1 UNISALESIANO Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium Curso de Pós Graduação “Lato Sensu” em Exercício Físico e Reabilitação Mauro Sidiney Rodrigues Rodrigo Guarizo Ferreira do Amaral REABILITAÇÃO CARDÍACA NA ATIVIDADE FÍSICA LINS - SP 2009 2 MAURO SIDINEY RODRIGUES RODRIGO GRARIZO FERREIRA DO AMARAL REABILITAÇÃO CARDÍACA NA ATIVIDADE FÍSICA Monografia apresentada à Banca Examinadora do Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium, como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Exercício Físico e Reabilitação sob orientação da Professora M.Sc. Heloísa Helena Rovery da Silva e do Professor M.Sc. Wonder Passoni Higino. LINS - SP 2009 3 R00r Rodrigues, Mauro Sidiney; Amaral, Rodrigo Guarizo Ferreira Reabilitação cardíaca na atividade física / Mauro Sidiney Rodrigues; Rodrigo Guarizo Ferreira do Amaral. -- Lins, 2009. 63p. 31cm. Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium – UNISALESIANO, Lins, SP para PósGraduação “Lato Sensu” em Exercício Físico e Reabilitação, 2009. Orientadores: Heloisa Helena Rovery da Silva; Wonder Passoni Higino 1. Coronária. 2. Exercícios Físicos. 3. Reabilitação. I Título. CDU 796 4 MAURO SIDINEY RODRIGUES RODRIGO GUARIZO FERREIRA DO AMARAL REABILITAÇÃO CARDÍACA NA ATIVIDADE FÍSICA Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium, para obtenção do título de Especialista em Exercício Físico e Reabilitação. Aprovada em: _____/_____/_____ Banca Examinadora: Professor M.Sc. Wonder Passoni Higino Mestre em Motricidade Humana – UNESP Rio Claro Professora M.Sc. Heloísa Helena Rovery da Silva Mestre em Administração pela CNEC/FACECA - MG LINS - SP 2009 5 Dedicamos este trabalho aos nossos pais, por se constituírem diferentes enquanto pessoas, igualmente belas e admiráveis em essência, estímulos que nos impulsionaram a buscar a vida nova a cada dia, nossos agradecimentos por terem aceito se privar de nossas companhias pelos estudos, concedendo a nós a oportunidade de nos realizar cada vez mais. 6 AGRADECIMENTOS As nossas Orientadoras Profas. MS Heloísa Helena Rovery da Silva e Ms Wonder Passoni Higino pelo incentivo, simpatia e presteza no auxílio às atividades e discussões sobre o andamento e normatização desta Monografia de Conclusão de Curso. Aos demais idealizadores, coordenadores e funcionários Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium. A todos os professores e seus convidados pelo carinho, dedicação e entusiasmo demonstrado ao longo do curso. Aos colegas de classe pela espontaneidade e alegria na troca de informações e materiais numa rara demonstração de amizade e solidariedade. Às nossas famílias pela paciência em tolerar a nossa ausência. E, finalmente, a DEUS pela oportunidade e pelo privilégio que nos foram dados em compartilhar tamanha experiência e, ao freqüentar este curso, perceber e atentar para a relevância de temas que não faziam parte, em profundidade, das nossas vidas. 7 RESUMO Estudos realizados sobre a doença isquêmica do coração demonstraram que há uma relação entre a coronariopatia e o sedentarismo, por outro lado outros estudos realizados em coronariopatas submetidos à pratica de atividades físicas, confirmaram que atividade física controlada e regular contribuem sensivelmente para a melhora do coração isquêmico, contribuindo inclusive para a diminuição na necessidade de medicação cardioativa e a reincidência de episódios isquêmicos agudos. É preciso, porém, ressaltar que o exercício físico representa apenas uma parte do tratamento do coronariopata, não substituindo os medicamentos ou a cirurgia quando estes se fizerem necessários. A avaliação física tem como objetivo fornecer dados que permitam ao profissional de Educação Física esquematizar o grau de esforço adequado ao início do programa, bem como avaliar o momento de aumento da carga de trabalho. O princípio básico de todo teste, que seja feito em bicicleta ou esteira, é submeter o paciente, após um aquecimento prévio, a esforços crescentes, procurando atingir, sempre que possível, o limite máximo da capacidade do indivíduo ou um valor de freqüência cardíaca que é variável de acordo com a idade de cada indivíduo; baseando-se nisso o exercício passa a ser prescrito em função da porcentagem da freqüência cardíaca ideal de treinamento. A forma pela qual é desenvolvido o teste de esforço, é realizado com aumentos programados de carga tanto na bicicleta quanto na esteira rolante. O teste permite obter informações referentes ao trabalho total que o paciente suporta realizar; comportamento da pressão sistólica em relação ao repouso que nos permite inferir as condições funcionais do ventrículo esquerdo; aparecimento de dor anginosa; presença de alterações eletrocardiográficas isquêmicas e/ou arritmias cardíacas; resposta da freqüência cardíaca ao exercício. Sabe-se que quanto maior o trabalho realizado, maior o consumo de oxigênio necessário para sua consecução, se este trabalho ultrapassar determinado nível o organismo entra em metabolismo anaeróbio deste modo o exercício passa a ser prejudicial ao organismo. Ao analisar a curva de freqüência cardíaca em relação ao trabalho, verifica-se que esta se comporta de maneira semelhante a do consumo de oxigênio. Palavras-chave: Doença Coronariana. Problemas Cardíacos. Coronariopatia. Pressão Sistólica. Atividade Física. 8 ABSTRACT Studies on ischemic heart disease have shown that there is a link between coronary disease and inactivity, on the other hand other studies in coronary submitted to the practice of physical activities, confirmed that controlled and regular physical activity contribute significantly to the improvement of ischemic heart, including contributing to reducing the need for medication cardioativa and recurrence of acute ischemic episodes. We must, however, emphasized that the exercise is only part of the treatment of coronariopata, not replacing the drugs or surgery when they make necessary. The physical evaluation aims to provide data to enable the professional Fitness esquematizar the degree of effort appropriate to initiate the program and assess the time of increased workload. The basic principle of any test, which is done by bike or treadmill, is subject the patient, after a preliminary heat, the growing efforts, seeking to reach, wherever possible, the maximum capacity of the individual or a value of heart rate that varies according to age of individuals, based on this exercise will be prescribed according to the percentage of the ideal heart rate training. The way in which it developed the test of effort, is done with planned increases in both cargo bicycle as in the wake rolling. The test allows us to obtain information concerning the total work that supports the patient perform; behavior of systolic pressure in relation to the rest that allows us to infer the functional conditions of the left ventricle; onset of angina pain; presence of ECG changes ischemic and / or arrhythmia ; Heart's response to exercise. It is known that the greater the work done, the greater the consumption of oxygen necessary for their achievement, if this work and overcome certain level body enter into anaerobic metabolism at this time the exercise will be harmful to the body. In examining the curve of heart rate in relation to work, it appears that it behave similarly to the consumption of oxygen. Keywords: Coronary Disease. Problems Cardíacos. Coronary disease. Systolic pressure. Physical Activity 9 LISTA DE QUADROS Quadro 1: Fatores de risco coronariano, fixos e modificáveis...................... ....27 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS DAC: Doença Arterial Coronariana DCC: Doença Cardíaca Coronariana ECG: Eletrocardiograma FC: Freqüência Cardíaca FIMS: Federação Internacional de Medicina do Esporte HDL: (High-density lipoprotein) Níveis Baixos de Colesterol IAM: Infarto Agudo do Miocárdio IPE: Índice de Percepção de Esforço LDL: (Low-density lipoprotein) Níveis Altos de Colesterol O2: Oxigênio OMS: Organização Mundial de Saúde PA: Pressão Arterial QRS: Batimento Ventricular Extra RM: Revascularização do Miocárdio TE: Teste Ergométrico 10 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................................................. 12 CAPÍTULO I - DOENÇA CORONARIANA ...................................................... 14 1 FATORES DE RISCO PARA CARDIOPATIA CORONARIANA ....... 15 1.1 Anormalidades nos lipídios sangüíneos.............................................. 17 1.2 Obesidade .......................................................................................... 18 1.3 Tabagismo .......................................................................................... 19 1.4 Inatividade física ................................................................................. 20 1.5 Fatores de risco em crianças.............................................................. 21 1.6 Indicadores de doença coronariana evidenciados pelo exercício....... 22 1.7 Distúrbios eletrocadiográficos............................................................. 23 1.8 Anormalidades do ritmo cardíaco ....................................................... 24 CAPÍTULO II - FATORES DE RISCO CORONARIANO E A INFLUÊNCIA DA ATIVIDADE FÍSICA ......................................................................................... 26 2 FATORES DE RISCO CORONARIANO - FIXOS E MODIFICÁVEIS 26 2.1 A influência da atividade física sobre os fatores de risco coronariano 30 2.2 Benefícios da atividade física, relacionados a doenças cardíacas ..... 31 CAPÍTULO III - O TREINAMENTO FÍSICO NA REABILITAÇÃO CARDÍACA..... ................................................................................................. 34 3 FASES DA REABILITAÇÃO CARDÍACA.......................................... 36 3.1 Prescrição de exercícios na reabilitação cardíaca.............................. 38 3.2 Tipo de atividade ................................................................................ 39 3.3 Prescrição da intensidade de exercício .............................................. 41 3.4 Fases do treinamento ......................................................................... 43 3.4.1 Fase I.................................................................................................. 44 3.4.2 Fase II................................................................................................. 45 11 3.4.3 Fase III................................................................................................ 46 CAPÍTULO IV - O EDUCADOR FÍSICO E O PROGRAMA DE PREVENÇÃO E REABILITAÇÃO CARDÍACA....................................................................... 48 4 OBJETIVOS DO PROGRAMA........................................................... 49 4.1 Considerações gerais ......................................................................... 49 4.2 Programa de prevenção e reabilitação cardíaca ................................ 50 CAPÍTULO V- PRINCÍPIOS DA PRESCRIÇÃO DE EXERCÍCIOS................. 53 5 INTENSIDADE DO TREINAMENTO .................................................. 53 5.1 Duração do treinamento ..................................................................... 54 5.2 Frequência de Treinamento................................................................ 55 5.2.1 Tipos de exercícios ............................................................................. 55 5.2.1.1 Circuito intervalado.............................................................................. 56 5.3 Reabilitação na angina pectoris.......................................................... 57 5.4 A reabilitação nas incapacidades cardiovasculares............................ 58 5.5 Reabilitação na hipertensão arterial ................................................... 58 CONCLUSÃO .................................................................................................. 60 REFERÊNCIAS ............................................................................................... 62 12 INTRODUÇÃO O presente trabalho tem por objetivo fazer um estudo da condição atual da reabilitação nas incapacidades cardiovasculares, dos princípios básicos que norteiam um programa de reabilitação, os principais métodos e programas usados, fornecer orientações iniciais àqueles profissionais que no seu trabalho diário deparam-se com pacientes que necessitam de programas de reabilitação, orientações no sentido de prevenirem ou minimizarem as incapacidades decorrentes das patologias cardiovasculares e fornecer dados que permitam ao profissional de Educação Física esquematizar o grau de esforço adequado ao início do programa, bem como avaliar o momento de aumento da carga de trabalho. Aos professores de educação física, para que tenham contato com este campo que cresce à cada dia e que, carece de profissionais habilitados para trabalharem com esta clientela. O tema foi abordado como um problema crônico diagnosticado em pessoas que exercem atividades físicas e relativamente comuns na área de educação física. Durante a pesquisa, surgiu o seguinte questionamento: como prevenir e diagnosticar eventuais problemas cardíacos ocorridos e causados pela atividade física? O estudo foi realizado através de revisão bibliográfica que abrangeu o período de 1980 a 2007. Os capítulos estão divididos em tópicos seqüenciais. No primeiro capítulo é apresentada uma definição sobre doença coronariana, seus principais causadores e indicadores. No capítulo segundo, foi abordado a influência que a atividade física pode exercer sobre o risco coronário e ainda os benefícios que a mesma pode ter sobre doenças cardíacas. No terceiro capítulo foram evidenciadas as formas de reabilitação cardíaca através de treinamentos físicos, descrevendo tipos de atividades e a moderação da intensidade dos exercícios, estes divididos em três fases que podem variar o seu tempo conforme intensidade, duração, freqüência e local a ser desenvolvido o programa. 13 No capítulo quatro foram apresentados os objetivos comuns de um programa de prevenção e reabilitação cardíaca. No capítulo quinto, um complemento do capítulo terceiro, com os princípios da prescrição de exercícios, descrevendo sobre os itens do programa que tendem a variar pela intensidade, duração, freqüência e os tipos de exercícios que podem compor esta prescrição. 14 CAPÍTULO I DOENÇA CORONARIANA A doença cardíaca coronariana (DCC) em geral consiste em alterações degenerativas na intima ou revestimento interno das grandes artérias que irrigam o miocárdio. Esses vasos ficam congestionados com placas cheias de lipídios, tecido cicatricial fibroso, ou ambos. Essa mudança reduz progressivamente a capacidade de perfusão sangüínea e faz com que o miocárdio se torne isquêmico - isto é, precariamente irrigado com sangue rico em oxigênio em virtude da menor perfusão. Nesse processo degenerativo o revestimento irregular e endurecido das coronárias, com freqüência causa a coagulação deste sangue que flui lentamente. Esse coágulo sangüíneo ou trombo pode obstruir um dos vasos coronarianos menores. Nesses casos, parte do músculo cardíaco “morre” e dizse que a pessoa sofreu um ataque cardíaco ou infarto do miocárdio, mesmo que o bloqueio não seja excessivo e o fluxo sangüíneo ainda se reduza abaixo das necessidades do coração, a pessoa pode experimentar dores torácicas denominadas angina pectoris. Habitualmente, essas dores são percebidas durante o esforço, pois esse causa a maior demanda de fluxo sangüíneo miocárdico. Esses ataques anginóides fornecem uma evidência dolorosa e dramática da importância do bom fornecimento de oxigênio a esse órgão vital. A DCC alcançou proporções epidêmicas através de todos os Estados Unidos e na maioria das sociedades tecnologicamente avançadas. Começando aos 30 anos de idade para homens e aos 40 para mulheres, DCC constitui a maior causa isolada de morte no mundo ocidental. Por exemplo, morrem cerca de duas vezes mais pessoas de DCC que de câncer. Após os 35 anos de idade em homens e dos 45 em mulheres a probabilidade de vir a morrer de DCC aumenta progressivamente e dramaticamente. Na época atual quase todas as pessoas mostram alguma evidência de doença coronariana, que pode ser grave até em adultos jovens aparentemente sadios. Em verdade, a doença começa provavelmente numa fase anterior da vida, pois estrias lipídicas são comuns em coronárias de crianças com 5 anos 15 de idade. Entretanto, parece que produzem pouco malefício, a menos que exista um estreitamento destas artérias. Em repouso, a irrigação do coração só se torna deficiente quando a obstrução dos vasos coronarianos alcança 80 por cento. De fato, terá que ocorrer uma oclusão de pelo menos 50 por cento a 70 por cento antes da doença poder ser identificada clinicamente. Em geral, a morte ocorre por DCC quando existe uma obstrução avançada em vários ramos dos vasos que irrigam o miocárdio. Pouco se conhece sobre o mecanismo pelo qual se formam estes depósitos ou placas lipídicas. Muitos acham que esse espessamento granuloso da parede arterial começa na forma de uma estria lipídica no revestimento interno do vaso. Com freqüência argumenta-se que esse processo é, de alguma forma, mediado pelo consumo de uma dieta rica em colesterol e gorduras saturadas. A deposição de material lipídico acaba produzindo calcificação e alterações fibróticas, de forma que as paredes arteriais ficam mais estreitas, rígidas e duras, tornando mais difícil o fluxo sangüíneo. Foi sugerido também que as alterações nas características celulares da parede vascular do músculo liso desencadeiam o processo aterosclerótico. Essas alterações produzem mutação celular de células musculares lisas e prosseguem de uma maneira semelhante ao surgimento de um tumor benigno. Essa divisão celular anormal pode ser acionada por fatores ambientais como dieta, fumo e pressão arterial alta. As células em proliferação acabam produzindo alterações características na parede vascular associadas com acúmulo lipídico e formação de placas. 1 FATORES DE RISCO PARA CARDIOPATIA CORONARIANA Várias características pessoais e fatores ambientais foram identificados no transcorrer dos últimos 30 anos que parecem tornar os indivíduos mais suscetíveis à DCC. Eis uma lista dos fatores de risco DCC implicados mais freqüentemente: 1) idade e sexo; 2) lipídios sangüíneos elevados; 3) hipertensão; 4) tabagismo; 5) inatividade física; 6) obesidade; 7) diabetes mellitus; 8) dieta; 9) hereditariedade; 10) personalidade e padrões de 16 comportamento; 11) níveis altos de ácido úrico; 12) anormalidades na função pulmonar; 13) raça; 14) anormalidades eletrocardiográficas durante o repouso e o exercício e 14) tensão e estresse. (ISEU GUS, 2002) É difícil determinar quantitativamente a importância relativa de um único fator de risco das DCC, pois muitos desses fatores estão inter-relacionados. Por exemplo, as anormalidades nos lipídios sangüíneos, o diabetes, a hereditariedade e a obesidade com freqüência andam de mãos dadas. O estudo experimental coordenado pelo professor Vinícius Zepeda da FAPERJ (Obesidade e Sobrepeso: duas epidemias de proporções mundiais, 2005) relatou que os homens que vivem na Irlanda consumiam mais gordura saturada que seus irmãos consangüíneos vivendo nos Estados Unidos, embora os primeiros apresentassem uma incidência de DCC muito mais baixa. Essa proteção foi atribuída aos maiores níveis de atividade física dos residentes na Irlanda. Achados semelhantes de uma alta ingestão de gordura saturada, alta atividade física e baixa incidência de DCC foram relatados para membros da tribo Masai da África Oriental e para lavradores na Geórgia. Para complicar ainda mais essas observações temos o achado observado freqüentemente de que o treinamento físico em geral reduz o Peso corporal e a gordura corporal. Além disso, certos grupos em geral ficam expostos a menos estresse psicológico em virtude da natureza de sua ocupação ou do ambiente cultural. Nas seções seguintes serão discutidas as anormalidades nos lipídios sangüíneos, a obesidade, o tabagismo e a inatividade física como poderosos fatores de risco ao DCC. A hipertensão, é outro importante fator de risco. Esses fatores foram escolhidos por terem recebido a maior atenção pública. Todos, talvez com exceção da obesidade, são prognosticadores poderosos e permanentes ao avaliar as chances de alguém, vir a desenvolver doença cardíaca. Entretanto, convém notar que, embora esses fatores estejam intimamente associados com DCC, às associações não inferem necessariamente causalidade. Ainda não foi demonstrado que a modificação nos fatores de risco ofereça uma proteção eficiente contra a doença. Contudo, até conseguirmos uma prova definitiva, a lógica nos induz a admitir que a eliminação ou redução de um ou mais dos fatores de risco causará uma redução correspondente na probabilidade de contrair DCC. 17 1.1 Anormalidades nos lipídios sangüíneos Níveis aumentados de colesterol LDL (low-density lipoprotein) e níveis diminuídos de colesterol HDL (high-density lipoprotein) são os fatores de risco principais para o desenvolvimento de doença arterial coronariana. Estudos recentes também demonstraram a importância de modificar estas lipoproteínas na prevenção de doença coronária secundária. Uma metaanálise de 8 estudos clínicos de redução do colesterol em vítimas de infarto do miocárdio desenvolvidos entre 1965 e 1988 demonstrou uma redução em 16% de infartos fatais e 25% de infartos não-fatais no grupo estudado. O tratamento do colesterol consistiu somente em dieta em 3 destes estudos e dieta com medicação, em 5. Nenhum dos estudos, entretanto, envolveu diretamente um programa de reabilitação física ou, com raras exceções, o programa de reabilitação física examinou a relação entre alterações lipídicas e sobrevivência. Uma metaanálise de 15 publicações sobre o efeito da prática de exercício em pacientes vítimas de infarto do miocárdio mostrou redução significativa nos níveis de colesterol totais, colesterol LDL e triglicérides; e um aumento de colesterol HDL com o exercício. Estes resultados sugerem que uma reabilitação cardíaca compreensiva utilizando exercícios, dieta e medicação, quando apropriado, iriam alterar beneficamente os lipídeos e o prognóstico do paciente. Um nível mais elevado de gordura (lipídeos) no sangue recebe a designação de hiperlipidemia. Colesterol e triglicerídios são os dois lipídios mais comuns associados com o risco de DCC. Essas gorduras não circulam livremente no plasma sangüíneo, mas, em combinação com proteínas transportadoras para formar lipoproteínas. O colesterol sérico representa o colesterol total contido nas diferentes lipoproteínas. O exato mecanismo pelo qual a elevação nos lipídios sangüíneos afeta o desenvolvimento de DCC é quase totalmente desconhecido. Não obstante, uma evidência esmagadora parece ligar os altos níveis de lipídios sangüíneos com a maior incidência de DCC. Em muitos casos, esses lipídios elevados estão relacionados com o consumo de dietas ricas em gorduras saturadas e colesterol. A distribuição do 18 colesterol entre os vários tipos de lipoproteínas pode constituir um prognosticador mais poderoso de doença cardíaca que a simples quantidade total de lipídios plasmáticos. Mais especificamente, um alto nível de lipoproteínas de alta densidade está associado com um menor risco de doença cardíaca, enquanto que níveis elevados de lipoproteínas de baixa densidade (LDL e VLDL) representam um maior risco. Apesar de existir muita controvérsia quanto ao papel preciso das lipoproteínas na doença cardíaca, em geral admite-se que as LDL e VLDL constituem meios para transportar a gordura através do organismo, para fornecimento às células, incluindo aquelas das paredes musculares lisas das artérias, onde acabam participando no processo de estreitamento arterial da aterosclerose. Enquanto que LDL se destina ao tecido periférico. O HDL pode refletir a fase de remoção da dinâmica lipídica por promover o movimento do colesterol dos tecidos periféricos (incluindo as paredes arteriais) para o transporte até o fígado, onde é excretado através dá síntese biliar. É também possível que o HDL possa retardar o acúmulo de colesterol nas células por bloquear diretamente sua captação de LDL. Estudos como o High Density Lipoprotein, segundo Fontes (2005), são realizados para esclarecer se HDL é verdadeiramente protetor e quais os fatores que podem aumentá-lo. Do ponto de vista do exercício é encorajador saber que os níveis de HDL se elevam em atletas de endurance e possam ser alterados favoravelmente em pessoas sedentárias que participem de um treinamento aeróbico intenso. 1.2 Obesidade A Obesidade é um fator de risco independente para o desenvolvimento de doença arterial coronariana. A Obesidade também está associada à hipertensão, intolerância à glicose, e perfis lipídicos desfavoráveis. Perda de peso com sucesso é um benefício do programa de prática de exercício e deve contribuir para uma morbidade e mortalidade cardiovascular reduzida. O excesso de adiposidade corporal recebeu grande notoriedade como fator de risco de doença coronariana. No entanto, as evidências sugerem uma relação apenas modesta, ou que esta relação seja co-dependente com certos 19 fatores como hipertensão, diabetes mellitus e tabagismo. As características de autópsias não revelam uma associação significativa entre adiposidade corporal em si e o grau de aterosclerose. Achados semelhantes, utilizando métodos diferentes para avaliar a função coronariana, também foram relatados. Entretanto, a pesquisa indica que os indivíduos com excesso de gordura com freqüência são hipertensos e apresentam níveis elevados de lipídios séricos. A perda de peso e subseqüente redução de gordura em geral, além de normalizar os níveis de colesterol e triglicerídios exercem um efeito benéfico sobre a pressão arterial. Ser excessivamente gordo não constitui um fator de risco primário, porém seu papel como fator secundário e contribuinte na doença cardíaca não pode ser negado. 1.3 Tabagismo Fumar é reconhecido como grande fator de risco para doença coronária, particularmente para morte súbita de origem cardíaca. Além disso, pessoas que sobreviveram ao infarto e pararam de fumar apresentam uma taxa de mortalidade de 19% em 6 anos, enquanto que a taxa de mortalidade é de 30% nos que continuaram a fumar (STUCHI; CARVALHO, 2003). Um estudo dos efeitos do exercício sobre o hábito de fumar em pacientes em recuperação de infarto agudo do miocárdio indica que um programa formal de reabilitação física facilita e mantém o abandono do hábito de fumar em pacientes cardíacos, mas uma posição firme sobre essa conclusão não foi avaliada. O tabagismo pode ser um dos melhores prognosticadores de coronariopatia. De fato, a probabilidade de morte por doença cardíaca nos fumantes é quase duas vezes maior que nos não fumantes. O aumento na taxa de mortalidade por cardiopatia entre mulheres nos Estados Unidos é quase paralelo ao seu maior consumo de cigarros. Surpreendentemente, esse risco é maior que o excesso de mortalidade dos fumantes devido ao câncer pulmonar. Em geral, observa-se que o risco do fumo age independentemente dos outros fatores de risco. Contudo, e ao mesmo tempo, se existem outros fatores de risco, o tabagismo acentua sua influência. Ao parar de fumar, o risco de coronariopatia em geral se iguala ao dos não fumantes, apesar de nem sempre 20 ser esse o caso. 1.4 Inatividade física As informações acerca do papel da atividade física na proteção contra as doenças coronarianas às vezes são contraditórias, porém em geral encorajadoras. Além do fato de as pessoas fisicamente ativas em geral terem menos sintomas clínicos de cardiopatia, ao serem acometidas por um ataque cardíaco suas chances de sobrevida são muito maiores que a dos inativos. Entretanto, esses achados devem ser encarados com cautela e por várias razões. Por um lado, as comparações costumam ser feitas entre pessoas ativas e sedentárias com a suposição de que outros fatores (lipídios sangüíneos, hipertensão, tabagismo, estado ocupacional, adiposidade corporal) são essencialmente iguais. Essa suposição nem sempre é válida. É igualmente possível que as pessoas com porte físico ativo que estão destinadas a viver por mais tempo escolham ocupações ativas ou atividades com mais horas de lazer. Da mesma forma, quando as pessoas identificam certos sintomas de coronariopatias passam a adotar uma atividade ou estilo de vida sedentário. Assim sendo, ao morrerem são classificadas como inativas. Igualmente importante na pesquisa dessa natureza é a dificuldade encontrada para se obter uma declaração objetiva e quantificada do nível de atividade de uma pessoa, tanto no trabalho quanto durante as horas de lazer. As classificações de atividade em geral são subjetivas, amplas e deixam muito espaço para erro. Foi sugerido que muitas das conclusões acerca dos efeitos benéficos específicos do exercício ultrapassam os fatos. Apesar dos dados sobre inatividade física e cardiopatias em geral não constituírem uma prova critica, certamente não existe evidência de que o uso criterioso do exercício seja prejudicial. De fato, a grande massa de pesquisa sobre animais e seres humanos indica que o exercício regular pode operar contra a instalação de coronariopatias de várias maneiras benéficas para: a) melhorar a circulação miocárdica e o metabolismo, o que pode proteger o coração do estresse hipóxico; isso inclui maior 21 vascularização assim como aumentos moderados nas reservas cardíacas de glicogênio e na capacidade glicolítica que poderia ser benéfica quando o fornecimento de oxigênio ao coração fica comprometido. b) aprimorar as propriedades mecânicas ou contráteis do miocárdio, isso pode permitir ao coração condicionado manter ou aumentar a contratilidade durante um determinado esforço a superar. c) estabelecer características mais favoráveis da coagulação sangüínea e de outros mecanismos hemostáticos. d) normalizar o perfil dos lipídios sangüíneos. e) alterar favoravelmente a freqüência cardíaca e a pressão arterial, de forma que o trabalho do miocárdio seja significativamente reduzido em repouso e durante o exercício. f) conseguir uma composição corporal mais desejável. g) estabelecer um equilíbrio neural-hormonal mais favorável que possa conservar oxigênio para o miocárdio. h) proporcionar uma saída favorável para o estresse e as tensões psicológicas. À luz desses achados, a maioria dos médicos e dos especialistas na área do exercício prescreve exercícios como medidas de saúde preventiva e de reabilitação. 1.5 Fatores de risco em crianças Vários estudos documentaram múltiplos fatores de risco de doença coronariana em crianças pequenas, a exemplo, estudos brasileiros, realizados pelo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia e pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) não apenas confirmaram os dados como mostraram que uma intervenção dietética dirigida aos adolescentes em risco pode reduzir de forma eficaz os fatores de risco, sem risco nutricional. A prevalência dos fatores de risco para meninos e meninas ativos e aparentemente sadios com 7 a 12 anos de idade. A obesidade e uma história familiar de cardiopatia foram os dois fatores de risco de ocorrência mais freqüentes. Um percentual relativamente 22 elevado de crianças mostravam também lipídios sangüíneos anormalmente altos. Do grupo total, 65% tinham pelo menos um ou dois fatores de risco, enquanto que 31 por cento tinham três ou mais! À semelhança do que ocorre com adultos, a associação entre adiposidade corporal e níveis séricos de lipídios se tornam prontamente aparente nos indivíduos classificados como obesos; as crianças mais gordas em geral possuíam os níveis mais altos de colesterol e triglicerídios. Tendo em vista a prevalência dos fatores de risco em algumas crianças e as observações de autópsia de adultos jovens e crianças, parece provável que a cardiopatia tenha suas origens na infância. Ainda falta demonstrar que a identificação dos fatores de risco em crianças esteja associada a cardiopatia prematura. É igualmente importante determinar se a intervenção nos riscos dessas crianças melhorará sua perspectiva de saúde. Certamente, se a atividade física regular consegue modificar ou pelo menos estabilizar o panorama dos fatores de risco e se isso protege contra as coronariopatias, nesse caso todas as crianças deveriam ser encorajadas e orientadas no sentido de adotar estilos de vida ativos. 1.6 Indicadores de doença coronariana evidenciados pelo exercício Vários indícios de coronariopatia se tornam especialmente evidentes durante o exercício, pois este cria maiores exigências de fluxo coronariano. Angina Pectoris: aproximadamente 30% (trinta por cento), das manifestações iniciais desta doença coronariana, assumem a forma de dor torácica angina pectoris. Essa é uma condição temporária, porém dolorosa indicativa de que o fluxo sangüíneo coronariano (fornecimento de oxigênio) alcançou momentaneamente um nível criticamente baixo. Essa isquemia miocárdica (que habitualmente resulta de restrição na circulação coronariana acarretada por aterosclerose coronariana) estimula os nervos sensoriais nas paredes das artérias coronárias e no próprio miocárdio. A dor ou desconforto resultante em geral é percebido na região torácico superior, porém se caracteriza freqüentemente por uma sensação de pressão ou constrição no 23 ombro esquerdo, pescoço, mandíbula, ou braço esquerdo. Muitas pessoas relatam também sensações de estarem sendo asfixiadas durante um episódio anginoso. Além da dor, o desempenho cardíaco também é afetado com a angina. Essa função miocárdica deprimida é acompanhada de redução no débito cardíaco, redução no volume de ejeção sistólico e, em geral, deterioração da contratilidade do ventrículo esquerdo. Após uns poucos minutos de repouso a dor habitualmente desaparece, sem dano permanente do músculo cardíaco. 1.7 Distúrbios eletrocadiográficos Alterações nos padrões normais da atividade elétrica do coração com freqüência são indicativas de fornecimento insuficiente de oxigênio ao miocárdio. Não obstante, esses indícios elétricos são observados apenas raramente até que as necessidades metabólicas (e de fluxo sangüíneo) tenham aumentado acima do nível de repouso. Em alguns casos, a insuficiência de oxigênio causa inversão da onda T do ECG. Apesar de não saber por que o segmento ST fica deprimido, esse desvio do normal se correlaciona intimamente com outros indicadores de doença coronariana, incluindo estreitamento da artéria coronária medido por angiografia coronariana e cintigrafia radioisotópica. Em geral, a angiografia é considerada a referência mais sensível. Com essa técnica, um liquido radiopaco é lançado na circulação coronariana, permitindo a realização de inúmeras imagens radiográficas dos vasos. Isso permite uma determinação relativamente precisa da localização e do grau de oclusão nas artérias coronárias. A técnica cintilográfica mais recente utiliza radionuclídios (habitualmente contendo potássio radioativo, particularmente tálio) que se distribui através de todo o músculo cardíaco proporcional ao fluxo sangüíneo miocárdico regional. Dessa forma, a câmera de cintilação fornece uma imagem da perfusão miocárdica. Os indivíduos com depressão significativa do segmento ST habitualmente apresentam obstrução intensa e extensa das artérias coronárias. Isso em geral consiste numa redução superior a 70 por cento da abertura 24 normal de um ou mais dos vasos coronarianos. Além disso, o grau de depressão do segmento ST se relaciona diretamente com a chance de vir a morrer por coronariopatia. 1.8 Anormalidades do ritmo cardíaco O exercício, além de poder gerar anormalidades no segmento ST do eletrocardiograma, proporciona também uma eficiente maneira de observar o ritmo cardíaco normal e anormal. Uma alteração significativa no ritmo cardíaco (arritmia) com o exercício é a ocorrência de extra-sístoles ventriculares. Nessa situação, os ventrículos demonstram uma atividade elétrica desorganizada. Eles não são estimulados pela passagem normal da onda da despolarização através do nódulo auriculoventricular. Pelo contrário, porções do ventrículo se despolarizam espontaneamente. Isso aparece no eletrocardiograma como um batimento ventricular extra ou complexo QRS que ocorre sem ser precedido por uma onda P que indique despolarização atrial. As extra-sístoles desencadeadas pelo exercício, podem anunciar antecipadamente a presença de doença cardíaca aterosclerótica isquêmica grave, o mais das vezes afetando dois ou três dos principais vasos coronarianos. De fato, essa instabilidade elétrica específica do miocárdio comporta um maior valor preditivo que a depressão do segmento ST para o diagnóstico das coronariopatias. A incidência de morte súbita devida a fibrilação ventricular em geral é aproximadamente de seis a dez vezes maior num grupo com extra-sístoles ventriculares freqüentes do que nos pacientes cardíacos sem essa anormalidade. Com a fibrilação, os ventrículos não conseguem contrair-se de uma maneira unificada. Como resultado, o sangue não é bombeado eficientemente e o débito cardíaco cai dramaticamente. Dois índices não eletrocardiográficos úteis de possível lesão coronariana são as respostas da pressão arterial e da freqüência cardíaca ao exercício, Durante um teste com exercício progressivo, existe um aumento normal e progressivo na pressão sistólica de aproximadamente 120 mmHg para 160 ou 190 mmHg no exercício máximo. As alterações da pressão diastólica são, em 25 geral, inferior a 10 mmHg. Entretanto, para alguns indivíduos o exercício exaustivo pode fazer com que a pressão sistólica se eleve bem acima de 200 mmHg enquanto que a pressão diastólica pode aumentar para 100 a 150 mmHg. Essa resposta hipertensiva anormal pode constituir um indício significativo de doença cardiovascular. A ausência de elevação na pressão arterial com exercício também pode refletir disfunção cardiovascular. Por exemplo, a ausência de elevação na pressão arterial em pelo menos 20 ou 30 mm Hg durante um exercício progressivo pode refletir diminuição da reserva cardíaca. Um aumento rápido e importante na freqüência cardíaca (taquicardia) no início do exercício costuma anunciar problemas cardíacos. Da mesma forma, freqüências cardíacas do exercício anormalmente baixas podem refletir uma função anormal do nódulo sinusal do coração. Por outro lado, a incapacidade da freqüência cardíaca em aumentar durante o exercício, especialmente quando acompanhada por fadiga extrema, pode ser indicativa de sobrecarga ou doença cardíaca. 26 CAPÍTULO II FATORES DE RISCO CORONARIANO E A INFLUÊNCIA DA ATIVIDADE FÍSICA 2 FATORES DE RISCO CORONARIANO - FIXOS E MODIFICÁVEIS Só se pode conceber um combate consistente às doenças crônicodegenerativas, na medida em que as causas são identificadas e, quando possível, removidas. Fatores ou causas, conhecidos como risco, vêm sendo investigadas de forma mais sistemática a partir do estudo de Framingham, desde 1947, quando a população desta localidade americana passou a ser acompanhada e certos aspectos passaram a ser correlacionados com a incidência e a mortalidade, em função das doenças crônico-degenerativas, particularmente da doença das coronárias. Posteriormente, outros estudos importantes foram executados, de modo a ter-se hoje um nível bem estabelecido de fatores, tidos como de risco, para o surgimento das doenças crônico-degenerativas. Quando se fala em doença coronariana aterosclerótica, a principal em termos de morbidade e mortalidade em nossa civilização, há que se considerar dois grupos de fatores ou agentes causais: os fixos, a princípio não modificáveis e os adquiridos, que podem ser removidos, portanto, modificáveis. Este segundo grupo de fatores depende diretamente dos hábitos, isto é, do estilo de vida, conforme procuraremos evidenciar neste capítulo. Dentre os fixos, aqueles sobre os quais não podemos agir estão: sexo, idade e história familiar. No que se refere ao sexo, observa-se que as mulheres, até a menopausa, tendem a estarem mais protegidas que os homens em função da presença do hormônio estrogênio. A idade mais avançada significa maior possibilidade de surgimento da doença com suas conseqüências, pelo fato de, em geral, a aterosclerose ser um processo de instalação lenta e gradativa, manifestando-se clinicamente quase sempre décadas após o início do processo. 27 Já a história familiar de morte ou doença cardiovascular prematura (em geral antes dos 55 anos de idade) se constitui em um fator de risco muito importante, embora muitas vezes fatores adquiridos, decorrentes de hábitos familiares, possam se confundir com aqueles provenientes da herança genética. FATORES DE RISCO CORONARIANO FIXOS E MODIFICÁVEIS FIXOS MODIFICÁVEIS - IDADE - SEXO - HISTÓRICO FAMILIAR - FUMO - HIPERCOLESTEROLEMIA - HIPERTENSÃO ARTERIAL - INTOLERÂNCIA A GLICOSE - SEDENTARISMO Fonte: KAMEL; KAMEL, 1996, p.88 Quadro 1: Fatores de risco coronariano, fixos e modificáveis Quando se trata dos fatores de risco adquiridos ou modificáveis, existe uma íntima relação com os hábitos e, portanto, com o modo de viver. Hoje em dia se considera que sejam cinco os principais fatores de risco adquiridos: fumo, hipercolesterolemia, hipertensão arterial, intolerância à glicose e sedentarismo, sendo que a inclusão destes dois últimos é relativamente recente. Além dos já mencionados, pode-se ainda considerar a hipertrigliceridemia, hiperuricemia e obesidade, além de fatores nitidamente comportamentais, como isolamento social, educação, tensão e ou ansiedade e comportamento tipo A. As pessoas com o padrão de comportamento Tipo “A” se caracterizam pela impaciência, agressividade, pressa e a vontade para concluírem com sucesso as suas ações. O fumo é considerado pela Organização Mundial da Saúde como a principal causa de doença no mundo, inclusive no que se refere às doenças cardiovasculares. Existem várias formas através das quais o fumo agride o organismo e também, vários mecanismos pelos quais causam transtornos cardiocirculatórios. A exposição ao fumo é normalmente quantificada em maços/dia por um período de anos. (KAMEL; KAMEL, 1996) A hipertensão arterial tem seus próprios fatores de risco, quando se trata de forma essencial ou primária, que representa a grande maioria dos casos: obesidade, álcool, sedentarismo, alimentação (principalmente rica em sal, mas 28 também em gordura animal e açúcar industrializado), diabetes mellitus, fumo, estresse etc., todos ligados ao estilo de vida. Quanto à hipercolesterolemia (elevação dos níveis de colesterol no sangue), existe consistência na literatura em demonstrar uma nítida correlação com a incidência de coronariopatia aterosclerótica, tratando-se provavelmente do único fator direto de aterosclerose. A importância deste fator na etiologia da doença coronariana fica mais evidente a partir da afirmativa do Dr. William Roberts, que refere jamais ter presenciado um só caso de doença coronariana aterosclerótica que não apresentasse colesterol total acima de 150 mg. Quando se fala de prevenção, considera-se como ideal para um indivíduo adulto um valor de colesterol total pelo menos igual ou abaixo de 200 mg. Contudo uma análise mais detalhada da questão da hipercolesterolemia demanda a quantificação das subfrações do colesterol, já que valores elevados do componente ligado à lipoproteína de alta densidade (HDL-C) são benéficos para a saúde, enquanto uma elevação da fração ligada à lipoproteína de baixa densidade (LDL-C) favorece a aterogênese. Uma outra forma de expressar esta questão, é através da relação entre colesterol total e HDL-C, que deverá situar-se idealmente abaixo de 4,5 mg. O Diabetes Mellitus, expressão mais grave da intolerância à glicose, está freqüentemente associado à hipertensão arterial e à aterosclerose, acelerando a história natural e o aparecimento de complicações cardiovasculares. Em relação ao sedentarismo, existem claras evidências para considerálo como o principal fator de risco coronariano em termos de uma comunidade, já que o seu risco relativo é consideravelmente alto e sua prevalência é bastante maior do que a dos outros fatores. Acredita-se que no Brasil, a maior parte da população adulta dos dois sexos possa ser classificada como fisicamente inativa, enquanto apenas uma parcela muito pequena - entre 15 a 25% - seria considerada como fisicamente ativa de forma regular. Um estilo de vida saudável ajuda a manter o corpo em forma e a mente alerta. Ajuda a nos proteger de doenças, e ajuda a impedir que as doenças crônicas piorem. Isto é importante, porque à medida que o corpo envelhece, começa-se a notar alterações nos músculos e nas articulações e um declínio na sensação de força física. Um estilo de vida saudável inclui a saúde 29 preventiva, boa nutrição e controle do peso, recreação, exercícios regulares, e evitar substâncias nocivas ao organismo. Um estilo saudável de vida, que conte com a prática regular de exercício físico, pode impedir a progressão de uma doença aterosclerótica já estabelecida e em alguns casos, pode até mesmo ocasionar a sua regressão. Neste sentido é conveniente comentar dois trabalhos: a) Ornish (apud KAMEL; KAMEL, 1996), demonstrou 82% de regressão e 94% de estabilização da doença coronariana aterosclerótica, com um acompanhamento de apenas um ano, em grupo de pacientes submetidos a uma alimentação pobre em gordura animal (quase exclusivamente vegetariana, pois só era permitido clara de ovo e leite desnatado dos produtos de origem animal), técnicas de relaxamento e prática regular de exercício físico de baixa ou moderada intensidade, resultados estes que eram significativamente distintos dos encontrados no grupo controle tratado de modo convencional; b) já o trabalho de Hambrecht (apud KAMEL; KAMEL, 1996) é ainda mais impressionante, na medida em que demonstrou o efeito independente do exercício físico, inclusive na regressão da aterosclerose, desde que usado em quantidade considerável. Este efeito, às custas exclusivamente da atividade física, ocorreu com o gasto calórico igual ou superior a 2200 kcal semanais. Isto significa, por exemplo, correr cerca de 40 minutos, cinco a seis vezes por semana. Comentando de forma breve os fatores de risco secundários, merece destaque a eventual relação entre obesidade e doença coronariana. Muito embora persista alguma controvérsia, estudos epidemiológicos prospectivos, em homens e mulheres, têm nitidamente correlacionado a obesidade caracterizada por deposição de gordura predominantemente abdominal, com um maior risco de doença isquêmica cardíaca e morte, independente do nível total de obesidade. Considera-se, deste modo, que muito mais do que a obesidade geral, o seu subtipo dito masculino ou andróide, apresenta importante correlação com alterações metabólicas, tanto em homens como em mulheres. Existe um grupo que muitas vezes não é devidamente considerado e 30 que alguns estudos epidemiológicos prospectivos têm demonstrado ser relevantes no estabelecimento do risco de incidência, ou mesmo, de reincidência de episódios agudos cardiovasculares, como isolamento social, nível de educação, comportamento tipo A e estresse (entenda-se por tensão e ansiedade exagerados). A remoção de cada um de todos estes fatores considerados, por si só é importante, quando um estudo mostra, por exemplo, que queda de apenas 11% do LDL-C implica em redução de expectativa de doença coronariana de 19% e queda de 35% do LDL-C implica em redução de cerca de 49% do risco. Ao mesmo tempo estes fatores são interligados, interdependentes e, na medida em que se começa a removê-los, acontece um verdadeiro efeito dominó, pois cada um que é reduzido ou removido acaba interferindo sobre os demais. 2.1 A influência da atividade física sobre os fatores de risco coronariano Nesse sentido é interessante observar a influência que a atividade física regular desempenha sobre os demais riscos coronarianos. Não é provavelmente exagerado dizer que a atividade física regular atua, de forma direta ou indireta, em praticamente todos os fatores adquiridos e pode até neutralizar alguns dos fixos. O exercício físico é um tranqüilizante natural. Além disso, possibilita a ampliação do convívio social; reduz a procura ao álcool e ao fumo; combate a obesidade e o diabetes, consumindo calorias e acelerando o metabolismo, enquanto reduz os níveis de ácido úrico e de triglicerídios. Quando se discute a problemática de promoção da saúde e a prevenção das doenças cardiovasculares, a abordagem deverá ser preferencialmente multifatorial e voltada para um enfoque mais global ou holístico. Retornando ao estudo feito por Ornish (apud KAMEL; KAMEL, 1996), houve uma clara demonstração de que modificações radicais de estilo de vida dieta, exercício e redução de estresse - provocaram até 10% de redução em média no grau de obstrução coronariana, o que implicou em duplicação da perfusão miocárdica, normalização da pressão arterial, sensação de melhoria 31 de saúde e maior disposição. O colesterol total caiu de uma média de 227 para 172 mg. Houve uma acentuada melhora clínica, com redução de 95% dos eventos clínicos e significativa diminuição do número, duração e intensidade dos episódios de angina. O resultado final foi que 82% dos pacientes mostraram regressão e 14% deles apresentaram estabilização, com impressionantes vantagens sobre os 19 pacientes que compunham o grupo de controle, submetido ao tratamento cardiológico convencional. Na realidade esta abordagem sobre os fatores de risco ou voltada para modificações no estilo de vida, não significa um confronto com o tratamento tido como convencional, que no nosso meio é sinônimo do uso de medicamentos e procedimentos invasivos, quase sempre sem utilizar um tratamento global conseqüente. Trata-se, portanto, de um tratamento limitado, muitas vezes até desnecessário, mas que, mesmo quando bem indicado, não possibilita a recuperação que se pode atingir, sendo de certo modo inócuo, embora caro, sofisticado e agressivo. Obviamente este tratamento tido como convencional deve ser cogitado, porém com procedimentos eventuais, somente quando realmente necessários. Para concluir é possível parafrasear Ornish (apud KAMEL; KAMEL, 1996) afirmando que 99% das doenças coronarianas são evitáveis às custas de um estilo de vida saudável. 2.2 Benefícios da atividade física, relacionados a doenças cardíacas Segundo Frederick; Kiesling (1987), um estudo de 20 anos com 17.000 estudantes de Harvard, mostra que uma vigorosa caminhada diária de 3 km pode diminuir em 28% ou mais o risco de ter um ataque cardíaco. Blair (1998), defende o posicionamento da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da federação Internacional de Medicina do Esporte (FIMS), que determinam que homens sedentários apresentam maiores riscos de desenvolver doença coronariana duas vezes maior do que os que praticam atividade física. Com base nos dados apresentados pela OMS e o FIMS, onde expõe o resultado de diversas pesquisas que a atividade física é fundamental não 32 apenas para redução dos riscos de desenvolvimento de doenças cardíacas mas também mostra que nos protegem contra as principais doenças crônicas não transmissíveis, diabets mellitus não insulino-dependentes, osteoporose e neoplasia de cólon. Além disso, sugerem que o sedentarismo aumenta o risco de câncer de próstata, pulmão e mama, e ainda depressão. Falamos em prevenção, mas também auxilia na reabilitação de pacientes com doenças cardiovasculares já desenvolvidas e outras doenças crônicas. (BLAIR, 1998) Através do progresso da cirurgia cardíaca houve novas perspectivas ao esporte como parte essencial do tratamento cardíaco. Onde foi evidenciado o aumento do número de centros de atividades coronarianas em ambulatórios (extra-hospitalares), atuando no tratamento das cardiopatias assim como na prevenção de doenças cardíacas. Nos últimos cinco anos passaram de 80 para 800 centros ambulatoriais evolvendo estas atividades, e isso apenas na Alemanha. (DORTMUND, 1991) Dortmund (1991), ainda chama a atenção para o processo evolutivo da pratica da atividade física, tanto na prevenção como no tratamento de cardíacos, foi reconhecido em níveis satisfatórios, para que o interesse nesta área não se limitasse apenas a uns poucos especialistas. Existe uma certa preocupação com a repercussão da atividade física sobre a função cardíaca. Tal preocupação aponta para um problema geral da medicina do esporte, que pouco se ocupou das repercussões antes salientadas. Alem da importância que o esporte apresenta na sociedade e também no esporte de alto nível, não conseguiu estabelecer a medicina do esporte como disciplina própria nas Universidades. O médico na prática de sua profissão, se depara freqüentemente com perguntas de pacientes que querem praticar esporte para melhorar sua condição física/cardíaca. No entanto, não consegue respondê-las de maneira satisfatória, por não estar preparado para prescrever um programa de atividade física compatível com a necessidade de cada paciente, uma vez que tal procedência é de competência dos profissionais que atuam na área da Educação Física. A atividade física, segundo Kamel e Kamel (1996), melhora a circulação de todo o coração, obtendo um aumento da irrigação sangüínea, oportunizando a formação de uma nova circulação (colateral). Kamel; Kamel (1996), ainda afirmam que a atividade física não só 33 aumenta nossas energias, produtividade e capacidade para nos precavermos de doenças relacionadas ao sistema cardíaco, mas também pode acrescentar anos de vida, e assim aproveitando os anos a mais com melhor circulação do coração, com batimentos cardíacos mais fortes. A atividade física feita com uma boa orientação profissional, não aumenta o apetite e é capaz de queimar a glicose sangüínea e assim condicionando melhor a metabolismo destes açúcares. Durante a atividade física ocorre a liberação de uma substância assemelhada à insulina e oportuniza uma melhor capacidade de queimar os açúcares e com isso evitando o aumento de gorduras no sangue e conseqüentemente protela a arteriosclerose. (KAMEL; KAMEL, 1996) A deposição de placas de colesterol (ateromas) na parede das artérias recebe o nome de aterosclerose. Arteriosclerose é outra situação: trata-se do endurecimento das paredes arteriais. As pessoas idosas costumam apresentar arteriosclerose mas nem todas apresentam depósito de ateromas. A arteriosclerose diminui a capacidade de adaptação do sistema vascular aos esforços, mas sem maiores consequências para a saúde. Ao contrário, a aterosclerose leva ao enfraquecimento e dilatação localizada (aneurismas) das artérias, que podem se romper. Além disso, as placas de ateromas diminuem o fluxo de sangue para os diversos órgãos, e em situações de aumento da demanda por oxigênio podem precipitar um infarto (morte tecidual). Os exercícios físicos, incluindo os exercícios com pesos, diminuem os triglicerídeos no sangue, diminuem também as lipoproteinas nocivas (LDL), e aumentam os níveis das lipoproteinas benéficas (HDL), diminuindo assim o risco de aterosclerose. Kamel; Kamel (1996), dizem que um dos principais fatores da obesidade, do diabetes e também da arteriosclerose, é extinguido através da atividade física, melhorando a metabolismo dos princípios nutritivos, melhorando também a circulação sangüínea e principalmente a coronária. 34 CAPÍTULO III O TREINAMENTO FÍSICO NA REABILITAÇÃO CARDÍACA O sedentarismo há muito foi incluído na lista dos fatores de risco coronariano. Através do exercício físico, pacientes cardíacos passam a ter capacidade funcional semelhante a de uma pessoa sadia da mesma idade. Até mesmo sintomas e sinais como alterações eletrocardiográficas podem melhorar ou até normalizar. Isto ocorre pela resposta de ajustamentos fisiológicos que reduzem o trabalho cardíaco para a mesma sobrecarga de esforço. A redução na freqüência cardíaca (FC) e na pressão arterial (PA) e a melhora da contratilidade miocárdica diminuem o trabalho do coração, retardando, assim, o surgimento de dor anginosa. O termo reabilitação cardíaca é definido como o processo pelo qual o paciente busca retomar a níveis bons do ponto de vista físico, mental e social. Os programas de reabilitação têm um enfoque multidisciplinar, no qual deve haver uma equipe de apoio para o controle dos fatores de risco associados à doença arterial coronariana. No entanto, o exercício físico é considerado a parte fundamental neste processo. O papel da atividade física na prevenção da doença arterial coronariana (DAC) e da hipertensão tem sido estudado pelos pesquisadores através da avaliação de dados indiretos como: prevalência da DAC em populações inativas versus ativas (usando predominantemente o tipo de trabalho e/ou lazer como índice do nível de atividade); ex-atletas versus atletas; influência do treinamento físico de resistência (endurance) na redução de certos fatores de risco da DAC; modelos animais nos estudos da atividade física, DAC e hipertensão; e influência da atividade física na perspectiva, em longo prazo, daqueles pacientes que têm DAC documentada, isto é, angina de peito, infarto do miocárdio e cirurgia de revascularização do miocárdio. Considera-se como prevenção secundária, em reabilitação cardíaca, os programas de treinamento físico para pacientes infartados (ou com insuficiência coronariana crônica) e revascularizados. Na prevenção secundária, a influência da atividade física de resistência aeróbia tem o intuito 35 de determinar se um estilo ativo de vida poderia melhorar o prognóstico anual. Com relação à morfologia cardíaca, pequena ou nenhuma alteração tem sido demonstrada na massa ventricular esquerda ou no volume cardíaco a curto ou médio prazo de treinamento. Igualmente, a angiografia coronária não deixou clara alterações significativas nas lesões ateroscleróticas ou nos vasos colaterais. Entretanto, estudos recentes têm demonstrado que certos pacientes podem apresentar considerável melhora na função ventricular esquerda e nos índices de perfusão miocárdica com o treinamento físico. Segundo Pollock (1986), as funções elétricas e hemodinâmicas do coração parecem melhorar em alguns pacientes submetidos a treinamento físico. Em alguns casos, pacientes com depressão do segmento ST melhoram seus eletrocardiogramas após o treinamento e aumentam seu limiar à dor. Além disso, mesmo se o limiar absoluto não foi alterado, isto é, se a angina continua a se manifestar na mesma FC, o nível de trabalho após um período de condicionamento físico encontra-se mais elevado. Com relação à morbidade e à mortalidade em pacientes com DAC, embora recentes estudos não tenham demonstrado diferenças significantes entre treinados e não-treinados, a tendência é indicar que substancial diferença pode se tornar evidente em um período longo de observação com grande número de pacientes. Os benefícios da atividade física, no que diz respeito à qualidade de vida, são indubitáveis, e são evidenciados sob o aspecto psicossocial, interferindo no estado de ansiedade e depressão, elevando a autoconfiança e favorecendo assim sua reintegração social e profissional, além de motivar a mudança dos hábitos de vida e o controle dos fatores de risco. Os efeitos fisiológicos ocasionados por treinamento físico de pacientes com insuficiência arterial coronariana, a curto e médio prazos, são, mais freqüentemente, diminuição da FC para um mesmo nível de consumo de oxigênio; aumento da tolerância ao esforço; aumento da capacidade de trabalho; aumento do desempenho cardíaco submáximo (estimado pelo duploproduto); diminuição da percepção do esforço e aumento da eficiência metabólica muscular periférica na extração do oxigênio (maior diferença arteriovenosa de 02). Nos pacientes submetidos a cirurgia de revascularização do miocárdio 36 (RM), a atividade física pode também ajudar a diminuir a rigidez pós-cirúrgica e até a prevenir complicações como a atelectasia pós-operatória, além de prevenir os efeitos deletérios do repouso prolongado e reduzir a ansiedade e depressão. Em resumo, pode-se dizer que a atividade física induz a modificações fisiológicas favoráveis na evolução do paciente. 3 FASES DA REABILITAÇÃO CARDÍACA De acordo com Pollock (1986), os programas de reabilitação são divididos em fases conforme o período após o evento cardiológico. Estas que são: a) fase I, ou fase de reabilitação hospitalar; b) fase II, ou fase intermediária (geralmente as primeiras 8 a 12 semanas após a alta hospitalar); c) fase III, que consiste do programa em longo prazo. Somente nos últimos anos os programas orientados e supervisionados foram melhor instituídos nos grandes centros, onde o paciente internado inicia a programação de reabilitação física tão logo seja considerado estável, o que geralmente acontece em tomo do terceiro dia após o infarto agudo do miocárdio (IAM) ou da cirurgia de revascularização do miocárdio (RM), e se prolonga até a alta hospitalar, que costuma ocorrer em torno de 5-7 dias após o IAM ou 8-10 dias de pós-operatório (fase I). Após duas semanas de descanso em casa, inicia-se um programa organizado que se estenderá até o terceiro mês pós-cirúrgico (fase II). Nesta fase, dá-se ênfase a exercícios de flexibilidade que são especialmente importantes para pacientes cirúrgicos, já que durante a cirurgia ocorrem lesões significativas de músculos, articulações e ossos da parede torácica, dos braços e ombros. Se estas estruturas não forem submetidas a exercícios de mobilidade e elasticidade, a amplitude de movimentos ficará comprometida, pois desenvolver-se-ão aderências e a musculatura se enfraquecerão e encurtará por retração. Além disso, os exercícios de flexibilidade objetivam 37 prevenir má-postura, dificuldades em atingir sua capacidade física anterior e uma boa amplitude de movimentos. Uma revisão sobre treinamento de pacientes com DAC através de exercícios, publicada pela American Heart Association (1983) enfatizou a necessidade da existência de aulas supervisionadas com pessoal especializado em prescrição de exercícios e ressuscitação cardiopulmonar, principalmente nos estágios iniciais da reabilitação. A maioria dos especialistas concorda que as primeiras seis a oito semanas de reabilitação são freqüentemente as mais críticas para o paciente. Nos pacientes Pós-RM, a cicatrização é ainda incompleta e são feitos ajustes na medicação até que se obtenha a dose adequada. Há indicações de que o período da 6ª à 12ª semana pós-operatória seja o de maior suscetibilidade à ocorrência de disritmias significativas. As contra-indicações para inclusão e manutenção de pacientes nas fases I e II, de acordo com as recomendações da American Heart Association (1975) e do Colégio Americano de Medicina Esportiva (1987) podem ser absolutas, relativas e as que requerem cuidados especiais e/ou precauções, de acordo com critérios médicos, tanto do clínico que acompanha o paciente no pós-operatório como do médico cardiologista que supervisiona as sessões de condicionamento físico. a) contra-indicações absolutas: pacientes em repouso no leito com restrições de mobilidade; angina pectoris prolongada ou instável; infarto agudo do miocárdio recente ou instável; paciente sintomático; pressão arterial diastólica de repouso superior a l20mmHg e sistólica superior a 200mmHg; resposta inadequada da pressão arterial ao exercício ou à posição ortostática; arritmias atriais, supraventriculares ou ventriculares graves; bloqueio cardíaco de 2º ou 3º grau de início recente; embolia pulmonar ou sistêmica recente; tromboflebite; aneurisma dissecante; processo infeccioso ou inflamatório em atividade; mobilidade esternal presente (contra-indicação para exercícios de flexibilidade do tronco e membros superiores); insuficiência cardíaca descompensada; pericardite ativa (primária) ou miocardite; estenose aórtica importante (gradiente acima de 50mmHg); doença sistêmica aguda; 38 b) contra-indicações relativas: pressão diastólica em repouso superior a 110mmHg ou sistólica acima de l80mmHg; elevação inadequada da pressão arterial ao exercício; hipotensão arterial relativa; estenose aórtica moderada; insuficiência cardíaca compensada; estresse emocional significativo; pericardite associada a cirurgia de revascularização miocárdica; depressão do segmento ST acima de 3mm ao esforço; diabetes melito descompensado; alterações neuromusculares, musculoesqueléticas ou artríticas que dificultem as atividades; drenagem incisional excessiva; taquicardia sinusal com FC superior a l20bpm em repouso; alterações eletrocardiográficas pós-operatórias que possam sugerir ou indicar infarto recente do miocárdio; aneurisma ventricular; anemia importante (hematócrito inferior a 30%); c) condições que requerem cuidados especiais e/ou precauções: distúrbios de condução; arritmias controladas; angina pectoris e outras manifestações de DAC; distúrbios eletrolíticos; obesidade pronunciada (mais de 20% acima do peso corporal); claudicação intermitente. Após três meses do evento cardiológico, inicia-se a fase III, tanto para os pacientes vindos da fase II como da comunidade. No Brasil ainda é mais comum o início da reabilitação na fase III. Isto se justifica pelo fato de que, no início desta fase (por volta do terceiro mês), já é comum a realização do teste de esforço máximo. A segurança é maior e a prescrição mais precisa. Porém, muitos cardiologistas indicam caminhadas aleatórias e sem supervisão a seus pacientes, o que não justifica o não-encaminhamento a um serviço especializado para reabilitação supervisionada. 3.1 Prescrição de exercícios na reabilitação cardíaca O exercício para o paciente coronariopata inclui atividades realizadas em programas de exercício de supervisão formal, assim como atividades físicas diárias. Por isso, atividades diárias gerais são encorajadas em adição às sessões formais de exercício. 39 O programa de exercícios para os pacientes com doença coronariana é baseado na prescrição tradicional para o desenvolvimento do efeito do treino em pessoas saudáveis. Porém, é modificado como indicado pela condição cardiovascular e estado clínico geral do paciente. Isso envolve um adequado programa individual de exercícios com respeito ao modo, freqüência, duração, intensidade e progressão do exercício. Nos últimos anos os programas de treinamento físico na reabilitação cardíaca foram amplamente aceitos e indicados pelos médicos cardiologistas como uma modalidade terapêutica de grande importância. Tanto para pacientes com doença arterial coronariana (DAC) como para indivíduos saudáveis, os princípios gerais da prescrição de exercícios são os mesmos. Porém, as limitações fisiológicas, a história e o estado clínico dos pacientes com DAC devem ser particularmente analisados para se prescrever o exercício com nível de segurança. A individualização da prescrição é fator fundamental, uma vez que há variações na gravidade da doença aterosclerótica, na diminuição ou não da função ventricular, na presença ou não de sintomas e sinais, e na capacidade funcional. Os objetivos também são individuais, de acordo com as limitações impostas pela doença. A prescrição deve ser prudente e respeitar o estágio de recuperação após o infarto do miocárdio ou após a cirurgia de revascularização do miocárdio. Deve-se considerar também alterações nos parâmetros cardiovasculares impostas por medicamentos, problemas ortopédicos e neuromusculares muitas vezes evidenciados durante o treinamento. A prescrição no início do programa e sua progressão devem respeitar as adaptações fisiológicas, até se obter a porcentagem ideal de intensidade e sua correspondente freqüência cardíaca. 3.2 Tipo de atividade Grandes grupos musculares, exercício contínuo como andar, correr, pedalar, nadar, aeróbica em grupo e remar, são apropriados para o 40 condicionamento de resistência cardiovascular. Exercícios da extremidade superior realizados com ergométricos de braço podem ser utilizados para aqueles que não podem tolerar atividade na extremidade inferior devido a razões ortopédicas ou outras, e para pacientes cujas atividades ocupacionais ou recreacionais são dominadas pelo trabalho de braço. Treinamento de força também é benéfico para pacientes selecionados. Exercícios de resistência geralmente são realizados numa abordagem de treinamento em circuito, até 10-12 exercícios usando 10-12 repetições de resistências que podem ser realizadas confortavelmente. Atividade com bicicleta pode também ajudar a reduzir problemas músculo-esqueléticos e a aumentar a participação. Freqüência do treinamento - dependendo do período de convalescença, a freqüência do treinamento é de 2 vezes por dia (fase I) ou 3 a 5 vezes por semana (fases II e III). Duração do treinamento - uma atividade de menor intensidade deve ser mantida por um tempo prolongado. A duração deve ser de 15 a 60 minutos de atividade aeróbia contínua ou intervalada. Intensidade do esforço - num programa de reabilitação cardíaca, a prescrição da intensidade e a monitorização devem ser rigorosamente adequadas para minimizar os riscos de intercorrências. A intensidade é expressa como percentual da capacidade funcional. A informação subjetiva do paciente deve sempre ser levada em consideração. O paciente deve se sentir repousado uma hora após o exercício e não ainda fatigado por outra atividade prévia ou mesmo por situação de estresse. A intensidade mais usual é de 50-60% da capacidade funcional para pacientes com baixa capacidade física e de 60-70% para assintomáticos em geral. Treinamentos abaixo de 50% não produzem efeitos significativos e acima de 85% não são recomendados. Medidas objetivas da aptidão física são a melhor forma para se determinar a intensidade do esforço ideal para o treinamento. A medida da capacidade funcional é obtida através do teste de esforço ou teste ergométrico (TE). Além disso, observa-se a freqüência cardíaca (FC), a pressão arterial (PA), o ritmo cardíaco e as alterações morfológicas ao eletrocardiograma (ECG). A intensidade do treinamento pode ser determinada por: porcentagem 41 do consumo de oxigênio máximo (VO2máx.); porcentagem da unidade metabólica máxima (METmáx.); porcentagem da FC máxima; pelos níveis de cansaço (IPE - índice de percepção do esforço - segundo Borg) e pela obtenção do limiar anaeróbio. Isto é válido para indivíduos cujo teste máximo é alcançado sem ocorrência de sintomas, ou cansaço intenso (IPE-Borg) a baixas sobrecargas e sem alterações do ECG, do ritmo e da PA. Caso uma dessas alterações ocorra, como depressão do segmento ST ao ECG, angina de peito ou níveis de pressão sistólica acima de 250mmHg, deve-se estabelecer o nível de treinamento no VO2, MET ou FC em que apareceu a alteração. 3.3 Prescrição da intensidade de exercício Do teste de esforço se evidencia a relação entre FC e consumo de oxigênio (VO2) ou unidades metabólicas (MET). Um MET corresponde a 3,5ml de oxigênio por quilo de peso corporal por minuto (ml O2/kg/min). Prescrição da intensidade do exercício pelo consumo de oxigênio (VO2): existe uma correlação aproximadamente linear entre FC e consumo de O2. Fatores ambientais e psicológicos podem interferir nesta relação. A FC máxima é, em geral, a FC medida no pico do esforço máximo alcançado no teste de esforço. Este método consiste em estabelecer o percentual da capacidade funcional (VO2máx.) e correlacioná-lo com a FC, determinando-se assim a intensidade de esforço (FC alvo) para a realização do treinamento físico, por exemplo, uma prescrição de treinamento na faixa de 60 a 70% do VO2máx. Prescrição da intensidade do exercício pela FC: um primeiro método, inicialmente descrito por Karvonen (apud MARINS, 1998), é aquele que estipula a chamada porcentagem da reserva de FC máxima. Consiste em determinar a FC alvo para treinamento, multiplicando-se a diferença entre a FC máxima alcançada no TE e a FC de repouso - reserva cronotrópica – pela porcentagem estabelecida (ex: 60%), e o resultado deve ser somado à FC em repouso. Se este cálculo for feito para outro percentual (ex: 70%), pode se estabelecer assim uma faixa de 60 a 70% da FC máxima a ser utilizada no treinamento físico. 42 Uma variação desta mesma técnica recomendada pelo Colégio Americano de Medicina Esportiva (1987) consiste numa determinação mais precisa do percentual a ser utilizado na fórmula. Ele é determinado pelo somatório da capacidade funcional, em MET, a um limiar básico de intensidade de 60%. Este padrão variável leva em conta o conhecido efeito da capacidade funcional na intensidade relativa do esforço que pode ser tolerada. A intensidade mínima de exercícios para fins de condicionamento deve encontrar-se em torno de 40% da diferença entre a freqüência cardíaca máxima e a freqüência cardíaca de repouso, somada à freqüência cardíaca de repouso; a intensidade média, em torno de 60% mais o METs, e a máxima em torno de 85% da citada diferença. (MARINS, 1998) Um segundo método consiste em calcular o percentual da FC máxima atingida. Para o exemplo anterior, cuja FCmáx. obtida no TE foi de 180bat/min, estabelece-se 70% de 180 (180 x 0,70) e obtêm-se assim 126bat/min como FC alvo. Para o mesmo percentual, os resultados são equivalentes, sendo que o segundo método pela FC subestima a FC alvo, para um determinado nível de capacidade física, em aproximadamente 15%. Por isso, deve-se somar à FC calculada mais 15%. Dentro do treinamento intervalado, ou em atividades com alternância de intensidade, podem ocorrer variações de FC acima ou abaixo da prescrita, porém estas variações devem ser pequenas, e a média da FC/tempo deve estar dentro do nível preconizado. O controle da freqüência cardíaca pode ser feito por monitorização eletrocardiográfica, por telemetria ou pela palpação de pulso, que é o método mais utilizado em condições não-laboratoriais. Prescrição da intensidade do exercício pelo índice de percepção de esforço (IPE de Borg): o TE idealizado por Borg é uma escala numérica de 15 pontos (6 a 20) com descrição verbal correlacionada a cada valor. Ela é utilizada no TE e nos programas de treinamento. A referência do cansaço relativo é um parâmetro que complementa a avaliação da intensidade pela FC ou até a substitui. É principalmente importante quando o paciente faz uso de medicação que deprime a resposta cronotrópica (de FC) ao esforço. Tanto para TE quanto em treinamento de intensidade constante, a estimativa da intensidade pela escala subjetiva se correlaciona bem com o consumo de 43 oxigênio (VO2) e com a FC (0,80 a 0,90) respectivamente. O esforço é considerado máximo ou próximo do máximo, quando o paciente referir um esforço de 19 ou 20 (Borg). Já para intensidades médias, um esforço percebido em 12 a 13 corresponde aproximadamente a 60% da FC máxima. Para a maioria dos indivíduos em condicionamento físico, a intensidade deve estar entre 12 e 16. É possível determinar mais exatamente o gasto de cada atividade, mas isto requer inúmeros cálculos matemáticos e uso de fórmulas ou medidas diretas em ergoespirometria. A determinação do nível de intensidade para treinamento usa também o nível de 60% como básico. Soma-se então o número de MET alcançado no TE a 60, obtém-se um valor percentual e multiplica-se este novamente pelo número de MET máximo do TE. Fatores ambientais alteram o gasto energético. Por isso, é difícil manter os níveis de intensidade constante. Recomenda-se sempre o controle do treinamento também pela FC. À medida que as adaptações ao treinamento ocorrem, a FC e a percepção do esforço para um determinado nível de MET baixam. Portanto, o professor de educação física deve aumentar progressivamente o nível de MET para obter a FC e o IPE desejados no treinamento. Confirmação e ajuste do progresso no programa físico são mais adequadamente obtidos nas reavaliações periódicas. Dependendo da capacidade individual de tolerar o cansaço e do grupo muscular envolvido na atividade aeróbia, devem ser feitos ajustes nos valores encontrados nos cálculos de intensidade para treinamento físico. De qualquer modo, tratando-se de pacientes coronariopatas, os sintomas e sinais são primordiais na limitação da intensidade de esforço. Manifestações como angina de peito, claudicação intermitente e outras podem determinar níveis baixos de treinamento, com valores de FC ou MET bem menores do que aqueles obtidos por cálculos teóricos acima descritos. 3.4 Fases do treinamento 44 O tempo médio de reabilitação para a maioria dos pacientes deve variar de 6 a 12 meses, sendo que este deverá se dividir em fases I, II e III. Estas fases clínicas diferem em intensidade, duração, freqüência, local a ser desenvolvido o programa, manifestação dos pacientes e tipo de atividade. Com os inúmeros problemas originados pelo repouso no leito e a cirurgia, há necessidade de que o ritmo de progressão da atividade seja lento e individual. O programa para infartados apresenta algumas diferenças em relação ao dos pacientes que sofreram cirurgia de revascularização do miocárdio. Como exemplo, o início do programa para infartados pode acontecer mais cedo; o ritmo de progressão também é mais rápido, e as atividades que incluem mobilidade articular dos membros superiores (MS) têm mais ênfase em pacientes cirúrgicos. Na fase inicial do programa, ou seja, fase I, a prescrição da freqüência cardíaca treino (FC treino) e a FC limite não é determinada, enquanto nas fases II e III, é definida a partir do teste de esforço (limitado a sintomas e sinais) realizado ao final da fase I. 3.4.1 Fase I A parte inicial do programa é conduzida em unidade cardiovascular de tratamento intensivo assim que o paciente se encontre estável. No início desta primeira fase do programa de reabilitação cardíaca, os pacientes devem ser monitorizados através de unidades eletrocardiográficas diretas ou por telemetria. O ideal é que neste período a freqüência das sessões corresponda de 2 a 3 vezes por dia com atividades de baixa intensidade, alcançando de 2 a 3 MET, e duração de 5 a 20 minutos cada sessão. São realizados exercícios de mobilidade passiva, deambulação e exercícios de calistenia leve. Já no final da fase I, as sessões poderão ser conduzidas em salas de exercício especialmente equipadas, pois os pacientes também são monitorizados. A proporção paciente profissional deve ser de 1:1. As tomadas de freqüência cardíaca, pressão arterial, escala de Borg de percepção do nível 45 do esforço devem acontecer durante todas as sessões. O treinamento pode ser desenvolvido em esteira rolante ou bicicleta ergométrica. A progressão será obtida com o aumento da duração e da freqüência das sessões e com a manutenção da intensidade do treinamento. As atividades realizadas na Fase I tipicamente não ultrapassam 2 a 3 MET. O paciente só terá alta do programa hospitalar (fase I) se for certificada sua segurança nas atividades do cotidiano. Para isso, o paciente será submetido a um teste de esforço a sintomas com intensidade de até 5 MET da capacidade funcional. Em geral, o programa hospitalar tem duração de aproximadamente 8 a 10 dias. 3.4.2 Fase II O programa ambulatorial ou domiciliar (fase II) é a continuação das atividades hospitalares e deve ter início tão logo o paciente receba alta da fase I. Esta é uma fase intermediária durante a qual o paciente passa de um programa cujo nível de treino não é totalmente definido para um treinamento mais amplo e de maior estabilidade. A fase II tem como objetivo a independência dos pacientes nas atividades cotidianas, o reinicio das atividades ocupacionais, a introdução de hábitos positivos e principalmente fazer o paciente atingir um gasto de 300 calorias por sessão. Após a realização do teste de esforço ao final da fase I, os pacientes com capacidade funcional igual ou superior a 5 MET participarão do programa da fase II com freqüência de 3 a 4 sessões por semana, intensidade média de 4 MET ou 50 a 70% da capacidade funcional, duração inicial de 10 a 15 minutos com progressão para 30 a 60 minutos. Pacientes com capacidade funcional inferior deverão seguir o mesmo esquema da fase I até que adquiram maior resistência. Nesta fase a proporção paciente/profissional é de 4:1. A tolerância à duração do treinamento também influi na progressão do paciente. O programa inclui mobilização articular, caminhada, marcha e ciclismo. Pode ser realizado em hospitais, em serviços especializados ou no próprio lar; 46 este último é aconselhado apenas para pacientes estáveis. Durante esta fase intermediária, os pacientes devem receber instruções acerca da fisiopatologia da doença cardiovascular, o fundamento do tratamento, o teste ergométrico, a faixa de segurança para atividades de lazer e ocupacional, dietas e modificação dos fatores de risco. O cálculo da FC de treino e limite variam para pacientes que executaram teste de esforço máximo, ou submáximo em relação aos que apresentaram sinais ou sintomas significativos durante o esforço máximo. Para os primeiros casos, a prescrição do treinamento deve ser calculada entre 50 e 70% da capacidade funcional apresentada no teste, levando em consideração o status médico, a escala de Borg de 13 no teste de esforço, a participação do programa e o julgamento clínico; já para o último caso, a prescrição é feita calculando-se uma FC de 5 a 10 batimentos abaixo da freqüência cardíaca na qual foram observados os sintomas. 3.4.3 Fase III Esta fase do programa geralmente acontece em ambientes comunitários, de forma organizada e supervisionada. É necessário que no ambiente haja desfibrilador portátil, eletrocardiógrafo e monitor acoplado, esfigmomanômetro, drogas, equipamentos e suprimentos de emergência. Para ingressar na fase III, é preciso que o paciente tenha evoluído em sua capacidade funcional observada nos testes de esforço. O ingresso nesta fase ocorre, em média, após 3 meses do IM ou da RM. Neste programa, onde os pacientes são mais estáveis e fortes fisicamente, as prescrições são semelhantes para infartados, revascularizados e adultos sedentários saudáveis. A intensidade nesta fase do programa está em torno de 70% da freqüência cardíaca máxima, podendo ser ajustada até 85%. Com uma capacidade funcional de 8 a 10 MET, o indivíduo já pode participar de atividade como jogging, com duração de 30 a 60 minutos e freqüência de três a cinco sessões por semana. É importante mencionar que a intensidade deve ser personalizada e 47 evoluir gradativamente. A princípio a evolução se dá com o aumento da duração da sessão e posteriormente incrementa-se a intensidade da atividade. Uma intensidade de 8 MET ou mais corresponde a uma capacidade funcional aceitável e, a partir deste estágio, o indivíduo entra em fase de manutenção. Durante as sessões é preciso que sejam observados a FC, a PA, o ritmo cardíaco e a escala de Borg de percepção do nível de esforço. Para o acompanhamento da evolução, os pacientes deverão realizar testes de esforço e avaliações clínicas periodicamente (ex: 3, 6 e 12 meses após o início desta fase). 48 CAPÍTULO IV O EDUCADOR FÍSICO E O PROGRAMA DE PREVENÇÃO E REABILITAÇÃO CARDÍACA Para que o educador físico atue no programa de prevenção e reabilitação cardíaca é necessário que ele tenha adquirido conhecimentos específicos na área, sendo pré-requisito uma especialização após a conclusão do nível universitário em educação física, através de curso de aprimoramento teórico-prático em prevenção e reabilitação cardíaca oferecido por algumas instituições reconhecidas e especializadas em cardiologia. É importante que o educador físico atuante na área goste do que faz. O contato com o aluno é diário e o relacionamento aluno-professor e professoraluno deve ser favorável. Para que isso ocorra são fatores fundamentais a motivação e o interesse recíprocos para que os objetivos do programa possam ser atingidos. A atuação do educador físico no programa de condicionamento consiste em: a) desenvolver a atividade física programada considerando as etapas: aquecimento, ginástica localizada e orientação de relaxamento (volta à calma); b) medir freqüência cardíaca (FC) e pressão arterial (PA), orientando também o autocontrole destes parâmetros; c) esclarecer possíveis dúvidas a respeito da prescrição de exercício diário; d) estar atento a sintomas e sinais clínicos durante o programa, tais como cansaço excessivo, dor de cabeça, tontura, dor no peito, falta de ar, alterações súbitas de FC e PA. Caso haja uma ou mais destas ocorrências o reabilitando deve ser encaminhado para o médico responsável, que fará uma reavaliação clínica. O programa de prevenção e reabilitação cardíaca orientada e desenvolvido pelo educador físico representa um dos meios mais eficientes da medicina preventiva e de reabilitação no combate a inúmeras doenças 49 causadas pela falta de atividade física e de trabalho muscular, por excesso de alimentação, sedentarismo e por vários outros fatores patogênicos. Além disso, o exercício representa um método eficiente para o aperfeiçoamento físico e o equilíbrio psicossomático, melhorando o desempenho e o rendimento no esporte e no trabalho. O sendentarismo tem sido considerado um dos fatores de risco coronariano, e a prática da atividade física regular e orientada é necessária para prevenir os processos degenerativos do organismo. 4 OBJETIVOS DO PROGRAMA Através da prática do exercício físico pode-se comprovar: Aumento da capacidade funcional - capacidade aeróbia - cardiovascular e respiratória; Melhora da força e da resistência muscular localizada; Melhora da qualidade dos movimentos, tais como flexibilidade, coordenação, equilíbrio e mobilidade articular; Melhora da atenção, da habilidade, da destreza e da acuidade visual; Prevenção do agravamento das alterações arteriais e menor incidência de eventos cardiovasculares fatais. O conjunto destas modificações interfere favoravelmente na limitação dos fatores de risco coronariano. 4.1 Considerações gerais Indicações: São encaminhados pelo médico para o programa: Indivíduos preventivos primários, tais como os portadores de hipertensão arterial, dislipidemias, hiperuricemia, diabetes, tendência à obesidade etc. 50 Indivíduos preventivos secundários portadores de doença coronariana, arritmias cardíacas, pós-infarto do miocárdio, pós-revascularização miocárdica e pós-angioplastia. Benefícios: O exercício físico previne ou retarda a cardiopatia aterosclerótica coronariana se: For ministrado em intensidade, duração e freqüências adequadas. Aumentando a capacidade funcional do coração, pulmões e a absorção de O2 em níveis periféricos; Modificar e atenuar significativamente os fatores de risco coronariano; Proporcionar benefícios psicológicos importantes. É importante lembrar que os benefícios cardiorespiratórios e metabólicos variam, na devida proporção, de acordo com as características de cada indivíduo no início do programa de condicionamento, tais como: idade, sexo, estado geral de saúde, capacidade funcional de reserva e peso corporal. Boa capacidade funcional cardiorespiratória e musculoesquelética faz com que o indivíduo execute uma tarefa com menor sobrecarga do sistema cardiorespiratório e do aparelho locomotor, podendo responder efetivamente em situações energéticas e de estresse. 4.2 Programa de prevenção e reabilitação cardíaca Para iniciar o programa são necessárias uma consulta com o cardiologista e uma avaliação ergométrica em cicloergômetro ou esteira rolante, que deverão ser repetidas a cada seis meses ou quando for necessário. É através dessa avaliação ergométrica que o cardiologista poderá obter e calcular os parâmetros de FC e consumo de O2 a serem atingidos durante o treino, orientado e desenvolvido pelo educador físico. Após a avaliação ergométrica, o cardiologista encaminha ao educador físico a ficha de controle diário, com os elementos básicos para identificar o paciente, seu diagnóstico principal e patologias associadas, medicação em uso, dados do último teste ergométrico e a prescrição médica com a faixa de FC de treinamento baseada no percentual da FC máxima atingida. 51 Após receber a ficha de controle diário, o educador físico orienta o aluno a respeito de: 1 - Vestimenta adequada para a prática do exercício - nos dias quentes ou com temperaturas mais amenas, deve-se usar camiseta leve e bermuda ou calção (short) e nos dias mais frios deve-se usar agasalho de ginástica (training). Usar meia de algodão e tênis é indicado para corrida (jogging). Obs.: Nunca usar roupa de borracha ou plástica, porque o aumento da transpiração não resulta em perda de peso. 2 - Alimentação correta previamente à prática do exercício - em geral aconselha-se uma refeição bastante leve até meia hora antes do exercício, devendo ser evitado o café. A orientação de alimentação é fornecida pela nutricionista da equipe multiprofissional. Obs.: Não se deve praticar exercício em jejum. 3 - Como preencher diariamente os espaços correspondentes à FC, bem como a percepção subjetiva do grau de cansaço na ficha de controle diário em repouso, durante e após o período de recuperação das atividades aeróbias cicloergômetro, andar e/ou correr. Obs.: A FC é medida no pulso radial ou carotídeo em 15 segundos. 4 - Freqüência de treinamento, duração da aula e duração do programa – o programa deve ser realizado no mínimo três vezes por semana e o tempo de duração da aula é de uma hora. O programa supervisionado tem como tempo médio de duração 12 meses, sendo o aluno orientado para dar-lhe continuidade, dentro das possibilidades, de modo permanente. A aula é composta de: Aquecimento: Duração - entre 5 e 7 minutos Objetivo - manter e desenvolver alongamento de músculo e tendões, flexibilidade e mobilidade de articulação e ligamentos, preparando estas estruturas para as atividades aeróbias que virão a seguir. Exercícios de potência e resistência (endurance) muscular são executados como parte de um período inicial de aquecimento, mas devem ser precedidas pelos exercícios de alongamento. O aquecimento adequado pode ajudar a aliviar algumas lesões potenciais, tais como contraturas e distensões musculares e desconforto 52 lombossacro, além de prevenir o aparecimento das dores musculares. Nesta fase também é importante utilizar movimentos para melhorar a coordenação e o equilíbrio. Atividade aeróbia: Duração - 25 minutos de atividade + 5 minutos de recuperação = 30 minutos. Objetivo - melhorar a aptidão cardiorespiratória no que se refere à capacidade funcional de seu sistema de absorção, transporte, entrega e utilização de O2 aos tecidos ativos durante o exercício físico. À medida que cresce a intensidade do exercício, aumenta a necessidade de O2 pelos músculos em atividade. As atividades aeróbias são desenvolvidas pelo treino em bicicleta ergométrica e por caminhada e/ou corrida. Este treinamento é desenvolvido em dias alternados e os protocolos são padronizados e orientados pelo educador físico de acordo com a evolução individual e gradativa do paciente, conforme as respostas de FC, PA e grau de cansaço ao exercício. Relaxamento: Duração - entre 2 e 3 minutos Objetivos - proporciona a volta à calma através de orientação dirigida ao aluno pelo educador físico no que se refere a autoconscientização do corpo, seus segmentos e sua descontração. 53 CAPÍTULO V PRINCÍPIOS DA PRESCRIÇÃO DE EXERCÍCIOS A reabilitação nas incapacidades cardiovasculares obedece a princípios que visam um desenvolvimento adequado do condicionamento físico, com um mínimo de risco para o paciente. Inclui uma supervisão adequada, reavaliações médicas periódicas, reorientação da dieta para controle do peso corporal e dos lípides séricos, a interrupção do hábito de fumar e medicação adequada, tudo orientado para um completo reajustamento físico, psicológico e social do paciente. A avaliação médica inicial, através da história clínica, exame físico e exames complementares, bem como o teste de exercício graduado são essenciais para fornecer informações seguras a respeito da intensidade e nível de participação nos programas de atividade física. O exercício físico está contra-indicado nos casos de estenose severa (80-90%) de uma das três artérias coronárias mais calibrosas; angina rapidamente progressiva; infarto iminente; aneurisma ventricular; insuficiência cardíaca congestiva; taquicardia ventricular; bloqueios atrioventriculares; bloqueios atrioventriculares de segundo e terceiro graus; marca-passo de freqüência ventricular fixa; fibrilação atrial não tratada; batimentos ventriculares prematuros no repouso, que aumentam com o exercício; doenças valvulares moderadas a severas; hipertensão incontrolada e miocardite aguda. O condicionamento cardiorespiratório resulta do gasto energético total no regime de exercícios, o qual depende da intensidade, duração, freqüência e do tipo de exercícios praticados. Estes fatores são considerados individualmente, pois constituem as bases gerais para todos os programas de recondicionamento físico. 5 INTENSIDADE DO TREINAMENTO 54 O mais importante componente da prescrição de exercícios é a determinação da intensidade do treinamento, a qual é expressa em termos de porcentagem da capacidade aeróbia ou freqüência cardíaca máxima. A porcentagem da freqüência cardíaca máxima reflete a capacidade funcional tanto quanto a demanda do oxigênio pelo miocárdio, pois existe uma relação linear entre ela e o consumo de oxigênio durante exercícios dinâmicos. De um modo geral, a intensidade mínima dos exercícios para fins de condicionamento deve encontrar-se em torno de 40% da diferença entre a freqüência cardíaca máxima e a freqüência cardíaca de repouso, somada á freqüência cardíaca de repouso; a intensidade média, em torno de 60% mais o METS (alcançados no teste de exercício graduado), e a máxima em torno de 85% da citada diferença. Quando o paciente se torna condicionado, uma série de testes de exercício graduado definirá uma freqüência cardíaca mais elevada, que permitirá um condicionamento mais vigoroso. Outro método de prescrição da intensidade dos exercícios refere-se ao equivalente metabólico (MET). Considera-se a unidade MET como valor-base da utilização do oxigênio no repouso. Assim, na posição sentada o valor é 3,5 ml O2/kg/min, e na posição de pé passaria a 4,0 ml O2/kg/min. 5.1 Duração do treinamento A duração de uma sessão de exercícios de condicionamento físico está entre 20 e 30 minutos/sessão. O número de semanas para treinamento é também importante, iniciando-se os efeitos do condicionamento em quatro a seis semanas de exercícios. Após completar estas seis primeiras semanas de programa, mais 20 semanas de treinamento proporcionarão um aumento substancial do nível de condicionamento. A partir dai o indivíduo poderá diversificar suas atividades físicas. É muito importante que o condicionamento continuamente, e que sejam feitas reavaliações periódicas. seja praticado 55 5.2 Frequência de Treinamento O limiar de treinamento se situa entre dois a três dias por semana. Acima de quatro sessões semanais os benefícios adicionais são mínimos, enquanto a ocorrência de distúrbios musculares aumenta. 5.2.1 Tipos de exercícios Os tipos de exercícios mais recomendados para desenvolver o sistema cardiovascular e a capacidades para o trabalho físico são os exercícios dinâmicos (isotônicos). Estes incluem caminhada; corrida lenta, além do ciclismo, remo e mesmo a natação. Atualmente tem-se dado ênfase á estimulação conveniente de todos os músculos do corpo, desde os membros inferiores até os superiores e o tronco. É possível empregar três tipos de sistemas de treinamento físico: a) treinamento contínuo: inclui um período de cinco minutos de preparação ou aquecimento; 20 minutos de um exercício aeróbico de intensidade submáxima, continuo, em um período de cinco minutos de resfriamento. O aquecimento é importante para aumentar a circulação, facilitando a captação de oxigênio pelos tecidos musculares, elevando a temperatura corporal e aumentando a eficiência da contração do coração. Reduz também as possibilidades de traumatismos musculo/esqueléticos através dos exercícios de flexibilidade e estiramento e, além disso, de isquemia miocárdica, por evitar um aumento brusco do consumo de oxigênio. Os cinco minutos de resfriamento permitem a remoção dos restos metabólicos especialmente do lactato, diminuindo a incidência de lesões musculares após o exercício além de permitirem débito cardíaco. Medicina de Reabilitação: suficiente para evitar uma queda muito importante do retorno sanguineo ao coração, com interrupção súbita do exercício; b) treinamento maxi/intervalado: este tipo de sistema consta de um período crítico (minutos de uma atividade mais intensa, no mínimo 56 55% da F.C. máx. - F. C. repouso + F. C. repouso, intercalando-se dois minutos de exercícios com intensidade baixa, repetindo-se essa sequência quatro vezes. Esse sistema de trabalho/pausa permite uma carga de trabalho mais alta, com menos fadiga, facilitando aos indivíduos limitados; em uma atividade física por sintomas de insuficiência coronariana alcançarem um alto grau de treinamento e minimizarem o acúmulo de impurezas no organismo. Além disso, vários exercícios; podem ser incluídos intercalando-se exercícios para as extremidades inferiores e superiores; c) treinamento miniintervalado: este tipo de sistema de treinamento estimula o limiar anaeróbico do indivíduo. Recomendamos, após o período de aquecimento exercícios de grande intensidade por um período de 30 segundos ou meio minuto e uma pausa ativa de um a dois minutos, sem carga na bicicleta ou andando. Esta seqüência deve ser repetida várias vezes, seguindo-se o período de resfriamento. 5.2.1.1 Circuito intervalado Este tipo de sistema de treinamento possibilita a reunião de diversos exercícios dentro de uma seqüência estabelecida, baseada na variedade de estímulos. Inicialmente a freqüência cardíaca é medida pelo próprio paciente, quando recebe uma orientação das atividades de que deverá participar, tomando consciência do esforço a que será submetido. O circuito consta de uma bateria de 10 estações, que são distribuídas pelo ginásio em pontos diversos. O paciente deverá fazer exercícios específicos para os membros superiores (remo ergométrico, roldanas etc.), membros inferiores e outros a critério do supervisor de atividades. O local e equipamentos necessários à realização das sessões de exercícios dependerão da fase de reabilitação em que se encontra o individuo e da patologia cardíaca que possui, sendo aconselhado geralmente no inicio, um programa em clínica especializada ou hospital, onde o paciente poderá ser 57 convenientemente supervisionado através de aparelhos de telemetria e com pessoal treinado em manobras de ressuscitação e equipamentos de emergência. Posteriormente o paciente passará por uma fase de supervisão em monitorização até a fase de exercícios não supervisionados. Nesse ponto deverá ser capaz de controlar sozinho sua frequência cardíaca através da tomada de pulso radial ou carotídeo e policiar-se quanto ao aparecimento de sintomas, exercitando-se aerobicamente. O equipamento necessário à prática do treinamento incluem esteira, bicicleta ergométrica, remos secos, degrau, e outros aparelhos para exercitarse braço e perna. 5.3 Reabilitação na angina pectoris A coronariopatia crônica isquêmica é causada principalmente por aterosclerose coronária, e uma de suas manifestações clínicas mais frequentes é a angina pectoris. Ela ocorre quando a demanda de oxigênio é maior que a capacidade da coronária; em fornecer o fluxo adequado ao suprimento. Os pacientes portadores de angina pectoris devem ser orientados, sempre que possível, para evitar todos os fatores que precipitem o aparecimento da dor angina. Antes de mais nada devem evitar excesso de alimentação e grandes esforços, especialmente após as refeições ou durante o frio intenso ou calor úmido. Não devem fazer uso de bebidas que sejam ricas em cafeína, como o café e o chá. Evitar medicamentos que contenham simpaticomiméticos. Se houver anormalidades lipidicas no sangue deverá ocorrer uma orient ação dietética para controle do peso se fará necessária. A hipertensão arterial também deverá ser tratada. Quanto à atividade física, o médico deve encorajar o paciente com angina estável a submeter-se a um programa de aumento progressivo de atividade física. Em casos de episódios anginosos mais severos, geralmente o paciente faz uso de medicamentos a base de nitroglicerina ou nitratos de ação prolongada, administrados por via sublingual dois ou três minutos antes de 58 atividades que necessitem maior gasto energético, como a atividade sexual, situações estressantes e os exercícios físicos mais intensos. Outros medicamentos, também usados no tratamento de pacientes anginosos, são os agentes beta-bloqueadores, que reduzem a freqüência cardíaca, a pressão sanguínea, a velocidade de contração e a demanda de oxigênio pelo miocárdio. 5.4 A reabilitação nas incapacidades cardiovasculares Deve-se estar sempre atento àqueles pacientes que em uso desses medicamentos para tratamento de hipertensão arterial ou angina pectoris, necessitem submeter-se a um programa de recondicionamento, pois os betabloqueadores, limitando o aumento da freqüência cardíaca, contribuem para fixar o débito cardíaco em níveis mais baixos. Isto se verifica porque os betabloqueadores ao impedirem parcialmente a resposta simpática do coração aos aumentos progressivos da carga de trabalho físico podem levar a um desequilíbrio entre a oferta e demanda de O2. Segundo Froelicher (2004), a freqüência cardíaca máxima permitida numa prescrição de exercícios a um paciente em uso de beta-bloqueadores não deve, na maioria das vezes, ultrapassar 100 a 125 bpm/min. 5.5 Reabilitação na hipertensão arterial A hipertensão arterial é um dos grandes fatores de risco associado à doença coronariana, pois aumenta o trabalho do coração, levando à hipertrofia e dilatação cardíacas, com subseqüente aumento da demanda de oxigênio pelo miocárdio. A avaliação da pressão arterial, baseada apenas nos valores de repouso, tem limitações, principalmente pela ausência dos fatores que provocam a elevação da pressão arterial, como a atividade física diária. O teste ergométrico tem importância clínica para o estudo dos verdadeiros níveis de pressão arterial, pois simula condições que poderiam 59 levar ao aumento dos níveis pressóricos. Pode ser útil nos casos de hipertensão borderline. Através das medidas da pressão arterial, durante e após o trabalho ergométrico podemos estabelecer indicações para o tratamento médico, principalmente nos casos de hipertensão reativa ao esforço. Este procedimento é também de valor na avaliação da eficácia dos regimes antihipertensivos, pois nem todos os medicamentos capazes de reduzir efetivamente a pressão arterial durante o repouso são capazes de fazêlo durante o exercício. No tratamento da hipertensão arterial, além da terapia por drogas, quando necessária, medidas globais como a redução de peso, em caso de obesidade, combate à dislipemia, abstenção do fumo, atividade de vida moderada, com períodos de repouso e recreação regulares, psicoterapia, tranqüilizantes, restrição de sal na dieta e um programa de exercícios gradual se fazem necessários para o controle efetivo da doença. Um programa de atividade física regular pode levar a uma leve redução nos níveis de pressão arterial. A eficácia do programa nesses casos está baseada principalmente na freqüência e duração dos exercícios. Pelo menos 20 minutos de atividade diária são necessários para levar a uma diminuição da resistência vascular periférica. Segundo Balke, a intensidade dos exercícios deve ser mantida em torno de 50% da diferença entre a freqüência cardíaca máxima e a de repouso somada á freqüência cardíaca de repouso. Os exercícios devem ser realizados principalmente pela manhã, o que ajuda a reduzir o apetite e as tensões desenvolvidas durante o dia. A transpiração é necessária para se obter um vaso dilatação cutânea adequada e perda de calor devendo, por isso ser evitadas roupas pesadas e pouco arejadas. Nessa experiência, utilizou-se de exercícios dinâmicos, tipo jogging, ciclismo, tênis, preferencialmente àqueles que exigem contrações musculares isométricas. Procurou-se, entretanto, explicar aos pacientes que podem realizar esforços isométricos desde que não muito intensos. 60 CONCLUSÃO O programa de reabilitação cardíaca deve ser regular, bem orientado e controlado para que haja melhora da saúde física e psicológica, proporcionando ao indivíduo uma melhor qualidade de vida. A nós professores de educação física cabe transformar a vida desses indivíduos, proporcionando a eles uma qualidade no programa de treinamento, juntamente com o acompanhamento médico, para que essas forças aliadas possam trazer melhores resultados para esta tarefa a que nos propusemos a executar, portanto, a especialização, o estudo, a busca de soluções inovadoras, será o ponto de desequilíbrio dos profissionais que realmente querem trabalhar nesta área tão importante. Concluímos que a atividade física é capaz, não só de beneficiar o sistema cardíaco, mas também de adicionar tempo de vida extra, como demonstraram que é possível reduzir consideravelmente os riscos de desenvolvermos doenças. Kamel; Kamel (1996), salientam que a atividade física pode acrescentar anos de vida e vida aos anos com melhor circulação do coração, com batimentos mais fortes e produtivos, assim, sentir-se melhor, ter melhor aspecto, sacudindo a alma.. Em uma análise desta citação, a atividade física influencia em fatores que podemos relacionar com aspectos sociais, psicológicos e de satisfação, mostrando que a atividade física, pode alem de proporcionar saúde num conceito mais amplo, como também é um fator que influência no bem estar do indivíduo, o que acarreta em uma melhor interação no meio social. O estudo proposto neste trabalho era de apontar os benefícios da atividade física relacionados com doenças cardíacas, mas ao desenvolver da pesquisa podemos constatar que a atividade física contribui expressivamente para a eliminação dos riscos de desenvolvermos doenças como a Obesidade, Diabetes e também a aterosclerose, que atualmente são doenças que atingem a milhares de pessoas. E no que se refere a pessoas, não estamos falando apenas de adultos e idosos, a inatividade física dos jovens e crianças, é um fator muito preocupante em nosso meio social. E deixamos aqui a sugestão para o desenvolvimento de mais estudos na área, demonstrando uma maior preocupação com a questão atual da criança e dos jovens. 61 Com base nos autores anteriormente citados afirmamos que a atividade física é inerente a uma boa condição cardíaca e são fundamentais para uma boa qualidade de vida, alem de constituir parte do tratamento de um paciente cardíaco, representando uma percentagem elevada para o sucesso da reabilitação nestes casos. 62 REFERÊNCIAS AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE. A quantidade é a qualidade de exercícios recomendados para o desenvolvimento e manutenção da aptidão física em adultos sadios. Revista Brasileira de Ciência do Esporte. São Paulo, v. 1, n.3, p. 05-10, 1980. BLAIR, S. N. Exercício para a saúde. Revista Brasileira de Medicina de Esporte - Redpring. São Paulo, v. 4, p. 120- 121, jul./ago. 1998. CARVALHO, T. Atividade física e saúde (educação à distância). Brasília: Secretaria da Educação e do Desporto / Ministério da Saúde. 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