ID: 21395311 17-07-2008 Tiragem: 64822 Pág: 29 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 27,14 x 33,64 cm² Âmbito: Informação Geral Corte: 1 de 3 Vírus Técnicos falam de uma espécie de filoxera moderna Vinhas do Norte ameaçadas por praga que pode ser devastadora PAULO PIMENTA Há já plantas mortas em concelhos do Minho CAP acusa ministério de menosprezar um problema que pode ter consequências muito graves para o sector vinícola Pedro Garcias a Depois da doença do nemátodo do pinheiro, o Ministério da Agricultura tem pela frente uma nova praga com efeitos também potencialmente desvastadores, neste caso para a vinha. Chama-se Flavescência Dourada (FD), é provocada por um fitoplasma (um vírus) que tem como transmissor um insecto da família das cicadelas, o Scaphoideus titanus Ball. Este vírus, além de originar uma diminuição gradual do rendimento das vinhas, pode levar à morte das videiras em apenas três anos. A situação está a causar algum alarme, sobretudo na região dos vinhos verdes, onde já foram detectados vinhedos infectados. O risco da Ministério diz que está a actuar praga é tal que, anteontem, a Câmara de Amares reuniu-se com alguns viticultores. Num outro quadro, ontem, a Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) juntou várias associações do sector vitivinícola, em Lisboa, para analisar a situação. Mário Abreu e Lima, membro da direcção da CAP e um dos intervenientes na reunião de ontem, acusa o Ministério da Agricultura de estar a “menosprezar um problema que pode ter sequências extremamente penosas para a viticultura portuguesa”. “Existem já vinhedos afectados e plantas mortas em alguns concelhos do Minho e a propagação desta praga em vinhedos contínuos, como no Douro, pode ser fatal. Esta doença, pelo seu impacto, pode ser comparada à do nemátodo do pinheiro. É uma espécie de filoxera moderna”, alerta aquele dirigente da confederação. Insecto propaga doença O PÚBLICO tentou ouvir os responsáveis da Direcção-Geral da Agricultura e do Desenvolvimento Rural, a quem cabe o controlo de pragas, mas não foi possível, porque os mesmos se encontravam em Bruxelas. O gabinete do ministro da Agricultura, Jaime Silva, enviou entretanto uma informação ao PÚBLICO, dizendo que aquele ministério “já elaborou as respectivas medidas de emergência para controlo e erradicação desta doença, que envolvem igualmente o controlo do respectivo insecto vector”. Na mesma nota, é dito que já “foram igualmente iniciadas acções de formação destinadas aos técnicos das associações vitícolas da região de Entre Douro e Minho para serem divulgadas as medidas de controlo da doença e encontrase em fase de publicação uma portaria regulamentar relativa às medidas fitossanitárias que deverão ser aplicadas no controlo e erradicação desta doença e do respectivo insecto vector”. A Flavescência Dourada transmite-se, naturalmente, de uma cepa a outra por intermédio do insecto vector. Basta este alimentar-se de uma videira infectada com o vírus para desencadear uma contaminação em cadeia, reproduzindo o vírus em todas as videiras que venha a picar. Não se sabe como o vírus se instala na videira, mas desconfia-se de que a sua difusão pela Europa foi provocada através de videiras infectadas originárias de viveiros franceses, cuja exportação só nos últimos anos começou a obedecer a regras de controlo fitossanitário mais apertadas. A sua detecção na videira não é fácil, uma vez que a coloração amarelada das folhas que a caracteriza confunde-se com outras pragas. Na Europa, o Scaphoideus titanus Ball – que é um organismo de quarentena, sujeito a controlo fitossanitário fronteiriço – foi identificado pela primeira vez no Sul de França, na região de Armagnac, mas a primeira epidemia da Flavescência Dourada surgiu em Gascogne, nos anos 50. Nessa altura, o insecto já se tinha estabelecido em todo o Midi de França, no Norte de Itália e no Tessin, na Suíça. No nosso país, o insecto foi capturado pela primeira vez em 1998, em Arcos de Valdevez, e em 1999, em Vila Real. A partir de 2003, a Associação de Desenvolvimento da Viticultura Duriense (ADVID) começou a fazer o acompanhamento do ciclo biológico do Scaphoideus titanus Ball na vinha de Vila Real onde o insecto está instalado com o objectivo de monitorizar as diferentes fases de desenvolvimento do insecto na região, para apoiar futuras estratégias de controlo. Actualmente, a associação está a realizar uma amostragem mais alargada em toda a região. Alerta também no Douro Até agora, ainda não foi detectada nenhuma videira infectada na região do Douro, mas a associação sabe, oficiosamente, que um dos insectos enviados para análise nos laboratórios do Ministério da Agricultura possuía o vírus que provoca a Flavescência Dourada, o que pressupõe a existência de videiras infectadas. Fernando Alves, o director executivo da ADVID, reconhece que a doença é “potencialmente preocupante”, tanto no Douro como na região dos vinhos verdes. No passado dia 17 de Junho, a Estação de Avisos de Entre Douro e Minho emitiu uma circular aos viticultores, informando que haviam sido identificadas cepas portadoras da doença em vinhas de Amares, Braga e Ponte de Lima, recomendando o tratamento obrigatório de todas as vinhas daqueles municípios. 70 A produção de vinho na região dos verdes atingiu, na última campanha, os 70 milhões de litros Era, ainda, aconselhado o tratamento de todas as vinhas dos concelhos de Mondim de Basto, Penafiel, Barcelos, Monção, Ponte da Barca, Arcos de Valdevez, onde, em 2007, foi confirmada a presença do insecto. Dependendo da carga viral existente, há alguns produtos que podem combater ou atrasar a doença. Mas o método mais eficaz é o arranque puro e simples das vinhas afectadas ou então a pulverização maciça através de meios aéreos de toda a região afectada. Mas este método de combate da doenças nos vinhedos, além de muito dispendioso, acarreta graves consequências para o meio ambiente e para as próprias vinhas. O problema é que os mesmos produtos que podem eliminar o Scaphoideus titanus Ball também eliminam outros insectos benéficos no controlo de outras pragas. ID: 21395311 17-07-2008 Tiragem: 64822 Pág: 14 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 21,09 x 0,80 cm² Âmbito: Informação Geral Corte: 2 de 3 Vinhas do Norte ameaçadas por praga que pode ser devastadora Economia, página 29 ID: 21395311 17-07-2008 Tiragem: 64822 Pág: 1 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 5,26 x 7,21 cm² Âmbito: Informação Geral Corte: 3 de 3 Vírus no Norte Doença na vinha pode ter efeitos devastadores a Um vírus está a ameaçar as vinhas do Norte do país. A exemplo do nemátodo do pinheiro, tem como como agente transmissor um insecto. Chama-se Flavescência Dourada e pode ter efeitos devastadores. Há já plantas mortas em alguns vinhedos do Minho. A CAP acusa o Governo de menosprezo, mas o Ministério da Agricultura diz que já está a tomar medidas. c Economia, 29