ANO LVII | SET. OUT. NOV. DEZ. 2013 | REVISTA QUADRIMESTRAL | 4,00€ 418 A MENSAGEM para uma catequese renovada Habitados pelo apelo a «RECOMEÇAR DE CRISTO» Papa Francisco «Pregai sempre o Evangelho e, se for necessário, também com as palavras» S. Francisco P A R A P E N S A R A C A T E Q U E S E 14 | A M ENSAGEM | 730 a partir da fé ALGUNS APONTAMENTOS A TER EM CONTA NA PRÁTICA CATEQUÉTICA 1. Autenticidade: correspondência entre conteúdo e forma, dentro e fora, palavra e silêncio, público e privado, drama e gozo. Que as palavras e os gestos do catequista tenham um mínimo de grandeza humana e de autenticidade evangélica, sendo capazes de testemunhar o percurso feliz e da sua vivência dos sacramentos, da sua inteligência dos mistérios cristãos, da sua prática da caridade. 2. Clareza de intenções: favorecer o reconhecimento existencial de Jesus Cristo. O que motiva a falar de Jesus Cristo e do Evangelho, hoje, e o que se quer oferecer aos catequizandos? Que atenção se dá e o que se deseja despertar, iluminar, fortalecer? Que vida se quer salvaguardar? No fundo, que salvação se deseja que aconteça pelo anúncio de Cristo? Sem esta clareza de princípio, de facto, a prática catequética pode tornar-se uma simples prática de entretenimento, sem sentido, sem interesse e sem incidência real – não chegará a iluminar a inteligência, nem aquecerá o coração, porque não partirá e não levará ao reconhecimento vital de Jesus ressuscitado (o caminho de fé e de testemunho dos discípulos de Emaús, admiravelmente narrado em Lucas 24, pode ser tão inspirador para a prática catequética). A catequese deverá ser dedo que aponta para Jesus, não para si mesma, pondo todo o cuidado para não impedir de ver Jesus. 3. Atender às disposições/indisposições humanas e espirituais dos catequizandos e do conjunto da cultura. O desinteresse, o não envolvimento ou, mesmo, a recusa de muitos destinatários pessoais, familiares, culturais que convém conhecer e enfrentar: não serão imediatamente fruto da má vontade! Haverá que parem a pastoral sacramental ou o apelo ao empenho na vida paroquial (desde logo, qual vida?). Esse caminho desprendido e paciente deveria aceitar ter etapas, até que Deus se vá tornando real, isto é, que chegue a incidir na imaginação, na compreensão Esta será uma face da conversão. P A R A P E N S A R A C A T E Q U E S E 7 3 1 | A ME N SAG E M | 15 4. Iniciação à graça que salva em Jesus Cristo. porta de iniciação à fé, colocando a questão: poderemos imaginar a vida fundada sobre um Poderemos imaginar a vida a partir da fé em Jesus de Nazaré, tal como os discípulos da primeira hora, tocados no corpo e na alma pela graça do reconhecimento de Jemens e mulheres (crianças, adolescentes, jovens, adultos) deste tempo e que amam a vida? Se esta pergunta não pedir, simplesmente, uma resposta fácil, religiosamente de vida e de fé do próprio catequista (também ele se coloca esta questão; também ele sem silêncio, do corpo sem mistério, do resultado sem caminho, do crescimento sem tempo, da ação sem contemplação, etc.) e da dispersão. 6. Alguns movimentos humanos a cuidar. a) O reconhecimento que gera gratidão pelo recebido (corpo, família, língua). É na cons- b) O empenho responsável e criativo da própria liberdade. Não sou simplesmente amado. Posso e devo amar. Posso e devo realizar a vida que me foi dada, assumir a paternidade c) A sus, aquele que é o caminho-da-verdade-da-vida. 5. Cuidar da espessura da nossa humanidade, dos lugares em que se vive e dos ritmos em que se realiza. A fé em Jesus Cristo toca e implica a zas e os seus abismos. Por isso, a prática catequética não deveria ser menos do que cuidado da espessura do humano, sendo que cuidar é, ao mesmo tempo, acariciar e advertir, promover o pria voz, desde logo, pelo hábito de decifrar julgar de apreciar o objeto radical dos próprios decompreender, o efeito que faz’. É orientar para o discernimento da interioridade que preserve do peso se ser pessoa de palavra – tas. Viver bem as próprias qualidades e possibilidades é, em si mesmo, um ato de grandeza humana. d) A humildade do próprio limente vital aprender a confessar-se limitado, como caminho para recomeçar. 7. Favorecer uma fé real. Resistir a um cristianismo nocional e certezas, sem imaginação, abstrato e distraído, seja com o demasiado grande, seja com o demasiado pequeno. Favorecer uma vida de discipulado que seja plenamente humana, precisamente porque é chamada a ser divina. A celebração litúrgica, a inteligência da fé, a prática da caridade serão lugares verdadeiros se realizarem a graça que salva e salvaguarda a vida no Espírito. José Frazão Correia, sj