Apneia obstrutiva do sono e obesidade: interação complexa que pode aumentar a morbi-mortalidade de doenças cardíacas e vasculares preexistentes. Prof.ª Dra. Dalva Poyares A apneia obstrutiva do sono (AOS) é a doença mais comum que foi descoberta no século 20. A obesidade é considerada agravante e não causa, uma vez que pode acometer indivíduos magros. Os episódios recorrentes durante o sono de pausas respiratórias durando mais de 10 segundos podem ser seguidas de desaturação da oxi-hemoglobina, de hipoxia intermitente ou ainda de despertares breves muito freqüentes. Para vencer a obstrução as vias aéreas superiores (VAS) noturna, aumento do esforço respiratório e registrado em alguns pacientes levando a alterações hemodinâmicas importantes. A hipoxia intermitente e a fragmentação do sono podem levar a um aumento do estresse oxidativo, disfunção endotelial, alterações inflamatórias e hemodinâmicas que em ultima instancia levam a hipertensão arterial, alterações das câmaras cardíacas e aterogenese aumentada. Alem disso, a resposta autonômica as mudanças abruptas de pressão intratorácica e a hipoxia com aumento do tônus vagal durante o esforço e aumento do tônus simpático apos a finalização do evento respiratório, ou seja, apos a recuperação da ventilação, podendo aumentar o risco de ocorrência de arritmias cardíacas noturnas, tanto bradi quanto taquiarritmias. A relação entre fibrilacao atrial e AOS tem sido muito estudada ultimamente. O tratamento efetivo da AOS com CPAP (pressão aérea continua nas VAS) e capaz de reduzir as recorrências de tal arritmia. Hipertensão arterial (HAS) e a conseqüência mais bem documentada da AOS. Cerca de 40% ou mais dos pacientes com AOS sofrem de HAS. Aumento do tônus simpático, alterações endoteliais, potenciais alterações dos baroceptores, podem estar associados ao desenvolvimento ou manutenção da HAS em tais pacientes. A manutenção da AOS em alguns pacientes hipertensos pode ser causa de HAS de difícil controle. Av. Das Nações Unidas, 11.541 , 19 º andar – Brooklin Novo – São Paulo – SP – CEP 04578-000 AOS também tem sido considerada fator de risco para alterações metabólicas, entre elas, resistência a insulina, alterações da grelina e adiponectina e inflamação geralmente resultam em aparecimento da síndrome metabólica. Obesidade mais uma vez e considerada agravante e fator de confusão na maioria dos estudos, uma vez que a grande maioria dos pacientes diagnosticados com AOS apresentam-se com sobrepeso ou obesidade. Pacientes com AOS podem apresentar risco aumentado de desenvolvimento de doença coronariana e infarto do miocárdio. Alem disso, pacientes com doença coronariana conhecida e AOS apresentam maior taxa de mortalidade comparado com aqueles sem AOS. Com relação a doença isquêmica cerebrovascular, essa relação e menos clara, uma vez que a redução do tônus muscular das VAS em pacientes com acidente vascular encefálico também leva a AOS. Hipertensão pulmonar e mais rara em AOS em adultos, podendo ocorrer pouco mais freqüentemente em crianças. Desse modo, a co-ocorrencia de AOS e hipertensão pulmonar sugere a busca de transtornos pulmonares concomitantes. Por fim vários estudos tem demonstrado alterações das câmaras cardíacas, estruturais e funcionais que a longo prazo pode ser fator de risco no caso do átrio esquerdo para fibrilacao atrial. Já em relação ao ventrículo esquerdo, relatos de disfunção sistólica e diastólica em pacientes com AOS pode ser outra fonte de preocupação clínica, uma vez que pode exarcerbar quadros de insuficiência cardíaca ou ser fator de risco a longo prazo. Nesse caso, a ocorrência de padrão de respiração de cheyne-stokes durante o sono deve ser suspeitada, detectada e tratada no sentido de melhorar o prognóstico e a função cardíaca de tais pacientes. Em conclusão, AOS e fator de risco cardiovascular, entretanto a fisiopatologia das conseqüências cardiovasculares relatadas e complexa e multifatorial. Tratar a AOS e importante em pacientes com doenças cardíacas e respiratórias preexistentes. Referencias: Av. Das Nações Unidas, 11.541 , 19 º andar – Brooklin Novo – São Paulo – SP – CEP 04578-000 Dincer EH, O’Neill W. Deleterious effects of sleep-disordered breathing on the heart and vascular system. Respiration. 2006, 74:124130. Oliveira W, Campos O, Bezerra Lira-Filho E, Cintra FD, Vieira M, Ponchirolli A, de Paola A, Tufik S, Poyares D. Left atrial volume and function in patients with obstructive sleep apnea assessed by real-time three-dimensional echocardiography. J Am Soc Echocardiogr. 2008;21(12):1355-61. 18. Braga B, Poyares D, Cintra F, Guilleminault C, Cirenza C, Horbach S, Macedo D, Silva R, Tufik S, De Paola AA. Sleep-disordered breathing and chronic atrial fibrillation. Sleep Med. 2009;10(2):212-6.. Cintra FD, Poyares D, Guilleminault C, Carvalho AC, Tufik S, de Paola AA. [Cardiovascular comorbidities and obstructive sleep apnea]. Arq Bras Cardiol. 2006 Jun;86(6):399-407. Av. Das Nações Unidas, 11.541 , 19 º andar – Brooklin Novo – São Paulo – SP – CEP 04578-000