PAULO RODRIGUES DE OLIVEIRA – Academia de Medicina do Rio de Janeiro
Exmo. Presidente da Academia de Medicina do Rio de Janeiro, Acadêmico Francisco de Paula
Amarante Neto, Exmo. Secretário da Academia, Acadêmico Daltro Ibiapina Oliveira, Exmo.
Acadêmico Igor Abrantes, Exmas. autoridades e personalidades presentes, Sras Acadêmicas e Srs.
Acadêmicos, minhas senhoras, meus senhores.
À realização pessoal de ser aceito nesta Academia, acrescento a honra de ocupar a cadeira nº 70,
que tem como patrono o Prof. Thomaz de Figueiredo Mendes, um dos mais destacados
hepatologistas do Brasil. Nasceu em Minas Gerais no dia 10 de agosto de 1911. Sua cidade natal,
que se chamava naquela época Mutuca, atualmente é denominada Elói Mendes. As primeiras
letras lhe foram ensinadas por seus pais, Adelia de Figueiredo Mendes e José Benedicto Mendes.
Quando ainda aprendia os primeiros passos, sua família mudou-se para a cidade de Fama. Lá
começou a frequentar a escola primária.
Na década de 20, o adolescente Figueiredo Mendes mudou-se para a cidade de São Paulo, onde
estudou no Colégio Sagrado Coração de Jesus, da ordem dos Salesianos e, alguns anos após,
transferiu-se para Lorena e Guaratinguetá.
Em 1931 prestou vestibular para a Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil,
atual Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Após aprovação no concurso e início dos estudos médicos, o então universitário Figueiredo
Mendes passou a trabalhar como redator no Diário Carioca.
Durante o período universitário, conviveu e aprendeu muito com o prof. Waldemar Berardinelli.
Em 1950, tornou-se chefe do Departamento de Gastroenterologia da 4ª Cadeira de Clinica Médica
da Faculdade de Medicina da Universidade do Brasil, serviço do prof. Bernardinelli, onde
permaneceu até 1955.
Figueiredo Mendes viajou para os Estados Unidos, onde participou do programa de
aperfeicoamento profissional do Institute of Inter-American Affairs e do curso de
gastroenterologia da Universidade da Pensilvania, tendo a oportunidade de conhecer o prof.
Henry Bockus, que exerceu grande influência em sua vida profissional e pessoal.
Em 1956 foi nomeado chefe de clínica do departamento de gastroenterologia, cujo responsável
era o prof. Carlos Cruz Lima. Em 1960, alcançou a Docência Livre de Clínica Médica da Faculdade
Nacional de Medicina. No mesmo ano tornou-se Prof. Adjunto desta disciplina.
Em 15 de março de 1967, na Santa Casa da Misericórdia do RJ, reuniu-se com os colegas
Waldemar Podkameni e Jorge Toledo, do Rio de Janeiro; José Fernandes Pontes e Luiz Caetano da
Silva, de São Paulo; e Nereu de Almeida Junior, de Minas Gerais, para fundar a Sociedade
Brasileira de Hepatologia, órgão máximo da hepatologia no Brasil.
Trabalhou com o Prof. Carlos Cruz Lima, na 7a. enfermaria do Hospital Geral da Santa Casa do Rio
de Janeiro até 1974, quando fundou o primeiro serviço de hepatologia do Brasil, que passou a
funcionar na 8a. enfermaria daquele hospital. No mesmo ano chegou ao posto de Titular de
Gastroenterologia da Escola Médica de Pós-graduação Carlos Chagas. Em 1978, tornou-se
Membro Titular da Academia Nacional de Medicina.
À frente do Serviço de Hepatologia da Santa Casa, organizou diversos cursos, dos quais
participavam nomes de grande destaque no cenário nacional e internacional da hepatologia. Os
eventos, organizados anualmente no mesmo mês, transformaram maio no mês da hepatologia
carioca.
A opção de Figueiredo Mendes pela hepatologia foi marcada, inicialmente, pelo interesse a
respeito da esquistossomose mansônica, doença que marcava profundamente o Brasil de meados
do século 20 e ainda hoje se faz presente nas áreas mais pobres da nossa nação.
Escreveu inúmeros livros médicos, a grande maioria sobre doenças do fígado. Foi o idealizador da
primeira revista brasileira de hepatologia, denominada Moderna Hepatologia, que mantém nome
e formato original até hoje, com mais de 30 anos de publicação.
Na Santa Casa, como chefe da 8a. enfermaria por mais de 20 anos, demonstrou sua capacidade de
liderança ao criar e manter uma equipe médica trabalhando em torno das doenças hepáticas.
Além da Universidade Federal do Rio de Janeiro, foi professor das Faculdades de Medicina da
Universidade Gama filho e da Fundação Técnico- Educacional Souza Marques.
Em 1963 casou-se com Norah Gusmão de Figueiredo Mendes. Tiveram 4 filhos, Flávio, analista de
sistemas, Cláudio, médico hepatologista, Márcio, advogado e Marcelo, economista. Não chegou a
conhecer os netos, que já são 6.
Ao falecer em 1o. de maio de 1996, com 84 anos, Thomaz de Figueiredo Mendes deixou, a todos
nós, um grande legado.
Este é também um momento para agradecimentos.
Agradeço em primeiro lugar a meus pais, que tanto empenho colocaram na minha formação e
que, abrindo mão de muitos confortos e lazeres, proporcionaram aos filhos a adequada
escolaridade e neles estimularam o desenvolvimento cultural.
Meu agradecimento também à minha esposa, que tanto tem me auxiliado em minha carreira. A
ela dediquei a monografia que preparei para esta Academia, com os seguintes dizeres: Este
trabalho é dedicado à Vera, esposa e amiga, companheira querida, há 40 anos caminha a meu lado
pela estrada da vida.
Sou grato ao Presidente da Academia de Medicina do Rio de Janeiro, Acadêmico Francisco de
Paula Amarante Neto, pela forma acolhedora com que me recebeu quando me apresentei como
candidato a Membro Titular. Levo o meu agradecimento ao corpo de Acadêmicos, que
generosamente aprovou meu nome por ocasião da eleição. Agradeço em particular aos
Acadêmicos Leão Zagury, Walter Gouvêa Filho, Jaime Pinto de Araujo Neto e Aquiles Mamfrim,
pelo estímulo e pelo apoio que deles recebi no decorrer de todo esse processo de entrada na
Academia.
Quero compartilhar esse momento com meus familiares: meu filho, Alexandre, meu neto, Gabriel,
minha irmã, meu cunhado, meus sobrinhos e com a familia de minha mulher, que é uma
continuação da minha família.
Dedico também esta ocasião aos meus amigos. Mercê de Deus, ao longo da vida, fiz e consegui
preservar muitas amizades: da infância , da adolescência, do colégio São José, da Faculdade
Nacional de Medicina, dos hospitais onde trabalhei e de outras procedências.
O Hospital Escola São Francisco de Assis, encontra-se atualmente em estado muito precário.
Trinta, quarenta, cinquenta anos atrás, entretanto, abrigava serviços universitários de medicina e
enfermagem da UFRJ. Entre eles destacava-se, chefiada pelo Prof. José de Paula Lopes Pontes, a
4a. Cadeira de Clínica Médica, que ali funcionou até 1978.
Naquele lugar, apesar da precariedade de recursos e de instalações, fazia-se e ensinava-se
medicina com muita competência. Havia entre os médicos que lá atuavam um clima de
companheirismo e amizade que persiste até hoje, mais de trinta anos após ter deixado de existir a
4a. Cadeira. Jantamos juntos 2 vezes por ano. Não quero citar nomes, que são muitos, pelo risco
de omitir algum. Estão entre esses companheiros, até hoje, alguns dos meus melhores amigos.
Com o Prof. Lopes Pontes e seus assistentes, moldei minha formação de clínico e com eles me
transferi em 1978 para o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, onde passei a trabalhar
também com outros colegas. Lá, atuei durante quase 20 anos, nos Serviços de Clínica Médica e de
Gastroenterologia, bem como no Setor de Pré e Pós-operatório, que implantei e chefiei durante 6
anos.
Em 1968, sob a liderança de um jovem médico, Dr. José Marcos Fisz, criou-se no Hospital do
Andaraí, um Serviço pioneiro de terapia intensiva. Era formado por médicos recém diplomados,
que fizeram daquele CTI, um serviço de ponta, onde vários profissionais de saúde aprenderam a
tratar o doente grave. Tal chegou a ser o prestígio daquele Serviço, que em 1977, para ocupar 21
vagas de acadêmicos estagiários NÃO remunerados, inscreveram-se quase 700 candidatos.
Orgulho-me de ter feito parte deste grupo desde o seu começo, juntamente com Antonio Jorge
Kropf, Cesar Barroso, Jaime Araujo, Avelino Medina, Hélio Vasconcelos, Celso do Couto Aleixo,
Arnaldo Rocha Campos, Antonio Duque e Max Grinberg. Em seguida, juntaram-se a nós, José
Wajnperlach, Leopoldino Guerra, Carlos Maurício Loureiro Maior, Paulo Cesar Pereira de Souza e
Carlos Alberto Ferreira da Costa. Outros colegas, posteriormente, deram continuidade a este
trabalho pioneiro.
Lá trabalhei durante quase 27 anos, como médico plantonista. Também ali, colegas de trabalho
tornaram-se amigos e são amigos até hoje.
Durante uma fase da minha vida prestei assistência clínica em dois hospitais psiquiátricos
privados: o Sanatório Botafogo e o Sanatório Santa Juliana. Este último tinha como diretor médico
o Dr. Luiz Robalinho Cavalcanti, um bom amigo, que muito se interessou pela minha carreira e de
quem recebi valiosas sugestões e construtivas críticas.
Afirmo ser uma honra entrar nesta Academia ao lado de Keyla Marzochi, José Feldman e Renato
Kovach, profissionais de reconhecida competência, respeitados pela comunidade médica de nossa
cidade.
Ao terminar, encaminho meu pensamento na direção dos clientes que tenho acompanhado nos
hospitais públicos e na clínica particular. Afinal, são eles a razão de ser da minha opção pela
medicina.
Muito obrigado.
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