UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - UCAM PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS INSTITUTO A VEZ DO MESTRE Regina Celia Carneiro Maciel DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM: PROCESSO DE AÇÃO REFLEXIVA NO ENSINO FUNDAMENTAL DE 5ª A 8ª SÉRIE Orientador Profº. Vilson Sérgio de Carvalho Rio de Janeiro Fevereiro / 2007 Regina Celia Carneiro Maciel DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM: PROCESSO DE AÇÃO REFLEXIVA NO ENSINO FUNDAMENTAL DE 5ª A 8ª SÉRIE Monografia apresentada à Universidade Candido Mendes como requisito parcial para conclusão do Curso de PósGraduação “Lato Sensu” em Psicopedagogia. Rio de Janeiro, fevereiro de 2007 AGRADECIMENTOS Ao meu Orientador, Professor Vilson Sérgio de Carvalho, que com seus ensinamentos, contribuiu para a concretização deste trabalho. Aos Professores do Curso de Psicopedagogia desta Universidade, pelos ensinamentos prestados, pois assim obtive a oportunidade de acrescentar novos aprendizados necessários à minha formação profissional. A todos aqueles que de uma forma ou de outra tentaram iluminar a trajetória do criar, aprender, ensinar e do amar, na esperança de obter dias melhores. DEDICATÓRIA A Deus que me guia e ilumina, protegendome no dia-a-dia da vida. Aos meus familiares e amigos, que sempre estiveram ao meu lado nos momentos mais difíceis da vida. “A maturidade do homem consiste em ter reencontrado a seriedade que em criança colocava nos jogos.” (NIETZSCHE) RESUMO Este trabalho tem como objetivo elucidar o tema da dificuldade de aprendizagem, sob um processo de ação reflexiva no contexto do Ensino Fundamental de 5ª. a 8ª série, destacando a função da Psicopedagogia no estabelecimento de diretrizes que visam criar soluções para esse tipo de dificuldade. Cabe, portanto, reconhecer a responsabilidade do educador enquanto fomentador de um bom desenvolvimento do processo ensinoaprendizagem. Sabe-se que em época passadas às crianças permaneceram durante muito tempo apresentando certos problemas de aprendizagem, mas hoje, a realidade já é outra. Elas podem ser encaminhadas a um especialista e tratarem as suas dificuldades. Segundo o diagnóstico apresentado são devidamente orientadas, junto à escola e a família. Disso resulta, a importância de uma reflexão psicopedagógica, no Ensino Fundamental de 5ª a 8ª série, para analisar - o porquê -, do educando não aprender, bem como, avaliar os fatores que levam o aluno a apresentar dificuldades no processo de ensino-aprendizagem. Percebe-se que sempre há uma desculpa para identificar os fatores que levam o aluno a ter dificuldades. Preguiça, lentidão ou apenas falta de atenção ou de interesse, que muitas das vezes são usadas pelos educadores como forma de tirar de suas costas a responsabilidade. No entanto, essas desculpas tendem a contribuir para o agravamento dessa realidade, deixando muitas vezes o aluno desmotivado a situação do apreender. Logo, o psicopedagogo insere-se nesse cenário, como um elemento interventor nas relações entre família, escola e sociedade, procurando equilibrar as forças que podem tornar-se antagônicas, objetivando o bem-estar físico, psíquico e social do educando que apresenta certo tipo de dificuldade de aprendizagem. METODOLOGIA O presente estudo fundamenta-se em bases práticas e teóricas voltadas para a pesquisa bibliográfica, cujos autores mostram com sabedoria suas vivências e estudos em relação à questão a ser desenvolvida no decorrer do trabalho. Assim, estarão disponibilizadas obras compostas por saberes científicos, nas áreas de psicopedagogia e outras afins, que auxiliarão na fundamentação teórica no processo de busca a novos saberes e aprendizados em relação ao tema proposto. Portanto, farão parte desse referencial, os artigos, revistas e periódicos que estão disponibilizados em acervos públicos, bem como, outros encontrados em sites da Internet, de são de igual importância para aquilo que se pretende realizar. Em princípio, espera-se selecionar algumas obras mais significativas a respeito do tema. Depois disso, busca-se encontrar os melhores textos para a análise, que tratam sobre as dificuldades de aprendizagem em educandos, que cursam o Ensino Fundamental de 5ª a 8ª série, construindose assim o referencial teórico e a abordagem de intervenção a ser utilizada pela Psicopedagogia. Finalmente, busca-se material científico que venha demonstrar a importância do Psicopedagogo como elemento da equipe multidisciplinar que trabalha em prol do desenvolvimento do educando com qualidade, procurando não somente sanar o problema no âmbito escolar, como no seio familiar, e na sociedade em que o educando vive. Isso nos leva a criação do um texto novo, baseado nas idéias centrais, apresentada pelos autores selecionados, que trabalham especialmente na área Psicopedagógica. SUMÁRIO INTRODUÇÃO 08 CAPÍTULO 10 DIFICULDADES 10 CAPÍTULO I DE APRENDIZAGEM II 22 ABORDAGEM REFLEXIVA NA RELAÇÃO ENSINO-APRENDIZAGEM 22 CONSIDERAÇÕES FINAIS 4 3 BIBLIOGRAFIA 46 ÍNDICE 48 INTRODUÇÃO O objetivo deste do trabalho é mostrar que a proposta psicopedagógica pode atender educandos com dificuldades de aprendizagem, possibilitando uma orientação adequada na relação ensino-aprendizagem assumindo um compromisso com as diferentes formas de aprender de cada ser humano que cursa o Ensino Fundamental de 5ª a 8ª série, dentro da realidade brasileira. Para tanto, pretende-se especificamente, reconhecer as várias determinantes que caracterizam as dificuldades de aprendizagem, compreendendo que a origem das dificuldades de aprendizagem procurando reconhecer se as mesmas estão associadas a déficits de leitura, escrita e/ou cálculo, com intuito de minimizar os seus efeitos. Além disso, torna-se relevante proporcionar aos alunos do Ensino Fundamental de 5ª a 8ª série, diversas oportunidades de vivências e aprendizagens no plano da atividade lúdica, artística e literária, como subsídios que podem integrar a sua formação geral, bem como, possibilitar a aproximação da teoria e da prática, levando os educandos a pensar e dominar ações integradas no campo da aprendizagem. Sabe-se que o desenvolvimento do ser humano, especialmente, na criança pode ser marcado por meio de mudanças complexas. Tais alterações podem ocorrer diante da organização e estrutura de processos comportamentais, quanto no crescimento que se faz presente, ao longo da vida de cada indivíduo. Ao fazer uma análise percebe-se que na atual modernidade a formação da idéia de educando e de seu desenvolvimento está amparada em diferentes áreas do conhecimento. Assim, surge a Pedagogia, que incorpora em uma só concepção, outras diferentes áreas que, por conseguinte abrem espaços para estudos ligados a Psicologia, Antropologia, Sociologia e Filosofia. Nesse contexto, torna-se importante levar em consideração os fatores externos no traçado de planos sobre a aprendizagem e as dificuldades encontradas pelos educandos, sendo de suma importância enfatizar melhores investimentos no sistema educacional do nosso país, com o intuito de suprir essas problemáticas no nível de Ensino Fundamental, especialmente de 5ª a 8ª. O capítulo I engloba a dificuldade de aprendizagem, tecendo algumas considerações, bem como realizando uma correlação entre aprendizagem e fracasso escolar. O capítulo II procura fazer uma abordagem reflexiva na relação ensino-aprendizagem e, tenta situar o papel do psicopedagogo no contexto ensino-aprendizagem. Com o término do trabalho, não pretende-se esgotar o assunto, mas acredita-se que ele possa servir como fundamentos de apoio, para outros profissionais da área de educação, que sem dúvida devem adotar uma postura ética em relação ao aluno. Espera-se, portanto, que o pedagogo deva manter um bom relacionamento com o educando, diversificando as situações de aprendizagem, adaptando-as as suas especificidades, procurando responder ao problema didático da heterogeneidade das aprendizagens, que às vezes rotula alunos, quando os mesmos apresentarem dificuldades no decorrer da sua aprendizagem. Não se pode esquecer o papel da escola, que juntamente, com a equipe multidisciplinar, possui sua parcela de colaboração, tendo a difícil missão de valorizar os muitos saberes do aluno, e que seja oportunizado a ele comprovar suas verdadeiras potencialidades. CAPÍTULO I DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM O presente capítulo trata sobre as dificuldades de aprendizagem que são decorrentes de aspectos naturais ou secundários, passíveis de mudanças através de recursos de adequação efetiva em educandos que cursam o Ensino Fundamental de 5ª. a 8ª série. 1.1 - Considerações Gerais O termo dificuldade de aprendizagem em geral se refere a um grupo heterogêneo de transtornos manifestados por dificuldades significativas na aquisição e uso da escuta, fala leitura, escrita, raciocínio ou habilidades matemáticas. Estes transtornos são intrínsecos ao indivíduo, supondo-se que são devido à disfunção do sistema nervoso central, e podem ocorrer ao longo do ciclo vital. Podendo existir junto com as dificuldades de aprendizagem, diferentes problemas nas condutas de auto-regulação, percepção social e interação social, mas isso não se constituirá por si mesma uma dificuldade de aprendizado. Ainda que as dificuldades de aprendizado possam ocorrer concomitantemente com outras condições incapacitantes como, por exemplo, transtornos emocionais graves ou com influências extrínsecas (tais como as diferenças culturais, instrução inapropriada ou insuficiente), não são o resultado dessas condições ou influências. De acordo com os relatos de Maturano (2003) para reconhecer em uma criança a dificuldade de aprendizagem, se faz necessário primeiramente entender o que é aprendizagem e quais os fatores que nela interferem. Assim, entende-se que aprendizagem consiste num processo complexo que se realiza no interior do indivíduo e se manifesta em uma mudança de comportamento. Pode-se dizer que muitas crianças com dificuldades de aprendizagem apresentam casos relacionados a questões de socialização, isso porque “elas possuem menos habilidades sociais que seus colegas sem dificuldades de aprendizagem, o que persiste ao longo da vida escolar” (MATURANO, 2003, p. 67) Embora haja boas tentativas de definir e especificar o que, de fato, seria uma dificuldade de aprendizagem ou mesmo uma dificuldade escolar, não há, portanto, ainda uma definição consensual sobre os critérios da questão, e nem mesmo, nada ainda concreto sobre o termo. Diante disso, é de suma importância, a avaliação global do educando considerando as diversas possibilidades de alterações que resultam nas dificuldades para que o tratamento psicopedagógico possa ser realizado sob o objetivo mais específico possível. Assim, a intervenção de uma abordagem psicopedagógica deve propiciar um desenvolvimento satisfatório o mais rapidamente possível. Todavia, a falta de informação sobre temas relacionados ao assunto seria um dos responsáveis pela maioria das dificuldades de relacionamento, escolares e sociais dos educandos, bem como, responsável por inúmeros problemas emocionais bem como pedagógicos, que dependerão essencialmente da intervenção do psicopedagogo. 1.2 - Dificuldade de Aprendizagem no âmbito da Psicopedagogia A psicopedagogia nasceu como uma ocupação empírica pela necessidade de atender a crianças com dificuldades de aprendizagem, cujas causas eram estudadas pela medicina e psicologia. Com o decorrer do tempo, o que inicialmente foi uma ação subsidiária destas disciplinas, foi se perfilando como um conhecimento independente e complementar, possuidor de um objeto de estudo (o processo de aprendizagem) e de recursos diagnósticos, corretores e preventivos próprios. (VISCA, 1987) Na vida escolar, vez ou outra, as pessoas sentiram maior ou menor dificuldade para aprender alguma coisa. A superação veio acompanhada ou pela pouca importância que foi atribuído àquele conteúdo na avaliação ou porque, no todo, a avaliação não pensou muito. Assim, devido a essas razões e outras, o “não aprender” vem, às vezes, carregando de significados e busca operacionalizar critérios para avaliar e, às vezes, passa despercebido. Nesse sentido, Peterli (2000) diz que se torna importante analisar algumas questões sobre o respeito aos diferentes ritmos de aprendizagem, o cuidado que o professor deve ter em não rotular os alunos e a importância da valorização das mais distintas habilidades e talentos do ser humano. Logo, percebe-se que a sociedade tem traçado o perfil do aluno, da personalidade esperada, e quem não atende a tais requisitos, por ser diferente, recebe rótulos e perde a chance de receber uma educação que priorize as habilidades e competências necessárias ao seu desenvolvimento integral, para que pudesse conviver sem dramas na sociedade. Sabe-se que muitas crianças que chegam à escola possuem ritmos diferentes. Algumas apresentam comportamentos inadequados em função do ambiente onde vivem trazendo na bagagem anos de vivência permissiva e chocando-se com a aprendizagem formal encontradas nas escolas. Há também aquelas crianças que possuem um atraso no desenvolvimento de suas funções neuropsicológicas devido a um atraso maturacional. Elas são, muitas vezes, mal compreendidas, mal interpretadas e recebem rótulos de “preguiçosas”, “desmotivadas”, “estabanadas”, entre outros. (PETERLI, 2000) Assim, observa-se que os professores, diante de muitos comportamentos tidos como “inadequados” de seus alunos, fazem diagnósticos e encaminhamentos a profissionais especializados, interpretando as dificuldades escolares dos alunos como uma conseqüência de um distúrbio orgânico. Com isso, não só a escola se isenta de responsabilidades, como acaba rotulando as crianças como possuidoras de um “entrave” em seu aprender. E os pais, desprovidos de conhecimentos e confiantes nos profissionais, iniciam a caminhada entre os profissionais no sentido de “curar ”seus filhos. (COELHO, 1998) O conceito de dificuldades de aprendizagem varia desde os chamados distúrbios da fala, psicomotores, comportamento, da aritmética, e da leitura e escrita. da saúde física, do Esta última foi concebida há bastante tempo. Já em 1917 pesquisadores propunham o termo dislexia (boletim da Associação Brasileira de Dislexia). Essa dificuldade, se não identificada de forma adequada, leva seus portadores a abandonar os estudos e a evitar o convívio social, pela falta de compreensão de suas “deficiências” pelos pais, professores, educadores e pela sociedade como um todo. Para Gardner (1994) as pessoas manifestam as mais distintas habilidades e talentos. Assim sendo, cabe aos educadores não classificar seus alunos em função das habilidades diversas. Nesse contexto, os professores devem procurar valorizar e estimular todas as inteligências, percebendo-as como habilidades que caracterizam a espécie humana e que se desenvolvem ao longo do tempo; assim o aluno terá chances de expressar seu talento e não será dado ênfase ao “não aprender” em determinadas áreas de conhecimento. (Idem, Ibidem) Sobre tal questão Peterli (2000) comenta que o problema de aprendizagem constituído como “sintoma” ou uma “inibição” em um indivíduo afeta diretamente a dinâmica articulatória entre os níveis de inteligências, o desejo, o organismo e o corpo, acarretando um aprisionamento da inteligência e da corporeidade por parte da estrutura simbólica inconsciente. Para tanto, deve-se procurar seu significado, descobrindo a funcionabilidade do sintoma dentro da estrutura familiar e aproximar da história individual do sujeito e da observação de tais níveis. Quando os sintomas ou inibição estão ligados à estrutura individual e familiar do educando, torna-se necessário uma intervenção psicopedagógica especializada. (Idem, Ibidem) No dizer do autor supra citado, o problema de aprendizagem reativo afeta o aprender do sujeito em suas manifestações. No entanto, não chega a interferir na inteligência surgindo, geralmente, em função de um choque entre educando e instituição educativa. Dessa feita, na maioria dos casos, o aprendiz não necessita de tratamento psicopedagógico, mas de uma intervenção do psicopedagogo no sentido de reparar a instituição educativa na defasagem metodológica, ideológica ou linguagem vínculo. O referido autor acrescenta também, que o “não aprender” atormenta pais, estudantes e educadores e deve ser motivo de observação e de diagnósticos seguros para não negar ao aluno o direito de aprender dentro de suas habilidades e limitações. (Idem, Ibidem) Já Coelho (1998) diz que enquanto, sintoma ou mesmo oscilações cognitivas, o aprender constitui-se em algo complexo que põe em jogo quatro níveis: orgânico, corporal, intelectual e simbólico (inconsciente) e a intervenção de diferentes especialistas (pediatra, neurologista, pedagogo, otorrinolaringologista, fonoaudiólogo, psicopedagogo, assistente social e outros) são fundamentais quando se trata de dificuldades de aprendizagem. Todavia, pesquisas recentes mostram as injustiças que se cometem ao se culpar o aluno de insucesso escolar e deixar de analisar cada situação de maneira mais crítica e abrangente, considerando a dimensão política, filosófica social da educação, a estrutura pedagógica da escola e a responsabilidade dos professores. (Idem, Ibidem) Assim sendo, o “não aprender” merece um olhar imediato e de tomada de decisão, não cabendo aqui, a negação de que determinados alunos podem precisar de apoio circunstancial para enfrentar alguma situação que não se modifica rapidamente. Ressalta-se que seria uma injustiça que educadores permitissem que seus alunos esperassem até que políticas públicas venham a ser modificadas para que suas dificuldades sejam consideradas. Na visão de Paín (1985), os problemas de aprendizagem estão freqüentemente ligados a perturbações precoces que determinam a inibição dos processos ou o predomínio de um dos momentos sobre o outro, impedindo a integração que possibilita a aprendizagem. Portanto, este tipo de controle sobre os canais ligados à provisão dos esquemas de ação por vias de educação constitui-se certamente na aceleração da aparição dos processos simbólicos, uma vez que os esquemas internalizados têm maior possibilidade de coordenar-se. Embora as dificuldades de aprendizagem dificilmente sejam problemas de informação, a presença de fantasias inadequadas para a idade da criança, sugere que esta aceitou alguma crença muito prezada pelo grupo familiar, que denuncia uma denegação que pode ter relação com a articulação do sintoma. (Idem, Ibidem) Percebe-se que encontrar uma definição clara e abrangente para designar “problema de aprendizagem”, não se constitui tarefa fácil. Durante muitos anos, o enfoque orgânico, surgido por volta dos séculos XVIII e XIX, orientou a reflexão dos educadores e terapeutas que lidavam com essa questão. A utilização e incorporação de alguns conceitos psicanalíticos na área médica transformaram não só à visão dominante de doença mental, como também as concepções correntes sobre as causas das dificuldades de aprendizagem. (Idem, Ibidem) A influência ambiental sobre o desenvolvimento da personalidade nos primeiros anos de vida bem como a dimensão afetivo-emocional na determinação do comportamento e de seus desvios, passou a ser enfatizada, o que provocou uma mudança terminológica para assinalar as crianças que apresentavam problemas de ajustamento ou de aprendizagem escolar: em vez de “criança anormal”, “criança problema”. (SCOZ, 1994). Ao divulgar as idéias psicanalíticas, Ramos (apud SCOZ, 1994) chamou à atenção para a relação adulto/criança, quando o predomínio das explicações baseavam-se na hereditariedade do desenvolvimento humano. Mas, apesar das contribuições de Ramos, a importância atribuída à dimensão orgânica e aos seus desvios como responsável pelos problemas de aprendizagem era ainda muito grande. Percebe-se que essa medicalização do fracasso escolar reforçou-se na década de 60, quando da introdução, no Brasil, da abordagem psiconeurológica de desenvolvimento humano. Em seu bojo, essa conceituação trouxe as noções de Disfunção Cerebral Mínima e de Dislexia, que foram enfatizadas por neuropediatras, psicólogos, fonoaudiólogos e psicopedagogos. (SCOZ, 1994) O movimento da Escola Nova, que norteou a política da educação dos anos 20 aos 60, foi outra vertente de grande repercussão no pensamento educacional brasileiro. Em sua concepção o movimento buscava respostas para problemas educacionais brasileiros em experiências educativas já consagradas nos Estados Unidos e em países da Europa. Baseava-se numa nova concepção de infância, em que era reconhecida a especificidade psicológica da criança, em contraposição aos pressupostos filosóficos e psicopedagógicos do ensino tradicional. (Idem, Ibidem). Dessa forma, percebe-se que a proposta inicial do escolanovismo constituía-se em enfatizar a necessidade de uma pedagogia coerente com a natureza humana. Todavia, os processos individuais da aprendizagem interessavam somente na medida em que facilitavam uma tarefa pedagógica que se propunha a desenvolver ao máximo as potencialidades humanas. Mas seguindo esse pensamento, pode-se dizer que essa proposta inicial, cujo mérito foi o de criar uma nova complementaridade entre a Pedagogia e a Psicologia, terminou pendendo para a redução psicológica na explicação dos problemas de aprendizagem. (PAÍN, 1985) Nesse sentido, torna-se importante salientar que a ênfase nas aptidões individuais condizia com as idéias liberais da primeira metade deste século, em que imperava o seguinte princípio: identificar e promover os indivíduos mais capazes, independentemente de sua origem étnica ou social. (SCOZ, 1994). Todavia, ao atribuir as causas dos problemas de aprendizagem apenas a fatores individuais – físicos ou psicológicos – a Escola Nova esquecia-se de que esse projeto seria inviável em uma sociedade dividida em classe, regida por determinantes econômicos, políticos e sociais mais amplos. (Idem, Ibidem) Para Saviani (1982) aponta que estudos apoiados nos princípios da Sociologia da Educação, procuraram chamar a atenção para o peso das condições mais amplas da sociedade na determinação dos problemas de aprendizagem. Não obstante, tenham denunciado o radicalismo das abordagens anteriores, terminou por disseminar uma postura radical. Haja vista, que o social tornou-se o único fator existente, onde foi perdida de vista a multiplicidade de aspectos que o humano apresenta e, não pode ser deixada de lado durante a abordagem de questões relacionadas aos problemas de aprendizagem. (Idem, Ibidem) Assim sendo, tanto quanto a análise, as ações sobre os problemas de aprendizagem devem inserir-se num movimento mais amplo de luta pela transformação da sociedade. 1.3 - Aprendizagem e o Fracasso Escolar As diferenças individuais que existem em cada criança levam algumas a serem mais lentas na aprendizagem, enquanto outras aprendem mais rapidamente. Sabe-se, portanto, que existe um grande número de pesquisas que visam levantar as causas do fracasso escolar (PATTO, 1990) Entretanto, essa preocupação vem de longas datas e os pesquisadores vêm procurando, de certa forma, explicar o insucesso escolar através de características físicas e psicológicas, estudando não somente as condições sociais, como também, os métodos educacionais que implicam essa questão. (Idem, Ibidem) O autor assinala ainda que ao longo do século XIX buscou-se a explicação para os problemas de aprendizagem nos conhecimentos oriundos das ciências biológicas e da medicina, ou seja, procurava-se em alguma anormalidade orgânica a justificativa para o fracasso das crianças com dificuldades escolares. Cabe ressaltar que surge em outros países, na década de trinta, a inclusão de novos conceitos psicanalíticos no meio escolar. Segundo Coelho (1998) no Brasil, isso somente ocorreu por volta das décadas de sessenta e setenta, acarretando a mudança da visão dominante de doença mental, mas também as concepções correntes sobre as causas das dificuldades de aprendizagem. Nesse cenário, a influência ambiental passou a ser considerada no desenvolvimento da personalidade nos primeiros anos de vida, provocando uma mudança de terminologia no discurso da Psicologia Educacional, iniciando-se, assim, uma nova forma de pensar. Cresce, assim, a interpretação de que a criança que apresentava problemas de aprendizagem deixou de ser considerada anormal passando a ser designada como criança com dificuldade de aprendizagem. Acredita-se que também, como dito anteriormente, que o aspecto social e sua relação com o fracasso escolar começam a ser enfatizado pelos pesquisadores, nas décadas de sessenta e setenta na Europa, e na década de oitenta, no Brasil. Seguindo essa trajetória, emergem-se os primeiros questionamentos relacionados à patologização, aqui consideradas gênese das dificuldades escolares Porém, o ponto central de interesse passou a ser o papel da escola, relacionada ao efetivo preparo da clientela que a freqüenta. (SCOZ, 1994) Contudo, as dificuldades de aprendizagem deixaram de ser os únicos componentes pesquisados como sendo um problema exclusivo do aluno, uma vez que, os fatores intra-escolares e os de ordem social, econômico e político envolvidos na educação também passaram a ser investigados. Portanto, pode-se dizer que a aprendizagem consiste num processo gradual, pois se aprende aos poucos, durante toda a nossa existência. Consiste em um processo constante, contínuo onde cada indivíduo tem seu ritmo próprio de aprendizagem (ritmo biológico) que, conjuntamente com seu esquema próprio de ação, constituirá sua individualidade. (CHALITA, 2001) Assim sendo, a aprendizagem constitui-se um processo pessoal, individualizado, com fundo genético e dependente de vários fatores. Elencase como principais fatores os sócio-econômicos-culturais, os biológicos, nos quais estão os genéticos; fatores pré, peri e pós-natais; fatores neurobiológicos e neurofisológicos. (Idem, Ibidem) Nos fatores sócio-econômicos-culturais encontra-se grande número de pesquisas revelando que o maior índice de fracasso escolar ocorre com crianças pobres. Assim, as pesquisas indicam que o problema do fracasso escolar diz respeito à condição econômica da família. (Idem, Ibidem) Sobre a questão Mello (1992) assinala que é, sobretudo, à família, juntamente com suas características culturais ou situação econômica se atribui predominantemente, em última análise, a responsabilidade pela presença ou ausência das pré-condições de aprendizagem na criança. No entanto, o fato de os alunos serem bons ou maus está profundamente aliado às características da instituição familiar da qual ele provém, as quais, por sua vez, refletem as condições econômicas, sociais e culturais em que vive a criança e o adolescente. (SAVIANI, 1982) Diante dessa perspectiva acredita-se que a família ideal deveria ser relativamente composta de pai, mãe e dois ou três filhos no máximo, e a família numerosa poderia ser considerada indesejável e inconveniente. (ROUDINESCO, 2003) Em síntese, existe certo ponto de convergência que aponta os fatores sócio-econômicos-culturais como influentes no rendimento escolar, mas, não são suficientes para explicar isoladamente os altos índices do fracasso escolar nas séries iniciais do ensino fundamental e médio. Vale ressaltar que outros fatores podem estar a intervir no desenvolvimento escolar do aluno e diretamente ligado à sua aprendizagem. Dentre eles estão os fatores genéricos, onde se apresenta o meio social atuando como facilitador do desenvolvimento, e contribuindo de modo relevante para análise da reeducação das dificuldades de aprendizagem, tornando-se importante nesta abordagem. (MELLO,1992) Sobre os fatores pré, peri e pós-natais pode-se observar que os estudos apontam que as crianças, cujas mães tiveram complicações na gravidez, no parto ou nasceram prematuras, uma grande porcentagem de dificuldades de aprendizagem. Esse fator é analisado para que se possa fazer uma reeducação com as crianças que se enquadram nesse limite. (Idem, Ibidem) Para Drouet (2000), quanto aos fatores neurobiológicos e neurológicos pode-se considerar que a aprendizagem é dependente da organização neurológica do cérebro, e, sabendo-se que tal função depende dos fatores genéticos é compreensível que alguns fatores bioetiológicos sejam de natureza neurológica e neurofisiológica. Mas a autora ainda diz que muitas crianças podem apresentar dificuldades de aprendizagem, mas não possuem lesões no cérebro, contudo, a maioria as evidenciam. Até os três anos o cérebro aprende as aquisições mais fulcrais e cruciais que perduram por toda a vida. A deficiência protéica pode nessa fase deixar rastros de perturbação tônica, falta de atenção, problemas de motricidade, hiperritibilidade, instabilidade emocional e outros. Com base nesses pressupostos, há de se considerar que o fracasso escolar é um “distúrbio que costuma ser encontrado nos primários anos escolares e depois a partir de 9 a 10 anos, ate a idade adulta. Nas séries iniciais o fracasso escolar diz respeito a leitura, escrita e cálculo”, segundo informa o autor supra citado. Portanto, torna-se imprescindível que a criança que apresenta dificuldades de aprendizagem seja detectada logo nas séries iniciais e encaminhada para especialistas que possam desenvolver um trabalho que lide com essas dificuldades, sendo capaz de evitar assim, o fracasso escolar, e as frustrações. CAPÍTULO II ABORDAGEM REFLEXIVA NA RELAÇÃO ENSINO-APRENDIZAGEM O objetivo básico do tratamento psicopedagógico constitui-se na desaparição do sintoma e a possibilidade para o sujeito de aprender normalmente ou, ao menos, no nível mais alto que suas condições orgânicas, constitucionais e pessoais lhe permitam. Entretanto, a aprendizagem não é uma função saudável em si mesma; com isto queremos dizer que não basta aprender para aprender bem a definir a aprendizagem pelos seus objetivos ideológicos, que resumiremos em três fundamentais tratamentos, conseguir uma aprendizagem que seja uma realização para o sujeito e uma outra aprendizagem independente por parte do sujeito, por fim, salientamos que é necessário propiciar uma correta autovalorização. Nesse sentido, Saltini afirma que: tenho a percepção de que estou aqui para, de certo modo, aliviar sofrimentos. Acredito ser a doença o resultado de uma desorganização do sistema orgânico, biofisiopsíquico, que resulta em uma dor espiritual ou até mesmo corporal. Partindo da avaliação destes aspectos, questiono o papel da “educação” e a função do “conhecer” no desenvolvimento do ser humano. (SALTINI, 2002, p. 11). Já Perrenoud (1999) argumenta que toda situação didática imposta de maneira uniforme a um grupo de educandos será inadequada, por isso, valoriza-se o ensino diferenciado. Em seu modo de pensar diz que ao diferenciar-se o ensino, organizam-se as interações e atividades, fazendo com que cada aluno se defronte de forma constante com situações didáticas que lhe sejam mais adequadas. (Idem, Ibidem) 2.1 - Aprendizagem e a Educação Psicopedagógica O processo de aprendizagem se inscreve na dinâmica da transmissão da cultura, que constitui a definição mais ampla da palavra da educação. Assim sendo, pode-se atribuir a esta última quatro funções interdependentes, no entender de Paín (1985). A primeira seria a função mantenedora da educação que ao reproduzir em cada indivíduo o conjunto de normas que regem a ação possível, garante a continuidade da espécie humana. De fato, a continuidade do comportamento está inscrita em sua maior parte na disposição genética, a continuidade da conduta humana se realiza através da aprendizagem. Nesse sentido, a instância ensino-aprendizagem permite a cada indivíduo, pela transmissão das aquisições culturais de uma civilização, a vigência histórica da mesma. A função socializadora Tort (1973 apud PAÍN, 1985) congrega a atualização dos utensílios, da linguagem, do habitat, transformando o indivíduo em sujeito. Contudo, a educação não ensina a comer, a falar ou a cumprimentar. O indivíduo, à medida em que se sujeita a tal legalidade, se transforma num sujeito social, e se identifica com o grupo, que com ele se submete ao mesmo conjunto de normas. Para Vasconi (1972 apud PAÍN, 1985) a função repressora permite a continuidade funcional do homem histórico, garantindo, dessa maneira a sobrevivência específica do sistema que rege uma sociedade. Contudo, a educação, pelo fato de cumprir simultaneamente funções conservadoras e socializadoras, não reprime no mesmo nível que outros aparelhos, como por exemplo, o jurídico-policial, pois produz uma auto-censura, através da qual o sujeito torna-se depositário de um conjunto de normas, que passa a assumir como sendo sua própria ideologia. Finalmente, na função transformadora aparecem as contradições do sistema que produzem mobilizações primariamente emotivas. Logo, o sistema busca canalizar essas mobilizações mediante compensações reguladoras que o mantém estável, segundo Freire (1969 apud PAÍN, 1985). Entretanto, quando essas contradições são assumidas por grupos situados no lugar da ruptura elas se impõem às consciências de maneira crescente. Em síntese, em função do caráter complexo na função educativa a aprendizagem se dá simultaneamente como instância alienante e como possibilidade libertadora. Nesse cenário, o sujeito que não aprende não realiza nenhuma das funções sociais da educação, acusando sem dúvida o fracasso da mesma, mas sucumbindo a esse fracasso. A psicopedagogia, como técnica da condução do processo psicológico da aprendizagem, traz com seu exercício o cumprimento de ambos os fins educativos. Entretanto, o problema de aprendizagem mais grave não é o daquele sujeito que não cumpre a norma estatística, mas sim daquele que constitui a oligotimia social, que produz sujeitos cuja atividade cognitiva pobre, mecânica e passiva, se desenvolvem muito alguém daquilo que lhe é estruturalmente possível. (COELHO, 1998). Cabe diferenciar dos problemas de aprendizagem aquelas perturbações que se produzem exclusivamente no marco da instituição escolar. Os problemas escolares se manifestam na resistência às normas disciplinares, na má integração no grupo de pares, na desqualificação do professor, na inibição mental ou expressiva, entre outros. Geralmente, aparecem como formações reativas diante de elaboração inadequada da transição do grupo familiar ao grupo social. Por fim, deve-se assinalar o alcance da psicopedagogia com relação à intervenção pedagógica específica; permitindo a delimitação do terreno de competência do psicólogo dedicado à aprendizagem, bem como, o terreno do especialista em ciências da educação. Assim sendo, a intervenção psicopedagógica volta-se para a descoberta da articulação que justifica o sintoma e também para a construção das condições para que o sujeito possa situar-se num lugar tal que o comportamento patológico se torne dispensável. (PAÍN, 1985) 2.2 - O processo de aprendizagem Segundo Thorpe (1959 apud PAÍN, 1985) o processo de aprendizagem não configura nem define uma estrutura como tal, e o fato de certos acontecimentos serem passíveis de classificação, sem confusão, sob o nome “aprendizagem” se deve mais à sua função e modalidade, e no melhor dos casos à sistematização das variáveis intervenientes do que à sua assimilação a uma construção teórica coerente. Desse modo, se a aprendizagem não é uma estrutura, não resta dúvida de que ela constitui um efeito, e neste sentido é um lugar de articulação de esquemas. No processo de aprendizagem acontece um momento histórico, um organismo, uma etapa genética da inteligência e um sujeito, associado às outras tantas estruturas teóricas. Referimo-nos principalmente ao materialismo histórico, à teoria piagetiana da inteligência e à teoria psicanalítica de Freud, enquanto instauram a ideologia, a operatividade e o inconsciente. (COELHO, 1998). Piaget (1970 apud PAÍN, 1985) assinala a presença de duas funções comuns à vida e ao conhecimento: a conservação da informação e a antecipação. A primeira refere-se à noção de “memória”, em cujo processo verifica-se dois aspectos: a aquisição da aprendizagem e a conservação como tal. Ele afirma ainda que, mesmo para as aprendizagens mais elementares, qualquer informação adquirida desde o exterior, será sempre em função de um marco ou esquema interno, que se supõe mais ou menos estruturado. Logo, a atividade assimiladora poderá conciliar em relação as descrições feitas para demonstrar a formação de reflexos condicionados e a dos condicionamentos instrumentais. Estes últimos aparecem como descobertas cujas relações são resultantes de uma ação sobre a realidade, sendo orientada pela coordenação de esquemas surgidos através de um processo de diferenciação dos dados sobre os quais estes esquemas se aplicam e aos quais se acomodam. A herança se inscreve no cérebro, na disponibilidade morfológica de conexões possíveis e na maravilhosa síntese da molécula DNA1 e aparece programada em alguns reflexos instintivos que, como o da sucção, desdobram-se com mecanismos assimiladores das primeiras aprendizagens. (PAÍN, 1985). Na visão de Scoz (1994), existem três tipos de conhecimento: o das formas hereditárias programadas definitivamente de antemão, junto ao conteúdo informativo relacionado ao meio no qual o indivíduo atuará; o das formas lógicomatemáticas que se constroem segundo estádios de equilibração crescente e por coordenação progressiva das ações que se cumprem com os objetos e, em terceiro lugar o das formas adquiridas em função da experiência, que fornecem ao sujeito informação sobre o objeto e suas propriedades. Nesse contexto, os dois últimos aspectos prolongam o funcionamento do primeiro, mutuamente implicados, já que, se por um lado, toda ação constitui-se em ação sobre um objeto, por outro lado esta ação se desdobra com certa organização, impressa no marco das estruturas lógicas permitindo uma correta leitura da experiência. Entretanto, do ponto de vista biológico, e dentro da epistemologia genética, ocorreria uma aprendizagem em sentido amplo, constituída como um desdobramento funcional de uma atividade estruturante, resultando na construção definitiva das estruturas operatórias esboçadas em tal atividade. 1 Consiste numa molécula orgânica que, quando transcrita em RNA, tem a capacidade de codificar proteínas. Tem a forma parecida com uma escada espiral cuja disposição dos degraus se dá em quatro partes moleculares diferentes. Esta disposição constitui as chamadas quatro letras do código genético. Contudo, haveria, também, uma aprendizagem em sentido mais estrito que permite o conhecimento das propriedades e das leis dos objetos particulares, sempre por assimilação a essas estruturas que permitem uma organização inteligível do real. Gréco (1959 apud PAÍN, 1985) julga conveniente diferenciar três tipos de aprendizagem, numa abordagem estritamente psicológica. Primeiramente o sujeito adquire uma nova conduta, adapta-se a uma situação anteriormente desconhecida, surgida dos sancionamentos ocasionados pela experiência aos ensaios mais ou menos arbitrários do sujeito. O ensaio e erro deve ser dirigido e o erro ou o êxito assumido em função da organização prévia, que como o tal, demonstra ser incompetente ou correta. (Idem, Ibidem) Em segundo lugar, ocorre uma aprendizagem da regulação que rege as transformações dos objetos e suas relações mútuas. Assim, a experiência tem por função confirmar ou corrigir as hipóteses ou antecipações surgidas da manipulação interna dos objetos. Por fim, surge a aprendizagem estrutural, que se vincula ao nascimento das estruturas lógicas do pensamento, através das quais é possível organizar uma realidade inteligível e cada vez mais equilibrada. (Idem, Ibidem). Mesmo que não se possam considerar tais estruturas como aprendidas, a experiência cumpre, no entanto, a função relevante e necessária de pôr em cheque os esquemas anteriormente constituídos, demonstrando, em alguns momentos sua incompetência para dar conta de certas transformações. No nível social pode-se considerar a aprendizagem como um dos polos do par ensino-aprendizagem, cuja síntese constitui o processo educativo. No entender de Scoz (1994) tal processo compreende todos os comportamentos dedicados à transmissão da cultura, inclusive os objetivos como instituições que, específica (escola) ou secundariamente (família), promovem a educação. Nessa perspectiva, educar consiste então em ensinar, no sentido de mostrar, de estabelecer sinais, de marcar como se faz o que pode ser feito. A criança aprende a expressar-se, a vestir-se, a escrever, e também a não se sujar, a não se atrasar, a não chorar. Fazer o que a educação prescreve, tem por direito e constituição do ser que determinado grupo social precisa: ser respeituoso, limpo, pontual, sem afetações, entre outros. Segundo Paín (1985) é através da ação desenvolvida e reprimida que o sujeito incorpora uma representação do mundo, ao qual por sua vez se incorpora e se sujeita. Toda transmissão de cultura supõe uma amostra, uma seleção de modalidades de ação cujo determinante pode ser a situação do educando na relação de produção. Segundo Manacorda (1959 apud PAÍN, 1985), a transmissão da cultura é sempre ideológica, na medida em que é seletiva, sendo própria da conservação de modos peculiares de operar, e, portanto serve à manutenção de estruturas definidas de poder. Nesse cenário, métodos de análise que se baseiam o materialismo histórico, apoiados em outros recursos particularmente inspirados na lingüística estrutural, permitem a denúncia das representações implícitas nos conteúdos transmitidos. Na escolha entre a pulsão e a civilização, a civilização venceu. Através da educação a civilização pretende manter a pulsão em seus trilhos, e aproveitar sua energia em obras culturais. Nesse sentido, o pensamento associativo permite então resolver a pressão dos impulsos ao oferecer às demandas pulsionais vias que levam as satisfações substitutivas, interpolando, entre a necessidade e o desejo, o adiamento que supõe o trabalho mental. (GARDNER, 1994). Para o autor supracitado o ego é uma estrutura cujo objetivo é estabelecer contato entre a realidade psíquica e a realidade externa, postulando uma função alfa capaz de transformar os dados sensoriais em elementos utilizáveis para ser pensados, rememorados e sonhados. Nesse contexto, a aceitação do real perante o princípio do prazer é levada a efeito mediante a função sintética do ego, já que este é capaz de pensar e, portanto, de adiar o cumprimento de um ato e de antecipar as condições em que este ato é possível. Para Lacan (1971 apud PAÍN, 1985), outra possibilidade da inteligência humana sem a qual seria impossível deter a demanda impulsiva é a de atender e memorizar, que põe o sujeito em atitude expectante com relação ao exterior. Portanto, pode-se considerar que a aprendizagem aglutina num só processo a educação e o pensamento, já que ambos se possibilitam mutuamente no cumprimento do princípio de realidade. Assim sendo,o ego constitui-se numa instância que submete (re-signa), convém tomar este vocábulo no seu sentido de “voltar a significar”, como ato que consente na conformação e, portanto, ser frustrado. No entender de Bachelard (1972 apud PAÍN, 1985), a simples revisão do sentido da aprendizagem desde diferentes níveis de interpretação da realidade evidencia e dificuldade para compreendê-la como objeto único e científico. Desse modo, a síntese não se dá a nível teórico e sim no fenômeno. O sujeito aprende que pertence a um grupo social particular passível de ser definido estruturalmente por meio de materialismo dialético, um equipamento mental geneticamente determinado, uma continuidade biológica funcional. Entretanto, mesmo a equação que possa resolver esta coincidência individual, não pode considerar-se ainda como uma construção, embora dela se aproxime paulatinamente. A ênfase nos aspectos afetivos da aprendizagem acabou levando os psicopedagogos a utilizarem um número exagerado de testes e de instrumentos de mensuração, na tentativa de encontrar índices que os conduzissem a um diagnóstico. Com o passar do tempo, essa medida mostrou-se não só eficaz, mas prejudicial, pois alguns alunos acabavam estigmatizados como incapazes para aprender. (COELHO, 1998). Os psicopedagogos, à luz de contribuições de diversas áreas do conhecimento como, por exemplo, da Psicologia, Sociologia, Antropologia, Lingüística, Psicolingüística, vêm reformulando sua linha de análise. Segundo, Ferreiro (1986) que, partindo-se da teoria piagetiana, busca novos caminhos para o entendimento da construção da aprendizagem da leitura e da escrita e redimensiona a concepção de problema de aprendizagem ao considerar muitos erros freqüentemente cometidos na produção oral e escritos como hipóteses que a criança elabora na construção do próprio conhecimento. Outra vertente que contribui para redimensionar a concepção de problema de aprendizagem é representada pelo modelo sócio-interacionista, no qual se destaca o trabalho de Vygotsky (1988). Para o autor, o desenvolvimento cognitivo das crianças é determinado por processos biológicos, guiado, pelas interações sociais, o desenvolvimento das habilidades cognitivas. À medida que as crianças crescem, internalizam as operações e as direções verbais fornecidas pelos adultos, utilizando-as para dirigir seu próprio pensamento. Dessa maneira, as reais relações entre processo de desenvolvimento e capacidade de aprendizado só podem ser especificadas através de dois níveis de desenvolvimento: o nível real, indicativo do nível de desenvolvimento mental da criança e o nível potencial, determinado pela solução de problemas sob orientação de um adulto ou de companheiros mais capacitados. (VYGOTSKY 1988) À distância entre o nível de desenvolvimento efetivo e o nível de desenvolvimento potencial é chamada zona de desenvolvimento proximal. Vygotsky (1988) chama a atenção para a restrição do seu alcance como instrumento de medida, pondo por terra os conceitos baseados na testagem clínica, comuns no meio educacional e que tanto têm contribuído para rotular as crianças como incapazes para aprender. O conceito de zona de desenvolvimento proximal relativiza os métodos de diagnóstico dos problemas de aprendizagem, uma vez que diferenças qualitativas no ambiente social das crianças são consideradas com mais firmeza, deixando-se de restringir o problema de aprendizagem apenas à própria criança. (GARDNER, 1994). Sendo assim nessa concepção o papel da aprendizagem também é revisto,se entendermos a aprendizagem como um processo profundamente social, que deve focalizar formas emergentes de aprender. Preocupados com o modelo teórico que dê unidade ao processo de aprendizagem e aos problemas dele decorrentes, esses autores ocupam-se particularmente das relações entre inteligência e afetividade, considerando, ainda, as contribuições do materialismo histórico. Ao dimensionarem o processo de aprendizagem, levam em conta a interferência de aspectos biológicos, cognitivos, emocionais e sociais. Na concepção de Visca (1987) a aprendizagem é apreendida como uma construção intrapsíquica, com continuidade genética e diferenças evolutivas, resultantes das pré-condições energético-estruturais do sujeito e das circunstâncias do meio. Já para Paín (1985) a aprendizagem depende: da articulação de fatores internos e externos ao sujeito. Os fatores externos são aqueles que dependem das condições do meio que circula o indivíduo. Para a autora, a aprendizagem tem três funções. Função socializadora, que à medida em que o indivíduo aprende, ele se submete a um conjunto de normas, identificando-se com o grupo ao qual pertence transformando-se em um ser social. Função regressiva, que pode significar uma forma de controle, garantindo sobrevivência específica do sistema que rege a sociedade. E, finalmente, a função transformadora, que direciona a atuação dos psicopedagogos, permitindo ao sujeito uma participação na sociedade, não na perspectiva de reproduzi-la, mas de transformá-la. Os problemas de aprendizagem são considerados, pela autora, não como o contrário de aprender, mas como um processo diferente deste, um estado particular de um sistema que, para equilibrar-se, precisou adotar um determinado tipo de comportamento que determina ou não aprender e que cumpre assim uma função positiva. Ao apresentarem uma concepção mais completa do ser humano, estes autores tiveram um mérito de oferecer à Psicopedagogia uma visão da pluricausalidade de fatores que envolvem o processo de aprendizagem, evidenciando a necessidade de um conhecimento multidisciplinar na ação psicopedagógica. 2.3 - Condições Internas e Externas da Aprendizagem Segundo Pain (1985) o sujeito e o objeto não são dados como instâncias originalmente separadas pelo contrário, eles se discriminam justamente em virtude da aprendizagem e do exercício. À medida que exerce “sua atividade sobre o mundo, o bebê pode construir, apesar das transformações, objetos permanentes, entidades diferentes dele e idênticas a si mesmas”. (PAÍN, 1985, p.21) Em síntese, ressalta-se que existem dois tipos de condições para a aprendizagem: as externas, que definem o campo do estímulo, e as internas que definem o campo do estímulo, e as internas que definem o sujeito. Umas e outras podem estudar-se em seu aspecto dinâmico, como processos, e em seu aspecto estrutural como sistemas. A combinatória de tais condições nos leva a uma definição operacional de aprendizagem, pois determina as variáveis de sua ocorrência. (PAÍN, 1985) 2.4 - Problemas de Aprendizagem: Perspectiva Multidimensional Segundo Gagné (2001), o critério geral para determinar a ocorrência de aprendizagem é que se possa mostrar que ocorreu uma mudança no comportamento do indivíduo. O indivíduo deve saber fazer ou dizer aquilo que foi previsto na definição operacional dos objetivos da aprendizagem. A ocorrência de aprendizagem é inferida pelo comportamento que o indivíduo apresenta antes e depois da situação de aprendizagem. A incapacidade de exibir certo comportamento antes da aprendizagem deve ser levada em conta tanto como a capacidade de exibi-lo após a aprendizagem. A existência de capacidades iniciais é de fundamental importância. Notadamente, o conjunto de capacidades iniciais possuídas pelo aprendiz constitui as condições internas à aprendizagem. (Idem, Ibidem) Existe, no entanto, um segundo conjunto de condições de aprendizagem que são externas ao aprendiz e independentes dele. Suponha-se, então, que um conjunto de indivíduos possua as capacidades e os pré-requisitos para aprender determinado conteúdo ou determinada habilidade. Independentemente do tipo de emissor, o receptor é um aluno e as funções que intervém na recepção de informações e sua memorização, constituindo o que se chama de cadeia interna, é um sistema biológico e, portanto, pode diferir de indivíduo para indivíduo. Conseqüentemente, a ocorrência da aprendizagem dependerá das condições em que o indivíduo receber a informação. Por exemplo, no caso de ensino coletivo, um aluno para o qual o ritmo de apresentação das informações for inferior ao tempo da resposta (que depende da cadeia interna), não poderá dar boas respostas às perguntas formuladas e provàvelmente será qualificado de pouco inteligente ou preguiçoso. (Idem, Ibidem) Na transmissão pedagógica de informações deve haver ressonância entre o emissor e o receptor, e o emissor é que se deve pôr em concordância com o receptor. (Idem, Ibidem) Caberá, portanto, ao professor organizar as condições externas, de tal modo que ocorra a aprendizagem. Além disso, não há razão nenhuma para que em diferentes tipos de aprendizagem as condiç0es externas devam ser organizadas da mesma maneira. Organizar condições externas não é, de forma alguma, simplesmente preparar uma boa aula expositiva, ilustradas com filmes ou slides; é criar condições para que o aluno aprenda participando ativamente do processo de aprendizagem. (Idem, Ibidem) Para tanto, torna-se necessário selecionar convenientemente o conteúdo, definir os objetivos de maneira operacional, escolher as estratégias de ensino, selecionar estímulos, entre outros. Há linhas desenvolvimento,a de pensamento saber: acerca objetivista, das subjetivista, abordagens do cognitivista, e sociointeracionista. Na linha objetivista, identifica-se nesta linha de pensamento o controle do comportamento do homem. O professor era punitivo e a forma de ensinar aos alunos era severa e ameaçadora. A figura do aluno não estava no centro das atenções. Os conteúdos eram mais valorizados e aluno passivo assimilava ou não os ensinamentos. Nesta concepção, também abordada como visão ambientalista, o grande defensor desta linha era Burrhus Frederic Skinner (1904-1990), que atribui um imenso poder ao ambiente no desenvolvimento humano. Nesta concepção, observa-se que trona-se possível controlar o comportamento. O indivíduo busca maximizar o prazer e minimizar a dor e é possível controlar o comportamento. É uma visão do indivíduo enquanto ser reativo à ação do meio. Através de reforço, tal como elogios (consequências positivas) aumenta a incidência de comportamentos favoráveis. Com punição ou seja as conseqüências negativas, leva-se a diminuição de incidências de comportamentos não favoráveis. (Idem, Ibidem) Nessa linha de pensamento, a aprendizagem pode ser entendinda como o processo pelo qual o comportamento se modifica como resultado da experiência. Entretanto, para que ocorra a aprendizagem torna-se necessário considerar a natureza dos estímulos presentes na situação, tipo de resposta que se espera obter e o estado físico e psicológico do organismo. Crianças privadas de afeto tornam-se excessivamente dependentes da aprovação da professora: são incapazes de tomar iniciativa, por medo de que a sua maneira de se comportarprovoque sanções e reprimendas. Na linha subjetista,destaca-se o olhar para o sujeito que ensina. O professor vira o catalisador dos processos de aprendizagem. Sua função é facilitar o aprendizado , independentemente da metodologia que use. Assim, o professor buscará a autenticidade, ser realmente quem ele é. Compreender o sujeito que está sob os seus cuidados, suas motivações internas e seus comportamentos expressos, criando uma empatia. A responsabilidade do aluno seria a de selecionar os conteúdos segundo seu significado e sua personalidade. A abordagem cognitivista tem sua representação mais significativa na figura e nas obras do suiço Jean Piaget. Este por sua vez, buscou reconhecer a capacidade da criança em julgar e elaborar as suas teorias de conhecimento a fim de explicar a realidade, como constroem as noções fundamentais do conhecimento lógico: tempo, espaço, objeto, causalidade, poderia compreender a gênese e a evolução do conhecimento humano. Percebe-se, então, que a lógica do funcionamento mental do adulto difere da lógica do funcionamento mental da criança. A linha sociointeracionista ficou conhecida por considerar o meio social como promovedor do desenvolvimento afetivo e cognitivo do sujeito. As relações de aprendizagem não se dão apenas de objeto para sujeito e na ação do sujeito com o meio. A palavra chave dessa abordagem é a interação. Na visão de Freitas (1994) isso é: o reflexo do mundo externo no mundo interno, ou seja, a interação do homem com a realidade; não o mundo interno em si mesmo, mas afetividade consciente do homem, que se compreende em sua história social, relacionada diretamente com o trabalho e com a linguagem. (FREITAS, 1994, p.11) Dessa forma, pode-se falar de um sujeito que, aos poucos, caminha para uma crescente individualização. Uma internalização dos processos de aprendizagem que levará toda uma vida partindo da relação dialética entre a ontogênese (desenvolvimento do homem) e a filogênese (desenvolvimento da espécie). Vygotsky (1988) e colaboradores deram sua contribuição permitindose que se tivesse uma visão mais integrada e histórica do homem que até então estava dilacerada. Pesquisaram-se ainda os processos mentais inferiores (memória, percepção, entre outros), sua transformação em processos mentais superiores. Todavia, as pesquisas com animais puderam contribuir à medida que Vygotsky (1988) percebeu que as linhas de desenvolvimento do pensamento e da linguagem nos animais e nos homens eram distintas, ao longo de suas vidas. Pondera que no homem, essa evolução que até determinado momento era equivalente a dos animais, dava saltos qualitativos e quantitativos significativos. A partir dessa perspectiva, a inclusão de um mediador entre o sujeito e o objeto de construção do conhecimento viabilizou novas formas de se dar à relação ensino-aprendizagem. Outro conceito impetrado em conseqüência disso foi o de zona de desenvolvimento proximal, chamado por Vygotsky (1988) por ZDP. Assim, a distância que existia entre o desenvolvimento já apresentado e adquirido pelo sujeito e o aprendizado que poderia vir a ter com a ajuda de um colega, do professor ou de outros instrumentos, como o computador. Em síntese, o aprendizado em pequenos grupos pode ser incentivado e a imitação se torna a base para novos aprendizados. As concepções de Vygotsky (1988) sobre o processo de formação de conceitos remetem às relações entre pensamento e linguagem, à questão cultural no processo de construção de significados pelos indivíduos, ao processo de internalização e ao papel da escola na transmissão de conhecimento, que é de natureza diferente daqueles aprendidos na vida cotidiana. O outro social pode apresentar-se por meio de objetos, da organização do ambiente, do mundo cultural que rodeia o indivíduo. A linguagem, sistema simbólico dos grupos humanos representa um salto qualitativo na evolução da espécie. É ela que fornece os conceitos, as formas de organização do real, a mediação entre o sujeito e o objeto do conhecimento. O processo de internalização é fundamental para o desenvolvimento do funcionamento psicológico humano. Com dito anteriormente, o desenvolvimento cognitivo pode ser produzido pelo processo de internalização da interação social com materiais fornecidos pela cultura, sendo que o processo se constrói de fora para dentro. Na visão de Vygotsky (1988) a atividade do sujeito refere-se ao domínio dos instrumentos de mediação, inclusive sua transformação por uma atividade mental. Trata-se de um processo que caminha do plano social - relações interpessoais - para o plano individual interno - relações intrapessoais. É possível verificar ainda como fator relevante para a educação, a importância da atuação dos outros membros do grupo social na mediação entre a cultura e o indivíduo, pois uma intervenção deliberada desses membros da cultura, nessa perspectiva, é essencial no processo de desenvolvimento. Nesse contexto, a aprendizagem torna-se fundamental ao desenvolvimento dos processos internos na interação com outras pessoas, e o ensino deve passar do grupo para o indivíduo. Em verdade, observa-se que Piaget coloca ênfase nos aspectos estruturais e nas leis de caráter universal (de origem biológica) do desenvolvimento, enquanto Vygotsky (1988) destaca as contribuições da cultura, da interação social e a dimensão histórica do desenvolvimento mental. A partir desta abordagem que dá ênfase nas interações sociais, destacando-se o papel determinante do outro no desenvolvimento e na constituição do indivíduo, tem se configurado uma tendência na consolidação de teorias que se baseiam numa visão mais integrada do ser humano. Alguns estudos como o de Tassoni (2000) suscita a contribuição para a relevância da dimensão afetiva na constituição do sujeito e do conhecimento. Há de se destacar que na literatura eventualmente, pode-se encontrar o emprego dos termos afeto, emoção e sentimento, aparentemente como sinônimos. Vale ainda lembrar que Henri Wallon (1872-1962) dedicou grande parte de seu trabalho ao estudo da afetividade, adotando uma abordagem fundamentalmente social do desenvolvimento humano. Segundo o autor, logo ao nascer, a criança manifesta um tipo de movimento totalmente ineficaz do ponto de vista da transformação do ambiente físico, chamado por ele de impulsivo. Assim, a partir das interpretações dos adultos os gestos da criança ganham significado. Ao defender o caráter biológico das emoções, destacase que estas se originam na função tônica, provocando um tipo de alteração muscular. Como se pode observar, Wallon (1968) defende que, no decorrer de todo o desenvolvimento do indivíduo, a afetividade tem um papel fundamental. Da mesma forma, seria através da afetividade que o indivíduo possui força em acessar o mundo simbólico, originando a atividade cognitiva e possibilitando o seu avanço. Sendo assim, em cada fase do desenvolvimento, os aspectos afetivos e cognitivos estão em constante entrelaçamento. Segundo Galvão (1996, p. 45) os conceitos de alternância e preponderância funcionais, eram destacados por Wallon quando se referi à predominância alternada da afetividade e da cognição nas diferentes fases do desenvolvimento: “apesar de alternarem a dominância, afetividade e cognição não se mantém como funções exteriores uma à outra”. No estreito entrelaçamento entre afetividade e cognição, as conquistas do plano afetivo são utilizadas no plano cognitivo, e vice-versa. No início da década de 30, voltou sua atenção para o estudo das emoções, na tentativa de combater a visão dualista da época. A maioria das teorias das emoções da época, concentrando-se nas manifestações orgânicas, não considerava o aspecto psicológico dos processos emocionais. Delineava-se assim, uma abordagem enfatizando a questão do significado, afirmando que as transformações orgânicas desvinculadas do contexto não são suficientes para produzirem a emoção. Ao assumir uma perspectiva de desenvolvimento para as emoções, destaca que não há uma redução ou desaparecimento das mesmas, mas, na verdade, sugere que existe um deslocamento para o plano do simbólico, da significação e do sentido. Supõe-se que a afetividade se constitui como um fator de grande importância na determinação da natureza das relações que se estabelecem entre os sujeitos (aluno) e os diversos objetos de conhecimento (áreas e conteúdos escolares), bem como, na disposição dos alunos diante das atividades propostas e desenvolvidas. Autores como Tassoni (2000) têm buscado delimitar, com mais precisão, o possível papel da afetividade no processo de mediação do professor. Para tanto, identificaram que a interpretação que esses alunos fazem do comportamento das professoras em situações de ensinoaprendizagem é de natureza afetiva. No entanto, a questão da afetividade em sala de aula não se restringe apenas às relações entre professor e aluno. Sabe-se que a natureza da experiência afetiva depende da qualidade da mediação vivenciada pelo sujeito, na relação com o objeto. Em síntese, essa perspectiva deve ser repensada e desenvolvida levando-se em conta a diversidade dos aspectos relacionados ao processo de ensino-aprendizagem. Não se pode mais restringir a questão do processo ensinoaprendizagem apenas à dimensão cognitiva, dado que a afetividade também é parte integrante do processo. 2.5 – O papel do Psicopedagogo no Contexto Ensino-Aprendizagem de Ensino Fundamental A importância da abordagem psicopedagógica no contexto do ensinoaprendizagem vem ocorrendo na assistência às pessoas que apresentam dificuldades de aprendizagem, tanto no diagnóstico quanto na terapia, hoje tem um grande desafio que é a inclusão. Diante de um baixo rendimento acadêmico, muitos indivíduos são encaminhados pelas escolas que freqüentam ou muitas vezes não aceitos no contexto escolar, por esta achar que não tem condições de espaço físico e pessoal capacitado para dar a devida assistência ao portador de necessidades especiais. (GARDNER, 1994) Com o advento da psicopedagogia estas crianças terão mais chances de serem aceita, dentro de seu próprio meio educacional, familiar e social. O termo repetência, apoio, ajuda passa ater uma direção de inclusão e não de exclusão. A psicopedagogia amplia seu espaço cada vez mais, pois os desempenhos acadêmicos apresentam um baixo rendimento e o impacto que a inclusão está causando no universo escolar ainda é objeto de muitos estudos e aprofundamentos. Diante do baixo rendimento acadêmico, os alunos são encaminhados pelas escolas que freqüentam, como o objeto de elucidar a causa de suas dificuldades. A dificuldade fica sempre centrada em quem aprende, ou melhor, em quem não aprende. Diferente de estar com dificuldade, o aluno manifesta dificuldades, revelando uma situação mais ampla, onde também se inscreve a escola e sua família, parceiras que são nos processos de aprendizagem, Analisar a dificuldade de aprender, esta necessariamente na diretriz pedagógica escolar, nas suas didáticas de ensino, no que é valorizado como conhecimento/aprendizagem. (FERNANDÉZ, 1996). O trabalho psicopedagógico é um desafio em um contexto tão heterogêneo como do universo da Inclusão Escolar, este possibilita o aprender, o trocar, o pensar com o outro. Toma-se uma relação ensinante/aprendente e aprendente/ensinante. O professor deixa de ser um simples instrumento didático para se tornar um ser vivente neste processo psicopedagógico. (TASSONI, 2000). Tem como metodologia abordar os princípios psicopedagógicos no caminho da dificuldade de aprendizagem. Sua abordagem tem como parâmetro à nova legislação vigente no país. (Idem, Ibidem) Dentro de várias metodologias aplicadas nestes últimos anos, ela aborda epistemologicamente e metodologicamente os instrumentos e teorias necessárias, mas, também coloca a experiência de vida das pessoas envolvidas, dentro e fora do universo escolar, afirma que é possível uma relação e uma compreensão dialógica da subjetividade do mecanismo de interação do sujeito com o mundo. Em suma: o ser surge como uma totalidade existencial. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao término deste trabalho, chega-se ao consenso de que as pessoas aprendem de formas diferentes. Um único método não serve para todos. Logo, se aprender experimentando, realizando experiências que tem valor e significado. Aprende-se fazendo, agindo para que as coisas aconteçam ou ainda aprender-se pensando, planejando a ação e examinando idéias. Além disso, pode-se aprender refletindo, ou seja, estudando situações, pontos de vista e soluções. Neste ambiente, o cérebro é desafiado e ocorre uma aprendizagem ativa. Portanto, é fundamental conhecer nossos alunos e refletir sempre sobre as relações interpessoais que ocorrem na classe (professor x alunos e alunos x alunos). Considera-se normal, em todo agrupamento humano, haver pessoas com quem conseguimos estabelecer laços de empatia e outras com as quais o relacionamento é mais difícil. No entanto, também é freqüente que tentemos nos livrar de quem nos incomoda. As pessoas muito diferentes de nós ou que não correspondem às nossas expectativas são geralmente os alvos desse processo de exclusão. As diferenças entre as crianças não são, em geral, respeitadas nem nas famílias, onde os pais costumam estabelecer comparações entre os filhos, nem no sistema educacional, onde os programas e estratégias são rígidos, pré-estabelecidos. Espera-se que o aluno seja capaz de aprender o que o professor lhe transmite, ao invés de receber instrumentos para construir o seu próprio conhecimento, de acordo com suas possibilidades de aprendizagem. As crianças que apresentam dificuldades de aprendizagem acumulam repetências, não conseguem se alfabetizar, acabam abandonando a escola ou sendo rotuladas de deficientes e encaminhadas para classes especiais. Já as crianças com alguma deficiência mais evidente (física/motora, sensorial e outras) são segregadas em instituições especializadas perdendo a chance de conviver e participar da sociedade em geral, e, em ambos os casos, as crianças recebem um rótulo do qual dificilmente conseguirão se livrar. Contudo, embora a tendência do sistema educacional seja excluir aqueles que não estão adequados às expectativas da escola, o professor pode romper com esse modelo de educação. As situações educacionais desafiantes, com adequado nível de estresse, preparam os estudantes para lidar com as dificuldades naturais da vida, bem como para lidar com as dificuldades de aprendizagem que possivelmente podem ocorrer. Pesquisas mostram que as pessoas aprendem mais juntas; e mais ainda em ambientes ricos em estímulos. Assim, a aprendizagem é uma experiência social, enriquecida pela visão das outras pessoas. A partir desse pressuposto, observa-se que o aluno constrói conhecimentos através do dialogo com colegas e adultos. Neste contexto social, o estudante desenvolve competências e valores essenciais para viver na família, sociedade e, principalmente, no atual e exigente mundo do trabalho. Acredita-se que através de um processo estruturado seja possível facilitar e promover a comunicação, o relacionamento, a aprendizagem, a mobilização, a expressão e a organização (física, emocional, mental, social e cognitiva) desenvolvendo potenciais ou recuperando funções do indivíduo de forma que ele possa alcançar melhor integração intra e interpessoal, e conseqüentemente venha a ter melhor qualidade de vida. Estilo de aprendizagem é o método usado pelo individuo para pensar e aprender; a maneira como ele ou ele adquire novos conhecimentos. Respeitando os diferentes estilos de aprendizagem, o professor dá liberdade para cada um decidir como aprender e comunicar para a turma. Assim, no uso do estilo de aprendizagem visual, os alunos processam informações visualmente. Precisam ver para aprender, seja por escrito (palavras) ou ilustrado (desenhos). Preferem analisar e interagir com imagens. Desejável que se use recursos visuais: murais, slides, vídeos, filmes, álbum seriado, figuras, móbiles, fotos, caricaturas, histórias em quadrinhos e transparências. Para otimizar a aprendizagem, é interessante fazer com que os estudantes produzam mapas mentais e outros organizadores gráficos, usando lápis/canetas coloridas, e criam imagens mentais. Considerando que o cérebro pensa através de imagens, é importante que os estudantes aprendam a comunicar idéias complexas de formas não verbais, estimulando a alfabetização visual. Já na atribuição do estilo de aprendizagem auditivo; os alunos precisam ouvir pra aprender, e no estilo de aprendizagem sinestésico os alunos processam informações de forma sinestésica. Muitos educando, precisam envolver-se fisicamente para aprender: através de movimento e toque. Adoram dançar e atuar. Portanto, cabe ao professor oferecer oportunidades de vivencia e interação com colegas, inclusive durante exposições orais, mostrando-se afetivo a esses alunos que por ventura tenham algum tipo de dificuldades de aprendizagem. BIBLIOGRAFIA BOSSA. Nádia Aparecida. Dificuldades de aprendizagem o que são? Como tratá-las? Porto Alegre. Artes Médicas, 2002. CHALITA, Gabriel – Educação: a solução está no afeto. São Paulo: Gente, 2001. COELHO, Ana S.B. 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ÍNDICE INTRODUÇÃO 08 CAPÍTULO I 10 DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM 10 1.1 - Considerações Gerais ....................................................................................................................... 1 0 1.2 - Dificuldade de Aprendizagem no âmbito da Psicopedagogia ..................................................................................................................................... 1 1 1.3 - Aprendizagem e o Fracasso Escolar ....................................................................................................................... 1 7 CAPÍTULO II 22 ABORDAGEM REFLEXIVA NA RELAÇÃO ENSINO-APRENDIZAGEM 22 2.1 - Aprendizagem e a Educação Psicopedagógica ....................................................................................................................... 2 3 2.2 - O processo de aprendizagem ....................................................................................................................... 2 5 2.3 - Condições Internas e Externas da Aprendizagem ................................................................................................................................. 3 2 2.4 - Problemas de Aprendizagem: Perspectiva Multidimensional ................................................................................................................................. 3 3 2.5 – O papel do Psicopedagogo no Contexto Ensino-Aprendizagem de Ensino Fundamental ................................................................................................................................. 4 0 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................................................... 4 3 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................................. 4 6 ÍNDICE ................................................................................................................................. 4 8 ATIVIDADES CULTURAIS