A arte é uma “brincadeira” que emociona Da Paz Entrevista & Educação A artista Rosa Maria Galvão da Paz, que adotou o nome de Da Paz, acredita que a arte pode ajudar as pessoas numa vida mais saudável. Para a pintora, com a arte na sala de aula os alunos seriam mais tranqüilos e gostariam mais da escola. Redação CAPESP 10 Entrevista A arte é uma M ais de trinta anos trabalha profissionalmente como pintora e ceramista. Ela acha que ainda não domina a argila. Já a pintura.... Com vocação para ensinar, gostaria muito de estar em contato direto com os alunos. Da Paz sempre pintou. Ela revela que desde criança gostava de desenhar e ver as cores. Aquelas brincadeiras da infância que ainda no Interior existem, preocupa a artista. Ela cita que na cidade de Matão as crianças ainda brincam na rua. Para Da Paz as crianças estão muito nervosas, elas precisam ter alternativas de olhar o mundo, uma delas seria pela arte. “Meus temas foram usados nos tapetes de rua em Matão. As crianças precisam deixar o computador, elas poderiam ser mais tranqüilas. Estão muito nervosas. As crianças estão no limite. Aula de teatro, cinema eu fiz tudo isso e percebi que há melhora. Crianças estão muito “nervosas”. Por que levar só os artistas mortos para a sala de aula? - Para a artista, os professores fazem um trabalho com arte, geralmente com artista mortos, mas por que não levar o artista que está vivo, produzindo, explicando seus métodos e temas, falando sobre a sua forma de trabalhar.” Segundo Da Paz, até nas empresas poderiam também ter um artista falando sobre sua arte, sua técnica de pintura, “acredito que isso poderia ajudar até na produtividade e ter trabalhadores menos estressados”. Jovens que freqüentam suas aulas têm uma outra forma de ver a vida, os esconde pais percebem que seus filhos estão mais calmos, tranqüilos e alegres, diz a artista. Temos que saber matemática ou outras matérias, mas colocar nas cabeças dos jovens que têm que ser liderança, isso estressa, cansa as pessoas, precisamos desenvolver mais o emocional para cuidar dos problemas do cotidiano. A arte faz isso, diz a artista. O barro é vivo - Tem uma idéia e faz, reforma, reforma, quantas vezes for necessário. Seu trabalho com argila sai rápido, tira uma personagem de um quadro e reproduz, mas adverte que a argila tem vida própria, se o barro não quiser, ele se quebra mesmo você fazendo todos os procedimentos, e seu trabalho fica perdido. O barro é vivo. Ela conhece o material que trabalha e o respeita. Para produzir o novo conheçam o clássico Para os alunos, ela recomenda que conheçam o clássico, para poderem produzir o novo. Quanto aos professores seu recado é levar a arte dentro das escolas, fazer cursos livres porque os alunos serão mais tranqüilos e gostariam mais da escola. Reconhecida no mercado de arte, Da Paz apesar de admirar Picasso, não segue nenhuma escola, tem sua personalidade, cria sem a preocupação de vender, deve ser por isso que está sendo reconhecida pelas galerias do Estado e do Brasil que compram seus quadros. Livre, alegre, gentil e torcedora do São Paulo (para alguns um defeito). Essa é a artista Da Paz que cria e recria a vida. Entrevista Rosa da Paz 11 Da Paz - O esmero dos jogos infantis Quem vê os quadros da série “Jogos Infantis” da pintora Da Paz pode se iludir com a ingenuidade e a simplicidade do universo que elas retratam. De fato, a leveza e o caráter singelo dessas telas escondem um refinado senso estético e são o resultado de uma intensa pesquisa com formas e cores. Dessa combinação entre as pueris brincadeiras retratadas e o talento da artista plástica surgem quadros de vigorosa expressividade do mundo infantil. Nascida em 13 de agosto de 1944, em São Paulo, SP, Rosa Maria da Paz reside desde os dez dias de idade em Mauá, SP. Desde criança, sentiu o impulso primordial de pintar e de mostrar os seus desenhos, talvez por ser a atividade artística uma forma de tira-la do mundo e colocá-la em outra dimensão, mais próxima das próprias emoções. O passo natural, a partir desse contato solitário do pintor com seu íntimo no ato da criação, foi colocar o mundo interior nas telas. Nesse exercício, sem dúvida mais gratificante intimamente do que no exercício do magistério de História, atividade que também exerceu Da Paz desenvolveu o seu trabalho, que já foi elogiado por críticos como Enock Sacramento, Malvina Gelleni e Dalva de Abrantes. Sua pintura, voltada atualmente para as brincadeiras de criança, revela uma visão social no sentido mais amplo possível. Não há o engajamento político simplista ou as soluções artísticas fáceis do realismo socialista, mas a retomada de um passado não tão distante em que as crianças brincavam inocentemente nas ruas sem o risco de serem atropeladas, assaltadas ou de sofrerem coisa pior. O estilo de Da Paz dialoga com Picasso, Portinari e Di Cavalcanti pela riqueza cromática, deformações dos personagens e utilização do fundo das telas. As soluções que ela encontra, porém, tem uma característica bem própria: o rico uso dos olhos como elemento de composição. Ora abertos, ora fechados, os olhos criados pela artista, além de intensos, oferecem chaves interpretativas para o observador. A direção desses olhares orienta e desperta indagações existenciais sobre quem são aqueles seres nas telas, o que eles estão fazendo e com que intenções. Como o universo enfocado é o da criança, a singeleza das atividades ganha novas conotações. São metáforas da vida. Os inocentes jogos de infância abrem portas para um rico mundo de relações humanas em que algumas crianças parecem se bastar com a própria brincadeira enquanto há também aquelas que surgem prontas a conversar com as outras. É o que ocorre na tela “Bolhas de sabão”, na qual uma das crianças está absolutamente isolada na própria brincadeira, enquanto a do meio parece querer travar contato com uma terceira, que igualmente parece imersa em seu mundo. Situação semelhante ocorre em “Jogando bafo”, na qual a figura da direita aparenta estar satisfeita consigo mesma. No painel “Brincadeiras de criança”, esse fato é ainda mais evidente, pois cada atividade lúdica compõe uma parte da obra. Já em “Jogando cama de gato”, dois rostos contorcidos à Picasso encaram o observador da tela, enquanto o personagem da direita, de perfil, tem o olho visível vazado. No entanto, as calças de cor azul deles favorecem um ambiente de interação. “Barquinhos de papel” acrescenta ao intenso uso dos olhos, o uso de colinas verdes ao fundo, recurso que valoriza os tons de azul presentes na tela. Mecanismo semelhante ocorre em “Pipas”, no qual o mar verde e o céu, entremeados por uma pipa amarela, uma ave vermelha e um barco de velas brancas, constituem o pano de fundo para o ludismo das crianças. Especificamente nessa tela, os olhos fechados dos retratados conferem certa melancolia à cena. “Carrinhos de madeira” parece coadunar todas essas qualidades. O fundo cubista e as formas expressionistas das crianças, com destaque para a de camisa amarela do lado esquerdo, brincam com olhares perdidos de uma inocência que o tempo se encarregou de destruir nos seres humanos. Os carrinhos passam de mão em mão e são protegidos como bebês por cinco crianças em variadas posições. Todas agachadas, elas oferecem uma síntese do trabalho de Da Paz com as formas e os volumes. A luminosidade da camisa amarela se articula ao boné da mesma cor da criança que ocupa o centro, enquanto tons entre o azul e o verde preenchem a tela, que conta ainda com toques de massas brancas, nas roupas, e vermelhas, no piso. Da Paz traz às telas brincadeiras de criança com uma consciência pictórica adquirida pela maturidade adquirida ao longo da carreira. Cada menino ou menina é um universo de detalhes de composição muito bem articulado como elemento autônomo e como parte do todo. As telas de Da Paz são uma festa para os olhos e um deleite para os amantes das artes visuais. Em seu talento para retratar jogos de criança, a artista comprova a própria habilidade técnica de lidar com cores variadas. Ao harmonizá-las, obtém o mérito de transmitir a pureza do mundo infantil, algo que a televisão e a internet minam todos os dias. Com os novos meios – já não tão novos assim – ganha-se muito em informação, mas talvez se perca em humanidade, algo que a pintora paulista oferece de sobra em suas telas. Oscar D'Ambrosio é jornalista, integrante da Associação Brasileira de Críticos de Arte (APCA) e autor de Os pincéis de Deus: vida e obra do pintor naïf Waldomiro de Deus (Editora Unesp). Entrevista Rosa da Paz 12 A pintura desta artista é acima de tudo uma pintura "jovem", qualidade que nasce, não de uma medida de tempo, mas de um particular estado de espírito, de uma notável disponibilidade humana e percepção dos valores da nossa época até o extremo, sim, Da Paz vive intensamente a realidade deste tempo e o interpreta com um leque variado de sensações que a levam a se perder na natureza, no seu "Éden" reelaborado, através de um teclado de azuis estonteantes, onde ela passa de surpresa em surpresa, de emoções em emoções. O amor pela natureza, pelos pássaros, pelas flores, pelas figuras humanas levam Da Paz a analisar os detalhes, tornando-os verdadeiros protagonistas das suas telas, cobrindo-as com uma mágica explosão de cunho cubista. E o prazer que se sente em observá-las, faz que quase não perceba que o todo é devido a um cálculo bem equilibrado, de como a cor foi bem distribuída, e como nada foi deixado ao acaso, à improvisão. Aquela improvisão que hoje, muito freqüentemente, é confundida com arte. Da Paz impõe propriamente graças a esta sua serenidade de trabalho, mas o faz com naturalidade, ajudando-nos a esperar por um presente de um mundo encantado, que é reflexo de sua alma. Malvia Gelleni O Trabalho: Rosa Maria Galvão Da Paz Natural de São Paulo, radicada em Mauá 1993- Galeria Portal- SP- individual Segunda colocada Prêmio Banco Real/AMP - SP Contratada como Assessora CulturalSecretaria de Cultura da Prefeitura municipal de Mauá – SP Curadora do Museu Barão de Mauá Mauá - SP Responsável pela restauração de um dos mais importantes murais pintados por Emeric Marcier na Capela da Santa Casa de Mauá 1998- Caribe Escola de Arte – individual 2001-Caribe escola de Arte- individual Kabuki Mask- individual 2002- Galeria Bric a brac - individual Membro da Comissão Pró Teatro Municipal de Mauá Prefeitura Municipal de Mauá – individual a banda carrinhos coral Pinacoteca Mauá - SP obra catalogada Coletiva Casa da Fazendo do MorumbiSP 2004-Palestrante do curso de pósgraduação "A percepção e leitura da arte brasileira"- Instituto de artes da UNESP, campus de São Paulo. Palestrante na ACIAM- Associação Comercial - Mauá, SP Expo UNIABC- Destaque Eleita Presidente Rotary Club Mauá – SP Também em 2006 Limeriques para pintura escrito por Tatiana Belinky Em 2006 Contando a Arte de Da Paz. Escrito pelo critico internacional Oscar D'Ambrosio Em 2008. Homenageada pela cidade de Matão tendo seus quadros como roteiro para tapete de rua no 60° aniversário do evento de Corpus Christi. Em 2008 Inserida no livro da Positivo ensino para o fundamental edição para 2009 e 2010. 2003- Galeria 22 - SP - individual Entrevista Rosa da Paz 13