III Encontro Nacional de Estudos da Imagem 03 a 06 de maio de 2011 - Londrina - PR UMA LARANJA, NEM SEMPRE, É APENAS UMA LARANJA: INDICIARISMO NA TRILOGIA O PODEROSO CHEFÃO Carlos Adriano Ferreira de Lima UEPB/CH/DGH Para o historiador pensar o audiovisual1 como fonte primária é uma tarefa complexa e delicada. Seu primeiro problema é de escolher qual o tipo de registro, aqui pensado não como o suporte imagético ou sonoro– disco de vinil, CD, DVD, película, fita cassete, Blu-ray ou mídias digitais – mas, isso sim, da pretensa intencionalidade. Para tanto, poderíamos pensar nas duas formas mais comuns de problematização dos suportes. O primeiro enquanto registro técnico da realidade – não é à toa, que a parte da câmera responsável pelo registro das imagens recebe o nome de objetiva – e, enquanto registro do real, encarado pelo público como verdadeiro. E o segundo, de cunho ficcional e, por esse motivo, permeado de uma subjetividade que não faz parte do primeiro grupo. Quando pensado no espaço das narrativas cinematográficas de longaduração, objeto de análise deste trabalho resume-se em dois tipos: dos filmes (ficção2) e documentários (real). Obviamente que o audiovisual cinematográfico dessa forma – registro objetivo ou não do real, simplifica e por que não dizer, traz a discussão para uma seara que as perspectivas teóricas sobre fontes impressas, felizmente, ultrapassaram. Afinal, seja verdadeira, falseada ou fictícia, pensando na proposição de Carlo Ginzburg (2007) sobre as mesmas, são objetos de análise histórica. Gostaríamos de ressaltar que essa é uma questão aparentemente resolvida, mas os filmes notadamente ficcionais ainda encontram resistência na historiografia mais conservadora que, felizmente, vem sendo minada no decorrer dos anos. 1 Segundo Aumont (2003, p. 25): “designa (de modo bem vago) as obras que mobilizam, a um só tempo, imagens e sons, seus meios de produção, e as indústrias ou artesanatos que as produzem”. 2 Apesar de trabalharmos com a convenção entre documentário e ficcção, ressaltamos que o documentário é uma forma fílmica que dialoga com recursos ficcionais de tal forma, que o registro objetivo do real, torna-se problemático. Diante disso, usamos a expressão com a resssalva que acreditamos na carga ficcional dos filmes documentais. 515 III Encontro Nacional de Estudos da Imagem 03 a 06 de maio de 2011 - Londrina - PR A primeira e, mais famosa proposição contra o conservadorismo da análise de imagens cinematográficas ficcionais vem de Marc Ferro (2010) defendendo o cinema como uma fonte válida, para o mesmo: Partir da imagem, das imagens. Não buscar nelas somente ilustração, confirmação ou desmentido do outro saber que é o da tradição escrita. Considerar as imagens como tais, com o risco de apelar para outros saberes para melhor compreendê-las. (FERRO, 2010, p. 32) Entretanto, mesmo em sua leitura relativística, sobre o audiovisual, podemos observar uma ênfase na imagem, consequencia do recorte de seu objeto principal, cinema pré e pós Revolução Russa -, aos quais dedica maior parte de sua análise fílmica. Priorizando a “contra-análise” da sociedade realizada pelo cinema que, segundo o mesmo, escapa as amarras totais da censura que não conseguiria domá-lo. Eduardo Morretin (2007) problematiza e critica essa perspectiva teórica de Marc Ferro, sem deixar de lado a contribuição do mesmo para o diálogo entre a historiografia e cinema, em especial, aquela cinematografia que abraça de forma mais aberta seu cunho ficcional. Mesmo reconhecendo a importância e necessidade da análise do filme ficcional o historiador sente-se impelido para a análise do chamado filme histórico3. Pierre Sorlin sobre a questão dos gêneros cinematográficos é bastante enfático: O cinema, que faz grande uso de cenários e de “trajes”, situados num período indeterminado, se interessou muito pouco, afora isso, pelas reconstituições e os filmes históricos não constituem um gênero. [...] Os estúdios de cinema têm dinheiro suficiente para pagar as consultas históricas que os evitam de cometer anacronismos e os ajudam a reconstituir a atmosfera de um período passado. (SORLIN, 2007, p.46) Na sua abordagem, os elementos de autenticidade buscados pelo estúdio não configuram um gênero cinematográfico. Concordamos com sua perspectiva, que a representação fílmica na Roma Antiga e outro na conquista do oeste Americano não podem ser configurados como histórico, tendo em mente o fato de ambos representarem um passado ao momento histórico de sua produção e exibição. Pensando nisso, nossa proposta de análise vem justamente na leitura indiciária da trilogia cinematográfica O Poderoso Chefão (1972, 1974, 1990), baseado no romance homônimo de Mario Puzo. A escolha do mesmo4 deve-se a uma série de 3 Filme considerado histórico é aquele que propõe uma diegese dentro de uma espacialidade dermacada no passado – entendido aqui, em relação ao momento que é produzido. 4 Decidimos a referência no singular, pela própria composição do filme. As duas sequencias (II e III) possuem em seu título a expressão parte o que os torna, dessa forma um grande filme aos olhos do diretor 516 III Encontro Nacional de Estudos da Imagem 03 a 06 de maio de 2011 - Londrina - PR fatores. O primeiro é que por tratar de uma temporalidade distinta do momento em que foi filmado, poderia ser pensado enquanto filme histórico, o que alias, não se propõe, temos muito mais um relato grandioso de uma família de gângsters cujos desdobramentos mais nos remetem aos reis e rainhas dos “filmes históricos” e aos dramas Shakespeareanos5 do que um filme preocupado com o enfoque histórico – mesmo que não escape do mesmo. Sua influência sobre os filmes preocupados com a representação do passado é marcante até hoje. Sobre essa questão o diretor de fotografia de A Rainha Margot (1994), película que representa o massacre de São Bartolomeu, diz ter o filme como referência, sobre essa questão: A fotografia de Gordon Willis, meio dourada, com iluminação de cima para baixo, fez escola: todas as produções de época realizadas a partir dali usariam tal estilização. (BRAVO, 2010, p. 12) Apresentado nosso objeto, gostaríamos de delinear nossa abordagem histórica, baseada no indiciarismo. Entendemos como Paradigma Indiciário, a produção do conhecimento histórico, a partir de elementos considerados, numa primeira leitura, menores ou “irrelevantes” mesmo que presentes em grande parte do objeto estudado. Assim, encontramos nesse tipo de análise, A existência de uma profunda conexão que explica os fenômenos superficiais é reforçada no próprio momento em que se afirma que um conhecimento direto de tal conexão não é possível. Se a realidade é opaca, existem zonas privilegiadas – sinais, indícios – que permitem decifrá-la. (Ginzburg, 2000, p. 177) Ou seja, o conhecimento é construído com o apoio de elementos “menores” que auxiliam no entendimento do todo. Dessa forma, o paradigma indiciário se apresenta como a observação dos detalhes para um melhor entendimento do todo, deixando claro que essa noção de totalidade é apenas no sentido de conhecer com maior profundidade o objeto analisado. Esse tipo de acesso ao saber está vinculado a uma observação dos elementos desconsiderados na grande maioria das análises, aquilo que seria para a maioria “imperceptível”. O trabalho a partir do índice exige percepção arguta/posto pelo que sempre os pensou (originalmente os dois primeiros segundo os extras do DVD e Blu-ray). Esta foi a primeira vez na história do cinema que as sequencias de um filme receberam no seu título a expressão parte, tornand-se um certo padrão da indústria no que se refere as continuações. 5 A terceira parte nesse sentido é a mais literal. Desde a mudança da personagem Connie Corleone para uma variante da Lady Macbeth e a morte de fim de Michael Corleone que remetem ao desfecho de Rei Lear. 517 III Encontro Nacional de Estudos da Imagem 03 a 06 de maio de 2011 - Londrina - PR detalhe tornando o trabalho de pesquisa um aprendizado nos moldes que preconiza Guinzburg, Ninguém aprende o ofício de conhecedor ou de diagnosticador limitando-se a pôr em prática regras preexistentes. Nesse tipo de conhecimento entram em jogo (diz-se normalmente) elementos impoderáveis: faro, golpe de vista, intuição. (GINZBURG, 2000:179) Não é a toa que Ginzburg usa como exemplo o famoso personagem de Sir Arthur Conan Doyle, o detetive inglês Sherlock Holmes, ou as deduções de Freud que infere do efeito para a causa nas análises de seus pacientes. Nesse sentido, reiteramos que não estamos falando de uma espécie de “clarividência” como pode parecer numa primeira análise, mas na observação e elucidação de múltiplos elementos, nessa perspectiva, podemos observar que, Pensadores consagrados como Michel Foucault, Walter Benjamin, Gilberto Freyre, Lucien Febvre, Fernand Braudel, Mikail Bakhtin, Robert Darnton, Peter Burke, Carlo Ginzburg, entre outros, escreveram obras marcadas pelo apreço aos pormenores e à conciliação entre racionalidade e sensibilidade. Clássicos como Casa-grande e senzala, de Freyre, Mediterrâneo, de Braudel, O grande massacre dos gatos, de Darnton, e o Queijo e os vermes, de Ginzburg, foram elaborados pela pesquisa minuciosa, detalhada e exaustiva, revelando o caráter detetivesco empreendido por estes pensadores. O fio condutor destas diferentes obras é a pesquisa indiciária baseada na investigação de micro-estruturas políticas, econômicas e sociais, de aspectos corriqueiros do cotidiano e da intimidade social, de acontecimentos pequenos na história. (RODRIGUES:2007:5) As origens desse método de análise estão vinculadas ao estudo da arte, seu precursor é Giovani Morelli6, originalmente utilizado para análise de pinturas, a ênfase, naquele momento era nos detalhes das orelhas, unhas e dedos. Para o historiador que se dedica à análise cinematográfica, a ênfase pode estar nas especificidades técnicas como em elementos filmados de maneira repetitiva, assim como nos planos, cortes e montagem, bem como no uso da trilha sonora entre outras especificidades. Contudo, a mera observação pormenorizada, estaria mais para um “exercício detetivesco”, do que para um conhecimento histórico específico, em nada auxiliando a construção, nas palavras do próprio criador, de um “modelo epistemológico”. 6 Os primeiros textos do autor com essa reflexão são de 1874 e 1876, com o título de Zeitschrift für bilbende Kunst onde o mesmo usava o pseudônimo Ivan Lermolieff e foram traduzidos do Russo para o alemão por Johannes Scharze, que na verdade também era o Giovanni Morelli. 518 III Encontro Nacional de Estudos da Imagem 03 a 06 de maio de 2011 - Londrina - PR Nesse sentido, do ponto de vista teórico, o indiciarismo é também a possibilidade de sistematizar um saber aparentemente “fragmentado”, mas em que as partes se interpenetram de tal forma que não falamos em retirar mas estudar. Nosso olhar está concentrado em um ponto, um fragmento que nunca está desvinculada do restante, e por esse motivo nos detemos tão ativamente sobre o mesmo. O sentido disso é analisar, com maior riqueza de detalhes, numa espécie de “microscópio histórico”. Todavia, essa fragmentação, como já dissemos, nunca é retirada do todo e serve para sua compreensão, senão perde seu sentido e nossa analogia do “microscópio histórico” se torna apenas mais um ampliador de plaquetas de análise de um laboratório, em nada contribuindo para a compreensão do objeto de que faz parte. Esse tipo de análise é importante, na medida em que nos permite entender a partir dos detalhes e sua multiplicidade. Nesse momento, indicamos de que forma se insere o nosso trabalho numa perspectiva indiciária. Afinal, uma questão não deixa de ser interessante: por que trabalhar com algo que nas palavras de seu criador ainda não foi “devidamente” sistematizado? Em nosso caso, trabalharemos com o suporte fílmico, no qual a fragmentação é parte constitutiva da formulação de materialidade, pensando em nosso caso, como objeto de análise e nunca como algo tangível no aspecto material. A partir da decupagem o trabalho com indiciarismo se apresenta como uma rica alternativa. Compreendemos que o indiciarismo vai muito além do estudo do micro, estando vinculado à compreensão dos múltiplos elementos desconsiderados na maioria das análises do mesmo objeto. A partir de sua metodologia, por exemplo, podemos observar que uma análise historiográfica com base no método, levaria, por exemplo à percepção de que a maioria dos textos carece de análise da parte técnica, em especial das especificidades do cinema, partindo para uma leitura baseada apenas do texto fílmico, entendido aqui numa preocupação com o roteiro. Elementos tão, e em alguns casos, mais importantes que o próprio roteiro, como os cortes na montagem, movimentos de 519 III Encontro Nacional de Estudos da Imagem 03 a 06 de maio de 2011 - Londrina - PR câmera e, em especial, a montagem sonora, extremamente “indiciários”, são desprezados na grande maioria dos textos7. Na trilogia O Poderoso Chefão o índicio que mais nos chamou a atenção foi a presença marcante da fruta laranja. Ela antecede os atentados e morte da maioria dos personagens durante toda narrativa. O ínicio do filme (primeira parte), evidenciado por um ambiente escuro que mais remete a composição de luz do pintor Caravaggio, em que o padrinho8 Vito Corleone atende pessoas e concede favores no dia do casamento da filha é seguida da festa, conforme podemos ver nas cenas abaixo: Figura 1, 2 e 3: Cenas do casamento Nas três cenas em questão, os personagens tem as laranjas muito próxima. Em todos os casos, os principais envolvidos com a fruta nas cenas morrem durante o filme, vítimas de atentados. Sobre a segunda imagem, a laranja está dentro do generoso copo do personagem. Na terceira imagem, apesar de o personagem em questão não está na cena, é feita uma referência direta ao mesmo pela sua esposa, que é evidenciada pela câmera subjetiva que simula seu olhar a procura do seu mulherengo marido. Observamos também que a decoração tem muitos tons laranjas e que os mesmos retornam em diversos momentos. Por uma questão de escolha, apresentaremos os momentos que consideramos mais marcantes evidenciados pelo uso da fruta e não de sua cor, objeto de um trabalho futuro. Mais adiante, depois que nos habituamos a compreender que a fruta laranja em cena antecede um crime, o diálogo durante um jantar do então consiglieri Tom Hagen e um produtor de cinema, termina por construir um clima de tensão. Ainda mais que o uso das laranjas, para marcar o destino dos personagens, gera um suspense. Afinal, nos dois planos, ambos aparecem com a laranja em cena. Para qual estaria reservado o trágico destino. Pelo desdobramento do jantar, descobrimos na sequencia seguinte que o produtor de cinema ira pagar o preço de não atender os favores da máfia com a retirada da cabeça de seu cavalo vencedor. 7 FERRO, Marc. Cinema e História. São Paulo. Ed. Paz e Terra. 1992; CARNES, Mark. Passado Imperfeit.; A história vai ao cinema. Rio de Janeiro. Ed. Record. 1997; CAPELATO, Maria Helena. História e Cinema. São Paulo. Ed. Alameda, 2007. 8 Referência italiana para uma espécie de bem feitor, cujos favores concedidos serão cobrados em outra oportunidade. O título americano The Godfather faz referência direta ao título, na tradução brasileira optou‐se 520 III Encontro Nacional de Estudos da Imagem 03 a 06 de maio de 2011 - Londrina - PR Figura 4 e 5: Dois planos da mesma cena Mais adiante, ocorre outro atentado, mas, dessa vez, não será na sequencia por vir, que teremos o desfecho. Agora a laranja participar ativamente da cena. Ao decidir comprar frutas, na hora em que está escolhendo, é vítima de um atentado, cujo impacto é realçado pela queda de inúmeras laranjas. Apesar de sobreviver ao atentado, mais adiante ocorre a morte do personagem brincando com o neto e fazendo caretas com parte de uma laranja na boca9. Figura 6, 7 e 8: Atentado contra Vito Corleone plot crucial para a narrativa fílmica A utilização das laranjas para fazer a marcação dos crimes não é exclusivo da primeira parte. Na continuação do filme (Parte II), quando a mãe de Vito Andolini - ainda não tinha aderido ao nome Corleone - é morta, podemos observar no canto direto dos planos uma cesta com laranjas: Figura 9 e 10: Laranjas no cesto em cima da mesa 9 No seriado televisivo Lost, durante a primeira temporada (episódio piloto) o personagem John Locke, faz uma citação a esta cena, ao sorrir para o pequeno Michael com uma laranja na boca. 521 III Encontro Nacional de Estudos da Imagem 03 a 06 de maio de 2011 - Londrina - PR Sobre a segunda parte da trilogia, mesmo não seguindo uma narrativa essencialmente linear, e sim paralela10, somos apresentados a dois momentos da família: o primeiro com a saída de Vito da Itália e sua consolidação na América, que corresponde ao início do século XX e suas três primeira décadas e, na segunda sobre Michael Corleone no poder e a transformação do idealista jovem do primeiro filme para um homem pragmático nas décadas de 1950, 1960 e início dos anos 1970. Figura 10 e 11: Laranjas nas mãos dos personagens e mais atentados durante o filme a segunda parte da trilogia Nas cenas acima, que ocorrem em diferentes momentos do filme e tem desdobramentos distintos a laranja remete ao ato praticado. Inclusive, na figura 10, Michael recebe uma de Johnny Ola e sofrerá um atentado em sua própria casa. Nas cenas com Vito Corleone a laranja volta a aparecer para antecipar os atentados. Na cena em Cuba (figuras 12, 13, 14 e 15), um travelling apresenta os personagens numa mesa e cestas repletas de frutas, depois um plano geral termina por evidenciar na bandeja o tom laranja, conforme observamos abaixo. Figura 12, 13, 14 e 15 No terceiro ato, as laranjas continuam como elemento antecipatório da diegese cinematográfica. Logo no início, numa pequena mesa quando personagens conversam e um deles, Vincent, sofrerá um atentado. de configurar um importante marcador dos eventos relativos aos personagens. Recebendo inclusive, pela primeira vez na trilogia um close (figura 18) no maior atentado ocorrido na saga da família Corleone. 10 Apesar de em tempo fílmico, a trajetória de Michael Corleone possui um tempo maior que a de Vito Corleone. 522 III Encontro Nacional de Estudos da Imagem 03 a 06 de maio de 2011 - Londrina - PR Figura 16, 17 e 18 Na terceira parte, observamos que as laranjas são filmadas em enquadramentos mais fechados, ou seja, evidenciadas ainda mais. Inclusive tornam-se mais efetivas que nas duas primeiras partes. A quantidade e momentos que aparecem ultrapassam o escopo deste trabalho no sentido da quantidade de referências diretas e indiretas. Em seu desfecho, Michael Corleone o protagonista, sozinho, segura uma laranja e sua morte é marcada pela queda da mesma (figura 19). Seu corpo tomba em seguida. Aqui o desfecho da trilogia é evidenciado Figura 19 Podemos concluir que a análise indiciária do cinema é possível, em nosso caso evidenciamos um aspecto visual, mas poderia ser outros elementos fílmicos. Entre as possibilidades, uma delas seria o sonoro – intra ou extradiegético – verificar o tipo de trilha ou som evidenciado para personagens e/ou situações. Para aqueles que dominam a linguagem musical poderia ser interessante perceber a função dos graves e agudos na trilha sonora em determinados momentos ou focos da narrativa. Ressaltamos que o índice não precisa ser necessariamente visual, sendo até mesmo tipos de enquadramentos ou de montagem. Composição de cenário e figurino pode e devem ser analisadas na busca de um padrão. Enfim, esse tipo de leitura permite compreender muito além da mera antecipação de crimes, mas e especialmente, que o cinema é uma linguagem poderosa e repleta de signos e significantes a serem decodificados. Perceber esses elementos permite ao estudioso das imagens compreender ainda melhor o mundo audiovisual do qual faz parte. 523 III Encontro Nacional de Estudos da Imagem 03 a 06 de maio de 2011 - Londrina - PR Bibliografia: AUMONT, Jacques. Dicionário Teórico e crítico de cinema. Campinas: Papirus, 2005. FERRO, Marc. Cinema e história. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2010. MORETTIN, Eduardo. O cinema como fonte histórica na obra de Marc Ferro. In: CAPELATO, Maria Helena (org.). História e cinema. São Paulo: Alameda, 2007. RODRIGUES, Márcia Barros Ferreira. Exercícios de indiciarismo. Coleção Rumos da História. Vitória. Programa de Pós-graduação em história social das relações políticas. 2006. SORLIN, Pierre. Televisão: outra inteligência do passado. In: CAPELATO, Maria Helena (org.). História e cinema. São Paulo: Alameda, 2007. 524