UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ANIMAIS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM CLINICA MÉDICA DE PEQUENOS ANIMAIS CARLA BIANCA BASTOS DE FIGUEIREDO FARMACOPÉIA DE FELINOS DOMÉSTICOS: REVISÃO DE LITERATURA BELÉM – PARÁ 2009 CARLA BIANCA BASTOS DE FIGUEIREDO FARMACOPÉIA DE FELINOS DOMÉSTICOS: REVISÃO DE LITERATURA Monografia apresentada à Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), como exigência final para obtenção do título de especialização em Clínica Médica de Pequenos Animais. Orientador: Prof. Dr André Marcelo Conceição Meneses – UFRA BELÉM – PARÁ 2009 CARLA BIANCA BASTOS DE FIGUEIREDO FARMACOPÉIA DE FELINOS DOMÉSTICOS: REVISÃO DE LITERATURA Monografia apresentada à Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), como exigência final para obtenção do título de especialização em Clínica Médica de Pequenos Animais. APROVADA EM: 08 / 08 / 2009 BANCA EXAMINADORA ________________________________________ Profo Dr. André Marcelo Conceição Meneses (UFRA) Presidente e Orientador ________________________________________ Profº Msc Paulo Henrique Sá Maia (ANCLIVEPA) ________________________________________ Profª Dra Silvia Maria Mendes Ahid (UFERSA) Dedico esta a todos os gatos indiscriminadamente tratados, boas poderiam ser as intenções, mas pouco o conhecimento, a estes animais que, por infinitas razões conseguiram sobreviver ou infelizmente foram a óbito, e também aos clínicos que ajudam a dignificar nossa profissão ao tratá-la com sabedoria e honram o nosso juramento de graduação. AGRADECIMENTOS A Deus agradeço infinitamente por me dar forças para jamais desistir; Ao Professor orientador Dr. André Marcelo Conceição Meneses, sempre muito paciente e principalmente bastante otimista, mesmo muito atarefado, conseguiu fazer-se presente pra me ajudar neste trabalho, e me mostrar que “dá sim pra fazer”, basta um pouco de paciência e dedicação; Aos professores da banca que disponibilizaram seu tempo para avaliar meu trabalho; Às minhas amigas Carime Calzavara, que me ofereceu seu tempo, sua paciência e foi de uma incomensurabilidade única. Não sei como teria começado sem a sua ajuda; A Luiza Pereira, por trabalhar por mim, para que eu pudesse escrever este trabalho, agradeço infinitamente; A Nívia Freitas, que, pesquisando seus assuntos, ainda encontrou assuntos para eu adicionar ao meu trabalho; A Karla Negrão, por me emprestar seus valiosos livros, que muito contribuíram para este trabalho; Ao meu amado esposo Milton Neto, que com muita paciência e dedicação, também me ajudou a dar continuidade a este trabalho, contribuindo bastante para que ficasse pronto a tempo. “Não existe nada que não seja veneno, o que diferencia o medicamento do veneno é a dose” Paracelsus (1493-1541) RESUMO O crescente entendimento sobre a fisiologia da espécie felina tem sido de ampla importância ao se apresentar no mercado produtos voltados apenas para esta espécie e estudos científicos que colaboram com a determinação de doses seguras para os demais medicamentos que devem ser usados com muita cautela nestes animais. No entanto, este estudo demonstra concentradamente o uso de medicamentos que são extremamente contra-indicados em gatos. Diante do exposto, estudaram-se detalhada e individualmente os efeitos danosos da administração indiscriminada de medicamentos humanos na espécie felina, objetivando estabelecer um guia para intoxicação medicamentosa em gatos, e seu tratamento, as bases químicas foram relacionadas aos principais produtos disponíveis no mercado. Com este estudo reforça-se a idéia de que é necessário estabelecer um aprofundamento nesta questão, maiores informações sobre as causas que levam a tantas ocorrências e óbitos em gatos, que possa haver um maior esclarecimento aos proprietários sobre este assunto, visto que os medicamentos são obtidos em estabelecimentos farmacêuticos humanos, a única forma de controle destes casos é a informação. Palavras-chave: Contra indicação; Felinos; Intoxicação medicamentosa; Farmacologia Felina. 8 ABSTRACT The growing understanding of the feline’s physiology is extremely important because a spread number of products manufactured specially for this species and assist with scientific studies to determine safe doses of all medicines that can be used with extreme caution in these animals. However, this study demonstrates concentrate the use of drugs that are extremely contra-indicated in cats. Considering the above, is detailed and studied individually harmful effects of the indiscriminate administration of human drugs in feline species, to establish a guide to drug poisoning in cats, and their treatment, the chemical bases were related to major products on the market. This study reinforces the idea that it is necessary to establish a deepening in this, more information on the causes that lead to so many events and deaths in cats, there may be a better explanation to the owners about this, since the drugs are obtained in human pharmaceutical establishments, the only way to control these cases is information. Key – words: Counter indication; Felines; drug intoxication; Pharmacology Feline. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – População felina no mundo, importante nicho de mercado....................... 11 Figura 2 – Principais causas de intoxicação em gatos atendidos no HV/FMVZ/USP. 14 Figura 3 – Desenho esquematizando as vias de metabolização do paracetamol ......... 18 Figura 4 – Toxicidade por acetaminofeno em gato causando coloração cianótica em língua. ...................................................................................................................... 20 Figura 5 – Gato com edema de face por intoxicação com aspirina ............................ 22 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 11 2. OBJETIVOS ............................................................................................................... 14 3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.................................................................................... 15 3.1 INTOXICAÇÃO FARMACOLÓGICA EM FELINOS .............................................. 15 3.2 DESCRIÇÃO DA INTOXICAÇÃO MEDICAMENTOSA ........................................ 17 3.2.1 Ácido valpróico ...................................................................................................... 17 3.2.2 Acetaminofeno (paracetamol) ............................................................................... 18 3.2.3 Azul de metileno .................................................................................................... 21 3.2.4 Fenazopiridina ....................................................................................................... 21 3.2.5 Ácido acetilsalicílico .............................................................................................. 22 3.2.6 Piroxican ................................................................................................................ 23 3.2.7 Diclofenacos de sódio e de potássio ....................................................................... 23 3.2.8 Benzoato de benzila ............................................................................................... 24 3.2.9 Benzocaína ............................................................................................................. 24 3.2.10 Hidrocarbonetos clorados ................................................................................... 24 3.2.11 Hexaclorofeno ...................................................................................................... 24 3.2.12 Carbamatos e organofosforados ......................................................................... 25 3.2.13 Cloranfenicol........................................................................................................ 26 3.2.14 Fenilbutazona ...................................................................................................... 26 3.2.15 Cisplatina ............................................................................................................. 26 3.2.16 5 – Fluorouracil ................................................................................................... 27 3.2.17 Vitamina K ........................................................................................................... 27 3.2.18 Difenoxilato .......................................................................................................... 27 3.2.19 Azatioprina .......................................................................................................... 28 3.2.20 Estreptomicina e diidroestreptomicina ............................................................... 28 4 DISCUSSAO................................................................................................................ 29 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 31 REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 32 11 1 INTRODUÇÃO Compartilhar a vida com animais de estimação tem raízes profundas na evolução da sociedade humana, por isso a domesticação do gato completa mais de 9 mil anos, uma convivência pacífica e recíproca, no sentido do gato controlar as pragas como roedores e insetos da prática da agricultura, enquanto o homem fornece proteção aos seus maiores predadores (LOBÃO, 1992). A população de gatos no Brasil está hoje em cerca de 13 milhões. O gato representa o pet do século XXI, pois sua tendência é crescer, já que este felino é o animal doméstico que mais se ajusta ao estilo de vida atual: precisa de menos espaço e, comparado ao cão, é mais independente. Segundo levantamento da Associação Nacional dos Fabricantes de Alimentos para Animais de Estimação (Anfal Pet), entre 2003 e 2005 o número de cachorros registrados no país aumentou 7%, de 27 milhões para 28,8 milhões; já o de gatos saltou 20%, de 11 milhões para 13 milhões (Figura 1) (ANFAL PET, 2007). Figura 1. População felina no mundo, importante nicho de mercado. Fonte: Anfal Pet, 2007. No entanto, engana-se quem pensa que um gato pode ser tratado como um pequeno cão. Os gatos têm muitas particularidades, suas doenças e tratamentos são únicos e devem ser 12 acompanhados por um veterinário. De preferência um profissional que tenha conhecimento da medicina felina, hoje tão definida em virtude da crescente importância adquirida por esta espécie (ANFAL PET, 2007). Nestes últimos anos, tem-se dado grande ênfase à terapêutica felina na medicina veterinária, em virtude do aumento da popularidade do gato como animal de estimação. Hoje em dia, o veterinário está muito mais atento às particularidades da terapêutica e do manejo hospitalar dos gatos (SOUZA; AMORIM, 2008) Hansen (2006) descreveu em sua dissertação que, atualmente o aumento da indústria farmacêutica tem observado um problema muito comum na medicina humana e veterinária que é a intoxicação por medicamentos. Enquanto para os cães as principais causas de toxicoses são pesticidas e medicamentos, para os gatos os principais agentes são os medicamentos, mesmo a maioria das causas sendo acidentais seguidas de medicação sem prescrição veterinária. Há muitos anos os veterinários têm conhecimento de que os gatos respondem de maneira diferente à dos cães a uma variedade de drogas. Existem muitos relatos na literatura de intoxicações e reações adversas após o uso de diversos medicamentos nesta espécie (ARAÚJO et al, 2000). Segundo Souza e Amorim (2008), ainda não existem esquemas terapêuticos seguros para a maioria dos fármacos utilizados nos tratamentos das doenças felinas, resultando em erros nas prescrições medicamentosas. As autoras relatam ainda que os erros também podem ocorrer pela escolha inadequada das apresentações das formas farmacêuticas dos medicamentos que, na sua maioria, são inviáveis para os felinos, ou seja cápsulas, comprimidos grandes e soluções parenterais extremamente concentradas. A extrapolação de esquemas de doses e indicações terapêuticas dos fármacos de outras espécies, em particular do cão, para o felino deve ser vista com muita cautela. Muitos proprietários e veterinários vêem os gatos como pequenos cães, quando se tratam de determinados esquemas de doses e indicações terapêuticas, porém isso nem sempre é viável, pois existe um grande potencial às reações adversas e intoxicações (SOUZA; AMORIM, 2008). Para Araújo et al. (2000), embora estas extrapolações sejam freqüentemente bem sucedidas, deve-se ter em mente as variações da farmacocinética e do metabolismo de drogas entre as espécies, que são responsáveis pelas reações adversas. Alguns felinos podem ter severas reações anafiláticas /alérgicas a determinadas medicações neles aplicadas, a exemplo da ivermectina, que é tradicionalmente aplicada no controle de pequenos parasitos como carrapatos, pulgas e piolhos, em determinadas situações, essa substância pode ocasionar edema cerebral, provocando mialgia intensa, ataxia e paresia, 13 cegueira temporária, hiporexia ou anorexia, retenção de urina, hipertermia, chegando a levar, em casos mais graves, o animal ao estado de coma. Comparativamente ao que ocorre em cães, os felinos mostram-se mais sensíveis aos efeitos colaterais de diversos fármacos, como o anteriormente citado. Como o uso indiscriminado destes medicamentos pode levar o animal ao óbito, é altamente recomendado que o médico veterinário conheça o mecanismo de ação destas drogas e seu tratamento e/ou antídoto, quando for o caso, alertando os proprietários contra seus efeitos danosos. A facilidade de obtenção de diversos medicamentos de uso corrente em seres humanos, sem a necessidade/exigência de receituário médico, aumenta as chances da utilização inadequada de diversas bases farmacológicas na espécie felina. Há, portanto, a necessidade que medidas sensatas sejam tomadas para assegurar que tal situação não ocorra, diminuindo, deste modo, a possibilidade de que as prescrições para pequenos animais não sejam utilizadas de forma abusiva pelos seres humanos. 14 2. OBJETIVOS O objetivo deste trabalho foi realizar revisão bibliográfica ampla a respeito dos fármacos que são utilizados na terapêutica felina, sejam de uso corrente veterinário ou não, inclusive citando suas principais indicações e contra-indicações para a espécie em questão. 15 3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 3.1 INTOXICAÇÃO FARMACOLÓGICA EM FELINOS Dentro da medicina veterinária, a medicina felina tem demonstrado grande interesse por parte das novas gerações de veterinários, que buscam, em sua maioria, uma especialização constante. Diversos são os fármacos comumente utilizados na medicina felina, e muitos deles não têm referencial teórico que fundamentem suas aplicações terapêuticas, e muito menos, seus efeitos adversos naqueles pacientes que porventura venham a recebê-los. Xavier e Kogika (2002) avaliaram no Hospital Veterinário da Universidade de São Paulo as causas mais comuns de intoxicação em gatos (Figura 1), os dados obtidos mostram o quanto é essencial conhecer a toxicidade destes agentes para reduzir os índices destes acidentes. Metade das intoxicações medicamentosas em gatos ocorre devido aos antinflamatórios não-esteroidais (50%), e ainda por agentes antimicrobianos (7,2%) e outros (42,8%). Figura 2 - Principais causas de intoxicação em gatos atendidos no HV/FMVZ/USP. Fonte: adaptado de Xavier e Kogika (2002). Diante do colocado, o volume de informações acerca das intoxicações em gatos são fartas, menos por seu comportamento, e mais por seu metabolismo e fisiologia particulares. O gato é um animal muito mais seletivo que o cão, não se intoxicando acidentalmente com a mesma freqüência e gravidade, mas sim de forma indiscriminada tanto pelo seu proprietário 16 que desconhece os efeitos daquele medicamento em seu felino, como por clínicos veterinários que desconhecem a dose de segurança de muitos fármacos que têm apresentado toxicidade nesta espécie (ANFAL PET, 2007). Neste ínterim, o Quadro 1 exemplifica alguns fármacos já previamente estudados, que possuem contra-indicação absoluta ou relativa para a espécie felina, por provocarem efeitos colaterais já descritos na literatura especializada e seus respectivos nomes comerciais. Princípio ativo Nome Comercial Acetoaminofeno Efeitos Colaterais Mucosas cianóticas, salivação, vômitos, anorexia, edema facial coma e morte Aspirina (H) Inapetência, edema de face, incoordenação, vômitos, diarréia, icterícia, coma e morte Sebolytic (V), Polytar Shampoo e Ataxia, coma e óbito Paracetamol (H); Tylenol (H) Ácido acetil salicílico Alcatrão sabonete (H) Apomorfina Uprima (H) Azatioprina Imunen, Imuran (H) Azul de metileno Cystex (H), Sepurim (H) Benzoato de benzila Depressão do sistema nervoso central Supressão medular Anemia hemolítica oxidação irreversível hemoglobina Timbaco Spray (V), Matacura Ataxia, coma e óbito e da Sarnicida (V) e Miticoçan (H) Benzocaína Cepacaína (H), Malvona (H) Cisplatina Platistine CS (H), Tecnoplatin (H) Diclofenacos de Voltaren (H) e Cataflan (H) potássio e sódio Difenoxilato Lomotil (H) Fenitoína Epelin (H), Fenital (H), Episol (V) Fosfato de sódio Fleet Enema (H) Metamioglobinemia, edema laringiano Edema pulmonar agudo (fatal) gastrenterite hemorrágica grave Excitação, midríase, cegueira e ataxia Anorexia, ataxia, atrofia dérmica, sedação Ataxia, depressão, êmese e hematoquezia 17 Hexaclorofeno Phisiohex (H) Permetrina Êmese, depressão, ataxia, paralisia Pulgoff Pour-on (V), Pulvex Pour- Hepercinesia, hiperestesia, mioclonia on (V) Propiltiouracil Propil (H) Sulfeto de selênio Letargia, astenia, anorexia, diáteses hemorrágicas Selsun Azul (H) e Selsun Ouro (H) Ataxia, coma e óbito Tiacetarsamida Caparsolate (V) Pirexia, dispnéia e edema pulmonar (fatal) Quadro 1 - Exemplos de fármacos, seus respectivos nomes comerciais e efeitos colaterais. Humano (H), Veterinário (V). Fonte: Modificado de Spinosa et al (2006). 3.2 DESCRIÇÃO DA INTOXICAÇÃO MEDICAMENTOSA Quando se administra um fármaco para um determinado paciente, é extremamente importante conhecer seus efeitos colaterais/adversos, que, dependendo do medicamento, dose administrada, via de administração, e principalmente, de fatores individuais de cada paciente, devem ser amplamente reconhecidos, para que, caso venham a acontecer, sejam rapidamente revertidos. Dentre aqueles medicamentos com efeitos colaterais sabidamente descritos na literatura especializada para a espécie felina, mas que, ainda são utilizados por médicos veterinários desavisados ou inexperientes, podemos citar: 3.2.1 Ácido valpróico Zoran et al. (2001), observou o caso de um gato castrado de 1 ano de idade que apresentou alopecia e hiperatividade durante 4 a 5 meses. O animal ingeria alimento destinado a uma criança, o qual continha ácido valpróico. Após a remoção da droga, houve recuperação do animal, porém não ficou comprovado que ocorreu intoxicação pelo fármaco. Os autores relatam que o animal desenvolveu sinais clínicos devido à eliminação hepática prolongada do ácido valpróico, uma vez que este exige glucuronidação para ser metabolizado. Nome comercial na linha humana: Depakene. 18 3.2.2 Acetaminofeno (paracetamol) O paracetamol é um agente antiinflamatório inibidor fraco das enzimas Clicloxigenase 1 (COX – 1) e Clicloxigenase – 2 (COX – 2), atuando mais especificamente sobre uma substância denominada prostaglandina sintetase na região cerebral, cuja ação principal é promoção de atividade antipirética por bloqueio da ação de pirógenos (SPINOSA et al., 2006). As cicloxigenases (COX) produzem prostanóides (mediadores que sensibilizam receptores da dor),e o paracetamol, por sua vez, inibe a cicloxigenase, impedindo, deste modo, a conversão do ácido aracdônico em metabólitos de prostaglandina (HANSEN, 2006). Este fármaco se liga à COX de forma reversível e não competitiva, e é metabolizado por uma série de vias (BOOTH, 1992), assim como descrito na Figura 1. Os gatos são especialmente sensíveis à ação do paracetamol, pois esta espécie animal não realiza bem a conjugação pela glicuroniltransferase, enzima hepática necessária para correta eliminação deste antinflamatório. Os gatos intoxicados apresentam inicialmente mucosa de coloração azulada, salivação e vômitos, que se iniciam nas primeiras 4 horas de exposição; Também se observa depressão, anorexia, e edema facial após cerca de 3 dias: Casos graves levam à um quadro de coma e morte (SPINOSA et al., 2006). 19 Figura 3 - Desenho esquematizando as vias de metabolização do paracetamol. Fonte: adaptado de Booth (1992). Segundo Wills e Wolf (1995), o paracetamol é extremamente tóxico para os gatos e nunca deve ser usado, pois sua conjugação como ácido glicurônico é muito limitada. Este fármaco se oxida para formar um composto intermediário altamente restivo que é hepatotóxico e que proporciona a conversão da hemoglobina em metahemoglobina. Os sinais clínicos incluem ainda edema pulmonar, cianose, apatia, hipotermia e vômito. Em caso de administração inadvertida em gatos ou overdose em cães, o animal deve ser levado ao veterinário para este proceder à desintoxicação Os efeitos da intoxicação podem incluir danos ao fígado, anemia hemolítica, danos oxidativos às hemácias e tendências à hemorragia. Não existem antídotos caseiros, e os danos irreversíveis ao fígado dependem da rapidez com que é iniciada a intervenção veterinária (VILLAR et al., 1998). O tratamento farmacológico da overdose de paracetamol pode envolver o uso de terapia fluida (solução de NaCl 0,9%), acetilcisteína, metionina ou S-adenosilmetionina 20 (SAMe) para retardar os danos ao fígado e cimetidina para proteger contra a ulceração gástrica. Quando há hepatotoxicidade, não é possível revertê-la. (MANNING, 2007). Para Norsworthy et al. (2004), a utilidade da cimetidina ainda não foi comprovada, e, portanto, não deve ser tratamento exclusivo para a toxicose. O autor ressalta que o tratamento compreende a remoção da toxina pela indução da êmese, em caso de ingestão recente. Também se pode ser utilizado carvão ativado, mas apenas se a ingestão tiver ocorrido nas duas horas precedentes ao atendimento veterinário. Seu uso deve ser cauteloso, caso o animal esteja vomitando ou em caso de indução da êmese. Se o paciente estiver sendo medicado com acetilcisteína por via oral (VO), o carvão ativado poderá se ligar o fármaco. A acetilcisteína em solução a 5% é recomendável como antídoto específico. A dose inicial por via oral ou intavenosa de 130 a 140 mg/kg deve ser seguida por 70 mg/kg VO ou intra venoso (IV) a cada 4 a 6 horas, podendo haver necessidade de dar continuidade ao tratamento durante durante 2 a 3 dias. O prognóstico é grave quando forem muito intensas a metahemoglobinemia e anemia hemolítica por corpúsculos de Heinz e não houver resposta á terapia apropriada. Para os felinos que se recuperam, não foram relatados efeitos em longo prazo (NORSWORTHY et al., 2004). Em gatos, o seu uso promove hemólise intra e extravascular em virtude da formação do corpúsculo de Heinz. Em todas as espécies ele é metabolizado por meio de três trajetos: glicuronidação, sulfatação e oxidação mediada por citocromo P450. Os metabólitos da glicuronidação e da sulfatação não são tóxicos, mas o trajeto de oxidação produz um metabólito tóxico reativo (acredita-se que seja N-acetil-p-benzoquinoneimina). Esse metabólito é normalmente conjugado com glutationa, mas quando a glutationa hepática esgota-se, o metabólito se conjuga covalentemente com resíduos de aminoáciods de proteínas no fígado, resultando em necrose hepática centrilobular (CHANDLER, et al., 2006). A glicuronidação é o principal trajeto metabólico na maior parte das espécies, mas os gatos possuem baixa concentração de glicuronil-transferase, que catalisa a etapa final, de forma que a excreção por esse trajeto é pequena. A sulfatação é o principal trajeto metabólico em gatos, mas sua capacidade é limitada à medida que a dose é aumentada, uma porcetagem maior do fármaco é oxidada (CHANDLER et al., 2006). Intoxicação por acetaminofeno (Paracetamol) causa uma coloração enegrecida cianótica na pele e na mucosa oral, incluindo língua, edema facial, anemia, icterícia e hemoglobinúria (BURROWS, 2002) (Figura 4). Se houver se passado menos de 4 horas 21 desde a ingestão, deve-se tentar eliminar o tóxico através da indução da êmese, lavagem gástrica e administração de carvão ativado (LUENGO; GUTIÉRREZ, 2008). A B Figura 4 - Toxicidade por acetaminofeno em gato causando coloração cianótica em língua. Fonte: Vets Alliance Pty Ltd ( 2007). 3.2.3 Azul de metileno Segundo Tilley et al. (2008), trata-se de um antisséptico urinário fraco, que pode causar formação de corpúsculos de Heinz e anemia hemolítica, pois ocorre oxidação irreversível da hemoglobina. Araújo et al. (2000) concordam e complementam que além dos achados anteriores, ocorre também diarréia, depressão e anorexia, sendo, portanto, contraindicado para a espécie felina. Hejtmancik et al. (2001) administraram azul de metileno a várias espécies, incluindo felinos domésticos e constataram que esta espécie é muito sensível à droga, pois foram descritas alterações hematológicas após uma única administração, assim como diminuição da hemoglobina e aumento do número de reticulócitos. 3.2.4 Fenazopiridina É o analgésico mais comumente adicionado a produtos para o tratamento das infecções urinárias. A administração oral da droga na dose de 65mg/kg/dia a um gato com disúria e hematúria, produziu hemólise com icterícia, anemia, presença de corpúsculos de 22 Heinz nas hemácias e morte do animal 48 horas após a administração da última dose (SOUZA; AMORIM, 2008). Segundo os mesmos autores, doses mais baixas (10-20mg/kg/dia), administradas durante períodos maiores, não resultam em sinais de intoxicação ou anemia, porém o número e o tamanho dos corpúsculos de Heinz e os níveis de metahemoglobinemia no sangue aumentam. 3.2.5 Ácido acetilsalicílico Trata-se de um agente oxidante causador de anemia hemolítica por corpúculos de Heinz. Causa muitos efeitos tóxicos, tais como: inapetência, incoordenação, vômitos, diarréia, icterícia, coma e morte. Apesar disso, existem indicações para seu uso no tratamento para insuficiência renal aguda, cardiomiopatia hipertrófica e episódio tromboembólico, usada para redução da agregação plaquetária. Esta dose oscila de 25mg/kg a cada 24hs a 42mg/kg a cada 72hs (WILLS; WOLF 1995). Contudo, para Norsworthy et al. (2004), esse fármaco pode ser administrado com segurança em gatos na dose de 10 a 20 mg/kg cada 48hs. O autor relata que, se na ocasião da intoxicação não for confirmada a ingestão de ácido acetilsalicílico, é difícil fazer o diagnóstico específico. Segundo o mesmo autor, é maior a probabilidade de angústia respiratória, distúrbios ácido-básicos, convulsões e hemorragia gastrintestinal com a repetição das doses deste fármaco. A hepatite induzida pela medicação pode levar ao surgimento de icterícia. Com a repetição das doses de aspirina, torna-se maior a probabilidade de surgir angústia respiratória, distúrbios ácido-básicos, convulsões e hemorragia gastrintestinal. Dentro de poucos dias poderão ocorrer astenia muscular, ataxia, convulsões, coma e morte (NORSWORTHY et al., 2004). 23 Figura 5. Gato com edema de face por intoxicação com aspirina. Fonte: Beco Dos Gatos (2009). 3.2.6 Piroxican Este medicamento é contra indicado em gatos, mas não por ser prejudicial, mas sim porque seus efeitos nesta espécie não foram avaliados, portanto, efeitos tóxicos são desconhecidos (TILLEY et al., 2008). 3.2.7 Diclofenacos de sódio e de potássio O diclofenaco pertence ao grupo dos antiinflamatórios não-esteróides (AINEs), neste grupo incluímos os diclofenacos sódico e potássico, ambos com pronunciadas propriedades analgésica, antiinflamatória e antipirética; é um antiinflamatório de ação dual (atua sobre a inibição da cicloxigenase e da lipoxigenase), possui alta potência antiinflamatória e analgésica (SPINOSA et al., 2006) Estes fármacos são muito utilizados na medicina humana, mas não devem ser usado em cães e nem em gatos, pois podem causar gastrenterite hemorrágica grave. Porém, seu uso tópico diminui a incidência de efeitos colaterais, graças à baixa absorção sistêmica, sendo 24 por isso bastante utilizado na oftalmologia em forma de colírio e em contusões e distúrbios musculoesqueléticos em forma de gel ou pomada (ANDRADE, 2008). 3.2.8 Benzoato de benzila Este fármaco já foi muito utilizado para o tratamento de parasitoses cutâneas em pequenos animais, sendo empregado até hoje no tratamento da escabiose e pediculose em humanos. É contra-indicado para gatos, pois provoca dor abdominal, vômito e diarréia, hiperexcitabilidade e convulsões. Em caso de intoxicação, deve-se remover o produto da pele do animal e iniciar tratamento sintomático (ARAÚJO et al., 2000; SOUZA; AMORIM, 2008). 3.2.9 Benzocaína Para Araújo et al. (2000), uso deste anestésico local em gatos está associado à metahemoglobinemia após administração tópica na pele para controle de prurido, ou na laringe para facilitar a intubação traqueal. Segundo Souza e Amorim (2008), o mecanismo de oxidação da hemoglobina pela benzocaína é desconhecido, mas deve estar relacionado ao metabolismo de produtos tóxicos. Os sinais clínicos observados nos gatos após o uso tópico de creme ou pulverizações contendo o fármaco são vômito, dispnéia, mucosa cianótica, taquicardia, taquipnéia e prostração. O tratamento para a intoxicação por benzocaína inclui a administração de oxigênio, de N-acetilcisteína e a transfusão sanguínea (ARAÚJO et al., 2000) 3.2.10 Hidrocarbonetos clorados 25 Presente em alguns produtos de combate à pulgas e outros parasitas. A reação pode ser imediata ou levar dias para ocorrer. Começa com uma resposta exagerada ao estímulo, tremores, progressão para tremores cada vez mais fortes até um estado convulsivo, febre (NORSWORTHY, 1993). 3.2.11 Hexaclorofeno Agente germicida, encontrado em xampus, desinfetantes e sabonetes, (como o Phisiohex). É rapidamente absorvido através da pele e trato intestinal. Causa em gatos fadiga, fraqueza, incoordenação dos membros posteriores, febre, ausência de urina, vômito, depressão, ataxia, hiper-reflexia, que progride para hiporreflexia e, paralisia flácida completa. O tratamento consiste na remoção da droga, através de banhos, lavagem gástrica e catárticos, associados a tratamento de suporte (NORSWORTHY, 1993; ARAÚJO et al., 2000) 3.2.12 Carbamatos e organofosforados Os carbamatos são usados em medicamentos contra pulgas como coleiras, sabonetes, sprays, talcos, xampus, causando lesão no SNC e morte por parada respiratória (NORSWORTHY, 1993). Afetam o sistema nervoso por inibir a acetilcolinesterase (AChE) na junção neuromuscular, resultando no excesso de AChE e em prolongada despolarização da membrana pós-sináptica; os órgãos efetores são estimulados (NORSWORTHY et al, 1994). Os gatos são mais suscetíveis aos efeitos tóxicos dos organofosforados do que as outras espécies de animais. Essa intoxicação ocorre especialmente pelo emprego de coleiras contra pulgas que têm com base o citado fármaco (SOUZA; AMORIM, 2008). Segundo os autores supracitados, sinais clínicos da intoxicação aguda são decorrentes do acúmulo de acetilcolina, miose, salivação e fasciculação muscular. O tratamento é de suporte, associado à administração de sulfato de atropina, na dosagem de 0,1 0,2mg/kg, por via intavenosa (IV), lentamente, sendo necessária a repetição a cada 10 minutos até a diminuição dos tremores musculares e, posteriormente, a cada 60 minutos. 26 Souza e Amorim (2008) relatam ainda que os tratamentos associando sulfato de atropina e cloridrato de pralidoxima trazem melhores resultados. Administra-se este fármaco na dose de 20mg/kg, IV, podendo ser repetido após 60 minutos. O emprego do sulfato de atropina pode ser requerido após 24 a 48 horas. 3.2.13 Cloranfenicol Araújo et al. (2000) relatam que, quando este fármaco é administrado em gatos na mesma dose recomendada para cães, induz à anorexia, depressão, anemia e mielossupressão. Na maioria dos casos, esses efeitos são reversíveis após a interrupção da administração da droga. Os mesmos autores afirmam que a intoxicação por cloranfenicol causa hipoplasia de medula, ausência de maturação das células eritróides, inibição da atividade mitótica e vacuolização de linfócitos e de precursores iniciais das séries mielóide e eritróide. No sangue periférico observa-se diminuição do número de neutrófilos, linfócitos e, reticulócitos pontilhados e plaquetas. Embora a gravidade da intoxicação seja aparentemente dose- dependente, a administração contínua também parece contribuir para o desenvolvimento de efeitos adversos. 3.2.14 Fenilbutazona Nos gatos, a fenilbutazona deve ser usada com cautela. A dose deve ser menor que a usada nos cães. Uma dose de 5-12mg/kg administrada via oral (VO), duas vezes ao dia não deve causar toxicidade. Deve ser usado por curto período e deve-se suspender o uso se houver qualquer sinal de inapetência ou apatia. Os sinais clínicos da intoxicação compreendem inapetência, vômito e perda de peso (WILLS; WOLF, 1995). Porém, para Araújo et al. (2000), o uso de fenilbutazona em gatos está associado a uma alta incidência de intoxicação. Os autores relatam que existem controvérsias quanto ao uso deste fármaco no gato, pois enquanto autores recomendam a dose de 6 a 12mg/ kg, outros dizem que o fármaco não deve ser utilizado na espécie felina. 27 3.2.15 Cisplatina O uso sistêmico deste fármaco é contra-indicado em gatos, devido à toxicidade pulmonar primária espécie-específica e dose relacionada. A toxicidade se manifesta como hidrotórax grave, edema pulmonar e mediastinal fatais. Apesar do efeito letal quando usada IV, a cisplatina pode ser administrada com sucesso na forma intralesional, por meio de uma suspensão em óleo ou matriz colágena na dose de 1,5mg/cm3, sem toxicidade sistêmica aparente (SOUZA; AMORIM, 2008; TILLEY et al., 2008). 3.2.16 5 – Fluorouracil É um antineoplásico cujo mecanismo de ação se dá através da interferência na síntese de DNA, podendo se incorporar no RNA para causar efeitos tóxicos. É indicado para tratamento de carcinomas gastrointestinais, pulmonares, hepáticos e mamários (sistêmicos) e carcinomas cutâneos (tópicos), porém a administração tópica em gatos resulta em neurointoxicação e hepatointoxicação fatais (MERCK, 2001). Souza e Amorim (2008) descrevem que essa toxicidade também ocorre por via sistêmica, assim como pela via tópica, sendo, portanto, seu uso contra-indicado na espécie felina. 3.2.17 Vitamina K Grandes quantidades (acima da dose usualmente recomendada) causam anemia hemolítica por corpúsculos de heinz e dano hepático oxidativo (TILLEY et al., 2008). 3.2.18 Difenoxilato 28 É encontrado em medicamentos antidiarréicos, mas é tóxico e não deve ser usado. Seu uso em gatos tem efeitos desfavoráveis tais como excitação e midríase que avança até a cegueira e ataxia (WILLS; WOLF, 1995). 3.2.19 Azatioprina Os gatos são particularmente sensíveis à toxicidade medular deste fármaco, pois, por ser um imunossupressor potente, os felinos geralmente demonstram leucopenia e trombocitopenia fatais. A dose recomendada é de 1,5 a 3,125 mg/gato a cada 48 horas. Muitos autores não recomendam o uso da azatioprina em gatos, e como alternativa, o clorambucil pode ser empregado para o tratamento de doenças imunomediadas nesta espécie (SOUZA; AMORIM, 2008). 3.2.20 Estreptomicina e diidroestreptomicina Estes fármacos são aminoglicosídeos que podem induzir neurotoxicidade nos gatos. Os sinais clínicos observados de intoxicação incluem ataxia, andar cambaleante, alteração na postura e perda de audição. Em doses muito elevadas causa completo bloqueio neuromuscular e paralisia respiratória. Nos felinos, deve-se ter o cuidado especial na administração de fármacos contendo penicilina e estreptomicina associadas (SOUZA; AMORIM, 2008). 29 4 DISCUSSÃO A medicina felina ganhou importante espaço na medicina veterinária de animais de companhia, fato este já percebido e relatado por Souza e Amorim (2008). Isto se deve, provavelmente, ao fato de que, com o crescimento das cidades e aumento das populações viventes nelas, buscou-se, cada vez mais otimizar os espaços urbanos. Como os felídeos ocupam menos espaço físico, comparados aos caninos de modo geral, e possuem hábitos ímpares, como o de auto-limpeza, a preferência por esta espécie tem se tornado evidente. Um dos grandes problemas observados na medicina felina diz respeito à terapêutica, uma vez que a maioria dos medicamentos utilizados nesta espécie, não tem sequer, indicação específica para a espécie, além do fato que a maioria dos felinos responde de maneira diferente à alguns fármacos comparativamente aos cães, assim como descrito por Araújo et al. (2000). Dentre os medicamentos utilizados na farmacopéia felina podemos destacar diversos cujas indicações, ações farmacológicas, e efeitos colaterais ainda são obscuros, como ácido valpróico, paracetamol, azul de metileno, dentre outros, assim como citado por Souza e Amorim (2008). Um dos fármacos amplamente utilizados, em especial por proprietários que ainda anão buscaram auxílio veterinário, é o paracetamol, Os gatos são especialmente sensíveis à ação deste medicamento, pois esta espécie animal não realiza bem a conjugação pela glicuroniltransferase, enzima hepática necessária para correta eliminação deste antinflamatório, assim como relatado por Spinosa et al.(2006). Na maioria dos casos, quando os animais chegam até o médico veterinário, os sinais clínicos, como mucosas de coloração azulada, salivação e vômitos, já estão evidentes, e o veterinário tem pouco a fazer nestas situações. Em relação ao ácido acetil salicílico existem diversas situações onde sua indicação é importante, por sua ação de anti agregante plaquetária, como naqueles pacientes com cardiomiopatia hipertrófica, porém, grande parte dos veterinários tem receio de usar tal fármaco, necessitando de maior conhecimento por parte destes acerca de suas indicações e seus efeitos colaterais. Problemas dermatológicos são comuns em felinos, como dermatoses parasitárias, hormonais e de origem bacteriana, dentre outras. Um dos fármacos utilizados na dermatologia veterinário é o benzoato de benzila, cujos efeitos colaterais podem levar os 30 pacientes inclusive à óbito, assim como descrito por Araújo et al. (2000). Portanto, seria extremamente interessante que avisos ou tarjas fossem colocados nos produtos que possuem em sua composição tal fármaco, evitando que o uso inadequado seja realizado na espécie felina. Dentre os agentes antimicrobianos, estreptomicina e diidroestreptomicina são destaque, pois devido seu amplo espectro de ação, são usualmente prescritos, em especial quando a doença de base tem fundo bacteriano, assim como descrito por Souza e Amorim (2008). Porém, devido seus efeitos colaterais, em especial relacionados ao sistema nervoso, devem ser evitados na espécie felina. Estudos farmacológicos mais profundos devem ser realizados nos felídeos de modo geral, para que se possa, a partir daí, utilizar um maior número possível de medicamentos para a espécie felina, cujos efeitos colaterais sejam diminutos ou mesmo inexistentes. 31 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Muito se estuda, mas pouco se sabe a respeito da farmacopéia de felídeos domésticos, e com esta pesquisa buscou-se, de forma ampla e abrangente, na medida do possível, buscar informações a respeito dos fármacos rotineiramente utilizados na medicina interna de animais de companhia, enfatizando as diferenças presentes quando da prescrição dos mesmos à espécie felina. Vale ressaltar ainda que, com o avançar da medicina felina, muitos fármacos que antes não eram utilizados na terapêutica desta espécie, hoje são de uso comum, entretanto há necessidade de se conhecer profundamente os benefícios e idiossincrasias que os mesmos podem provocar nos felinos domésticos. Pesquisas adicionais são necessárias para que, num futuro próximo, se possa verdadeiramente conhecer a fisiologia e metabolismo da espécie felina e com isso, a terapêutica será muito mais segura e eficaz, tanto para o paciente quanto para o veterinário que a prescreveu. 32 REFERÊNCIAS ANDRADE, S. F. Manual de terapêutica veterinária. 3 ed. São Paulo: Roca, 2008. 912 p. ANFAL PET. Mercado aponta problemas. 2007. Disponível em: <http://www.feedfood.com.br/noticias_diarias. php?busca=425>. Acesso em: 16 de março de 2009. ARAÚJO, I. C., POMPERMAYER, L. G., PINTO, A. S.Metabolismo de drogas e terapêutica no gato: revisão. Clínica Veterinária, Ano V, n. 27, jul/ago, 2000. p 46 -53. BECO DOS GATOS. Gato com edema de face por intoxicação por ácido acetilsalicílico. Disponível em: <http://www.becodosgatos.com.br/medica.htm>. Acesso em: 25 de fevereiro de 2009. BOOTH, N.H., Farmacologia e Terapêutica Veterinária. 6.ed. Rio de Janeiro, 1992. 997 p. BURROWS, C.F. Gastrointestinal Disorders. 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