UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
Programa Institucional de Bolsas de Iniciação a Docência
PIBID-DANÇA
Subprojeto: Arte Fora dos muros da escola pública: educando o olhar.
Coordenadora: Virginia Maria Suzart Rocha
Supervisora: Rita de Cássia Nascimento Rodrigues
Escola: Centro de Esporte, Arte e Cultura César Borges – CEAC/CB
DANÇANDO NA ESCOLA: UMA PROPOSIÇÃO SIGNIFICATIVA
CRÍTICA PARA FORMAÇÃO CIDADÃ.
Autor:
UILDEMBERG DA SILVA CARDEAL
[email protected]
RESUMO
O presente texto refere-se os estudos vinculados ao Programa Institucional de Bolsas de
Iniciação a Docência, da Universidade Federal da Bahia (PIBID-UFBA) o qual objetiva
investigar as práticas docentes e os processos que permeiam a proposição do ensino da
dança (formal e não formal) no ambiente escolar, tornando-a significativa para a formação
da cidadania. A pesquisa vem sendo delineada com pressupostos da Teoria de
Aprendizagem Significativa de Ausubel e observação participante realizada no Centro de
Esportes, Artes e Cultura César Borges, situado no subúrbio ferroviário de Salvador –
Bahia, com adolescentes e jovens residentes dos bairros circunvizinhos. Buscando enfatizar
alguns conceitos sobre a formação cidadã, já que, como situa Moreira (2005) ao referir-se
ao princípio da consciência semântica, aponta que o fator mais importante no processo de
aprendizagem significativa critica é o individuo e não a palavra, onde o conhecimento
prévio sendo potencializado a aprendizagem deixa de ser robotizada. O ensino da dança no
terreno educacional articula outros campos de conhecimento além da arte, sendo desafiada
em dois principais pontos: primeiro, repensar sua ação social comprometendo-se com a
formação que garanta ao aluno compreender a Dança como ação cognitiva do corpo, que
aborda o sujeito em sua singularidade, conscientes de seus direitos e deveres no exercício
da ação cidadã. O segundo viés refere-se à construção de propostas metodológicas que
promovam espaços de mediação que possibilitem a emancipação e ressignifiquem o
processo de aprendizado. Assim, partimos do pressuposto de que a formação cidadã se dá
através da relação do individuo com seu contexto histórico, politico e social. Nessa via, a
dança como uma área de conhecimento pode ser uma forma de mediação para fomentar a
emancipação e formação cidadã.
Palavras-chave: dança, educação, escola pública, arte, cultura.
INTRODUÇÃO
Este é um relato, de experiência educacional tecidas em sala de aula e extraclasse na
qual o estudante é sempre estimulado a estabelecer conexões entre os saberes construídos
em sua vida, onde o educando é protagonista de sua integral formação no âmbito
educacional, emocional, social, afetivo, psicológico. Dessa forma, foi possível por meio da
dança construir condições de apropriações critica, consciente e transformadora dos
conteúdos específicos. Os estudos a partir das orientações no PIBID-DANÇA e no grupo de
pesquisa Processos Corporeográficos em Dança – PROCEDA, grupo de pesquisa que
participo semanalmente na escola de dança da UFBA, me despertou a atenção para uma
educação interativa que oportuniza aos alunos ter acesso a subsídios favoráveis a
compreensão, descoberta, construção, desconstrução e, consequentemente a transformação
das relações que se estabelecem entre corpo, dança e sociedade potencializando suas
habilidades de respostas para as questões no seu contexto histórico, político e social, e,
sobretudo na ética e convivência profissional com os demais colegas bolsistas.
O Programa de iniciação a docência, firmou parceria com Centro de Esporte, Artes
e Cultura – Cesar Borges (CEAC - CESAR BORGES) em março de 2012 e desde então,
vem favorecendo a licenciando um universo de possibilidades a serem trabalhadas.
Em meu fazer educacional foi possível criar estratégias metodológicas utilizadas
para estudar, avaliar, apreender, produzir, transformar, aprimorar e refletir a cerca das
tecnologias educacionais. Os resultados deste programa são significativos à medida que
reforçam o universo artístico-educativo presente na dança como campo de conhecimento
das práticas corporais a serem vivenciadas e refletidas no cotidiano escolar. As experiências
conjuntas no PIBID, a saber, eu, demais colegas bolsistas, coordenação, supervisão e
educandos, movem interação com as outras linguagens da arte e cultura entrecruzando
elementos imbricados nas matrizes culturais.
OBJETIVOS
Objetivo Geral:
Fomentar a importância do ensino da dança, através de acordos estabelecidos com os
alunos em sala de aula os tornando protagonista de sua formação dialogando saberes e
problemáticas educacionais e locais.
Objetivos Específicos:
 Investigar a dança como área de conhecimento necessária ao crescimento intelectual
e artístico, enquanto Patrimônio Social e Cultural do Brasil;
 Desenvolver o conhecimento cognitivo, afetivo e psicomotor inter-relacionando tais
domínios ao contexto cultural (estético), ético, social;
 Estimular a criatividade dos alunos nas atividades de caráter teóricoprático.
Referenciais teóricos
Para o desenvolvimento de um plano de trabalho que desse conta de abordar ensinopesquisa, tive como ponto de partida os estudos dos referenciais teóricos que nortearam
meu processo onde obtive respostas para as indagações que foram surgindo no curso do
semestre. Em nossas reuniões pedagógicas o debate se direciona como principal objetivo à
formação e iniciação à docência; os métodos e linhas pedagógicas a serem empregadas em
sala de aula. Neste sentido, é imprescindível no contexto deste trabalho abordar o conceito
de educação e complexidade. Para tanto, buscamos dialogar com sociólogo MORIN (1999)
que nos mostra que ―Não se pode conhecer as partes sem conhecer o todo, nem conhecer o
todo sem conhecer as partes‖. Os alunos começam a reconhecer suas particularidades,
limites e habilidades a partir da experiência que vivenciam em sala de aulas com a dança, a
partir desse processo investigativo começam a sistematizar um pensamento de mundo, de
senso crítico, começam a perceber suas potencialidades de corpo, a capacidade criativa, e
são esses pequenos elementos que vão construindo o aluno integrado, uma pessoa mais
sensível e consciente de seu papel no mundo em que esta posto.
Como relata FREIRE (1996): ―ensinar não é transmitir conhecimentos, mas criar
possibilidades para sua produção ou sua construção‖. Referindo ao ensino de dança, não
queremos nos limitar à cópia de passos, mas criar possibilidades que visem o prazer pela
criação, execução, compreensão, e contextualização do movimento, pois desta forma
estamos trabalhando a dança como forma de conhecimento. Tornando o aluno coadjuvante
do seu processo formativo e assim articular os elementos referentes ao espaço, forma,
dinâmica e ao tempo, de uma forma significativa para os alunos.
MARQUES (1999) ―o contexto dos alunos é fundamental para fazer-pensar a dança,
pois garante a relação entre o conhecimento em dança e as relações sócio-políticos-culturais
dos mesmos no seu meio‖. É necessário levar em consideração o contexto de cada aluno,
eles têm seus próprios repertórios de dança, assim como formas diferentes de improvisar e
apreciar as danças que são trabalhadas em sala de aula.
Como aponta SANTOS (2008) ―O saber que ignora é o saber que ignora os outros
saberes que com ele partilham a tarefa infinita de dar conta das experiências do mundo‖. E
na busca de conhecer o que se ignora, se estabelece o que ele chama de Ecologia de
Saberes. A ecologia de saberes que cruza conhecimentos acadêmicos e conhecimentos
populares, o que se estuda na escola e o que se aprende no bairro onde mora; o que a avó
conta, o que o indivíduo por experiência conclui e o que um colega traz de informações
atuais. A busca de tal ecologia é fundamental para a construção de conhecimento no
ambiente educacional e na vida. E apresenta um caminho para superar a necessidade
apontada por CONRADO (2004) ―de viabilizar processos pedagógicos e artísticos que
contemplem concepções e tecnologias possíveis de serem desenvolvidas por grupos étnicos
e culturais diversos e a partir deles.‖.
Chego à conclusão de que em linhas gerais, pensar a sala de aula como espaço de
socialização de uma experiência que te conecta com o mundo por via das relações que são
construídas ai, já é por si só garantia de presença da educação não-formal, que como afirma
Gohn (2006): ―Na educação não formal o grande educador é o outro com quem interagimos
ou nos integramos.‖
Metodologia
1. Planejamento
O plano de trabalho e as atividades foram sendo desenvolvidos em diálogo entre
supervisora de área e os bolsistas em conexão com o Plano Político Pedagógico do
CEAC/CB e os Parâmetros Curriculares de Artes – PCNs (2000). O projeto foi aplicado no
Centro de Esporte, Artes e Cultura, César Borges (CEAC), localizado no subúrbio de
Salvador no bairro de Plataforma, de março a julho de 2014. O local possui ruas sem
saneamento básico, escolas mal distribuídas geograficamente, pouca segurança, problemas
de transporte e fica longe do centro da cidade, caracterizando uma população marginalizada
de Salvador. Apesar disso, o CEAC-CB proporciona um ambiente para produção de
conhecimento, oferecendo um espaço gratuito à população local. Conta com profissionais
qualificados em dança, educação física, teatro, informática, artes marciais e reforço escolar.
Além disso, as salas são equipadas com espelhos, televisores, Amplificadores de som,
tatames, laboratório de informática, refeitório e um grande campo de futebol. Integram o
Centro, alunos oriundos das instituições municipais e estaduais de ensino do bairro, e que
freqüentam o CEAC-CB no turno oposto a sua matricula regular.
Em acordo com a supervisão de área especifiquei meu plano de trabalho, sem
restringir a possibilidade de haver um cruzamento entre os demais planos aplicados pelos
colegas.
2– Aprendizados teórico-práticos
Atuando com foco nos estudos da dança que forma cidadãos, e construindo diferentes
olhares, perspectivas e ferramentas metodológicas,
numa parceria com alunos, entendendo que
mesmo buscando ressaltar o pluralismo que existe
na turma, o aprendizado e a própria criação
pressupõem referências e construção de repertório,
que compreende a construção de conhecimentos
básicos da dança enquanto área de conhecimento e Figura 1 – Processos colaborativos de criação
em dança.
a investigação das potencialidades de cada individuo. Numa dialógica horizontalizada,
onde emerge questões acerca do como se dá a formação cidadã no ambiente da escola
pública e como a dança contribui nos capacitando a interpretar as relações educacionais,
sociais e individuais em que estamos inseridos, buscando entender como manusear as
ferramentas acessíveis para transformar e recriar as relações corpo e ambiente estimulando
o desenvolvimento critico e cognitivo de ambos (Bolsistas X alunos).
Dialogando com o sub-tema: Dançando na Escola: Uma Proposição Significativa Crítica
para Formação Cidadã exercitei dentro da proposta metodológica desenvolvida em sala, o
hibridismo de informação propostos nas orientações planejadas enquanto mediador em sala
de aula e o conhecimento prévio dos alunos com suas experiências de dança e de vida.
Segundo Moreira é de fundamental importância considerar o conhecimento prévio do
individuo em formação, para que esse aprendizado seja significativo e acessado no curso de
sua vida. O frequente exercício de problematizar a natureza da dança como campo de
conhecimento tem contribuído com a ação libertadora da educação fazendo fluir o trabalho
a partir da realidade social do aluno, ele que é protagonista de sua formação.
A realidade social, objetiva, que não existe por acaso, mas
como produto da ação dos homens também não se transforma
por acaso. Se os homens são produtores desta realidade e se
esta, na ―invasão da práxis‖, se volta sobre eles e os
condiciona, transformar a realidade opressora é tarefa dos
homens. (FREIRE, 1987, p.)
Freire em sua Pedagogia do Oprimido afirma que indivíduos ao se descobrir oprimido, e
tendo em vista a libertação, tem forte tendência a se tornar opressor devido experiências
vividas o que naturalmente os levam a entender que o ideal em ser homem é ser opressor.
Debruçado nessa reflexão que tenho analisado suspeitosamente o verdadeiro papel da
educação se esta tem se preocupado em formar pessoas para a vida ou apenas profissionais
capitalistas.
Diante do exposto e do vivido como bolsista, concluo apontando para importância
da dança na escola e a potencialidade que vem desenvolvendo no terreno educacional.
Resultados
Participação dos alunos no evento Plataforma de Talentos, evento que congrega grupos
amadores de dança do bairro para apresentações e trocas de saberes, fomentando a
formação de platéia e de jovens artistas. Após a apresentação dos grupos, profissionais da
área fazem comentários e contribuições,
num bate-papo com os dançarinos e
platéia. Dia ―D‖ da dança, evento que
aconteceu em abril, quando se comemora
o
mês
da
coletivamente
Figura 2 – Remontagem da célula coreográfica De
IMPRESSÕES - 2013.
dança
e
entre
os
foi
pensado
bolsistas
e
supervisão para ser um dia de vivencia
em dança com oficinas, bate-papo e
mostra de repertórios abertos aos pais e a toda comunidade de Plataforma e adjacências.
Realização do Circuito PIDB-Dança, proposta que tem como principal mote fazer circular
as produções artísticas dos alunos em outras escola também vinculadas ao programa,
fomentando nos alunos autonomia na produção.
Considerações finais
A prática da dança é um relevante veículo de comunicação e expressão. Na escola onde
exerci minha prática, é possível perceber que os estudantes podem assimilar conhecimentos
a partir das sensações, vivências, historias e experiências que estão no seu próprio corpo,
buscando se reconhecer no outro ao se relacionar com o público e com as diversas
linguagens da arte considerando o exposto neste relato é possível afirmar que o projeto do
PIBID-Dança vem juntamente com CAPES favorecendo o aprofundamento dos estudos das
políticas públicas de formação de licenciandos, visando cada vez mais o acesso iniciação à
docência. Através do ensino da dança no CEAC - César Borges foi possível construir
conhecimento em dança e por meio da dança, abrir possibilidades de apropriação crítica,
consciente e transformadora dos conteúdos específicos. No processo de educação e no
processo interativo da dança foram dados subsídios aos alunos para melhor compreender,
descobrir, desconstruir e, transformar as relações que se estabelecem entre corpo, dança e
sociedade aumentando sua capacidade de resposta e sua habilidade para se comunicarem.
Por fim, o ensino da dança vem me favorecendo um universo de possibilidades a serem
trabalhadas, em especial no contexto escolar. Permite-nos criar estratégias utilizadas para
avaliar, apreender, produzir, transformar, aprimorar e refletir a cerca das novas tecnologias
para o ensino. Os resultados deste programa vão sendo significativos à medida que
reforçam o universo artístico-educativo presente na dança como agente transformador de
práticas corporais a serem vivenciadas e refletidas no cotidiano escolar. As experiências
conjuntas movem interação com as outras linguagens da arte e cultura e enlaça elementos
imbricados nas matrizes culturais (estética), étnica, social e histórica.
Referências Bibliográficas
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LABAN, Rudolf Von. Domínio do movimento. São Paulo: Editora Summus, 1978.
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SANTOS, Inaycira Falcão dos. Corpo e Ancestralidade: uma proposta pluricultural de
dança-arte-educação. Terceira Margem, 2006;
VASCONCELLOS, Celso. Planejamento: plano de ensino-aprendizagem e projeto
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