CONEXÃO#I
Encontro do NatFap: Núcleo de Arte e Tecnologia da Faculdade de Artes do Paraná
10, 11 e 12 de agosto de 2011
CAMVIG: DA CÂMERA DE VIGILÂNCIA PARA A CÂMERA DE PROTEÇÃO.
Gisele Miyoko Onuki1
Luiz Antonio Zahdi Salgado2
Faculdade de Artes do Paraná - FAP
RESUMO
Ao refletirmos sobre as funções e aplicações das câmeras de vigilância na sociedade, nos depararmos
com as fragilidades apresentadas por estas no quesito segurança. Observa-se que estas câmeras
visam principalmente proteger o patrimônio ao invés de promover segurança e proteção aos
indivíduos. Desta constatação, a performance CamVig surge do interesse de causar reflexão sobre o
assunto. Sugere a crítica através da experiência artística: uma performance que buscar novas
possibilidades de reconstruir e recondicionar percepções de visualização do espaço (através de
câmeras) e, por conseguinte, de mobilidade.
Palavras-chave: câmera de vigilância; performance; percepção; arte-tecnologia.
INTRODUÇÃO
Este trabalho agrega algumas reflexões sobre questões que envolvem o uso das câmeras de
vídeo na atualidade buscando enquadrar mais objetivamente nas câmeras de vigilância (também
chamadas de câmeras de segurança). Num segundo momento, apresentam-se os resultados de uma
experiência artística que surgiu das motivações teóricas sobre o assunto.
Partiu-se da observação de que o planeta está sendo observado o tempo todo por inúmeros
dispositivos que possibilitam a captura de imagens (fixas e em movimento) e que estas imagens têm
sido disponibilizadas para veiculação, não só na web, mas nas mídias em geral.
Observa-se então, visualizando especificamente as câmeras de vigilância, que este uso tem
deixado muitas dúvidas sobre a sua eficácia enquanto modo de inibir ações indesejadas ao mesmo
instante que trás novas formas de ver o mundo, e, por conseguinte, determinando novos
comportamentos sócio-culturais. As mídias tradicionais, como a TV, apropriam-se desta tecnologia e
deste uso para formar a sua programação diária.
1
Gisele Miyoko Onuki, mestre em Comunicação e Linguagens pela UTP, especialista em Arte-Educação pela IBPEX,
graduada em Dança pela Faculdade de Artes do Paraná – FAP, docente da FAP e membro do NatFap - Núcleo de Arte e
Tecnologia da FAP. E-mail: [email protected].
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Luiz Antonio Zahdi Salgado, doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, mestre em Comunicação e Linguagens pela
UTP, especialista em História da Arte do Século XX pela EMBAP, graduado em Design Gráfico pela PUC-PR, docente da FAP
e líder do NatFap - Núcleo de Arte e Tecnologia da FAP. E-mail: [email protected].
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Nota-se que estas câmeras que foram produzidas e entraram no mercado para vigiar em
nome da melhoria da segurança pública, tem se destacado intensamente por proteger o patrimônio
e produzir informação ao invés de assegurar a melhoria de vida das pessoas.
Questiona-se então porque nada ou quase nada está sendo pensado pela indústria no
sentido de utilizar os recursos tecnológicos com a intenção de proteger as pessoas e prevenir
situações violentas?
A partir do interesse de se realizar uma crítica a esta questão, desenvolveu-se uma
experiência artística performática intitulada CamVig.
CÂMERA
A história da câmera é bastante antiga envolvendo diversas invenções e descobertas. Da
câmera escura já observada por Aristóteles na Grécia antiga (350 a.C.) até os dias de hoje várias
etapas e funcionalidades surgiram. Primeiramente o desejo de capturar e fixar a imagem em algum
suporte, em seguida o interesse na direção da captura do movimento. Foram muitas as teorias e
pesquisas, aperfeiçoamentos e investimentos até o encontro com a indústria, a produção e o alcance
popular.
Da Fotografia para o Cinema, da imagem fixa para o movimento, ganhou-se também uma
linguagem específica com capacidade ainda mais concreta de alterar os padrões e criar novos
modelos culturais. A câmera de TV ou vídeo veio para ampliar ainda mais o potencial das linguagens
audiovisuais. Trás a possibilidade de gravação e reprodução facilitada tornando as imagens em
movimento ainda mais popular.
Nascido do cruzamento das práticas do cinema e da TV com as tecnologias, com a produção
em massa e a popularização de equipamentos eletrônicos, as câmeras passaram a estarem presentes
nas diversas atividades e no dia a dia das cidades.
Citam-se abaixo alguns tipos de câmeras:
1.
Inicialmente a câmera foi utilizada para capturar imagens fixas. Primeiro foi um recurso
para auxiliar os pintores no seu ofício a chamada câmera escura. A partir do século XIX,
passou a registrar imagens automaticamente. A câmera fotográfica é um meio
calculado para receber a luz refletida dos objetos e possibilitar a sensibilização do filme,
onde a imagem é fixada.
2.
A câmera de cinema adota o sistema da máquina fotográfica, registra imagens em
filme. Foi acrescentado a estas câmeras um dispositivo que permite capturar imagens
em velocidade constante de 24 quadros (fotos) por segundo. Posteriormente estas
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imagens projetadas na mesma velocidade da captura e devido ao modo como funciona
a visão humana, tem-se ai a ilusão do movimento.
Segundo a descoberta publicada em 1824 pelo inglês Peter Mark Roget, intitulada
“persistência retiniana”, o olho humano retém na retina a imagem por um instante
(próximo a 1/24 de segundo), ou seja, o cérebro interpreta a informação do movimento
através de uma sobreposição de imagens. Temos então cinema.
3.
As câmeras de TV tem muito das câmeras de cinema do ponto de vista dos
enquadramentos, controles do equipamento, objetivas, etc., mas diferem e muito
quando se trata do modo como gravam a luz refletida dos objetos. Enquanto as
câmeras de cinema o fazem em filmes, nas de TV a luz se transforma em impulsos
eletromagnéticos que podem ser gravados em fita magnética ou enviados como uma
onda eletromagnética. No primeiro caso podem ser recuperados através de um vídeo
cassete, no segundo as imagens podem ser visualizadas em um receptor de TV. As
câmeras de vídeo possuem um canhão que projeta elétrons em um mosaico, varrendo
o mosaico linha por linha numa frequência de 30 quadros por segundo.
4.
A câmera digital. Trata-se da conversão de informações analógicas em informações
digitais. As câmeras digitais não utilizam filmes, registram as imagens através de um
sensor que converte luz em cargas elétricas.
Enquanto câmeras tradicionais são baseadas em processos químicos e mecânicos as
câmeras digitais funcionam com um computador embutido registrando imagens
através de processos eletrônicos.
5.
Webcam é uma câmera digital acoplada em um computador mediada por um
programa.
6.
As micro câmeras podem ser de vídeo ou digitais.
CÂMERA DE VIGILÂNCIA (SEGURANÇA)
As câmeras de vigilância ou de segurança são câmeras de vídeo, podem gravar as imagens
em fitas magnéticas ou podem enviar ondas eletromagnéticas para um receptor. Também podem ser
digitais e enviar as informações pela web.
Independentemente do tipo, as câmeras de vigilância surgiram com a finalidade de proteger
o patrimônio e aumentar a segurança das pessoas. Isto teoricamente aconteceria tendo em vista que
qualquer ação ou movimentação considerada fora da lei poderia ser vista e rapidamente reprimida
e/ou gravada tornando possível identificação dos indivíduos envolvidos posteriormente. Sabendo-se
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da existência destas câmeras em determinadas áreas pensou-se que diminuiria as ações indesejadas.
Ou seja, as câmeras de vigilância têm sido utilizadas com intenção de intimidar ou inibir que
situações indesejadas ocorram como danos ao patrimônio, roubos, assaltos entre muitas outras
atividades violentas.
Fato é que estamos sendo vigiados permanentemente. Câmeras estão por toda parte, vigiam
os espaços e possibilitam a gravação de informações. Arlindo Machado em 1993 já informava sobre
as máquinas de vigiar, a invasão das câmeras e a capacidade de vigilância à distância.
Os sistemas eletrônicos de vigilância multiplicaram-se em progressão geométrica
por toda a parte. Não apenas os aeroportos ou estações de trem e metrô, mas
agora até mesmo as estradas, os túneis, os supermercados, as grandes magazines,
os bancos, as fábricas e no limite, escolas e instituições psiquiátricas, estão
submetidos aos olhares técnicos e impessoais das câmeras de observação (2001, p.
3
220) .
Acrescente-se a tudo isto as facilidades tecnológicas atuais (2011), o acesso aos
equipamentos possibilitado pela crescente industrialização e, por conseguinte, o barateamento dos
equipamentos.
Aspecto interessante para estas reflexões é o fato de que estas câmeras não só servem a
observação, mas também gravam constantemente tudo o que está ocorrendo, não se submetendo a
nenhum processo de edição, apenas gerando arquivos de imagens em fitas magnéticas ou digitais.
Tendo em vista a quantidade de câmeras espalhadas por todos os lugares e ligadas
permanentemente, imagens interessantes, raras ou surpreendentes surgem, o que antes, de modo
geral, só se conseguia com certo golpe ou momento de sorte do operador de câmera.
DAS CÂMERAS DE VIGILÂNCIA PARA A TV
Vê-se nos telejornais de todos os canais o uso das imagens que já não são produzidas e
capturadas pela própria produção da TV, mas "emprestadas" dos proprietários das milhares de
câmeras de vigilância depositadas em todos os cantos das cidades. Diariamente assistimos crimes,
assassinatos, violência de todo tipo cometida em frente a essas câmeras. Pode-se agora identificar os
envolvidos numa situação como esta. Agora sabemos como ocorrem estes acontecimentos. Agora
podemos ver a cara do bandido. Não se trata mais de ficção.
Como se pode identificar um criminoso pensou-se que câmeras poderiam intimidar e
reprimir ações violentas. Será que isto realmente acontece? Esta resposta é difícil de responder,
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Machado, A. (2001). Máquina e Imaginário. São Paulo: Edusp.
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porém independentemente disto, observa-se um fenômeno midiático interessante e o surgimento
de novos comportamentos sócio-culturais.
As imagens capturadas para documentar eventuais situações de invasão e violência são
apropriadas principalmente pela TV. Transformam-se em documentos para telejornais e, em certos
casos, espetáculos televisivos. O uso de câmeras com intenção de inibir comportamentos
considerados fora da lei torna-se também captadoras de informação. Pode-se dizer que ocorre um
retorno: câmeras de TV e vídeo transformaram-se em câmeras de vigilância e as imagens capturadas
pelas câmeras de vigilância voltaram a veicular na TV.
As características destas imagens, enquadramentos, ângulos de câmera, qualidade,
iluminação, são reconhecidas como índices, ou seja, apresentam esteticamente aspectos que
indicam uma realidade e, portanto ganham força de documento. Como as imagens na TV estão mais
para o espetáculo as cenas gravadas por câmeras de vigilância servem mais a estas tarefas do que
propriamente para proteger pessoas.
CAMVIG
O trabalho iniciou-se com o interesse de realizar uma crítica a questão da proteção das
pessoas sob os olhares das câmeras de vigilância ou de segurança. Parte da premissa que essas
câmeras protegem o patrimônio e não as pessoas, além disso, das imagens capturadas surgem cenas
que passam a ser utilizadas mais pela mídia, a fim de expor e espetacularizar essas ocorrências. A
partir dessas premissas, questiona-se: com tantas possibilidades tecnológicas acessíveis, baixo custo,
fácil manuseio, porque não são desenvolvidos equipamentos que possibilitem maior prevenção e
segurança das pessoas? Mais especificamente, porque não explorar as câmeras em novas
possibilidades, mais direcionadas a proteger o corpo das pessoas?
A partir disto, dois aspectos são fundantes para a realização deste trabalho:
1.
Explorar a câmera em novas possibilidades
2.
Através de pensamento artístico buscar novas possibilidades de visualização do espaço
(através de câmeras) e, por conseguinte, de mobilidade.
O trabalho artístico CamVig foi desenvolvido tendo como base estas questões, porém a
experiência ganha aspecto de performance quando pensa-se em chamar a atenção através de um
descondicionamento
perceptivo
(desconstrução
recodicionamento das habilidades motoras).
perceptiva
visual
e
consequentemente,
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Enxergamos para a frente e até um certo ângulo de alcance nas laterais e para cima e para
baixo. Ficamos com as costas desprotegidas da visão, surgiu então a ideia de colocar uma câmera em
posição de visualizar a parte de trás do corpo.
Nosso cérebro esta acostumado a interpretar as informações obtidas por órgãos perceptivos,
quando alteramos este processo através de aparelhos externos ocorre um estranhamento e se faz
necessário desconstruir e reconstruir este modo de interpretação.
Descrição dos Equipamentos
Para esta performance utiliza-se de: óculos virtual e uma mini câmera de vídeo.
6
Descrição da Performance
1.
A performance será apresentada por um dos artistas.
2.
Para a perfomance, o artista utiliza um óculos virtual que veda a possibilidade de visão
que não seja através da imagem reproduzida no óculos. Esta imagem é captada pela
câmera posicionada na parte de trás da cabeça.
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3.
A performance propriamente é a montagem de uma cena de natureza morta, ou seja,
arrumar uma mesa com toalha, vaso, fruteira, flores e frutas, que serão organizadas
pelo artista utilizando o aparato acima citado.
4.
Após a performance apresentada por um dos artistas o público interessado poderá
vivenciar a experiência com os equipamento.
7
Download

Camvig: da câmera de vigilância para a câmera de proteção.