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LER A ÁFRICA PARA COMPREENDER O MUNDO
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Valtir Maria Vieira
Resumo
O presente trabalho se refere a um relato das experiências na coordenação pedagógica
do núcleo do Mocambo no município de SEABRA- BA, tendo como suporte o projeto
didático Ler a ÀFRICA para compreender o mundo, que se deu através de Oficinas de
Contos Africanos, com a participação ativa de 323 alunos e 13 professores do Ensino
Fundamental I, entre os meses de outubro de 2010 e janeiro de 2011. Os objetivos deste
trabalho foram: Valorizar a leitura como fonte de formação, informação e via de acesso
ao mundo da literatura africana; Interagir com a literatura africana em um ambiente
escolar onde ainda reinam Personagens brancas como padrão de representação literária,
modelo ocidental eurocêntrico; contribuir para a promoção da igualdade das relações
étnico raciais na escola e fora dela; valorizar a cultura oral e escrita; avaliar a identidade
do sujeito afro-descendente, permitindo-lhe a condição de ser, pertencer e participar de
seu grupo étnico, reconhecendo valores da sua comunidade; analisar o trabalho
desenvolvido com este público no processo de execução da Oficina, bem como, na
preparação e apresentação da feira cultural, produto final deste trabalho. As informações
foram coletadas através da vivência e atuação dos envolvidos, bem como relatos orais e
escritos. Estes indicaram que a Oficina de Contos Africanos é necessária para o
desenvolvimento da consciência critica e valorização da tradição oral que pode ser vista
através das apresentações dos alunos e de membros da comunidade externa à escola,
incorporando os conhecimentos da cultura africana e afro-brasileira, mostrando que a
matriz africana mantém parte de sua essência pela tradição de contar e vivenciar
histórias míticas, consideradas práticas educacionais que chamam a atenção para
princípios e valores, para o autoconhecimento, socialização de saberes e convivência
comunitária.
Palavras-chave: Literatura Africana. Igualdade. Mocambo. Oralidade.
Introdução
Em geral os professores lêem contos para crianças e muitos consideram isso
fundamental desde a educação infantil. Pensar na abordagem de contos africanos e afrobrasileiros em sala de aula traz ao professor as seguintes questões: Como selecioná-los,
apresentá-los e lê-los para as nossas crianças? A questão é saber exatamente o que se
aprende com a leitura de contos e outros gêneros e, qual o papel desses textos na
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Texto produzido para o II Seminário de Educação Rural: Da Sala de Aula às Políticas
Públicas. SEABRA/BA, 2011.
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Professora Auxiliar da Universidade do Estado da Bahia - UNEB, Campus XXIII – SEABRA /BA.
Mestranda em Educação pela Universidad Del Salvador - USAL ( Buenos Aires - AR ). Pós-graduação
em Política do Planejamento Pedagógico: Currículo, Avaliação e Didática pela Universidade do Estado
da Bahia ( UNEB ) . Pós-graduação em Língua Portuguesa: TEXTO pela Universidade Estadual de Feira
de Santana (UEFS). Graduada em Pedagogia pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB).
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aprendizagem da leitura e da escrita. Garantir que as crianças desenvolvam
comportamentos leitores é garantir que elas tenham contato com os diversos tipos e
gêneros de textos do nosso universo literário, que possam ler - por si mesmas ou por
intermédio do professor - textos reais, que se aproximem deles a partir de seus usos
sociais.
Possibilitar o contato das crianças com histórias que abordam personagens
negros favorece o aumento da autoestima dos alunos afro-descendentes, desperta a
turma para a diversidade de etnias e promove o respeito ao outro, a alteridade, e a
valorização da subjetividade.
O trabalho com o conto africano é de grande importância, pois na cultura
africana, a fala ganha força, forma e sentido, significado e orientação para a vida. A
palavra é vida, é ação, é jeito de aprender e ensinar. “O poder da palavra garante e
preserva ensinamentos, uma vez que possui uma energia vital, com capacidade criadora
e transformadora do mundo. Energia que possui diferentes denominações para as
diversas civilizações, por exemplo, para os bantus essa energia é hamba, já para o povo
iorubá a energia é o axé.”
A tradição oral pode ser vista como um cabedal de ensinamentos, saberes e
conhecimentos que veiculam e auxiliam homens e mulheres, crianças, adultos/as e
velhos/as a se integrarem no tempo e no espaço e nas tradições. Sem poder ser
esquecida ou desconsiderada, a oralidade é uma forma encarnada de registro, tão
complexa quanto à escrita, que se utiliza de gestos, da retórica, de improvisações e de
danças como modos de expressão.
A matriz africana mantém parte de sua essência pela tradição de contar e
vivenciar histórias míticas, consideradas práticas educacionais que chamam a atenção
para princípios e valores, para o autoconhecimento, socialização de saberes e
convivência comunitária.
Quantos Contos? Conta que eu conto!
Muito se fala que a escola é um lugar privilegiado para estimular a leitura,
fala-se também no poder que tem a literatura em abrir as janelas da alma, de tornar o
individuo mais sensível, mais feliz, mais informado e principalmente mais responsável
pelas mazelas do mundo. Fala-se ainda, que as escolas precisam contribuir para a
formação da identidade do estudante, valorizando a alteridade e subjetividade,
estimulando o gosto pela literatura, porém, a escola não cumpre este papel com
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eficiência, já que boa parte dos alunos que nela entram, saem com a nítida sensação de
não gostar, não desejar e às vezes até de não saber ler e de nunca ter entrado em contato
com a literatura africana. Então, qual tem sido a função social da escola, se sua maior
responsabilidade, e a priori, o que melhor deveria fazer não está sendo feito?
Compreende-se, que se tornar um organismo aprendente, leitor e incentivador
da leitura, seria uma estratégia eficiente para estimular a leitura, pois na escola esta é
antes de qualquer coisa um objeto de ensino. Para que se transforme num objeto de
aprendizagem, é necessário que tenha sentido para o aluno, que tenha um propósito que
ele valorize, neste caso, ler somente por deleite, sem cobranças e sem ameaças. Neste
sentido, diz Solé:
Uma boa forma de um docente fomentar a leitura é mostrar o gosto
por ela- quer dizer, comentar sobre os livros preferidos, recomendar títulos,
levar um exemplar para si mesmo quando as crianças forem à biblioteca. Os
estudantes devem encontrar bons modelos de leitor na escola, especialmente
aqueles que não possuem isso em casa. (SOLÉ, 2010)
Formar leitores autônomos é um propósito indelegável da educação obrigatória.
Para cumpri-lo é necessário, antes de tudo, aceitar que também é uma tarefa difícil.
Uma dificuldade essencial é a posição de dependência que o aluno ocupa na instituição
escolar, exatamente esse aluno que tentamos transformar em leitor autônomo. Os alunos
somente se formarão como leitores autônomos se puderem atuar como tais em sala de
aula. Para que os estudantes sejam leitores autônomos na instituição escolar não basta
modificar os conteúdos do ensino é necessário, além disso, gerar um conjunto de
condições didáticas que autorizem e habilitem o aluno a assumir sua responsabilidade
como leitor, e podemos ensiná-lo a ler através dos contos de origem africana ou afrobrasileira, dentre outros gêneros e tipos textuais.
Em todos os países do mundo, em todas as culturas, encontramos a presença
de histórias que, passadas de geração a geração, constituem importante mecanismo de
preservação da memória, da história e da identidade dos povos. Essas histórias,
populares ou eruditas, assumem, às vezes, a forma de narrativas ficcionais em prosa,
geralmente curtas e intensas, que chamamos conto.
Para as antigas civilizações, o conto era uma narrativa de cunho fabuloso e
fantástico, inspirada na mitologia e transmitida oralmente. Com o tempo, foi ganhando
uma formatação escrita, literária, saindo do domínio coletivo da linguagem para o
universo do estilo individual de cada contista. O conto moderno ensaiou suas primeiras
formas no século XIV, com a obra do italiano Boccaccio (1313-1375).
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Nos contos, o narrador, por meio de descrições das personagens, do cenário,
do tempo, conduz o conflito que, rapidamente, se desenvolve e caminha para seu final,
não raramente surpreendendo o leitor. Narra-se uma única ação, que compreende tudo o
que acontece na história: os fatos e os atos envolvendo as personagens. O conto talvez
seja o gênero literário mais antigo e versátil. Costuma ser classificado em várias
categorias.
Para Nelly Novaes Coelho, não temos mais os contadores descendentes dos
narradores primordiais, isto é, aqueles que não inventavam: “contavam o que tinham
ouvido e ou conhecido” e que “ representavam a memória dos tempos a ser preservada
pela palavra e transmitida de povo para povo ou de geração para geração” (2000, p.
109) .
Contudo, podemos afirmar que a tradição de narrar mantém a sua força. Como
escreve Celso Sisto, “O homem já nasce praticamente contando histórias. Está inserido
numa história que o antecede e com certeza irá sucedê-lo” (2001, p. 91).
Todos nós temos histórias para contar, imersos que estamos, ainda que por
vezes sem perceber, no patrimônio cultural informado por mitos, lendas, provérbios,
contos, canções, sátiras de todas as matrizes.
As narrativas orais expressam hábitos e valores cujo compartilhamento se dá
no ambiente familiar, religioso, comunitário, escolar. Todo este patrimônio está no
corpo e na mente das pessoas, onde quer que elas estejam. As culturas africanas e afrobrasileiras preservam, também na escrita, narrativas que podem ser associadas ao que a
crítica literária ocidental classifica como contos, lendas, fábulas, provérbios, canções,
etc. É fundamental compreender que a base de todas as histórias guarda reminiscências
na tradição oral.
As narrativas literárias são textos estéticos, lúdicos, que suscitam a
criatividade, o imaginário da/o leitora/or. Nesse tipo de texto predominou uma
referência a se seguir, em que as personagens brancas reinavam como padrão de
representação literária e, por muito tempo, nesse modelo ocidental eurocêntrico foi
quase que exclusivo. Esse contexto vem sendo alterado pelas ações dos movimentos
sociais negros, pelas influências de novas visões e concepções de educação, além dos
dispositivos legais que atualmente orientam os currículos das escolas.
Há, atualmente, vários livros publicados que se propõem a desvendar o
universo de algumas culturas africanas e da afro-brasileira. Só para citar alguns, temos:
Nina África: Contos de uma África menina para ninar gente de todas as idades, org. por
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Lenice Gomes; Histórias de Animais de, Adwoa Badoe e Baba Wagué Diakit; Que
mundo Maravilhoso, de Julius Lester; Bruna e a galinha d'Angola, de Gercilga de
Almeida; A cor da vida, de Semíramis Paterno; As tranças de Bintou, de Sylviane
Diouf; Os Animais Fantásticos, José Jorge Letria, também os livros Menina Bonita do
Laço de Fita, junto com Bisa Bia, Bisa Bel, são uns dos livros mais premiados e
traduzidos da obra de Ana Maria Machado, entre outros contos. Existem outros dentro
do mercado editorial, o qual tem se interessado pelo tema, apresentando novas opções.
Nos alerta o autor, é importante estarmos atentos e (re) vermos o quanto a
cultura africana impregnou-se na cultura brasileira:
A riqueza étnica é impressionante, responsável por uma herança cultural e
artística e precisamos conhecê-la, uma vez que ainda a conhecemos pouco,
apesar de a África ter uma influência decisiva nos hábitos e nos costumes
mesmo daqueles brasileiros que não são afro-descendentes (BRAZ, 2001, p.
4 e 5).
Em 2003, foi decretada a Lei Federal n.º 10.639, que ampliou a discussão da
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9394/96), que estabelece a
obrigatoriedade do ensino e transmissão de cultura africana e afro-brasileira nos
estabelecimentos de ensino públicos e privados de todo o País.
Esta lei que foi
ampliada pela Lei 11. 645/2008, foi uma conquista para o povo brasileiro, que necessita
ver nos currículos escolares a cultura afro brasileira e africana, que são também
importantes para a construção coletiva da identidade do negro deste país, que hoje
representa mais de 50% da população.
Apesar da importância da inclusão das culturas acima citadas no currículo das
escolas brasileira, ainda existem grupos contrários a essas leis, pois dizem ter receio
de que este debate suscite ainda mais a segregação entre os brasileiros ao se destacar a
história do povo negro de outros temas curriculares.
Nitidamente, essa proposta aqueceu a edição de livros infantis literários e
informativos, o que pode ser verificado na produção recente nacional. Muitos livros,
brasileiros e traduzidos, têm circulado nas feiras e livrarias dedicadas ao setor. Alguns
deles com o cuidado que os leitores merecem: informações sobre o continente africano,
o povo a que se refere à história, por exemplo. Outros livros, sem maiores cuidados,
trazem a África como uma unidade cultural, com conhecimentos rasos e superficiais e,
muitas vezes, preconceituosos. Este continente está além da nossa capacidade de
conceituação, exatamente porque as culturas são dinâmicas e interativas. Entendemos
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que afro-brasileira é toda produção cultural nossa, nacional, brasileira. Afinal, somos
todos filhos da África!
Podemos perceber a África através das palavras de Mia Couto: "Este
Continente é, ao mesmo tempo, muitos continentes. A cultura africana não é uma única,
mas uma rede multicultural em contínua construção."
Na trilha do projeto
Nos anos anteriores, nas escolas do – MOCAMBO, o trabalho com a cultura
Africana e Afro-brasileira foi pouco significativo, pois não se tinha a dimensão do
quanto era fundamental o trabalho com esta temática, postergando a implantação da
mesma no currículo escolar, até que no ano de 2010. Nós, que fazemos parte do corpo
docente e discente tomamos a decisão de assumir o conteúdo como objeto de ensino,
portanto, todos deveriam dominar tal conteúdo, para que pudéssemos trabalhá-lo sem
atenuar preconceitos, sem estigmatizar os personagens dos contos, mas, descobrindo o
quanto da cultura Africana estava impregnado em cada um de nós.
Este núcleo atende a dois segmentos da Educação Básica - Educação Infantil e
Ensino Fundamental I, os nossos estudantes são provenientes de comunidades rurais e o
contato que tem com a literatura é na escola, inclusive o debate sobre o negro nunca
esteve em pauta, somente agora o trabalho com Os Contos Africanos, que foi de grande
importância, tomando uma proporção inimaginada, atraindo os olhares e curiosidades de
alguns moradores das comunidades, que tiveram conhecimentos do trabalho, nas
reuniões de pais que acontecem regularmente na escola. Além de apoiarem nossa
iniciativa, participaram ativamente, inclusive trazendo um pouco da cultura das
localidades, como o reisado, a capoeira de angola, e o maculelê, mostrando que todos
nós temos mesmo, um pé na África.
Nossa investigação começou a partir do gênero textual Contos Africanos, que
nos proporcionou reflexão e muito ensinamento, intensificando as aprendizagens, pois a
leitura passou a ser fonte de prazer e aprendizagem, tanto para professores, quanto para
estudantes. O nível de leitura nas escolas do núcleo era muito baixo, o que prejudicava o
processo de ensino/ aprendizagem, aumentando o desestímulo, a repetência, e evasão,
pois muitas de nossas crianças não viam importância no que era trabalhado na escola.
Somente após a intensificação do trabalho com a leitura e o projeto com a Oficina de
Contos Africanos - LER A ÁFRICA PARA CONMPREENDER O MUNDO, é que
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houve uma mudança no comportamento leitor, tanto dos professores, quanto dos alunos,
que passaram a ler mais, inclusive, levar livros emprestados para casa.
Detectamos a pouca habilidade leitora dos estudantes após a aplicação de
vários instrumentos diagnósticos a fim verificar como estavam neste processo,
descobrimos então, o que já tínhamos desconfiança, que o principal problema na
aprendizagem estava na pouca compreensão leitora, havia casos de alunos do 5º ano
que tinham dificuldades até mesmo na decodificação. Como diz Elizabeth Bortoni
(2008 p.10):
Quanto ao trabalho com a leitura, é crucial entender que ela tem uma função
primordial na formação de nossos educandos. Assim, precisa ser vista como
um processo no qual o leitor realiza um trabalho de construção do
significado do texto, a partir do conhecimento de mundo, dos conhecimentos
lingüísticos, da intencionalidade do autor, entre outros. O texto, nessa
perspectiva, não pode ser mais considerado como algo pronto e acabado,
mas como um conjunto de pressupostos, intenções, implícitos que, somados
aos fatores contextuais e intertextuais que evoca, criam um universo de
leitura a ser desvendado pelo leitor.
Somente a partir desta constatação o projeto oficina de Contos Africanos foi
implantado. Este teve como objetivo principal a sedução para a leitura a partir de
momentos lúdicos, como a cotação de historia, aulas fílmicas, onde filmes como
KIRICOU E A FEITICEIRA, ANIMAIS AFRICANOS, o desenho e livro MENINA
BONITA DO LAÇÕ DE FITA ativaram o desejo.
Atividades artísticas, onde os estudantes expressavam, através da dança, do
desenho, da pintura, os conhecimentos sobre o imaginário dos contos africanos e afrobrasileiros, que contribuíram para a motivação deste novo leitor, que agora leria muito
mais por prazer do que por imposição e obrigação.
O mais esperado é que a leitura dos contos africanos pudessem modificar a visão
que nossos professores e estudantes tinham deste gênero textual, pois só conheciam os
contos clássicos, com princesas brancas, onde o negro não aparecia, quando aparecia era
de forma pejorativa.
Para apresentar o projeto aos professores e estes aos alunos, escolhi duas obras:
o filme Kiricou e a Feiticeira, e o livro Menina Bonita do Laço de fita é um dos livros
mais premiados e traduzidos da obra de Ana Maria Machado, que provocaram efeito
desejado junto aos professores: então perguntei: O que encanta nessa obra?”
Após ouvir as opiniões dos professores sobre os motivos pelos quais Ana Maria
Machado resolveu escrever o livro. Abri uma discussão acerca da seguinte reflexão:
Que diferença pode fazer do ponto de vista da formação dos alunos, apresentarmos
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princesas brancas, negras e amarelas nos contos? E do ponto de vista da escola, da
organização curricular: Que diferença faz incluir obras literárias que “contem” as
histórias dos povos negros e indígenas?
A partir deste momento os docentes passaram a sentir o desejo de conhecer
outras obras da literatura africana. Então propus aos professores, que para apresentar o
projeto aos alunos deveriam organizar uma banca de livros, de contos africanos e afrobrasileiro, informando que ao longo de duas unidades, estaríamos em contato direto
com estes Contos.
O projeto aconteceu nas duas ultimas unidades e continuaremos o trabalho, incluindo a
cultura Afro-brasileira e Africana no currículo das escolas do núcleo - Mocambo.
A
metodologia
utilizada
tem
modificado
a
historia
do
processo
ensino/aprendizagem, inclusive boa parte dos alunos chegaram a ler mais de quinze
obras durante este período, e já se percebe a mudança de comportamento destes frente
às questões étnico-raciais e com relação às obras e culturas do povo negro.
Considerações finais
O projeto LER A ÁFRICA PARA COMPREENDER O MUNDO marcou o
núcleo XI – Mocambo, comunidade interna e externa, pois passamos a enxergar a
cultura africana com muito mais respeito, inclusive enxergando na cultura local, traços
daquela, e constatando o que muitos autores já dizem sobre nossa ancestralidade. Nossa
realidade e a de muitos dos nossos alunos foi completamente impactada, tanto pela
leitura e produção dos contos, quanto pelas descobertas a cerca das riquezas culturais
dos nossos irmãos da Mãe África.
Mesmo hoje com maior acesso a materiais impressos, muitos dos nossos
estudantes só contam com a presença do livro didático, isto, quando levam o mesmo da
escola para casa.
Infelizmente, mesmo em pleno século XXI, na zona rural do
município de SEABRA, as pessoas ainda não vivem uma realidade de inclusão nos
meios midiáticos mais modernos, ou no acesso a material impresso. Por isto, o trabalho
desenvolvido com os Contos Africanos, só vem agregar valores ampliando a
possibilidade de acesso ao mundo da leitura. Então, pensar projetos didáticos que
favoreçam reflexão, produção oral e escrita por parte dos estudantes é de fundamental
importância, pois, a pesquisa, gera homens mais desejosos a novas descobertas,
aprendendo a valorizar o diferente, e respeitando a alteridade, portanto, desenvolver o
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gosto pela literatura, possibilita a autonomia leitora, e a transformação deste individuo
em um cidadão melhor e mais feliz.
Acredito que este projeto já contribuiu e continuará a contribuir para a formação
de leitores e leitoras competentes, que consigam mudar não apenas seu mundo interior,
mas que mude também o seu entorno.
Referências
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SALTO para o futuro. Disponível em http://www.tvebrasil.com.br. Acesso em
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