IDENTIDADE NEGRA E O DISCURSO DA RESISTÊNCIA EM
“NÃO VOU MAIS LAVAR OS PRATOS” DE CRISTIANE SOBRAL
Rita de Cássia Barros Assunção (FAI / SEMEDUC) CPF: 690338973341
RESUMO
A coletânea de poemas “Não vou mais lavar os pratos” de Cristiane Sobral, que reúne
poemas já publicados nos Cadernos Negros, traz, em grande parte de seus poemas, a
combinação da construção da identidade negra feminina com um discurso da
resistência. Essa resistência é percebida, principalmente, quando a autora tematiza a
condição feminina da mulher negra nas relações de gênero e nas relações com a
sociedade. Objetivamos,nessa análise, averiguar como o eu enunciador, através de um
discurso da resistência, constrói a identidade da mulher negra. Para essa análise,
utilizaremos teóricos como Zygmunt Bauman (2004) Norman Fairclough (2001), entre
outros estudiosos.O método a ser utilizado na análise será o crítico-analítico em que se
tomará como suporte os conceitos de identidade de Bauman, as considerações acerca da
construção do discurso de Fairclough, as formas de resistência negra e os problemas das
relações de gênero na concepção de um eu enunciador subversivo em “Não vou mais
lavar os pratos” de Cristiane Sobral no qual a autora busca desconstruir os modelos
preconcebidos sobre a mulher negra na sociedade atual.
PALAVRAS-CHAVE: Cristiane Sobral. Discurso da resistência. Identidade Negra.
ABSTRACT
The colletion of poemsNão vou mais lavar os pratos of Cristiane Sobral what gather
poems already published in Cadernos Negros, brings, largely of your poems combine
of construction feminine black identity with the discuss of the resistance. That
resistance is realize, mainly, when the author discuss about feminine condition of the
black woman in the gender relations and in relations with society. We aims, in this
analysis, to determine like the I of the discuss through of the resistance, like made the
identity black woman. In this analysis, will use authors Zygmunt Bauman (2004)
Norman Fairclough (2001), and others. The method used in the analysis is critical and
1
Mestre em Letras pela Universidade Federal do Piauí - UFPI. Professora e Coordenadora do Núcleo de
Pesquisa, Produção e Divulgação Científica da Faculdade do Vale do Itapecuru – FAI. Coordenadora da
área de Língua Portuguesa da Secretaria Municipal de Educação de Caxias.
2
analytical based in concept of the identity of the Buman, the concept about discuss of
the Fairclough, the forms of the resistance and gender relations in the conception
subversive broadcasters subject in Não vou mais lavar os pratos of Cristiane Sobral
which author want deconstruct the conceptions about black woman.
KEYWORDS: Cristiane Sobral. Discourse of the resistance. Black Identity.
1 INTRODUÇÃO
Não vou mais lavar os pratos(2011), primeiro livro de Cristiane Sobral, é uma
obra em que a autora consolida suas vertentes ideológicas exprimindo-se principalmente
como mulher negra – tema que se sobressai na obra justificado pela própria escritora. A
obra, que já traz no título o caráter da negação e da resistência, apresenta a percepção de
Sobral sobre vários papéis assumidos pelas mulheres na sociedade a partir de situações
rotineiras que, de tão simples e,muitas vezes insignificantes como lavar os pratos,
passam a ser objetos de reflexão complexos na estrutura de pensamento da autora a
serviço da desconstrução dos valores e estigmas inerentes à mulher.
Ao lado dessa reflexão sobre a mulher, Sobral não deixa de assumir sua
identidade negra e em muitos poemas do livro sempre faz referência ao seu perfil de
mulher negra e às suas raízes africanas como se pode observar no poema “Algodão
Black Power” no qual o eu poético reafirma sua identidade africana quando diz: “eu
gosto do meu cabelo”, “Eu adoro o meu pixaim” (2011, p.85). A eleiçãodo cabelo como
a principal marca de sua negritude, é percebida também em “Pixaim Eletrico”; nesse
poema, através de uma intertextualidade na última estrofe com o poema “Poética” de
Manuel Bandeira,o eu lírico faz uma apologia contra os padrões de beleza instituídos na
sociedade:
[...]
Abaixo a demagogia
Soltei as amarras e recusei qualquer relaxante
Assumi as minhas raízes ainda que brincasse com algumas matizes
Confrontando o meu pixaim elétrico com as cores pálidas do dia (p.
81)
3
Além dasquestões raciais e de gêneros, o erotismo também encontra lugar nos
poemas de Cristiane Sobral uma vez que a autora focaliza também as relações de gênero
e a fugacidade das intempéries do amor.
A literatura de Sobral, nessa obra, apresenta-se investida, sobretudo, de
compromisso social tratando de assuntos da favela, do preconceito com o pobre e o
negro, enfim, uma preocupação com o outro.
2 A LITERATURA AFRODESCENDENTE NO BRASIL
Atualmente,
o
leitor
se
depara
com
uma
vasta
produção
literária
afrodescendente; escritores e escritoras negros, graças à academia, têm se projetado
nacional e internacionalmente no campo das letras. Eduardo Assis Duarte, com sua
obra Literatura e Afrodescendência no Brasil: antologia críticalançada em 2011,
organizada em quatro volumes e fruto de dez anos de pesquisa, aponta que a literatura
afrodescendente é
uma literatura empenhada, sim, mas num projeto suplementar (no
sentido derridiano) ao da literatura brasileira canônica: o de edificar
uma literatura que seja não apenas a expressão dos afrodescendentes
enquanto agentes de cultura e de arte, mas que aponte o etnocentrismo
que os exclui do mundo das letras e da própria civilização. Daí seu
caráter muitas vezes marginal, porque fundado na diferença que
questiona e abala a trajetória progressiva e linear da nossa história
literária (GODOY, 2013 apudDUARTE, 2011, p. 400 grifo do autor).
Compreende-se com a posição do autor Assis Duarte, que na literatura negra ou
afrodescendente o escritor ainda precisa dizer “sou negro” e a escritora também precisa
dizer “sou negra” ou “sou mulher” para que sua produção literária seja autêntica. É
notório que as produções literárias dos negros e afrodescendentes ainda estão lutando
para se firmar, pois em situação contrária já poderiam se desvencilhar do viés identitário
que é a busca constante por visibilidade social e pelo reconhecimento artístico. Na obra
de Sobral, como em muitas outras obras de escritores negros, pode-se perceber
claramente esse projeto identitário; no poema “Pixaim Elétrico”, visualizam-se muito
bem essas características:
4
Para a filosofia
Meu cabelo escuro, crespo, alto e grave...
Quase um caso de polícia em meio à pasmaceira da cidade
Incomodou identidades e pariu novas cabeças (SOBRAL, 2011, p. 81)
A Revista Carta Capital entrevistando Eduardo Assis Duarte menciona que Mia
Couto, na Conferência Internacional de Literatura em Estocolmo declarou que “os
escritores africanos sofreram durante décadas a chamada prova de autenticidade: pediase que seus textos traduzissem aquilo que se entendia como verdadeira etnicidade”
(2012).
Sobre esse fato, Duarte (2012)se manifesta dizendo:
se hoje muitos escritores fazem questão de se declarar negros e
afirmar em seus textos os valores inerentes à essa condição,
certamente eles têm razões históricas para isso, [pois] no dia em que o
Brasil for uma sociedade multiétnica e verdadeiramente democrática,
acho que não vai haver necessidade de cunhar essa vertente das nossas
letras com o qualificativo de „negra‟ ou „afro-brasileiro‟.
Outro fator preponderante a ser destacado no seio da produção literária afrobrasileira é o espaço reduzido nas editoras. Observa-se que, nos últimos trinta anos,
houve uma valorização dessa literatura, mas a partir de iniciativas alternativas como,
por exemplo, o grupo Quilombhoje que publica desde 1978 os Cadernos Negros através
de cooperação e editoras pequenas como a Mazza em Belo Horizonte, Pallas no Rio de
Janeiro, Selo Negro e grupo editorial Sumus em São Paulo.
A literatura afro-brasileira, segundo Luiza Lobo (2007, p. 315 apud DUARTE,
2013, p. 33) é:
[...] a produção literária de afrodescendentes que se assumem
ideologicamente como tal, utilizando um sujeito de enunciação
próprio. Portanto, ela se distinguiria, de imediato, da produção
literária de autores brancos a respeito do negro, seja enquanto objeto,
seja enquanto tema ou personagem estereotipado (folclore, exotismo,
regionalismo).
Nesse sentido, a expressão de um sujeito enunciador que se autoidentifica
ideologicamente, culturalmente, biologicamente e fenotipicamente como negro ou
afrodescendente é o ponto crucial da definição da literatura afro-brasileira. Duarte
5
(2013) elenca alguns elementos bastante pertinentes nessa conceituação: a temática, a
autoria, o ponto de vista, a linguagem, e o público. O autor menciona que
uma voz autoral afrodescendente, explícita ou não no discurso; temas
afro-brasileiros;construções linguísticas marcadas por uma afrobrasilidade de tom, ritmo, sintaxe ou sentido; um projeto de
transitividade discursiva, explícito ou não, com vistas ao universo
recepcional; mas, sobretudo, um ponto de vista ou lugar de
enunciação política e culturalmente identificado à afrodescendência,
como fim e começo são elementos que distinguiriam essa literatura
para além das discussões conceituais (2013, p. 35 grifo do autor).
O tema caracteriza o pertencimento do sujeito à afrodescendência, seja no plano
individual, social, cultural ou artístico; já a autoria aparece como uma instância
controversa e cheia de nuanças problemáticas na visão dos estudiosos do assunto, pois
envolve não só fatores fenotípicos ou biográficos, mas toda uma ampla questão
identitária que envolve o negro em todas as suas perspectivas sócio-históricas;
a instância da autoria como fundamento para a existência da literatura
afro-brasileira decorre da relevância dada à interação entre escritura e
experiência, que inúmeros autores fazem questão de destacar, seja
enquanto compromisso identitário e comunitário, seja no tocante à sua
própria formação de artista da palavra (DUARTE, 2013, p. 38).
O ponto de vista é a postura tomada pelo eu lírico em relação ao mundo que o
rodeia; é o lugar de onde ele fala e este lugar pode revelar o conjunto de valores que se
pretende veicular através do texto; no caso da literatura afroidentificada os valores
veiculados caracterizam o discurso da diferença com o objetivo maior de desconstruir
uma visão embranquecida e embrutecida do mundo europeu. A linguagem, nesse
projeto, também exerce a função de desconstruir o discurso do mundo branco no sentido
de reverter o que há de negativo sobre o negro.Com relação à formação de um públicoleitor, Duarte diz que:
aformação de um horizonte recepcional afrodescendente como fator
de intencionalidade próprio a essa literatura distingue-a do projeto que
norteia a literatura brasileira em geral. A constituição desse público
específico, marcado pela diferença cultural e pelo anseio de afirmação
identitária, compõe a faceta algo utópica do projeto literário afrobrasileiro [...] (2013, p. 45).
6
Nesse sentido, tem-se o público como elo fundamental na construção desse
projeto de literatura afro-brasileira firmada e segura, fazendo com que o leitor tome
conhecimento da empreitada dos escritores negros e afrodescendentes em reconstruir
novos conceitos em relação ao negro e ao papel que exerce na sociedade.
A obra de Cristiane Sobral apresenta todos esses elementos pertinentes e
necessários à produção literária afrodescendente, pois a autora, além de se
autoidentificar como negra, reivindica para si tal condição e, através de um discurso
generificado e étnico reverte os valores negativos impelidos ao negro e, no seu caso, à
mulher negra.
3 IDENTIDADE NEGRA E O DISCURSO DA RESISTÊNCIA EM NÃO VOU
MAIS LAVAR OS PRATOS
O poema “Não vou mais lavar os pratos” que dá nome ao título do livro de
Cristiane Sobralé um dos poemas mais representativos do grito de liberdade da mulher
nas relações de gênero contidos no livro. O poema revela a mudança de atitude da
mulher em relação ao companheiro a partir do momento em que passa a tomar
consciência de seu papel na relação e na sociedade através da leitura:
Não vou mais lavar os pratos
Nem vou limpar as poeiras dos móveis
Sinto muito. Comecei a ler.
Abri outro dia um livro e uma semana depois decidi
Não levo mais o lixo para a lixeira.
Nem arrumo a bagunça das folhas que caem no quintal
Sinto muito. Depois de ler percebi a estética dos pratos,
A estética dos traços, a ética, [...] (SOBRAL, 2011, p. 23)
A leitura, para o eu lírico, consubstancia-se na via de libertação e de resistência
aos discursos instituídos por uma sociedade de valores falocêntricos e brancos que
destinam o espaço doméstico exclusivamente para a mulher. O trabalho, que era
executado mecanicamente, passa ser objeto de reflexão filosófica quando o eu lírico
destaca ter percebido “a estética dos pratos, a estética dos traços” e, por fim, “a ética”.
Com essa percepção filosófica, o discurso do texto transforma-se em um discurso da
resistência e também da construção de uma identidade de gênero, uma vez que o
relacionamento com o companheiro passa a ser questionado e a ser negado.
7
Agora que comecei a ler, quero entender
O porquê, por quê? E o porquê
Existem coisas. Eu li, e li, e li. Eu até sorrir
E deixei o feijão queimar...
Olha que o feijão sempre demora a ficar pronto
Considere que os tempos agora são outros... (SOBRAL, 2011, p. 23)
Para Fairclough, a mudança envolve formas de transgressão, o cruzamento de
fronteiras, tais como a reunião de convenções existentes em novas combinações (2001,
p. 127). Nesse sentido, o eu lírico do poema subverte as convenções maritais e
domésticas com ações transgressoras como deixar o feijão queimar para se fazer
perceber pelo outro. No trecho,
Resolvi ficar um tempo comigo
Resolvi ler sobre o que se passa conosco
Você nem me espere. Você nem me chame. Não vou
De tudo o que jamais li, de tudo o que jamais entendi,
Você foi o que passou
Passou do limite, passou da medida, passou do alfabeto
Desalfabetizou
Não vou mais lavar as coisas e encobrir a verdadeira sujeira
Nem limpar a poeira e espalhar o pó daqui para lá para cá
Desinfetarei as minhas mãos e não tocarei suas partes móveis
(SOBRAL, 2011, p. 24).
O questionamento das relações de gênero confirma o que é dito por Fairclough,
pois o eu lírico cruza as fronteiras do seu relacionamento e busca construir uma
identidade de gênero através do discurso da negação e da resistência.
Manuel Castells em O poder da identidade (1999, p. 24) se refere a três formas e
origens da construção de identidades: a identidade legitimadora introduzida pelas
instituições dominantes da sociedade no intuito de expandir e racionalizar sua
dominação como ocorre com os estereótipos; a identidade de resistência criada por
atores que se encontram em posições/condições desvalorizadas e/ou estigmatizadas pela
lógica da dominação construindo assim, trincheiras de resistência e de sobrevivência e a
identidade de projeto que é produzida quando os atores sociais constroem uma
identidade capaz de redefinir uma posição na sociedade como é o caso do feminismo.
Nesse poema de Sobral, pode-se perceber a ocorrência desses três tipos de
identidade: antes de ler e de pensar sobre seu papel na sociedade, o eu lírico legitimava
8
sua identidade como mulher presa a convenções sociais; após começar a ler, toma
consciência dessa dominação e passa a resistir através da transgressão; com um discurso
da resistência produz uma identidade de projeto quando diz:
Depois de tantos anos alfabetizada, aprendi a ler
Depois de tanto tempo juntos, aprendi a separar
Meu tênis do seu sapato,
Minha gaveta das suas gravatas
Meu perfume do seu cheiro
Minha tela da sua moldura
Sendo assim, não lavo mais nada,
E olho a sujeira no fundo do copo.
Sempre chega o momento
De sacudir, de investir, de traduzir
Não lavo mais pratos
Li a assinatura da minha lei áurea escrita em negro maiúsculo,
Em letras tamanho 18, espaço duplo (SOBRAL, 2011, p. 24).
Além do poema“Não vou mais lavar os pratos” que tematicamente trata das
relações de gênero, há no livro outros poemas que também tratam do discurso da
resistência voltado mais especificamente para a construção de uma identidade de mulher
reconhecidamente negra. É o que se pode perceber nos seguintes poemas:
Lente de Contato
[...]
Sou negra
Estou aqui diante dos seus olhos
Esperando você despir o seu preconceito,
Pra gente encontrar um jeito de ser feliz
Ah, o meu cabelo natural, isento de culpa,
Vai bem obrigada
[..](SOBRAL , 2011, p. 71)
Cuidado
Eu vou falar do nosso cabelo
Eu vou falar de tudo o que fazem tentando o sucesso
Eu vou falar porque isso acaba com a gente
Primeiro aparecem uns pentes frágeis
Impossíveis às nossas madeixas
Depois apontam para um padrão que nunca poderemos ter
Ficamos condenados à indiferença e à exclusão (Sobral, 2011, p. 74).
[...]
Nos poemas “Lente de contato” e “Cuidado”, o eu lírico ao se assumir como
mulher negra, toma o seu cabelo, um dos principais ícones da negritude e também o
9
alvo de piadas e de preconceito como muito se ouviu em músicas e outros textos, como
cetro, como representação maior da reversão de valoresimpelidos ao cabelo do negro.
Reforçando o caráter positivo do seu cabelo como marca de identidade, o eu lírico
critica o padrão de beleza impelido às mulheres que não possuem cabelos lisos.
A enunciação do texto revela a postura político-identitária assumida por Sobral
em disseminar a ideia de que é preciso combater o preconceito e fugir das amarras
sociais provedoras da indiferença e da exclusão.
Segundo Bauman, a identidade escolhida e preferida é contraposta,
principalmente, às obstinadas sobras das identidades antigas, abandonadas e
abominadas, escolhidas ou impostas no passado. As pressões de outras identidades,
maquinadas e impostas (estereótipos, estigmas, rótulos), promovidas por forças
inimigas, são enfrentadas e – caso se vença a batalha – repelidas (2005, p. 45).
No poema abaixo, vê-se fortemente o discurso de pertencimento do eu lírico à
africanidade e, como a grande maioria daqueles que se declaram negros, também
condena a mestiçagem como forma de burlar a negritude. Nos versos “o mestiço não é
nem o sim nem o não, é o talvez / Mentira!” / “meu sangue negro corrói a hipocrisia
parda”, confirma o posicionamento do eu lírico em condenar essa denominação
“parda”que alguns negros tomam para si ao invés de se autoidentificaremcomo negros.
Fratricídio
Corrupção preta dói demais
[...]
Separe todos os matizes da negritude brasileira
Desintegre todas as identidades
[...]
O mestiço não é nem o sim nem o não, é o talvez
Mentira!
Sou negra
Meus dentes brancos trituram qualquer
privilégio retinto
Meu sangue negro corrói a hipocrisia parda
Mela o mito da democracia racial (Sobral, 2011,
p. 72)
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Cristiane Sobral em Não vou mais lavar os pratosproclama o compromisso
sóciopolítico e histórico de produzir uma literatura afrodescendente em que o eu lírico
10
assume a postura de pertencimento e de construção de uma identidade de mulher negra.
Na construção desse projeto, Sobral utiliza uma linguagem feminina generificada para
falar de seus desejos ou angústias de mulher e um discurso instituinte da africanidade,
principalmente, empenhado na reconstrução de valores africanos estereotipados
disseminados como pejorativos pelo discurso hegemônico.
REFERÊNCIAS
BAUMAN, Zygmunt. Identidade. Tradução de Carlos Alberto Medeiros. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 2005.
CASTELLS, Manuel. O poder da Identidade. 2. ed. Tradução de Klauss Brandini
Gerhardt. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
DUARTE, Eduardo Assis. Por um conceito de Literatura afro-brasileira. In:
FERREIRA, Elio; FILHO, Feliciano José Bezerra (org.). Literatura, História e Cultura
Afro-brasileira e Africana: memória, identidade, ensino e construções literárias . v.1.
Edufpi: Teresina, 2013.
DUARTE, Eduardo Assis de. Herança maldita. CartaCapital. Entrevista concedida a
Tory Oliveira. Disponível em: http://www.cartacapital.com.br/educacao/herancamaldita. Acesso: 20/09/2014
FAIRCLOUGH, Norman. Discurso e mudança social. Brasília: Universidade de
Brasília, 2001.
GODOY, Maria Carolina de. Est. Lit. Bras. Contemporânea. Brasília, n. 41, p. 269-279,
jan/jul. 2013.
SOBRAL, Cristiane. Não vou mais lavar os pratos. 2.ed. Coleção Oi Poema. Dulcina
Editora: Brasília, 2011.
Download

Rita de Cássia Barros Assunção