O Contributo do Cluster da Electrónica e Telecomunicações para o
Desenvolvimento Económico Espanhol
O presente estudo visa caracterizar o cluster da electrónica, informática e telecomunicações (ICT),
emergente em Espanha, durante a década de 90. Trata-se dum cluster, que constitui um importante
instrumento de indução de novas competências e de transferência de tecnologia. Por um lado,
devido à quantidade de redes de cooperação existentes no seu seio e à intensidade das ligações
internas e externas que são estabelecidas entre os seus actores, e por outro lado, devido às
inúmeras novas tecnologias inseridas no contexto industrial, que contribuem significativamente para
o progresso dos restantes sectores empresariais e industriais.
O Cluster da Electrónica, Informação e das Telecomunicações
O cluster ICT caracteriza-se pela sua multipolaridade. Ou seja, composto por dois integradoresâncora, o cluster integra, por um lado, uma vasta rede de actores da área dos computadores e
equipamentos, e por outro um conjunto de actores da área das telecomunicações. A primeira rede
de cooperação considera como principal integrador-âncora, a Electrical Manufacturing, sendo os
clientes mais expressivos, os serviços de saúde e os serviços públicos. A plataforma das
telecomunicações, caracteriza-se pela existência dum numeroso grupo de empresas prestadoras de
serviços, que actuam enquanto fornecedores, constituindo-se a banca e os serviços financeiros os
seus principais clientes.
Fonte: Focus Group (1997)
Figura1 – As Redes de Cooperação que compõem o Cluster da Electrónica, Informática e das
Telecomunicações
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Os subsectores
O cluster da electrónica, informação e telecomunicações integra os seguintes sub-sectores:
ƒ
Consumíveis electrónicos;
ƒ
Componentes electrónicos;
ƒ
Electrónica profissional;
ƒ
Computadores;
ƒ
Telemática (telecomunicações e processamento de dados);
ƒ
Fornecedores de serviços
Se cruzarmos a análise dos indicadores económicos do cluster da electrónica, informação e
telecomunicações, com os indicadores globais da economia espanhola, podemos verificar que esta
indústria tem um peso muito significativo, ao nível da procura e da oferta. Embora, o cluster
apresente taxas de crescimento médio, abaixo dos valores de crescimento da economia espanhola,
os resultados desta análise, corroboram que o contributo económico que um cluster assume no
desenvolvimento económico, é superior, em detrimento do impacto individual que cada uma das
empresas possa criar.
Enquanto cluster, os actores recorrem, essencialmente, a tácticas defensivas de longo prazo.
Contudo, as empresas, numa lógica de cooperação em rede, podem utilizar diversas estratégias
para ganhar poder negocial, reforçando o seu reconhecimento enquanto fornecedores globais,
fazendo pressão no sentido da normalização e induzindo a criação de “jogadas” tecnológicas. Num
sector, constituído por um grande número de pequenas e médias empresas, a integração do
conceito de cooperação, na missão e na filosofia de actuação do mercado, constitui uma mais valia
significativa.
Dimensão e Distribuição Geográfica
A generalidade das empresas que integram o cluster ICT apresentam um número de empregados
inferior a 50, o que corresponde a um valor muito inferior ao valor médio europeu. Só as empresas
da indústria das telecomunicações, e algumas das empresas de electrónica e dos fornecedores de
serviços é que integram mais de 100 empregados, em média por empresa. A dimensão das
empresas é importante, quando entendemos que influi, cada vez mais, na propensão das empresas
para a cooperação. Para a generalidade das empresas, que integram o cluster ICT, caracterizadas
por serem de pequena e média dimensão, a cooperação e a interacção com entidades locais
assume particular importância no sucesso das suas actividades individuais. Ou seja, quanto mais
pequenas são as empresas, maior importância assume a cooperação enquanto instrumento
estratégico.
A maioria das empresas do Cluster ICT, estão concentradas em Madrid e na Catalunha, regiões
onde o conceito de sistema de inovação está fortemente enraizado. Isto significa que para as
empresas que compõem o ICT, tem sido evidente a importância do conceito de cooperação,
enquanto instrumento de optimização das imperfeições do próprio sistema de inovação em que se
encontram inseridas.
Multinacionais
Uma característica, igualmente, comum da indústria da ICT é a existência dum elevado número de
multinacionais. No caso da Espanha, cerca de 35% das empresas existentes são multinacionais,
sendo 11% de origem espanhola. Apesar da sua dimensão, estas multinacionais apresentam um
fraco impacto ao nível da interacção, com os diversos sistemas de inovação regionais. Não é
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suficientemente perceptível, se esta fraqueza advém do facto das multinacionais cooperarem muito
pouco com o sistema de inovação local ou se são muito pouco eficientes os resultados da inovação
a nível regional. Com efeito, a maioria destas multinacionais tem os seus departamentos de I&D
fora de Espanha. Usualmente interagem com os clientes e fornecedores locais, mas cooperam com
instituições de I&D, como universidades e centros tecnológicos, localizados fora de Espanha.
Dizimar a base de fornecedores dos clusters, aos locais, com o objectivo de manter o controlo da
inovação, seria contra-produtivo. É neste contexto, que a presença das multinacionais, no seio do
cluster ICT é fundamental. Integrar, isoladamente, fornecedores de pequenas dimensões, sem os
recursos necessários para inovar e desenvolver as tecnologias requeridas pela indústria, destruiria
em pouco tempo, a posição competitiva do cluster no mercado. A principal estratégia consiste em
criar uma base de fornecedores sustentada na interacção de pequenas e médias empresas, assim
como com multinacionais.
Inovação
A maioria da despesa em I&D contraída no seio do cluster ICT, é orientada para o desenvolvimento
tecnológico e só uma pequena parte, é reservada à investigação básica e fundamental. A maioria
destas despesas em I&D são auto financiadas, sendo uma pequena percentagem das despesas, da
responsabilidade do sector público espanhol. À semelhança de outros países, a Espanha vivenciou
uma racionalização das despesas em I&D, que levou muitas empresas a optarem pela cooperação
em rede, de forma a obterem capacidade inovadora.
Se cruzarmos esta análise com os resultados do processo de inovação, existente no seio do cluster
ICT, verificamos que cerca de 75% das empresas inovadoras que o integram, desenvolvem
inovações, quer ao nível do produto, quer ao nível do processo. Cerca 25% das empresas inovam
ao nível do produto e só 5% desenvolve inovação ao nível do processo. (Focus Group, 1997)
A proporção das vendas, resultantes do processo de inovação, advêm 35% da criação de novos
produtos, enquanto 20% está relacionada com produtos que sofreram alterações incrementais. Em
média, 34,5% das vendas resultam da existência de novos produtos, no seio das empresas,
enquanto 20,3%, relacionam-se com a inovação de produto ao nível da indústria.
Estes resultados apesar de poucos expressivos em termos globais, mostram a importância que os
clusters assumem, no âmbito da inovação empresarial.
Principais Resultados e Factores Críticos de Desenvolvimento do
Cluster ICT
Os principais resultados
Os fornecedores e os utilizadores são considerados como a principal fonte de conhecimento,
durante o processo de inovação. Contudo quando procuramos identificar os principais obstáculos à
inovação, percebemos que a generalidade das empresas apresenta, a ausência de uma procura
qualificada, como um dos principais obstáculos à inovação. As empresas consideram que a
informação e as exigências provenientes do seu mercado, não são suficientes para estimular a
inovação. Por outro lado, as análises mais recentes demonstram que o reduzido número de
relacionamentos com as universidades, centros tecnológicos e instituições de interface, têm
promovido fortes constrangimentos, ao desenvolvimento de um sistema sectorial de inovação.
É esta contra-prudência que muitas vezes torna a cooperação empresarial, enquanto instrumento
competitivo, numa panaceia. Contudo, existe uma forte explicação para estes acontecimentos. Com
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efeito, os decisores económicos através da implementação de vário planos de I&D, contribuíram
largamente para o desenvolvimento da investigação básica nas universidades e nos centros
públicos de investigação. Neste tipo de projecto, não existe necessidade de interacção com as
empresas, para validação dos resultados; o que induz resistências à dinamização da cooperação e
promove o aparecimento de inovações, a nível académico, sem aplicabilidade industrial. Embora,
este cenário esteja em transformação, mesmo que lentamente, a generalidade dos programas
públicos actuais exigem a participação dos utilizadores das inovações e a interacção dos centros
tecnológicos e de saber com a indústria.
Embora a maior parte dos intervenientes do cluster ICT beneficie de custos inferiores, ao nível da
I&D desenvolvida em cooperação, o compromisso assumido pelas entidades públicas, no que
respeita à redução de verbas orientadas, para a investigação, reflectir-se-á, sem dúvida, na
competitividade do sector. Porém, é neste enquadramento que o cluster se mostra um forte
instrumento competitivo, e principalmente, de promoção de I&D.
Multinacionais versus Empresas Locais
Já constatamos anteriormente que no seio de qualquer sistema de inovação, as multinacionais são
importantes fontes de conhecimento, sendo particularmente relevantes no contexto do cluster ICT.
Se analisarmos com cuidado, a importância dada pelas multinacionais e pelas empresas nacionais,
aos mecanismos de interacção com o sistema de inovação local, verificamos que as multinacionais
consideram estas relações menos significativas, do que as empresas locais.
No entanto, constata-se que estas últimas, cooperam muito menos que as primeiras, com as
universidades, consultoras e outras unidades da mesma empresa. A tendência corrobora que a
cooperação empresarial proporciona oportunidades aos fornecedores nacionais, especialmente, no
que respeita aqueles que, por razões práticas ou de logística, não conseguem interagir com os
centros de saber e com os centros tecnológicos.
Inovadores versus Não-Inovadores
As empresas raramente inovam, quando não interagem com a sua envolvente, consequentemente
não adquirem conhecimento e não comercializam os resultados dos seus processos de inovação.
Entende-se que, quanto maior for o número de relacionamentos ou quanto mais intensa for a
participação em redes de cooperação, maior eficácia e eficiência inovadora, é possível obter. Por
outro lado, quanto mais elevado for o nível de inovação duma empresa, maior importância
assumem os relacionamentos externos e o acesso a diversas fontes de conhecimentos.
Não levando em linha de conta, a tipologia de relacionamentos que se estabelecem no seio do
cluster ICT, este assegura que as empresas que promovem maior número de interacções, são
aquelas que induzem o aparecimento de maior número de inovações. Esta distinção aplica-se
igualmente às actividades de I&D: as empresas que apresentam um nível superior de I&D são
aquelas que promovem um maior número de interacções, ao invés daquelas que apresentam
baixos valores de I&D.
Os Factores Críticos de Desenvolvimento
A Colaboração com as Universidades e os Centros de Inovação
A principal conclusão que resulta da nossa análise, permite-nos designar o tempo e os
constrangimentos financeiros, como dois dos principais obstáculos à cooperação com centros de
saber e centros tecnológicos. Estas razões são relativamente polémicas, dado que os decisores
políticos poderão reduzir parte dos constrangimentos financeiros, através da promoção duma
política de investigação, mais orientada para o mercado. Contudo, este processo não tem sido
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linear, dado que no desenvolvimento duma política pública, os obstáculos à cooperação tem
assumido menor relevância, face à importância das barreiras à inovação, que ainda subsistem em
alguns meios e particularmente em alguns sectores.
Se cruzarmos a análise dos obstáculos à cooperação com as universidades e com os centros
tecnológicos,. com a caracterização empresarial inovadores versus não inovadores, verificamos que
as empresas mais inovadoras, dão bastante importância ao tempo e à dificuldade em identificar
parceiros, ponto este em que estão de acordo com as empresas não-inovadoras. Porém, as nãoinovadoras salientam que a falta de interesse e de uma cultura de cooperação, tem sido o principal
obstáculo à interacção, com as universidades e com os centros tecnológicos. Corrobora-se assim
que os constrangimentos mais importantes estão directamente associados à intervenção pública e
às condições da procura. Se considerarmos o sector público como o principal utilizador, podemos
compreender o papel fundamental que a administração pública assume, no desenvolvimento do
sistema de inovação sectorial.
Relativamente ao entendimento, que as empresas que apresentam elevados índices de I&D,
possuem da cooperação com as universidades e centros tecnológicos, podemos realçar que
diferem em muito, das que não apresentam elevados índices de I&D. Estes resultados explicam-se
pelo facto das empresas que fazem I&D, colaborarem muito mais frequentemente com as
universidades e com os centros tecnológicos e como tal, serem muito mais sensíveis à identificação
de aspectos críticos à dinamização da cooperação com estas instituições. Para esta últimas, os
principais obstáculos assentam na existência de infraestruturas desapropriadas, na falta de tempo
dedicado à dinamização de actividades em cooperação, com a indústria e à diferença cultural.
Conclusão
O cluster ICT, em Espanha, é uma complexa rede de produtores, fornecedores e utilizadores mas
com interacções entre si, ainda, pouco intensas e que fundamentalmente, se constituem, enquanto
interfaces/partilha de conhecimento.
Os fornecedores e os utilizadores são considerados a principal fonte de conhecimento para as
empresas, em termos de processo de inovação, dado que a procura espanhola é caracterizada pelo
baixo conteúdo. Isto é particularmente significativo, sabendo que o sector público é um dos
principais clientes do cluster ICT. Por outra palavras, podemos dizer que os consumidores
espanhóis, não estão muito preocupados com as características tecnológicas dos bens e dos
serviços, sendo este seguramente um aspecto que acaba por constituir um forte obstáculo à
inovação e também à transferência de tecnologia.
Um outro aspecto, que parece constituir-se como particularmente relevante, na influência que
exerce sobre o entendimento que as empresas possuem sobre a importância da cooperação é a
reduzida dinâmica dos sistemas de inovação locais. O fraco grau de cooperação, estabelecido entre
o sistema produtivo e os centros de saber, é sem dúvida, um forte constrangimento ao
desenvolvimento do sistema de inovação. As empresas ao não acederem ao conhecimento mais
básico, sendo este aspecto particularmente importante, em sectores onde a inovação é a chave da
competitividade, as políticas públicas devem ter este aspecto em conta e promover medidas de
desenvolvimento sectorial ,em torno da dinamização de um sistema de inovação interactivo.
Esta conclusão é significativa, quando se considera que a inovação e a I&D tem uma correlação
positiva, com a intensidade e o grau de relacionamentos externos, que as empresas estabelecem. A
experiência, facilmente verificou que quanto mais fortes fossem as ligações externas duma
empresa, melhor seria a performance inovadora.
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Assim, concluímos que as políticas públicas devem, essencialmente, procurar enfraquecer os
obstáculos, que as empresas possuem para aceder ao conhecimento, e induzir a integração das
multinacionais ao nível do sistema local de inovação, de forma a garantir pro-actividade no âmbito
dos clusters, nomeadamente no cluster ICT.
Bibliografia
Focus Group (1997); Mapping Knowledge Flows in Sectoral Systems of Innovation: The Case of The
Spanish Electronics and Telecommunications Cluster; Focus Group: Cluster Analysis; Group on
Innovation and Technology Policy.
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