VIDA NO CAMPUS: UMA EXPERIÊNCIA DE SUCESSO DALVA MORAES PINHEIRO 1 1 – Especialista em Planejamento Ambiental - UFF e Profª. Adjunta no ICHF / UFF Resumo O objetivo do programa de extensão Vida no Campus é integrar atividades acadêmicas e administrativas. Estimular alunos, professores, funcionários e visitantes na preservação do ambiente natural e construído do Campus Universitário do Gragoatá da Universidade Federal Fluminense (UFF), Niterói, RJ. Assim, evitar agressões, pichações, depredações e descaso na manutenção da área (218,4 mil m2). E incentivar comportamentos próambientais, tanto na UFF como na cidade, com ações de ecologia, jardinagem, arte, educação e cultura, incluindo portadores de necessidades especiais. São práticas aplicáveis à saúde, educação e lazer em áreas públicas ou particulares. Artigo Palavras como ecologia, ecossistema e meio-ambiente caracterizavam problemas típicos do pós-guerra (1939/1940) e eram consideradas novas, com registros recentes nos dicionários mesmo nas décadas que se seguiram. Foi nos anos de 1990 que tivemos uma idéia acadêmica ao observar a impessoalidade e o abandono dos lugares públicos e o desinteresse dos usuários em geral, que se mostram divorciados do espaço que lhes pertence como membros de uma comunidade e pelo próprio viver comunitário. Com a mudança do campus da Universidade Federal Fluminense (UFF), em 1990, do Centro de Niterói (RJ) para o bairro histórico de Gragoatá, à beira da baía de Guanabara – numa área de 218,4 mil m2, o mais extenso campus da UFF em área urbana – nossa preocupação se definiu por um projeto de extensão específico voltado para a preservação e integração dos lugares que pareciam, aos olhos e uso de todos, serem apenas espaços de circulação para pessoas e carros. A vista desta nova área resultante de aterros recentes, onde foram erguidos blocos funcionais de concreto armado para abrigar os diversos Boletim Interfaces da Psicologia da UFRuralRJ – 1º Seminário – Ano 2007 Página - 33 cursos da UFF, apresentava um panorama invejável, onde se incluíam o Pão de Açúcar, o Corcovado e a ponte Rio-Niterói, - principais cartões postais do Rio de Janeiro junto à Baía de Guanabara. Chamamos então, o nosso projeto de extensão de “Vida no Campus”, que tem os seguintes objetivos: 1. Estabelecer uma ponte entre a vida acadêmica e a vida administrativa e também estimular um vínculo mais participativo das pessoas (funcionários, alunos, professores e visitantes) com os ambientes natural e construído do campus; 2. Fazer deste vínculo um motivo real para evitar agressões, como pichações, depredações e descaso na manutenção, funcionando esses cuidados como incentivo para comportamentos opostos à deterioração e ao descaso; 3. Congregar, em torno da idéia, pessoas de segmentos diversos da UFF e da cidade em geral, interessadas em preservação, ecologia, paisagismo, arte, cultura e práticas sócio-ambientais; 4. Sensibilizar os usuários do campus para os cuidados necessários com os ambientes, inclusive pela relação que os ambientes têm com a saúde física e mental das pessoas, difundindo os fatos que atestam a interação recíproca das pessoas com seus ambientes, humanizando os espaços do campus; 5. Estimular a relação das pessoas com as plantas e os animais que fizeram do campus o habitat destas flora e fauna, muito antes da mudança e dos arruamentos e infra-estrutura necessários. Pode parecer um pouco estranho que um psicólogo se mostre tão preocupado com problemas ecológicos e se envolva profissionalmente com questões relacionadas ao aquecimento do Planeta, poluição, extinção de espécies e degradação de ecossistemas. Mais estranho é que, realmente, acredite o psicólogo que seu trabalho e sua formação profissionais são muito importantes para diminuir esses problemas e comece a desenvolver maior sensibilidade e identificação com a natureza, seus ritmos, seus avisos, seu comportamento e formas de reagir. Assim, ele acompanha desde os informes meteorológicos até alertas de ocorrências de fenômenos naturais, como enchentes, secas, furacões, derretimento de geleiras e outros tipos de reações e comportamentos do Planeta. E também passe a dar maior atenção às reações das próprias pessoas em face desses problemas. Nada disso, porém, é tão estranho assim, quando estamos nos referindo ao psicólogo ambiental, que se preocupa com qualquer alerta envolvendo o Planeta e seus habitantes, direta ou indiretamente, considerando que estes são avisos, reações e fenômenos que têm a haver com atividades desenvolvidas pelos seres humanos interferindo em suas relações com o meio-ambiente e a ecologia como um todo ou em parte. Dentro da Psicologia, a Psicologia Ambiental é uma área nova, particularmente no Brasil, onde só em 1999, a partir do X Reunião Anual da Boletim Interfaces da Psicologia da UFRuralRJ – 1º Seminário – Ano 2007 Página - 34 Abrapso, promovido pela Associação Brasileira de Psicologia Social (Abrapso), na cidade de São Paulo, o tema foi incluído como item de destaque na programação, ensejando convites e participações de psicólogos atuando na interface pessoas-ambiente. Essa manifestação de interesse pela novel área da Psicologia refletia conclusões do XXVI Congresso da Sociedade Interamericana de Psicologia, também realizado na cidade de São Paulo em 1997, enfatizando, desde então, trabalhos voltados para a relação do ser humano com seu meio ambiente. É interessante observar que a Psicologia Ambiental levou algum tempo para chegar oficialmente ao Brasil, pois desde 1954, nos Estados Unidos, Roger Barker e Herbert F. Wright já estudavam o que chamavam de Psicologia Ecológica, sendo eles considerados, por isso, os principais precursores desta subárea da Psicologia. Tinha a Psicologia Ecológica o objetivo de estudar os acontecimentos da vida diária em condições naturais, o que os levou a organizar, em 1968, a Estação de Pesquisa de Oscaloosa, Kansas, EUA, onde trabalhos realizados, inicialmente com crianças, levaram à constatação de que as ações das pessoas eram essencialmente influenciadas pelos contextos específicos onde essas ações ocorriam, surgindo, assim, o conceito de Behavior Setting. Os professores Clarissse Carneiro e Pitágoras José Bindé, da UFRGN, em artigo intitulado “A Psicologia Ecológica e o estudo dos acontecimentos da vida diária” (Carneiro, 1997:393), detalharam o seguinte a respeito da nomenclatura acima referida por Barker & Wright (1954). - “As denominações Psicologia Ecológica ou Ecopsicologia, utilizadas nos países de idioma germânico (originalmente Okologische Psychologie e, respectivamente, Okopsychologie) correspondem ao que na esfera anglo-americana é designado como Psicologia Ambiental (do inglês Envirommental Psychology). No âmbito anglo-americano (visto globalmente), a Psicologia Ecológica se caracteriza como aqueles trabalhos que são relacionados e orientados quase que exclusivamente à escola barkeriana (Barker, 1968; Barker & Schoggen, 1973; Barker & Wright, 1954) Porém, o que atualmente se entende por Psicologia Ecológica avança o modelo barkeriano, incluindo, igualmente, as críticas e os desenvolvimentos posteriores a este, correspondendo, portanto, ao que na esfera angloamericana é designado como Psicologia Ambiental”. Segundo os psicólogos italianos Mirilia Bonnes e Giafrancesco Secchiaroli (1995), “a Psicologia Ambiental formou-se a partir de duas grandes origens ou raízes teóricas: uma externa à Psicologia e outra interna” (Carneiro, 1997: 363). Na externa identificam-se três grandes tendências advindas da Arquitetura e Planejamento Ambiental, da Geografia e das Ciências Bioecológicas. Já a tendência interna resultou da ação de forças na Psicologia que considerava aspectos não só do ambiente social como também do próprio Boletim Interfaces da Psicologia da UFRuralRJ – 1º Seminário – Ano 2007 Página - 35 ambiente físico em sua inter-relação com as pessoas e os grupos, preocupações estas, aliás, da Psicologia Social e da Psicologia da Percepção. Tudo aparentemente muito óbvio, mas que só ganhou corpo didático nos meios interessados a partir da segunda metade do século XX, como frisamos em parágrafo inicial. Ainda que a Psicologia Ambiental tenha surgido com dois vínculos de interesse – o de problemas da degradação ambiental, e outro de elaboração de projetos para ambientes construídos – o pesquisador Hartmut Günther, da Universidade Nacional de Brasília (UNB) sugeriu, em 1991, os seguintes tipos de problemas de interesse da Psicologia Ambiental atual (Günther, 2004:25). -“(...) desde a percepção e cognição do ambiente; efeito do ambiente no comportamento; ambientes diferenciados (de crianças, jovens, adultos, trabalhadores etc.); ambientes específicos (como cidades); construção de determinados ambientes para obter determinados efeitos sobre o comportamento; mudanças de atitudes, percepções e comportamento frente ao ambiente; até mudanças e planejamento do ambiente e preservação do meio ambiente”. Desde a concretização do nosso projeto Vida no Campus, contendo os princípios acima relacionados, passaram-se dez anos de atividades cada vez mais envolventes e até mais amplas, como as realizadas com as crianças da Creche-UFF e a intervenção e recuperação de jardins no entorno dos prédios em parceria com portadores de necessidades especiais (PNE) vindos do projeto Moradia Assistida e da Sociedade Pestalozzi. Devido a essa diversificação de atividades, o projeto transformou-se então em programa, subdividindo-se em outros projetos, com os seguintes temas: 1. Ações cultuais / Arte solta do campus; 2. Centro de convivência terapêutica com a natureza (Casa das Plantas); 3. Controle da população de pombos; 4. Descobrindo o campus com as crianças; 5. Grupo de estudos em Psicologia Ambiental; 6. Fauna silvestre; 7. Manejo racional do lixo; 8. Sensibilização e vivência ambiental; 9. Recuperação de jardins. Nesses nove itens são da maior importância os que englobam a educação ambiental e a sensibilização para a preservação dos ambientes. Quanto mais cedo, porém, a educação puder começar com as crianças, o seu trabalho de aprendizado e de comportamentos simples de preservação, não Boletim Interfaces da Psicologia da UFRuralRJ – 1º Seminário – Ano 2007 Página - 36 somente baseados nos conhecimentos, mas que envolvam principalmente os sentimentos e as emoções das pessoas, melhores serão os resultados para um futuro em conjunto com todos os seres do Planeta. Inclusive alguns pesquisadores citam a importância do comportamento pró-ambiental (Verdugo, 2002:63). Pois, embora as escolas em geral já trabalhem com certa eficiência esses temas, ocorre um corte quando as universidades, em suas graduações, não tratam do tema dando continuidade, em nível mais elevado, a esse tipo específico de educação voltada para a ecologia. E uma das áreas mais elementares desta gama de preocupações é, exatamente, o primeiro ambiente que nos cerca, como nosso quarto, nossa casa, nosso condomínio, nossa rua, a cidade onde moramos e o País em que vivemos. Pois tudo isso se reflete de maneira global numa macro-ecologia planetária. Dizia o poeta, com outras palavras: se você quiser ser universal, cuide de sua aldeia. De sua cidade. Do campus onde você passa a maior parte de seu dia a dia. Há, portanto, uma relação constante entre esses conceitos e idéias diametralmente opostas à depredação ambiental. E a própria violência urbana é observada a partir da negação de bons exemplos em geral, do trabalho inexistente ou da falta de empregos, do abandono das escolas, do desprezo pelas habitações, do descaso pela saúde, da falta de transporte de massa e da própria negação de espaços públicos bem cuidados destinados ao lazer e ao desenvolvimento da cultura da população. Em escala reduzida, essas preocupações são trazidas para dentro do campus e fazem parte de discussões e intervenções que se estendem também além-muros universitários. Dos melhores exemplos do que Vida no Campus pôde proporcionar à Universidade e participantes do programa estão as intervenções para a recuperação dos jardins com a participação de portadores de necessidades especiais. Eles ajudam a planejar e executar tarefas de limpeza e conservação dos canteiros, participando da renovação e plantio das espécies florais e ornamentais, desenvolvendo com isso habilidades sociais novas, como por exemplo, o trabalho em grupo. Neste contexto, observam-se ainda melhoras dessas pessoas quanto à capacidade estética, à tomada de decisões, além de terem sua memória estimulada ao serem solicitados a identificar e conhecer plantas, flores e sementes. Paralelamente, desenvolvem a auto-estima e a capacidade estética para, com esta habilidade aprimorada, poderem identificar harmonias geométricas e pictóricas, bem como poderem melhor desenvolver o tato e o olfato na lida com as plantas e os jardins. O trabalho de recuperação de jardins com os portadores de necessidades especiais se caracteriza, também, como uma experiência-embrião para a construção do projeto Casa das Plantas, que vai proporcionar uma ampliação do set terapêutico. Basicamente, a Casa das Plantas será uma estufa para produzir mudas a partir de sementes selecionadas em regiões diversas e, também, para funcionar como guarda das plantas e local para desenvolver oficinas de plantio e aprimoramento de mudas ornamentais e espécies medicinais. Sob o ângulo especificamente estético, o programa Vida no Campus promove freqüentemente oficinas de artesanato dos tipos mosaico, origami, biscuit, bijuterias com sementes e exposições de arte em geral, reservando Boletim Interfaces da Psicologia da UFRuralRJ – 1º Seminário – Ano 2007 Página - 37 espaço e tempo para comemorar a Semana do Meio Ambiente, todos os anos, e, mais recentemente, a data de criação do Vida no Campus, cujo último evento envolveu, no seu décimo aniversário (junho de 2007), o plantio de mudas e a organização de um memorial composto de plantas representativas dos ciclos agrícolas do Brasil, onde se discutiu vantagens e prejuízos das diversas fases da agricultura no País, notadamente a monocultura, abrangendo as explorações da cana de açúcar, do café e, atualmente, da soja. Questões relacionadas com o cultivo extensivo de eucalipto e também de grãos utilizados para obtenção de biocombustível ocuparam grande parte dos debates e exposições. O lixo e resíduos sólidos advindos do uso dos prédios da Universidade e do trânsito pelas dependências do campus mereceram um gerenciamento especial que teve início com um curso intitulado Capacitação como Agente Ambiental. O curso surgiu de uma demanda inicial ao Vida no Campus de uma cooperativa de catadores conhecida pela sigla COOTCARJ (Cooperativa de Catadores de Niterói – RJ). A fim de capacitar seus cooperados no gerenciamento de resíduos sólidos e promover a valorização e o reconhecimento dos participantes, a COOTCARJ e o programa Vida no Campus juntaram-se para capacitar melhor também os profissionais da limpeza e conservação do campus. Este item já vinha sendo planejado ao se observar que era importante um curso especifico para consolidar um plano de implantação da coleta seletiva que deveria sensibilizar tanto os profissionais que cuidam da conservação do campus ou de empresas interessadas, quanto os serventes de limpeza que também atuam no campus e ainda os catadores que trabalham nas ruas. Esses dois elos da cadeia de gerenciamento de resíduos – os que recolhem nos locais e os catadores - ao serem sensibilizados, passam a funcionar como determinantes para implantar a coleta seletiva, o que não se efetivou ainda por diversas razões, dentre as quais a inexistência de patrocinadores interessados em fornecer recipientes apropriados para a seleção do lixo recolhido e que se faz necessário em número que atenda suficientemente à grande extensão da demanda no campus. Remotamente, foi a partir de uma primeira intervenção do Vida no Campos que a administração da Universidade decidiu destacar um lugar apropriado para o recolhimento do lixo em caçambas que passaram a ser, posteriormente, recolhidas pela empresa municipal de limpeza Clin. Os recursos humanos e o voluntariado que fazem funcionar o Vida no Campus são integrados por alunos bolsistas, alunos voluntários de diverso cursos, técnicos administrativos e a professora autora deste artigo e do programa em questão. Um técnico administrativo da UFF, Liorno Werneck, assumiu há quatro anos a coordenação do Vida no Campus. Tem sido de muita importância para o sucesso deste programa o apoio do diretor do Instituto de Ciências Humanas e Filosofia (ICHF), professor de Psicologia Francisco de Assis Palharini. Aliás, o programa Vida no Campus se encontra diretamente vinculado ao ICHF. No âmbito acadêmico, o programa também criou a disciplina Ecopsicologia na graduação do curso de Psicologia da UFF, cujos trabalhos de conclusão dos alunos foram voltados para os problemas e também para Boletim Interfaces da Psicologia da UFRuralRJ – 1º Seminário – Ano 2007 Página - 38 aspectos positivos ambientais observados no campus do Gragoatá. Destacamse, entre esses trabalhos, a produção e gravação de um vídeo/DVD sobre as aves do campus que, por sinal, chegam a 25 espécies diferentes identificadas, filmadas e catalogadas também numa cartilha intitulada “Aves do Gragoatá”, produções dos alunos Daniela Serrina (vídeo/DVD, aluna de Psicologia) e Pedro Louvain (cartilha, aluno de História). Os professores Paulo Fevereiro (Biologia) e Carlos Brandt (Linguagem Fotográfica) da UFF orientaram o vídeo/DVD. Circula também no campus um jornal de parede, já em seu número 5, intitulado “Jornal do Campus” – Carta de notícias do programa Vida no Campus, editado pelo coordenador do programa. Há uma emergência planetária voltada para as macro-soluções capazes de deter e, tanto quanto possível, reduzir o aquecimento global que se manifesta com alterações climáticas facilmente observáveis até por leigos e em todos os continentes. E, também, com as já documentadas reduções das calotas polares atingidas pelo derretimento de geleiras bilenárias. Atualmente o relatório da situação da população mundial revela que no Brasil 84% dos habitantes vivem em área urbana. Em 2030 este numero vai aumentar para 90% da população (ONU, 2007). Os rejeitos, detritos, lixos e outros resíduos sólidos, líquidos e gasosos resultantes em grande escala de uma civilização eminentemente consumista são também considerados da maior importância como atitude e comportamento, até em proporções mínimas – como não sujar o campus, não jogar lixo na rua, tratar seus resíduos – que, no entanto, têm um aspecto mais amplo com implicações financeiras. Em conseqüência da concentração urbana e de outros fatores sócioeconômicos, a “remediação ambiental”, como passaram a ser chamados os rendosos negócios de despoluição a partir de seminários realizados na Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), são setores que crescem cerca de 40% ao ano em um mercado que movimenta R$2 bilhões no país. Empresas especializadas prevêem investimentos de R$ 150 milhões até 2008 e crescimento de 300% até 2009, chegando a um faturamento anual de R$ 300 milhões. Há um consenso de que as atividades na área ganharam impulso nos últimos cinco anos, devido à legislação rígida, à maior cobrança da sociedade e, sobretudo, à atuação internacional de empresas com ações listadas em bolsas – todas com ações sócio-ambientais. A atividade industrial contemporânea, o consumismo exagerado e o desperdício de energia fóssil, principalmente, como é fácil concluir, gera uma quantidade muito grande de rejeitos, os mais diversos. A Petrobras, por exemplo, possui um estoque declarado de material perigoso nas suas instalações que chegam a dois milhões de toneladas anuais, mas a estocagem não sofre grandes variações porque a empresa estatal se esforça para reduzir riscos ambientais. Recentemente a Petrobrás publicou o balanço sócio-ambiental da empresa, mostrando os investimentos maciços que tem feito para conseguir corrigir e remediar as áreas degradadas, nas mais diversas atividades - da extração do petróleo à distribuição do produto final. Publicações recentes revelam que há no Brasil um acúmulo de 2,7 milhões de toneladas de resíduos perigosos, dos quais somente 700 mil toneladas têm destino adequado. Os números são fornecidos pela Câmara de Comércio Brasil-Alemanha (CCBA). Com toda a preocupação em identificar seus passivos ambientais, a maioria das empresas, Boletim Interfaces da Psicologia da UFRuralRJ – 1º Seminário – Ano 2007 Página - 39 porém, não sabe o quanto acumula de resíduos tóxicos, já que no passado, o procedimento considerado correto era abrir um buraco e enterrar os resíduos. Borras oleosas, por exemplo, são um problema muito comum devido a 100 anos de atividades e exploração, refino e distribuição de petróleo – divulga ainda a CCBA. E explica que a borra de diesel ou de óleo combustível se degrada e passa a exigir técnicas cada vez mais sofisticadas para desacelerar ou anular esse processo de degradação ou até mesmo proceder à retirada desse resíduo. Apenas para dimensionar o problema produzido pelo consumo de derivados do petróleo, é preciso dizer que existem cerca de 30 mil postos de gasolina espalhados pelo Brasil, que resultam em vários focos de possíveis contaminações. Porém, não só industriais do ramo do petróleo correm riscos de gerar passivos ambientais. Indústrias de papel e celulose, aço, mineração, metais não ferrosos entre outras também fazem parte de um mercado de remediação e investigação que abrange R$ 2 bilhões ao ano. Só as indústrias petrolíferas assumem metade desse montante. E, segundo a Petrobrás, a maior preocupação da empresa estatal atualmente é poder reduzir os passivos ambientais, baseando-se em dados comparativos da indústria de petróleo mundial. A própria Petrobrás cita o acidente na Baia de Guanabara, ocorrido em janeiro de 2000 (em virtude de um problema originado em uma das tubulações da Refinaria Duque de Caxias) quando foram lançados cerca de 1,3 milhão de litros de óleo cru nas águas da baía, como um ponto de partida para que a estatal mudasse radicalmente seu modo de atuação, com ênfase na reação de ambientalistas. Como resultado desses esforços, de lá para cá, no ano passado a Petrobrás conseguiu ser aceita em um grupo totalmente seleto chamado Dow Jones Sustainability Indexes, que tem umas quatro ou cinco empresas brasileiras listadas. Quanto á legislação ambiental brasileira, os empresários a consideram pesada, embora reconheçam que as exigência de posturas são adequadas e têm que ser cumpridas, inclusive porque, do contrário, o produtor não consegue colocar-se bem no mercado externo, alvo da maioria delas. Comparando com a situação da América Latina, nessa área de petróleo, a postura do Brasil é muito mais forte que nos outros países, mas ainda há muito que fazer, apesar das sanções já implicarem em responsabilidade criminal. O que se pretende também, com evidências no relacionamento social entre os participantes do programa Vida no Campus, é alcançar um conluio, mínimo que seja, com a natureza mais próxima, com o ambiente mais ao alcance de todos. Esse, aliás, é o debate entre os trilheiros universitários, quando Vida no Campus realiza caminhadas através de parques e matas que compõem o sistema de preservação e áreas de proteção ambiental (APAs) da cidade e municípios vizinhos, como a Serra da Tiririca e os morros do Elefante e das Andorinhas, além do Parque (urbano) da Cidade. Assim, numa ação semelhante às aulas in loco ou ao ar livre, reforça-se esta sensibilização imprescindível para o que chamaríamos de micro-providências para deter a macro-degradação planetária. Boletim Interfaces da Psicologia da UFRuralRJ – 1º Seminário – Ano 2007 Página - 40 REFERÊCIAS BIBLIOGRÁFICAS Barker, R. G. & Wright, H.F. – Midwest and its children. The Psychological ecology of an American 1954 Bonnes, M., e Secchiaroli, G. – Envirommental Psychology, a psycho-social introduction. London: Sage. 1995 apud Carneiro, Clarisse e Bindé, J.Pitágoras – Estudos de Psicologia, 2(2) 363-367.1997. 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