O que pode um corpo? Depois de subverter os cânones do monumento com esculturas que representam pessoas anônimas, possuem menos de 20 cm e perecem minutos depois, a artista plástica Néle Azevedo indaga as possibilidades do corpo, numa referência ao filósofo Espinosa: “Não sabemos ainda o que pode um corpo”. Em comum com o “Monumento Mínimo”, o novo trabalho tem a transparência da resina e a capacidade de sensibilizar o espectador ao fazê‐lo defrontar‐se com sua própria realidade. Se nas intervenções urbanas com esculturas em gelo, os transeuntes distraídos eram surpreendidos por uma exposição nua e crua da ação do tempo, na mostra “O que pode um corpo?”, visitantes voluntários deparam‐se com a sua realidade física individual refletida nas superfícies de acrílico que cobrem os desenhos. O que pode o corpo de cada espectador diante da própria imagem, enquanto observa os corpos em resina? O que poderão, onde quer que estejam, esses corpos anônimos capturados pelo olhar da artista e agora transformados em objeto artístico? Caso existam respostas a essas perguntas, elas só podem ser encontradas no silêncio interno de cada espectador. Para Néle, indagar sobre as possibilidades dos corpos significa revisitar o percurso feito desde as esculturas em ferro até a dissolução do corpo no gelo, buscando uma nova forma de entendê‐lo. Por isso escolheu o espaço intimista, com apenas 14m², da d’concept. São Paulo, outubro de 2008 Sylvia Leite Jornalista e doutoranda em Filosofia pela Usp 
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