Acabando com a "Guerra do Volume" Autor: Fernando A. B. Pinheiro Desde que comecei a trabalhar com sonorização em igrejas, há 15 anos, sempre vi uma “guerra” ser travada a cada culto e evento realizado. A “Guerra do Volume”. Essa guerra, tão comum em qualquer igreja ou denominação, tem vários lados. Há o lado dos músicos, que querem cada vez mais e mais volume para seus instrumentos. Aliás, em geral eles só conhecem um lado do botão de volume: o que aumenta. Às vezes, chegam a competir entre si mesmos para ver quem toca mais alto! Parecem até que são surdos – e alguns são mesmo . Apesar do problema envolver principalmente os músicos, há o lado dos membros do coral (os cantores). Eles também querem se ouvir e ouvir os instrumentos. Há ainda os membros da igreja, que em geral querem é que o som diminua, diminua, diminua. E até mesmo o lado dos vizinhos do templo, que reclamam e até telefonam para o Disque-Silêncio da Prefeitura Municipal. No meio dessa batalha, em que uns querem que o volume aumente (de preferência, o “meu” volume, não o dos outros), e outros que desejam que a quantidade de som diminua, está o operador de áudio (o sonoplasta) da igreja. Ser sonoplasta é estar no centro desse tiroteio. Se abaixar o volume, o público presente e os vizinhos gostam mas os instrumentistas reclamam. Se aumentar o volume de um único instrumentista, os outros músicos reclamam. Se o cantor solista errar o momento de iniciar um hino e dizer que “não ouviu o instrumento”, a culpa é do sonoplasta. Se o coral não conseguir “se ouvir” e errar, a culpa é do sonoplasta também. Se o vizinho reclamar, a culpa também é do operador de som. E os responsáveis pela igreja “pressionam” o pobre coitado para que todos esses problemas sejam resolvidos. Vida de operador de som é difícil... Como em qualquer guerra, há vítimas. Quem nunca viu uma pessoa ficar “oprimida”, quase “furiosa” porque o seu volume estava baixo e não conseguia escutar nada? Músicos que até desistem de tocar porque reclamam que “não se ouvem”? Erros nos hinos porque “não deu para ouvir nada”. Vizinhos que, de tanto reclamar, vão à Justiça? Inimizades, discussões por causa de volume? E até sonoplastas que desistem de vez desse trabalho. Os casos são inúmeros, qualquer pessoa envolvida com Louvor sabe bem o que é isso. Para resolver esses problemas (no todo ou em parte) temos três opções possíveis: 1) uso de um monitor (caixa de retorno) para os músicos e outros que precisam “se ouvir”. 2) uso de “cubos” individuais para os músicos e outros que precisam “se ouvir”. 3) uso de amplificadores de fones. Veremos com detalhes cada uma dessas opções. Solução 01 – uso de um monitor (caixa de retorno) As mesas de som profissionais trazem pelo menos uma saída (uma mandada) de Monitor para cada canal. Essa saída é um Auxiliar Pré-Fader, que permite ao operador de som ter uma saída de volume indepente dos masters, que será enviada para um amplificador e para caixas de retorno para aqueles que precisam “se ouvir”. Essa solução, já discutida no artigo “Auxiliares, uma ajuda mais que bem-vinda” http://www.somaovivo.mus.br/artigos.php?id=52 é boa para pequenos grupos, mas está longe de ser suficiente. Ela até permite ao operador dar o volume solicitado pela pessoa (que pára de reclamar que o volume está baixo ou que não está se ouvindo), mas a maioria das mesas pequenas (até 16 canais) tem apenas um ou dois Auxiliares Pré-Fader, número muitas vezes insuficiente para atender a toda a demanda. Mesas grandes (24 a 32 canais) vão ter de 2 a 4, no máximo 6. Mesas realmente grandes (como a Ciclotron Vega) vão ter de 8 a 12, dependendo do modelo. Se considerarmos que igrejas menores não têm condições de ter uma mesa grande (e muitas nem precisam), teremos no máximo 2 Auxiliares Pré-Fader. Como colocar retorno do pastor, retorno do teclado, retorno do baixo, da guitarra, da bateria em apenas duas mandadas? A solução é misturar todos esses sons na caixa de monitor, o que nem sempre é bem vindo. Os músicos reclamam que o som do retorno está “embolado” e continuarão dizendo que estão ouvindo mais um do que outro. Em mesas com muitos auxiliares, a solução é mais fácil, bastando endereçar um (ou mais) determinados sinais de retorno para quem o deseja. É possível escolher até mesmo o que cada pessoa irá escutar: a voz mais teclado; teclado e baixo; guitarra, teclado e voz, etc. Além de mesas com mandadas, esse sistema de monitoração exige amplificadores exclusivos (um canal do amplificador para cada mandada) e também caixas de som (ou diretamente caixas ativas no lugar dos amplificadores e caixas passivas). Dependendo da quantidade, pode representar um grande gasto. Por último, a existência de mais amplificadores e mais caixas de som significa que a quantidade de decibéis dentro da igreja poderá aumentar. O operador de som, que terá que controlar tanto o som do PA como também o som dos monitores, terá que ter muito mais cuidado na operação do sistema. Solução 02 – uso de “cubos” individuais. Os cubos – caixas de som amplificadas e especializadas em um único instrumento musical - são uma ótima saída para o operador se “livrar” dos músicos. O uso do cubo passa a responsabilidade do retorno diretamente para o músico. O próprio instrumentista regula o volume e o timbre desejado no equipamento, e o operador de áudio trabalha com um sinal completamente independente (via saída Line Out do cubo ou via Direct Box, ou até mesmo através de microfonação do cubo), podendo regular o som para as caixas de P.A. da maneira que preferir. Pode-se até tirar o som completamente do PA e o músico muitas vezes nem percebe, pois estará ouvindo o seu cubo. Essa solução é ótima, mas apresenta alguns problemas. Ela é cara – cubos são caros (um cubo para um músico) - e o volume geral de som na igreja vai aumentar muito! O operador não tem nenhum controle sobre os cubos, e o músico pode colocar o quanto quiser de volume, e exagerar na dose. Se de um lado resolve-se completamente o problema dos músicos, existe uma grande chance de se piorar a situação para o público da igreja e os vizinhos. A solução do uso de cubos é boa, mas não é completa. Só atende aos músicos. Para o pregador e cantores exige-se ainda as vias de Auxiliar e caixas de retorno (ativas ou passivas). Mas é uma boa solução para quem tem mesas com poucos auxiliares. Mapa de palco de um músico conhecido. Observe a quantidade de caixas de som. O baixo e a guitarra tem cubos para retorno do instrumento e ainda um monitor para retorno de voz. Uma solução que utiliza cubos e mandadas de auxiliar da mesa. Solução 03 - uso de amplificadores de fones. Que tal, então, usar uma solução barata e que vai reduzir eficazmente o som dentro da igreja, e conseguirá atender a todos? Parece um sonho, mas a solução existe! São os amplificadores de fone os responsáveis por essa façanha. São eles que possibilitam o uso do sistema chamado “Monitoração In-Ear” (algo como “monitor dentro do ouvido”). Esse tipo de sistema tem sido cada vez mais adotado pelos profissionais, por apresentar os benefícios já citados. Vamos explicar o funcionamento de um sistema desses para melhor entendimento. Existem diversas marcas de amplificadores de fone para monitoração individual. Mas existe um produto brasileiro que já virou sinônimo de sistema in-ear: Power Click. A Power Click é uma empresa de Niterói/RJ cujos produtos fazem sucesso no Brasil todo e lá fora. Muita gente já se tornou endorsers da marca, mostrando que ela tem muita qualidade. Mais informações em www.powerclick.com.br. O produto é tão bom que a fábrica oferece 3 anos de garantia. Vamos analisar seu produto DB-05, o mais comum. Seu custo é de aproximadamente R$ 200,00 (mais barato que um cubo ou um conjunto amplificador +caixa). Ele é voltado para os músicos. Basicamente, o DB-05 é um mixer com amplificador, com entrada para dois canais. Cada entrada tem um controle de tonalidade, que altera o timbre em relação aos graves e agudos. Há também um volume master, que controla o volume resultante no fone de ouvido. No outro lado estão as conexões. Há a INPUT 1 e INPUT 2, OUTPUT 1 e OUTPUT 2, saída para fone de ouvido e entrada para alimentador AC de 9V. A alimentação de energia pode ser feita por fonte 9V ou por uma bateria 9V, encaixada por baixo do clipe de cinto. Na verdade, é muito mais comum o uso com a bateria, pois o consumo da mesma é mínimo, durando dezenas de horas. Assim, o benefício da liberdade de movimentação proporcionada pelo uso da bateria excede em muito o custo da mesma. A forma de uso é a seguinte: Um cabo P10 sai do instrumento e vai para o Powerclick, para o INPUT 1, por exemplo. Se houver pedaleiras, o cabo que sai da pedaleira entrará no Powerclick no INPUT 1. Da saída OUTPUT 1 o sinal será enviado para a mesa de som. Caso se use Direct Box, o instrumento é ligado ao Direct Box e deste sai tanto para a mesa (via saída XLR do D.Box) quanto para o Powerclick (via saída P10 do D.Box). O próximo passo é usar um bom fone de ouvido ligado à entrada de fones no aparelho. Este modelo DB-05 é feito para uso com nível de sinal de linha. Tanto podem ser utilizados para instrumentos musicais quanto também receber o som de players CD/DVD/MP3, tapes, etc. Tanto receber sinal dessas fontes quanto enviar sinal para essas fontes. As saídas OUTPUT são ligadas às entradas INPUT em paralelo (sistema “direct drive”). O som que saí é exatamente o mesmo que entrou. Os controles de volume e tonalidade do canal não afetarão o som que estiver saindo. O músico irá ouvir o som pelo fone de ouvido, terá o controle do volume desejado e até poderá ajustar o timbre (nada muito complicado, mas já ajuda) o que estiver ouvindo. Enquanto isso, o operador de som terá o som original do instrumento, podendo regulá-lo de maneira totalmente independente. Mas um músico em geral toca em companhia dos outros, então tanto quanto se ouvir, o músico quer ouvir os outros também. O músico precisa da sua referência pessoal e também dos outros, inclusive dos cantores. É para isso que serve o INPUT 2. A partir de alguma mandada de Auxiliar Pré-Fader da mesa de som, o sinal será enviado diretamente para o Powerclick, e o músico poderá então ouvir tanto o seu sinal (diretamente) quanto o sinal enviado pela mesa de som, inclusive podendo “misturar” esses sinais à vontade no seu fone. O que mandar para o músico? O que ele quiser, inclusive tudo. Quem tem mesa muito simples, sem Aux Pré, pode mandar o sinal de um dos masters. Tem gente que usa até o sinal da saída de fone de ouvido. Quem tem um ou mais Aux Pré pode mandar aquilo que o músico quiser ouvir. Não há problema nenhum. E para que serve aquela a outra saída, OUTPUT 2? Mesmo que sua mesa tenha somente uma mandada de auxiliar, do OUTPUT 2 de um Powerclick você emendará no INPUT 2 em outro, em outro, em outro, até que todos os músicos sejam atendidos. Para o pregador e para os cantores, existem modelos com apenas um canal. O cantor recebe no aparelho uma mandada da mesa de som e pode regular o volume na quantidade que desejar. Outra vantagem é que é muito mais barato que a versão com dois canais. Quanto aos fones de ouvido, existem inúmeros modelos disponíveis, e também inúmeros formatos. Existem os que são para uso interno, diretamente no canal auditivo, bastante pequenos e discretos, como existem modelos que cobrem toda a orelha, proporcionando um excelente isolamento acústico do ruído externo. Por uma questão de higiene, os fones internos devem ser sempre de uso pessoal (uma inflamação de ouvido – otite – pode ser disseminada através de fones), devendo sempre ser específicos para um único usuário. E já que algumas pessoas se adaptam melhor a um formato de fone que outros, recomendamos cada músico ter o seu. Existem boas opções de fone a partir de 30,00 reais. Procure um que atenda às necessidades pessoais de cada um e também ao tipo de instrumento tocado. Um fabricante bastante usado por músicos profissionais é a Koss. Seus produtos Porta Pro (para baixistas, bateristas e outros músicos) e ‘The Plug” para cantores são bastante procurados. Além do custo ser mais baixo que um cubo e ter o melhor resultado sonoro de todos, o fone contribui muito para a diminuição do volume geral dentro da igreja. Menos cubos e caixas de retorno significam menos som. O próprio manual do Power Click DB-05 cita que o som medido internamente nas igrejas pode ser reduzido em até 60% com o uso do sistema! E o sonoplasta terá um controle melhor, podendo então atender a todos os lados envolvidos e finalmente acabar com a “Guerra do Volume”. De todas as soluções apresentadas, esta é a mais versátil, com os melhores resultados. Apesar de comentarmos sobre o Powerclick modelo DB-05, indicado para instrumentos musicais, existem outras marcas e modelos, com preços iniciando-se a partir de 100,00 reais (fora o fone de ouvido). Um sistema completo pode custar apenas 130,00 por músico, menos da metade de qualquer cubo! Os profissionais utilizam sistemas sem fio de monitoração In-Ear para quem precisa de mobilidade total (os cantores, por exemplo). Esses são muito caros, acima de 1.000 reais. Tome cuidado com os plugues. Os Powerclick vem com clipe para cinto. O lado com os conectores fica virado para baixo. Use sempre com plugues de primeira linha (Neutrik, Amphenol, Santo Ângelo, etc), pois plugues “genéricos” podem ter folgas e soltar do aparelho. Por último, os Powerclick são pequenos, leves, fáceis de transportar, fáceis de montar e baratos. É muito melhor que trabalhar com um monte de caixas e amplificadores, coisas caras e pesadas.