africanos para o Brasil, pode-se dizer que, no plano econômico, os africanos contribuíram com a força de trabalho, 13 fornecendo mão-de-obra necessária às lavouras de cana-de-açúcar, algodão, café e à mineração. Devido ao trabalho gratuito originado da escravidão negra, foram produzidas as riquezas que ajudaram na construção do Brasil colonial e na construção da base econômica do país (MUNANGA; GOMES, 2006). No plano demográfico, os africanos contribuíram para o povoamento do Brasil: A título de exemplo, a evolução demográfica, segundo alguns autores, mostra que, até 1830, os negros constituíam 63% da população total, os brancos 16% e os mestiços 21%. A partir de 1850, data da abolição do tráfico negreiro, acompanhada pela extinção da escravidão em 1888, a população negra começou a decrescer sensivelmente por causa das más condições de vida em que se encontrava e da mestiçagem com brancos e índios (MUNANGA; GOMES, 2006, p. 20). No plano cultural, os negros contribuíram com o seu idioma, a religiosidade, a arte visual, a dança, a música, a arquitetura, entre outros. No que se refere ao idioma, os africanos introduziram um vocabulário desconhecido no português original e que faz parte da língua portuguesa no Brasil, atualmente. Em relação à religiosidade, os africanos legaram ao Brasil algumas de suas religiões populares, como o Candomblé e a Umbanda que fazem parte do patrimônio religioso brasileiro. Segundo Munanga e Gomes (2006, p.140), Compreender a tradição religiosa afro-brasileira, recontar a história do povo negro na África pré-colonial, pós-colonial e, em nosso caso específico, durante e após o regime escravista brasileiro significa compreender um passado que para muitos de nós é desconhecido. Este passado e o modo como foi construído interfere e interferirá em nossas crenças e nas formas de inserção e vivência do mundo atual, seja enquanto negros, brancos e indígenas brasileiros. Como arte dos negros africanos, temos as figas de madeira, os objetos de ferro, os instrumentos musicais como tambor, cuíca, berimbau, entre outros. 14 A música e a dança foram influenciadas pelo congado, jongo, maculelê, maracatu, bumba-meu-boi, destacando-se o samba, um dos gêneros musicais mais populares, que se constituiu numa identidade cultural brasileira. A capoeira também é uma contribuição dos negros à cultura brasileira. De acordo com Areias (1983, p. 8), A capoeira é música, poesia, brincadeira, diversão e, acima de tudo, uma forma de luta, manifestação e expressão do povo, do oprimido e do homem em geral, em busca da sobrevivência, liberdade e dignidade. Areias (1983) afirma que a história da capoeira passou por quatro fases importantes: a) A do início da escravidão, quando o escravizado, usando apenas o instinto de sobrevivência, tentava usar o seu corpo para livrar-se do sofrimento e fugir. b) A da áurea dos quilombos, na qual a capoeira já era uma das armas necessárias aos quilombolas para a defesa. c) A da proibição oficial da capoeira após a Abolição. d) Por fim, a fase da sua liberação, no ano de 1932. É importante relatar que os escravos não possuíam armas suficientes para se defenderem e descobriram formas de enfrentar as armas inimigas e o julgo da escravidão. A capoeira é uma delas. Sobre a importância em se conhecer a cultura africana para o contexto da educação, Gomes (2003, p. 77): Cabe ao educador e à educadora compreender como os diferentes povos, ao longo da história, classificaram a si mesmos e aos outros, como certas classificações foram hierarquizadas no contexto do racismo e como este fenômeno interfere na construção da auto-estima e impede a construção de uma escola democrática. É também tarefa do educador e da educadora entender o conjunto de representações sobre o negro existente na sociedade e na escola, e enfatizar as representações positivas 15 construídas politicamente pelos movimentos negros e pela comunidade negra. (...) Mas isso requer um posicionamento. Implica a construção de práticas pedagógicas de combate à discriminação racial, um rompimento com a “naturalização” das diferenças étnico/raciais, pois esta sempre desliza para o racismo biológico e acaba por reforçar o mito da democracia racial. Uma alternativa para a construção de práticas pedagógicas que se posicionem contra a discriminação racial é a compreensão, a divulgação e o trabalho educativo que destaca a radicalidade da cultura negra. Essa é uma tarefa tanto dos cursos de formação de professores quanto dos profissionais e pesquisadores/as que já estão na prática. Tendo em vista a importância do conhecimento da contribuição cultural dos africanos para o Brasil, a seguir abordamos a etnia brasileira e o Movimento Negro no Brasil. 2.2 ETNIA E MOVIMENTO NEGRO NO BRASIL A formação do povo brasileiro foi baseada nas seguintes etnias: branco, negro e índio. Todas estas etnias trouxeram significativas contribuições para a formação da cultura brasileira. Os africanos chegaram ao Brasil no início do período colonial, trazidos por navios de tráfico de escravos negros vindos da África. Os africanos trouxeram para o Brasil muitas de suas tradições culturais, que influenciaram significativamente a cultura brasileira, como: comidas típicas, religiões (candomblé), roda de samba, capoeira, batucada, entre outros. Em síntese, as importantes contribuições dos africanos para a formação do povo brasileiro e seus costumes estão presentes na rotina diária de todos os cidadãos brasileiros. Muitos desses costumes estão tão enraizados na cultura brasileira que, atualmente, algumas pessoas desconhecem a sua origem, como é o caso de muitas comidas, danças, músicas, entre outros. 16 Com vistas a imprimir definitivamente a contribuição dos africanos para a formação do povo brasileiro, a partir de 1980, o Movimento Negro, no Brasil passou a se orientar pela racialização das relações sociais no Brasil. Deste modo, passou a reivindicar uma identidade que contornasse a lógica mestiça do ideário nacional. O que se pretendia era a tomada de consciência racial dos negros brasileiros e de sua origem africana (SILVA, 2007). Após a década de 1980, o Movimento Negro tomou, como relata Guimarães (2002, p. 17), “um rumo cada vez mais ‘racialista’ e ‘africanista’ buscando redefinir como ‘negras’, ‘étnicas’, as práticas culturais que antes eram pensadas como ‘afro-brasileiras’, misturadas e mestiças”. Tais características originaram à ‘consciência negra’, movimento que vigora no Brasil até os dias atuais. Deste modo, os negros passaram a buscar suas raízes e a estudar e compreender sua história. Assim, os termos raça e etnia passaram a fazer parte do vocabulário educacional. Segundo Munanga e Gomes (2006, p. 176), Devido à forma como o conceito raça é utilizado e funciona em nossa sociedade é que militantes do Movimento Negro e alguns outros intelectuais ainda o utilizam para dizer sobre a realidade do negro brasileiro. Esses profissionais entendem a importância do uso de outros termos para falar do pertencimento racial do brasileiro como, por exemplo, o termo ‘etnia’, mas ‘raça’ por ‘etnia’ não resolve, no caso dos negros brasileiros, substituir o termo altera totalmente a compreensão do que é o racismo em nosso país. Para Munanga e Gomes (2006), é preciso, portanto, conhecer em que situação, por que, para que e por quem está sendo utilizado o conceito raça, para distinguir seu significado. É preciso distinguir se a conotação empregada lhe atribui um caráter negativo e racista, ou se está sendo atribuído um caráter 17 positivo para a compreensão da história e o reconhecimento da presença do negro na sociedade brasileira, como um cidadão que contribuiu e contribui para o enriquecimento e formação da cultura brasileira. Alguns educadores e intelectuais rejeitam o uso do conceito raça e preferem usar o termo ‘etnia’ para se referir ao segmento negro da população brasileira. Estes, acreditam que o conceito etnia é mais adequado não carrega o sentido biológico, atribuído à raça, o que colabora para superação da idéia de que a humanidade se divide em raças superiores e inferiores. Deste modo, ‘etnia’ é o outro termo ou conceito usado para se referir ao pertencimento ancestral e étnico-racial dos negros e outros grupos na sociedade brasileira (MUNANGA; GOMES, 2006). O termo etnia é usado, principalmente, por alguns intelectuais, comum ao campo acadêmico. Os que partilham dessa visão, entendem por etnia: Um grupo possuidor de algum grau de coerência e solidariedade, composto por pessoas conscientes, pelo menos em forma latente, de terem origens e interesses comuns. Um grupo étnico não é mero agrupamento de pessoas ou de um setor da população, mas uma agregação consciente de pessoas unidas ou proximamente relacionadas por experiências compartilhadas (CASHMORE, 2000, p. 196). Segundo Hasenbalg e Silva (1990, p. 88), Embora uma melhor situação socioeconômica reduza a proporção de crianças que não têm acesso à escola, independentemente de sua cor, ainda persiste uma diferença clara nos níveis gerais de acesso entre crianças brancas e não-brancas, mesmo nos níveis mais elevados de renda familiar per capita. Nesse sentido, Henriques (2002) também afirma que a evolução e expansão do ensino no Brasil, não reduziram as desigualdades entre brancos e negros: A escolaridade de brancos e negros nos expõe, com nitidez, a inércia do padrão de discriminação racial. (...) apesar da melhoria dos níveis médios de escolaridade de brancos e negros ao longo 18 do século, o padrão de discriminação, isto é, a diferença de escolaridade dos brancos em relação aos negros se mantém estável entre as gerações. No universo dos adultos observamos que filhos, pais e avós de raça negra vivenciaram, em relação aos seus contemporâneos de raça branca, o mesmo diferencial educacional ao longo de todo o século XX (HENRIQUES, 2002, p. 93). É importante compreender, portanto, que as diferenças são construções sociais, culturais e políticas, que refletem toda a história de um povo. Nesse sentido, é necessário que sejam implementadas ações afirmativas (promoção ativa da igualdade de oportunidades para todos), que podem ser estabelecidas na educação, na saúde, no mercado de trabalho, nos cargos políticos, enfim, nos setores onde a discriminação a ser superada se faz mais evidente e onde é constatado um quadro de desigualdade e de exclusão (MUNANGA; GOMES, 2006). Segundo Munanga e Gomes (2006, p. 187), O objetivo da ação afirmativa é superar as desvantagens e desigualdades que atingem os grupos historicamente discriminados na sociedade brasileira e promover a igualdade entre os diferentes. Isso pode ser feito de maneiras diversas, como, por exemplo: bolsas de estudos; cursos de qualificação para membros dos grupos desfavorecidos; reserva de vagas – as chamadas cotas – nas universidades ou em certas áreas do mercado de trabalho que, segundo pesquisas e dados estatísticos, confirmam uma porcentagem mínima ou a total ausência de sujeitos pertencentes a grupos sociais e raciais com histórico de discriminação e exclusão; estímulo à construção de projetos sociais e educacionais voltados para a população que sofre um determinado tipo de exclusão e discriminação; estímulos fiscais a empresas que comprovem políticas internas para a incorporação de negros, mulheres, portadores de necessidades especiais nos cargos de direção e chefia, entre outros. A seguir são descritas algumas iniciativas de ações afirmativas voltadas para a população negra no Brasil: a) A Lei federal 10.639, de 10 de janeiro de 2003, que torna obrigatório o ensino de História da África e da Cultura Afro- 19 Brasileira nos currículos da educação básica dos estabelecimentos públicos e privados brasileiros. b) A Lei estadual 3.708, de 9 de novembro de 2001, que institui cota de 40% para as populações negra e parda no acesso à Universidade do Estado do Rio de Janeiro e à Universidade do Norte Fluminense. c) O Projeto de Lei 4.370, de 1998, do deputado Paulo Paim (PTRS) que estabelece que os negros devem compor pelo menos 25% do total de atores, atrizes e figurantes em filmes e programas veiculados pelas emissoras de TV e cinema. d) A criação de cotas de 20% para negros em empresas contratadas em licitações públicas, no Ministério do Desenvolvimento Agrário. e) A criação de cotas de 20% para negros, 20% para mulheres e 5% para portadores de necessidades especiais em cargos de confiança no Ministério da Justiça, em empresas terceirizadas e em entidades conveniadas, no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. f) O programa internacional de bolsas de pós-graduação da Fundação Ford/Fundação Carlos Chagas – São Paulo. g) O programa Políticas da Cor na Sociedade Brasileira, do Laboratório de Políticas Públicas da UERJ, com apoio da Fundação Ford. 20 h) O programa Diversidade na Universidade, promovido pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade – Ministério da Educação – Brasília. i) O concurso de dotações para pesquisa Negro e Educação – promovido pela Anped (Associação Nacional de Pós- Graduação e Pesquisa em Educação), pela ONG Ação Educativa-SP, com apoio da Fundação Ford. j) A Primeira Mostra de Literatura Afro-Brasileira, promovida pela Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte. k) Prêmio Nacional Educar para a Igualdade Racial – experiências de promoção da igualdade racial/étnica no ambiente escolar, promovido pela ONG Ceert (Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades-SP). As ações afirmativas constituem-se em políticas de combate ao racismo e à discriminação racial mediante a promoção ativa da igualdade de oportunidades para todos, criando meios para que as pessoas pertencentes a grupos socialmente discriminados possam competir em mesmas condições na sociedade (MUNANGA; GOMES, 2006). As políticas de ações afirmativas, nas suas diversas modalidades, já foram implementadas em outros países e não só nos Estados Unidos ou no Brasil, como algumas pessoas pensam. Nos diversos lugares onde foram implementadas elas tiveram muito bons resultados (MUNANGA; GOMES, 2006). 21 2.3 A EDUCAÇÃO DOS NEGROS NO BRASIL 2.3.1 Educação intercultural No mundo globalizado a educação constitui um ‘valor’, calcado numa ética da responsabilidade, tencionado pela efemeridade e pela velocidade dos processos sociais, culturais, políticos e econômicos. Dos quais os negros exerceram forte influência. Como observa Silva (2007, p. 83), Pensar a educação no mundo contemporâneo, significa, ainda, estar disposto a enfrentar a rasura dos binarismos e dualismos modernos: universal x particular, centro x periferia, dentro x fora, tradição x modernidade, comunidade x cosmopolitismo, ou ainda global x local. E mais, significa estar disposto a pensar sobre a construção de saberes que possam articular, de forma criativa, as demandas diaspóricas que embaralham as identidades, até então asseguradas pelo teto político do Estado-nação, as diversas temporalidades que circulam incessantemente no mundo da cultura e, sobretudo, pensar uma educação para a alteridade, para a descentração do sujeito cartesiano, uma educação para além da noção de identidade cultural, como até então era entendida e vivenciada com suas matrizes essencialistas e naturalizantes. Numa palavra, pensar a condição humana no universo de alteridade, que possibilite articular a diferença e a distribuição de direitos para além das fronteiras fixas e sufocantes das culturas locais e para além do universalismo homogeneizador. Nesse sentido, Bauman (2003, p. 83), afirma que “da perspectiva da ‘Nação Estado’ culturalmente unificada e homogênea, as diferenças de língua ou costume encontradas no território da jurisdição do Estado não passavam de relíquias quase extintas do passado”. A educação cumpre um papel relevante nessa construção. Como observa Montiel (2003, p. 18), a cultura nesse processo tornou-se o “cimento constitutivo, que tendeu a homogeneizar os traços de cada população, 22 constituindo, assim, um recurso fundamental do Estado para lograr a coesão da Nação”. Bauman (2003) também observa que a educação cumpriu papel decisivo nessa construção. Foi ela quem promoveu a expansão e a disseminação do discurso da nação, produzindo a “mobilização ideológica – a produção de lealdade e obediência patrióticas” (p. 83). Portanto, pode-se afirmar que a identidade nacional se estrutura sob a égide de um espaço-tempo organizado, ordenado, simbolizado e significado, cuja percepção de pertencimento se dissemina a partir de uma genealogia estrutural, como memória primeira, organizada pela história e pelos mitos. Não é sem sentido que a nação é vivida a partir de um construto imaginário sempre reforçado e assegurado pelos símbolos nacionais (SILVA, 2007). No Brasil, os negros representam uma forte simbologia na construção da identidade nacional, pois contribuíram com a sua língua, sua religião, seus costumes, suas danças, suas músicas, entre outros. Caracterizando, portanto, o multiculturalismo no Brasil. Mas, é importante relevar que a cultura não é algo fixo, fechado, substancializado. Para Gadotti (1992, p. 2), no que se refere ao multiculturalismo, Ele pode também estimular, contraditoriamente, o desprezo pelo diferente, o racismo, o autocentrismo. Exemplos de violência racial são muito frequentes. Isso significa que o multiculturalismo também pode ser divisionista, criar guetos, ou pode ser utilizado como um mecanismo de cooptação que procura integrar num único princípio unificador as diferenças culturais. Nesse sentido, Silva (2007) relata que a irredutibilidade da cultura impõe que se entenda a diferença como absoluta e, nesses termos, o relativismo radical pode impedir o reconhecimento das intertextualidades interculturais. 23 Assim, as identidades culturais devem ser pensadas em sua historicidade e, portanto, no jogo do tempo e das relações de poder, para além das abordagens essencialistas. Igualdade e diferença marcam o jogo político das relações sociais nas sociedades multiculturais. De acordo com Gonçalves e Silva (1998), existem diferenças de perspectivas, conceituação e aplicabilidade do multiculturalismo, conforme o contexto em que foram gerados. Segundo os referidos autores, Buscar compreender o multiculturalismo e suas repercussões na educação implica em destrinchar referências ideológicas, elucidar encaminhamentos teóricos, descobrir práticas culturais, resignificar práticas pedagógicas, posicionar-se politicamente e situar-se socialmente (GONÇALVES; SILVA, 1998, p. 71). Sobre a educação dos negros no Brasil, em tempos passados, com a necessidade de se libertar da escravidão e usufruir a cidadania livre, os negros africanos buscaram o saber escolar, conforme as exigências oficiais. É certo que isto não ocorreu de forma massiva, nem mesmo os negros conseguiam atingir um grau de instrução elevado. Entretanto, os negros podiam alcançar níveis mais elevados de instrução por meio de escolas próprias; por instrução de pessoas escolarizadas; na rede pública de ensino; ou ainda, em asilos de órfãos ou escolas particulares. Segundo Gonçalves e Silva (2000, p. 136-137), O defensor da idéia de uma educação que preparasse os cativos para a liberdade foi o não menos célebre historiador e jurisconsulto Perdigão Malheiros. (...) nos chama a atenção para uma passagem muito importante da obra Escravidão no Brasil, na qual Perdigão Malheiros preconiza o tipo de educação que, segundo ele, prepararia os escravos para a liberdade. Na essência, deveria ser uma “educação moral e religiosa”, sem se descuidar, é claro, de “uma educação profissional”, que garantisse aos libertos um ofício do qual pudessem “manter a si e a família, caso a tivessem” (Perdigão Malheiros, 1837). Mas, afinal de contas, quem se ocuparia da educação dessas crianças? A resposta a esta questão apareceu inicialmente em um projeto de lei, em 1870, segundo o qual ficavam os senhores de escravos obrigados a criar e a tratar as crianças nascidas de mães escravas, devendo oferecer-lhes, sempre que possível, instrução 24 elementar. Em contrapartida, os libertos permaneciam em poder e sob a autoridade dos proprietários de suas mães. Embora o referido projeto de lei conservasse o direito de propriedade dos senhores de escravos, ele produziu muita animosidade, pois feria frontalmente seus princípios morais, uma vez que a educação concedida aos escravos poderia representar uma mudança efetiva na condição dos sujeitos emancipados do cativeiro. Devido às ações de Perdigão Malheiros, O registro de matrículas de crianças beneficiadas pela Lei do Ventre Livre, entre 1871 e 1885, apresentado no relatório do Ministério da Agricultura de 1885, revela que, na capital e nas 19 províncias, o contingente de matriculados chegava a 403.827 crianças de ambos os sexos. Destes, apenas 113 foram entregues ao Estado mediante indenização no mesmo período (GONÇALVES; SILVA, 2000, p. 137). Em síntese conclusiva, Gonçalves e Silva (2000, p. 137) afirmam: Quando nos interrogamos acerca do abandono a que foi relegada a população negra brasileira no que se refere à educação escolar, não podemos deixar de considerar os dados supracitados. Por parte do Estado, houve, na segunda metade do século XIX, uma iniciativa concreta que, se correspondida à altura, poderia ter mudado a condição educacional na qual os negros ingressaram no século XX. Nesse sentido, Cruz (2005, p. 30) afirma que “a trajetória social e histórica do negro brasileiro não deixa dúvidas sobre a existência peculiar de uma história de escolarização”. Tal escolarização não foi registrada oficialmente. E, embora a característica principal da educação no Brasil ter sido o continuísmo de uma reprodução do tratamento desigual (o que não ocorria apenas com os negros, mas com a camada menos favorecida da sociedade, onde os filhos os filhos dos senhores se tornavam doutores; e os filhos dos trabalhadores eram treinados para ser trabalhadores), não se pode negar que existe um histórico de educação e escolarização das camadas afro-brasileiras. De acordo com Cunha Jr. (1999, p. 33), 25 Em São Carlos (SP), articula-se que por volta de 1978, o primeiro grupo de negros preocupados em utilizar o espaço acadêmico para desenvolver estudos contemplando a temática Negro e Educação. O referido grupo, apesar das críticas recebidas, não se intimidou, e procurou participar dos espaços de debate sobre os problemas educacionais do Brasil a partir da visão dos negros. Nessa época surgiu o primeiro artigo sobre negro e educação, em 1979, na revista de educação da Fundação Carlos Chagas. Essa tendência tem se ampliado principalmente nos últimos anos, quando podemos computar, até o final da década de 1990, mais de 40 trabalhos acadêmicos em nível de mestrado e doutorado, realizados por afro-descendentes e voltados para a temática Negro e Educação. O número de trabalhos sobre Negro e Educação, como afirma Cunha Jr. (1999) tem aumentado nos últimos anos. Segundo Cruz (2005), alguns estudos relatam a presença de crianças negras, mesmo quando políticas públicas não os contemplavam, o que mostra a busca do negro pela instrução formal e a criação de escolas pelos próprios negros. No que se refere às escolas públicas, a partir da segunda metade do século XIX existe maior evidência da participação dos negros no processo de escolarização. Nesse sentido, Pereira (2005, p. 43-44) cita um caso exemplar: O surgimento dos cursos pré-vestibulares para negros e carentes. Tanto pela sua demanda de igualdade de oportunidades no acesso ao ensino superior e a intensa mobilização junto ao seu público-alvo, quanto graças à repercussão das suas propostas e práticas pedagógicas diferenciadas no âmbito do magistério, das autoridades educacionais e junto às comunidades onde se instalam – os professores são voluntários (sem remuneração); os alunos partilham a coordenação e planejamento das atividades; a utilização de escolas em áreas e tempos ociosos, e/ou de espaços alternativos no seio da própria comunidade; a introdução da disciplina Cultura e Cidadania (a designação varia de um local para outro), em que se discute as razões daquele tipo de iniciativa, o seu papel na sociedade, as suas relações com questões políticas, econômicas, culturais, sociais... São milhares, hoje, os Cursos Pré-Vestibulares criados de variadas formas com esse princípio de solidariedade. Alguns não vinculam explicitamente a questão racial – preferem os termos populares, comunitários, e outros – mas, de qualquer maneira, atendem à clientela majoritariamente de pele mais escura. Envolvem atualmente milhares de jovens, principalmente no Sul-Sudeste, mas rapidamente se espalham por outras regiões brasileiras, num contexto que torna obrigatório refletir sobre democracia, autonomia, identidade. 26 Em síntese, pode-se afirmar que as comunidades tornaram-se o último reduto das identidades culturais reavivadas sob um novo teto político que não mais o do Estado-nação em si, mas a região, o local, entendidos como espaços de existência concreta e segura frente à sociedade de risco que caracteriza o mundo global. Não é sem sentido que as identidades culturais e étnicas estão associadas às comunidades (SILVA, 2007). Como relata Silva (2007), o reavivamento das etnicidades, neste processo, é evidente, pois as comunidades enquanto espaço possível de pertencimento identitário procuram narrar sua existência a partir de genealogias comuns que objetivam tomar os muitos como um, ou seja, garantir as relações de confiabilidade e segurança que permitam as relações de sociabilidade num nível mínimo de confiabilidade e segurança. É nesse sentido que as relações de alteridade tornam-se problemáticas pois as diferenças tornam-se rasuras e nódoas que borram as comunidades. O que se busca para o fim da desigualdade no âmbito escolar, portanto, não é o multiculturalismo, mas sim, a educação intercultural. De acordo com Canen (2000, p. 3), “a educação intercultural visa superar as visões exóticas e folclóricas da diversidade cultural, que a reduzem a aspectos tais como rituais, receitas e costumes de povos diversos”. Como afirma Silva (2004, p. 171), A interculturalidade é concebida como as inter-relações entre distintas expressões culturais que dinamicamente colocam em relação de interpenetração cultural os sujeitos pertencentes a grupos humanos diferentes. Mas é de fundamental importância que a intencionalidade dessas inter-relações seja potencializada como forma de colocar os sujeitos em contato entre si, de estabelecer o intercâmbio e propiciar as trocas necessárias, em última instância, uma intencionalidade que é marcada pela atitude de quem deseja dialogar e colocar-se em contato com o outro e com ele aprender. 27 Mas, para que a interculturalidade seja efetiva, a formação docente deve ser repensada, pois, muitas vezes, esta é calcada nos paradigmas monoculturais e etnocêntricos, pouco tem avançado no sentido de superar visões naturalistas da cultura. Um outro problema, é o engessamento curricular, pois a transversalidade de vários temas contemporâneos como a cidadania, racismo, preconceito, ecologia, entre outros, necessita ad flexibilização curricular, bem como do diálogo incessante entre as disciplinas (SILVA, 2007). A formação de docentes deve visar à capacitação dos educadores para articular visões de mundo diversas, articular valores universais com especificidades locais, capazes de pensar e dinamizar pedagogias que objetivam a condição humana, para além das diferenças culturais. É nas desnaturalização dos estereotípicos e conceitos arraigados que a educação intercultural se insinua como projeto social (SILVA, 2007). Deste modo, o foco pedagógico não está em um grupo étnico, mas sim no que estabelece a igualdade na diferença. 2.3.2 Etnicidade e o ensino de história no Brasil A Lei 10.639 de 9 de janeiro de 2003, altera a Lei 9.394/1996, que determina as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”, acrescentando os seguintes artigos: 26-A, 79-A (vetado) e 79B. 28 Conforme determinação do artigo 26-A, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares. O parágrafo primeiro do artigo 26-A estabelece que o conteúdo pragmático a que se refere o artigo em comento, incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil. Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, sobretudo nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras (art. 26-A, §2°). Por fim, o artigo 79-B da lei em comento determina que o calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como “Dia Nacional da Consciência Negra”. Segundo Dias (2005, p. 59), A lei 10.639/2003 teve como função responder às antigas reivindicações do Movimento Negro, mas com novas preocupações – principalmente com a implantação da mesma. Com isso o Governo conseguiu não ser pressionado de imediato pelo movimento social, o que poderia causar constrangimentos para a gestão Lula logo no início. Parece que a estratégia foi acertada, mas não impediu que as pressões internas do PT e externas de setores do Movimento Negro que apoiaram a candidatura Lula continuassem insistindo para a criação de um órgão dentro da estrutura do primeiro escalão para tratar das demandas da população negra, o que desembocou na criação do prometido órgão responsável por promoção e igualdade racial no País. Cria-se na estrutura do governo a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), no dia 21 de março de 2003, data em que se comemora o Dia Internacional Contra a Discriminação Racial. A Lei 10.639/2003 possibilitou a instituição da Resolução n.1, de 17 de junho de 2004, denominada Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação 29 das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura AfroBrasileira e Africana. Posteriormente, o Conselho Nacional da Educação, em 10 de março de 2004, aprovou unânime as ‘Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura AfroBrasileira e Africana’. A Resolução 1/2004, em seu artigo 1°, institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, a serem observadas pelas Instituições de ensino, que atuam nos níveis e modalidades da Educação Brasileira e, em especial, por Instituições que desenvolvem programas de formação inicial e continuada de professores. De acordo com o parágrafo 1° do artigo 1°, da Resolução 1/2004, as instituições de ensino superior devem incluir nos conteúdos de disciplinas e atividades curriculares dos cursos que ministram, a Educação das Relações Étnico-Raciais, bem como o tratamento de questões e temáticas que se referem aos afrodescendentes, conforme determinação do Parecer CNE/CP 3/2004. Para que as medidas determinadas pela Resolução 1/2004 sejam cumpridas por parte das instituições de ensino, o conteúdo será considerado na avaliação das condições de funcionamento do estabelecimento (art. 1°,§2°, Res.1/2004). As Diretrizes devem ser consideradas como orientações, princípios e fundamentos para o planejamento, execução e avaliação da Educação. Deste modo, as Diretrizes têm por objetivo promover a educação de cidadãos 30 atuantes e conscientes, em uma sociedade multicultural e pluriétnica, como a do Brasil, tendo em vista as relações étnico-sociais positivas, rumo à construção de uma nação democrática (art. 2°, Res. 1/2004). Ao promover a educação das relações étnico-raciais, o objetivo principal é a divulgação e a produção de saberes, bem como de atitudes, posturas e valores que eduquem os cidadãos em relação à pluralidade étnico-racial no Brasil. Deste modo, estes cidadãos serão capazes de interagir e de negociar objetivos comuns que garantam, a todos, respeito aos direitos legais e valorização de identidade, na busca da consolidação democrática (art. 2°, §1°, Res. 1/2004). O Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana visa o reconhecimento e valorização da identidade, história e cultura dos afrobrasileiros, bem como a garantia de reconhecimento e igualdade de valorização das raízes africanas da nação brasileira, ao lado das indígenas, européias, asiáticas (art. 2°, §2°, Res. 1/2004). Para que tais conteúdos sejam integrados ao quadro pragmático, os mesmos devem ser desenvolvidos por intermédio de conteúdos, competências, atitudes e valores, a serem determinados pelas instituições de ensino e seus professores, com apoio e supervisão dos sistemas de ensino, entidades mantenedoras e coordenações pedagógicas, atendidas as indicações, recomendações e diretrizes explicitadas no Parecer CNE/CP 3/2004 (art. 3°, Res. 1/2004). As referidas Diretrizes constituem o resultado do fortalecimento do Movimento Negro no Brasil que, no avançar no campo institucional e político brasileiro a partir do Governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, 31 conseguiram fazer valer a tese do preconceito racial, amparados pelos estudos das relações raciais no Brasil (SILVA, 2007). As Diretrizes representam, de fato, um importante ato político que instiga a reflexão sobre a cultura brasileira nos processos educativos, mas é preciso manter uma postura crítica, principalmente no que se refere às categorias e conceitos utilizados no documento. Sobre o ensino de História, a ênfase das diretrizes nesse sentido é apontada por Fernandes (2005), como estratégica: O ensino de história, ao priorizar a construção da identidade nacional, tem sido bastante omisso no tocante à valorização das culturas das minorias étnicas. Constatamos, também, que a falta de conhecimento das peculiaridades e das especificidades regionais, em um país de continentais dimensões, bem como dos elementos referenciais das culturas silenciadas de índios, negros e imigrantes nos currículos escolares têm contribuído para a formação de preconceitos e estereótipos por parte dos próprios brasileiros (FERNANDES, 2005). Nesse sentido, Hall (2003) afirma que a etnização das identidades comunitárias se constitui como uma nova forma de racismo com outro figurino. Mas quanto a etnicidade, adverte o referido autor que ela a etnização gera um discurso em que a diferença se funda sob características culturais e religiosas. Nesses termos, ela frequentemente se contrapõe a ‘raça’. Porém, essa oposição binária pode ser delineada de forma muito simplista. O racismo biológico privilegia marcadores como a cor da pele. Esses significantes tem sido utilizados também, por extensão discursiva, para conotar diferenças sociais e culturais. Assim, tanto o discurso da ‘raça’ quanto o da ‘etnia’ funcionam estabelecendo uma articulação discursiva ou uma ‘cadeia de equivalências’ entre o registro sociocultural e o biológico, fazendo com que as diferenças em um sistema de significados sejam inferidas através de equivalentes em outra cadeia. Portanto, o racismo biológico e a discriminação 32 cultural não constituem dois sistemas distintos, mas dois registros do racismo (HALL, 2003). Portanto, o ensino de história no Brasil deve privilegiar a etnicidade não a etnização. Nesse sentido, Silva (2007, p. 103) afirma que É necessário ampliar e investir em pesquisas que tomem localidades e regiões como objeto de estudo das diversas formas que o diferencialismo assume, sobretudo o comunitarismo defensivo, tendente a aprofundar a naturalização das etnias como condição de pertencimento identitário. A produção do racismo, dos preconceitos e dos diferencialismos, em que pese estarem assentados em categorias universais produzem práticas e efeitos locais, o que faz dos estudos de caso um importante instrumento de análise e diagnóstico, postura relevante para a discussão das possibilidades de uma educação intercultural. Portanto, as diversidades regionais, as culturas imigrantistas e as etnias não podem ser essencializadas, pois isso acarretaria o risco de fundamentar práticas culturais mais próximas do comunitarismo e menos atentas também a princípios universais que não podem ser negligenciados. É de se lembrar que o global e o local são articulados e inseparáveis e a produção de identidade no mundo atual contempla essa articulação (SILVA, 2007). Neste contexto, segundo Flores (2007), o texto das Diretrizes sustenta que a pragmática para o ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana deve partir dos seguintes princípios: a) Consciência política e história da diversidade; b) Fortalecimento de identidades e de direitos; e, c) Ações educativas de combate ao racismo e a discriminações. De acordo com Flores (2007, p. 80), No que concerne à História da África, destaca-se a sugestão para o estudo de temáticas em torno da modernidade, privilegiando-se as grandes teses do Atlântico Negro: a ocupação colonial na perspectiva dos africanos; a descolonização e seus impactos na Europa e na América; as relações entre as culturas e as histórias dos povos dos continente africano e os da diáspora; vida e existência cultural e histórica dos africanos e seus descendentes 33 na América; relações políticas, econômicas, culturais e educacionais entre a África e o Brasil. O texto também encaminha para estudos de caso e pesquisas biográficas sobre o protagonismo de políticos, cientistas, escritores e intelectuais africanos, na perspectiva de superar a representação de uma África sem criação tecnológica, tradição artística e luta social. Sugere-se que as universidades incluam disciplinas em seus cursos, criem grupos de estudo e de pesquisa e que realizem avaliações sistemáticas sobre as experiências em processo. Assim, pode-se afirmar que a Lei 10.639/2003 e as Diretrizes contribuem para o avanço sobre os referenciais curriculares da etnicidade na história que se afirma no tempo presente como diversidade cultural. Não se pode negar a uma nação o conhecimento de sua história. Portanto, se o povo brasileiro é formado por várias etnias é certo que se conheça a história de todas elas, de um ponto de vista democrático, que privilegie a ação dessas etnias no espaço-tempo em que se formou a história do país. No que se refere a etnicidade e o ensino de história, determinados pela Lei 10.639/2003 e pelas Diretrizes (2004), considera-se este um avanço, um novo passo para que se faça justiça ao patrimônio histórico e cultural dos negros, africanos e afro-brasileiros, que vivem em nosso país e tanto contribuíram para a formação de sua história. E cumpre relevar, que a contribuição dos negros, bem como de outras etnias, não foi apenas no papel de submissos e escravos, mas sim, para o enriquecimento da cultura nacional, por intermédio de suas músicas, danças, religiões, comidas típicas, língua, entre tantas outras contribuições. A vinda de escravos africanos para o Brasil foi responsável por uma miscigenação tanto populacional quanto cultural. Como foi visto, os negros buscaram a educação do modo que puderam, entretanto, sempre se depararam com a desigualdade permeada na educação 34 nacional. Mas, não se pode negar a existência de uma escolarização do negro no Brasil. O problema é que a referida educação não foi baseada na igualdade, mas nas desigualdades impostas pela sociedade da época da colônia e do império no Brasil. Tais fatores levaram a uma educação que privilegiava apenas as classes mais favorecidas da sociedade. Posteriormente, esta situação passou a ser revista e começaram a surgir ações em prol da comunidade negra, geralmente, a partir do movimento da cultura africana no Brasil. Em suma, os africanos contribuíram em muitos aspectos para a formação da identidade cultural brasileira. Portanto, no âmbito da educação a interculturalidade deve ser privilegiada, reconhecendo-se a diversidade e as especificidades de cada grupo social, sem gerar conflitos, e sim visando impulsionar as reciprocidades e enriquecimento mútuos. 2.3.3 A importância do ensino afro-brasileiro nas escolas O Parecer CNE/CP 3/2004 visa atender os objetivos indicados na CNE/CP 6/2002, e regulamentar a alteração trazida à Lei 9.394/1996 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, trazidas pela Lei 10.639/2003. O referido Parecer foi elaborado para atender às todos os dispositivos legais supracitados e, também, as propostas do Movimento Negro ao longo do século XX, que apontam para a necessidade de diretrizes que orientem a formulação de projetos empenhados na valorização da história e cultura afrobrasileiros e dos africanos, assim como comprometidos com a educação de 35 relações étnico-raciais positivas, a que tais conteúdos devem conduzir (PARECER CNE/CP 3/2004). Segundo o Parecer CNE/CP 3/2004, existe uma demanda da comunidade afro-brasileira por reconhecimento, valorização e afirmação de direitos no que se refere à educação. Reconhecimento implica justiça e iguais direitos sociais, civis, culturais e econômicos, bem como valorização da diversidade daquilo que distingue os negros dos outros grupos que compõem a população brasileira. E isto requer mudança nos discursos, raciocínios, lógicas, gestos, posturas, modo de tratar as pessoas negras. Requer também que se conheça a sua história e cultura apresentadas, explicadas, buscando-se especificamente desconstruir o mito da democracia racial na sociedade brasileira; mito este que difunde a crença de que, se os negros não atingem os mesmos patamares que os não negros, é por falta de competência ou de interesse, desconsiderando as desigualdades seculares que a estrutura social hierárquica cria com prejuízos para os negros (PARECER CNE/CP 3/2004, p. 3). Tendo em vista tal necessidade de reconhecimento, é preciso compreender o que significa ‘reconhecer’ (PARECER CNE/CP 3/2004, p. 3-4): a) Reconhecimento requer a adoção de políticas educacionais e de estratégias pedagógicas de valorização da diversidade, a fim de superar a desigualdade étnico-racial presente na educação escolar brasileira, nos diferentes níveis de ensino. b) Reconhecer exige que se questionem relações étnico-raciais baseadas em preconceitos que desqualificam os negros e salientam estereótipos depreciativos, palavras e atitudes que, velada ou explicitamente violentas, expressam sentimentos de superioridade em relação aos negros, próprios de uma sociedade hierárquica e desigual. c) Reconhecer é também valorizar, divulgar e respeitar os processos históricos de resistência negra desencadeados 36 pelos africanos descendentes escravizados no Brasil e na contemporaneidade, desde por as seus formas individuais até as coletivas. d) Reconhecer exige a valorização e respeito às pessoas negras, à sua descendência africana, sua cultura e história. Significa buscar, compreender seus valores e lutas, ser sensível ao sofrimento causado por tantas formas de desqualificação: apelidos depreciativos, brincadeiras, piadas de mau gosto sugerindo incapacidade, ridicularizando seus traços físicos, a textura de seus cabelos, fazendo pouco das religiões de raiz africana. Implica criar condições para que os estudantes negros não sejam rejeitados em virtude da cor da sua pele, menosprezados em virtude de seus antepassados terem sido explorados como escravos, não sejam desencorajados de prosseguir estudos, de estudar questões que dizem respeito à comunidade negra. e) Reconhecer exige que os estabelecimentos de ensino, freqüentados em sua maioria por população negra, contem com instalações e equipamentos sólidos, atualizados, com professores competentes no domínio dos conteúdos de ensino, comprometidos com a educação de negros e brancos, no sentido de que venham a relacionar-se com respeito, sendo capazes de corrigir posturas, atitudes e palavras que impliquem desrespeito e discriminação. 37 De acordo com o Parecer CNE/CP 3/2004, para reeducar as relações étnico-raciais no Brasil, é preciso fazer emergir as dores e medos que têm sido gerados. Há de se compreender que o sucesso de uns custa a marginalização e desigualdade imposta a outros. E então decidir que sociedade se quer construir deste ponto em diante. Como disse Frantz (1979, p. 33), Os descendentes dos mercadores de escravos, dos senhores de ontem, não têm, hoje, de assumir culpa pelas desumanidades provocadas por seus antepassados. No entanto, têm eles a responsabilidade moral e política de combater o racismo, as relações raciais e sociais sadias, em que todos cresçam e se realizem enquanto seres humanos e cidadãos. Não fossem por estas razoes, eles a teriam de assumir, pelo fato de usufruírem do muito que o trabalho escravo possibilitou ao país. Neste contexto, o ensino afro-brasileiro impõe aprendizagens entre as diversas etnias presentes no Brasil, a troca de conhecimentos, a construção de uma confiança em uma sociedade mais justa, igual, equânime. Para alcançar os objetivos supracitados, o Parecer CNE/CP 3/2004 tem como premissa três princípios básicos, descritos a seguir. Consciência política e histórica da diversidade (PARECER CNE/CP 3/2004, p.9): a) à igualdade básica de pessoa humana como sujeito de direitos; b) à compreensão de que a sociedade é formada por pessoas que pertencem a grupos étnico-raciais distintos, que possuem cultura e história próprias, igualmente valiosas e que em conjunto constroem, na nação brasileira, sua história; c) ao conhecimento e à valorização da história dos povos africanos e da cultura afro-brasileira na construção histórica e cultural brasileira; 38 d) à superação da indiferença, injustiça e desqualificação com que os negros, os povos indígenas e também as classes populares às quais os negros, no geral, pertencem, são comumente tratados; e) à desconstrução, por meio de questionamentos e análises críticas, objetivando eliminar conceitos, idéias, comportamentos veiculados pela ideologia do branqueamento, pelo mito da democracia racial, que tanto mal fazem a negros e brancos; f) à busca, da parte de pessoas, em particular de professores não familiarizados com a análise das relações étnico-raciais e sociais com o estudo de história e cultura afro-brasileira e africana, de informações e subsídios que lhes permitam formular concepções não baseadas em preconceitos e construir ações respeitosas; g) ao diálogo, via fundamental para entendimento entre diferentes, com a finalidade de negociações, tendo em vista objetivos comuns; visando a uma sociedade justa. Fortalecimento de identidades e de direitos (PARECER CNE/CP 3/2004, p.9): a) o desencadeamento de processo de afirmação de identidades, de historicidade negada ou distorcida; b) o rompimento com imagens negativas forjadas por diferentes meios de comunicação, contra os negros e os povos indígenas; c) os esclarecimentos a respeito de equívocos quanto a uma identidade humana universal; 39 d) o combate à privação e violação de direitos; e) a ampliação do acesso a informações sobre a diversidade da nação brasileira e sobre a recriação das identidades, provocada por relações étnico-raciais; f) as excelentes condições de formação e de instrução que precisam ser oferecidas, nos diferentes níveis e modalidades de ensino, em todos os estabelecimentos, inclusive os localizados nas chamadas periferias urbanas e nas zonas rurais. Ações educativas de combate ao racismo e a discriminações (PARECER CNE/CP 3/2004, p.9-10): a) a conexão dos objetivos, estratégias de ensino e atividades com a experiência de vida dos alunos e professores, valorizando aprendizagens vinculadas às suas relações com pessoas negras, brancas, mestiças, assim como as vinculadas às relações entre negros, indígenas e brancos no conjunto da sociedade; b) a crítica pelos coordenadores pedagógicos, orientadores educacionais, professores, das representações dos negros e de outras minorias nos textos, materiais didáticos, bem como providências para corrigi-las; c) condições para professores e alunos pensarem, decidirem, agirem, assumindo responsabilidade por relações étnico-raciais positivas, enfrentando e superando discordâncias, conflitos, contestações, valorizando os contrastes das diferenças; 40 d) valorização da oralidade, da corporeidade e da arte, por exemplo, como a dança, marcas da cultura de raiz africana, ao lado da escrita e da leitura; e) educação patrimonial, aprendizado a partir do patrimônio cultural afro-brasileiro, visando a preservá-lo e a difundi-lo; f) o cuidado para que se dê um sentido construtivo à participação dos diferentes grupos sociais, étnico-raciais na construção da nação brasileira, aos elos culturais e históricos entre diferentes grupos étnico-raciais, às alianças sociais; g) participação de grupos do Movimento Negro, e de grupos culturais negros, bem como da comunidade em que se insere a escola, sob a coordenação dos professores, na elaboração de projetos políticos-pedagógicos que contemplem a diversidade étnico-racial. Os princípios supracitados e seus desdobramentos determinam as exigências de mudança de mentalidade, de maneiras de pensar e agir dos indivíduos em particular, assim como das instituições e de suas tradições culturais (PARECER CNE/CP 3/2004). A importância do ensino afro-brasileiro nas escolas reside no fato de que, no Brasil, a presença negra é significativa, constituindo uma das matrizes mais importantes na formação do povo brasileiro. A cultura brasileira está completamente impregnada da cultura africana, em seus gestos, língua, religiosidade, dança, música, alimentação, o samba, entre outros. Deste modo, não se pode omitir a presença do negro como sujeito ativo da história do Brasil. De acordo com Munanga e Gomes (2006, p. 152-153), 41 O africano escravizado no Brasil e aos seus descendentes que nasceram sob o regime da escravidão era interditado o acesso ao seu próprio corpo. Seus corpos eram obrigados a trabalhar sem cessar, de acordo com o ritmo da plantação, da mineração, da Casa-Grande, ditado pelo mundo dos brancos. Também eram obrigados a se comportar de determinada maneira e a atuar no cotidiano inventado pelo colonizador da forma como este julgava necessária e apropriada. O corpo do escravo era violentado pelos senhores e senhoras de forma bestial, para atender desejos e fantasias sexuais, as mais diversas. Estas mutilações, físicas e morais, fizeram com que os negros articulassem e organizassem uma complexa rede de resistência, onde o corpo foi o principal veículo de resistência e transgressão. Deste modo, surgiu a capoeira, que se tornou um traço marcante da cultura afro-brasileira. A capoeira pode ser vista como um modelo desse processo, pois há séculos sua presença demonstra o caráter aglutinador que esta função lúdico-corporal vem cumprindo na história dos negros e negras. A capoeira constituiu-se numa possibilidade para os escravizados diante das adversidades e dificuldades colocadas pelo regime escravista; em uma prática para cultivar as tradições, as crenças e a dignidade humana de homens e mulheres negras (TAVARES, 1997, p. 52). É importante destacar que, com o advento da abolição da escravatura, em 1888, e da República em 1889, os cientistas intelectuais brasileiros se responsabilizaram em “transformar o escravo em negro” (CORRÊA, 2001, p. 50). Dentre todos os problemas enfrentados pelos intelectuais brasileiros nesse período, a raça se sobressai flagrantemente, até porque estava na questão racial, segundo os postulados deterministas da época, os entraves para o processo civilizatório nacional, segundo os parâmetros do ‘mundo civilizado’ europeu (SILVA, 2007). Como observa Santos (2006, p. 147), A abolição da escravidão não garantiu a integração social do negro na nova estrutura econômica e política do país. As formas de luta coletiva contra a escravidão se deram por todo canto do Brasil através dos quilombos, mocambos e pelas irmandades religiosas que organizavam compras de africanos escravizados para libertá-los. O negro, apesar de liberto pela lei, foi excluído 42 socialmente, e até hoje podemos observar esse fato observando a população das periferias e das favelas nos grandes centros urbanos de nosso país. Na história da arte brasileira o trabalho escravo também teve a sua importância. Em nosso imaginário o trabalho escravo está associado à agricultura como a única forma de uso das mãos em atividade produtiva. Mas vamos encontrar entre os escravos ourives, ferreiros, pedreiros, carpinteiros, barbeiros, cozinheiras, músicos, escritores, escultores. Deste modo, buscava-se, nesse sentido, não apenas uma reavaliação da originalidade nacional, mas, sim, sua autonomia mental. Segundo Ventura (2001, p. 16) “procuraram converter a palavra em ação, transformar o mundo pela força redentora do discurso”. Portanto, é preciso que se conheça a real contribuição dos negros africanos para a formação da história brasileira e, ainda, é preciso ressaltar que tal contribuição não se deu apenas em tempos passados, mas continua atuante em nossos dias, pois a cultura negra está presente marcantemente na cultura brasileira que pode, portanto, ser denominada cultura afro-brasileira. Nesse sentido, Lopes (2006, p. 14) afirma que O currículo vem a ser a forma de organização do conhecimento escolar. Ele não é e nem nunca foi neutro e desinteressado na transmissão de conteúdos do conhecimento social. Ele vai aparecer sempre imbricado em relações políticas de poder e de controle social sobre a produção desse conhecimento. Tendo em vista buscar uma resposta para tal situação, Lopes (2006, p. 22) indaga: Como fica a auto-imagem e auto-estima do negro e do mestiço num currículo em que o espelho oferecido é o da omissão de sua imagem, da falta de prestígio social e histórico de seu povo. Há no currículo “conteúdos não ditos, valores morais explicitados nos olhares e gestos, apreciações e repreensões de conduta, aproximações e repulsas de afetos, legitimações e indiferenças em relação a atitudes, escolhas e preferências”. Essa violência simbólica vem carregada de exclusões para esses alunos menos favorecidos. 43 De acordo com Lopes (2006) não se trata de culpar os professores e a escola pela perpetuação de práticas discriminadoras, mas sim, de refletir sobre o papel da escola e dos educadores na transformação dessa situação. Segundo Ratts e Damascena (2006), os currículos escolares não prestaram o devido reconhecimento à contribuição dos negros para a formação da cultura brasileira, reduzindo tal colaboração ao passado escravista e ao mundo da música, dança, culinária e religião. Não são, portanto, destacados nos livros de história brasileira que os africanos trouxeram seus objetos, hábitos, textos orais e escritos, rituais, jogos, folguedos, histórias, ou seja, um patrimônio cultural material e imaterial; que se propagou e incorporou a cultura e a história do Brasil. Assim, pode-se afirmar que os negros contribuíram com suas lembranças e saberes, com suas religiões, tecnologias e trabalho. Para compreender a contribuição do negro para a cultura brasileira e, consequentemente, sua importância na história do Brasil, é preciso observar que os africanos trouxeram para o Brasil sua história, sua memória e suas práticas culturais. De com Ratts e Damascena (2006, p. 168), Tomar as diversas práticas sociais e culturais como práticas educativas são vê-las em processo, sendo construídas intensamente e carregadas de tensão entre diferentes indivíduos e diferentes comunidades; elas criam contextos interativos que – justamente por se relacionarem dinamicamente em distintos ambientes culturais, nos quais diferentes indivíduos desenvolvem identidades – contribuem para um ambiente formativo. E mais: As expressões culturais e religiosas de matriz africana trazem processos educativos que dizem respeito ao próprio exercício das apresentações no momento da festa e nos rituais religiosos. Esses processos se revelam na música, na dança, no toque dos instrumentos e nos gestos. São elementos impressos no corpo e 44 expressos através da prática e da tradição oral (RATTS; DAMASCENA, 2006, p. 168). Para os Ratts e Damascena (2006, p. 183), “não existe Brasil sem a África e, portanto não existe identidade nacional sem a cultura afro-brasileira”. Nesse sentido, devem ocorrer ações afirmativas com vistas erradicar o preconceito de nossa sociedade, isto somente será possível por meio da valorização de nossa história, dando o valor merecido à contribuição dos africanos para a formação da cultura afro-brasileira. Uma vez apresentados estes breves comentários acerca da fusão Brasil e África, o capítulo a seguir apresenta a contribuição desta fusão para a formação da cultura afro-brasileira. CONCLUSÃO Com a elaboração deste estudo podemos afirmar que a fusão Brasil/África resultou em diversas referencias no campo das artes e da estética, como por exemplo na literatura e nas artes visuais, onde diversos atores negros buscaram construir uma identidade afro-brasileira autônoma. Como foi visto neste estudo, a presença do negro no Brasil é marcante, sendo uma das principais matrizes na formação do povo brasileiro. Sua participação está presente na cultura, nos saberes, na tecnologia, no trabalho, etc., posicionando o negro como sujeito ativo da história do Brasil. As contribuições dos negros africanos, para a formação da cultura do povo brasileiro e seus costumes, são parte da rotina de todos os cidadãos 45 brasileiros, tornando a cultura local, uma cultura afro-brasileira. A maioria desses costumes estão enraizados de modo tão significativo na cultura brasileira, que algumas pessoas chegam a desconhecer sua origem, como ocorre com algumas danças, comidas, músicas, entre outros. Deste modo, é de suma importância o ensino afro-brasileiro nas escolas, tendo em vista desmistificar o fato de que os africanos serviram a este país apenas como escravos. Na verdade, os negros africanos têm uma grande participação na formação da população brasileira, de sua cultura, seus costumes e tradições, enfim, de sua história. E não se pode negar ao povo o conhecimento de sua história. Portanto, o ensino afro-brasileiro nas escolas é fundamental para fazer justiça à contribuição dos negros africanos para a formação cultural, social, política e econômica do Brasil. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AREIAS, Almir. O que é capoeira. São Paulo: Brasiliense, 1983. BAUMAN, Zygmunt. Vidas desperdiçadas. Rio de Janeiro: Zahar, 2003. BONVINI, Emilio. Os vocábulos de origem africana na constituição do português falado no Brasil. In: PETTER, Margarida; FIORIN, José Luiz. África no Brasil: a formação da língua portuguesa. São Paulo: Contexto, 2008. BRASIL. Lei 10.639, de 9 de janeiro de 2003, altera a Lei 9.394/1996. BRASIL. 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Estudo de caso: planejamento e métodos. Porto Alegre: Bookman, 2005. ANEXO A: IMAGENS DA CULTURA AFRO-BRASILEIRA As fotos abaixo foram retiradas do site de Reginaldo Prandi e referem-se às religiões afro-brasileiras http://www.fflch.usp.br/sociologia/prandi/fotos-mo.htm 49 50 51 A imagem a seguir representa a capoeira. www.ilhadepalmares.com.br/?pag=novidades O Encontro Cultural Palmares organizado pela Associação Cultural Ilha de Palmares, Associação Jagunã de Palmares e a Associação Cultural Brasileira de Capoeira Angola Palmares, vem propor o desenvolvimento do 52 conhecimento da cultura Afro-brasileira por meio de suas raízes históricas, culturais e filosóficas.